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WQDIREITO FISCAL

Exame em 16/01/2017

ENTREGUE A RESPOSTA A CADA GRUPO EM FOLHAS SEPARADAS

I
1. O Estado quer promover a natalidade. Pode, para tal, criar um imposto
anual de mil euros por ano que incida sobre os cidadã os, com mais de 30
anos, sem filhos? Justifique a sua resposta.

Antes demais importa começar por definir aquilo que seja um imposto. O imposto
é um tributo, referido no art. 3º/2 LGT e 4º/1 LGT, que se afigura como um dos
principais tributos geradores de receita do Estado. O imposto é, entã o, uma
prestaçã o patrimonial (pecuniá ria) e coativa, uma vez que o Estado goza de meios
coercivos para levar ao pagamento do mesmo, mas que se pauta por ser unilateral
e visar suportar as despesas do Estado. Ora, a unilateralidade do imposto significa
que o pagamento do imposto nã o tem associada nenhuma contraprestaçã o
específica do Estado, sendo cobrado com base na necessidade de sustentar as
despesas do Estado, mas nã o se pode dizer que o contribuinte saiba qual a
prestaçã o que está a suportar com os seus impostos dado que na verdade poderá
ela servir para suportar custos de outra pessoa. Ora, podemos assim dizer que os
impostos têm subjacente a ideia de Estado Social, que encontramos no art. 103º/1
CRP em que todos contribuímos para suportar a má quina do Estado, para que esta
possa fornecer os serviços essenciais e numa ló gica de que aqueles que mais
podem contribuir, fazem-no também em prol daqueles que podem menos. Ora, o
imposto tem assim a sua fundamentaçã o no princípio da igualdade (104º) mais
concretamente no princípio da capacidade contributiva que se prende com dizer
que aquele que aqueles que mais podem tributam mais que os que podem menos, o
que significa que este princípio nã o funciona apenas como pressuposto, na medida
em que só poderá haver tributaçã o lá onde haja manifestaçã o de riqueza, sendo
certo que nem toda a riqueza é tributá vel ideia de onde deriva o princípio de
mínimo de existência, abaixo do qual nã o há tributaçã o; mas este princípio
funciona também como um limite dado que a partir de um certo nível deixamos de
estar no â mbito da tributaçã o para passarmos a uma situaçã o de confisco, ou seja,
de ablaçã o injustificada da propriedade.
Ora, é certo que os impostos podem ter outras finalidades que nã o apenas a da
satisfaçã o dos interesses do Estado, desde logo finalidades especificamente
econó micas ou extrafiscais de vá rios â mbitos, ou de promoçã o de um
comportamento ou de incentivo à inibiçã o desses comportamentos. Ora, neste
caso, a criaçã o de um imposto com a finalidade de promover a natalidade parece
claramente demonstrar uma finalidade extrafiscal subjacente à sua criaçã o. No
entanto, parece ser de afirmar que a criaçã o de um imposto, ainda que nã o tenha
uma contraprestaçã o específica, tem de ter por base uma intençã o de sustentaçã o
do Estado nã o podendo basear-se unicamente em finalidades extrafiscais.

2. Diga o que entende por substituiçã o tributá ria.


A substituiçã o tributá ria insere-se naquilo que se entende por sujeito passivo da
relaçã o jurídica tributá ria. Conforme resulta do art, 18º/3 LGT sujeito passivo é
aquele de quem pode ser exigido o cumprimento da obrigaçã o de pagamento do
tributo. No entanto, ainda que a modalidade de sujeito passivo mais frequente seja
a de contribuinte direto, ou seja, aquele que ganha o rendimento tributado tem as
obrigaçõ es de declaraçã o e pagamento do tributos, pode acontecer que o sujeito
passivo seja um substituto ou um responsá vel (que será chamado a cumprir se o
contribuinte nã o o fizer por virtude de uma relaçã o de especial influencia que tem
para com o contribuinte). Assim, a substituiçã o (20º LGT) é uma situaçã o em que a
pessoa que é chamada a cumprir a obrigaçã o tributá ria nã o é o contribuinte direto,
sendo certo que em regra esta mudança da pessoa a quem se exige o tributo se
funda na lei. Esta opçã o por pessoa diferente daquela que se pretende onerar
prende-se sobretudo com razõ es de ordem prá tica, desde logo porque esta
substituiçã o garante uma maior segurança e certeza no pagamento do tributo. No
caso dos tributos sobre os rendimentos a substituiçã o tributá ria é assegurada pela
retençã o na fonte, sendo a ú nica que o legislado refere na Lei (tratada, a propó sito
do IRS no art. 98º CIRS) que pode ser definitiva ou por conta, sendo que em ambas
relevam a obrigaçã o de retençã o e de pagamento. Ora, no caso da retençã o
definitiva, que se aplica sobretudo nos casos em que o IRS atende a taxas
liberató rias, é a pró pria entendida pagadora dos rendimentos do sujeito que se
pretende onerar, que retém a parte correspondente ao tributo e a entrega à
Administraçã o, o que implica que o sujeito fica liberto das obrigaçõ es de
pagamento, entrega da declaraçã o e englobamento. Nos casos em que a retençã o
seja feita por conta do imposto devido a final entã o tecnicamente o sujeito onerado
já nã o fica liberado de todas essas obrigaçõ es porque a retençã o funcionará apenas
quase como uma espécie de garantia do pagamento/um adiantamento do
pagamento da dívida.
Claro está que esta substituiçã o obriga a que se formule um regime de
responsabilidade para os casos em que falha a obrigaçã o de entrega ou de retençã o
das quantias em causa, que consta do art. 28º LGT. Nos casos de retençã o na fonte
definitiva em que a entidade reponsá vel pela retençã o a efetue mas nã o entregue
as quantias retidas obrviamente que a responsabilidade será sua, ficando o
substituído desonerado de qualquer obrigaçã o, pois que este tecnicamente já foi
onerado como se pretendia e a sua responsabilizaçã o conduziria a uma dupla
oneraçã o (nº1). Se a retençã o nã o tiver sequer sido efetuada o substituído poderá
ser chamado a titulo subsidiá rio (nº2). Nos casos de retençã o de pagamento por
conta a responsabilidade da nã o entrega recai sobre o substituído, sendo que o
substituto apenas surge a titulo subsidiá rio (nº2).

II

A Câ mara Municipal do Porto criou um tributo de 10% sobre a valorizaçã o anual


das casas particulares do Centro do Porto, por efeito e contrapartida do forte
investimento pú blico na valorizaçã o dessa parte da Cidade.

- Como se qualifica este tributo? Justifique a sua resposta

Mediante o enunciado apresentado poderia ser de pensar estar em causa uma


contribuiçã o especial mais concretamente de melhoria. As contribuiçõ es (3º/2 e 3
LGT e 4º/3) assumem-se como tributos pecuniá rios, coativos mas de bilateralidade
mitigada, ou seja, nã o exigem de facto que o seu pagamento tenha no lado oposto
uma contraprestaçã o específica e efetivamente efetuada pela Administraçã o,
bastando-se apenas que se possa afirmar a existência de uma prestaçã o presumida
que se pretende suportar com o pagamento da contribuiçã o. Ora, a contribuiçã o
tem, no entanto, a especificidade de ter uma ló gica mais grupal ou seja,
individualmente seria difícil defender que cada um dos contribuintes teria proveito
daquela prestaçã o presumida, mas que aquele grupo/setor tem com mais certeza
esse proveito. Ora, no caso em aná lise poderia ser de estar em causa uma
contribuiçã o especial de melhoria que se prende com tributar um grupo de
cidadã os que beneficiou com determinadas despesas pú blicas, que neste caso
teriam valorizado os imó veis da á rea onde essas obras pú blicas foram efetuadas.
Ora, as contribuiçõ es especiais, conforme resulta do nº3 do art. 4º LGT seguem o
regime do imposto, regime este que, quanto à sua criaçã o consta do artigo 165º/1
i) CRP. Ora, este artigo refere-se à questã o da reserva de lei, ou seja, de saber que
pode criar este tipo de tributos. Ora, neste caso, os impostos têm uma reserva
relativa total relativamente à AR o que implica dizer que só esta os pode criar, ou o
Governo mediante autorizaçã o, o que significa que o poder administraçã o do
Governo, neste caso vertido nos municípios, nã o pode criar impostos no seu
â mbito territorial, sob pena de inconstitucionalidade.

Ora, isto conduz-nos à definiçã o deste tributo como uma taxa (3º/2 e 3, 4º/2 LGT).
A taxa é também um tributo pecuniá ria e coativa mas que tem subjacente uma
contraprestaçã o específica e efetivamente efetuada, razã o pela qual dizemos que
está em causa um tributo bilateral/comutativo. Assim, as taxas surgem com base,
nã o na vontade das partes (nã o sao tributos ex voluntate mas ex lege) mas do
preenchimento de um pressuposto legal (36º LGT), daí derivando a sua
coatividade. Ora, quanto à sua bilateralidade as taxas podem ter como fundamento
a prestaçã o concreta de um serviço pú blico, o uso de um bem pú blico ou a remoçã o
de um obstá culo jurídico (fundamento que nã o é consensual mas que o TC e a lei
aceitam como fundamento da taxa, por exemplo, nos casos de licenças), sendo este
uso do bem ou de serviço publico que se pretende onerar. Assim, é certo que a taxa
assenta na realizaçã o de uma prestaçã o efetivamente efetuada, mas é também
admissível que essa prestaçã o assente numa presunçã o forte, ou seja, em poder
dizer-se que com grande probabilidade aquela prestaçã o foi efetuada e aquela
pessoa beneficiou dela (decorrente da decisã o relativa à taxa de segurança
alimenta valor + em que se entendeu que a possibilidade de ocorrer aquela
fiscalizaçã o dos estabelecimentos alimentares faria com que se pudesse presumir
com suficiente força para estar em causa uma taxa) . Foi isto que resultou do
acó rdã o 68/2007 em que se entendeu que o uso de á gua no imó vel assumia
carater de presunçã o forte da utilizaçã o de esgotos, o que nos permite dizer que, se
nã o podermos proar que efetivamente os investimentos de valorizaçã o em causa
nã o afetaram um e cada um dos proprietá rios dos imoveis onerados há grande
probabilidade de isso se verificar (presunçã o forte). Note-se que o TC tem também
defendido que é possível que as taxas se fundem em deveres legais, por exemplo de
fiscalizaçã o a um determinado setor- aconteceu com dos postos de combustíveis
em propriedade privada, em que o TC entende que o facto de a Administraçã o ter o
dever legal de fiscalizaçã o e verificaçã o do cumprimento das exigências legais
impostas à quele setor nos conduzia a uma prestaçã o de presunçã o forte derivada
de um dever legal que permitia sustentar a criaçã o de uma taxa.

Ora, as taxas veem o principio da igualdade ser concretizado pelo princípio da


equivalência que é especialmente relevante na fixaçã o do valor dessa taxa. Ora,
aqui o que se diz é que o valor da taxa nã o pode ser arbitrá rio tendo que responder
a uma ló gica de proporcionalidade entre o seu valor, o custo da prestaçã o efetuada
e/ou do benefício que o contribuinte retirou dessa prestaçã o. Nã o é totalmente
consensual se se deve seguir o critério o custo da prestaçã o (em que se a prestaçã o
tem um custo (genérico ou mais específico) de 10 a taxa vai ter um valor de 10) ou
o benefício que o particular retira daquela prestaçã o. Ora, tendemos sobretudo a
seguir uma equivalência jurídica que nos permite dizer o valor da taxa segue um
fundamento de proporcionalidade ou seja, nã o deve esta ser manifestamente
desproporcional ao seu custo e/ou benefício.

Ora, seria aqui de analisar a questã o da reserva de lei referida no 165º/1 i) CRP
que refere que a reserva relativa da AR em causa diz rspeito ao regime geral das
taxas, regime este que nã o existe nem nunca foi criado, o que levou À afirmaçã o de
que a criaçã o de taxas era passível de ser efetuada pelo Governo e que este tanto o
poderia fazer no exercício do seu poder legislativo como administrativo, o que
permitia que as Câ maras criassem taxas locais, que sao, aliá s uma importante fonte
de receita para estas entidades.

III

Suponha que no dia 1 de julho de 2017 entra em vigor uma Lei através da qual a
Assembleia da Repú blica, entre outras medidas, revoga os artigos 78.º, n.º 1, a), e
78.º-A, do CIRS, eliminando a deduçã o respeitante aos dependentes e ascendentes
aí prevista, por essa deduçã o nã o ter como pressuposto a realizaçã o de quaisquer
despesas.
O diploma em causa contém uma disposiçã o relativa à produçã o de efeitos nos
termos seguintes: “As alteraçõ es introduzidas nos artigos 78.º e 78.º- A, do CIRS,
produzem efeitos desde 1 de janeiro de 2017”.
Margarida, mã e de 5 crianças, residente em Portugal e sujeito passivo de IRS,
considera que existem, pelo menos, dois fundamentos para julgar o diploma
inconstitucional.
Terá razã o? Justifique.

Importa começar por referir que a lei estabelece um regime de proibiçã o da


retroatividade da lei fiscal no seguimento do facto de defender um princípio de
segurança jurídica assente na tipicidade de determinabilidade do conteú do que se
traduz em afirmar que o contribuinte deve poder prever as consequências fiscais
dos seus comportamentos, o que significa que leis que se projetam para factos já
ocorridos nã o sã o em regra admissíveis por introduzirem grande insegurança no
sistema. Ora, Margarida poderia por um lado invocar o disposto no artigo 12º LGT
que refere que nos casos em que os factos geradores da obrigaçã o de pagamento
do imposto, neste caso do IRS, forem de formaçã o sucessiva entã o a nova lei
apenas se aplica aos factos posteriormente ocorridos, o que significa que a
eliminaçã o daquela deduçã o à coleta apenas diria respeito à s despesas ocorridas
depois de julho de 2017 e nunca para os factos ocorridos desde janeiro.
No entanto, mais forte que esta afirmaçã o, será o invocar da violaçã o do princípio
da segurança jurídica e da proibiçã o da retroatividade da lei fiscal, vertidas no
artigo 103º nº2 e 3 CRP. Por um lado, a questã o da segurança jurídica obriga a que
a lei refira os elementos essenciais do imposto (nº2) como forma a permitir que o
contribuinte saiba que comportamento sã o geradores de imposto e que tipos de
consequências esse facto terá , e só assim poderá legitimamente exigir-se o
pagamento de um tributo, neste caso de um valor maior porque se eliminaram
deduçõ es). Ora, além desta ló gica a CRP refere expressamente uma proibiçã o de
retroatividade dos impostos dizendo que ninguém pode ser obrigado a pagar
impostos que tenham natureza retroativa.
No entanto, a questã o da retroatividade da lei fiscal é bem mais complexa que isto,
e digamos que a retroatividade nã o é absolutamente proibida. Antes demais, nem
sempre esta questã o foi vista da mesma forma, sendo que antes da revisao de 1997
a retroatividade era em regra possível desde que nã o fosse manifestamente
desproporcional e atentató ria do princípio da confiança do sujeito passivo. Ora,
depois de 1997 e com a atual redaçã o do artigo 103º/3 passou a defender-se uma
proibiçã o da retroatividade com base numa aná lise objetiva que já nã o pondera da
mesma forma o princípio da confiança. Ora, começou entã o por se fazer uma
importante distinçã o entre impostos de formaçã o instantâ neo e de formaçã o
sucessiva, que nos conduziu depois aos conceitos de retroatividade autêntica e
inautêntica. A retroatividade autentica diz respeito a situaçõ es em que a lei nova
pretende vigora em relaçã o a factos cuja formaçã o já terminou, e que, inclusive, já
foram pagos os impostos relativos a esses factos. Enquanto que a retroatividade
inautêntica reporta-se sobretudo aos factos geradores de impostos complexos em
que o pagamento do imposto diz respeito a uma série de condiçõ es que se
verificaram ao longo de um certo período temporal, tendo o TC entendido que se a
nova lei se reportar a este tipo de impostos de formaçã o sucessiva entã o em bom
rigor nã o podemos entender estar em causa uma rigorosa retroatividade porque o
facto ainda nã o se concluiu. Ora, também nã o seria de atender à questã o do art.
12º/2 LGT pois que esse é um regime supletivo que apenas se aplicaria na ausência
de um regime transitó rio quanto à aplicaçã o do tempo.
Posto isto, é certo que mesmo que se admita que do ponto de vista da lei nenhuma
irregularidade se encontre, o TC tem entendido que mesmo assim será de efetuar,
em segunda linha, um exame relativo à proteçã o da confiança do contribuinte, em
atendimento ao princípio da segurança jurídica. Este princípio da confiança
prende-se com poder dizer que o contribuinte criou legitimas expectativas com
base em atitudes do Estado, que fez com base nessas expectativas efetivos planos
de vida, havendo ainda que efetuar um exame de proporcionalidade entre os
interesses pú blicos a atender com o imposto e a lesã o que isso provoque na
confiança que se pretende proteger. Ora, estando em causa uma deduçã o à coleta
que assume cará ter de isençã o de pagamento de certa parte do imposto tem-se
entendido que medidas deste tipo nã o podem ser expectá veis como vigentes para
sempre, ou seja, que o contribuinte pode sempre prever que medidas com cará ter
benéfico podem sempre ser revogadas retroatividade. Ora, poderá entã o dizer-se
que a aplicaçã o da nova lei aos factos ocorridos entre janeiro e a sua entrada em
vigor seja possível sem que seja inconstitucional.
IV

Alfredo (solteiro e residente em Portugal) é advogado por conta pró pria e obteve,
em 2016, os seguintes rendimentos:

a) Honorá rios de 30 mil euros;

Estã o aqui em causa rendimento da categoria B (1º/1, 3º/1 al b CIRS)- os


rendimentos da categoria b dizem respeito a rendimento auferidos no â mbito de
atividades empresariais ou profissionais que têm sobretudo que ver com a
realizaçã o de trabalho independente, pois que em regra o trabalho dependente
insere os seus rendimentos na categoria A. tratando-se de um advogado falamos de
um profissional liberal que trabalha de forma independente.

Ora, o artigo 28º CIRS prevê duas formas de determinar quais sã o os rendimentos
desta categoria que vamos considerar para apurar a matéria tributá vel à qual
vamos aplicar a taxa correspondente. Pode o contribuinte ter um regime de
contabilidade organizada (nº1 al b) que se faz nos termos do CIRC (para o qual
remete o artigo 32º CIRS) que se traduz, nã o só numa exigência de eliminaçã o da
dupla tributaçã o econó mica mas num regime que exige que o profissional tenha
uma estrutura de organizaçã o de contabilidade que lhe permite apresentar todas
as despesas e lucros que tenha no exercício da sua atividade). No entanto, como
este regime de contabilidade tem muitos custos associados e é mais benéfico para
quem tenha muitas despesas relevantes, o CIRS prevê na al. A do nº1 do art. 28º a
possibilidade de a matéria tributá vel em sede de categoria B ser efetuada mediante
um regime simplificado referido no art. 31º CIRS. Ora, este regime prevê
determinados quocientes aplicá veis em funçã o da atividade desenvolvida. Neste
caso seria de aplicar o disposto na al b) que prevê a aplicaçã o de um quociente de
0.75 que daria uma matéria tributá vel de 22.500€. No entanto, conforme resulta
do artigo 31º nº13 a possibilidade de aplicaçã o deste quociente depende da
apresentaçã o de provas que sustentam despesas e encargos efetivamente
suportados.

Este rendimento estará sujeito a englobamento, o que significa, conforme 22º, que
se somará aos rendimentos de outras categorias (com atençã o à possibilidade de o
sujeito optar pela aplicaçã o de taxas especiais ou liberató rias nas categorias em
que isso seja legalmente permitido). Esta questã o do englobamento surge no
seguimento do disposto no artigo 104º/1 que prevê a criaçã o de um imposto ú nico
como forma de melhor concretizar o princípio da capacidade contributiva e de
simplificar o sistema fiscal. Assim sendo aplicaríamos a tabela das taxas
progressivas do artigo 68º CIRS.
b) Venda do seu carro particular (de coleçã o), com um ganho de 20 mil euros;

Neste caso poderíamos referir-nos à questã o da categoria G relativa a incrementos


patrimoniais, possivelmente a mais valias (Art. 9º e 10º). Ora, sabendo que o
legislador adotou um conceito de rendimento como “rendimento acréscimo”
significa isto que a regra é a de tributar todos os rendimentos que espelhem um
aumento da capacidade contributiva do contribuinte. No entanto, o artigo 10º
obedece a uma ló gica de tipicidade o que significa que apenas sã o tributá veis como
mais-valias em sede de categoria G os casos que a lei expressamente previr. Ora,
uma vez que o ganho da venda de automó veis nã o consta do elenco taxativo deste
artigo entende-se que estes 20 mil€ nã o serã o tributados.

c) Arrendamento de parte do seu escritó rio de advogados a um colega, com rendas de


30 mil euros;

Neste caso entendo que seria possível conduzir este rendimento à categoria F (art.
8º) em virtude da constitiçã o de um direito de arrendamento (assumindo que o
advogado era o proprietá rio do imó vel). No entanto, nã o podemos esquecer um
importante princípio em vigor no â mbito da categoria B: princípio da atraçã o- que
implica dizer que cabem nesta categoria atividades que objetivamente
consideradas até se inseriam noutras categorias mas porque sã o desempenhadas
com carater habitual e no â mbito de uma atividade comercial independente
passam a pertencer na categoria B- razã o pela qual o artigo 3º/nº2 insira na
categoria B os rendimentos prediais, capitais e mais-valias que sejam imputá veis a
atividades geradoras de rendimento empresariais. Ora, se entendermos que este
arrendamento é feito no â mbito da atividade de advogado do sujeito passivo entã o
aplicar-se-á o art. 3º/2 al a), com o regime referido na al A) deste exercício – art.
28º e 31º para o regime simplificado que apure as deduçõ es a efetuar à matéria
coletá vel, no qual também se aplicaria a regra do englobamento (22º), somando
este rendimento ao rendimento referido em a) na aplicaçã o das taxas progressivas
do art. 68º.

d) Dividendos de açõ es, no valor de 20 mil euros

Os dividendo de açõ es dizem respeito a rendimento da categoria E- rendimentos


capitais que têm sobretudo que ver com frutos que o sujeito passivo retira de
titularidade de certos direitos ou situaçõ es jurídicas de cariz mobiliá rio, como
acontece com a titularidade de açõ es. Ora, nã o se confunda isto com a venda das
açõ es pois que isso poderá já ser de inserir na categoria G ou até na B. Assim, a
norma de incidência seria o art. 5º/2 al H) do CIRS que prevê como rendimentos
capitais os lucros colocados à s disposiçõ es do titulares deles, neste caso do
acionista.
Ora, para apuramento da matéria tributá vel somos remetidos para os artigo 40º e
seguintes que, especialmente no 41º, se refere as situaçõ es de dupla tributaçã o
econó mica em que em rigor se tributa o mesmo rendimento duas vezes. Ora, prevê
este artigo que se a entendida que divide os lucros das açõ es tenha sede em PT os
lucros divididos devem ser consideradas em 50% do seu valor, e sujeito esse valor
à s taxas progressivas do ar. 68º mediante englobamento (nº1).

Conforme resulta do art. 7º os rendimentos da categoria E sã o tributá veis a partir


do momento em que se vencem, presume o vencimento, sã o colocados à disposiçã o
do titular ou sã o liquidados, o que espelha uma ló gica de ó tica de caixa, só
tributamos quando o rendimento estiver à disposiçã o do titular.

Note-se que é possível que o titular de rendimento desta categoria opte pela
aplicaçã o de uma taxa liberató ria (art 71º) previsto no nº1 al a) aplicando-se uma
taxa proporcional de 28%, mediante retençã o na fonte. Ora, estas taxas liberató rias
chamam-se assim porque, tendo de haver retençã o na fonte (98º em que a
entidade devedora dos rendimentos retém os rendimentos tributados e entrega a
quantia devida à administraçã o), o sujeito passivo fica liberado da obrigaçã o de
englobamento destes rendimentos (22º), de apresentaçã o de declaraçã o destes
rendimentos, e de pagamento do imposto devido porque a entrega é feita pela
entidade substituta (art. 97º). Sendo de referir o disposto no nº6 do artigo 71º que
prevê a possibilidade de o sujeito optar pelo englobamento.

e) Arrendamento da sua casa de praia, pelo valor anual de 10 mil euros;

Aqui está em causa um rendimento subsumível à categoria F- rendimentos


prediais (art. 8º) mais concretamente no caso previsto no nº1 al a). Assim, para
apurarmos o rendimento tributá vel nesta categoria há que recorrer ao art. 41º que
refere como dedutíveis ao rendimento das rendas as despesas efetivamente
efetuadas que sejam necessá rias à obtençã o dessas rendas (nº1), o IMI e o imposto
de selo (nº5) e todas as despesas suportadas e oagas nos 24 meses anteriores ao
inicio do arrendamento se forem obras de conservaçã o ou manutençã o do prédio,
o que significa que despesas que se assumam como benfeitorias voluptuá rias nã o
serã o aqui dedutíveis.

Opçã o de englobamento (art. 72º/8) ou de aplicaçã o de taxa especial (art. 72º/1


d) de 28%

Apurados que estejam todos os rendimentos e depois de lhes ter sido aplicada a
taxa progressiva ou especial/liberató ria, estamos perante a coleta, ou seja, perante
o total de imposto a pagar. Ora, ainda é possível efetuar as deduçõ es à coleta
referidas no artigo 78º CIRS que elenca as deduçõ es possíveis, mas uma das
críticas aqui efetuadas é que estas deduçõ es têm um cará ter mais político do que
impactantes nas quantias tributá veis porque quando analisadas no caso concreto
têm uma expressã o muito reduzida.
Em que categoria de IRS inseriria cada um destes rendimentos (justifique) e como
seriam os mesmos tributados?

Duração: 2h30m
Cotação das perguntas: 4+4+7+5

Os alunos do PL que realizaram frequência responderão apenas ao grupo III e às


alíneas a), b) e c) do grupo IV.

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