Você está na página 1de 4

Direito do Trabalho – Relações Individuais

Teste de avaliação contínua 25-10-2016

Advertências:
As perguntas devem ser lidas cuidadosamente e as respostas devem ser concisas, objetivas e devidamente
justificadas, sempre que possível com recurso à lei.
A ordem de resposta às perguntas pode ser alterada, desde que as respostas identifiquem claramente a questão a que
se referem.
É permitida a consulta de quaisquer diplomas legais não anotados.
O tempo disponível é de 60 minutos.

I.
Mário foi contratado pela ELS, Lda., como contabilista. Presta atividade nas instalações
desta última, de segunda a sexta-feira, das 9H00 até às 17H00, com uma pausa entre as
13H00 e as 14H00 e aufere uma retribuição mensal no valor de 800€. Recentemente, o
gerente da ELS, Lda., informou Mário de que este não receberia qualquer quantia a
título de subsídio de Natal, visto que “a lei civil não o impõe nada nesse sentido fora
convencionado”. Mário, que estava convencido de que tinha um contrato de trabalho,
gostaria de ver essa questão esclarecida, mas, na verdade, não sabe se terá razão
1. (5 val.) Como aconselharia Mário se ele o/a consultasse relativamente a esta
questão?
 Distinção entre contrato de trabalho e contrato de prestação de serviço, com acento
tónico na subordinação jurídica como elemento próprio daquele tipo contratual
 Importância prática da distinção – a determinação do regime aplicável (Direito do
Trabalho ou Direito Civil?)
 A dificuldade prática de distinção e a importância da presunção de laboralidade.
 Mário tem a seu favor tal presunção, sendo que se verificam, claramente, algumas
das condições mencionadas no artigo 12.º/1.
 Mas tal presunção é ilidível, podendo o empregador fazer prova de que o contrato
apresenta traços próprios de um contrato de prestação de serviços, apesar da
verificação dos indícios a que alude o artigo 12.º.
2. (5 val.) Supondo que o contrato em causa é de trabalho, considere agora que a
entidade empregadora descobriu que Mário não está inscrito na Ordem dos
Contabilistas e, por esse motivo, declarou que invocará judicialmente a invalidade
do contrato e que, além disso, pedirá que Mário seja condenado no pagamento de
uma indemnização, visto que omitiu, deliberadamente, essa falta de habilitação, no
momento em que foi contratado, o que causou danos ao prestígio da empresa em
causa. Considera que a pretensão da entidade empregadora é viável? Justifique.
 Nos casos em que o exercício lícito de uma profissão está condicionado à posse de
título profissional, como sucede no caso, o contrato celebrado com trabalhador que
não apresente essa certificação é inválido (artigo 117.º/1). Portanto, o empregador
tem razão.
 Também tem razão quanto à omissão dessa informação por parte de Mário, a qual
viola diretamente o artigo 107.º/1, além de que é contrária ao princípio da boa fé no
momento pré-contratual. A referida pretensão indemnizatória tem sustentação nos
termos gerais de direito civil e encontra eco claro no artigo 102.º do CT.
II.
Nádia foi contratada pela F&SM, Lda., pelo período de seis meses, para substituição de
Zélia, que se encontrava no gozo de uma licença sem vencimento. O contrato, formalizado
no dia 15 de junho de 2016, foi celebrado pelo período de seis meses, tendo-se estabelecido
que não seria renovável. Como, no dia de ontem, 24/10/2016, Zélia regressou ao trabalho,
Nádia julga que o seu contrato cessará imediatamente e pretende saber se deve ou não
continuar a apresentar-se ao trabalho.
1. (5 val.) Como a esclareceria quanto a este ponto? Quando e em que termos cessará, em
princípio, o contrato?
 Qualificação do contrato: contrato a termo resolutivo certo
 Sendo o termo o decurso do período correspondente a 6 meses, o regresso de Zélia não
influencia diretamente o destino do contrato de Nádia, o qual apenas deverá caducar,
conforme acordado, após decorrido aquele período;
 Como o contrato contém uma cláusula de não renovação, não será necessária a
denúncia, como prevista no artigo 344.º/1, para o contrato caducar (entendimento
maioritário; admite-se resposta distinta, desde que devidamente fundamentada).
2. (5 val.) Imagine que, no contrato, existia uma cláusula com o seguinte teor “As partes
acordam que o dever de informação a cargo da entidade empregadora previsto no
Código do Trabalho não carece de ser observado, atenta a curta duração do vínculo”.
Como se pronunciaria sobre a (in)validade de tal cláusula? E se uma cláusula
semelhante constasse de uma convenção coletiva de trabalho?
 Identificação do problema como uma questão de relação entre fontes.
 Quanto ao contrato individual:
-relação entre contrato individual e normas legais (artigo 106.º/2, e artigos seguintes);
-do n.º 2 do artigo 106.º resulta a indicação de que as informações a prestar são, no mínimo, as aí
indicadas, o que sugere que o dever não pode ser aliviado nem, sobretudo, suprimido – o dever
integra uma norma relativamente imperativa; tal conclusão é confirmada pelo disposto no n.º 4
do artigo 3.º;
-conclusão: a cláusula é inválida;
 Quanto à convenção coletiva de trabalho:
-para lá da referida indicação constante da própria norma, cabe invocar o n.º 3 do artigo 3.º, em
cuja alínea f) é mencionado o dever de informação do empregador, matéria que pertence, pois,
àquelas cuja regulação só pode ser modificada na condição da maior favorabilidade ao
trabalhador do regime instituído por fonte hierarquicamente inferior;
-conclusão: a cláusula é inválida

Você também pode gostar