Você está na página 1de 5

Universidade Presbiteriana Mackenzie

Tarefa Trilha 4 – Solução de Conflitos

Maria da Graça Piffer Rodrigues Costa


Homologação de Acordos Extrajudiciais
Artigos 855B e 855D da CLT

a) Sendo a homologação do acordo uma faculdade do Juiz, se ele não


homologar, qual o recurso/medida cabível?
O atual cenário no judiciário como um todos, privilegia o diálogo entre os
acordantes, a composição prévia em detrimento do litígio, objetivando diminuir
o número de ações ajuizadas, o tempo de sua tramitação, inclusive em âmbito
recursal, afinal não há como negar que o tempo de tramitação de um processo
na maioria dos casos não satisfaz as partes e a jurisdição não será entregue de
forma satisfatória.
A Reforma Trabalhista instituída pela Lei 13.467/2017 nos trouxe a
possibilidade das Varas do Trabalho decidirem sobre a homologação de
acordos extrajudiciais de sua competência. Essa prática deve seguir as regras
contidas no art. 855-B da mencionada lei, devendo ser provocada por petição
conjunta, sendo que ambas as partes devem estar representadas por
advogados distintos, já ao trabalhador lhe é facultado ser assistido pelo
advogado do sindicato da sua categoria, a lei também prevê que dentro de 15
dias o juiz analisará o acordo e designará audiência, se necessário, nesse
período o prazo prescricional ficará suspenso e voltará a fluir após o trânsito
em julgado da decisão que negar a homologação do acordo.
Ao recepcionar a petição de acordo, o juiz fará a análise quanto à legalidade do
acordo apresentado, homologando-o sem necessidade de convocação das
partes, se observar que pleito está de acordo com a legalidade, ou seja, se não
há nenhum indício de fraude ou coação do empregado. De outro lado,
necessitando de qualquer esclarecimento ou ajuste deverá convocar as partes
para presta-los em audiência.
Outro requisito a ser cumprido, diz respeito à discriminação das parcelas
transacionadas e sua natureza bem como os respectivos valores, tendo em
vista a obrigatoriedade dos recolhimentos previdenciários e fiscais
pertinentes.
Com relação ao recurso cabível contra decisão do Juiz que não homologou o
acordo extrajudicial, entendo que a medida a ser oposta é o Recurso
Ordinário, uma vez que é definitiva e coloca fim ao procedimento
apresentado pela vontade das partes.
“RR. PROCESSO Nº TST-RR-1000013-78.2018.5.02.0063.
RECURSO DE REVISTA – ACORDO EXTRAJUDICIAL HOMOLOGADO EM JUÍZO –
PROCEDIMENTO DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA – ARTS. 855-B A 855-E DA CLT
– QUITAÇÃO - TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA.
1. Problema que sempre atormentou o empregador foi o relativo à rescisão do
contrato de trabalho e da quitação dos haveres trabalhistas, de modo a não
permanecer com a espada de Dâmocles sobre sua cabeça.
..................................................................................................................................
3. Para resolver tal problema, a Lei 13.467/17, em vigor desde 11/11/17, instituiu o
procedimento de jurisdição voluntária na Justiça do Trabalho atinente à homologação,
em juízo, de acordo extrajudicial, nos termos dos arts. 855-B a 855-E da CLT,
juntamente com o fito de colocar termo ao contrato de trabalho.
.........................................................................................................................................
6. Nesse sentido, o art. 855-B, §§ 1º e 2º, da CLT, que trata da apresentação do
acordo extrajudicial à Justiça, a par dos requisitos gerais de validade dos negócios
jurídicos que se aplicam ao direito do trabalho, nos termos do art. 8º, § 1º, da Lei
Consolidada e que perfazem o ato jurídico perfeito (CC, art. 104 – agente capaz,
objeto lícito e forma prescrita ou não vedada por lei), traçou as balizas para a
apresentação do acordo extrajudicial apto à homologação judicial: petição conjunta
dos interessados e advogados distintos, podendo haver assistência sindical para o
trabalhador. 7. A petição conjuntamente assinada para a apresentação do
requerimento de homologação ao juiz de piso serve à demonstração da anuência
mútua dos interessados em por fim ao contratado, e, os advogados distintos, à
garantia de que as pretensões estarão sendo individualmente respeitadas. Assim, a
atuação do Judiciário Laboral na tarefa de jurisdição voluntária é binária: homologar,
ou não, o acordo.
.........................................................................................................................................
10. Ora, estando presentes os requisitos gerais do negócio jurídico e os específicos
preconizados pela lei trabalhista (CLT, art. 855-B), não há de se questionar a vontade
das partes envolvidas e do mérito do acordado, notadamente quando a lei requer a
presença de advogado para o empregado, rechaçando, nesta situação, o uso do jus
postulandi do art. 791 da CLT, como se depreende do art. 855-B, § 1º, da CLT. 11.
Assim sendo, é válido o termo de transação extrajudicial apresentado pelas
Interessadas, com quitação geral e irrestrita do contrato havido, nessas condições,
que deve ser homologado. Recurso de revista provido.”
O recurso de revista acima versa sobre a decisão de primeiro grau que
homologou parcialmente o acordo realizado pelas partes, nos moldes previstos
no artigo 855 B da CLT e mantida pelo acórdão recorrido proferido pelo 2º TRT,
que negou provimento ao recurso ordinário apresentado pelas partes –
mantendo a decisão primária. Diante disso, a Empresa Recorrente interpôs
recurso de revista, buscando a reforma da decisão quanto à forma de quitação
parcial conferida a acordo extrajudicial homologado em juízo (págs. 86-99).
Admitido o recurso de revista e julgando-o provido.

b) Pode-se falar em renúncia de direitos num acordo extrajudicial?


Explique.
Um dos princípios que norteiam a Justiça do Trabalho é a Indisponibilidade dos
Direitos Trabalhistas, ou seja, o trabalhador não pode abrir mão, renunciar ou
transacionar direitos trabalhistas para pior, pois se assim o fizer esse ato será
considerado nulo, uma vez que os direitos trabalhistas são garantias de ordem
pública, indisponíveis, irrenunciáveis.
A bem da verdade, a homologação do acordo extrajudicial não implica renúncia
de direitos, pois a transação está ancorada em concessões recíprocas que
visam a solução prematura de qualquer conflito de interesses. E, se a quitação
geral é amplamente utilizada nos acordos judiciais – onde já há uma ação
trabalhista em trâmite, Juízo e advogados para dirimir quaisquer dúvidas ou
problemas, impende questionar porque exclui-la do âmbito dos acordos
extrajudiciais.
Os acordos celebrados através das famigeradas “casadinhas” são,
historicamente, repudiados por parte do poder judiciário. Isto porque a doutrina
e da jurisprudência brasileira partem da ótica, muitas vezes equivocada, que as
negociações entre as partes são mais gravosas aos empregados, visto que
eles se encontram em situação financeira vulnerável ante o empregador e,
portanto, são coagidos a aceitá-las.
Em outros tempos, esta prática gerou inegáveis prejuízos às partes e ao Poder
Público, inclusive com a invalidação dos negócios jurídicos praticados.
Diante disso, a insegurança jurídica que rondava as partes impedia a
aproximação destas e, consequentemente, a autocomposição, provocando
uma judicialização muitas vezes desnecessária.
Revele-se, ainda, que muito embora o empregado continue sendo a parte
financeira vulnerável na relação, não está mais revestido de “ignorância” em
seus direitos e muito menos em sua proteção frente aos eventuais desmandos
de empregadores.
O viés protecionista no qual o Direito do Trabalho encontra suas raízes e no
qual se orienta, deve ser aplicado com a observância do caso concreto,
notadamente diante das mudanças globais e do comportamento da economia
que impactam frontalmente o mercado de trabalho.

“O dever da autoridade judicial é justamente o contrário disso, qual seja, averiguar a validade
formal e material da avença, a inexistência de ofensa ao sistema de direito, a inexistência de
prejuízo a terceiros, a inexistência de vício de vontade na manifestação das partes etc.”,
finalizou. Com informações da Assessoria de Imprensa do TRT-12. Processo 0001189-
64.2016.5.12.0043

É evidente que mudanças nos tiram da zona de conforto e temos que avaliar
realmente e oportunidade de resolver as pendências e garantir o recebimento
de verbas trabalhistas, já que o tempo é o real inimigo da satisfação do crédito.

Sob essa perspectiva e visando atender à finalidade da norma posta, além do


próprio interesse das partes e o lapso temporal do tramite de um processo
litigioso, a análise do instituto legal deve pautar-se em critérios objetivos e
específicos correlatos ao caso concreto, a fim de inibir a ocorrência de
simulações. Porém, é imprescindível que se considere exclusivamente os
vícios dos negócios jurídicos como forma de invalidá-los, sem a imposição de
restrições incompatíveis com a vontade das partes, legislativa e a atual
realidade social, erigindo em desfavor dos acordantes uma presunção de
fraude desprovida de elementos que comprovem sua ocorrência.

Você também pode gostar