Este documento trata de um conflito de competência entre dois juízos sobre a guarda de um menor. O juízo de Teixeira de Freitas/BA concedeu a guarda provisória aos avós maternos em 2016. Já o juízo de Teresina/PI concedeu a guarda à genitora em 2017. O STJ decidiu que o juízo competente é o de Teresina/PI, levando em conta o princípio do juízo imediato do ECA e o fato do menor estar atualmente sob a guarda da genitora naquela c
Este documento trata de um conflito de competência entre dois juízos sobre a guarda de um menor. O juízo de Teixeira de Freitas/BA concedeu a guarda provisória aos avós maternos em 2016. Já o juízo de Teresina/PI concedeu a guarda à genitora em 2017. O STJ decidiu que o juízo competente é o de Teresina/PI, levando em conta o princípio do juízo imediato do ECA e o fato do menor estar atualmente sob a guarda da genitora naquela c
Este documento trata de um conflito de competência entre dois juízos sobre a guarda de um menor. O juízo de Teixeira de Freitas/BA concedeu a guarda provisória aos avós maternos em 2016. Já o juízo de Teresina/PI concedeu a guarda à genitora em 2017. O STJ decidiu que o juízo competente é o de Teresina/PI, levando em conta o princípio do juízo imediato do ECA e o fato do menor estar atualmente sob a guarda da genitora naquela c
“A competência para processar e julgar as ações conexas de interesse de menor
é, em princípio, do foro do domicílio do detentor de sua guarda.” (Súmula 383, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 27/05/2009, DJe 08/06/2009)
Processo
CC 156392
Relator(a)
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO
Data da Publicação
01/02/2019
Decisão
CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 156.392 - BA (2018/0015463-0) RELATOR :
MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO SUSCITANTE : L R H ADVOGADOS : MARCO ANTÔNIO VASQUEZ RODRIGUEZ - SP195578 GINE ALBERTA RAMOS ANDRADE KINJYO - BA019983 BENEDITO EUGENIO DE ALMEIDA SICILIANO - SP104058 ALVARO HUMBERTO ANDRADE KINJYO E OUTRO(S) - BA038697 LEONARDO BARROSO LUPIANHES - MG183426 SUSCITADO : JUÍZO DE DIREITO DA 1A VARA DOS FEITOS RELATIVOS AS RELAÇOES DE CONSUMO, CIVEIS E COMERCIAIS DE TEIXEIRA DE FREITAS - BA SUSCITADO : JUÍZO DE DIREITO DA 4A VARA DE FAMILIA E SUCESSÕES DE TERESINA - PI INTERES. : R B L M ADVOGADOS : CLEANTO JALES DE CARVALHO NETO - PI007075 DANILO DE MARACABA MENEZES - PI007303 KAMILLA BARROS TEIXEIRA E OUTRO(S) - BA048868 CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. GUARDA PROVISÓRIA DEFERIDA AOS AVÓS MATERNOS E À GENITORA EM DUAS DEMANDAS DISTINTAS. ART. 147, ECA. PREVALÊNCIA DO INTERESSE DO MENOR. 1. Nos termos do art. 147 do ECA, a competência das ações envolvendo interesses de menor possui natureza absoluta, sendo primordialmente determinada pelo local do domicílio dos pais ou responsável, ou, na falta destes, pelo lugar onde se encontre a criança ou o adolescente, não se podendo olvidar que o princípio constitucional da prioridade absoluta dos interesses do menor é orientador das regras desse estatuto e, por conseguinte, dos critérios previstos nesse dispositivo legal. Neste sentido, a Súmula 383 do STJ: "A competência para processar e julgar ações conexas de interesse de menor é, em princípio, do foro do domicílio do detentor de sua guarda". 2. Em tal contexto, não se podem adotar, de forma automática, as regras processuais civis se elas puderem acarretar qualquer prejuízo aos interesses e direitos do menor, cuja condição peculiar de pessoa em desenvolvimento implica a sobreposição e aplicação do princípio da proteção integral, que permeia as regras do Estatuto da Criança e do Adolescente. Precedentes. 3. No caso concreto, há liminares de juízos distintos deferindo a guarda provisória do menor aos avós maternos e à genitora, respectivamente, devendo-se aplicar a regra do art. 147, II, do ECA, qual seja a do local onde a criança se encontra atualmente, em atenção ao princípio do juízo imediato, máxime porque não há provas contundentes, no atual estágio, de que a genitora tenha se valido de subterfúgio a fim de afastar o Juízo natural. Ao revés, há indicativos da prática de violência doméstica, ainda que sem provimento judicial definitivo. 4. Dessarte, em face do princípio constitucional da prioridade absoluta dos interesses do menor, orientador dos critérios do art. 147 do ECA, mais adequada a declaração de competência do Juízo do local onde se encontra atualmente o menor. 5. Conflito conhecido, declarando-se a competência do Juízo de Direito da 4ª Vara de Família e Sucessões de Teresina/PI. DECISÃO 1. Trata-se de conflito positivo de competência, com pedido liminar, suscitado por LRH em face do Juízo de Direito da 1ª Vara dos Feitos Relativos às Relações de Consumo, Cíveis e Comerciais de Teixeira de Freitas/BA, perante o qual tramita ação de guarda ajuizada pelo ora suscitante envolvendo seu filho menor (Proc. 0506887-77.2016.8.05.0256), e o Juízo de Direito da 4ª Vara de Família e Sucessões de Teresina/PI, onde tramita ação de reconhecimento e dissolução de união estável cumulada com pedido de guarda e de alimentos ajuizada em desfavor do suscitante (Proc. 0801065-94.2017.8.18.0140). Alega o suscitante que em 12/12/2016 ajuizou perante o Juízo cível da Comarca de Teixeira de Freitas/BA ação em que busca a guarda de seu filho, menor de idade, tendo sido a guarda provisória concedida aos avós maternos do menor em decisão do dia 15/12/2016 (fls. 101/110). Assere, no entanto, que a ré da referida ação - e genitora do menor -, com o objetivo de evitar o cumprimento da ordem judicial, evadiu-se para o Estado do Piauí com o menor, onde então ajuizou em desfavor do suscitante, em 04/1/2017, ação visando o reconhecimento de dissolução de união estável, partilha de bens, guarda e alimentos, omitindo dolosamente da autoridade judiciária a existência do primevo processo. Esclarece que na referida ação, o Juízo da 4ª Vara da Família e Sucessões de Teresina/PI, em tutela de urgência, deferiu a guarda do menor à genitora, configurando, deste modo, o conflito de competência entre os supracitados Juízos. Por sua vez, aduz que a genitora, no âmbito da primeva ação, interpôs agravo de instrumento em face da decisão que concedeu a guarda provisória do menor aos avós maternos, sendo concedido efeito suspensivo ao agravo em 12/4/2017, estando o julgamento do recurso e o processo suspensos pelo prazo de 01 ano, a teor do que se verifica pela decisão de fl. 930. No ponto, esclarece que o recurso "permanece pendente de julgamento, sendo seu objeto (i) a declaração da incompetência do Juízo da 1ª Vara de Feitos de Relação de Consumo, Cível e Comerciais da Comarca de Teixeira de Freitas/BA e (ii) decisão extra petita, eis que fora deferida a guarda provisória aos avós maternos. Vale informar que em relação ao primeiro pleito, ou seja, a incompetência do juízo, a Segunda Instância daquele Estado não poderá se pronunciar, de modo a não haver supressão de instâncias, visto que não houve apreciação da referida matéria pelo MM. Juiz de Direito da 1ª Vara de Feitos de Relação de Consumo, Cível e Comerciais da Comarca de Teixeira de Freitas/BA" (fl. 06). Em tal contexto, sustenta a prevenção do Juízo cível da Comarca de Teixeira de Freitas/BA, nos termos dos artigos 58 e 59 do CPC/15, afastando a possibilidade, no caso, de modificação da competência em razão do exercício da "guarda espúria" exercida pela genitora, que de maneira fraudulenta, omitiu informação acerca da primeva ação de guarda ajuizada perante o Juízo baiano. Nestes sentido, portanto, conclui: "A detenção espúria do menor feita pela genitora, com consequente alteração de domicílio, não é capaz de ensejar o ajuizamento da ação de guarda em domicílio fraudado, de modo a almejar a modificação da guarda perante juízo absolutamente incompetente, ainda mais omitindo deste informação relevantíssima para a definição da competência (fl. 13). O medida liminar pleiteada fora indeferida pela Presidência desta Corte considerando a insuficiência de elementos à comprovação do conflito, bem assim a impossibilidade de utilização do incidente como sucedâneo recursal (fls. 906/907). As informações foram prestadas pelos Juízos suscitados às fls. 914/916 e 919/922. O Ministério Público Federal, em pareceres exarados às fls. 941/945 e 991/992, manifestou-se pela competência do Juízo de Família da Comarca de Teresina/PI sob o fundamento da existência de continência entre as ações "no que forçoso convir pela competência do Juízo de Direito da 4ª Vara de Família e Sucessões da Comarca de Teresina/PI, local que processa o pedido mais amplo (medida protetiva, partilha de bens, guarda e alimentos)", ressaltando, ademais, "a prevalência do juízo imediato (ECA, art. 147, II) em demandas envolvendo o interesse de menores, em detrimento da regra de prevenção" (fls. 941/945): Processual Civil. Competência. Guarda. Pluralidade de demandas. Continência. Parecer pela competência do Juízo de Direito da 4ª Vara de Família e Sucessões da Comarca de Teresina/PI. Às fls. 996/1013, o suscitante formula pedido de tutela de urgência, a fim de que seja determinada a "suspensão dos processos onde ocorreram as decisões conflitantes", bem assim a declaração da competência do Juízo da 1ª Vara de Feitos de Relação de Consumo, Cível e Comerciais da Comarca de Teixeira de Freitas, Estado da Bahia para resolver em caráter provisório as medidas urgentes, até que seja julgado o presente Conflito de Competência". Alega que o fumus boni iuris está consubstanciado na inequívoca prevenção do Juízo cível da Comarca de Teixeira de Freitas para o julgamento das demandas, incidindo à hipótese da Súmula 383 do STJ, considerando a guarda provisória concedida aos avós maternos, com destaque para o exercício da guarda "espúria" da genitora. Por sua vez, afirma que o periculum in mora decorre da comprovada prática de alienação parental pela genitora do menor, situação que deve ser de pronto cessada pelo Poder Judiciário mediante a inversão da guarda. No ponto, destaca que o menor encontra-se atualmente no com o suscitante e os avós maternos na Comarca de Teixeira de Freitas, para o gozo de férias, até o dia 05/1/2019, em decorrência de decisão do eg. TJ/PI. O Suscitante defende a "indiferença" do Poder Judiciário do Estado do Piauí em relação ao tema, ao contrário do que ocorre com o Poder Judiciário da Bahia que, segundo alega, "desde o início do conflito, mostrou a preocupação com o bem-estar do infante". É o relatório. 2. Cinge-se a controvérsia à definição do juízo competente para decidir sobre a guarda de menor em razão da existência de ações diversas, com concessão liminar, da guarda provisória, respectivamente, aos avós maternos (processo ajuizado pelo suscitante perante o Juízo da Comarca de Teixeira de Freitas em 12/12/2016) e à genitora (no âmbito do processo ajuizado pela genitora em 04/1/2017 na Comarca de Teresina/PI). 4. Consigne-se, por oportuno, que em virtude de decisão exarada aos 27/3/2018 pela 2ª Câmara Cível do TJ/BA, no âmbito do AI nº 0003642-73.2017.8.05.0000, referido recurso, bem como o processo originário da 1ª Vara Cível de Teixeira de Freitas, encontram-se suspensos em decorrência do processamento deste incidente, daí por que, as decisões envolvendo o menor vem sendo decididas pelo Juízo de Família de Teresina/PI. A propósito, confira-se (fl. 930): (...) Da análise dos autos, constato que uma das questões jurídicas a ser analisada discussão acerca do juízo prevalente para processar e julgar a lide de origem (4ª Vara de Família de Teresina/PI e 1ª Vara Cível de Teixeira de Freitas/Ba) integra o objeto de Conflito Positivo de Competência, perante o STJ, de nº. 2018/0015463-0, sendo esse admitido pelo Exmo. Rel. Min. Humberto Martins. Por tal razão, considerando que o desate deste agravo depende do julgamento do referido incidente, impõe-se a suspensão desta via instrumental e do processo originário, durante o período de 01 ano, ou até que sobrevenha o trânsito em julgado da causa prejudicial, a teor do quanto disposto no art. 313, V, 'a' do Códex novo. Assim sendo, remetam-se os autos à Secretaria da Segunda Câmara Cível, local em que o presente caderno processual deverá aguardar o prazo ânuo subsequente à publicação desta decisão. Findo o predito prazo, voltem-me conclusos os autos, para julgamento do recurso sub oculis. Por sua vez, extrai-se dos autos a concessão de efeito suspensivo tirado do agravo de instrumento supracitado, interposto pela genitora do menor, em face da decisão que concedeu a guarda provisória inicial aos avós maternos da criança. Pois bem. No caso, há liminares de juízos distintos deferindo a guarda provisória primeiramente, aos avós maternos, e, na segunda ação, que envolve a discussão, além da guarda do menor, de alimentos e reconhecimento e dissolução de união estável, à genitora. O suscitante defende a prevenção do Juízo cível da Comarca de Teixeira de Freitas/BA, que primeiro conheceu da causa e concedeu a guarda provisória aos avós maternos do infante, a teor do que prevê a Súmula 383/STJ (A competência para processar e julgar as ações conexas de interesse de menor é, em princípio, do foro do domicílio do detentor de sua guarda"). Sustenta que, na hipótese, deve-se afastar o entendimento da competência do domicílio do detentor da guarda do menor - ora exercida pela genitora em razão da decisão exarada pelo Juízo de Família de Teresina/PI. Isto porque, segundo alega, a genitora evadiu-se da cidade onde morava com o menor - comarca de Teixeira de Freitas/BA -, com a finalidade espúria de evitar o cumprimento da decisão judicial que concedeu a guarda provisória aos avós, bem assim porque ao pleitear a guarda do menor perante o novo domicílio, Teresina/PI, sem indicar a existência da primeira ação, a genitora buscou conferir situação de aparente regularidade para sustentar a competência do Juízo de Teresina/PI para o conhecimento e julgamento da matéria, a teor do que preconiza a Súmula 383 do STJ. Ocorre que, ao contrário do que se alega, não há evidências suficientes de que a genitora tenha se valido de "fraude processual" ao mudar de domicílio, como forma de esquivar-se do provimento judicial exarado pelo Juízo da Comarca de Teixeira de Freitas/BA e, assim, obter a guarda perante Juízo diverso, tudo a justificar a competência do Juízo de Família de Teresina/PI, perante o qual sobreveio-lhe provimento judicial favorável. 5. Com efeito, segundo a jurisprudência desta Eg. Corte sobre o tema, nos termos do art. 147 do ECA, a competência das ações envolvendo interesses de menor possui natureza absoluta, sendo primordialmente determinada pelo local do domicílio dos pais ou responsável, ou, na falta destes, pelo lugar onde se encontre a criança ou o adolescente, não se podendo olvidar que o princípio constitucional da prioridade absoluta dos interesses do menor é orientador das regras desse estatuto e, por conseguinte, dos critérios previstos nesse dispositivo legal. Neste sentido, a Súmula 383 do STJ: "A competência para processar e julgar ações conexas de interesse de menor é, em princípio, do foro do domicílio do detentor de sua guarda". Tal posicionamento vem se firmando levando em conta a proximidade do Juízo onde se processa a ação de interesse da criança e o local de sua residência, de forma conjugada, possibilitando, assim, entregar-lhe a prestação jurisdicional de forma rápida e efetiva, por se permitir uma maior interação entre o Juízo, o menor e seus pais ou responsáveis, ainda que no caso de alteração posterior de domicílio do menor e seu representante legal. Neste sentido, mitiga-se o princípio da perpetuatio jurisdictionis a fim de privilegiar os do menor no caso de alteração de domicílio deste. A propósito: "CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO DE EXECUÇÃO DE ALIMENTOS PROMOVIDA POR MENOR. MUDANÇA DE DOMICÍLIO DO EXEQUENTE NO CURSO DA LIDE. MENOR HIPOSSUFICIENTE. INTERESSE PREPONDERANTE DESTE. MITIGAÇÃO DO PRINCÍPIO DA PERPETUATIO JURISDICTIONIS (ART. 87 DO CPC). MUDANÇA PARA O MESMO FORO DE DOMICÍLIO DO GENITOR/ALIMENTANTE. CONFLITO CONHECIDO. 1 A mudança de domicílio do autor da ação de alimentos durante o curso do processo não é, em regra, suficiente para alteração da competência para o julgamento do feito, prevalecendo o princípio da perpetuatio jurisdictionis, previsto no art. 87 do CPC, segundo o qual a competência se define no momento da propositura da ação, sendo irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem o órgão judiciário ou alterarem a competência em razão da matéria ou da hierarquia. 2. Entretanto, 'o princípio do juízo imediato, previsto no art. 147, I e II, do ECA, desde que firmemente atrelado ao princípio do melhor interesse da criança e do adolescente, sobrepõe- se às regras gerais de competência do CPC'. Assim, 'a regra da perpetuatio jurisdictionis, estabelecida no art. 87 do CPC, cede lugar à solução que oferece tutela jurisdicional mais ágil, eficaz e segura aoinfante, permitindo, desse modo, a modificação da competência nocurso do processo, sempre consideradas as peculiaridades da lide' (CC 111.130/SC, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA SEÇÃO, DJe de1º/2/2011). 4. É bem verdade que, entre outros, há precedente da Segunda Seção declarando a competência do Juízo que primeiro deferiu a guarda, em hipótese de subtração do menor e alteração do seu domicílio: CONFLITO POSITIVO. GUARDA DE MENOR. LIMINAR. DEFERIMENTO PRIMEIRAMENTE EM AÇÃO PROMOVIDA PELA IRMÃ DA GENITORA. SUBTRAÇÃO DA CRIANÇA PELA MÃE. ALTERAÇÃO DO DOMICÍLIO NA VIGÊNCIA DO PROVIMENTO JUDICIAL ASSECURATÓRIO. LIMINAR DEFERIDA EM FAVOR DA PRIMEIRA RÉ EM OUTRA AÇÃO DE GUARDA. BUSCA E APREENSÃO. CARTA PRECATÓRIA. RECUSA AO CUMPRIMENTO. 1. Em observância ao Estatuto da Criança e do Adolescente, a jurisprudência do STJ privilegia o foro do domicílio daquele que exerce regularmente a guarda para as ações em que disputada a posse da menor. 2. Deferida inicialmente liminar em prol da tia materna, com o consentimento do pai, em desfavor da genitora e irmã, transferindo provisoriamente a guarda ao suposto de prevenir eventuais maus tratos, é no foro do domicílio da tia, que possui competência absoluta, que devem tramitar as ações antagônicas. 3. A subtração da menor, na vigência da liminar, da qual estava ciente a mãe, impede a aplicação à espécie do princípio do juízo imediato. 4. Competente o Juízo que primeiro conheceu da matéria, não há justificativa para a recusa da precatória de busca e apreensão da menor no novo domicílio da genitora. 5. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo suscitante. (CC 141.374/RJ, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 25/11/2015, DJe 03/12/2015) No caso em tela, contudo, conforme assinalado, não existem provas suficientes sobre a subtração do menor. Há, de fato, alegação da prática de alienação parental por parte da genitora, com laudo emitido pelo setor psicossocial do TJ/PI (fls. 978/990). Por outro lado, há indicativos da prática de violência no âmbito doméstico por parte do suscitante - muito embora não exista, do mesmo modo, provimento judicial definitivo sobre a matéria, temas que, como bem delineado pelo parecer ministerial, são desinfluentes à resolução do conflito de competência em tela, mas que, inegavelmente deverão auxiliar na definição do mérito, na origem, sendo certo que, ainda que declarada a competência do Juízo de Família de Teresina para o julgamento das ações, em possível "acolhimento" à conduta ilícita da genitora - é certo que tal não garantirá o provimento judicial definitivo da guarda àquela, estando à análise adstrita a diversos temas a serem considerados pela origem. Neste sentido, confira-se o elucidativo parecer ministerial, no que interessa (fls. 941/945). (...) É sabido que a competência para processar e julgar o feito deve ser, em regra, firmada pelo domicílio dos pais ou responsável, sendo necessário que se verifique também se este critério atende ao melhor interesse da criança. Outrossim, vale anotar que o STJ 1 rechaça a adoção de subterfúgios, tais como a subtração do incapaz, como tentativa de burlar a norma que fixa como juízo competente aquele do detentor legal da guarda. Nada obstante, observa-se que o caso concreto se revela, deveras, complexo, havendo a apuração de denúncia de violência doméstica contra o suscitante perante o Foro de Teresina/PI. Tal circunstância, aliás, pode influenciar na resolução da lide, sendo prudente assegurar a esse juízo a possibilidade de envidar melhores esforços tendentes a conciliar o presente conflito familiar. Em reforço, é possível vislumbrar a existência de continência entre as demandas, dada a repetição da ação de guarda, no que forçoso convir pela competência do Juízo de Direito da 4ª Vara de Família e Sucessões da Comarca de Teresina/PI, local que processa o pedido mais amplo (medida protetiva, partilha de bens, guarda e alimentos). Ademais, essa Egrégia Corte Superior já decidiu pela prevalência do juízo imediato (ECA, art. 147, II 2 ), em demandas envolvendo o interesse de menores, em detrimento da regra de prevenção: CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. GUARDA PROVISÓRIA DEFERIDA ÀS DUAS AVÓS EM DUAS DEMANDAS DISTINTAS. AFASTAMENTO DA REGRA DE PREVENÇÃO PREVISTA NO CPC, EM RAZÃO DA PREVALÊNCIA DO INTERESSE DO MENOR. 1. Nos termos do art. 59 do Código de Processo Civil, o registro ou a distribuição da petição inicial torna prevento o juízo. Na sistemática do antigo código processual, a prevenção se dá em decorrência da primeira citação válida (art. 219). 2. Contudo, não se podem adotar, de forma automática, as regras processuais civis se elas puderem acarretar qualquer prejuízo aos interesses e direitos do menor, cuja condição peculiar de pessoa em desenvolvimento implica a sobreposição e aplicação do princípio da proteção integral, que permeia as regras do Estatuto da Criança e do Adolescente. Precedentes. 3. No caso concreto, há liminares de juízos distintos deferindo a guarda provisória das duas netas menores (de 3 e 6 anos de idade) a ambas as avós, devendo-se aplicar a regra do art. 147, II, do ECA, qual seja a do local onde as crianças se encontram atualmente, em atenção ao princípio do juízo imediato, máxime porque, segundo consta, em atendimento médico a que submetida a criança, "surgiram indícios de que tivesse sofrido abuso sexual na cidade de Vilhena-RO". 4. Dessarte, em face do princípio constitucional da prioridade absoluta dos interesses do menor, orientador dos critérios do art. 147 do ECA, mais adequada a declaração de competência do Juízo suscitante. 5. Conflito conhecido, declarando-se a competência do Juízo de Direito da Vara da Infância e da Juventude de Porecatu/PR. (CC 151.511/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 11/10/2017, DJe 07/11/2017) Nesta medida, tendo em vista as especificidades do caso concreto, propõe- se a superação da Súmula n. 383/STJ 3 . A reforçar tal entendimento, confira-se trecho da decisão lavra do Juízo de Família de Teresina/PI exarada aos 10/8/2018. (...) "Em que pese o pedido do Ministério Público para manifestação, por de fato existir interesse de incapaz justamente pelo interesse do incapaz conheço do que foi requerido, para decidir pedidos urgentes que visam benefício do menor. Esclareço aqui que não se trata nenhuma das medidas tomadas de definitivas. Ora, nada foi decidido em definitivo ainda. As partes confundem guarda provisória como direito irreversível. De fato, se ainda não decidimos com quem fica a Guarda definitiva do filho e nem há regulamentação quanto ao convívio, direito de visitas, a mãe ou o pai não podem estabelecer ao seu livre arbítrio quanto à guarda. No entanto, persiste e é direito da criança ter o convívio dos pais. A guarda de fato ou provisória, pode até se encontrar momentaneamente com a autora (mãe), mas o pai não perdeu o poder familiar e nem direito de convivência. Alias, a guarda de menor, mesmo sendo imposta por sentença ou homologado acordo, não se faz em definitivo, podendo a qualquer tempo ser modificado em benefício da criança. Em se tratando de guarda de criança, as decisões não devem guardar, inclusive por determinação legal, uma aplicação extremamente dogmática e fria. Em primeiro lugar, deve-se observar que situação é mais vantajosa para a criança. Portanto, vendo que retirar a criança de próximo da mãe, com quem já convive, satisfaz o que quer a parte requerida, mas não atende os interesses do menor, razão por que torno sem efeito as decisões anteriores. Não havendo possibilidade de acordo entre os pais, o interesse do menor deve ser auferido. Os pais têm direitos iguais, mas é ao filho que se deve verificar o que é melhor, até por razões psicológicas". Do que se apresenta dos autos, portanto, em especial pelo pedido de tutela de urgência ora formulado pelo suscitante, tenho que o suscitante invoca a suposta "indiferença" pelo Juízo de Família de Teresina/PI para, em última análise, justificar a competência do Juízo cível da Comarca de Teixeira de Freitas/BA, adentrando à questão de mérito (a quem deve ser concedida a guarda), segundo mesmo indicado pela decisão supracitada e em parecer ministerial sobre o tema, o que refoge à análise deste incidente processual, devendo eventuais insurgências sobre o mérito serem exteriorizadas por meio dos recursos cabíveis à espécie. Assim que, no âmbito estreito do presente incidente, considerando que a guarda vem sendo exercida legalmente pela genitora até o presente momento e que a segunda contempla a discussão de temas conexos à guarda (reconhecimento e dissolução da união e alimentos) não vislumbro razões para excepcionar a jurisprudência sobre o tema, devendo ser reconhecida a competência do domicílio do representante legal do menor que a exerce, como sói ocorrer no caso em tela - o da genitora, local onde a criança se encontra atualmente - excepcionado, por óbvio, o determinado e limitado período de férias -, tudo em atenção ao princípio do juízo imediato. Ademais, e existência de processo criminal perante a Comarca de Teresina, segundo ressaltado pelo Ministério Público, poderá auxiliar na resolução definitiva sobre a matéria, notadamente em razão das diversas decisões já prolatadas. Diante deste quadro, a melhor solução no caso concreto, a meu sentir, não é verificar qual o juízo a quem primeiro foi distribuída a demanda ou que deferiu a guarda provisória, mas sim detectar aquele que, de acordo com o substrato fático delineado nos autos, melhor atende ao princípio da prioridade absoluta dos interesses da criança ou do adolescente, sendo certo que, na hipótese, não ressoa evidente a má-fé da genitora do menor a atribuir a competência do Juízo que primeiro conheceu da causa - Juízo cível de Teixeira de Freitas. Nesse passo, consoante se extrai do parecer ministerial, as informações dos autos mostram um panorama de intensa litigiosidade entre as partes, com indicativos da prática de alienação parental e de violência doméstica, com o deferimento de medidas de proteção em favor da genitora do menor. 5. Por tudo quanto apresentado, há de se concluir, portanto, pela competência do Juízo do local onde se encontra o menor e sua representante legal e onde se apuram, igualmente, a prática de para o julgamento das ações de guarda do menor, bem assim das questões a ela conexas - reconhecimento e dissolução da união estável e alimentos. 6. Ante o exposto, conheço do conflito para declarar a competência do Juízo de Direito da 4ª Vara de Família e Sucessões de Teresina/PI. Prejudicado o pedido de tutela de urgência. Comuniquem-se COM URGÊNCIA os Juízos suscitados. Publique-se. Intimem-se. Oficiem-se. Brasília (DF), 14 de dezembro de 2018. MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO Relator
PROCESSO CIVIL. CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. ESTATUTO DA
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. AÇÕES DE GUARDA AJUIZADAS EM ESTADOS DIFERENTES, PELO PAI E PELA MÃE DO MENOR. SUSPENSÃO DE AMBOS OS PROCESSOS. ESTABELECIMENTO DO JUÍZO DE RESIDÊNCIA DO MENOR. 1. A determinação da competência, em casos de disputa judicial sobre a guarda de infante deve garantir o respeito aos princípios do juízo imediato e da primazia ao melhor interesse da criança. 2. O fato de a mãe do menor ter abandonado a residência do casal, sem o consentimento do pai, levando consigo o filho menor, caso comprovado, consubstancia matéria que deve ser enfrentada para a decisão do pedido de guarda, em conjunto com outros elementos que demonstrem o bem estar do menor. A competência para decidir a respeito da matéria, contudo, deve ser atribuída ao juízo do local onde o menor fixou residência. 3. Nas ações que envolvem interesse da infância e da juventude, não são os direitos dos pais ou responsáveis, no sentido de terem para si a criança, que devem ser observados, mas o interesse do menor. 3. Conflito positivo de competência conhecido para o fim de se estabelecer a competência do juízo da 2ª Vara de Família de Santa Maria, RS. (CC n. 114.328/RS, Relatora a Ministra Nancy Andrighi, DJe 2/3/2011) CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÕES CONEXAS DE MODIFICAÇÃO DE GUARDA E DE BUSCA E APREENSÃO DE FILHO MENOR. GUARDA JÁ EXERCIDA POR UM DOS GENITORES. COMPETÊNCIA ABSOLUTA (ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, ART. 147, I). SÚMULA 383/STJ. 1. A competência para dirimir as questões referentes à guarda de menor é, em princípio, do Juízo do foro do domicílio de quem já a exerce legalmente, nos termos do que dispõe o art. 147, I, do Estatuto da Criança e do Adolescente. 2. Nos termos do enunciado da Súmula 383/STJ, "A competência para processar e julgar as ações conexas de interesse de menor é, em princípio, do foro do domicílio do detentor de sua guarda". 3. Conflito de competência conhecido para declarar a competência do JUÍZO DE DIREITO DA 1ª VARA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE DE RECIFE - PE. (CC n. 126.175/PE, Relator o Ministro Raul Araújo, DJe 14/3/2014)
O foro competente para resolver as demandas que envolvem interesse de
menores é o do domicílio do detentor da guarda, a teor do que estabelece o art. 147, I, da Lei n. 8.069/90 e o enunciando n. 383 da Súmula do STJ.
"PROCESSO CIVIL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETENCIA. AÇÃO DE
DESTITUIÇÃO DE PODER FAMILIAR. ALTERAÇÃO DE DOMICÍLIO DA CRIANÇA E DAQUELES QUE DETÉM SUA GUARDA. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. PRINCÍPIO DA PERPETUATIO JURISDICTIONES X JUIZ IMEDIATO. PREVALÊNCIA DESTE ÚLTIMO NA HIPÓTESE CONCRETA. 1. Conforme estabelece o art. 87 do CPC, a competência determina-se no momento da propositura da ação e, em se tratando de hipótese de competência relativa, não é possível de ser modificada ex officio. Esse mencionado preceito de lei institui, com a finalidade de proteger a parte, a regra da estabilização da competência (perpetuatio jurisdictionis). 2. O princípio do juiz imediato vem estabelecido no art. 147, I e II, do ECA, segundo o qual o foro competente para apreciar e julgar as medidas, ações e procedimentos que tutelam interesses, direitos e garantias positivados no ECA, é determinado pelo lugar onde a criança ou o adolescente exerce, com regularidade, seu direito à convivência familiar e comunitária. 3. Embora seja compreendido como regra de competência territorial, o art. 147, I e II, do ECA apresenta natureza de competência absoluta, nomeadamente porque expressa norma cogente que, em certa medida, não admite prorrogação. 4. A jurisprudência do STJ, ao ser chamada a graduar a aplicação subsidiária do art. 87 do CPC frente à incidência do art. 147, I e II, do ECA, manifestou-se no sentido de que deve prevalecer a regra especial em face da geral, sempre guardadas as peculiaridades de cada processo. 5. Conflito de competência conhecido para declarar a competência do Juízo de Direito da 1ª Vara da Infância e da Juventude do Distrito Federal-DF." (CC 119.318/DF, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 25/04/2012, DJe 02/05/2012)
CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÕES CONEXAS DE DE GUARDA, DE
ADOÇÃO E DE TUTELA DE MENOR. GUARDA EXERCIDA POR TERCEIRO SEM RELAÇÃO DE PARENTESCO COM O MENOR. INTERESSE NO EXERCÍCIO DA GUARDA MANIFESTADO PELOS AVÓS MATERNOS DA CRIANÇA. COMPETÊNCIA ABSOLUTA (ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, ART. 147, I). HIPÓTESE QUE RECOMENDA SOLUÇÃO DIVERSA DO ENTENDIMENTO CONSOLIDADO NA SÚMULA 383/STJ. ATENDIMENTO DO PRIMADO DA PRESERVAÇÃO DO INTERESSE DA CRIANÇA. 1. A competência para dirimir as questões referentes à guarda e situação de menor é, em princípio, do Juízo do foro do domicílio de quem já a exerce legalmente, nos termos do que dispõe o art. 147, I, do Estatuto da Criança e do Adolescente e do enunciado da Súmula 383/STJ. 2. Em razão das peculiaridades do caso concreto, é recomendável solução diversa da preconizada pela Súmula 383/STJ, segundo a qual: "A competência para processar e julgar as ações conexas de interesse de menor é, em princípio, do foro do domicílio do detentor de sua guarda". 3. Na hipótese, o reconhecimento da competência do Juízo do foro do domicílio de quem exerce a guarda provisória, dificultaria a defesa dos avós da criança e poderia levar à perpetuação de situação de possível irregularidade na concessão da guarda provisória à suscitante, terceiro sem relação de parentesco com o menor. Isso poderá prejudicar sobremaneira o interesse da criança, que permaneceria alijada da convivência com seus avós maternos, pessoas de poucos recursos financeiros, que também pleiteiam judicialmente a guarda do infante. 4. Conflito de competência conhecido para declarar a competência do JUÍZO DE DIREITO DA 2ª VARA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE DE CACOAL/RO. (CC 128.698/MT, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 12/11/2014, DJe 19/12/2014)