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Súmula nº 383 STJ (anotada)

“A competência para processar e julgar as ações conexas de interesse de menor


é, em princípio, do foro do domicílio do detentor de sua guarda.”
(Súmula 383, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 27/05/2009, DJe 08/06/2009)

Processo

CC 156392

Relator(a)

Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO

Data da Publicação

01/02/2019

Decisão

CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 156.392 - BA (2018/0015463-0) RELATOR :


MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO SUSCITANTE : L R H ADVOGADOS : MARCO
ANTÔNIO VASQUEZ RODRIGUEZ - SP195578 GINE ALBERTA RAMOS ANDRADE
KINJYO - BA019983 BENEDITO EUGENIO DE ALMEIDA SICILIANO - SP104058
ALVARO HUMBERTO ANDRADE KINJYO E OUTRO(S) - BA038697 LEONARDO
BARROSO LUPIANHES - MG183426 SUSCITADO : JUÍZO DE DIREITO DA 1A
VARA DOS FEITOS RELATIVOS AS RELAÇOES DE CONSUMO, CIVEIS E
COMERCIAIS DE TEIXEIRA DE FREITAS - BA SUSCITADO : JUÍZO DE DIREITO
DA 4A VARA DE FAMILIA E SUCESSÕES DE TERESINA - PI INTERES. : R B L M
ADVOGADOS : CLEANTO JALES DE CARVALHO NETO - PI007075 DANILO DE
MARACABA MENEZES - PI007303 KAMILLA BARROS TEIXEIRA E OUTRO(S) -
BA048868 CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. GUARDA PROVISÓRIA
DEFERIDA AOS AVÓS MATERNOS E À GENITORA EM DUAS DEMANDAS
DISTINTAS. ART. 147, ECA. PREVALÊNCIA DO INTERESSE DO MENOR. 1. Nos
termos do art. 147 do ECA, a competência das ações envolvendo interesses de
menor possui natureza absoluta, sendo primordialmente determinada pelo local
do domicílio dos pais ou responsável, ou, na falta destes, pelo lugar onde se
encontre a criança ou o adolescente, não se podendo olvidar que o princípio
constitucional da prioridade absoluta dos interesses do menor é orientador das
regras desse estatuto e, por conseguinte, dos critérios previstos nesse dispositivo
legal. Neste sentido, a Súmula 383 do STJ: "A competência para processar e
julgar ações conexas de interesse de menor é, em princípio, do foro do domicílio
do detentor de sua guarda". 2. Em tal contexto, não se podem adotar, de forma
automática, as regras processuais civis se elas puderem acarretar qualquer
prejuízo aos interesses e direitos do menor, cuja condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento implica a sobreposição e aplicação do princípio da proteção
integral, que permeia as regras do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Precedentes. 3. No caso concreto, há liminares de juízos distintos deferindo a
guarda provisória do menor aos avós maternos e à genitora, respectivamente,
devendo-se aplicar a regra do art. 147, II, do ECA, qual seja a do local onde a
criança se encontra atualmente, em atenção ao princípio do juízo imediato,
máxime porque não há provas contundentes, no atual estágio, de que a genitora
tenha se valido de subterfúgio a fim de afastar o Juízo natural. Ao revés, há
indicativos da prática de violência doméstica, ainda que sem provimento judicial
definitivo. 4. Dessarte, em face do princípio constitucional da prioridade absoluta
dos interesses do menor, orientador dos critérios do art. 147 do ECA, mais
adequada a declaração de competência do Juízo do local onde se encontra
atualmente o menor. 5. Conflito conhecido, declarando-se a competência do
Juízo de Direito da 4ª Vara de Família e Sucessões de Teresina/PI. DECISÃO 1.
Trata-se de conflito positivo de competência, com pedido liminar, suscitado por
LRH em face do Juízo de Direito da 1ª Vara dos Feitos Relativos às Relações de
Consumo, Cíveis e Comerciais de Teixeira de Freitas/BA, perante o qual tramita
ação de guarda ajuizada pelo ora suscitante envolvendo seu filho menor (Proc.
0506887-77.2016.8.05.0256), e o Juízo de Direito da 4ª Vara de Família e
Sucessões de Teresina/PI, onde tramita ação de reconhecimento e dissolução de
união estável cumulada com pedido de guarda e de alimentos ajuizada em
desfavor do suscitante (Proc. 0801065-94.2017.8.18.0140). Alega o suscitante
que em 12/12/2016 ajuizou perante o Juízo cível da Comarca de Teixeira de
Freitas/BA ação em que busca a guarda de seu filho, menor de idade, tendo sido
a guarda provisória concedida aos avós maternos do menor em decisão do dia
15/12/2016 (fls. 101/110). Assere, no entanto, que a ré da referida ação - e
genitora do menor -, com o objetivo de evitar o cumprimento da ordem judicial,
evadiu-se para o Estado do Piauí com o menor, onde então ajuizou em desfavor
do suscitante, em 04/1/2017, ação visando o reconhecimento de dissolução de
união estável, partilha de bens, guarda e alimentos, omitindo dolosamente da
autoridade judiciária a existência do primevo processo. Esclarece que na referida
ação, o Juízo da 4ª Vara da Família e Sucessões de Teresina/PI, em tutela de
urgência, deferiu a guarda do menor à genitora, configurando, deste modo, o
conflito de competência entre os supracitados Juízos. Por sua vez, aduz que a
genitora, no âmbito da primeva ação, interpôs agravo de instrumento em face da
decisão que concedeu a guarda provisória do menor aos avós maternos, sendo
concedido efeito suspensivo ao agravo em 12/4/2017, estando o julgamento do
recurso e o processo suspensos pelo prazo de 01 ano, a teor do que se verifica
pela decisão de fl. 930. No ponto, esclarece que o recurso "permanece pendente
de julgamento, sendo seu objeto (i) a declaração da incompetência do Juízo da 1ª
Vara de Feitos de Relação de Consumo, Cível e Comerciais da Comarca de
Teixeira de Freitas/BA e (ii) decisão extra petita, eis que fora deferida a guarda
provisória aos avós maternos. Vale informar que em relação ao primeiro pleito,
ou seja, a incompetência do juízo, a Segunda Instância daquele Estado não
poderá se pronunciar, de modo a não haver supressão de instâncias, visto que
não houve apreciação da referida matéria pelo MM. Juiz de Direito da 1ª Vara de
Feitos de Relação de Consumo, Cível e Comerciais da Comarca de Teixeira de
Freitas/BA" (fl. 06). Em tal contexto, sustenta a prevenção do Juízo cível da
Comarca de Teixeira de Freitas/BA, nos termos dos artigos 58 e 59 do CPC/15,
afastando a possibilidade, no caso, de modificação da competência em razão do
exercício da "guarda espúria" exercida pela genitora, que de maneira fraudulenta,
omitiu informação acerca da primeva ação de guarda ajuizada perante o Juízo
baiano. Nestes sentido, portanto, conclui: "A detenção espúria do menor feita
pela genitora, com consequente alteração de domicílio, não é capaz de ensejar o
ajuizamento da ação de guarda em domicílio fraudado, de modo a almejar a
modificação da guarda perante juízo absolutamente incompetente, ainda mais
omitindo deste informação relevantíssima para a definição da competência (fl.
13). O medida liminar pleiteada fora indeferida pela Presidência desta Corte
considerando a insuficiência de elementos à comprovação do conflito, bem assim
a impossibilidade de utilização do incidente como sucedâneo recursal (fls.
906/907). As informações foram prestadas pelos Juízos suscitados às fls.
914/916 e 919/922. O Ministério Público Federal, em pareceres exarados às fls.
941/945 e 991/992, manifestou-se pela competência do Juízo de Família da
Comarca de Teresina/PI sob o fundamento da existência de continência entre as
ações "no que forçoso convir pela competência do Juízo de Direito da 4ª Vara de
Família e Sucessões da Comarca de Teresina/PI, local que processa o pedido mais
amplo (medida protetiva, partilha de bens, guarda e alimentos)", ressaltando,
ademais, "a prevalência do juízo imediato (ECA, art. 147, II) em demandas
envolvendo o interesse de menores, em detrimento da regra de prevenção" (fls.
941/945): Processual Civil. Competência. Guarda. Pluralidade de demandas.
Continência. Parecer pela competência do Juízo de Direito da 4ª Vara de Família
e Sucessões da Comarca de Teresina/PI. Às fls. 996/1013, o suscitante formula
pedido de tutela de urgência, a fim de que seja determinada a "suspensão dos
processos onde ocorreram as decisões conflitantes", bem assim a declaração da
competência do Juízo da 1ª Vara de Feitos de Relação de Consumo, Cível e
Comerciais da Comarca de Teixeira de Freitas, Estado da Bahia para resolver em
caráter provisório as medidas urgentes, até que seja julgado o presente Conflito
de Competência". Alega que o fumus boni iuris está consubstanciado na
inequívoca prevenção do Juízo cível da Comarca de Teixeira de Freitas para o
julgamento das demandas, incidindo à hipótese da Súmula 383 do STJ,
considerando a guarda provisória concedida aos avós maternos, com destaque
para o exercício da guarda "espúria" da genitora. Por sua vez, afirma que o
periculum in mora decorre da comprovada prática de alienação parental pela
genitora do menor, situação que deve ser de pronto cessada pelo Poder Judiciário
mediante a inversão da guarda. No ponto, destaca que o menor encontra-se
atualmente no com o suscitante e os avós maternos na Comarca de Teixeira de
Freitas, para o gozo de férias, até o dia 05/1/2019, em decorrência de decisão do
eg. TJ/PI. O Suscitante defende a "indiferença" do Poder Judiciário do Estado do
Piauí em relação ao tema, ao contrário do que ocorre com o Poder Judiciário da
Bahia que, segundo alega, "desde o início do conflito, mostrou a preocupação
com o bem-estar do infante". É o relatório. 2. Cinge-se a controvérsia à definição
do juízo competente para decidir sobre a guarda de menor em razão da
existência de ações diversas, com concessão liminar, da guarda provisória,
respectivamente, aos avós maternos (processo ajuizado pelo suscitante perante o
Juízo da Comarca de Teixeira de Freitas em 12/12/2016) e à genitora (no âmbito
do processo ajuizado pela genitora em 04/1/2017 na Comarca de Teresina/PI). 4.
Consigne-se, por oportuno, que em virtude de decisão exarada aos 27/3/2018
pela 2ª Câmara Cível do TJ/BA, no âmbito do AI nº 0003642-73.2017.8.05.0000,
referido recurso, bem como o processo originário da 1ª Vara Cível de Teixeira de
Freitas, encontram-se suspensos em decorrência do processamento deste
incidente, daí por que, as decisões envolvendo o menor vem sendo decididas pelo
Juízo de Família de Teresina/PI. A propósito, confira-se (fl. 930): (...) Da análise
dos autos, constato que uma das questões jurídicas a ser analisada discussão
acerca do juízo prevalente para processar e julgar a lide de origem (4ª Vara de
Família de Teresina/PI e 1ª Vara Cível de Teixeira de Freitas/Ba) integra o objeto
de Conflito Positivo de Competência, perante o STJ, de nº. 2018/0015463-0,
sendo esse admitido pelo Exmo. Rel. Min. Humberto Martins. Por tal razão,
considerando que o desate deste agravo depende do julgamento do referido
incidente, impõe-se a suspensão desta via instrumental e do processo originário,
durante o período de 01 ano, ou até que sobrevenha o trânsito em julgado da
causa prejudicial, a teor do quanto disposto no art. 313, V, 'a' do Códex novo.
Assim sendo, remetam-se os autos à Secretaria da Segunda Câmara Cível, local
em que o presente caderno processual deverá aguardar o prazo ânuo
subsequente à publicação desta decisão. Findo o predito prazo, voltem-me
conclusos os autos, para julgamento do recurso sub oculis. Por sua vez, extrai-se
dos autos a concessão de efeito suspensivo tirado do agravo de instrumento
supracitado, interposto pela genitora do menor, em face da decisão que concedeu
a guarda provisória inicial aos avós maternos da criança. Pois bem. No caso, há
liminares de juízos distintos deferindo a guarda provisória primeiramente, aos
avós maternos, e, na segunda ação, que envolve a discussão, além da guarda do
menor, de alimentos e reconhecimento e dissolução de união estável, à genitora.
O suscitante defende a prevenção do Juízo cível da Comarca de Teixeira de
Freitas/BA, que primeiro conheceu da causa e concedeu a guarda provisória aos
avós maternos do infante, a teor do que prevê a Súmula 383/STJ (A
competência para processar e julgar as ações conexas de interesse de menor é,
em princípio, do foro do domicílio do detentor de sua guarda"). Sustenta que,
na hipótese, deve-se afastar o entendimento da competência do domicílio do
detentor da guarda do menor - ora exercida pela genitora em razão da decisão
exarada pelo Juízo de Família de Teresina/PI. Isto porque, segundo alega, a
genitora evadiu-se da cidade onde morava com o menor - comarca de Teixeira de
Freitas/BA -, com a finalidade espúria de evitar o cumprimento da decisão judicial
que concedeu a guarda provisória aos avós, bem assim porque ao pleitear a
guarda do menor perante o novo domicílio, Teresina/PI, sem indicar a existência
da primeira ação, a genitora buscou conferir situação de aparente regularidade
para sustentar a competência do Juízo de Teresina/PI para o conhecimento e
julgamento da matéria, a teor do que preconiza a Súmula 383 do STJ. Ocorre
que, ao contrário do que se alega, não há evidências suficientes de que a
genitora tenha se valido de "fraude processual" ao mudar de domicílio, como
forma de esquivar-se do provimento judicial exarado pelo Juízo da Comarca de
Teixeira de Freitas/BA e, assim, obter a guarda perante Juízo diverso, tudo a
justificar a competência do Juízo de Família de Teresina/PI, perante o qual
sobreveio-lhe provimento judicial favorável. 5. Com efeito, segundo a
jurisprudência desta Eg. Corte sobre o tema, nos termos do art. 147 do ECA, a
competência das ações envolvendo interesses de menor possui natureza
absoluta, sendo primordialmente determinada pelo local do domicílio dos pais ou
responsável, ou, na falta destes, pelo lugar onde se encontre a criança ou o
adolescente, não se podendo olvidar que o princípio constitucional da prioridade
absoluta dos interesses do menor é orientador das regras desse estatuto e, por
conseguinte, dos critérios previstos nesse dispositivo legal. Neste sentido, a
Súmula 383 do STJ: "A competência para processar e julgar ações conexas de
interesse de menor é, em princípio, do foro do domicílio do detentor de sua
guarda". Tal posicionamento vem se firmando levando em conta a proximidade
do Juízo onde se processa a ação de interesse da criança e o local de sua
residência, de forma conjugada, possibilitando, assim, entregar-lhe a prestação
jurisdicional de forma rápida e efetiva, por se permitir uma maior interação entre
o Juízo, o menor e seus pais ou responsáveis, ainda que no caso de alteração
posterior de domicílio do menor e seu representante legal. Neste sentido,
mitiga-se o princípio da perpetuatio jurisdictionis a fim de privilegiar os do menor
no caso de alteração de domicílio deste. A propósito: "CONFLITO NEGATIVO DE
COMPETÊNCIA. AÇÃO DE EXECUÇÃO DE ALIMENTOS PROMOVIDA POR
MENOR. MUDANÇA DE DOMICÍLIO DO EXEQUENTE NO CURSO DA LIDE. MENOR
HIPOSSUFICIENTE. INTERESSE PREPONDERANTE DESTE. MITIGAÇÃO DO
PRINCÍPIO DA PERPETUATIO JURISDICTIONIS (ART. 87 DO CPC). MUDANÇA
PARA O MESMO FORO DE DOMICÍLIO DO GENITOR/ALIMENTANTE. CONFLITO
CONHECIDO. 1 A mudança de domicílio do autor da ação de alimentos durante
o curso do processo não é, em regra, suficiente para alteração da
competência para o julgamento do feito, prevalecendo o princípio da
perpetuatio jurisdictionis, previsto no art. 87 do CPC, segundo o qual a
competência se define no momento da propositura da ação, sendo
irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas
posteriormente, salvo quando suprimirem o órgão judiciário ou alterarem a
competência em razão da matéria ou da hierarquia. 2. Entretanto, 'o princípio
do juízo imediato, previsto no art. 147, I e II, do ECA, desde que firmemente
atrelado ao princípio do melhor interesse da criança e do adolescente, sobrepõe-
se às regras gerais de competência do CPC'. Assim, 'a regra da
perpetuatio jurisdictionis, estabelecida no art. 87 do CPC, cede lugar à solução
que oferece tutela jurisdicional mais ágil, eficaz e segura aoinfante,
permitindo, desse modo, a modificação da competência nocurso do
processo, sempre consideradas as peculiaridades da lide' (CC 111.130/SC, Rel.
Ministra NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA SEÇÃO, DJe de1º/2/2011). 4. É bem
verdade que, entre outros, há precedente da Segunda Seção declarando a
competência do Juízo que primeiro deferiu a guarda, em hipótese de subtração
do menor e alteração do seu domicílio: CONFLITO POSITIVO. GUARDA DE
MENOR. LIMINAR. DEFERIMENTO PRIMEIRAMENTE EM AÇÃO PROMOVIDA PELA
IRMÃ DA GENITORA. SUBTRAÇÃO DA CRIANÇA PELA MÃE. ALTERAÇÃO DO
DOMICÍLIO NA VIGÊNCIA DO PROVIMENTO JUDICIAL ASSECURATÓRIO.
LIMINAR DEFERIDA EM FAVOR DA PRIMEIRA RÉ EM OUTRA AÇÃO DE GUARDA.
BUSCA E APREENSÃO. CARTA PRECATÓRIA. RECUSA AO CUMPRIMENTO. 1. Em
observância ao Estatuto da Criança e do Adolescente, a jurisprudência do STJ
privilegia o foro do domicílio daquele que exerce regularmente a guarda para as
ações em que disputada a posse da menor. 2. Deferida inicialmente liminar em
prol da tia materna, com o consentimento do pai, em desfavor da genitora e
irmã, transferindo provisoriamente a guarda ao suposto de prevenir eventuais
maus tratos, é no foro do domicílio da tia, que possui competência absoluta,
que devem tramitar as ações antagônicas. 3. A subtração da menor, na vigência
da liminar, da qual estava ciente a mãe, impede a aplicação à espécie do princípio
do juízo imediato. 4. Competente o Juízo que primeiro conheceu da matéria, não
há justificativa para a recusa da precatória de busca e apreensão da menor no
novo domicílio da genitora. 5. Conflito conhecido para declarar competente o
Juízo suscitante. (CC 141.374/RJ, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 25/11/2015, DJe 03/12/2015) No caso em tela,
contudo, conforme assinalado, não existem provas suficientes sobre a subtração
do menor. Há, de fato, alegação da prática de alienação parental por parte da
genitora, com laudo emitido pelo setor psicossocial do TJ/PI (fls. 978/990). Por
outro lado, há indicativos da prática de violência no âmbito doméstico por parte
do suscitante - muito embora não exista, do mesmo modo, provimento judicial
definitivo sobre a matéria, temas que, como bem delineado pelo parecer
ministerial, são desinfluentes à resolução do conflito de competência em tela,
mas que, inegavelmente deverão auxiliar na definição do mérito, na origem,
sendo certo que, ainda que declarada a competência do Juízo de Família de
Teresina para o julgamento das ações, em possível "acolhimento" à conduta ilícita
da genitora - é certo que tal não garantirá o provimento judicial definitivo da
guarda àquela, estando à análise adstrita a diversos temas a serem considerados
pela origem. Neste sentido, confira-se o elucidativo parecer ministerial, no que
interessa (fls. 941/945). (...) É sabido que a competência para processar e
julgar o feito deve ser, em regra, firmada pelo domicílio dos pais ou
responsável, sendo necessário que se verifique também se este critério atende ao
melhor interesse da criança. Outrossim, vale anotar que o STJ 1 rechaça a
adoção de subterfúgios, tais como a subtração do incapaz, como tentativa de
burlar a norma que fixa como juízo competente aquele do detentor legal da
guarda. Nada obstante, observa-se que o caso concreto se revela, deveras,
complexo, havendo a apuração de denúncia de violência doméstica contra o
suscitante perante o Foro de Teresina/PI. Tal circunstância, aliás, pode influenciar
na resolução da lide, sendo prudente assegurar a esse juízo a possibilidade de
envidar melhores esforços tendentes a conciliar o presente conflito familiar. Em
reforço, é possível vislumbrar a existência de continência entre as demandas,
dada a repetição da ação de guarda, no que forçoso convir pela competência do
Juízo de Direito da 4ª Vara de Família e Sucessões da Comarca de Teresina/PI,
local que processa o pedido mais amplo (medida protetiva, partilha de bens,
guarda e alimentos). Ademais, essa Egrégia Corte Superior já decidiu pela
prevalência do juízo imediato (ECA, art. 147, II 2 ), em demandas envolvendo o
interesse de menores, em detrimento da regra de prevenção: CONFLITO
POSITIVO DE COMPETÊNCIA. GUARDA PROVISÓRIA DEFERIDA ÀS DUAS AVÓS
EM DUAS DEMANDAS DISTINTAS. AFASTAMENTO DA REGRA DE PREVENÇÃO
PREVISTA NO CPC, EM RAZÃO DA PREVALÊNCIA DO INTERESSE DO MENOR. 1.
Nos termos do art. 59 do Código de Processo Civil, o registro ou a distribuição da
petição inicial torna prevento o juízo. Na sistemática do antigo código processual,
a prevenção se dá em decorrência da primeira citação válida (art. 219). 2.
Contudo, não se podem adotar, de forma automática, as regras processuais civis
se elas puderem acarretar qualquer prejuízo aos interesses e direitos do menor,
cuja condição peculiar de pessoa em desenvolvimento implica a sobreposição e
aplicação do princípio da proteção integral, que permeia as regras do Estatuto da
Criança e do Adolescente. Precedentes. 3. No caso concreto, há liminares de
juízos distintos deferindo a guarda provisória das duas netas menores (de 3 e 6
anos de idade) a ambas as avós, devendo-se aplicar a regra do art. 147, II, do
ECA, qual seja a do local onde as crianças se encontram atualmente, em atenção
ao princípio do juízo imediato, máxime porque, segundo consta, em atendimento
médico a que submetida a criança, "surgiram indícios de que tivesse sofrido
abuso sexual na cidade de Vilhena-RO". 4. Dessarte, em face do princípio
constitucional da prioridade absoluta dos interesses do menor, orientador dos
critérios do art. 147 do ECA, mais adequada a declaração de competência do
Juízo suscitante. 5. Conflito conhecido, declarando-se a competência do Juízo de
Direito da Vara da Infância e da Juventude de Porecatu/PR. (CC 151.511/PR, Rel.
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 11/10/2017, DJe
07/11/2017) Nesta medida, tendo em vista as especificidades do caso concreto,
propõe- se a superação da Súmula n. 383/STJ 3 . A reforçar tal entendimento,
confira-se trecho da decisão lavra do Juízo de Família de Teresina/PI exarada aos
10/8/2018. (...) "Em que pese o pedido do Ministério Público para manifestação,
por de fato existir interesse de incapaz justamente pelo interesse do incapaz
conheço do que foi requerido, para decidir pedidos urgentes que visam benefício
do menor. Esclareço aqui que não se trata nenhuma das medidas tomadas de
definitivas. Ora, nada foi decidido em definitivo ainda. As partes confundem
guarda provisória como direito irreversível. De fato, se ainda não decidimos com
quem fica a Guarda definitiva do filho e nem há regulamentação quanto ao
convívio, direito de visitas, a mãe ou o pai não podem estabelecer ao seu livre
arbítrio quanto à guarda. No entanto, persiste e é direito da criança ter o convívio
dos pais. A guarda de fato ou provisória, pode até se encontrar
momentaneamente com a autora (mãe), mas o pai não perdeu o poder familiar e
nem direito de convivência. Alias, a guarda de menor, mesmo sendo imposta por
sentença ou homologado acordo, não se faz em definitivo, podendo a qualquer
tempo ser modificado em benefício da criança. Em se tratando de guarda de
criança, as decisões não devem guardar, inclusive por determinação legal, uma
aplicação extremamente dogmática e fria. Em primeiro lugar, deve-se observar
que situação é mais vantajosa para a criança. Portanto, vendo que retirar a
criança de próximo da mãe, com quem já convive, satisfaz o que quer a parte
requerida, mas não atende os interesses do menor, razão por que torno sem
efeito as decisões anteriores. Não havendo possibilidade de acordo entre os pais,
o interesse do menor deve ser auferido. Os pais têm direitos iguais, mas é ao
filho que se deve verificar o que é melhor, até por razões psicológicas". Do que se
apresenta dos autos, portanto, em especial pelo pedido de tutela de urgência ora
formulado pelo suscitante, tenho que o suscitante invoca a suposta "indiferença"
pelo Juízo de Família de Teresina/PI para, em última análise, justificar a
competência do Juízo cível da Comarca de Teixeira de Freitas/BA, adentrando à
questão de mérito (a quem deve ser concedida a guarda), segundo mesmo
indicado pela decisão supracitada e em parecer ministerial sobre o tema, o que
refoge à análise deste incidente processual, devendo eventuais insurgências
sobre o mérito serem exteriorizadas por meio dos recursos cabíveis à espécie.
Assim que, no âmbito estreito do presente incidente, considerando que a guarda
vem sendo exercida legalmente pela genitora até o presente momento e que a
segunda contempla a discussão de temas conexos à guarda (reconhecimento e
dissolução da união e alimentos) não vislumbro razões para excepcionar a
jurisprudência sobre o tema, devendo ser reconhecida a competência do
domicílio do representante legal do menor que a exerce, como sói ocorrer no
caso em tela - o da genitora, local onde a criança se encontra atualmente -
excepcionado, por óbvio, o determinado e limitado período de férias -, tudo em
atenção ao princípio do juízo imediato. Ademais, e existência de processo criminal
perante a Comarca de Teresina, segundo ressaltado pelo Ministério Público,
poderá auxiliar na resolução definitiva sobre a matéria, notadamente em razão
das diversas decisões já prolatadas. Diante deste quadro, a melhor solução no
caso concreto, a meu sentir, não é verificar qual o juízo a quem primeiro foi
distribuída a demanda ou que deferiu a guarda provisória, mas sim detectar
aquele que, de acordo com o substrato fático delineado nos autos, melhor atende
ao princípio da prioridade absoluta dos interesses da criança ou do adolescente,
sendo certo que, na hipótese, não ressoa evidente a má-fé da genitora do menor
a atribuir a competência do Juízo que primeiro conheceu da causa - Juízo cível
de Teixeira de Freitas. Nesse passo, consoante se extrai do parecer ministerial, as
informações dos autos mostram um panorama de intensa litigiosidade entre as
partes, com indicativos da prática de alienação parental e de violência
doméstica, com o deferimento de medidas de proteção em favor da genitora do
menor. 5. Por tudo quanto apresentado, há de se concluir, portanto, pela
competência do Juízo do local onde se encontra o menor e sua representante
legal e onde se apuram, igualmente, a prática de para o julgamento das ações
de guarda do menor, bem assim das questões a ela conexas - reconhecimento e
dissolução da união estável e alimentos. 6. Ante o exposto, conheço do conflito
para declarar a competência do Juízo de Direito da 4ª Vara de Família e
Sucessões de Teresina/PI. Prejudicado o pedido de tutela de urgência.
Comuniquem-se COM URGÊNCIA os Juízos suscitados. Publique-se. Intimem-se.
Oficiem-se. Brasília (DF), 14 de dezembro de 2018. MINISTRO LUIS FELIPE
SALOMÃO Relator

PROCESSO CIVIL. CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. ESTATUTO DA


CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. AÇÕES DE GUARDA AJUIZADAS EM ESTADOS
DIFERENTES, PELO PAI E PELA MÃE DO MENOR. SUSPENSÃO DE AMBOS OS
PROCESSOS. ESTABELECIMENTO DO JUÍZO DE RESIDÊNCIA DO MENOR. 1. A
determinação da competência, em casos de disputa judicial sobre a guarda de
infante deve garantir o respeito aos princípios do juízo imediato e da primazia ao
melhor interesse da criança. 2. O fato de a mãe do menor ter abandonado a
residência do casal, sem o consentimento do pai, levando consigo o filho menor,
caso comprovado, consubstancia matéria que deve ser enfrentada para a decisão
do pedido de guarda, em conjunto com outros elementos que demonstrem o bem
estar do menor. A competência para decidir a respeito da matéria, contudo,
deve ser atribuída ao juízo do local onde o menor fixou residência. 3. Nas ações
que envolvem interesse da infância e da juventude, não são os direitos dos pais
ou responsáveis, no sentido de terem para si a criança, que devem ser
observados, mas o interesse do menor. 3. Conflito positivo de competência
conhecido para o fim de se estabelecer a competência do juízo da 2ª Vara de
Família de Santa Maria, RS. (CC n. 114.328/RS, Relatora a Ministra Nancy
Andrighi, DJe 2/3/2011) CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÕES
CONEXAS DE MODIFICAÇÃO DE GUARDA E DE BUSCA E APREENSÃO DE FILHO
MENOR. GUARDA JÁ EXERCIDA POR UM DOS GENITORES. COMPETÊNCIA
ABSOLUTA (ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, ART. 147, I). SÚMULA
383/STJ. 1. A competência para dirimir as questões referentes à guarda de
menor é, em princípio, do Juízo do foro do domicílio de quem já a exerce
legalmente, nos termos do que dispõe o art. 147, I, do Estatuto da Criança e do
Adolescente. 2. Nos termos do enunciado da Súmula 383/STJ, "A competência
para processar e julgar as ações conexas de interesse de menor é, em princípio,
do foro do domicílio do detentor de sua guarda". 3. Conflito de competência
conhecido para declarar a competência do JUÍZO DE DIREITO DA 1ª VARA DA
INFÂNCIA E DA JUVENTUDE DE RECIFE - PE. (CC n. 126.175/PE, Relator o
Ministro Raul Araújo, DJe 14/3/2014)

O foro competente para resolver as demandas que envolvem interesse de


menores é o do domicílio do detentor da guarda, a teor do que estabelece o art.
147, I, da Lei n. 8.069/90 e o enunciando n. 383 da Súmula do STJ.

"PROCESSO CIVIL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETENCIA. AÇÃO DE


DESTITUIÇÃO DE PODER FAMILIAR. ALTERAÇÃO DE DOMICÍLIO DA CRIANÇA E
DAQUELES QUE DETÉM SUA GUARDA. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE. PRINCÍPIO DA PERPETUATIO JURISDICTIONES X JUIZ IMEDIATO.
PREVALÊNCIA DESTE ÚLTIMO NA HIPÓTESE CONCRETA. 1. Conforme estabelece
o art. 87 do CPC, a competência determina-se no momento da propositura da
ação e, em se tratando de hipótese de competência relativa, não é possível de
ser modificada ex officio. Esse mencionado preceito de lei institui, com a
finalidade de proteger a parte, a regra da estabilização da competência
(perpetuatio jurisdictionis). 2. O princípio do juiz imediato vem estabelecido no
art. 147, I e II, do ECA, segundo o qual o foro competente para apreciar e julgar
as medidas, ações e procedimentos que tutelam interesses, direitos e garantias
positivados no ECA, é determinado pelo lugar onde a criança ou o adolescente
exerce, com regularidade, seu direito à convivência familiar e comunitária. 3.
Embora seja compreendido como regra de competência territorial, o art. 147, I
e II, do ECA apresenta natureza de competência absoluta, nomeadamente
porque expressa norma cogente que, em certa medida, não admite prorrogação.
4. A jurisprudência do STJ, ao ser chamada a graduar a aplicação subsidiária do
art. 87 do CPC frente à incidência do art. 147, I e II, do ECA, manifestou-se no
sentido de que deve prevalecer a regra especial em face da geral, sempre
guardadas as peculiaridades de cada processo. 5. Conflito de competência
conhecido para declarar a competência do Juízo de Direito da 1ª Vara da
Infância e da Juventude do Distrito Federal-DF." (CC 119.318/DF, Rel. Ministra
NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 25/04/2012, DJe 02/05/2012)

CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÕES CONEXAS DE DE GUARDA, DE


ADOÇÃO E DE TUTELA DE MENOR. GUARDA EXERCIDA POR TERCEIRO SEM
RELAÇÃO DE PARENTESCO COM O MENOR. INTERESSE NO EXERCÍCIO DA
GUARDA MANIFESTADO PELOS AVÓS MATERNOS DA CRIANÇA. COMPETÊNCIA
ABSOLUTA (ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, ART. 147, I).
HIPÓTESE QUE RECOMENDA SOLUÇÃO DIVERSA DO ENTENDIMENTO
CONSOLIDADO NA SÚMULA 383/STJ. ATENDIMENTO DO PRIMADO DA
PRESERVAÇÃO DO INTERESSE DA CRIANÇA. 1. A competência para dirimir as
questões referentes à guarda e situação de menor é, em princípio, do Juízo do
foro do domicílio de quem já a exerce legalmente, nos termos do que dispõe o
art. 147, I, do Estatuto da Criança e do Adolescente e do enunciado da Súmula
383/STJ. 2. Em razão das peculiaridades do caso concreto, é recomendável
solução diversa da preconizada pela Súmula 383/STJ, segundo a qual: "A
competência para processar e julgar as ações conexas de interesse de menor é,
em princípio, do foro do domicílio do detentor de sua guarda". 3. Na hipótese, o
reconhecimento da competência do Juízo do foro do domicílio de quem exerce
a guarda provisória, dificultaria a defesa dos avós da criança e poderia levar à
perpetuação de situação de possível irregularidade na concessão da guarda
provisória à suscitante, terceiro sem relação de parentesco com o menor. Isso
poderá prejudicar sobremaneira o interesse da criança, que permaneceria alijada
da convivência com seus avós maternos, pessoas de poucos recursos financeiros,
que também pleiteiam judicialmente a guarda do infante. 4. Conflito de
competência conhecido para declarar a competência do JUÍZO DE DIREITO DA
2ª VARA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE DE CACOAL/RO. (CC 128.698/MT, Rel.
Ministro RAUL ARAÚJO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 12/11/2014, DJe
19/12/2014)

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