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CASO PRÁTICO - AVALIAÇÃO CONTINUADA - 08.03.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
AgInt no RECURSO ESPECIAL Nº 1.414.222 - SC (2013⁄0352142-4)
RELATOR: MINISTRO LÁZARO GUIMARÃES (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TRF 5ª REGIÃO)
AGRAVANTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA
AGRAVADO: J V W S
EMENTA
 
AGRAVO INTERNO. RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSO CIVIL.
INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. AÇÃO ANTERIORMENTE AJUIZADA.
EXAME DE DNA NÃO REALIZADO. COISA JULGADA. RELATIVIZAÇÃO.
AÇÃO DE ESTADO. PREVALÊNCIA DA VERDADE REAL. JURISPRUDÊNCIA
CONSOLIDADA. AGRAVO NÃO PROVIDO
1. Deve-se dar prevalência ao princípio da verdade real, nas ações de estado, como as de
filiação, admitindo-se a relativização da coisa julgada, quando na demanda anterior não
foi possível a realização do exame de DNA.
2.  O Poder Judiciário não pode, sob a justificativa de impedir ofensa à coisa julgada,
desconsiderar os avanços técnico-científicos inerentes à sociedade moderna, os quais
possibilitam, por meio de exame genético, o conhecimento da verdade real, delineando,
praticamente sem margem de erro, o estado de filiação ou parentesco de uma pessoa.
3. Agravo interno não provido.
 
ACÓRDÃO
 
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Quarta
Turma, por unanimidade, negar provimento ao agravo interno, nos termos do voto do
Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Luis Felipe Salomão, Maria Isabel Gallotti,
Antonio Carlos Ferreira (Presidente) e Marco Buzzi votaram com o Sr. Ministro
Relator.

Brasília, 21 de junho de 2018 (Data do Julgamento).


 
 
MINISTRO LÁZARO GUIMARÃES  
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 5ª REGIÃO)
Relator

-=-=--=-=-=-=-=-=-=--=-=-=-=

RELATÓRIO
 
O EXMO. SR. MINISTRO LÁZARO GUIMARÃES (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TRF 5ª REGIÃO) (Relator):
 
Trata-se de agravo interno interposto contra decisão de fls. 130⁄133 e-STJ que
negou provimento ao recurso da parte recorrente, em razão da incidência da Súmula nº.
83 deste Sodalício, ante a possibilidade de relativização da coisa julgada em ação de
investigação de paternidade.
Nas razões recursais, a agravante sustenta ser "inaplicável, a nosso sentir, o
óbice da Súmula 83 do STJ, pois o acórdão prolatado pela Câmara Especial Regional
de Chapecó do TJSC não se encontra em conformidade com o posicionamento do STJ a
respeito da matéria" (e-STJ, fl. 146).
Não foi apresentada impugnação ao agravo interno.
É o relatório.

VOTO
 
O EXMO. SR. MINISTRO LÁZARO GUIMARÃES (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TRF 5ª REGIÃO) (Relator):
O recurso será examinado à luz do Enunciado 2 do Plenário do STJ, nos
seguintes termos: "Aos recursos interpostos com fundamento no CPC⁄1973 (relativos a
decisões publicadas até 17 de março de 2016) devem ser exigidos os requisitos de
admissibilidade na forma nele prevista, com as interpretações dadas, até então, pela
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça."
Conforme salientado na decisão agravada, a Corte de origem admitiu a
relativização da coisa julgada, expressamente consignando o seguinte, in verbis:
"No caso em tela, como na ação de investigação de paternidade pretérita correu
à revelia do réu e pautada tão somente em provas fictícias e ou em indícios, o instituto
da coisa julgada não preponderar ante a possibilidade de realização de exame
científico (DNA) que expressa 99,99% de certeza acerca da paternidade. Portanto, ante
a possibilidade científica de certeza da paternidade, tenho por inequívoca a
possibilidade de relativização da coisa julgada quando a decisão judicial por ela
acobertada está pautada em presunções processuais e⁄ou em indícios probatórios." (e-
STJ, fls. 69⁄70)
 
Segundo o que consta dos autos, a ação de investigação de paternidade
anteriormente ajuizada pela ora recorrente, correu à revelia do recorrido e pautada tão
somente em provas fictícias e ou em indícios.

A controvérsia, portanto, cinge-se a saber se admissível a relativização da coisa


julgada estabelecida em ação de investigação de paternidade.
Sustenta-se que o Poder Judiciário não pode, sob a justificativa de impedir
ofensa à coisa julgada, desconsiderar os avanços técnico-científicos inerentes à
sociedade moderna, os quais possibilitam, por meio de exame genético, o conhecimento
da verdade real, delineando, praticamente sem margem de erro, o estado de filiação ou
parentesco de uma pessoa. Com a utilização desse meio de determinação genética,
tornou-se possível uma certeza científica (quase absoluta) na determinação da filiação,
enfim, das relações de ancestralidade e descendência, inerentes à identidade da pessoa e
sua dignidade.
De fato, na esteira da jurisprudência hoje consolidada nos tribunais superiores,
tratando-se de ação de estado, na qual o dogma da coisa julgada deve ser aplicado com
prudência, não se pode justificar a adoção da res iudicata, a pretexto de se garantir a
segurança jurídica, quando isso possa criar uma situação aberrante entre o mundo
fático-científico e o mundo jurídico.
Outrossim, no que se refere à possibilidade de relativização da coisa julgada em
ação de investigação de paternidade, a jurisprudência do Superior Tribunal Justiça tende
a admiti-la, consoante se infere dos seguintes julgados:
 
"CIVIL E PROCESSUAL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. EXAME DE DNA. COISA
JULGADA. RELATIVIZAÇÃO. PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL E DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Superior Tribunal de Justiça
1. Nos termos da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal
de Justiça, nas ações de investigação de paternidade, há de se relativizar ou flexibilizar
a coisa julgada, de modo a dar prevalência ao princípio da verdade real, permitindo a
universalização do acesso do jurisdicionado ao exame de DNA. Precedentes.
2. A existência de ação rescisória extinta por decadência, sem pronunciamento sobre o
mérito da lide (existência ou não do vínculo de paternidade), não tem o condão de
afastar a aplicação dos precedentes das Cortes Superiores sobre a relativização da
coisa julgada nas ações de investigação de paternidade.
3. Agravo interno a que se nega provimento.
(AgInt no AREsp 665.381⁄SP, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA
TURMA, julgado em 27⁄04⁄2017, DJe 04⁄05⁄2017)
 
AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE
INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. EXAME DE DNA NÃO REALIZADO EM
AÇÃO ANTERIOR JULGADA IMPROCEDENTE. RELATIVIZAÇÃO DA COISA
JULGADA.
POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. AGRAVO INTERNO A QUE SE NEGA
PROVIMENTO.
1. Nas ações de investigação de paternidade, a jurisprudência desta Casa admite a
relativização da coisa julgada quando na demanda anterior não foi possível a
realização do exame de DNA, em observância ao princípio da verdade real.
2. Agravo interno a que se nega provimento.
(AgInt no REsp 1417628⁄MG, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA
TURMA, julgado em 28⁄03⁄2017, DJe 06⁄04⁄2017)
 
[...]
 
Diante do exposto, nega-se provimento ao agravo interno.
É como voto.
 

-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=

NO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

02/06/2011 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 363.889 / DISTRITO FEDERAL

RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI


RECTE.(S): MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E
TERRITÓRIOS

[...]

“EMENTA

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO PROCESSUAL CIVIL E


CONSTITUCIONAL. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. AÇÃO DE
INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE DECLARADA EXTINTA, COM
FUNDAMENTO EM COISA JULGADA, EM RAZÃO DA EXISTÊNCIA DE
ANTERIOR DEMANDA EM QUE NÃO FOI POSSÍVEL A REALIZAÇÃO DE
EXAME DE DNA, POR SER O AUTOR BENEFICÁRIO DA JUSTIÇA GRATUITA
E POR NÃO TER O ESTADO PROVIDENCIADO A SUA REALIZAÇÃO.
REPROPOSITURA DA AÇÃO. POSSIBILIDADE, EM RESPEITO À
PREVALÊNCIA DO DIREITO FUNDAMENTAL À BUSCA DA IDENTIDADE
GENÉTICADO SER, COMO EMANAÇÃO DE SEU DIREITO DE
PERSONALIDADE.”

LÊ-SE NA FUNDAMENTAÇÃO DO ACÓRDÃO:

“Houve, portanto, coisa julgada material no processo anterior, de forma alguma


afastada pela fundamentação lastreada apenas na ausência de provas. E é por essa razão
que a decisão a ser tomada nestes autos não pode passar ao largo da controvérsia em
torno da cognominada relativização da coisa julgada material.

Firmada essa premissa, ainda outra ressalva inicial tem de ser feita. É que
encontram-se, em tese, inseridos no grande rol de questões relacionadas à relativização
da coisa julgada material temas com perfis sutilmente diversos.

Deveras, nesse rol se encaixam, por exemplo, as seguintes hipóteses: (i) o ataque
a decisões transitadas em julgado não por conta apenas de uma interpretação jurídica,
mas em razão da superveniência, dado o avanço da tecnologia, de meios de prova
inexistentes à época da prolação da decisão, que, dependendo do resultado que se possa
deles extrair para a instrução da causa, conduziriam a conclusão diversa da alcançada na
decisão anterior, e que, apenas nesse caso, restaria configurada a violação de princípios
ou regras constitucionais pela manutenção da coisa julgada; (ii) [...].

No caso presente, contudo, trata-se apenas do exame da primeira hipótese


narrada acima, e apenas a isto deve se restringir a decisão a ser tomada, isto é, sobre (i)
a possibilidade de afastamento de coisa julgada material (ii) formada a respeito de
relação de filiação (iii) diante da superveniência de novo meio de prova em razão de
evolução tecnológica, meio este dotado de altíssimo grau de confiabilidade e capaz,
justamente por isso, de reverter, por si só, a conclusão do julgamento anterior, e (iv)
cuja realização não se mostrara possível por conta da deficiência do regime da
assistência jurídica aos hipossuficientes.
Essas balizas são essenciais para a definição da ratio decidendi a ser firmada
neste leading case, na linha do que decidido preliminarmente ao ser reconhecida a
repercussão geral deste recurso extraordinário. Preambularmente, merece ser destacado
que, no cenário jurisprudencial brasileiro, a polêmica em torno da relativização da coisa
julgada em demandas de investigação de paternidade também alcançou o Superior
Tribunal de Justiça, órgão constitucionalmente acometido da função de tutelar a
observância das normas infraconstitucionais (CF, art. 105, III).

[...]

É sob esse ângulo que se pode apontar, hoje, a construção de um direito


fundamental à identidade genética, por força do qual se torna factível esclarecer, como
antes não era possível, a origem e a historicidade pessoal de cada membro componente
da sociedade, principalmente através do exame de DNA.

A identidade, nesse novo contexto, passa a ser concebida como o complexo de


elementos que individualizam cada ser humano, distinguindo-o dos demais na
coletividade, conferindo-lhe autonomia para que possa se desenvolver e se firmar como
pessoa em sua dignidade, sendo, portanto e nessa medida, expressão objetiva do
princípio da dignidade da pessoa humana. A imbricação entre tal direito e o núcleo do
princípio da dignidade da pessoa humana é mais do que evidente.

Deveras, o conteúdo semântico do termo dignidade remete à estima, ao valor


que deve ser reconhecido a cada pessoa por seus pares e pelo Estado.

[...]”

=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-

QUESTIONÁRIO PARA ANÁLISE - RESPOSTAS MUITO BEM


FUNDAMENTADAS

1. O QUE O GRUPO ENTENDE POR COISA JULGADA?


2. O QUE O GRUPO ENTENDE POR RELATIVIZAÇÃO DA
COISA JULGADA?
3. O GRUPO ENTENDE SER RAZOÁVEL A RELATIVIZAÇÃO
DA COISA JULGADA QUANTO À INVESTIGAÇÃO DA
PATERNIDADE EM RAZÃO DO SURGIMENTO DE NOVA
TECNOLOGIA, ISTO É, A POSSIBILIDADE DE EXAME DE
DNA A TODOS, INDISTINTAMENTE?
4. QUE ESPÉCIE DE ÉTICA, DENTRE AS ESTUDADAS EM
CLASSE, O GRUPO IDENTIFICA?

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