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DO ESTADO DO PARÁ
ENTRÂNCIA ESPECIAL
Travessa São Francisco, nº 427 – Batista Campos
CEP 66.015-020 – Belém – Pará – Brasil
Fone: (91) 3201-2700
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Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: II – julgar, em recurso ordinário: a) os habeas corpus decididos em única ou última instância
pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão for denegatória;
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Art. 667. No processo e julgamento do habeas corpus de competência originária do Supremo Tribunal Federal, bem como nos de recurso das
decisões de última ou única instância, denegatórias de habeas corpus, observar‑se‑á, no que lhes for aplicável, o disposto nos artigos anteriores,
devendo o regimento interno do tribunal estabelecer as regras complementares.
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RAZÕES DO RECURSO ORDINÁRIO
COLENDO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
EGRÉGIA TURMA JULGADORA
EMINENTES MINISTROS
Processo nº 0807993-31.2022.8.14.0000
Recorrente: ANNA CAROLYNA TAVARES BARROS ALMEIDA
Recorrido: JUSTIÇA PÚBLICA
DA ADMISSIBILIDADE E TEMPESTIVIDADE
O Recurso é plenamente admissível, eis que se revolta contra decisão denegatória
de habeas corpus proferida pelo E. Tribunal de Justiça do Estado do Pará – E. TJE/PA, nos termos do
art. 105, inc. II, alínea ‘a’, da Constituição Federal.
Sabe-se que nos termos do art. 128, inc. I, da LCF 80/1994 e do art. 56, inc. V, da LCE
54/2006, entre outras, é prerrogativa da Defensoria Pública, receber, mediante entrega dos autos com
vista, intimação pessoal em qualquer processo e grau de jurisdição ou instância administrativa,
contando-se-lhes em dobro todos os prazos, os quais começam a fluir apenas da data do recebimento
dos autos com vista no respectivo Órgão (STJ - AgRg no Ag nº 880448 MG 2007/0057346-0).
DA SINOPSE FÁTICA
Conforme se infere dos autos, trata-se de Habeas Corpus com pedido de liminar, contra
decisão do juízo de primeiro grau que manteve prisão preventiva, impetrado em favor da nacional
ANNA CAROLYNA TAVARES BARROS ALMEIDA, contra ato judicial do juízo da 12ª Vara Criminal
da Comarca de Belém-PA, porque MANTÉM A PRISÃO DA PACIENTE.
Relatou o impetrante que a paciente está cumprindo prisão preventiva, pela prática
delitiva capitulada no art. 157, §1º e §2º, VII, do CP, e que formulou ao juízo no dia 12/05/2022 pedido
de relaxamento da prisão preventiva da paciente, eis que não houve a realização de audiência de
custódia após transcorrida 24 (vinte e quatro) horas.
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penitenciárias no Brasil. SISTEMA PENITENCIÁRIO NACIONAL –
SUPERLOTAÇÃO CARCERÁRIA – CONDIÇÕES DESUMANAS DE
CUSTÓDIA – VIOLAÇÃO MASSIVA DE DIREITOS FUNDAMENTAIS –
FALHAS ESTRUTURAIS – ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL –
CONFIGURAÇÃO. Presente quadro de violação massiva e persistente de
direitos fundamentais, decorrente de falhas estruturais e falência de políticas
públicas e cuja modificação depende de medidas abrangentes de natureza
normativa, administrativa e orçamentária, deve o sistema penitenciário
nacional ser caraterizado como “estado de coisas inconstitucional”. FUNDO
PENITENCIÁRIO NACIONAL – VERBAS – CONTINGENCIAMENTO. Ante
a situação precária das penitenciárias, o interesse público direciona à
liberação das verbas do Fundo Penitenciário Nacional. AUDIÊNCIA DE
CUSTÓDIA – OBSERVÂNCIA OBRIGATÓRIA. Estão obrigados
juízes e tribunais, observados os artigos 9.3 do Pacto dos Direitos
Civis e Políticos e 7.5 da Convenção Interamericana de Direitos
Humanos, a realizarem, em até noventa dias, audiências de
custódia, viabilizando o comparecimento do preso perante a
autoridade judiciária no prazo máximo de 24 horas, contado do
momento da prisão. (ADPF 347 MC, Relator(a): MARCO AURÉLIO,
Tribunal Pleno, julgado em 09/09/2015, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-031 DIVULG 18-02-2016 PUBLIC 19-02-2016) (grifou-se)
Argumentando o juízo a quo que: a não realização de audiência de custódia por causa de
dificuldade técnica para a transmissão de audiência por videoconferência violou direito fundamental
da paciente, reconhecido em tratado internacional de direitos humanos, conforme ADPF 347 MC.
DO DIREITO
DA ILEGALIDADE DA PRISÃO PELA NÃO REALIZAÇÃO DE AUDIÊNCIA DE
CUSTÓDIA. ENTENDIMENTO PACÍFICO DO STF HC nº 130328/SC. PATENTE
DESCUMPRIMENTO DO DECIDIDO NA RECLAMAÇÃO nº 29303 DO STF.
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como argumento para impedir que o defendido exerça seu direito de presença e de
audiência, como corolários do devido processo legal.
Assim, resta claro que essa decisão do juízo plantonista desrespeitou a autoridade da
decisão do STF tomada na ADPF 347, que determinou que pessoas privadas de liberdade sejam
apresentadas para audiência de custódia em até 24 horas. A requerente não teve a garantia de
ser apresentada a um juiz de direito em 24 horas de sua prisão.
Destaca-se que, durante a sua realização do referido ato, o Juízo responsável pela
ordem prisional tem possibilidade de avaliar a persistência dos fundamentos que
motivaram a sempre excepcional restrição ao direito de locomoção, bem assim a
ocorrência de eventual tratamento desumano ou degradante, inclusive, em relação aos
possíveis excessos na exposição da imagem do custodiado durante o cumprimento da
ordem prisional.
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EMENTA: 1. "Habeas corpus". Audiência de custódia (ou de apresentação) não
realizada. A realização da audiência de custódia (ou de apresentação)
como direito subjetivo da pessoa submetida a prisão cautelar. Direito
fundamental reconhecido pela Convenção Americana de Direitos Humanos (Artigo 7,
n. 5) e pelo Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (Artigo 9, n. 3). (...) A
ausência da realização da audiência de custódia (ou de apresentação), tendo
em vista a sua essencialidade e considerando os fins a que se destina, qualifica-se
como causa geradora da ilegalidade da própria prisão em flagrante, com
o consequente relaxamento da privação cautelar da liberdade individual
da pessoa sob poder do Estado. Magistério da doutrina: AURY LOPES JR.
("Direito Processual Penal", p. 674/680, item n. 4.7, 17ª ed., 2020, Saraiva),
GUSTAVO HENRIQUE BADARÓ ("Processo Penal", p. 1.206, item n. 18.2.5.5, 8ª ed.,
2020, RT), RENATO BRASILEIRO DE LIMA ("Manual de Processo Penal", p.
1.024/1.025, 8ª ed., 2020, JusPODIVM) e RENATO MARCÃO ("Curso de Processo
Penal", p. 778/786, item n. 2.12, 6ª ed., 2020, Saraiva)." (STF MC em HC 186421 -
SC, MIN. CELSO DE MELO. 17/07/2020
Por fim, era dever do Douto Juízo plantonista, também, o cumprimento integral e
imediato da decisão do Supremo Tribunal Federal, extensiva a todos os Tribunais do
Brasil, datada do dia 15.12.2020, nos autos da Reclamação Constitucional nº 29303, por
ser medida garantidora dos direitos fundamentais, sendo defeso, na forma da lei, e deveras danoso
para o flagranteado o seu descumprimento.
Destarte, resta claro constrangimento ilegal que está sofrendo a paciente, o que
enseja na reforma da decisão recorrida para cessar o constrangimento ilegal sofrido pela suplicante,
devendo ser afastada a ilegalidade apontada para o fim de garantir à mesmo o direito de
responder ao processo em liberdade.
DA NECESSIDADE DA LIMINAR
A Paciente é merecedora da concessão de medida liminar, pois a ilegalidade do
constrangimento a que está sendo submetida, com a privação de sua liberdade, reclama
a possibilidade da concessão do pedido em caráter liminar.
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DOS PEDIDOS FINAIS
Ante todo o exposto, espera o Recorrente que este Augusto Superior Tribunal de Justiça,
com a sabedoria e o senso de Justiça que lhe são inerentes, por seu digno Relator:
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