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Seção 2

ESPELHO DE CORREÇÃO

DIREITO
PENAL
Na prática!

De início, deve ser analisado qual instrumento é cabível para restituir a liberdade de alguém que teve
a sua prisão preventiva decretada. In casu, a peça cabível é a revogação da prisão preventiva
decretada anteriormente por ocasião da audiência de custódia, devendo ser destacado que alguns
artigos foram inseridos recentemente no Código de Processo Penal pelo pacote anticrime e merecem
uma análise mais detida.

Na temática constitucional, deve ser citado o princípio da presunção de inocência, insculpido no art.
5º, LVII, CF, sendo salutar citar, ao início, pelo menos algum artigo da Constituição.

Na sequência, deve atentar-se para a análise dos pressupostos e requisitos legais previstos no art.
312, CPP, perlustrando se foram preenchidos, uma vez que se trata de restrição da liberdade, não
sendo possível a fundamentação da prisão com base em elementos abstratos.

Nesse diapasão, é a visão jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiça, nestes termos:

EMENTA

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS.


PROCESSUAL PENAL. TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS. PRISÃO PREVENTIVA.
REQUISITOS. ESPECIAL GRAVIDADE DA CONDUTA. QUANTIDADE DE DROGA
APREENDIDA. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. CONDIÇÕES PESSOAIS
FAVORÁVEIS. IRRELEVÂNCIA, NO CASO. ALEGADA DESPROPORÇÃO ENTRE
A PRISÃO CAUTELAR E A PENA ADVINDA DE EVENTUAL CONDENAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE DE AFERIÇÃO. AGRAVO DESPROVIDO.

1. A prisão preventiva, para ser legítima à luz da sistemática constitucional, exige que
o Magistrado, sempre mediante fundamentos concretos extraídos de elementos
constantes dos autos (arts. 5.º, LXI, LXV e LXVI, e 93, inciso IX, da Constituição da
República), demonstra a existência de prova da materialidade do crime e de indícios
suficientes de autoria delitiva (fumus comissi delicti), bem como o preenchimento de
ao menos um dos requisitos autorizativos previstos no art. 312 do Código de
Processo Penal, no sentido de que o réu, solto, irá perturbar ou colocar em perigo
(periculum libertatis) a ordem pública, a ordem econômica, a instrução criminal ou a
aplicação da lei penal.

2. Hipótese em que a necessidade da segregação cautelar do acusado foi justificada


no decreto prisional com base na gravidade concreta da conduta, evidenciada pela
expressiva quantidade de droga apreendida, o que, nos termos da jurisprudência
desta Corte, justifica a prisão provisória como forma de garantia da ordem pública.
Precedentes.

3. A existência de condições pessoais favoráveis não tem o condão de, por si só,
desconstituir a custódia antecipada, caso estejam presentes um dos requisitos de
ordem objetiva e subjetiva que autorizem a decretação da medida extrema, como
ocorre, na espécie.
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4. Nessa fase processual, não há como prever a quantidade de pena que
eventualmente poderá ser imposta, caso seja condenado o agravante, menos ainda
se iniciará o cumprimento da reprimenda em regime diverso do fechado, de modo
que não se torna possível avaliar a arguida desproporção da prisão cautelar.

5. Agravo desprovido (AgRg no RHC 157460 / SP).

Um ponto relevante que deve ser lembrado na peça é o dispositivo inserido no artigo 316, CPP, na
forma transcrita a seguir:

Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a prisão preventiva
se, no correr da investigação ou do processo, verificar a falta de motivo para que ela
subsista, bem como novamente decretá-la, se sobrevierem razões que a
justifiquem. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva, deverá o órgão emissor da decisão


revisar a necessidade de sua manutenção a cada 90 (noventa) dias, mediante
decisão fundamentada, de ofício, sob pena de tornar a prisão ilegal.

Destaca-se que a visão jurisprudencial é nesse sentido para a reavaliação dos fundamentos da
prisão preventiva no prazo máximo de 90 dias, nos termos seguintes:

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. ORGANIZAÇÃO


CRIMINOSA ARMADA, TRÁFICO DE DROGAS E ASSOCIAÇÃO PARA O
TRÁFICO. PRISÃO CAUTELAR. PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE. OFENSA.
INEXISTÊNCIA. RAZÕES RECURSAIS. DIALETICIDADE. AUSÊNCIA.
INCOGNOSCIBILIDADE DO WRIT. INSTRUÇÃO DEFICITÁRIA. SUPRESSÃO DE
INSTÂNCIA. EMENDA À INICIAL. INVIABILIDADE. EXCESSO DE PRAZO E
REVISÃO PERIÓDICA. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIAS. TERATOLOGIA OU
FLAGRANTE ILEGALIDADE. INEXISTÊNCIA. AGRAVO REGIMENTAL NÃO
PROVIDO.

1. Nos termos do Regimento Interno desta Suprema Corte, está o Relator autorizado
a decidir monocraticamente o habeas corpus quando, como in casu, patente a
ausência de teratologia ou flagrante ilegalidade, não havendo que se falar em ofensa
ao princípio da colegialidade ou em cerceamento de defesa.

2. A inexistência de argumentação apta a infirmar o julgamento monocrático conduz


à manutenção da decisão agravada, até mesmo por ofensa ao princípio da
dialeticidade.

3. Esta Suprema Corte, ao julgar o mérito das ações de controle concentrado nº 43,
44 e 54, muito embora haja declarado a constitucionalidade do art. 283 do Código de
Processo Penal – de maneira a obstar o início da execução da pena tão logo
esgotadas as instâncias ordinárias – reservou o recolhimento prisional aos casos
verdadeiramente enquadráveis no artigo 312 do mencionado diploma processual,
conforme cada situação específica e identificável pelo juízo natural da causa.

4. Na esteira da jurisprudência desta Suprema Corte, incognoscível o habeas corpus


que, a despeito de instruído com farta documentação, padece da apresentação de
um dos acórdãos inquinados coatores, com a integridade dos votos exarados no
julgamento colegiado.
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PA
5. Ainda consoante pacífico entendimento deste Supremo Tribunal Federal, inviável
a emenda à inicial do writ, seja para suprimir deficiência instrumental seja para alterar
o pedido e/ou a causa de pedir.

6. No tocante ao suposto excesso de prazo, melhor sorte não socorre ao paciente,


se vindicada a soltura, junto à Corte antecedente, “por excesso de prazo na formação
da culpa” e reconhecido por aquele Tribunal Superior estar o pleito “prejudicado ante
a superveniência de sentença condenatória”. Precedentes. O conhecimento
originário desse tema pelo Supremo Tribunal Federal, partindo de nova premissa – a
prolação de sentença condenatória - configuraria supressão de instância, uma vez
que não examinada pela autoridade ora inquinada coatora.

7. Outrossim, consoante tese fixada pelo Plenário desta Suprema Corte, no


julgamento da SL n. 1395 MC-Ref, “A inobservância da reavaliação prevista no
parágrafo único do artigo 316 do Código de Processo Penal (CPP), com a redação
dada pela Lei 13.964/2019, após o prazo legal de 90 (dias), não implica a revogação
automática da prisão preventiva, devendo o juízo competente ser instado a reavaliar
a legalidade e a atualidade de seus fundamentos” (DJe 04.02.2021). De toda forma,
o enfrentamento dessa matéria também, diretamente na presente oportunidade,
representaria não apenas a compactuação com a deturpação do sistema recursal,
como da própria competência constitucional conferida.

8. Agravo regimental não provido (HC 199991 AgR).

Ainda, sendo a prisão a ultima ratio, importa demonstrar a aplicação das medidas cautelares diversas
da prisão como forma subsidiária, com fundamento no artigo 319, CPP, nestes termos:

Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão:

I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz,


para informar e justificar atividades;

II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por


circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer
distante desses locais para evitar o risco de novas infrações;

III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias
relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante;

IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente


ou necessária para a investigação ou instrução;

V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o


investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos;

VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica


ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações
penais;

VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com


violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-
imputável e houver risco de reiteração;

VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos
do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência
injustificada à ordem judicial;
GE
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IX - monitoração eletrônica.

Na parte probatória, deve ser destacado o artigo 158, CPP, que exige a necessidade de exame de
corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, como ocorre nos crimes contra a dignidade sexual.

Quanto ao prazo, inexiste qualquer orientação, uma vez que, quando se trata de liberdade, não há
prazo para pedir que ela seja prontamente restabelecida.

Quanto à competência, tendo em vista que o fato ocorreu na comarca de São Paulo/SP, será
endereçada a peça ao juiz dessa jurisdição, que foi quem determinou a prisão preventiva por ocasião
da audiência de custódia.

Após demonstrar a fundamentação constitucional e legal da peça consubstanciada na revogação da


prisão preventiva, o estudante deverá pedir a liberdade do acusado com expedição de alvará de
soltura, apontando o flagrante descumprimento ao artigo 316, CPP, cujo período de revisão de 90
dias não fora atendido, aos fundamentos do artigo 312, CPP, bem como ao desatendimento do que
consta no artigo 158, CPP. Por fim, com base no princípio da eventualidade, requerer a aplicação
subsidiária das medidas cautelares do artigo 319, CPP.

Colocar local, data, assinatura e OAB na peça, mas tomando muito cuidado para não inventar dados,
já que isso identificaria a questão e desclassificaria o candidato do certame.

Questão de ordem!

EXMO. SR. JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE SÃO


PAULO – SP

Fulano de tal, já qualificado nos autos, vem por meio de seu advogado (a) (procuração anexa),
apresentar REVOGAÇÃO DE PRISÃO PREVENTIVA, com fundamento no 316 do Código de
Processo Penal, pelos seguintes fatos e fundamentos:
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DOS FATOS

Conforme consta dos autos, o acusado João das Couves foi flagrado dentro de sua residência
praticando atos sexuais com Luluzinha, sua namorada, que à época dos fatos tinha 13 anos de idade.
Destaca-se que os policiais ingressaram na casa do acusado sem mandado judicial, sem filmar o
seu consentimento e praticaram atos de agressões contra ele.

Com sua prisão em flagrante, João das Couves fora encaminhado para audiência de custódia, que
fora realizada 72 horas após os fatos, pelo juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de São
Paulo/SP. Foi requerido o relaxamento da prisão ilegal, tendo o Ministério Público pugnado pela
conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva, uma vez que o fato é considerado hediondo
e praticado contra uma pessoa menor de 14 anos.

Todavia, o magistrado com atuação na audiência de custódia entendeu por bem decretar a prisão
preventiva com base nos seguintes fundamentos: “Entendo que o prazo legal de 24 horas para a
realização da audiência de custódia é impróprio e não merece ser cumprido à risca; a invasão de
domicílio feita pelos policiais é justificável, pois estava ali sendo praticado um crime hediondo,
constituindo a ausência de consentimento mera irregularidade; eventuais abusos cometidos contra
o acusado devem ser resolvidos na via própria”.

Dessa forma, o réu, neste momento, encontra-se preso preventivamente por ordem de Vossa
Excelência. Cumpre ressaltar que até o presente momento não houve indiciamento, já se ultimando
120 dias de investigação, sem qualquer análise posterior da necessidade de manutenção da prisão
preventiva.

Além disso, até a presente data, o laudo pericial acerca da perda ou não da virgindade de Luluzinha
ainda não ficou pronto, inexistindo nos autos qualquer materialidade acerca dos eventuais atos
sexuais perpetrados.

Assim, vem requerer a liberdade do acusado, de acordo com os fundamentos a seguir expostos.

DOS FUNDAMENTOS

DA INEXISTÊNCIA DOS REQUISITOS DO ART. 312, CPP


GE
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De início, deve ser alertado para o mandamento constitucional de que ninguém deve ser considerado
culpado, senão depois do trânsito em julgado de uma sentença condenatória, com base no artigo 5º,
LVII, CF, assim disposto:

Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal


condenatória.

Quanto à legislação infraconstitucional, deveria ter sido preenchido o artigo 312, CPP, que exige a
coexistência de seus pressupostos e requisitos legais, o que não ocorrera no presente caso, sendo
que o dispositivo está assim prescrito:

Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública,
da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a
aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício
suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado.

Ora, não é diferente a visão doutrinária acerca dessa matéria, sendo que a prisão preventiva deve
ser decretada quando houver a existência de periculum libertatis e fumus comissi delicti, como bem
preleciona o professor Avena, in verbis:

Como qualquer medida cautelar, a preventiva pressupõe a existência de periculum


in mora (ou periculum libertatis) e fumus boni iuris (ou fumus comissi delicti), o
primeiro significando o risco de que a liberdade do agente venha a causar prejuízo à
segurança social, à eficácia das investigações policiais/apuração criminal e à
execução de eventual sentença condenatória, e o segundo, consubstanciado na
possibilidade de que tenha ele praticado uma infração penal, em face dos indícios de
autoria e da prova da existência do crime verificados no caso concreto. (AVENA, , p.
1054, 2020).

A disposição legal anteriormente mencionada impõe a coexistência de indícios suficientes de autoria


e prova da existência do crime, pressupostos esses indissociáveis e que devem existir nos elementos
concretos dos autos, sob pena de a prisão não estar suficientemente fundamentada. Nas palavras
de Nestor Távora e Osmar Rodrigues,
GE
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Temos a necessidade de comprovação inconteste da ocorrência do delito, seja por
exame pericial, testemunhas, documentos, interceptação telefônica autorizada
judicialmente ou quaisquer outros elementos idôneos, impedindo-se a segregação
cautelar quando houver dúvida quanto à existência do crime. Quanto à autoria, são
necessários apenas indícios aptos a vincular o indivíduo à prática da infração. Não
se exige a concepção de certeza, necessária para uma condenação. A lei se
conforma com o lastro superficial mínimo vinculando o agente ao delito. (TÁVORA;
ALENCAR, 2019 p. 980).

Na sistemática do Código de Processo Penal, faz-se mister a conjugação clara de seus pressupostos
legais (prova da existência do crime, indícios suficientes de autoria e perigo gerado pelo estado de
liberdade do acusado) e de um dos requisitos também inseridos no citado artigo 312, CPP, tais como
garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para
assegurar a aplicação da lei penal.

Como novidade inserida pelo pacote anticrime, tem-se a expressão “perigo gerado pelo estado de
liberdade do acusado”. Esse pressuposto denota que a liberdade do acusado possa comprometer a
segurança da sociedade, o que ocorre em casos de pessoas com alto grau de periculosidade, por
exemplo, líderes de facções criminosas. Tal situação deve ser cabalmente comprovada com
elementos concretos dos autos, não bastando a simples alegação de que ele é perigoso e por isso
deve ficar recolhido.

Dentro dos requisitos para a decretação da prisão preventiva, atendendo à ordem legal, inicia-se pela
garantia da ordem pública. A doutrina majoritária critica esse requisito autorizador da medida
cautelar, uma vez que sua conceituação é bastante ampla. Na esteira da melhor doutrina, o professor
Leonardo Barreto ensina que “violam a ordem pública: aqueles que afetam a credibilidade do
judiciário; os que contam com a divulgação pela mídia (não confundir com sensacionalismo, clamor
público); os crimes cometidos com violência ou grave ameaça ou com outra forma de execução cruel;
se o agente delitivo possui longa ficha de antecedentes etc.” (ALVES, 2019, p. 117).

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça entende que a prisão preventiva decretada para
garantir a ordem pública não pode basear-se em dados abstratos, como, a título de exemplificação,
estar o indivíduo submetido a processo criminal ou já ter sido condenado por outro crime. Exige-se
mais para que o acusado seja submetido ao cárcere, uma vez que está em jogo o bem caro da
liberdade de alguém.

Por isso a fundamentação deve ser feita no caso concreto, demonstrando-se, exaustivamente, que
a liberdade do indivíduo coloca a ordem pública em perigo, não bastando imputação de elementos
abstratos. Nesses termos, é o pensamento do Superior Tribunal de Justiça:
GE
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EMENTA

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EM HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE


DROGAS.

PRISÃO PREVENTIVA. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA QUANTO AO


PERICULUM LIBERTATIS. QUANTIDADE REDUZIDA DE DROGAS. MEDIDAS
CAUTELARES ALTERNATIVAS. SUFICIÊNCIA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL
CONFIGURADO. RECURSO MINISTERIAL DESPROVIDO.

1. Para a decretação da prisão preventiva, é indispensável a demonstração da


existência da prova da materialidade do crime e a presença de indícios suficientes
da autoria. Exige-se, ainda, que a decisão esteja pautada em lastro probatório que
se ajuste às hipóteses excepcionais da norma em abstrato (art. 312 do CPP),
demonstrada, ainda, a imprescindibilidade da medida. Precedentes do STF e STJ.

2. Na espécie, as instâncias ordinárias não apontaram elementos concretos robustos,


relativos à conduta perpetrada pelo agravado, que demonstrem a imprescindibilidade
da medida restritiva da liberdade, nos termos do art. 312 do CPP. Além disso, a
gravidade abstrata do delito, por si só, não justifica a decretação da prisão preventiva.
Precedentes.

3. No caso, embora haja um aparente risco de reiteração delitiva, por se tratar de réu
que já responde a processo por delito da mesma natureza, não há registro de
excepcionalidades para justificar a medida extrema. Além disso, a quantidade de
droga apreendida não se mostra expressiva (2g de crack em 25 pedras e 2g de
cocaína em 5 trouxinhas) e não há qualquer dado indicativo de que o acusado, que
é primário, integre organização criminosa ou esteja envolvido de forma profunda com
a criminalidade, contexto que evidencia a possibilidade de aplicação de outras
medidas cautelares mais brandas. Constrangimento ilegal configurado. Precedentes.

4. Agravo regimental a que se nega provimento (AgRg no RHC 167773 / CE).

O segundo requisito é para garantir a ordem econômica. In casu, deve ficar comprovado que a
liberdade do acusado possa gerar um grave abalo à ordem econômica. Todavia, essa forma de prisão
cautelar é totalmente genérica e de difícil constatação no caso concreto, muito em razão de ser bem
parecida com a garantia da ordem pública.

A par de ilustrar, citam-se os crimes de sonegação fiscal com cifras exponenciais, lavagem de
capitais praticada por meio de uma avançada engenharia econômica de forma a ocultar valores
GE
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estratosféricos desviados de empresas públicas ou graves fraudes em licitações públicas que
possam comprometer toda a estabilidade social local.

No sentido da inocuidade do requisito, Nestor Távora e Osmar Rodrigues prelecionam: “ (...) afinal,
havendo temor da prática de novas infrações, afetando ou não a ordem econômica, já haveria o
enquadramento na expressão maior, que é a garantia da ordem pública. (TÁVORA; ALENCAR, 2019
p. 984).

O terceiro requisito consiste na garantia da instrução criminal. Nesse ponto, a lei prevê a possibilidade
de prisão preventiva de alguém que esteja desafiando a produção probatória, ameaçando
testemunhas ou destruindo provas. Mais uma vez, é bom lembrar que tais situações devem ser
concretamente comprovadas nos autos.

Como último requisito, a prisão pode ser decretada para garantia da aplicação da lei penal. In casu,
a possibilidade de prisão preventiva diz respeito àquela situação em que o agente evade e reste
difícil o cumprimento da penalidade a ele imposta no final do processo.

Logo, a invocação da gravidade em abstrato do crime não constitui motivo suficiente para a
decretação dessa medida extrema.

DO DESCUMPRIMENTO DO MANDAMENTO LEGAL PREVISTO NO


ART. 316, CPP

Novidade inserida pelo pacote anticrime e que merece análise detalhada de Vossa Excelência é o
mandamento legal inserto no artigo 316, CPP, exigindo-se a revisão da prisão preventiva a cada 90
dias, o que não ocorrera, dado que já foram ultrapassados 120 dias desde a sua decretação. Nestes
termos, a norma citada:

Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a prisão preventiva
se, no correr da investigação ou do processo, verificar a falta de motivo para que ela
subsista, bem como novamente decretá-la, se sobrevierem razões que a
justifiquem. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva, deverá o órgão emissor da decisão


revisar a necessidade de sua manutenção a cada 90 (noventa) dias, mediante
decisão fundamentada, de ofício, sob pena de tornar a prisão ilegal.

Assim, torna-se obrigatório ao magistrado rever se os fundamentos da prisão preventiva ainda


persistem, o que não é o caso do presente processo, conforme exaustivamente demonstrado no item
anterior.
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Corroborando a tese aqui exposta, tem-se decisão do Supremo Tribunal Federal, in verbis:

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. ORGANIZAÇÃO


CRIMINOSA ARMADA, TRÁFICO DE DROGAS E ASSOCIAÇÃO PARA O
TRÁFICO. PRISÃO CAUTELAR. PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE. OFENSA.
INEXISTÊNCIA. RAZÕES RECURSAIS. DIALETICIDADE. AUSÊNCIA.
INCOGNOSCIBILIDADE DO WRIT. INSTRUÇÃO DEFICITÁRIA. SUPRESSÃO DE
INSTÂNCIA. EMENDA À INICIAL. INVIABILIDADE. EXCESSO DE PRAZO E
REVISÃO PERIÓDICA. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIAS. TERATOLOGIA OU
FLAGRANTE ILEGALIDADE. INEXISTÊNCIA. AGRAVO REGIMENTAL NÃO
PROVIDO.

1. Nos termos do Regimento Interno desta Suprema Corte, está o Relator autorizado
a decidir monocraticamente o habeas corpus quando, como in casu, patente a
ausência de teratologia ou flagrante ilegalidade, não havendo que se falar em ofensa
ao princípio da colegialidade ou em cerceamento de defesa.

2. A inexistência de argumentação apta a infirmar o julgamento monocrático conduz


à manutenção da decisão agravada, até mesmo por ofensa ao princípio da
dialeticidade.

3. Esta Suprema Corte, ao julgar o mérito das ações de controle concentrado nº 43,
44 e 54, muito embora haja declarado a constitucionalidade do art. 283 do Código de
Processo Penal - de maneira a obstar o início da execução da pena tão logo
esgotadas as instâncias ordinárias -, reservou o recolhimento prisional aos casos
verdadeiramente enquadráveis no artigo 312 do mencionado diploma processual,
conforme cada situação específica e identificável pelo juízo natural da causa.

4. Na esteira da jurisprudência desta Suprema Corte, incognoscível o habeas corpus


que, a despeito de instruído com farta documentação, padece da apresentação de
um dos acórdãos inquinados coatores, com a integridade dos votos exarados no
julgamento colegiado.

5. Ainda consoante pacífico entendimento deste Supremo Tribunal Federal, inviável


a emenda à inicial do writ, seja para suprimir deficiência instrumental seja para alterar
o pedido e/ou a causa de pedir.

6. No tocante ao suposto excesso de prazo, melhor sorte não socorre ao paciente,


se vindicada a soltura, junto à Corte antecedente, “por excesso de prazo na formação
da culpa” e reconhecido por aquele Tribunal Superior estar o pleito “prejudicado ante
a superveniência de sentença condenatória”. Precedentes. O conhecimento
originário desse tema pelo Supremo Tribunal Federal, partindo de nova premissa – a
prolação de sentença condenatória – configuraria supressão de instância, uma vez
que não examinada pela autoridade ora inquinada coatora.

7. Outrossim, consoante tese fixada pelo Plenário desta Suprema Corte, no


julgamento da SL n. 1395 MC-Ref, “A inobservância da reavaliação prevista no
parágrafo único do artigo 316 do Código de Processo Penal (CPP), com a redação
dada pela Lei 13.964/2019, após o prazo legal de 90 (dias), não implica a revogação
automática da prisão preventiva, devendo o juízo competente ser instado a reavaliar
a legalidade e a atualidade de seus fundamentos” (DJe 04.02.2021). De toda forma,
o enfrentamento dessa matéria também, diretamente na presente oportunidade,
representaria não apenas a compactuação com a deturpação do sistema recursal,
como da própria competência constitucional conferida.

8. Agravo regimental não provido (HC 199991 AgR).


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Com essas considerações, torna-se de relevante justiça que seja o acusado colocado em liberdade
de forma imediata, a uma, por inexistir a presença do art. 312, CPP, a duas, por descumprimento
flagrante do prazo de revisão de 90 dias que já fora superado.

DA APLICAÇÃO DE MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA


PRISÃO – ART. 319, CPP

Por outro lado, inovando-se no Código de Processo Penal, o pacote anticrime estabeleceu ser a
prisão cautelar medida extrema, ou seja, antes de decretar o encarceramento do indivíduo, cumpre
ao magistrado estudar a possibilidade de decretar medidas cautelares diversas da prisão, caso sejam
suficientes para proteger o bem jurídico protegido e o resguardo do devido processo legal, sendo
que essas cautelares estão dispostas no art. 319, CPP:

Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão:

I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz,


para informar e justificar atividades;

II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por


circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer
distante desses locais para evitar o risco de novas infrações;

III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias
relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante;

IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente


ou necessária para a investigação ou instrução;

V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o


investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos;

VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica


ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações
penais;

VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com


violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-
imputável e houver risco de reiteração;

VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos
do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência
injustificada à ordem judicial;

IX - monitoração eletrônica.
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Portanto, antes de decretar a prisão preventiva, espera-se que Vossa Excelência possa analisar a
aplicação subsidiária das medidas cautelares previstas no artigo 319, CPP.

DO DESCUMPRIMENTO DO ARTIGO 158, CPP

Outro ponto fundamental que deve ser observado nos crimes sexuais é que os laudos periciais
devem ser juntados aos autos do processo para demonstrar que houve a materialidade do delito em
testilha, eis que a palavra da vítima sozinha não pode ser levada ao extremo. Além disso, nos casos
em que há consentimento para a prática do ato sexual, é mais difícil ainda de se afirmar que houve
algum tipo de lesão ou violência, sendo o exame de corpo de delito de suma importância.
Nesse espeque, cita-se o artigo 158 do Código de Processo Penal, que assim elucida a questão:

Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo
de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

Parágrafo único. Dar-se-á prioridade à realização do exame de corpo de delito


quando se tratar de crime que envolva: (Incluído dada pela Lei nº 13.721, de 2018)

I - violência doméstica e familiar contra mulher; (Incluído dada pela Lei nº 13.721,
de 2018)

II - violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência. (Incluído


dada pela Lei nº 13.721, de 2018)

Destarte, houve flagrante descumprimento daquilo que consta da legislação específica e pertinente
da matéria.

DOS PEDIDOS

Diante do exposto, respeitosamente, requer a revogação da prisão preventiva, haja vista que:

a) Não foram preenchidos, de forma concreta, os requisitos do art. 312, CPP, pois não se demonstrou
com elementos hábeis a presença da garantia da ordem pública ou qualquer outro requisito
autorizador.

b) Não se cumpriu o mandamento legal do art. 316 do CPP, inexistindo razão para o seu
descumprimento, uma vez que trata de imposição legislativa, bem como não se atentou para o exame
de corpo de delito imposto pelo artigo 158, CPP.
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c) Requer, alternativamente, caso não seja revogada a prisão preventiva, pelo princípio da
eventualidade, a aplicação das medidas cautelares diversas da prisão, conforme prudente arbítrio de
Vossa Excelência, na forma do art. 319, CPP.

c) Requer, ainda, a imediata expedição de alvará́ de soltura em nome do acusado, para que ele
possa, em liberdade, defender-se no curso da eventual ação penal, comprometendo-se a
comparecer a todos os atos processuais.

d) Por fim, seja ouvido o ilustre representante do Ministério Público.

Nestes termos, pede-se deferimento.

São Paulo,

Assinatura

OAB

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