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ESPELHO DE CORREÇÃO
DIREITO
PENAL
Na prática!
De início, deve ser analisado qual instrumento é cabível para restituir a liberdade de alguém que teve
a sua prisão preventiva decretada. In casu, a peça cabível é a revogação da prisão preventiva
decretada anteriormente por ocasião da audiência de custódia, devendo ser destacado que alguns
artigos foram inseridos recentemente no Código de Processo Penal pelo pacote anticrime e merecem
uma análise mais detida.
Na temática constitucional, deve ser citado o princípio da presunção de inocência, insculpido no art.
5º, LVII, CF, sendo salutar citar, ao início, pelo menos algum artigo da Constituição.
Na sequência, deve atentar-se para a análise dos pressupostos e requisitos legais previstos no art.
312, CPP, perlustrando se foram preenchidos, uma vez que se trata de restrição da liberdade, não
sendo possível a fundamentação da prisão com base em elementos abstratos.
EMENTA
1. A prisão preventiva, para ser legítima à luz da sistemática constitucional, exige que
o Magistrado, sempre mediante fundamentos concretos extraídos de elementos
constantes dos autos (arts. 5.º, LXI, LXV e LXVI, e 93, inciso IX, da Constituição da
República), demonstra a existência de prova da materialidade do crime e de indícios
suficientes de autoria delitiva (fumus comissi delicti), bem como o preenchimento de
ao menos um dos requisitos autorizativos previstos no art. 312 do Código de
Processo Penal, no sentido de que o réu, solto, irá perturbar ou colocar em perigo
(periculum libertatis) a ordem pública, a ordem econômica, a instrução criminal ou a
aplicação da lei penal.
3. A existência de condições pessoais favoráveis não tem o condão de, por si só,
desconstituir a custódia antecipada, caso estejam presentes um dos requisitos de
ordem objetiva e subjetiva que autorizem a decretação da medida extrema, como
ocorre, na espécie.
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4. Nessa fase processual, não há como prever a quantidade de pena que
eventualmente poderá ser imposta, caso seja condenado o agravante, menos ainda
se iniciará o cumprimento da reprimenda em regime diverso do fechado, de modo
que não se torna possível avaliar a arguida desproporção da prisão cautelar.
Um ponto relevante que deve ser lembrado na peça é o dispositivo inserido no artigo 316, CPP, na
forma transcrita a seguir:
Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a prisão preventiva
se, no correr da investigação ou do processo, verificar a falta de motivo para que ela
subsista, bem como novamente decretá-la, se sobrevierem razões que a
justifiquem. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
Destaca-se que a visão jurisprudencial é nesse sentido para a reavaliação dos fundamentos da
prisão preventiva no prazo máximo de 90 dias, nos termos seguintes:
1. Nos termos do Regimento Interno desta Suprema Corte, está o Relator autorizado
a decidir monocraticamente o habeas corpus quando, como in casu, patente a
ausência de teratologia ou flagrante ilegalidade, não havendo que se falar em ofensa
ao princípio da colegialidade ou em cerceamento de defesa.
3. Esta Suprema Corte, ao julgar o mérito das ações de controle concentrado nº 43,
44 e 54, muito embora haja declarado a constitucionalidade do art. 283 do Código de
Processo Penal – de maneira a obstar o início da execução da pena tão logo
esgotadas as instâncias ordinárias – reservou o recolhimento prisional aos casos
verdadeiramente enquadráveis no artigo 312 do mencionado diploma processual,
conforme cada situação específica e identificável pelo juízo natural da causa.
Ainda, sendo a prisão a ultima ratio, importa demonstrar a aplicação das medidas cautelares diversas
da prisão como forma subsidiária, com fundamento no artigo 319, CPP, nestes termos:
III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias
relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante;
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos
do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência
injustificada à ordem judicial;
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IX - monitoração eletrônica.
Na parte probatória, deve ser destacado o artigo 158, CPP, que exige a necessidade de exame de
corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, como ocorre nos crimes contra a dignidade sexual.
Quanto ao prazo, inexiste qualquer orientação, uma vez que, quando se trata de liberdade, não há
prazo para pedir que ela seja prontamente restabelecida.
Quanto à competência, tendo em vista que o fato ocorreu na comarca de São Paulo/SP, será
endereçada a peça ao juiz dessa jurisdição, que foi quem determinou a prisão preventiva por ocasião
da audiência de custódia.
Colocar local, data, assinatura e OAB na peça, mas tomando muito cuidado para não inventar dados,
já que isso identificaria a questão e desclassificaria o candidato do certame.
Questão de ordem!
Fulano de tal, já qualificado nos autos, vem por meio de seu advogado (a) (procuração anexa),
apresentar REVOGAÇÃO DE PRISÃO PREVENTIVA, com fundamento no 316 do Código de
Processo Penal, pelos seguintes fatos e fundamentos:
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DOS FATOS
Conforme consta dos autos, o acusado João das Couves foi flagrado dentro de sua residência
praticando atos sexuais com Luluzinha, sua namorada, que à época dos fatos tinha 13 anos de idade.
Destaca-se que os policiais ingressaram na casa do acusado sem mandado judicial, sem filmar o
seu consentimento e praticaram atos de agressões contra ele.
Com sua prisão em flagrante, João das Couves fora encaminhado para audiência de custódia, que
fora realizada 72 horas após os fatos, pelo juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de São
Paulo/SP. Foi requerido o relaxamento da prisão ilegal, tendo o Ministério Público pugnado pela
conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva, uma vez que o fato é considerado hediondo
e praticado contra uma pessoa menor de 14 anos.
Todavia, o magistrado com atuação na audiência de custódia entendeu por bem decretar a prisão
preventiva com base nos seguintes fundamentos: “Entendo que o prazo legal de 24 horas para a
realização da audiência de custódia é impróprio e não merece ser cumprido à risca; a invasão de
domicílio feita pelos policiais é justificável, pois estava ali sendo praticado um crime hediondo,
constituindo a ausência de consentimento mera irregularidade; eventuais abusos cometidos contra
o acusado devem ser resolvidos na via própria”.
Dessa forma, o réu, neste momento, encontra-se preso preventivamente por ordem de Vossa
Excelência. Cumpre ressaltar que até o presente momento não houve indiciamento, já se ultimando
120 dias de investigação, sem qualquer análise posterior da necessidade de manutenção da prisão
preventiva.
Além disso, até a presente data, o laudo pericial acerca da perda ou não da virgindade de Luluzinha
ainda não ficou pronto, inexistindo nos autos qualquer materialidade acerca dos eventuais atos
sexuais perpetrados.
Assim, vem requerer a liberdade do acusado, de acordo com os fundamentos a seguir expostos.
DOS FUNDAMENTOS
Quanto à legislação infraconstitucional, deveria ter sido preenchido o artigo 312, CPP, que exige a
coexistência de seus pressupostos e requisitos legais, o que não ocorrera no presente caso, sendo
que o dispositivo está assim prescrito:
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública,
da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a
aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício
suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado.
Ora, não é diferente a visão doutrinária acerca dessa matéria, sendo que a prisão preventiva deve
ser decretada quando houver a existência de periculum libertatis e fumus comissi delicti, como bem
preleciona o professor Avena, in verbis:
Na sistemática do Código de Processo Penal, faz-se mister a conjugação clara de seus pressupostos
legais (prova da existência do crime, indícios suficientes de autoria e perigo gerado pelo estado de
liberdade do acusado) e de um dos requisitos também inseridos no citado artigo 312, CPP, tais como
garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para
assegurar a aplicação da lei penal.
Como novidade inserida pelo pacote anticrime, tem-se a expressão “perigo gerado pelo estado de
liberdade do acusado”. Esse pressuposto denota que a liberdade do acusado possa comprometer a
segurança da sociedade, o que ocorre em casos de pessoas com alto grau de periculosidade, por
exemplo, líderes de facções criminosas. Tal situação deve ser cabalmente comprovada com
elementos concretos dos autos, não bastando a simples alegação de que ele é perigoso e por isso
deve ficar recolhido.
Dentro dos requisitos para a decretação da prisão preventiva, atendendo à ordem legal, inicia-se pela
garantia da ordem pública. A doutrina majoritária critica esse requisito autorizador da medida
cautelar, uma vez que sua conceituação é bastante ampla. Na esteira da melhor doutrina, o professor
Leonardo Barreto ensina que “violam a ordem pública: aqueles que afetam a credibilidade do
judiciário; os que contam com a divulgação pela mídia (não confundir com sensacionalismo, clamor
público); os crimes cometidos com violência ou grave ameaça ou com outra forma de execução cruel;
se o agente delitivo possui longa ficha de antecedentes etc.” (ALVES, 2019, p. 117).
A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça entende que a prisão preventiva decretada para
garantir a ordem pública não pode basear-se em dados abstratos, como, a título de exemplificação,
estar o indivíduo submetido a processo criminal ou já ter sido condenado por outro crime. Exige-se
mais para que o acusado seja submetido ao cárcere, uma vez que está em jogo o bem caro da
liberdade de alguém.
Por isso a fundamentação deve ser feita no caso concreto, demonstrando-se, exaustivamente, que
a liberdade do indivíduo coloca a ordem pública em perigo, não bastando imputação de elementos
abstratos. Nesses termos, é o pensamento do Superior Tribunal de Justiça:
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3. No caso, embora haja um aparente risco de reiteração delitiva, por se tratar de réu
que já responde a processo por delito da mesma natureza, não há registro de
excepcionalidades para justificar a medida extrema. Além disso, a quantidade de
droga apreendida não se mostra expressiva (2g de crack em 25 pedras e 2g de
cocaína em 5 trouxinhas) e não há qualquer dado indicativo de que o acusado, que
é primário, integre organização criminosa ou esteja envolvido de forma profunda com
a criminalidade, contexto que evidencia a possibilidade de aplicação de outras
medidas cautelares mais brandas. Constrangimento ilegal configurado. Precedentes.
O segundo requisito é para garantir a ordem econômica. In casu, deve ficar comprovado que a
liberdade do acusado possa gerar um grave abalo à ordem econômica. Todavia, essa forma de prisão
cautelar é totalmente genérica e de difícil constatação no caso concreto, muito em razão de ser bem
parecida com a garantia da ordem pública.
A par de ilustrar, citam-se os crimes de sonegação fiscal com cifras exponenciais, lavagem de
capitais praticada por meio de uma avançada engenharia econômica de forma a ocultar valores
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estratosféricos desviados de empresas públicas ou graves fraudes em licitações públicas que
possam comprometer toda a estabilidade social local.
No sentido da inocuidade do requisito, Nestor Távora e Osmar Rodrigues prelecionam: “ (...) afinal,
havendo temor da prática de novas infrações, afetando ou não a ordem econômica, já haveria o
enquadramento na expressão maior, que é a garantia da ordem pública. (TÁVORA; ALENCAR, 2019
p. 984).
O terceiro requisito consiste na garantia da instrução criminal. Nesse ponto, a lei prevê a possibilidade
de prisão preventiva de alguém que esteja desafiando a produção probatória, ameaçando
testemunhas ou destruindo provas. Mais uma vez, é bom lembrar que tais situações devem ser
concretamente comprovadas nos autos.
Como último requisito, a prisão pode ser decretada para garantia da aplicação da lei penal. In casu,
a possibilidade de prisão preventiva diz respeito àquela situação em que o agente evade e reste
difícil o cumprimento da penalidade a ele imposta no final do processo.
Logo, a invocação da gravidade em abstrato do crime não constitui motivo suficiente para a
decretação dessa medida extrema.
Novidade inserida pelo pacote anticrime e que merece análise detalhada de Vossa Excelência é o
mandamento legal inserto no artigo 316, CPP, exigindo-se a revisão da prisão preventiva a cada 90
dias, o que não ocorrera, dado que já foram ultrapassados 120 dias desde a sua decretação. Nestes
termos, a norma citada:
Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a prisão preventiva
se, no correr da investigação ou do processo, verificar a falta de motivo para que ela
subsista, bem como novamente decretá-la, se sobrevierem razões que a
justifiquem. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
1. Nos termos do Regimento Interno desta Suprema Corte, está o Relator autorizado
a decidir monocraticamente o habeas corpus quando, como in casu, patente a
ausência de teratologia ou flagrante ilegalidade, não havendo que se falar em ofensa
ao princípio da colegialidade ou em cerceamento de defesa.
3. Esta Suprema Corte, ao julgar o mérito das ações de controle concentrado nº 43,
44 e 54, muito embora haja declarado a constitucionalidade do art. 283 do Código de
Processo Penal - de maneira a obstar o início da execução da pena tão logo
esgotadas as instâncias ordinárias -, reservou o recolhimento prisional aos casos
verdadeiramente enquadráveis no artigo 312 do mencionado diploma processual,
conforme cada situação específica e identificável pelo juízo natural da causa.
Por outro lado, inovando-se no Código de Processo Penal, o pacote anticrime estabeleceu ser a
prisão cautelar medida extrema, ou seja, antes de decretar o encarceramento do indivíduo, cumpre
ao magistrado estudar a possibilidade de decretar medidas cautelares diversas da prisão, caso sejam
suficientes para proteger o bem jurídico protegido e o resguardo do devido processo legal, sendo
que essas cautelares estão dispostas no art. 319, CPP:
III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias
relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante;
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos
do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência
injustificada à ordem judicial;
IX - monitoração eletrônica.
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Portanto, antes de decretar a prisão preventiva, espera-se que Vossa Excelência possa analisar a
aplicação subsidiária das medidas cautelares previstas no artigo 319, CPP.
Outro ponto fundamental que deve ser observado nos crimes sexuais é que os laudos periciais
devem ser juntados aos autos do processo para demonstrar que houve a materialidade do delito em
testilha, eis que a palavra da vítima sozinha não pode ser levada ao extremo. Além disso, nos casos
em que há consentimento para a prática do ato sexual, é mais difícil ainda de se afirmar que houve
algum tipo de lesão ou violência, sendo o exame de corpo de delito de suma importância.
Nesse espeque, cita-se o artigo 158 do Código de Processo Penal, que assim elucida a questão:
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo
de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.
I - violência doméstica e familiar contra mulher; (Incluído dada pela Lei nº 13.721,
de 2018)
Destarte, houve flagrante descumprimento daquilo que consta da legislação específica e pertinente
da matéria.
DOS PEDIDOS
Diante do exposto, respeitosamente, requer a revogação da prisão preventiva, haja vista que:
a) Não foram preenchidos, de forma concreta, os requisitos do art. 312, CPP, pois não se demonstrou
com elementos hábeis a presença da garantia da ordem pública ou qualquer outro requisito
autorizador.
b) Não se cumpriu o mandamento legal do art. 316 do CPP, inexistindo razão para o seu
descumprimento, uma vez que trata de imposição legislativa, bem como não se atentou para o exame
de corpo de delito imposto pelo artigo 158, CPP.
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c) Requer, alternativamente, caso não seja revogada a prisão preventiva, pelo princípio da
eventualidade, a aplicação das medidas cautelares diversas da prisão, conforme prudente arbítrio de
Vossa Excelência, na forma do art. 319, CPP.
c) Requer, ainda, a imediata expedição de alvará́ de soltura em nome do acusado, para que ele
possa, em liberdade, defender-se no curso da eventual ação penal, comprometendo-se a
comparecer a todos os atos processuais.
São Paulo,
Assinatura
OAB
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