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ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR


221º Cia Et/15 Rpm

Autores:
Sd 2º Cl Roldi (1858802)
Sd 2º Cl Tolentino (1858240)
Sd 2º Cl Monteiro (1862523)
Sd 2º Cl William (1861152)

Matéria:
Direito Constitucional
Professor:
1º Ten Pm Cristhian

TEMA:
ADESIVIDADE DO MANDADO DE BUSCA E APREENSÃO

Teófilo Otoni
12 de março de 2024
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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...............................................................................................3
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO ..................................................................................4
2. O POLICIAL-MILITAR COMO PROMOTOR DOS DIREITOS
HUMANOS E PROTETOR DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. ...........6
3. A VEDAÇÃO EXPRESSA À VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO E AS
HIPÓTESES QUE AUTORIZAM O INGRESSO EM DOMICÍLIO. ..................7
4. AS INOVAÇÕES TRAZIDAS PELA LEI E PELA JURISPRUDÊNCIA NOS
ÚLTIMOS ANOS SOBRE QUESTÕES CONSTITUCIONAIS RELEVANTES
À ATIVIDADE POLICIAL. ...............................................................................9
5. REFERÊNCIAS .............................................................................................10
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1. INTRODUÇÃO

Adesividade do mandado de busca e apreensão.


O presente trabalho visa abordar a possibilidade do mandado de busca e apreensão
expedido pelo juiz, por representação do delegado de polícia, seja dotado de uma
capacidade perseguidora permitindo com que essa ordem judicial dirigida a violação
de uma determinada casa do investigado também abranja em caso de modificação
repentina de paradeiro a atual residência do suspeito.
O fundamento legal desse atributo existe pra que exista maior efetividade e
celeridade a investigação.
Por isto a busca domiciliar com adesividade, realizada no domicílio dos
suspeitos/investigados torna-se indispensável para apreender coisas que interessam
às investigações e que se suspeita que sejam ali guardadas.
Além disso, alude sobre o policial militar como promotor dos Direitos Humanos e
protetor da dignidade da pessoa humana. Bem como, a vedação expressa à
violação de domicílio.
Contudo, faz-se necessário abordar as hipóteses que autorizam o ingresso em
domicílio e as inovações trazidas pela lei e pela jurisprudência nos últimos anos
sobre questões constitucionais relevantes à atividade policial.
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1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

Na dinâmica do crime, não é incomum que os criminosos busquem mudar de casa de


tempos em tempos com a finalidade de dificultar que sejam descobertos ou eventuais
ações da polícia.

Diante desse panorama surge a discussão da possibilidade do mandado de busca e


apreensão expedido poder ser cumprido em endereço diverso daquele constante no
pedido feito pela autoridade policial, caso se demonstre que o agente mudou de
endereço subitamente com o fim de resguardar-se. Trata-se da denominada
“adesividade do mandado de busca e apreensão”, o que ocorre mediante autorização
judicial.

Tome como exemplo que uma investigação aponte o endereço que o suspeito utiliza
para vender drogas, o Delegado de Polícia requer o mandado de busca e apreensão
e ao cumpri-lo detecta que o agente se mudou, rapidamente, para evitar a
apreensão das drogas e, consequentemente, a prisão. Neste caso, poderá a
autoridade policial diligenciar para descobrir de imediato o novo endereço e utilizar-
se do mesmo mandado de busca e apreensão para ingressar na nova casa do
investigado, ainda que no mandado não conste o novo endereço? Ou será
necessário relatar essas circunstâncias e requerer novo mandado de busca e
apreensão?
O Código de Processo Penal prevê no art. 243, I, que o mandado de busca deverá
indicar o mais precisamente possível a casa em que será realizada a diligência e o
nome do respectivo proprietário ou morador.
Art. 243. O mandado de busca deverá:
I – Indicar, o mais precisamente possível, a casa em que será realizada a diligência e
o nome do respectivo proprietário ou morador; ou, no caso de busca pessoal, o nome
da pessoa que terá de sofrê-la ou os sinais que a identifiquem;

O art. 5º, XI, da Constituição Federal assegura a possibilidade de se ingressar na


residência, durante o dia, mediante autorização judicial.
Nota-se que o Código de Processo Penal prevê que o mandado deve indicar o local
que sofrerá a busca o “mais precisamente possível”, o que permite afirmar que em
situações de mudança repentina de endereço com a finalidade de se esquivar das
investigações, da atuação policial, a polícia poderá, ainda que não haja no mandado
o novo endereço, diligenciar de imediato e cumpri-lo no novo endereço, pois, além
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da proteção constitucional da inviolabilidade domiciliar visar tutelar o morador e não


o espaço físico, o CPP autoriza a indicação do endereço na medida do possível.
Na impossibilidade do mandado de busca e apreensão ser cumprido de imediato na
nova casa do investigado haverá por prejudicar toda a diligência, em razão do
princípio da oportunidade e por malferir o fator surpresa, pois o agente tomará
conhecimento de que contra ele há investigação em andamento e mandado de
busca e apreensão, fazendo com que destrua as provas contra ele e mude
novamente de endereço.
De toda forma, antes de cumprir o mandado de busca e apreensão, a autoridade
policial deve ter a cautela necessária para certificar que o endereço do investigado
está atualizado.
A evolução do crime, a dinâmica de atuação dos infratores e a complexidade das
investigações não podem engessar a repressão ao crime, sob o fundamento de
tutela de direitos fundamentais, como se pudessem ser utilizados para proteger a
prática de ilícitos penais.
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2. O POLICIAL-MILITAR COMO PROMOTOR DOS DIREITOS


HUMANOS E PROTETOR DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.

Hoje, a Polícia Militar, além de suas atribuições constitucionais, que são planejar,
organizar, dirigir, supervisionar, coordenar, controlar e executar as ações de polícia
ostensiva e de preservação da ordem pública, também possui uma ampla
responsabilidade com a promoção dos direitos humanos.
É uma categoria, normalmente, solicitada para atuar em ambientes sociais
conflituosos exigindo-se cada vez mais das corporações o respeito à dignidade da
pessoa humana. Não é suficiente que o policial desempenhe bem as suas
atividades, é fundamental fazê-las da forma correta, ética, integra, responsável e em
conformidade com as leis e a cidadania.
No entanto, os Policiais militares são agentes de transformação social, colocados
num ponto privilegiado da sociedade, pois, de um lado, representam a face mais
visível do Estado e do outro lado estão mais próximos da população e
consequentemente, mais próxima dos seus conflitos sociais. São profissionais que
podem e devem ser os mais promissores agentes de promoção dos direitos
humanos.
Em síntese, a promoção dos direitos humanos é condições indispensável para a
implementação da justiça e da segurança pública em uma sociedade democrática. E
Promover a cidadania através da polícia militar é torná-la mais eficiente e eficaz, é
combater o crime com mais racionalidade, é prevenir a violência com respeito à
dignidade da pessoa humana.
Neste enfoque, a compatibilidade entre direitos humanos, eficiência policial,
compreensão e valorização das diferenças são princípios éticos que devem ser
seguidos e a polícia militar a serviço da comunidade é condição definidora da sua
própria existência.
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3. A VEDAÇÃO EXPRESSA À VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO E AS


HIPÓTESES QUE AUTORIZAM O INGRESSO EM DOMICÍLIO.
O inciso XI do Artigo 5º define que:
A casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial.
O inciso consagra o chamado direito à inviolabilidade do domicílio. Para os que
violam a norma, as sanções estão definidas no Código Penal.
O inciso XI também está diretamente ligado ao direito à intimidade, garantido no
inciso X do mesmo artigo, já que a casa é entendida como refúgio ou espécie de
santuário, espaço imprescindível para o desenvolvimento da pessoa humana.
Nessa perspectiva, para melhor entendimento do significado de “casa” encontramos
no art. 150 do Código Penal, que define casa como:
§ 4º - A expressão "casa" compreende:
I - qualquer compartimento habitado; (aqui estão incluídas desde residências até
veículos utilizados como habitação, por exemplo, trailers e cabines de caminhão).
II - aposento ocupado de habitação coletiva; (como hotel, pensão, entre outros).
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou
atividade. (resumidamente, o local de trabalho do cidadão).
Além disso, o mesmo código também explica o que não é casa no parágrafo
seguinte:
Não se compreendem na expressão "casa":
I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta,
salvo a restrição do n.º II do parágrafo anterior;
II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.

Além de definir a ilegalidade da violação de domicílio, o inciso XI também prevê


situações em que entrar na casa de alguém sem sua autorização não é crime. Tais
exceções são descritas a seguir:
Flagrante delito:
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Quando alguém é flagrado cometendo um crime, esse direito independe do horário


ou do lugar.
A definição de flagrante delito é:
Art. 302 CP Considera-se em flagrante delito quem:
I – está cometendo a infração penal;
II – acaba de cometê-la;
III – é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa,
em situação que faça presumir ser autor da infração;
IV – é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que
façam presumir ser ele autor da infração.

Prestação de socorro ou desastre:


Há um caráter emergencial na prestação de socorro assim como quando ocorrem
desastres, imagine que alguém se encontra preso em casa durante uma enchente,
situação configurada como desastre. Para prestar socorro, os bombeiros – ou
qualquer outra pessoa – não precisam de permissão para entrar no local. Logo, não
há violação de domicílio.

Determinação judicial:
No caso de ingresso no domicílio para cumprimento de ordem judicial, permite-se a
entrada apenas durante o dia. Houve bastante debate no meio jurídico sobre o que é
considerado “dia”, e o consenso por muito tempo foi de que compreenderia o
período de luz solar, tendo em vista as variações climáticas, sazonais, regionais etc.
Entretanto, recentemente, com a vigência da Lei de Abuso de Autoridade (Lei nº
13.869/2019), há um novo parâmetro objetivo a respeito do período em que é
permitido o cumprimento de mandado de busca e apreensão domiciliar: entre 5h e
21h.

ESCUTA E CÂMERA CONFIGURAM VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO?


Embora o inciso use a palavra “penetrar”, não é só quando alguém entra em sua
casa que ocorre violação de domicílio. Se houver escutas e câmeras filmando o que
acontece dentro de seu domicílio, esse material é ilegal.
É proibido o uso de recursos técnicos para a escuta e/ou a visualização do que
ocorre no espaço da privacidade pessoal e profissional do titular do direito, sendo
somente permitido em alguns casos, apenas com as devidas atribuições legais,
como autorizações judiciais.
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4. AS INOVAÇÕES TRAZIDAS PELA LEI E PELA JURISPRUDÊNCIA


NOS ÚLTIMOS ANOS SOBRE QUESTÕES CONSTITUCIONAIS
RELEVANTES À ATIVIDADE POLICIAL.
Em recente decisão, o Superior Tribunal de Justiça também encampou essa posição
da possibilidade de mandado de busca e apreensão por adesividade ou itinerante:
“PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EM
HABEAS CORPUS. 1. OPERAÇÃO ZAYN. ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA
INTERESTADUAL. FURTO QUALIFICADO. ROUBO MAJORADO. FALSIFICAÇÃO
DE DOCUMENTOS. ADULTERAÇÃO DE SINAL IDENTIFICADOR DE VEÍCULOS.
MANDADO DE BUSCA E APREENSÃO ITINERANTE. EXCEPCIONALIDADE
FUNDAMENTADA. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE. 2. OFENSA AO PRINCÍPIO
ACUSATÓRIO. NÃO VERIFICAÇÃO. MANIFESTAÇÃO FAVORÁVEL DO MP. 3.
CUMPRIMENTO DO MANDADO APÓS MAIS DE 1 ANO. AUSÊNCIA DE PRAZO
LEGAL. PARTICULARIDADES QUE JUSTIFICAM A DEMORA. 4. OFENSA AO
SIGILO PROFISSIONAL. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. 5. AGRAVO REGIMENTAL
A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. O caráter itinerante excepcionalmente conferido
ao mandado de busca e apreensão deferido contra o recorrente encontra-se, na
presente hipótese, devidamente fundamentado, em elementos concretos e legítimos,
motivo pelo qual não é possível considerar ilícita mencionada decisão. A hipótese
dos autos não revela ordem judicial genérica e indiscriminada, porquanto indicado
objetivo certo e pessoa determinada, além da especificidade de o recorrente ser o
líder de organização criminosa que pratica crimes em diversos estados da
federação. – Nesse contexto, não se tratando de ordem judicial genérica e
indiscriminada, e estando devidamente fundamentada em especificidades do caso
concreto, não há se falar em nulidade da decisão que deferiu a busca e apreensão
contra o recorrente, de forma itinerante. Conforme destacado pelo Ministério Público
Federal, “a ordem judicial autorizava o cumprimento da busca e apreensão em local
diverso do inicialmente indicado, com vistas a garantir o êxito das investigações,
inexistindo, portanto, qualquer ilegalidade no ato”. – As circunstâncias fáticas
indicadas nos autos, as quais se mostraram adequadas ao deferimento da medida
de busca e apreensão itinerante, seriam aptas a ensejar inclusive a restrição da
própria liberdade do paciente, que é medida muito mais gravosa. Dessa forma, não
há se falar em ilegalidade da busca e apreensão, da forma como deferida, porquanto
concretamente fundamentada.”
Logo, o mandado de busca e apreensão domiciliar deve se dar com adesividade ou
itinerante justamente para abarcar essa tentativa clara de burlar a lei e ações
policiais e será uma ferramenta útil em desfavor da criminalidade difusa e coletiva
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organizada. Contudo, toda a ação policial militar deve encontrar respaldo no


ordenamento jurídico para que seja eficaz as operações de busca e apreensão,
evitando anulações decorrentes de invasão ilícita de domicílio por policiais sem
autorização judicial. Em 2023, o Superior Tribunal de Justiça anulou provas em 959
processos. A quantidade expõe a distância existente entre a prática da investigação
criminal e os patamares mínimos exigidos pela corte superior para sua validação.
Foram 857 decisões de concessão da ordem em Habeas Corpus e outras 102 em
recursos em HC. Desses, 812 casos disseram respeito exclusivamente a invasão de
domicílio.
5. REFERÊNCIAS.

FOUREAUX, Rodrigo. Adesividade do mandado de busca e apreensão. 2023. Artigo


(Bacharel em Direito) - Centro Universitário Newton Paiva, [S. l.], em:
https://atividadepolicial.com.br/2023/07/25/adesividade-do-mandado-de-busca-e-
apreensao/

LEITÃO JÚNIOR, Joaquim. A Busca e Apreensão Domiciliar Adesiva. 2024. Artigo


(Pós-graduado em Ciências Penais) - Universidade de Santa Catarina (UNISUL), [S. l.],
em: https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2024/02/06/a-busca-e-
apreensao-domiciliar-adesiva-adesividade-ou-itinerante-no-combate-e-repressao-a-
criminalidade-organizada/

DE OLIVEIRA CARVALHO, Raimunda. A polícia militar na promoção dos direitos


humanos. 2018. Artigo (Bacharel em Direito) - Universidade de Santa Catarina
(UNISUL), [S. l.], em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/a-policia-militar-na-
promocao-dos-direitos-humanos/527987534

VITAL, Danilo. STJ anulou provas por invasão ilegal de domicílio 959 vezes em
2023. 2024. Artigo (Bacharel em Direito) - Faculdade de Direito da UFMG, [S. l.], em:
https://www.conjur.com.br/2024-jan-04/stj-anulou-provas-por-invasao-ilegal-de-
domicilio-959-vezes-em-
2023/#:~:text=Em%202023%2C%20o%20Superior%20Tribunal,autoriza%C3%A7%
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