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p. 20-1: “Leite (2002, p. 7) expôs que a Polícia poderia ser compreendida como
uma forma de ação coletiva, organizada em torno da missão de produzir segurança por
meio de uma dupla função: por um lado, a aplicação da lei, e por outro, a manutenção
da ordem. Ela explicitou ainda que, para a consecução de sua finalidade, a Polícia
apresentaria determinada divisão de tarefas, estrutura hierárquica, caráter de
profissionalização, estabelecimento de normas, enfim, aspectos a partir dos quais se
poderia definir Polícia como uma organização formal. Mas ao mesmo tempo, ela
acrescentou, que a Polícia teria uma cultura organizacional, uma identidade que a
definiriam como instituição social, colocando que o recurso básico da polícia seria seus
policiais”.
com a realização de valores, o que não seria algo muito fácil de conciliar, além de depender de pontos de
vista – daí a sua idiossincrasia – o que determinaria que a construção da ordem se fizesse tentando-se
buscar uma harmonia entre as várias visões de mundo – das pessoas, dos grupos, etc., – para se poder
almejar o alcance de uma maior equilíbrio e estabilidade no convívio social”.
atividade principal, somente em aplicar a lei a determinadas situações, mas,
principalmente, em solucionar outros problemas relativamente aos quais a lei não fosse
o meio mais adequado ou possível de resolução 2. O autor, em apreço, alertou para o fato
de que, muitas vezes, os agentes da polícia converteriam a lei num fim. Para ele, de
fato, a lei não deveria ser um fim a ser alcançado objetivando se resolver problemas, ela
deveria, por outro lado, servir como meio para a sua solução3. Dessa forma, a lei serviria
para fornecer os meios e os limites de atuação policial, devendo-se pensar em
estabelecer controles éticos, institucionais – externos e internos – para que se fizesse da
polícia uma atividade que no dia-a-dia diminuísse ao máximo possível a violação desses
limites, quer pelo uso arbitrário ou desproporcional, quer pelo uso de meios proibidos.
p. 23: “Ou seja, poderiam ser desordens para a mudança, que visassem alcançar
uma sociedade mais justa. Para ele, ordem seria a conveniente disposição dos meios
para a realização dos fins legitimamente perseguidos pela comunidade, não sendo,
contudo, um valor absoluto que pudesse se impor a todos e a tudo. Por isso, ele indicou
que a rodem devesse se conjugar com outros valores, não menos relevantes que com ela
estabelecessem, de uma maneira constante, conflitos, como ocorreria com o valor
liberdade. Assim, a liberdade humana, mesmo quando pudesse descambar no crime, não
poderia ser sufocada, a todo custo e por qualquer meio, em nome da não perturbação da
ordem pública. A liberdade4 de errar seria, então, algo de essencial ao pleno
2
“Do mesmo modo, para MUNIZ (1999), a Polícia seria um meio de força comedida que, no curso dos
eventos, buscaria dar conta de um dilema posto pela tradição liberal, qual seria: mediar a tensão entre ‘o
que está na lei e se encontra no mundo’ – o mundo da lei – e ‘o que se encontra no mundo e não está na
lei’ – as leis do mundo”.
3
“Nesse sentido, a lei seria mais um instrumento de que se deveria valer a Polícia para alcançar o bem
comum, pois não seria finalidade única da Polícia cumprir a Lei, já que como afirmou MUNIZ (1999, p.
266), o ‘fazer ostensivo da polícia’ pressupõe um significado espaço de manobra decisória dos policiais
de ponta no atendimento a toda sorte de eventos insólitos e emergenciais que, por um lado, não encontra
uma tradução na racionalidade jurídica”.
4
“A relação entre liberdade e ordem a que se referiu MARQUES DA SILVA seria uma temam
importante e poderia ser percebida de forma diferente do caso brasileiro ao se observar os Estado Unidos
da América, os quais, numa pactuação social longamente negociada, teriam optado por fazer o
constrangimento de suas liberdades pessoais em benefício de uma ordem pública, que para eles seria
percebida, logo, internalizada, como vantajosa. Na sociedade americana a ideologia da negociação teria
desenvolvimento da personalidade. Ficaria nítido, pelo que expôs que não seria
qualquer ordem que caberia à polícia assegurar, ou seja, para assegurar a ordem pública,
a polícia deveria, antes de tudo, defender a legalidade democrática, o que não seria uma
tarega fácil, pois tratar-se-ia das primeiras e maiores dificuldades de atuação da Polícia,
uma vez que a lei enquadraria um dado comportamento humano como criminoso de
uma forma abstrata, existindo entre a abstração da lei e o caso concreto – que exigiria a
intervenção policial – uma grande distância.
sido construída de forma diferente da que seria observada na sociedade brasileira, pois no Brasil a história
da negociação foi percebida como uma história de poder absolutamente concentrado. Desse modo, não se
falaria em negociação no Brasil, mas em conciliação, pois as pessoas não se imaginariam como iguais –
não se considerariam iguais no próprio contexto da igualdade substancial – e onde não se encontrasse a
igualdade, não se contraria uma oposição simétrica. Tal fato conduziria a se construir uma sociedade
brasileira composta por pessoas que se imaginariam hierarquicamente assimétricas. Por isso, imaginariam
existir os mais fortes e mais fracos, devendo, desde o início, ao mais fraco reconhecer e aceitar uma
solução por cima, já que cedo ou tarde ele teria que ‘jogar a toalha’. Assim, caberia dizer que a igualdade
formal, no Brasil, encontrada na letra das leis, mas ignorada nas práticas sociais, poderia ser entendida
como um dispositivo oportunista ou um instrumento de manipulação”.
objetivaria também a prevenção, repressão e controle da criminalidade, bem como a
preservação da ordem pública5.
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5
“MICHAUD (1989, p. 25) informou que a ideia de Polícia como um grande serviço de manutenção da
ordem teria sido um produto do século XIX. Assim, somente no segundo Império francês é que teriam
sido organizadas de forma metódica as forças policiais (1854), que se iniciaram em março de 1829, com o
primeiro corpo parisiense de agentes fardados.
6
“Para MUNIZ (2003), força pressuporia superioridade e método, e significaria respeito aos direitos
humanos, devendo o seu uso correto ser o ponto qualificador de uma organização policial, legitimando o
exercício da violência legal. A autora em pauta revelou que, por ser um ato universal, a violência poderia
ser acionada por todos e qualquer um e de qualquer forma, até mesmo de uma forma que pudesse ser
ilegal, desproporcional, imotivada e/ou ilegítima, modalidades de acionamento essas que não se
permitiriam à Polícia das sociedades modernas fazer, sem comprometer ou se desviar de seus fins ideais”.
pelos seus atos, em conformidade com as normas da sociedade e em obediência aos
representantes selecionados democraticamente.
(...) o uso da força para controlar as relações sociais; a mentira e a astúcia para
missões secretas ou para efetuar compras controladas de drogas – violariam as normas
‘convencionais’ da sociedade – não a lei em si –, sendo, contudo, úteis e não
dispensáveis para atender às necessidades públicas de ordem, segurança e bem-estar.
Para ele, a polícia precisaria encontrar um ponto de equilíbrio entre vários campos de
tensão em que atuaria, por isso, ela deveria, por exemplo, se preocupar com: a) a
mediação entre valores e direitos legítimos, que fossem conflitantes; b) a exigência de
eficácia quando se tratasse da proteção dos direitos individuais; c) a manutenção da
ordem pública sem que houvesse restrição indevida da liberdade; d) a necessidade de
ameaça do uso da força que não caísse no abuso; e) a observância, simultânea, da
orientação da lei e da competência profissional”.
p. 26: “Ele pontuou – o que seria importante para o contexto da pesquisa – que
através do treinamento é que se deveria dar aos policiais as ferramentas intelectuais e
práticas para que os permitissem tomar decisões corretas e equilibradas.
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(...) a sociedade teria que se adaptar à polícia, ou seria esta que, através de um
esforço permanente de formação técnica e humana, aliada à compreensão dos
fenômenos sociais, teria que se conformar à vontade e à decisão da ordem social
estabelecida por um poder democrático?
(...) a literatura tem sido quase unânime em fixar que caberia à polícia criar
meios profissionais que fossem capazes de adequar sua eficiência ao respeito das
vontades emanadas da ordem social democrática, o que não a permitiria alegar
constrangimentos pessoais dos seus agentes quanto à incerteza da legitimidade e da
legalidade de sua atuação como motivo para deixar de atuar”.
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p. 28: “(...) se faria uso de meios ilegais para se chegar a um objetivo particular
e/ou institucional estabelecido pelo senso de justiça policial ou a ele pertencente, o que
acabaria provocando uma forma de perversão ética de sérias consequências para a tão
importante legitimidade policial8.
7
“Segundo BAYLEY (2000, p. 36), a ação policial seria pró-ativa quando fosse iniciada e direcionada
epla própria polícia ou pelos próprios policiais, independentemente da demanda dos cidadãos. Por outro
lado, a ação policial seria reativa quando fosse iniciada e direcionada por uma solicitação dos cidadãos.
Para BAYLEY, todas as polícias saturariam de forma pró-ativa e reativa. O que variaria de uma polícia
para outra seria a forma de combinar ações e estratégias pró-ativas e reativas. Assim, enquanto algumas
polícias privilegiariam uma certa estratégia, outras privilegiariam a estratégia diversa”.
8
“Deve-se alertar que se poderia observar, em alguns setores sociais, uma tendência a naturalizar o uso de
meios ilegais que permitiriam a polícia alcançar um resultado considerado significante. Tal naturalização
poderia ser observada em uma publicação de um jornal de grande circulação no Estado do Rio de Janeiro,
que tratava de estudos sobre segurança pública, na qual afirmava-se o seguinte: ‘é preciso deixar para trás
a visão autoritária e rústica de que inteligência se faz com informações secretas, informantes infiltrados e
grampos ilegais. A inteligência passa por esses elementos, mas se concentra fundamentalmente na boa
análise das informações abertas e que deveriam estar disponíveis em bancos de dados únicos’ (NASSIF,
2003, p. 21). Por essa naturalização, tende-se a se imaginar que a polícia poderia, por exemplo, utilizar-se
da tortura, como meio útil, para se desvendar um assassinato, o que deveria ser entendido como um
deslocamento das práticas policiais em relação às regras legais que as balizam, proporcionados por
pressões ou permissões públicas ou por políticas de segurança que buscariam, a qualquer preço,
resultados policiais que gerassem um suposto sentimento de justiça, talvez mais perecida com a do tipo
‘olho por olho’. Assim, dever-se-ia estar atento ao fato de a própria justiça não ser um valor absoluto, não
podendo, também ela, ser procurada por quaisquer meios, mas tão somente por meios lícitos, calcados em
valores éticos – ‘superiores’ aos interesses particulares –, que alcancem o maior contexto social possível,
e não apenas éticas de escala grupal ou pessoal. Seria, por isso, que, no mundo moderno, houve a
introdução de proibições ao uso de provas obtidas por meios que atentassem contra [a] dignidade humana,
como seriam os meios que ofendem a integridade física ou moral as pessoas ou violem seus direitos
fundamentais. O que aqui se estaria pretendendo colocar em pauta seria a não-aceitação e a não-
justificação de se tolerar que o controle da criminalidade se faça por meio de uma criminalidade oficial”.
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