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Vale mencionar que a expressão “poder de polícia” tem sido criticada por sua conexão a um
modelo de Estado vetusto, sugestivamente denominado de “Estado de polícia”. Embora
estejamos de acordo com a tese revisionista, o uso do termo neste projeto assim é feito por
deferência à tradição brasileira. Sobre tais críticas, confira-se: GORDILLO, Agustín. Tratado de
derecho administrativo. 9ª. Ed. Buenos Aires: FDA, 2009, e SUNDFELD, Carlos Ari Sundfeld.
Direito administrativo ordenador. São Paulo: Malheiros, 1993.
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A propósito, v. a definição clássica de MEIRELLES, Hely Lopes, Direito administrativo
brasileiro, 36ª. Ed., São Paulo: Malheiros, 2010, p. 134: “Poder de polícia é a faculdade de que
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dispõe a Administração Pública para condicionar e restringir o uso e gozo de bens, atividades e
direitos individuais, em benefício da coletividade ou do próprio Estado”.
3
Veja-se a seguinte passagem de CAETANO, Marcelo. Princípios fundamentais do direito
administrativo. Coimbra: Almedina, 1977, p. 268: “Numa sociedade onde cada um possa fazer
tudo quanto lhe apeteça sem pensar nos interesses, nas necessidades, nos direitos dos outros
não há liberdade. Porque os mais fortes, os menos escrupulosos, os mais poderosos
oprimirão os que não lhes possam resistir”. (negrito acrescentado)
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Basicamente, é assim que se justifica a natureza autárquica da Ordem dos Advogados do
Brasil, cf. DALLARI, Adilson Abreu. “Ordem dos Advogados do Brasil – Natureza jurídica –
Regime de seu pessoal”, Revista de Informação Legislativa nº. 116, p. 260: “É certo, portanto,
quem a OAB exerce função pública, pois o controle do exercício profissional do advogado
transcende os interesses da corporação e configura interesse da coletividade, constituindo-se
em indubitável interesse público (...) Exatamente por essa razão, por exercer função pública, é
que a OAB é dotada de prerrogativas públicas”.
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MEIRELLES, Hely Lopes, Direito administrativo brasileiro, 36ª. Ed., São Paulo: Malheiros,
2010, p. 141: “A coercibilidade, isto é, a imposição coativa das medidas adotadas pela
Administração, constitui também atributo do poder de polícia”. Os limites e condições ao uso da
coerção é um ponto que comporta discussão doutrinária, mas não assim quanto ao uso da
força física, que é pacificamente admitido.
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MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 24ª. Ed. São Paulo:
Malheiros 2007, pp. 800-805. O autor atribui a consolidação da noção de supremacia geral à
obra do alemão Otto Mayer, de onde se expandiu para a Itália e Espanha.
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BASAVILBASO, Benjamim Villegas. Derecho administrativo, t. 5. Buenos Aires: Editora
Argentina, 1954, pp. 14-17.
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BASAVILBASO, Benjamim Villegas. Derecho administrativo, t. 5. Buenos Aires: Editora
Argentina, 1954, p. 14.
9
GORDILLO, Agustin. Tratado de derecho administrativo. 9ª. Ed. Buenos Aires: FDA, 2009, p.
V-6.
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BEZNOS, Clóvis. Poder de polícia. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1979, p. 14:
“Preleciona Marienhoff que a expressão ‘Estado Polícia’ originou-se do sistema que imperou na
Alemanha. Nessa época, os assuntos de polícia eram resolvidos pelo Príncipe, em relação às
suas decisões, não havia apelação para nenhuma instância jurisdicional”.
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não se podendo falar que esta se encontra estritamente vinculada à vontade legislativa11.
Ora, valendo-se ainda de expressões genéricas como ordem pública, salubridade,
moralidade e paz pública (ou seja: conceitos jurídicos indeterminados12), a
Administração Pública continuou a agir discricionariamente, avocando para si a
atribuição de conformar e limitar direitos privados, mesmo erigidos à categoria de
direitos fundamentais, a pretexto de realizar tais misteres.
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A propósito, veja-se a passagem de ENGISCH, Karl. Introdução ao pensamento jurídico. 8ª.
Ed. Trad. Nelson Baptista Machado. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2001.p. 207: ‘’O princípio da
legalidade da actividade jurisdicional e administrativa, em si, permanece intocado. (...) As leis,
porém, são hoje, em todos os domínios jurídicos, elaboradas por tal forma que os juízes e os
funcionários da administração não descobrem e fundamentam as suas decisões tão-somente
através da subsunção a conceitos jurídicos fixos, a conceitos cujo conteúdo seja explicitado
com segurança através da interpretação, mas antes são chamados a valorar
autonomamente e, por vezes, a decidir e a agir de um modo semelhante ao do legislador.
E assim continuará a ser no futuro”. (negrito acrescentado) O ponto será retomado adiante.
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Os conceitos jurídicos indeterminados consistem em uma técnica utilizada pelo legislador
para deferir ao administrador maior espaço decisório, sem que, contudo, defira-lhe ampla
discricionariedade. O legislador utiliza expressões não tão objetivas, permitindo que o
administrador exerça algum espaço valorativo, mas que é passível de controle por cotejo com o
caso concreto, por tal razão não se confundindo com a idéia de discricionariedade. A propósito
do tema, v. BINEMBOJM, Gustavo. Uma teoria do direito administrativo. Rio de Janeiro:
Renovar, 2006, pp. 211-224.
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Direito administrativo brasileiro, 36ª. Ed., São Paulo: Malheiros, 2010, p. 139.
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Neste ponto, cabe dizer que foi de grande valia a compilação de teorias feita por Benjamim
Villegas Basavilbaso, na obra Derecho administrativo, editada em 1954.
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HOBBES, Thomas. Leviatã ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. Trad.
João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza Silva, Coleção Os Pensadores. São. Paulo: Nova
Cultural. 1999.
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HOBBES, Thomas. Leviatã ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. Trad.
João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza Silva, Coleção Os Pensadores. São. Paulo: Nova
Cultural. 1999, p. 49: “Portanto tudo aquilo que é válido para um tempo de guerra, em que todo
homem é inimigo de todo homem, o mesmo é válido também para o tempo durante o qual os
homens vivem sem outra segurança senão a que lhes pode ser oferecida por sua própria força
e sua própria invenção. Numa tal situação não há lugar para a indústria, pois seu fruto é
incerto; conseqüentemente não há cultiva da terra, nem navegação, nem uso das mercadorias
que podem ser importadas pelo mar; não há construções confortáveis, nem instrumentos para
mover e remover as coisas que precisam de grande força; não há conhecimento da face da
Terra, nem cômputo do tempo, nem artes, nem letras; não há sociedade; e o que é pior do que
tudo, um constante temor e perigo de morte violenta. E a vida do homem é solitária, pobre,
sórdida, embrutecida e curta”.
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Veja-se o que o autor diz a respeito do tema: “A expressão polícia designa o conjunto dos
serviços organizados ou as medidas prescritivas com o objetivo de assegurar a manutenção da
ordem e da salubridade no interior do país”. BARTHÉLEMY. Traité Elementaire de Droit
Administratif apud BASAVILBASO, Benjamim Villegas. Derecho administrativo, t. 5. Buenos
Aires: Editora Argentina, 1954, p. 18.
18
Para este autor, “O Estado (...) tem por objetivo fazer reinar a ordem e a paz pela aplicação
preventiva do direito; em um sentido elevado, esse objetivo pode ser chamado de polícia”. Cf.
BASAVILBASO, Benjamim Villegas. Derecho administrativo, t. 5. Buenos Aires: Editora
Argentina, 1954, p. 18.
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BASAVILBASO, Benjamim Villegas. Derecho administrativo, t. 5. Buenos Aires: Editora
Argentina, 1954, p. 19: “Estima esse jurista [Rolland] que o objeto da polícia está limitado aos
seguintes fins: assegurar, manter e restabelecer a ordem”.
20
VEDEL, Georges. Droit Administratif, t. 2. Paris: PUF, 1959, p. 544: “A polícia administrativa,
ao contrário, não se refere à noção de infração, mas à de ordem pública; ela objetiva manter a
ordem pública, independentemente da repressão a infrações”.
21
V. BASAVILBASO, Benjamim Villegas. Derecho administrativo, t. 5. Buenos Aires: Editora
Argentina, 1954, pp. 25-28.
22
CAETANO, Marcelo. Princípios fundamentais do direito administrativo. Coimbra: Almedina,
1977, p. 269.
23
MEIRELLES, Hely Lopes, Direito administrativo brasileiro, 36ª. Ed., São Paulo: Malheiros,
2010, p. 134. De todas as definições analisadas, a apresentada por Hely Lopes Meirelles é a
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A referência sobre o tema é a obra de MOREIRA, Vital. Auto-regulação profissional e
administração pública. Coimbra: Almedina, 1997.
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MELO. Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo, 2007, p. 815: “A restrição
à atribuição de atos de polícia a particulares funda-se no corretíssimo entendimento de que não
se lhes pode, ao menos em princípio, cometer o encargo de praticar atos que envolvem o
exercício de misteres tipicamente públicos quando em causa liberdade e propriedade, porque
ofenderiam o equilíbrio entre os particulares em geral, ensejando que uns oficialmente
exercessem supremacia sobre outros”.
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A justificativa oficial é que somente estes gozam das prerrogativas necessárias à prática de
atos administrativos, o que não ocorreria com aqueles que estão sob o regime celetista
comum. Ora, a grande diferença em sustentação da tese era que o servidor público não
poderia perder o cargo sem justa causa, como acontece com o empregado. Contudo, após a
Emenda Constitucional nº. 19/98, o servidor público pode perder o cargo sem ter dado causa,
na chamada “exoneração por excesso de quadro”, prevista no art. 169, §§3º e 4º, da
Constituição Federal de 1988. Além disso, o servidor não tem direito à imutabilidade do seu
regime jurídico, segundo linha jurisprudencial pacífica do Supremo Tribunal Federal. Por fim, e
em reforço ao exposto, a afirmação de que as garantias próprias do regime estatutário são
essenciais ao exercício do poder de polícia significa que os servidores em estágio probatório e
experimental (este último onde existente) não poderiam praticar qualquer ato administrativo até
o término da fase, o que não ocorre na prática.
29
PIRES, Luis Manuel Fonseca. Limitações administrativas à liberdade e à propriedade. São
Paulo: Quartier Latin, 2006, p. 240: “O poder das limitações administrativas à liberdade e à
propriedade, o poder da supremacia geral, não é mero atributo do Estado a despeito do qual
fosse possível perquirir a possibilidade de cedê-lo ou renunciá-lo em alguma circunstância;
este poder não faz parte do Estado, mas é o próprio Estado, integra-o como um elemento sem
o qual deixaria de existir.”
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dispositivos da Lei Federal nº. 9.649/98, dentre os quais aqueles que transformavam as
autarquias de fiscalização profissional em entidades privadas30. A ementa do acórdão
cristaliza a posição da Corte Constitucional brasileira:
30
Lei nº. 9.649/98: “Art. 58. Os serviços de fiscalização de profissões regulamentadas serão
exercidos em caráter privado, por delegação do poder público, mediante autorização
legislativa. (...) § 2º. Os conselhos de fiscalização de profissões regulamentadas, dotados de
personalidade jurídica de direito privado, não manterão com os órgãos da Administração
Pública qualquer vínculo funcional ou hierárquico”.
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STF, ADI 1717-MC, Rel. Min. Sydney Sanches, DJ 25.02.2000.
32
CF88: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...) XVI - organização do
sistema nacional de emprego e condições para o exercício de profissões;”.
33
CF88: “Art. 21. Compete à União: (...) XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do
trabalho;”.
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34
GONÇALVES, Pedro. Entidades privadas com poderes públicos. Coimbra: Almedina, 2005,
p. 35: “As várias experiências históricas que ilustram o exercício de poderes públicos por
entidades privadas baseiam-se pois numa dicotomia, entre, por um lado, a esfera do governo,
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ideológica. O manejo privado do poder de polícia não precisa ser colocado sempre
nestes termos, o que pode ser provado por singela remissão a alguns exemplos práticos.
35
MELO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 24ª. Ed. São Paulo:
Malheiros, 2007, p. 794.
36
Presutti, Instizuioni di Diritto Admministrativo Italiano, p. 243 apud BASAVILBASO, Benjamim
Villegas. Derecho administrativo, t. 5. Buenos Aires: Editora Argentina, 1954, p. 21. Negrito
acrescentado ao trecho.
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BEZNOS, Clóvis. Poder de polícia. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1979, p. 76.
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A propósito do tema, confira-se a obra de PEREIRA, Jane Reis Gonçalves. Interpretação
constitucional e direitos fundamentais. Rio de Janeiro: Renovar, 2006.
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Cf. PEREIRA, Jane Reis Gonçalves. Interpretação constitucional e direitos fundamentais. Rio
de Janeiro: Renovar, 2006, pp. 139-151.
40
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992, p. 24.
41
TORRES, Ricardo Lobo. “Introdução”. Ricardo Lobo Torres (org.). Legitimação dos direitos
humanos. Rio de Janeiro: Renovar, 2002, pp. 2-3.
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II. ALGUMAS IDEIAS PARA UMA NOVA TEORIA PARA O PODER DE POLÍCIA
42
DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do Estado. 24ª. Ed. São Paulo:
Saraiva, 2003, p. 107: “Procedendo-se a uma síntese de todas essas idéias, verifica-se que o
Estado, como sociedade política, tem um fim geral, constituindo-se em meio para que os
indivíduos e as demais sociedades possam atingir seus respectivos fins particulares. (...)
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Esta, por sua vez, é entendida como o núcleo essencial do princípio da dignidade da
pessoa humana e causa última da existência do próprio Estado.
44
GUTMAN, Amy; THOMPSON, Dennis. Why deliberative democracy?, Princeton: Princeton
University Press, 2004, p. 7.
45
Os termos de ajuste de conduta são um verdadeiro sucesso no âmbito do poder de polícia
ambiental.
46
OLIVEIRA, Gustavo Justino de. Direito administrativo democrático. Belo Horizonte: Fórum,
2010, p. 217.
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interesses e suas demandas, de modo que a atividade interventiva estatal deve ser
sempre pautada pela subsidiariedade. Partindo de tal premissa, é reconhecida a plena
possibilidade de bipartição entre público e o estatal, nos termos seguintes:
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SCHMIDT, João Pedro. “O comunitário em tempos de público não estatal”. Avaliação
(Campinas) [online]. 2010, vol.15, n.1, p. 34.
48
STF, ADI 3026-DF, Rel. Min. Eros Grau, DJ 29.09.2006. Confira-se a emente: “AÇÃO
DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. § 1º DO ARTIGO 79 DA LEI N. 8.906, 2ª PARTE.
"SERVIDORES" DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL. PRECEITO QUE POSSIBILITA
A OPÇÃO PELO REGIME CELESTISTA. COMPENSAÇÃO PELA ESCOLHA DO REGIME
JURÍDICO NO MOMENTO DA APOSENTADORIA. INDENIZAÇÃO. IMPOSIÇÃO DOS
DITAMES INERENTES À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA E INDIRETA. CONCURSO
PÚBLICO (ART. 37, II DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL). INEXIGÊNCIA DE CONCURSO
PÚBLICO PARA A ADMISSÃO DOS CONTRATADOS PELA OAB. AUTARQUIAS ESPECIAIS
E AGÊNCIAS. CARÁTER JURÍDICO DA OAB. ENTIDADE PRESTADORA DE SERVIÇO
PÚBLICO INDEPENDENTE. CATEGORIA ÍMPAR NO ELENCO DAS PERSONALIDADES
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afirmou que a instituição de classe dos advogados, embora possua natureza pública em
razão da função que desempenha, não é estatal, já que não está formalmente vinculada à
estrutura do Estado49. Ademais, o tribunal reconheceu a possibilidade de exercício de
poder de polícia das profissões por entidades não-estatais, avançando, assim, com
relação à posição adotada no julgado da ADI nº. 1.717/DF, já mencionada neste texto.
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TORRES, Ricardo Lobo. “Introdução”. In: Legitimação dos direitos humanos. Rio
de Janeiro: Renovar, 2002.
VEDEL, Georges. Droit Administratif, t. 2. Paris: PUF, 1959.
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