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RESUMO: A pesquisa objetiva analisar os fundamentos, contornos ABSTRACT: The research aims to analyze the fundamentals,
e limites do direito de resistência à opressão e da desobediência civil contours and limits of the right of resistance to oppression and civil
no âmbito do Estado de Direito Brasileiro. O tema é polêmico e disobedience in the context of the Brazilian state of law. The theme
atual. Inúmeras notícias foram veiculadas pela imprensa nos últimos is controversial and current. Countless news has been published by
anos, informando que alguns líderes políticos e sindicais estavam the press in recent years, stating that some political and trade union
defendendo a utilização da desobediência civil para que não se leaders were advocating the use of civil disobedience to not
concretizasse o cumprimento da pena criminal imposta materially enforce the criminal penalty imposed by the judicial
judicialmente ao ex-presidente Lula, sob a alegação de que referida Former President Lula, under the claim that this measure was
medida era ilegal e injusta. O método utilizado é o hipotético- illegal and unfair. The method used is the hypothetical-objective,
objetivo, com base na legislação, doutrina e jurisprudência. Conclui based on legislation, doctrine and jurisprudence. It concludes that
que a desobediência civil, espécie de direito de resistência à civil disobedience, a kind of right of resistance to oppression,
opressão, constitui instrumento admissível nos casos de ausência de
sintonia entre o direito e a lei formal, especialmente quando
constitutes an admissible instrument in cases of lack of harmony
between the rights and formal law, especially when objecting to the 172
objetivar coibir o descumprimento de direitos fundamentais pelo breach of fundamental rights by the Government, provided that the
Poder Público, desde que respeitados os limites legais previstos na legal limits laid down in the Federal Constitution are respected.
Constituição Federal.
PALAVRAS-CHAVE: Desobediência Civil. Direito de KEYWORDS: Civil Disobedience. Right of Resistance. Limits to
Resistência. Limites à Desobediência Civil. Limites ao Direito de Civil Disobedience. Limits to the Right of Resistance. Resistance
Resistência. Resistência e Desobediência. and Disobedience.
SUMÁRIO: Introdução. 1 Fundamento filosófico da revolução, da resistência à opressão e da desobediência civil. 2 Direito de resistência
à opressão. 3 Desobediência civil: fundamento, contornos e limites. 4 Conclusão. Referências.
INTRODUÇÃO
*
Pós-Doutor pela Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP). Doutor em Direito do Estado pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUCSP). Professor de Graduação e Pós-graduação (Mestrado) em Direito da
Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP). Professor de Graduação em Direito do Centro Universitário
Adventista de São Paulo (UNASP). Promotor de Justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo
Aposentado. Advogado. E-mail: jaremedio@yahoo.com.br
Doutor em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP). Mestre em Direito pela
Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP). Graduado em Direito pela Universidade Metodista de
Piracicaba (UNIMEP) e em Engenharia Agronômica pela Universidade de São Paulo (USP). Professor do Curso
de Direito do UNASP-EC. Advogado. E-mail: carlos.hees@unasp.edu.br
movimentos sociais passaram a sustentar sua aplicabilidade concreta em discursos e
declarações.
Assim, conforme divulgado pelo jornal Folha de São Paulo em 28-1-2018 (NUNES,
2018), inconformados com a condenação do ex-presidente Lula à pena de doze anos e um mês
de prisão pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, líderes do Partido dos Trabalhadores,
em reunião ocorrida na Praça da República, no Centro de São Paulo, passaram a apregoar que
só havia um caminho para solucionar o problema, ou seja, apostar nas ruas, no enfrentamento
social, na rebelião cidadã e na desobediência civil. Para o senador petista Lindbergh Farias, a
desobediência civil se justificaria no caso de Lula, uma vez que o Poder Judiciário estaria
rompendo com o ciclo democrático e rasgando a Constituição do país. Ainda segundo a matéria
jornalística, cerca de um mês antes da condenação de Lula, o art. 12 da Resolução de 16-12-
2017, do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores, intitulada “Defender Lula é defender
a justiça e a democracia”, alertava que as arbitrariedades do sistema judicial e as mentiras do
oligopólio da mídia poderiam conduzir à desobediência civil. 173
Mesmo que o conceito de desobediência civil possa estar sendo utilizado junto à mídia
de forma amplíssima, inclusive em situações cuja legalidade e justiça dependeriam de provas e
de interpretação jurídica próprias, o estudo sobre a matéria mostra-se bastante atual e relevante,
principalmente quando enfocado como instrumento de defesa dos direitos fundamentais.
A questão noticiada pela imprensa reabre a polêmica sobre a legalidade da
desobediência civil, tornando-se imperioso, nesse contexto, proceder à análise de seus possíveis
fundamentos, contornos e limites.
De uma maneira geral, no âmbito constitucional e político, a desobediência civil insere-
se entre as diversas modalidades do direito de resistência à opressão que, por sua vez, integra o
gênero revolução.
A história da Humanidade é marcada por revoltas e revoluções, muitas vezes fundadas
no direito de autodeterminação do homem e dos povos. Essas lutas, armadas ou não,
organizadas ou não, foram em boa medida um dos pilares das inúmeras mudanças sociais
ocorridas no decorrer da história.
O surgimento do Estado de Direito no século XVIII não só garantiu o controle sobre os
atos do governante, por uma estrutura capaz de fixar e fazer cumprir os princípios e
procedimentos direcionadores do Estado, como também e possibilitou o fornecimento de
instrumentos que passaram a permitir política e juridicamente a implementação de diversas
reformas sociais.
É bem verdade que os registros históricos demonstram a utilização do direito de
resistência e da desobediência civil desde os primórdios da formação da sociedade, ainda que a
realidade jurídica em que tais institutos foram utilizados fosse bastante diferente da realidade
atual.
No decorrer de séculos, muitas das mudanças ocorridas na ordem econômica, jurídica,
social, política e cultural resultaram da resistência de uma camada da população ou de classes
sociais, por se sentirem prejudicadas pela atuação do Poder Público, em especial em face da
violação a seus direitos e garantias fundamentais.
A pesquisa tem como objeto analisar os fundamentos, contornos e limites do direito de
resistência e da desobediência civil no âmbito do Estado de Direito Brasileiro, sem prejuízo da
existência de outros instrumentos no ordenamento jurídico à disposição do indivíduo e da
sociedade para combater as normas tidas como ilegítimas ou injustas. 174
No tocante à estrutura, a pesquisa inicia-se com a análise do fundamento filosófico da
revolução, do direito de resistência e da desobediência civil, com ênfase às correntes filosóficas
do Jusnaturalismo e do Positivismo. Aborda em seguida o direito de resistência à opressão. Por
fim, analisa a questão afeta à desobediência civil, em especial seus fundamentos, contornos e
limites.
A metodologia da pesquisa está centrada no método hipotético-dedutivo, com
características comuns aos métodos indutivo e dedutivo, tomando-se como base a pesquisa
descritiva e usando como procedimentos instrumentais a análise doutrinária, que dá ensejo a
uma pesquisa de diagnóstico, e as análises legislativa e jurisprudencial, que permitem a
pesquisa no campo empírico.
Tem-se, como hipótese, que o direito de resistência à opressão e a desobediência civil
configuram institutos admissíveis no âmbito do ordenamento jurídico brasileiro, em especial
nos casos de ausência de sintonia entre o Direito e a Lei, particularmente quando
fundamentados no descumprimento dos direitos fundamentais pelo Poder Público, desde que
respeitados os limites decorrentes da natureza, estrutura e preservação do Estado de Direito.
1 FUNDAMENTO FILOSÓFICO DA REVOLUÇÃO, DA RESISTÊNCIA À
OPRESSÃO E DA DESOBEDIÊNCIA CIVIL
4 CONCLUSÃO
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