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CEDERJ – CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA

DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DE AULA PARA EAD


(MATERIAL DIDÁTICO IMPRESSO)

CURSO: Engenharia de Produção


DISCIPLINA: Humanidades e Ciências Sociais

CONTEUDISTA: Clarissa Brandão.

Aula 4 – Noções de Direito Administrativo

Meta
Nesta aula iremos apresentar questões introdutórias sobre o direito administrativo.

Objetivos

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

1. Identificar o papel do Direito Administrativo


2. Reconhecer as formas de atuação do Estado por meio da Administração Pública
3. Elencar princípios da Administração Pública.

1.0 Introdução

Você já pensou em como ocorre a ocupação do espaço geográfico que vivemos? Quem
decide onde deve ficar a área residencial, a área comercial? Você já se deu conta de

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que essa decisão não é individual, mas sim coletiva? Ou seja, existe um “ente” que faz
estudos, faz avaliações e a partir destes resultados é que vão sendo distribuídas
autorizações para construções de condomínios residenciais ou shoppings. Dificilmente
um grande empreendedor conseguirá construir um shopping em uma área residencial,
em virtude desse planejamento urbano.
A ocupação do espaço segue uma lógica de beneficiar o que for coletivo em detrimento
dos direitos exclusivamente individuais.
É essa lógica que permite que esse “ente”, que chamamos de Administração, tenha o
poder de desapropriar um determinado espaço, onde havia anteriormente uma vila para
construir uma estrada, uma escola, um estádio. Ou seja, o direito individual da
propriedade privada encontra limites para a sua realização plena. Limites esses que são
impostos pela Administração, representada tanto pelo Governo Federal, Estadual ou
Municipal; que vão refletir o interesse coletivo e se sobrepor aos direitos individuais dos
cidadãos.

E como estas leis incidirão sobre a forma como será feita a desapropriação ou os
valores que o proprietário deverá receber? Ou ainda, os prazos que são estipulados
para a entrega do espaço para a Administração? Todas essas questões são
respondidas e tratadas pelo Direito Administrativo que iremos ver nessa aula.

Outro exemplo para ilustrar o papel do Direito Administrativo na sociedade:


Você deve conhecer alguém que já esteve internado ou fez uma consulta em algum
hospital público ou UPA. Você já pensou em quem fez a compra daquele soro que foi
injetado no paciente? Como a compra foi feita? Quem fez a encomenda e efetuou o
pagamento? Se fossemos nós, pessoas físicas, teríamos ido à farmácia, pedido ao
atendente, recebido o produto e nos dirigido ao caixa para efetuar o pagamento, não é
verdade? Mas todas as compras feitas pela Administração pública não são realizadas
desse modo, porque o seu modo muito particular de compra é determinado por lei que
integra o sistema do Direito Administrativo.

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As leis que regem a vida privada são diferentes das leis que regem a vida pública.
Dizemos que os indivíduos podem fazer tudo que a lei não proíba – ou seja, tem-se
uma margem de escolha e discricionariedade bastante grande. Mas, a Administração
Pública, ao contrário, deve fazer apenas e estritamente aquilo que for previsto na lei. Se
não houver uma lei autorizando a atuação da Administração, ela deve se abster de
praticar determinado ato.
Sabe por que?
Porque o poder da Administração Pública sobre a vida de todos nós é muito grande:
pode definir tributos, pode aplicar multas, pode criar obrigações excessivas, pode
restringir o ir e vir e estamos todos nós sujeitos a esse poder. Assim, esse poder deve
ser restrito a tudo que for determinado pela lei – que, em tese, foi feita por
representantes eleitos por nós para nos governarem.

2.0 Conceito e objetivo do direito administrativo

O Direito Administrativo é o irmão caçula do Direito Constitucional. Nasceu depois da


criação do conceito de Constituição e tem a mesma finalidade que ele: limitar o poder
dos governantes. O Direito Administrativo, todavia é mais específico do que o
Constitucional, pois vai cuidar do dia-a-dia das instituições públicas e de seus
servidores. Seja como cidadão, seja como empresário, algum dia você irá precisar se
relacionar com o governo e ter conhecimentos sobre o direito administrativo irá auxiliar
muito.
Vamos ver o que dizem os grandes estudiosos do Direito Administrativo
(administrativistas famosos) para explicar a disciplina:

- Celso Antonio Bandeira de Mello (2011, p.293): “direito administrativo é o ramo


do direito público que disciplina a função administrativa e os órgãos que a
exercem”.
- Maria Sylvia Zanella Di Pietro (2012, p. 48): "Ramo do direito público que tem
por objeto os órgãos, agentes e pessoas jurídicas administrativas que integram a

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administração pública, a atividade não contenciosa que exerce e os bens que se
utiliza para consecução de seus fins, de natureza pública".
- Odete Medauar (2001, p. 29-30): “o direito administrativo é o conjunto de
normas e princípios que regem a atuação da Administração Pública”.

Analisando os conceitos acima citados, podemos entender que este ramo do Direito
existe para determinar quem são os integrantes da administração pública, quer sejam,
órgãos ou agentes, pessoas físicas ou jurídicas, bem como para regular e regulamentar
todas as suas funções e atribuições.

Repare bem que há muitas semelhanças com o que vimos na aula passada, sobre o
papel do Estado, o surgimento do constitucionalismo e a divisão de poderes. Mas é
preciso que você perceba que o que chamamos de Administração ou Administração
pública é a realização concreta do Estado.
Como você imagina que o Estado atua no exercício de sua função executiva? Por meio
de suas instituições e de seus servidores públicos, tanto em nível federal, quanto
estadual e municipal. Esse dia-a-dia governamental, burocrático, técnico e
administrativo é regido exatamente por essa parte do Direito: o Direito Administrativo.

3.0 Princípios da administração pública

Para você compreender a essência do Direito Administrativo é necessário que você


saiba alguns princípios fundamentais da Administração Pública. Em especial aqueles
trazidos de forma explícita pela Carta Magna/88 e outros, encontrados implicitamente
no diploma constitucional ou mesmo na legislação esparsa e infraconstitucional - todos
eles tratados pela doutrina como basilares à inteligência do Direito Administrativo.
Vamos lá?

3.1 Princípio da supremacia do interesse público

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Por este princípio fica clara a posição da superioridade jurídica da Administração
Pública, em vista de que deve existir uma supremacia do interesse público em relação
ao interesse particular. É bem verdade, que tal superioridade não deve chegar ao total
desrespeito do interesse particular, até porque, a Administração também deve
obediência ao direito adquirido e ao ato jurídico perfeito, nos termos do art. 5º, inciso
XXXVI, da CF/88.

Assim é o entendimento de Mello (2011, p.60):

“Poderá haver um interesse público que seja discordante do


interesse de cada um dos membros da sociedade?
Evidentemente, não. Seria inconcebível um interesse do todo que
fosse, ao mesmo tempo, contrário ao interesse de cada uma das
partes que o compõem. Deveras, corresponderia ao mais cabal
contra-senso que o bom para todos fosse o mal de cada um, isto
é, que o interesse de todos fosse um anti-interesse de cada um.
Embora seja claro que pode haver um interesse público
contraposto a um dado interesse individual, sem embargo, a toda
evidência, não pode existir um interesse público que se choque
com os interesses de cada um dos membros da sociedade.
Esta simples e intuitiva percepção basta para exibir a existência de
uma relação íntima, indissolúvel, entre o chamado interesse
público e os interesses ditos individuais.
É que, na verdade, o interesse público, o interesse do todo, do
conjunto social, nada mais é que a dimensão pública dos
interesses individuais, ou seja, dos interesses de cada indivíduo
enquanto partícipe da Sociedade (entificada juridicamente no
Estado), nisto se abrigando também o depósito intertemporal
destes mesmos interesses, vale dizer, já agora, encarados eles

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em sua continuidade histórica, tendo em vista a sucessividade das
gerações de seus nacionais.”

Resta evidente que o interesse público deve ser aquele que abrange a vontade da
maioria de uma determinada coletividade, em detrimento às vezes da vontade da
minoria. Isso é o que chamamos de democracia – onde a vontade da maioria é
respeitada. O que não deve ocorrer em sistemas democráticos é exatamente o
contrário, ou seja, fazer com que a vontade da minoria supere à vontade da maioria,
pois nesse caso não estaria sendo aplicado o princípio da supremacia do interesse
público e estaríamos diante de outro tipo de regime não democrático, como por
exemplo, a ditadura ou o totalitarismo.

3.2 Princípio da legalidade

O ordenamento jurídico brasileiro está alicerçado de uma forma hierárquica, onde


podemos encontrar normas de hierarquia inferior que devem obediência às normas de
hierarquia superior. Tal escala hierárquica é conhecida como Pirâmide de Kelsen ou
Pirâmide Kelseniana, em homengaem ao jurista e filósofo austríaco Hans Kelsen que
procurou explicar o fenômeno jurídico a partir do estudo das normas postas ou
positivadas pela autoridade soberana de determinada sociedade.

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Figura 4.1: Pirâmide de Kelsen
Fonte:
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Ordenamento_juridico.svg#/media/File:Ordena
mento_juridico.svg
Autor: André Koehne

Por favor, diagramação, adaptar a figura acima.

Genericamente falando, encontramos no topo desta pirâmide abstrata, a Constituição


Federal, com o conjunto de normas mais importantes dentro de nosso ordenamento
jurídico; logo abaixo, as leis, e em sua base, as demais normas complementares.

O princípio da legalidade faz parte dos princípios gerais do Direito, devendo ser
aplicado por todos os seus ramos indistintamente, assim, todos, sociedade e estado
devem obediência, em princípio, a todo o ordenamento jurídico.

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É bem verdade, que a legalidade para a Administração Pública é um pouco diferente da
legalidade para o particular, pois enquanto este poderá fazer tudo aquilo que não está
proibido pela lei, para a Administração Publica somente é permitido fazer o que a lei
autoriza.
Assim, podemos entender que qualquer ato de agente público somente poderá ser
considerado válido se for praticado, mediante autorização legal.

Para Hely Lopes Meirelles (2011, p. 89),

“[...] a legalidade, como princípio de administração significa que o


administrador público está, em toda a sua atividade funcional,
sujeito aos mandamentos da lei e às exigências do bem comum, e
deles não se pode afastar ou desviar, sob pena de praticar ato
inválido e expor-se a responsabilidade disciplinar, civil e criminal,
conforme o caso (...).
Na administração pública não há liberdade nem vontade pessoal.
Enquanto na administração particular é lícito fazer tudo o que a lei
não proíbe, na Administração Pública só é permitido fazer o que a
lei autoriza. A lei para o particular significa “pode fazer assim”,
para o administrador público significa “deve fazer assim”.”

Portanto, dizer que a Administração Pública está em completa submissão legal,


significa afirmar que além de obedecer aos ditames legais, somente pode praticar os
seus atos, com a devida autorização expressa em lei. Vamos pensar em um exemplo:
como faz um indivíduo para abrir um negócio? Ele chama um sócio e vai ao cartório (no
caso, na Junta Comercial estadual que a empresa funcionará) para abrir uma empresa,
correto? E o Estado, como faz para cria uma empresa estatal? Ela tem que ser criada
por meio de uma lei (ou seja, depende da aprovação do Congresso Nacional para a
criação da mesma, já que o Congresso é que aprova todas as nossas leis). Veja, por
exemplo, os Correios que é uma empresa pública, prestadora de serviços que foi criada

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por meio do Decreto-Lei n° 509, de 1969. A SABESP e a CEMIG são exemplos de
empresas públicas estaduais.

3.3 Princípio da impessoalidade

Sabemos que a Administração Pública, deve ter como objetivo primordial o interesse
público, na busca incessante das melhores alternativas para atender aquela
determinada coletividade, em caráter comum.
Todos os princípios administrativos estão intimamente ligados, um completando o outro.
Assim, também se apresenta o princípio da impessoalidade, igualmente chamado de
princípio da finalidade, que decorre diretamente do princípio da legalidade.

O atuar do agente público com impessoalidade, significa que seus atos deverão ser
sempre com o intuito de satisfazer os interesses coletivos - mesmo que, às vezes, tais
atos impliquem um prejuízo ou mesmo em um benefício direto de certo interesse
particular, mas alcançado indistintamente, pois a proibição é que sejam obtidos de
maneira premeditada; mesmo como pano de fundo do ato administrativo aplicado.

Desse modo, podemos entender impessoalidade também como imparcialidade e


isonomia, pois, a administração pública está submissa à lei, independentemente de
quem sejam os beneficiados ou prejudicados. Agindo assim os próprios interesses do
Estado, na condição de pessoa jurídica, restarão também satisfeitos.

Colecionamos algumas disposições da Lei 8.112/90 que visam à proibição de certos


atos, entendendo que sua prática afronta o princípio da impessoalidade:

"Art. 117. Ao servidor é proibido:


[...]
V - promover manifestação de apreço ou desapreço no recinto da
repartição;

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[...]
VII - coagir ou aliciar subordinados no sentido de filiarem-se a
associação profissional ou sindical, ou a partido político;
VIII - manter sob sua chefia imediata, em cargo ou função de
confiança, cônjuge, companheiro ou parente até o segundo grau
civil;
IX - valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem,
em detrimento da dignidade da função pública;
[...]
XI - atuar, como procurador ou intermediário, junto a repartições
públicas, salvo quando se tratar de benefícios previdenciários ou
assistenciais de parentes até o segundo grau, e de cônjuge ou
companheiro;
[...]
XVI - utilizar pessoal ou recursos materiais da repartição em
serviços ou atividades particulares; "

Particularmente sobre a questão do nepotismo que ainda é muito discutida e causa


polêmica, a Lei 8.112/90 proíbe apenas o nepotismo direto, ou seja, a designação de
cônjuge, companheiro e parentes para cargos públicos no órgão.
Em virtude de tantas discussões acerca do nepotismo o STF editou a Súmula
Vinculante 13, ampliando essa vedação:

"A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta,


colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da
autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica,
investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o
exercício de cargo em comissão ou de confiança, ou, ainda, de
função gratificada na Administração Pública direta e indireta, em
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e

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dos municípios, compreendido o ajuste mediante designações
recíprocas, viola a Constituição Federal ".

INÍCIO DO VERBETE ATENÇÃO


Nepotismo é uma prática conhecida como o aproveitamento que uma pessoa faz por
estar em um determinado cargo para contratar familiares. Por exemplo, se uma pessoa
trabalha no RH de uma empresa privada e se aproveita desse cargo para contratar seu
pai, sua irmã e seu marido, essa prática pode ou não ser permitida na empresa – que
pode até ela mesma, ser uma empresa familiar. Mas isso é terminantemente proibido
no serviço público, uma vez que o servidor público gerencia dinheiro público, que
pertence a todos os cidadãos e, portanto, não pode utilizá-lo para benefícios pessoais.

O dicionário Michaelis define nepotismo como sendo: “1 Excessiva influência que os


sobrinhos e outros parentes dos papas exerceram na administração eclesiástica. 2
Favoritismo de certos governantes aos seus parentes e familiares, facilitando-lhes a
ascensão social, independentemente de suas aptidões.”
O chamado nepotismo cruzado ou indireto ocorre quando um servidor contrata a filha
ou filho de outro servidor que irá lhe prestar o mesmo favor.”
FINAL DO ATENÇÃO

Assim, a proibição para a prática do nepotismo é muito maior, abrangendo todas as


entidades da administração direta e indireta de todos os entes federativos. Ao mesmo
tempo, estende a proibição aos parentes de terceiro grau, proibindo também aquelas
situações de designações recíprocas, quando um agente público utilizando-se de sua
influência, faz com que outro agente público nomeie em cargo de comissão ou de
confiança alguma pessoa dentro do rol de proibição em função não subordinada
diretamente a ele, prática conhecida como nepotismo cruzado.

3.4 Princípio da moralidade

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Não há como pensarmos em moralidade, sem que nos venham em mente os conceitos
de probidade e de honestidade, pois estes conceitos estão intimamente ligados, e
completando-se um ao outro.

Para a Administração Pública, trabalhar com moralidade é desempenhar sua função


dentro dos padrões de comportamento estabelecidos pela coletividade a quem tenha
que atender, por mais que sejam de certa forma abstratos, compreendidos dentro da
ética, do decoro e da boa-fé, fazendo o melhor e mais útil para o bem comum.
A CF/88 considera as hipóteses de imoralidade (= improbidade) como crime, portanto, é
ato ilegal e está sujeito ao controle judicial.

Presume-se ato de improbidade, por exemplo:


 Venda de bem público abaixo do valor de mercado;
 Compra de bens acima do valor de mercado (superfaturamento).

Ao analisarmos a Lei nº 8.429/92 - Lei de Improbidade Administrativa verificaremos


algumas situações caracterizadas como atos de improbidade administrativa, assim
elencados:

“Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa importando enriquecimento ilícito


auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo,
mandato, função, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no art. 1° desta lei
[...].
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer
ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação,
malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º
desta lei [...].
Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da
administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade,
imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições [...].”

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3.5 Princípio da publicidade

É o dever de transparência, que deve a Administração Pública aos seus administrados.


Todos os atos praticados pela Administração Pública devem, salvo algumas situações
peculiares, ser publicados, pois a coletividade tem o direito de saber o que o agente
público está fazendo, até mesmo para poder, contestá-los, se entender que algo não
está correto.

Nesse sentido reza o Decreto nº 1.171, de 22 de junho de 1994 (Código de Ética


Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal):
“VII - Salvo os casos de segurança nacional, investigações policiais ou interesse
superior do Estado e da Administração Pública, a serem preservados em processo
previamente declarado sigiloso, nos termos da lei, a publicidade de qualquer ato
administrativo constitui requisito de eficácia e moralidade, ensejando sua omissão
comprometimento ético contra o bem comum, imputável a quem a negar.”

Assim, podemos depreender que a publicidade dos atos da Administração Pública


possibilita o controle pelo administrado do ato praticado ou por quem de direito, ao
mesmo tempo em que lhe confere eficácia, obrigando a todos os seus destinatários. Ou
seja, todos os indivíduos que são afetados por um determinado ato da Administração
Pública tomam ciência do referido ato por meio da publicação dos mesmos nos jornais
específicos (Diários Oficiais) e assim, além de saberem do referido ato, também podem
contestá-lo, seja perante a própria Administração, ou na Justiça.

3.6 Princípio da eficiência

Último dos princípios administrativos a ser inserido explicitamente na CF/88, através da


EC-19.

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A eficiência traz consigo os requisitos da perfeição técnica, da produtividade, da
presteza, da produtividade, da qualidade e da adequabilidade. Isso nos leva ao
entendimento de que deva ser compreendida como a relação entre os resultados
obtidos e os recursos empregados. O agente público deve se utilizar do menor número
de recursos possíveis, mas mesmo assim, garantir o maior número de resultados.

Aplicar o princípio da eficiência na administração pública, é fazer com que o agente


público, faça o mais, com o menos.

Atividade 1 – Objetivo 03

Você pode estar pensando que apesar de proibidas, certas práticas parecem que
nascem com o próprio exercício do cargo público, não é verdade? Mas vejam os
trechos das notícias abaixo:

A existência de órgãos de controle e de uma legislação que puna tais práticas ajudam a
evitar que tais práticas se propaguem e que a impunidade reine. De que modo você

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acredita que o nepotismo no serviço público possa prejudicar os cidadãos? Quais são
os princípios do Direito Administrativo que esta prática viola?

8 linhas para resposta

Resposta comentada:

Você precisa demonstrar que entendeu a conexão que existe entre a prestação do
serviço público que é feita em benefício e em prol dos cidadãos por meio da
Administração Pública e a necessidade da Administração cumprir exatamente as leis
que lhe são designadas. O nepotismo no serviço público é proibido. Tal prática importa
ganhos pessoais e familiares por parte de um indivíduo que se encontra no serviço
público, à custa de verbas públicas pagas por todos nós. Além disto, tal prática viola os
princípios da legalidade (por afronta a lei que proíbe tal prática), da impessoalidade
(pois a escolha do indivíduo é feita em razão de seu parentesco), e da moralidade (pois
trata-se de uma prática desonesta)

4.0 Administração pública

De forma genérica é o nome dado a todos os órgãos, agentes e pessoas jurídicas, que
têm como objetivo desempenhar a função administrativa do Estado.
De acordo com o art. 18, da CF/88, a organização político-administrativa do Brasil
compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos
nos termos da Constituição.
A partir dessa determinação constitucional, chegamos a uma primeira classificação da
Administração Pública que compreende a:

 Administração Federal.
 Administração Estadual.
 Administração do Distrito Federal.

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 Administração Municipal.

Sendo que cada uma destas Administrações está subdividida em Administração Direta
e Administração Indireta.

4.1 Administração Pública Direta

Por Administração Pública Direta vamos entender todos os serviços ligados e


integrados à estrutura administrativa do chefe do Poder Executivo e de seus ministérios
no âmbito da Administração Federal, e por simetria estendido aos estados, Distrito
Federal e aos municípios, são os chamados os órgãos públicos.
Vemos aqui a figura da desconcentração, que é a distribuição do serviço dentro da
mesma pessoa jurídica, mantendo-se a hierarquia, pois significa somente uma divisão
de tarefas no âmbito interno do ente público.

Para Hely Lopes Meirelles (2011, pgs. 68/69), órgãos públicos:

“São centros de competência instituídos para o desempenho de


funções estatais, através de seus agentes, cuja atuação é
imputada à pessoa jurídica a que pertencem. São unidades de
ação com atribuições especificas na organização estatal [...]. Os
órgãos integram a estrutura do Estado e das demais pessoas
jurídicas como partes desses corpos vivos, dotados de vontade e
capazes de exercer direitos e contrair obrigações para a
consecução de seus fins institucionais. Por isso mesmo, os órgãos
não têm personalidade jurídica nem vontade própria, que são
atributos do corpo e não das partes.”

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Não tendo personalidade jurídica, os órgãos públicos não têm como assumir direitos e
obrigações, assim, quando atuam não possuem vontade própria, expressando tão
somente a vontade do ente ou da entidade a que se vinculam.

4.2 Administração pública indireta

Já as entidades que fazem parte da Administração Pública Indireta são dotadas de


personalidade jurídica própria, ou seja, podem assumir direitos e obrigações, e de
acordo com o art. 4º, inciso II do Decreto-Lei nº 200/67, são as autarquias, as empresas
públicas, as sociedades de economia mista e as fundações públicas, determinando a
CF/88 em seu artigo 37, inciso XIX, que “somente por lei específica poderá ser criada
autarquia e autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de economia
mista e de fundação [...].”

Observamos aqui a chamada descentralização do poder, onde há uma distribuição de


competências, de responsabilidades de uma para outra pessoa jurídica, sendo tais
entidades, componentes da Administração Pública indireta, dotadas de
autoadministração.

4.2.1 Autarquias

São pessoas jurídicas de direito público, sendo que o seu servidor é ocupante, pelo
menos em princípio, de cargo público, pelo regime jurídico único, conhecido como
estatutário. Porém, após a Emenda Constitucional nº 19/98, desvinculou-se seu regime
de pessoal da Administração Pública Direta, podendo as autarquias, admitir pessoal
também pelo regime de emprego público, regido pela CLT, desde que previsto em lei.

Segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro (2012, p.426), autarquia é a “Pessoa jurídica de
direito público, criada por lei, com capacidade de autoadministração, para o
desempenho de serviço público descentralizado, mediante controle administrativo

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exercido nos limites da lei. São exemplos de autarquias federais, as Universidades
Federais, os Conselhos Federais das categorias profissionais, bem como as Agências
Reguladoras, entre outras.

4.2.2 Empresas públicas

São pessoas jurídicas com personalidade jurídica de direito privado, tendo patrimônio
próprio e capital exclusivo da União.
São criadas obrigatoriamente por lei para a exploração de atividade econômica que o
Estado seja levado a exercer por força de contingência ou de conveniência
administrativa podendo revestir-se de qualquer das formas admitidas em direito, como a
sociedade anônima (S/A), sociedade por cotas de responsabilidade limitada (Ltda.), etc.
Muito embora sejam criadas para desenvolver uma atividade econômica, dentro
daquelas previstas no artigo 173 da CF/88, também pode prestar serviços públicos
estabelecidos pelo artigo 175, também da Carta Magna.
Em relação ao seu pessoal, são ocupantes de emprego público, sendo que para sua
investidura, terão a necessidade de passar por concurso público.
O seu regime jurídico é o mesmo das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos
e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários, conforme determinação
constitucional do art. 173, §1º, inciso II, e §2º.
Como exemplos de empresas públicas federais, podemos encontrar a Caixa Econômica
Federal (CEF), a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) e o Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), dentre outras.

4.2.3 Empresas de economia mista

São pessoas jurídicas com personalidade jurídica de direito privado, criada por lei para
a exploração de atividade econômica, sob a forma unicamente de sociedade anônima
(S/A), cujas ações com direito a voto pertençam em sua maioria à União ou a entidade
da Administração Indireta, podendo, portanto ter também capital privado. O fato de não

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ser composta exclusivamente com dinheiro público é o que a diferencia das empresas
públicas, pois o “mista” do nome corresponde a parcela do capital que é de origem
privada.
Na mesma forma das empresas públicas, seu pessoal, é ocupante de emprego público,
tendo a necessidade de passar por concurso público para sua investidura.
Como também seu regime jurídico é o mesmo das empresas privadas, inclusive quanto
aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários, conforme
determinação constitucional do art. 173, §1º, inciso II, e §2º, podendo desenvolver uma
atividade econômica, dentro daquelas previstas no mesmo artigo 173 da CF/88, além
de poderem prestar serviços públicos estabelecidos pelo artigo 175, também da Carta
Magna.

Encontramos exemplos de empresas de economia mista no âmbito federal, como o


Banco do Brasil S/A, a Petróleo Brasileiro S/A (Petrobrás) e a Centrais Elétricas
Brasileiras S/A (Eletrobrás), dentre outras.

4.2.4 Fundações públicas

São pessoas jurídicas com personalidade jurídica de direito privado, pelo é o que
determina o Decreto-Lei nº 200/67 em seu artigo 5º, inciso IV, mas a doutrina
majoritária entende que também faz parte do direito público, dependendo de como foi
criada.
Nesse sentido Di Pietro (2012, p. 414) leciona:

“Quando o Estado institui pessoa jurídica sob a forma de


fundação, ele pode atribuir a ela regime jurídico administrativo,
com todas as prerrogativas e sujeições que lhe são próprias, ou
subordiná-la ao Código Civil, neste último caso, com derrogações
por normas de direito público. Em um e outro caso se enquadram
na noção categorial do instituto da fundação, como patrimônio

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personalizado para a consecução de fins que ultrapassam o
âmbito da própria entidade.”

As Fundações públicas não têm fins lucrativos, e são criadas para desenvolver
atividades que não exijam execução por órgãos ou entidades de direito público, com
autonomia administrativa, patrimônio próprio gerido pelos respectivos órgãos de
direção, e funcionamento custeado por recursos do Estado e de outras fontes.
Seu servidor é ocupante de cargo público regido pelo regime jurídico único, conhecido
como estatutário. Entretanto, como no caso das autarquias, após a Emenda
Constitucional nº 19/98, desvinculou-se seu regime de pessoal da Administração
Pública direta podendo admitir pessoal também pelo regime de emprego público, regido
pela CLT, desde que previsto em lei. São exemplos de fundações públicas federais: a
Fundação Biblioteca Nacional, Fundação Casa de Rui Barbosa, a Fundação Nacional
de Artes (FUNARTE), Fundação Osvaldo Cruz (FIOCRUZ), dentre outras.

4.4 Poderes da Administração Pública

Os poderes administrativos são em verdade poderes-deveres, pois são instrumentos


colocados à disposição da Administração Pública para que esta possa realizar as suas
funções com o intuito de satisfazer as necessidades coletivas, atendendo, por
conseguinte o interesse público; tendo a obrigação de utilizá-los.
Esses poderes possuem como característica a obrigatoriedade, sendo encarada como
um dever, além de serem irrenunciáveis; cabendo responsabilização se não forem
exercidos dentro dos parâmetros legais. Dentre os poderes da Administração Pública,
destacam-se o:

Poder vinculado: Também denominado de poder regrado, determina um único


comportamento possível a ser tomado pelo administrador diante de casos concretos,
aquele vinculado estritamente à lei, sem a possibilidade de qualquer juízo de valores,

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não dando ao agente público nenhuma liberdade para um juízo de conveniência e
oportunidade. Pois se praticar algum ato em desconformidade com lei, o mesmo poderá
ser considerado inválido. Trazemos como exemplo o ato de desapropriação de um bem
particular, que poderá ser perfeitamente legal, inclusive com amparo constitucional,
desde que atendidos os requisitos constantes no ordenamento jurídico. Caso contrário,
se deixar de atender ao previsto na lei, desvinculando-se do seu padrão, poderá ser
declarado nulo pela Administração ou pelo Poder Judiciário.

Poder discricionário: Da mesma forma como no poder vinculado, o poder


discricionário da Administração Pública também deve submissão à lei, mas aqui com
certa liberdade, pois pode atuar conforme o seu juízo de conveniência e oportunidade,
tendo a prerrogativa de escolher entre pelo menos duas alternativas aquela que
segundo seu entendimento, possa melhor atender o interesse público. Como exemplo
está a nomeação para cargo em comissão, onde o administrador público dentro de sua
liberdade de escolha, ou seja, pode nomear ou não aquele que for de sua confiança,
não se precisando fazer qualquer outra seleção, tudo amparo pela lei.

Poder hierárquico: É o poder dado ao administrador público para escalonar e


distribuir as funções dentro de seus órgãos, ordenar as tarefas aos
subalternos, como também o poder de rever suas atuações. Existindo, portanto, e tal
qual a pirâmide hierárquica do ordenamento jurídico - quando a base deve obrigação ao
ápice - uma relação completa subordinação. Um bom exemplo é a estrutura municipal,
onde no ápice está o Prefeito, vindo a seguir o Secretário da Saúde, logo abaixo o
Diretor de Saúde, em seguida o Coordenador de Saúde e assim por diante.

Poder disciplinar: Se o administrador público pode através de seu poder


hierárquico ordenar e escalonar seus órgãos, verificando se os demais agentes estão
cumprindo suas funções como determina a lei, poderá também exercer o poder
disciplinar, que lhe é conferido, dando-lhe a permissão de punir, de apenar a prática de
infrações cometidas pelos demais servidores.

21
Poder regulamentar: É o poder atribuído ao administrador público para a
edição de portarias, decretos e regulamentos para melhor atender os ditames
legais.

Poder de polícia: A Administração Pública pode restringir, limitar, frear os


direitos e as atividades desenvolvidas pelo particular, a bem do interesse público. Tal
poder é definido pelo Código Tributário Nacional, em seu artigo 78:

“Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que,


limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática
de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à
segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e
do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de
concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao
respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos”.

Melhor explica o insigne Hely Lopes de Meirelles (2011, p. 135), “poder de polícia é a
faculdade de que dispõe a Administração Pública para condicionar e restringir o uso e
gozo de bens, atividades e direitos individuais, em benefício da coletividade ou do
próprio Estado”.

4.5 Atividade administrativa

Atividade administrativa é toda aquela praticada através do ato administrativo que


segundo Hely Lopes Meirelles (2011, p.154), “é toda manifestação unilateral da vontade
da Administração Pública, que agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato adquirir,
resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos, ou impor obrigações aos
administrados e a si própria”.

22
4.5.1 Requisitos do ato administrativo

Competência: A competência do ato administrativo é relacionada ao sujeito


que pratica o ato. É por assim dizer, condição para a própria validade do ato
administrativo, sendo o primeiro dos elementos a serem analisados no exame de um
ato administrativo, pois de praticado por agente incompetente, será inválido. Essa
competência resulta de lei e é atribuída pela Administração aos seus agentes públicos,
por:
a) quantidade: como no caso do governador de estado, que possui competência
maior do que aquela destinada a seus secretários, e
b) por qualidade, quando o agente possui determinada especialidade profissional,
como no caso de advogados e médicos.

Finalidade: O fim, a finalidade, o objetivo do ato administrativo será sempre o


interesse público. Destarte, o agente público estará sempre vinculado a esta
prática, e, por conseguinte, não sendo o ato administrativo praticado com esta sem
finalidade, será declarado nulo. Salientamos que a finalidade do ato administrativo
deverá estar indicada na lei, pois o agente público somente pratica seus atos mediante
autorização legal, e se assim não for, poderemos estar diante de um claro desvio de
poder.

Forma: É a maneira pela qual se reveste o ato administrativo. Sabemos que


para o particular o ato jurídico poderá ser praticado através de uma forma
prescrita ou pelo menos que não seja defesa em lei. Mas a forma com que o ato
administrativo deve praticado precisa estar indicada na lei e como regra deverá ser por
escrito. Poderá, eventualmente ocorrer através da forma oral, ou mesmo por sinais
convencionais, mas em casos extraordinários e em caráter de urgência, sob pena de
invalidade do ato - como o exemplo do guarda ou policial de trânsito quando determina
a parada de um veículo através de um simples.

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Motivo: É o fato que permite a autoridade realizar do ato administrativo. Pode ser:

a) legal ou de direito, quando vinculado e expressamente determinado por lei, ou


b) discricionário ou de fato, quando a critério do administrador, mesmo que com
previsão legal atender a proporcionalidade, a conveniência e a oportunidade.
Esclarecemos que o ato discricionário, devidamente motivado, vincula o agente
público ao motivo que o originou.

Objeto: Não se pode confundir o objetivo com o objeto do ato administrativo,


enquanto aquele é a finalidade, este é o conteúdo do ato. É através do
conteúdo do ato que a Administração Pública manifesta seu poder e sua vontade, ou
atesta situações preexistentes. Todo ato administrativo tem por objeto a criação,
modificação, a extinção ou a certificação de fatos ou circunstâncias relativos às pessoas
ou as coisas, ou mesmo, relativas às atividades sujeitas à intervenção ou a qualquer
ação do Poder Público.

4.5.2 Atributos do ato administrativo

Imperatividade ou coercibilidade: Os atos administrativos obrigam a todos que


estejam dentro de seu campo de incidência, mesmo que possam contrariar
certos interesses privados, por isso são chamados de cogentes. Em certas situações o
ato administrativo não se mostra tão coercitivo, pois não se faz necessário, pois às
vezes é um mero consentimento, revelado através de uma autorização ou de uma
permissão, atendendo diretamente a um interesse particular. Mas terá também nesses
casos a imperatividade determinando os parâmetros e obrigações que o particular terá
que obedecer dentro do que lhe foi concedido.

Presunção de legitimidade: Presume-se que o ato administrativo quando


praticado, esteja dentro dos parâmetros legais, tendo sido autorizado por lei e
praticado por agente competente. Mas sua presunção é iuris tantum, ou seja, é relativa,

24
podendo ser revista, quando o administrado provar que o ato afrontou às determinações
legais. O ônus é do administrador, que terá que fazer prova da ilegitimidade do ato,
requerendo ao Poder Judiciário que o reveja, podendo anulá-lo ou invalidá-lo.

Autoexecutoriedade: Para Marçal Justen Filho (2011, p.377) só deve ser


aplicada em situações excepcionais e observados os princípios da legalidade
e da proporcionalidade. Assim, também na autoexecutoriedade deverá existir previsão
legal para a prática do ato administrativo, e mesmo assim só deverá ser aplicada
quando não existir outra alternativa menos lesiva.

4.5.3 Modalidades de extinção do ato administrativo

Extinção natural: Quando o ato cumpre os seus efeitos, os seus objetivos, e


naturalmente é extinto.

Retirada: Por alguns motivos o ato pode ser retirado, quer seja, pela
revogação, pela anulação, pela cassação, pela caducidade, ou mesmo
convalidação - que veremos mais adiante.

Revogação: Por motivos de conveniência e oportunidade, exercendo sua


discricionariedade, a administração poderá revogar um ato válido, desde que
motivadamente, dando a quem tenha interesse a garantia da ampla defesa e do
contraditório. Os efeitos da revogação são ex nunc, ou seja, passarão a ter validade a
partir da de sua publicação, permanecendo válidos todos os efeitos gerados até então.

Anulação ou invalidação: É a retirada do ato por razões de ilegalidade quando o


mesmo possuir vícios insanáveis. Tal anulação pode ser efetuada de ofício pela
Administração, ou quando provocado pelo administrado, que poderá também pleitear
junto ao Poder Judiciário. Os efeitos da anulação são extunc, ou seja, sendo anulado o
ato, a anulação retroagirá abrangendo todos os efeitos gerados pelo ato anulado.

25
Cassação: É a forma de extinção do ato administrativo que se aplica quando o
beneficiário de determinado ato descumpre condições que permitem a manutenção do
ato e seus efeitos. É um ato vinculado e de natureza jurídica sancionatória, pois pune
de certa forma quem deixou de cumprir as condições predeterminadas pelo ato
cassado.

Caducidade ou decaimento: A retirada de um ato por caducidade acontece


quando supervenientemente um novo diploma legal passa a entrar em vigor,
impedindo a permanência da situação anteriormente consentida.

Convalidação: Não se trata de extinção propriamente dita do ato administrativo,


mas sim de uma maneira de validar o ato que tenha algum vício sanável,
podendo a administração confirmá-lo no todo ou pelo menos em parte, convalidando-o
por ratificação, pela reforma ou pela conversão.

Se você chegou até aqui, já entendeu muita coisa sobre o funcionamento da


Administração Pública e do Direito Administrativo: parabéns!! Agora você estudará
sobre a principal modalidade de contratação da Administração: a licitação. Esse tema é
bastante importante, pois sinaliza para você os caminhos por meio dos quais a
Administração realiza suas atividades econômicas e empresariais.

5.0 Licitações

O Estado, como poder público, tem como maior obrigação, a satisfação das
necessidades coletivas, ou seja, zelar pelo interesse coletivo. Nesse sentido colhemos
o entendimento de Odete Medauar: “A defesa do interesse público levou a atribuição de
prerrogativas à Administração, que é parte do contrato, sem sacrifício de direitos
pecuniários do particular.” (MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. 15ª. ed.
São Paulo: RT, 2011, pág. 229).

26
Acontece que o Estado não se basta para cumprir esta obrigação; necessitando no
mais das vezes da colaboração de terceiros para o fornecimento de serviços e de bens.
Para tanto, firma como os mesmos os chamados contratos administrativos, regidos e
determinados pela legislação em vigor.
Para que possam ser pactuados, tais contratos devem se submeter a um procedimento
administrativo de disputa entre os concorrentes, denominado licitação, onde a
Administração Pública selecionará dentre todas as propostas apresentadas, aquela que
melhor atender o interesse público, baseando-se nos princípios gerais do Direito
Administrativo e nos princípios especiais da licitação pública.
O dever de licitar está expressamente prescrito pela CF/88, em seu artigo 37, inciso
XXI, nos seguintes termos:

Art. 37.
[...]
XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e
alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure
igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam
obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da
lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica
indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.

De maneira bem clara, o ditame constitucional em evidência, determina a


obrigatoriedade, pelo menos como regra, da Administração Pública proceder à licitação
quando precisar contratar com terceiros obras, serviços, compras e alienações.

Podemos conceituar a licitação pública como sendo um procedimento administrativo


anterior ao contrato administrativo, composto de uma série de atos com o objetivo de
selecionar a melhor proposta oferecida pelo particular, que futuramente poderá
contratar com a Administração Pública.

27
Segundo José dos Santos Carvalho Filho (2013, pgs.209/210), licitação é,
"o procedimento administrativo vinculado por meio do qual os
entes da Administração Pública e aqueles por ela controlados
selecionam a melhor proposta entre as oferecidas pelos vários
interessados, com dois objetivos – a celebração de contrato, ou a
obtenção do melhor trabalho técnico, artístico ou científico."

Reforçando o conceito, é importante salientar a necessidade que tem a administração


pública em passar por tal procedimento, para que possa contratar com terceiros a
compra de bens e serviços.

5.1 Modalidades de licitação

As modalidades de licitação são as espécies existentes dentro do ordenamento jurídico


que regulamentam os procedimentos licitatórios, cada qual com suas particularidades e
peculiaridades definidas pela legislação que a comportem.
Dentro dessas particularidades podemos citar os valores definidos para a concorrência,
tomada de preços e convite, bem como as situações de dispensa e inexigibilidade de
licitação, entre outras.

Atualmente, as modalidades existentes, são as seguintes:

a) concorrência;
b) tomada de preços;
c) convite;
d) concurso;
e) leilão;
f) pregão;
g) regime diferenciado de contratações.

28
5.1.1 Concorrência

Concorrência é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados que, na fase


inicial de habilitação preliminar, comprovem possuir os requisitos mínimos de
qualificação exigidos, no edital, para execução de seu objeto, conforme preconiza o art.
22, § 1º, da Lei nº. 8.666/93.

5.1.2 Tomada de Preços

Tomada de preços é a modalidade de licitação entre interessados devidamente


cadastrados, ou que atenderem a todas as condições exigidas para cadastramento, até
o terceiro dia anterior à data do recebimento das propostas, observada a necessária
qualificação, conforme preceitua o art. 22, § 2º, da Lei nº. 8.666/93.

5.1.3 Convite

Convite é a modalidade de licitação entre interessados do ramo pertinente ao seu


objeto, cadastrados ou não, escolhidos e convidados em número mínimo de 3 (três),
pela unidade administrativa, a qual afixará, em local apropriado, cópia do instrumento
convocatório, e o estenderá aos demais cadastrados na correspondente especialidade,
que manifestarem seu interesse com antecedência de até 24 (vinte e quatro) horas da
apresentação das propostas, conforme estabelece o art. 22, § 3º, da Lei nº. 8.666/93.

5.1.4 Concurso

Concurso é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados para escolha de


trabalho técnico, científico ou artístico, mediante a instituição de prêmios, ou
remuneração aos vencedores, conforme critérios constantes de edital publicado, na
imprensa oficial, com antecedência mínima de 45 (quarenta e cinco) dias, conforme

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preconiza o art. 22, § 4º, da Lei nº. 8.666/93. Os concursos públicos para provimento de
cargos na área federal, estadual e municipal são um exemplo desta modalidade de
licitação.

5.1.5 Leilão

Leilão é a modalidade de licitação, entre quaisquer interessados para a venda de bens


móveis inservíveis para a Administração, ou de produtos legalmente apreendidos ou
penhorados, ou para a alienação de bens imóveis, prevista no art. 19, da Lei de
Licitações, a quem oferecer o maior lance, igual ou superior ao valor da avaliação,
conforme prescreve o art. 22, § 5º, da Lei nº. 8.666/93.

5.1.6 Pregão

Pregão é a modalidade de licitação em que a disputa pelo fornecimento de bens ou


serviços comuns é feita em sessão pública, por meio de propostas de preços escritas e
lances verbais, ou por via eletrônica, esta modalidade diferentemente das demais, é
regulamentada pela Lei nº. 10.520/02.
Em 2005, foi criado a versão eletrônica do pregão, por meio do Decreto n° 5.450 que
tem garantido uma certa agilidade nos processos de compra governamentais. A
principal diferença é que a forma utilizada para a realização o pregão eletrônico é a
tecnologia, pois ele é feito em uma plataforma da web e aberta a quem tiver interesse
em participar.

Início do Box multimídia


Nos links selecionados abaixo você poderá ter uma ideia de como funciona um pregão
eletrônico:
DNIT: http://www.dnit.gov.br/licitacoes/minutas-de-edtais-padrao/editais-pregao
FNDE: http://www.fnde.gov.br/portaldecompras/index.php/editais/pregoes-
eletronicos/item/963-pregao-eletronico-n-38-2014-registro-de-precos

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Fim do Box multimídia

5.1.7 Regime diferenciado de contratações – RDC

Nova modalidade de licitação, instituída através da Lei nº. 12.462/11, tendo como
objetivo maior, a competitividade e a ampliação da eficiência nas contratações públicas.
É aplicável, pelo menos, por enquanto, exclusivamente às licitações e contratos
necessários à realização:

• Dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016;


• Da Copa das Confederações da Federação Internacional de Futebol Associação
- Fifa 2013;
• Da Copa do Mundo Fifa 2014;
• De obras de infraestrutura e de contratação de serviços para os aeroportos das
capitais dos estados da federação distantes até 350 km das cidades sedes dos
mundiais;
• Das ações integrantes do Programa de Aceleração do Crescimento - PAC;
• Das obras e serviços de engenharia no âmbito do Sistema Único de Saúde -
SUS;
• Às licitações e contratos necessários à realização de obras e serviços de
engenharia no âmbito dos sistemas públicos de ensino.

Assim, entendemos que o grande diploma legal que regulamenta as licitações continua
sendo a Lei nº. 8.666/93. Mas, com o advento da lei nº. 12.462/11, nós acreditamos que
uma nova mentalidade está sendo criada a respeito das licitações públicas,
especialmente no que concerne a celeridade e efetividade nas contratações. Isso o que
provavelmente refletirá nas demais situações.

6.0 Contrato administrativo

31
Qualquer que seja o contrato, este é uma convenção estabelecida entre duas ou mais
pessoas para constituir, regular ou extinguir entre elas uma relação jurídica. O contrato
administrativo também pode e deve ser pensado dessa maneira.

De acordo com Hely Lopes Meirelles, (2011, p. 199):


“Contrato administrativo é o ajuste que a Administração Pública,
agindo nessa qualidade, firma com outra entidade administrativa
para a consecução de objetivosde interesse público, nas
condições estabelecidas pela própria Administração”.

Assim, a licitação é o antecedente necessário do contrato administrativo; o contrato é o


consequente lógico da licitação.

6.1 Requisitos

É imprescindível:
 acordo de vontades,
 agente capaz,
 objeto lícito, e
 forma descrita ou não proibida em lei.
O contrato administrativo caracteriza-se pela participação do poder público, como parte
predominante, e pela finalidade de atender ao interesse público.

6.2 Características especiais

- Licitação prévia: em regra, o contrato administrativo é obrigatoriamente precedido


de licitação, sob pena de nulidade.
- Publicidade: a validade do contrato administrativo exige publicidade, de acordo
com as normas oficiais.

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- Prazo determinado: é proibido realizar contrato com prazo indeterminado. (Lei
8666/93, art.57, 3º).
- Prorrogabilidade: findo o prazo do contrato, pode a administração prorrogá-lo,
independente de nova licitação, mediante termo aditivo, desde que tenha havido
previsão no ato convocatório e no plano plurianual.
- Cláusulas exorbitantes: referem-se a certos privilégios da administração que a
colocam numa situação de superioridade em relação ao particular contratado.
São cláusulas exorbitantes:
• Modificação e rescisão unilateral do contrato;
• Fiscalização, aplicação de sanções;
• Ocupação provisória de moveis e imóveis;
• Inaplicabilidade da exceção de contrato não cumprido.

Se a Administração rescindir unilateralmente o contrato, sem culpa do contratado,


caberá indenização.
Havendo atraso ou inexecução do contrato, pode a Administração aplicar multas,
advertência, suspensão de participação em licitações e contratos, etc.
O particular contratado pela Administração não pode interromper a obra ou serviço sob
a alegação de não receber por 1 ou 2 meses os pagamentos devidos. Mas se os
pagamentos atrasarem mais de 90 dias, poderá então suspender o cumprimento de
suas obrigações, salvo em caso de calamidade pública ou guerra.

6.3 Espécies de contratos

a) Contratos administrativos de direito privado: São subordinados a regra do


direito privado, conforme o art. 62, §3º, I, da Lei 8.666/93. Ex.: Contrato de
seguro;
b) Contratos administrativos de delegação: Tem como objeto a delegação a
particulares do exercício de competências administrativas, desempenhando
funções tipicamente estatais. Ex.: Contrato de concessão (Lei 8.987/95);

33
c) Contratos administrativos propriamente ditos: São aqueles cujo objeto é
realizado entre o particular e a Administração Pública, nos termos da Lei
8.666/93. Ex.: Compra de materiais.

7.0 Convênios

O convênio se refere ao acordo de vontades pelo qual o Poder Público firma com
entidades públicas ou privadas associação visando o alcance de interesses comuns.
Caracteriza-se por haver mutua colaboração entre os participantes, estabelecendo uma
forma de cooperação que levará à consecução do objetivo expresso no instrumento
contratual.

8.0 Consórcios

Os consórcios correspondem a ajustes de vontade firmados por entidades estatais da


mesma espécie (Municípios, Estados-Membros), visando interesses comuns, como por
exemplo os consórcios que são feitos para a construção e a manutenção de
rodovias.Haverá nestes a aplicação de recursos públicos, e por consequência a
incidência da Lei 8666/93, bem como a fiscalização pelo Tribunal de Contas.

Início do Box Multimídia


Consultando a legislação
Se você quiser se aprofundar um pouco mais nos assuntos abordados neste capítulo,
consulte:
• Constituição Federal, especialmente artigos 37 a 41;
• Decreto-Lei n. 200, de 25 de fevereiro de 1967 (Reforma Administrativa);
• Lei n. 8.112, de 11 de dezembro de 1990 (Regime Jurídico dos Servidores da
União);
• Lei n. 8.666, de 21 de junho de1993 (Licitações e Contratos);
• Lei n. 8.897, de 13 de fevereiro de 1995 (Concessões e Permissões);

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• Lei n. 9.637, de 15 de maio de 1998 (Organizações Sociais);
• Lei n. 9.784, de 29 de janeiro de 1999 (Processo Administrativo da União);
• Lei n. 9.790, de 23 de março de 1999 (Organizações da Sociedade Civil de
Interesse Público);
Final do Box multimídia

Atividade Final

Vamos imaginar que ao final da sua graduação, você conseguiu bolar um serviço
inovador para a área de saúde, que além de ser muito barato, possibilitaria o aumento
no atendimento das pessoas assistidas pela rede pública de saúde. Com base nos
conhecimentos dessa aula, descreva quais seriam as possibilidades de você e seu
novo empreendimento ser contratado pela Administração Pública

8 linhas para resposta

O aluno precisará demonstrar que entendeu que a forma de contratação da


administração pública é bastante diferente, por exemplo, de uma empresa privada. A
Administração Pública tem um rito e um procedimento especial, chamado de licitação
que é a forma pelo qual ela elege seus fornecedores e firma seus contratos. Assim,
para que um prestador de serviço ou um fornecedor seja contratado por ela, ele deverá
se submeter a um procedimento licitatório.

9.0 Conclusão

Procuramos apresentar para você - que certamente irá atuar junto com a Administração
Pública em algum momento, mesmo que seja para pedir sua aposentadoria - a
importância a e a relevância de certas ferramentas do Direito Administrativo.
A sua formação ao final do seu curso, como engenheiro ou engenheira de produção
pode não ter absolutamente nada a ver com os sistemas jurídicos, mas saber como são

35
realizadas as compras públicas junto com aos órgãos governamentais, pode
representar uma verdadeira oportunidade de negócio ou mesmo ser um plano de
negócios para um determinado empreendimento.
Só é preciso que você esteja bem assessorado e dentro da legalidade, para que os
erros do passado não sejam repetidos...

10.0 Resumo

Neste capítulo, estudamos o Direito Administrativo, iniciando por seus princípios


basilares.
Trouxemos também o estudo da Administração Pública que é o foco do Direito
Administrativo, procurando abordar desde o seu conceito, seus poderes e suas sub-
divisões, quando descentraliza e desconcentra o seu poder para assim desempenhar
suas funções.
Vimos as licitações públicas como procedimento obrigatório e que antecede o contrato
administrativo, suas modalidades e regulamentações.
Culminando com o estudo dos contratos administrativos quando efetivamente a
administração pública poderá ajustar com terceiros a compra de bens e/ou serviços.

11.0 Referências Bibliográficas

36
JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de direito administrativo. 7 ed. Belo Horizonte: Fórum,
2011.
MEDAUAR, Odete, Direito Administrativo Moderno, 5ª ed. Rev. e Atualz., SP: RT, 2001.
MEIRELLES, Hely L. Direito administrativo brasileiro. 37 ed. São Paulo: Malheiros,
2011.
MELLO, Celso A. B. D. Curso de direito administrativo. 28 ed. São Paulo: Malheiros,
2011.
DI PIETRO, Maria Sylvia Z. Direito Administrativo. São Paulo: Editora Saraiva, 2012.
MICHAELIS. Dicionário. Disponível no site:
http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues

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