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CEDERJ – CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA

DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DE AULA PARA EAD


(MATERIAL DIDÁTICO IMPRESSO)

CURSO: Engenharia de Produção


DISCIPLINA: Humanidades e Ciências Sociais

CONTEUDISTA: Clarissa Brandão.


Designer Instrucional: Felipe M. Castello-Branco

Meta

Nesta aula vamos nos debruçar sobre as estruturas jurídicas que foram resultados das
ações e decisões políticas estabelecidas no Brasil.

Objetivos

Neste capítulo iremos tratar de:


• O sistema Constitucional Brasileiro
• Direitos Humanos e garantias fundamentais.

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

1. compreender a função do direito constitucional;

1
2. identificar os princípios fundamentais e os direitos humanos constantes na
Constituição Federal/88

A Revolução dos Bichos


George Orwell
“(..)
O Homem é o único animal que consome sem produzir. Não dá leite, não põe ovos, é
fraco demais para puxar o arado, não corre o suficiente para alcançar uma lebre.
Mesmo assim, é o senhor de todos os animais. Põe-nos a trabalhar, dá-nos de volta o
mínimo para evitar a inanição e fica com o restante (...). As vacas que estão aqui a
minha frente, quantos litros de leite terão produzido este ano? E que aconteceu a este
leite que deveria estar alimentando robustos bezerrinhos? Desceu pela garganta de
nossos inimigos. (...) Não está, pois, claro como água, camaradas que todos os males
da nossa existência tem origem na tirania do Homem? (...) Esta é a mensagem que vos
trago, camaradas: Revolução! (...) Lembrai-vos também de que na luta contra o Homem
não devemos nos assemelhar a ele. Mesmo quando os tenha derrotado, evitais seus
vícios. (...)
Era possível resumir os princípios do Animalismo em Sete Mandamentos. Esses Sete
Mandamentos que seria agora escritos na parede constituiriam a lei inalterável pela
qual a Granja dos Bichos deveria reger sua vida a partir daquele instante para sempre.
Eis o que dizia o letreiro:
1. Qualquer coisa que ande sobre duas patas é inimigo;
2. Qualquer coisa que ande sobre quatro patas ou tenha asas é amigo;
3. Nenhum animal usará roupas;
4. Nenhum animal dormirá em camas;
5. Nenhum animal beberá álcool;
6. Nenhum animal matará outro animal;
7. Todos os animais são iguais.”

(Trecho do Livro, “A Revolução dos Bichos”)

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Introdução

O Direito, assim como as demais ciências, possui certas regras que compõem seu
sistema, seu “ordenamento jurídico”. O ordenamento jurídico representa o conjunto de
leis em vigor num determinado país, conforme já vimos na aula passada.

Essas leis “vivem” dentro do espaço geográfico de nosso país e está organizadas de
um modo hierárquico. A Constituição Federal é a lei maior, está no topo da pirâmide, é
a carta de Ás no nosso baralho legislativo. Todas as demais leis devem estar em
conformidade com ela para o sistema funcionar.

E o que fazer se na prática a Constituição for desrespeitada, seja por uma autoridade,
seja por outra lei que esteja em conflito com ela?

No livro “A Revolução dos Bichos”, de George Orwell, os animais da granja se rebelam


contra as normas ditadas pelo Homem e criam um novo sistema com outro conjunto de
leis a serem seguidas por eles.

Todavia, conforme já estudamos, exatamente por ser o Direito um reflexo da sociedade,


muitas vezes as leis precisam ser atualizadas de acordo com a demanda da sociedade.
E o que tinha sido importante no século passado, pode ter deixado de ser e novas
situações da vida social adquirirem certo status que necessite da proteção
constitucional.

No livro “A Revolução dos Bichos”, de George Orwell, os animais da granja se rebelam


contra as normas ditadas pelo Homem e criam um novo sistema com outro conjunto de
leis a serem seguidas por eles.
Ao longo do livro “A Revolução dos Bichos”, que recomendamos fortemente a leitura
pela sua importância história e cultural, os Sete Mandamentos iniciais vão sendo

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modificados e desrespeitados à medida que as diferentes classes dos animais vão se
alternando no poder.

E a nossa Constituição: quantas vezes ela foi alterada; modificada? Será que ainda
hoje, passados quase duas décadas de sua entrada em vigor, representa a nossa
sociedade?

1. O movimento constitucionalista

Do que se trata o direito constitucional? O movimento do constitucionalismo surgiu


como resposta aos abusos de poder cometidos pelos governantes. A ideia de que o
poder não poderia estar centralizado na mão de uma única pessoa foi uma construção
teórica, relativamente recente, surgida a partir da Revolução Francesa, no século
XVIII. Até então, o sistema de governo predominante era a monarquia, no qual os
Estados eram representados pela figura do Rei ou Rainha que tinham as atribuições de
criar leis, mandar executá-las e também de julgar seus cidadãos.

Todos esses poderes e atribuições nas mãos de uma única pessoa, mesmo que ela
fosse tida como representante de Deus terminou por gerar situações de abusos contra
a população. A religião, com especial destaque para a Igreja Católica Apostólica
Romana, até então tinha uma grande influência na forma como o poder se encontrava
estruturado, uma vez que a religião sempre foi uma forma de organização social
pioneira, em relação ao Estado. A liberdade de crença e a instituição do Estado laico foi
uma importante conquista político-jurídica porque afastou a religião das decisões
políticas.

Assim, começou-se um movimento de questionar tal centralização de poder, o que


resultou na divisão de poderes que até hoje é utilizada: poder executivo, legislativo e
judiciário.

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BOX CURIOSIDADE
A Revolução Francesa teve grande importância para diversas áreas do conhecimento
humano, desde a História, passando pelo Direito, Filosofia, e chegando mesmo às
Artes. Todas estas áreas do conhecimento foram influenciados por esse movimento que
resultou em impactos mundiais e um novo paradigma na concepção de Estado, de
política, de Poder e também do Direito.
FIM DO BOX CURIOSIDADE

O movimento constitucionalista deu força à criação de um código legislativo que fosse


maior do que todas as demais leis e que submetesse também seu cumprimento pelo
poder central. Surge assim a ideia da criação de um direito que fosse fundante, que
fosse “constitutivo” de todos os demais direitos e que as leis derivassem desse
instrumento normativo. Criou-se, assim, a Constituição que é utilizada por diferentes
países, de modos também distintos, mas que tem como denominador comum o fato de
ser a lei maior de um determinado Estado.

A constituição norte americana, por exemplo, é uma das mais antigas. Foi elaborada
em setembro de 1787, por meio do documento chamado de “Bill of Rights” (Carta dos
Direitos), que contém primordialmente a garantia dos direitos humanos. Estudaremos
os detalhes do seu processo de criação mais para a frente, na parte sobre os direitos
fundamentais.

O Brasil já teve ao todo sete Constituições (alguns consideram o Ato Institucional


número 5, o AI-5 de 1969, como uma nova constituição do período militar, mas a
maioria dos doutrinadores considera apenas a constituição de 1967):

1) 1824: Independência
2) 1891: Proclamação da República
3) 1934: Era Vargas

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4) 1937: Estado Novo
5) 1946: Redemocratização
6) 1967: Ditadura Militar
7) 1988: Constituição Cidadã

De modo geral, podemos dizer que uma das principais funções das normas
constitucionais é regulamentar e delimitar o poder do Estado, além de garantir os
direitos fundamentais dos cidadãos. As normas constitucionais estão para o as demais
leis do sistema jurídico como a carta de Ás do baralho está para o jogo de buraco: é a
de maior grandeza!

Mas, afinal, e o que é a Constituição?

É o conjunto de regras que foram feitas por um processo legislativo especial e


diferenciado - em relação às demais normas. Para que seja criada uma constituição, é
preciso que os parlamentares que façam a sua elaboração sejam eleitos para tal fim,
integrando o “poder constituinte”.

De acordo com o Professor Canotilho (1991, p.41):


“Constituição, deve ser entendida como a lei fundamental e
suprema de um Estado, que contem normas referentes à
estruturação do Estado, a formação dos poderes públicos, forma de
governo e aquisição do poder de governar, distribuição de
competências, direitos, garantias e deveres do cidadãos. Além
disso, é a Constituição que individualiza os órgãos competentes
para e edição de norma jurídicas, legislativas ou administrativas.”

O direito constitucional pode ser identificado como pertencente ao ramo do direito


público que se dedica ao estudo das normas constitucionais.

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As normas jurídicas são hierárquicas, sendo que as normas constitucionais são
consideradas como magnas ou supremas, especialmente por exercerem sobre as
demais normas completa autoridade, pois a ela, todas as outras devem respeito e
obrigação. Sendo assim, as normas constitucionais são as mais importantes dentro do
ordenamento jurídico de um Estado Democrático de Direito.

Atividade 1 – Atende ao Objetivo 01

Existem alguns países que até hoje não utilizam o sistema constitucional e não
possuem uma Constituição. A Síria, por exemplo, não possui um texto normativo
equivalente à nossa Constituição. A lei maior desse país é a Sh´aria que é um
documento religioso. Assim, o sistema de limitação de poder sírio está vinculado à
interpretação sobre a Sh´aria. Considerando o que foi estudado, discorra sobre a foto
abaixo, destacando a importância de uma Constituição:

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Resposta Comentada:
A existência de uma constituição dá ao povo uma garantia de limite ao poder estatal.
Garantia de que os direitos individuais de cada pessoa não serão desrespeitados, seja
em função de sua cor, de seu gênero ou de sua religião. A existência de um estado
religioso, que siga alguma doutrina religiosa específica, impede que todos os cidadãos
tenham a religião que melhor lhe convier. Um Estado religioso impõe uma determinada
religião em detrimento das demais. A consequência disto é a discriminação existente
entre grupos religiosos distintos e suas respectivas disputas pelo poder. A Síria é um
exemplo de como a imposição religiosa por parte do Estado é prejudicial aos direitos
individuais do ser humano.

2. A Constituição Federal de 1988

No dia 05 de outubro de 1988, foi promulgada a Constituição da República


Federativa do Brasil que será objeto de nossos estudos nesta aula. Vejamos o que diz o
preâmbulo da CF/88:

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“Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional
Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o
exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-
estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma
sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e
comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das
controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da
República Federativa do Brasil.”

A introdução de nossa Constituição demonstra que o Estado Brasileiro possui muitos


objetivos e diversos princípios a guiar nossa sociedade. Vamos identificar cada um
deles?

2.1 Princípios fundamentais

O primeiro artigo da Constituição Federal diz o seguinte:

“A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e


Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem
como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.”

Da leitura do mesmo, podemos extrair as seguintes observações:

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A) É na Constituição que encontramos a forma pela qual o Estado Brasileiro se
organiza, bem como as respectivas competências de atuação de cada ente da
União (União, Estados, Municípios e Distrito Federal)
B) É na Constituição que encontramos a forma de Governo, enquanto República (e
não monarquia ou parlamentarismo) e o regime democrático (e não ditatorial);
C) Ter a soberania como fundamento da República Federativa do Brasil, significa
identificar o Brasil como um país livre, independente e autônomo em relação aos
demais;
D) Ter a cidadania como fundamento implica garantir direitos políticos aos nossos
nacionais, como o direito de eleger e ser eleito;
E) Ter a dignidade da pessoa humana significa que o Estado não irá violar os
direitos humanos e respeitar cada indivíduo dentro do que determina a lei;
F) O fundamento nos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa garante aos
indivíduos a proteção contra o trabalho escravo e o acesso aos meios de
produção;
G) E o pluralismo político integra as garantias de representatividade popular, bem
como o direito às eleições diretas.

3. Direitos Humanos e garantias fundamentais.

Os direitos humanos e as garantias fundamentais são as normas expressas dentro de


nossa Constituição que correspondem aos nossos Direitos Humanos. Elas são escritas
de forma muito simples para que todos possam compreender os direitos que lhes
pertencem.
Esses direitos estão na história do mundo há alguns anos, desde a própria formação
dos Estados.

Box Saiba Mais


Formação dos Estados

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A divisão do mundo em países, como conhecemos hoje em dia foi fruto de grandes
mudanças políticas ocorridas desde a Idade Média. Com a transição do Feudalismo
para o Absolutismo, os senhores feudais perderam seus poderes políticos para os
monarcas que se tornaram, então os governantes de diversos Estados Absolutistas da
época, concentrando o poder político e todas as decisões em suas mãos.
Você já deve ter escutado a famosa frase “O Estado sou Eu”, dita por Louis XIV, em
pleno auge do Absolutismo na Europa. Louis XIV também era conhecido com o Rei Sol,
por conta da insígnia que escolheu para ser seu brasão.
Interessante notar que um dos fundamentos do absolutismo era a crença na
designação do Rei como alguém escolhido por Deus. A Igreja Católica e a Monarquia
estavam reunidas sob o manto do Absolutismo para a manutenção do controle da
sociedade. Apenas na Idade Contemporânea, a partir da Revolução Francesa é que se
rompeu o laço entre a Igreja e o Estado, para que então o povo fosse governado por
quem ele escolhesse e não por uma escolha Divina.

Fonte:http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Hyacinthe_Rigaud_-
_Louis_XIV,_roi_de_France_(1638-1715)_-
_Google_Art_Project.jpg#mediaviewer/File:Hyacinthe_Rigaud_-
_Louis_XIV,_roi_de_France_(1638-1715)_-_Google_Art_Project.jpg
Autor: Domínio Público

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Fim do Box Saiba Mais

3.1 Evolução histórica dos Direitos Humanos

Fábio Konder Comparato em sua obra “Afirmação Histórica dos Direitos Humanos”,
discorre sobre diversos documentos internacionais que cuidam dos Direitos Humanos.
Esses documentos nos ajudam a compreender o modo e a razão pelos quais estes
direitos foram sendo criados.

Documentos Internacionais sobre os Direitos Humanos:


- Bill of Rights, 1689, Inglaterra;
- Declaração da Virgínia, 1776, EUA;
- Declaração de Independência Norte-Americana, 1787;
- Dez Emendas a Constituição Norte-Americana, 1789;
- Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, 1789, França;
- Carta das Nações Unidas, 1942, ONU.
- Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948, ONU.

Um dos primeiros documentos significativos sobre os Direitos Humanos foi a


Declaração de Direitos da Inglaterra, de 1689, chamado “Bill of Rights”. Apesar do
nome, o “Bill of Rights”, essa não é uma declaração de direitos humanos propriamente
dita. Ainda assim, ela teve sua importância porque acabou com o regime monárquico
vigente na Inglaterra à época e institucionalizou a separação entre os poderes. Ou seja,
apesar de não ter declarado nenhum direito fundamental, o Bill of Rights criou uma
garantia institucional: uma nova forma de organização do Estado, na qual o Parlamento
passou a ser o órgão encarregado de defender os súditos perante o Rei e fortaleceu a
instituição do júri, reafirmando direitos fundamentais dos cidadãos (direito de petição,
proibição de penas cruéis).

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Em 1776, foi produzida a Declaração da Virgínia, nos Estados Unidos, tida como o
primeiro documento de proteção aos Direitos Humanos, propriamente ditos, pois trouxe
os fundamentos do regime democrático, tais como:

 reconhecimentos de direitos inatos, que não podem ser alienados ou suprimidos;


 princípio de que todo poder emana do povo, estando os governantes
subordinados a estes – soberania popular;
 igualdade de todos perante a lei – isonomia;
 igualdade de condição política de todo cidadão;
 defesa da liberdade, em especial de imprensa;
 soberania territorial.

Em 1787, foi elaborado outro documento relevante para a consolidação dos Direitos
Humanos: a Declaração de Independência das 13 ex-Colônias Britânicas, ou
Declaração de Independência Norte-Americana, que representou um marco na
democracia moderna combinando, sob o regime constitucional, a representação popular
com a limitação de poderes governamentais e o respeito aos direitos humanos.
A principal característica da Declaração de independência dos Estados Unidos é a de
ser o primeiro documento a afirmar os princípios democráticos, na história política
moderna, em especial relacionado ao “novo” princípio de legitimidade política: a
soberania popular. Além disto, reconheceu a igualdade entre todos os seres humanos e
reafirmou o princípio da liberdade religiosa e de opinião.

Em 1789, os EUA elaboraram outro documento: as Dez Primeiras Emendas à


Constituição Norte-Americana, cuja grande preocupação era a organização do novo
Estado, com o formato de confederação - uma vez que cada Estado já possuía a sua
Declaração de Direitos própria e as suas respectivas constituições.
Nas Dez Primeiras Emendas, a liberdade de imprensa, de opinião e de religião
aparecem com maior destaque e realce (1a. Emenda), juntamente com a reafirmação
das garantias judiciais, tais como o “devido processo legal” (5a. Emenda).

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Também em 1789 foi elaborada na França, outro documento igualmente importante, a
Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão que consagrou o constitucionalismo
liberal e armou “o indivíduo com instrumentos de garantias de seus direitos”, tais como
as liberdades públicas (liberdade de locomoção, de propriedade etc.), os direitos do
cidadão (escolha de seus representantes, consentir no imposto etc.), o princípio da
isonomia como a igualdade de todos perante a lei, dentre outros.

Após um longo período da sociedade internacional sem inovações acerca do tema


direitos humanos, a preocupação ressurgiu com o final da Segunda Guerra Mundial.

No período pós-guerra, a criação da Organização das Nações Unidas (ONU) foi


relevante para despertar para a necessidade da proteção dos direitos dos homens.

Em 1o. de janeiro de 1942, foi elaborada a Carta das Nações Unidas com o propósito
de representar uma sociedade política mundial, para conter e limitar a força de todas as
nações do mundo com o objetivo de defender a dignidade humana. Seus objetivos
primordiais seriam a manutenção da paz e a manutenção da segurança internacional.

Na Carta das Nações Unidas os direitos humanos protegidos ficaram restritos às


liberdades individuais, apenas mencionando a promoção dos direitos de
desenvolvimento social e econômico. A referida Carta afirma e defende expressamente
a existência do direito dos povos a autodeterminação (Art. 1, item 2, p. 219).

Apenas em 1948 é que foi elaborado um documento internacional de espectro universal


acerca da proteção dos direitos humanos: a Declaração Universal dos Direitos
Humanos.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), inspirada nos ideais franceses ,
representou uma manifestação histórica de que se formara, em âmbito universal, o

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reconhecimento de valores supremos da igualdade, da liberdade e da fraternidade entre
os homens, de acordo com o seu artigo 1º, cujos direitos ali definidos correspondem,
integralmente, ao que o costume e os princípios jurídicos internacionais reconhecem,
hoje, como exigências básicas de respeito à dignidade humana.

A DUDH representa o resultado de um processo ético, de conscientização da sociedade


internacional iniciado com a Declaração de Independência dos EUA e a Declaração de
Direitos do Homem e do Cidadão que levou ao reconhecimento da igualdade essencial
de todo o ser humano em sua dignidade de pessoa.

A DUDH cuida especialmente das quatro liberdades já referidas na Carta das Nações
Unidas: liberdade de palavra, de crença, liberdade de viverem a salvo do medo e da
necessidade.

Além destes princípios, no art. 6o. encontra-se o reconhecimento e a consideração de


todo ser humano como pessoa humana, que é o mais importante princípio em matéria
de direitos humanos, não permitindo mais a denegação deste direito aos escravos e
apátridas.

Este é o resultado da conscientização do conceito de pessoa e da sua importância


como fundamento ético da disciplina dos Direitos Humanos. Isso pode parecer muito
óbvio nos dias atuais. Você poderia pensar: - “Ora, como um ser humano não seria
considerado uma pessoa humana?” Mas em algumas ocasiões na história da
Humanidade, geográfica e temporalmente localizadas, seres humanos não foram
tratados como tal. Basta lembrar que durante a Ditadura Militar no Brasil, nosso grande
advogado Sobral Pinto, invocou a Lei de Proteção aos Animais, para garantir direitos a
seres humanos, face à inexistência de garantias dos mesmos após a promulgação do
AI-5.

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Outro traço relevante da DUDH é a afirmação da democracia como único regime
político compatível com o pleno respeito aos Direitos Humanos e como única solução
legítima para a organização do Estado.

No artigo 28o. encontra-se a garantia e o respeito pela ordem internacional à dignidade


da pessoa humana, como sendo a finalidade de toda e qualquer proteção dos direitos
humanos.

Depois da Declaração Universal, os documentos protetivos transbordaram da esfera


jurídica interna para a esfera jurídica internacional. De acordo com Flávia Piovesan
(2005), um dos grandes motivos para os Direitos Humanos passarem à órbita
internacional decorre da necessidade de se buscar um valor ético que orientasse a
ordem internacional no cenário pós-Segunda Guerra Mundial.
Esta transposição acarreta também outras consequências apontadas pela Autora como
a relativização da noção de soberania dos Estados para permitir a intervenção no plano
nacional daquele Estado que violar os Direitos Humanos.

A Declaração Universal possui como característica inédita o consenso da sociedade


internacional sobre uma ética universal de valores que deverão ser respeitados por
todos os integrantes desta sociedade internacional.

Este documento introduz as dimensões contemporâneas dos Direitos Humanos


decorrentes da universalidade e da indivisibilidade de tais direitos, combinando, nas
palavras de Flávia Piovesan, “o discurso liberal e o discurso social da cidadania,
conjugando o valor da liberdade ao valor da igualdade” (2005, p. 01)

A partir da Declaração Universal é que começa a se desenvolver o Direito Internacional


dos Direitos Humanos, como um sistema de normas internacionais, integradas por
documentos de alcance geral (Pactos Internacionais de Direitos Civis e Políticos e de

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Direitos Econômicos, Sociais e Culturais) e regional (Convenção Americana de Direitos
Humanos), interagindo em benefício dos indivíduos protegidos.

3.2 Características dos Direitos Humanos

No âmbito desta disciplina, os direitos fundamentais são reconhecidos pelas suas


características próprias:

• naturais,
• abstratos,
• imprescritíveis,
• inalienáveis,
• individuais e
• universais

Neste sentido, ensina-nos Norberto Bobbio:

“Afirmei, no início, que o importante não é fundamentar os direitos


do homem, mas protegê-los. Não preciso aduzir aqui que, para
protegê-los, não basta proclamá-los. O problema real que temos de
enfrentar, contudo, é o das medidas imaginadas e imagináveis para
a efetiva proteção desses direitos. (2004, p 36)

3.3 Os Direitos Humanos na Constituição Federal da República Brasileira de 1988

Quando falamos em “Direitos e Garantias Fundamentais” estamos nos referindo às


normas contidas nos artigos 5o. a 17o. da Constituição Federal que estão no “Título II –
Dos Direitos e Garantias Fundamentais”.

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Os direitos são as faculdades atribuídas aos indivíduos e as garantias são as
disposições que asseguram os direitos. Por exemplo, quando falamos que todos são
iguais perante a lei, estamos nos referindo a um direito. Por outro lado, quando
mencionamos que o juiz não deixará de apreciar nenhum pedido formulado por um
indivíduo, se trata de uma garantia constitucional.

Em especial nos interessa os direitos contidos nos capítulos I e II deste Título: “Dos
direitos e deveres individuais e coletivos” e “Dos direitos sociais” (arts. 5o. a 11).

Por Direitos e Garantias Fundamentais, entende-se aquele núcleo mínimo de normas


que reconhecem ao indivíduo autonomia e garantindo-lhes iniciativa e independência
perante os demais membros da sociedade, inclusive o Estado .

Assim, podemos identificar dentro dos “Direitos e Garantias Fundamentais” os


seguintes agrupamentos de direito: direito à vida, direito de igualdade, direito de
liberdade, direito de propriedade e direito à intimidade.

De um modo geral, podemos dizer que os “Direitos e Garantias Fundamentais”


destinam-se aos indivíduos, mas há que se reconhecer que são limites impostos a
atuação do Estado sobre o indivíduo.
Exemplos: art. 5o, inc. I, VI, XVIII, XXXII, XXXIX, XLII, XLIX, LIV, LVII, LXXIV, LXXV,
LXXVI.

No capítulo II, “Dos direitos sociais”, encontramos aquele conjunto de normas que
determinam uma série de prestações sociais a serem realizadas pelo Estado, na
tentativa de reduzir as desigualdades sociais. São normas relacionadas ao direito à
igualdade.

Podem ser identificadas da seguinte forma:

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 direitos sociais relativos ao trabalhador,
 direitos sociais relativos à seguridade (saúde, previdência e assistência social),
 direitos sociais relativos à educação e à cultura,
 direitos sociais relativos à moradia,
 direitos sociais relativos à família, criança, adolescente e idoso, e
 direitos sociais relativos ao meio ambiente.
Exemplos: Art. 6o, art. 7o. inc. II, VI, VIII, XVII, XVIII, XXIV, art. 8o., inc. III.

Vejamos abaixo uma lista com os direitos e garantias individuais:

São livres:

 A manifestação do pensamento;
 A crença e a prática religiosas;
 A manifestação intelectual, artística, científica e de comunicação;
 O exercício de qualquer trabalho, atendidas as qualificações da lei;
 A locomoção no território nacional em tempo de paz;
 A reunião pacífica, sem armas;
 As associações para fins lícitos;
 A criação de cooperativas, na forma da lei;

São invioláveis:

 O direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade;


 A intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas;
 A casa do indivíduo, salvo flagrante delito ou para prestar socorro;
 O sigilo de correspondência;

São assegurados:

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 O direito de resposta;
 O acesso a informações, resguardando o sigilo da fonte, quando necessário ao
exercício profissional;
 O direito de propriedade;
 O direito autoral;
 A propriedade industrial, que abrange as invenções, os modelos de utilidade, os
desenhos industriais, as marcas, etc.
 O direito ao nome da empresa;
 O direito de herança;
 O direito de receber informações dos órgãos públicos;
 O direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos;
 A obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos;

Igualdade

Sobre o princípio da igualdade é indispensável recordar a lição de San Tiago Dantas:

“Quanto mais progridem e se organizam as coletividades, maior é o


grau de diferenciação a que atinge seu sistema legislativo. A lei
raramente colhe no mesmo comando todos os indivíduos, quase
sempre atende a diferenças de sexo, de profissão, de atividade, de
situação econômica, de posição jurídica, de direito anterior;
raramente regula do mesmo modo a situação de todos os bens,
quase sempre se distingue conforme a natureza, a utilidade, a
raridade, a intensidade de valia que ofereceu a todos; raramente
qualifica de um modo único as múltiplas ocorrências de um mesmo
fato, quase sempre os distingue conforme as circunstâncias em que
se produzem, ou conforme a repercussão que têm no interesse
geral. Todas essas situações, inspiradas no agrupamento natural e
racional dos indivíduos e dos fatos, são essenciais ao processo

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legislativo, e não ferem o princípio da igualdade. Servem, porém,
para indicar a necessidade de uma construção teórica, que permita
distinguir as leis arbitrárias das leis conforme o direito, e eleve até
esta alta triagem tarefa do órgão do Poder Judiciário. ” (DANTAS,
1948, 359)

O artigo 5º da Constituição Federal assim preceitua: “Todos são iguais perante a lei,
sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes”:

I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações nos termos desta


Constituição:
Significa que não deve haver discriminação. As oportunidades deverão ser iguais dentro
dos critérios objetivos razoáveis.
Os direitos e garantias são para brasileiros e estrangeiros residentes no país. Os
estrangeiros de passagem ou a passeio são também abrangidos, por força dos
princípios da Constituição, das leis nacionais e dos tratados internacionais.
Para um melhor entendimento acerca da importância do princípio da igualdade
descrevemos abaixo a igualdade e suas classificações:

II – Igualdade geral
A regra da igualdade estende-se a todas as áreas do Direito, não se admitindo
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação.
Significa que não deve haver discriminação. As oportunidades deverão ser iguais dentro
dos critérios objetivos razoáveis.
Os direitos e garantias são para brasileiros e estrangeiros residentes no país. Os
estrangeiros de passagem ou a passeio são também abrangidos, por força dos
princípios da Constituição, das leis nacionais e dos tratados internacionais.

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III – Igualdade entre o homem e a mulher
O homem e a mulher têm direitos e obrigações iguais. A Constituição e a lei, contudo,
fazem alguma diferenciação em favor da mulher, como a aposentadoria antecipada ou
o foro privilegiado nas ações de separação judicial.

IV – Igualdade entre brasileiros


É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: criar distinções
entre brasileiros ou preferências entre si.

V – Igualdade jurisdicional
Ninguém será sentenciado nem processado senão pela autoridade competente (juiz
natural).

VI – Igualdade tributária
Não cabe tratamento desigual entre os contribuintes. Sempre que possível os impostos
terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do
contribuinte.

VII – Igualdade trabalhista


Não cabem diferenças de salários, de exercício de funções e de critério de admissão
por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil ou em razão de deficiência.

VIII – Igualdade etária


Não se admite discriminação em razão da idade. Mas, a Constituição em várias
hipóteses estabelece critérios baseados na idade, como por exemplo, a aposentadoria
compulsória aos 70 anos, ou a exigência de 35 anos de idade, no mínimo, para o cargo
de senador.

IX – Igualdade em concursos públicos

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Não cabem distinções preconcebidas entre candidatos em concursos públicos, devendo
todos ter igual oportunidade de classificação, de acordo com o mérito de cada um. Em
se tratando de concursos públicos predomina o entendimento de que, em princípio, não
cabe a fixação do limite de idade. No entanto, poderá haver a imposição do limite se
assim o exigirem a natureza do serviço ou atribuição, ou em razão de motivos fáticos e
biológicos, ou se a limitação se mostrar razoável e não descabida.

4. Proibições constitucionais

A Constituição Federal descreveu no artigo 5º algumas proibições, dentre elas, a


tortura, a pena de morte e a prática de racismo.

Em se tratando da tortura esta vem prevista no artigo 5º, III, da Constituição Federal,
regulamentado posteriormente pela Lei Especial nº 9.455/97 que define os crimes de
tortura, que são classificados como crimes hediondos, não comportando anistia, graça,
indulto, fiança ou liberdade provisória. A pena desses crimes é cumprida integralmente
em regime fechado. Nestes termos, prevê o artigo 1º da referida Lei.

Art. 1º Constitui crime de tortura:


I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe
sofrimento físico ou mental:
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira
pessoa;
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
c) em razão de discriminação racial ou religiosa;
II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência
ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo
pessoal ou medida de caráter preventivo.
Pena - reclusão, de dois a oito anos.

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Assim, também são proibidas pela Constituição Federal de 1988 (CF/88), a pena de
morte, salvo em caso de guerra, bem como trabalhos forçados, pena de caráter
perpetuo e cruéis. A prisão será admitida somente se em flagrante ou por ordem escrita
de autoridade judiciária e competente, desde que fundamentada.

5. Proteção constitucional das liberdades

Há situações no cotidiano do ser humano que sua liberdade pode sofrer violação. Faz-
se referência neste tópico a liberdade de ir e vir, de ver um direito líquido e certo ser
cumprido, de obter informações a respeito de si próprio, bem como de insurgir-se contra
atos ilegais ou abusivos que atentem contra o patrimônio público.
Tendo em vista a possibilidade de violação desses direitos, a Constituição Federal traz,
como garantia fundamental o uso de ações que visam dar efetividade aos direitos dos
quais o cidadão for privado ou sofreu algum impedimento de exercê-los.

Vejamos cada um deles:

“Habeas Corpus”

Para Moraes (2003, p. 139), “habeas Corpus é uma garantia individual ao direito de
locomoção, consubstanciada em uma ordem dada pelo Juiz ou Tribunal ao coator,
fazendo cessar a ameaça ou coação à liberdade de locomoção em sentido amplo”.

Art. 5º, LXVIII – “Conceder-se-á “habeas corpus” sempre que alguém sofrer ou se achar
ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por
ilegalidade ou abuso de poder;

Cabe contra ato ilegal de autoridade. Mas, por exceção, tem-se admitido a impetração
também contra arbitrariedade de particulares quando evidente o constrangimento ilegal
– a exemplo de internação forçada de pessoa em casa de saúde mental.

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O habeas corpus é preventivo no caso de estar o paciente ameaçado de violência ou
coação ilegal; e liberativo no caso de violência ou coação já praticada.
O habeas corpus é gratuito. Pode ser impetrado por qualquer pessoa, com ou sem
advogado, em benefício próprio ou alheio, bem como pelo Ministério Público, podendo
também ser concedido de ofício pelo juiz. Exemplo: cabe habeas corpus em caso de
uma prisão ilegal, ou seja, que não seja em flagrante ou fundamentada pelo juiz.

Mandado de segurança

Segundo a lição de Meirelles (2004, p 06) o mandado de segurança é “o meio


constitucional posto à disposição de toda pessoa física ou jurídica, órgão com
capacidade processual, ou universalidade reconhecida por lei, para proteção de direito
individual ou coletivo, líquido e certo.”

Art. 5º LXIX “conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo,
não amparado por “habeas corpus”ou “habeas data”, quando o responsável pela
ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no
exercício de atribuições do Poder Público;”

O mandado de segurança é uma ação para proteger direito líquido e certo. Direito
líquido e certo é o que independe de qualquer outra prova além da documentação
juntada na inicial. O mandado de segurança pode ser individual ou coletivo. Exemplo:
uma pessoa devidamente aprovada em um concurso público; esta apenas aguardando
para ser nomeada e ingressar no cargo, porém, ao chegar a sua vez pela ordem
classificatória é surpreendida com a nomeação de outra pessoa que havia sido
classificada em um dos últimos lugares. Neste caso cabe o mandado de segurança
para proteger o seu direito líquido e certo de ingressar neste cargo uma vez que
preencheu todos os requisitos e a nomeação deve obedecer a ordem de classificação.

Ação popular

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“É o meio constitucional posto à disposição de qualquer cidadão para obter a
invalidação de atos ou contratos administrativos – ou a estes equiparados – ilegais e
lesivos do patrimônio federal, estadual e municipal, ou de suas autarquias, entidades
paraestatais e pessoas jurídicas subvenciadas com dinheiros públicos.” (MEIRELLES,
2004, p 135)

Art. 5º LXXIII: “qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular”.

Ação popular é ação pela qual o cidadão (eleitor) pode pleitear a anulação de ato lesivo
ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, ou lesivo à moralidade
administrativa, ao meio ambiente ou ao patrimônio histórico e cultural.

Cabe também ação popular para promover a restituição de bens ou o ressarcimento de


danos em relação às pessoas que, por ação ou omissão, causaram ou deram
oportunidade à lesão. Exemplo: Casos de danos causados a uma comunidade como a
contaminação de um rio, o desmatamento de áreas não permitidas, o desvio de dinheiro
público.

“Habeas data”

Todas as pessoas devem ter acesso às informações que o Poder Público ou entidades
de caráter público possuam a seu respeito.

Art.5º LXXII – “conceder-se-á “habeas data”.


Habeas data (tenha as informações ou os dados) é uma ação para obter o acesso de
interessado ao que consta sobre ele em registros ou bancos de dados de entidades
governamentais ou de caráter público, ou para alcançar a sua retificação.

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Não cabe habeas data se a entidade não recusou as informações ou a retificação. É
necessário, portanto, no caso, pedido prévio junto à Administração, embora não se exija
o esgotamento dos recursos administrativos eventualmente cabíveis.
Exemplo: uma pessoa tem negadas informações referentes à sua situação nos órgãos
de proteção ao crédito, ou tem negado o direito de expedição de uma certidão relativo a
dados ou anotações sobre si próprio.

6. Direitos sociais

Os direitos sociais previstos na Constituição Federal nas palavras de Moraes (2014,


p.203):

“São os direitos fundamentais do homem, caracterizando-se


como verdadeiras liberdades positivas, de observância
obrigatória em um Estado Social de Direito, tendo por
finalidade a melhoria de vida aos hipossuficientes, visando à
concretização da igualdade social, e são consagrados como
fundamentos do Estado Democrático.”

Os dispositivos constitucionais relacionados aos direitos sociais encontram-se nos


artigos 6º a 11.

Ao definir os direitos sociais a CF/88 em seu art. 6º, elenca um rol trazendo a educação,
a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência
social, a proteção à maternidade e à infância e a assistência aos desamparados, mas
dá ênfase maior ao trabalho e aos direitos do trabalhador tanto na esfera individual,
quanto coletiva, destinando todos os demais artigos, ou seja do art. 7º ao art.11 a tais
previsões, que serão estudados em capítulo distinto.

7. Direitos políticos

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A expressão descrita nos princípios fundamentais da Constituição Federal “todo o poder
emana do povo” é uma expressão do Estado Democrático de Direito, que tem como um
dos fundamentos o pluralismo político. Assim, em se tratando dos direitos políticos
estes são conceituados nos seguintes termos:
Para Moraes (2014), “São direitos públicos subjetivos que investem o indivíduo no
status active civitis, permitindo-lhe o exercício concreto da liberdade de participação nos
negócios políticos do Estado, de maneira a conferir os atributos da cidadania”.

Definida pela CF/88, a soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo
voto direto e secreto, com valor igual para todos através de plebiscito, referendo ou pela
iniciativa popular.
Para que o cidadão possa se tornar um candidato primeiro é preciso verificar se
preenche as condições de elegibilidade.

E em que consiste a elegibilidade?


A “Elegibilidade é a capacidade eleitoral passiva consistente na possibilidade de o
cidadão pleitear determinados mandatos políticos, mediante eleição popular, desde que
preenchidos certos requisitos”.
As condições de elegibilidade são definidas no §3º do art. 14, estando entre elas a
obrigatoriedade da nacionalidade brasileira, o pleno exercício dos direitos políticos e o
alistamento eleitoral, entre outras.
Vistas as condições de elegibilidade, passamos a inelegibilidade. Antes, porém,
importante conceituá-la: segundo a doutrina, “Inelegibilidade consiste na ausência de
capacidade eleitoral passiva, ou seja, da condição de ser candidato e,
consequentemente, poder ser votado, constituindo-se, portanto, em condição obstativa
ao exercício passivo da cidadania”.

Quanto à inelegibilidade, a Constituição Federal preceitua no artigo 14:

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§ 7º - São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes
consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da
República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de
quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular
de mandato eletivo e candidato à reeleição.

Assim, este artigo determina, ao mesmo tempo, que outros casos de inelegibilidade
poderão ser determinadas através de lei complementar, que definira também os prazos
de sua cessação.

Ainda que eleito, o candidato poderá ter seu mandado impugnado. Para isso deverá
haver provas efetivas do cometimento dos atos de abuso, corrupção e fraude.

8. Dos partidos políticos

Em se tratando dos partidos políticos estes também têm sua criação e diretrizes
previstas na Carta Constitucional, pois representam “instrumentos necessários para a
preservação do Estado Democrático de Direito”. (MORAES, 2004, p. 43). Isso porque “o
sistema de partidos repercute de igual modo no funcionamento do regime presidencial,
tornando mais flexíveis as relações entre o Presidente e o Congresso, ou concorrendo
para abrandar as dimensões imperiais do poder presidencial, em regime de
pluripartidarismo”. (MORAES, 2004, p. 48)

Determina a CF/88 que é livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos


políticos, desde que criados dentro dos parâmetros constitucionais e legais, respeitando
especialmente a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo e os
direitos fundamentais da pessoa humana.

Assim, restaram abordados os tópicos mais relevantes no que se refere ao direito


constitucional, envolvendo os direitos e garantias fundamentais, os direitos sociais,

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políticos e, sobretudo aqueles que diretamente serão utilizados pelos cidadãos em
busca da proteção jurídica.

Atividade 2 – Atende ao objetivo 02

A rede social Facebook é pródiga na disseminação de toda forma de preconceito. A


página abaixo “Eu não mereço mulher preta” foi bastante criticada e solicitou-se a sua
retirada da rede social. Considerando tudo o que você leu sobre os direitos
fundamentais, enumere quais diretos foram violados por meio desta publicação:

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Resposta Comentada:

No caso em questão podemos destacar, dentre outras violações as seguintes:

- Afronta ao princípio constitucional que proíbe o racismo;


- Afronta ao princípio constitucional que proíbe a discriminação de gênero.
Tal publicação fere um dos grandes direitos humanos que é a igualdade. Ao ridicularizar
e inferiorizar um indivíduo em virtude de sua raça e de seu gênero, a referida
publicação viola o direito a igualdade que é inerente a todo ser humano. Ainda viola
também a vedação ao anonimato, pois apesar de termos o direito a livre expressão de
ideias, o anonimato não é permitido, o que contribui para a identificação dos culpados
que infringem a lei, mesmo em ambientes virtuais.

Início do box multimídia


- Se você ainda não leu o livro a Revolução dos Bichos, o mesmo encontra-se
disponível no site:
http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/animaisf.pdf
Fim do Box multimídia

Atividade Final

CUNHAGATE

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Você deve ter tomado conhecimento sobre a suposta atuação controversa do
Presidente da Câmara, de manipular votações de projetos de lei que são de seu
interesse (como o caso da maioridade penal e a autorização para financiamento privado
de campanhas políticas) e atrasar projetos que não tenham seu apoio.
Com o conteúdo que você aprendeu na presente aula, explique a função da
Constituição perante a atuação de nossos políticos.

Resposta comentada:

A Constituição é o limite, é o freio da atuação dos políticos do Estado. Mesmo tendo


sido democraticamente eleitos, se houver por parte de tais representantes do povo uma
conduta que não seja condizente com o ordenamento jurídico, a Constituição se
encarregará de coibir tais abusos. Sem a Constituição, não haveria moderação no
exercício do poder político e os direitos individuais estaria fragilizados diante da
centralização do poder.

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9. Conclusão

O movimento constitucionalista e a existência nos dias atuais da Constituição é uma


garantia mínima para os indivíduos de que seus direitos serão respeitados e que a
atuação do Estado, seja por meio de seu poder legislativo, executivo ou judiciário será
limitada pelas normas previstas no texto constitucional.

A Constituição Federal Brasileira na sua versão atual (de 1988) é bastante completa e
abrange aos mais diversos temas jurídicos, tais como família, propriedade privada,
índios, crianças, educação, cultura, dentre outros temas, demonstrando um notável
crescimento de temas fundamentais em relação às demais constituições.

A Constituição Federal Brasileira é a guardiã dos direitos básicos e fundamentais de


todos os indivíduos que se encontrem dentro de seu território: sejam brasileiros ou
estrangeiros.

Os direitos e garantias fundamentais constantes nela foram resultados de diversas lutas


travadas pela sociedade civil para limitar o poder do Estado e que ainda hoje
permanecem atuais, pois tais direitos precisam sempre serem lembrados para que
possam ser protegidos e garantidos

10. Resumo

Nesta aula, nós estudamos o Direito Constitucional, conceituando-o e explicando as


funções das normas constitucionais.

Fizemos nosso estudo através da abordagem das normas constitucionais vigentes em


nossa Lei Suprema/88, procurando sempre que possível explicar um pouco mais seus
conteúdos.

Iniciamos pelo exame dos princípios fundamentais que sustentam dos os conteúdos
instituídos pela constituição, passando em seguida para a apreciação dos direitos e
garantias fundamentais.

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11. Referências Bibliográficas

MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014.

SILVA, A. J. Curso de direito constitucional positivo. 37. ed. São Paulo: Malheiros, 2014.

COMPARATO, Fábio Konder.”Fundamento dos Direitos Humanos. A noção jurídica de


fundamento e sua importância em matéria de direitos humanos”. Revista
Consulex 48: 52-61, 2000.

MEIRELLES, Hely Lopes. Mandado de Segurança. São Paulo: Malheiros, 2004.

COMPARATO, Fábio Konder. “Afirmação História dos Direitos Humanos”. São Paulo:
Saraiva, 2002.

DANTAS, F.C. de San Tiago. Igualdade perante a lei e due process of law: contribuição
ao estudo da limitação constitucional do Poder Legislativo. Revista Forense, v.
116, p. 357-367, Rio de Janeiro, 1948.

PIOVESAN, Flavia. Ações afirmativas da perspectiva dos direitos humanos. Cad.


Pesquisa, São Paulo , v. 35, n. 124, p. 43-55, Apr. 2005.

BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Ed Campus, 2004.

Consultando a legislação

Se você quiser se aprofundar um pouco mais nos assuntos abordados neste


capítulo, consulte:

BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, 5 out. 1988.


Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>.

_____. Lei n. 9.455, de 07 de abril de 1997. Diário Oficial da União, Poder


Legislativo, Brasília, 08 abr. 1997. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9455.htm>.

34
_____. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Diário Oficial da União, Poder
Legislativo, Brasília, 11 jan. 2002. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>.

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