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INTRODUÇÃO
O tema que será tratado neste artigo é o Estado de Direito. Inegável que
é uma tarefa um pouco árdua a de conceituar e caracterizar algo tão abstrato. E
justamente na busca de uma melhor compreensão do que venha a ser um
Estado de Direito na atualidade, este texto não se limitará a trazer um conceito
pronto e fechado em breves linhas.
Vale ressaltar que o Estado de Direito que será objeto de análise é o
Estado de Direito da atualidade e previsto em diversos textos constitucionais,
como nas Constituições brasileira e portuguesa. O Estado de Direito referido é o
Estado Democrático de Direito (ou Estado de Direito Democrático).1
Este texto não se propõe a trabalhar o conceito do Estado de Direito
dissociado do Estado Democrático, trata o Estado de Direito Democrático como
um todo, negando a possibilidade de existência de um Estado de Direito,
considerado não apenas formalmente, que não seja Democrático ou de um
Estado Democrático propriamente dito que não seja de Direito.
Em síntese: o Estado de Direito é também um Estado Democrático e o
Estado Democrático é também um Estado de Direito.2
Assim, toda vez que for mencionado no texto o termo Estado de Direito
estará necessariamente se referindo a Estado de Direito Democrático, salvo
exceções que serão devidamente identificadas quando mencionadas.
A importância do estudo do tema em tela se dá na medida em que o
Estado de Direito é um princípio constitucional sui generis, é na realidade um
princípio constitucional fundamental e estruturante, uma vez que indica as ideias
diretivas básicas de toda a ordem constitucional. Este princípio é ainda
concretizado por outros princípios e regras constitucionais muito importantes.3
O Estado de Direito, ao mesmo tempo em que se fundamenta em
princípios constitucionais relevantes que servem como seu alicerce (para citar
alguns exemplos: o princípio da dignidade da pessoa humana, o princípio da
igualdade e o princípio da liberdade), fundamenta também toda a ordem
constitucional e em especial os princípios mencionados, formando com eles um
sistema interno, uma unidade.4
Desse modo, não é possível que um princípio de tal relevância para toda
a ordem jurídica continue sendo muitas vezes tratado pela doutrina como um
princípio qualquer, sem uma atenção especial. Este artigo de pequena
dimensão, por sua vez, não pretende esgotar este tema, mas principalmente,
através de um estudo cauteloso e não superficial, tornar mais clara a
compreensão do Estado de Direito e a partir daí procurar estimular um maior
debate na doutrina pátria.
Antes de analisar o Estado de Direito, com o objetivo de se alcançar uma
melhor compreensão inicial, nada mais oportuno do que constatar como se dá a
sua negação, ou melhor, estudar o Estado de não Direito.
1C
Nas palavras de Gomes Canotilho, o Estado de não Direito é:
aquele em que existem leis arbitrárias, cruéis e desumanas
que fazem da força ou do exercício abusivo do poder o
direito, deixando sem qualquer defesa jurídica eficaz o
indivíduo, os cidadãos, os povos e as minorias 5 (grifos
nossos).
Por todo o exposto neste tópico, torna-se evidente o fato que ao Estado
de Direito está necessariamente incorporado o Estado de Direito e de Justiça.
3 CONCLUSÃO
Procurou-se trabalhar neste artigo principalmente com o conceito,
características e importância do Estado de Direito na atualidade.
Demonstrou-se inicialmente a definição de Estado de não Direito para
através de sua negação se ter uma ideia preliminar e mais clara do que pode ser
considerado o Estado de Direito.
Depois se partiu mais diretamente para a análise do conceito,
características e importância do Estado de Direito atual. Como seu conceito é
muito aberto, inclusive oscilando muito na doutrina, julgou-se mais adequado
tratar preferencialmente das suas características ao longo de todo o texto,
deixando de lado a construção de um conceito acabado sobre este Estado.
O estudo do Estado de Direito foi iniciado pela análise do Estado de Direito
Liberal (formal) até se alcançar o Estado atual, no qual o Estado de Direito
Democrático passa a incorporar valores materiais, através do Estado de Direito
e de Justiça e do Estado de Direito Social, ambos implícitos a ele.
O Estado de Direito hoje é certamente o Estado que respeita e promove
os princípios democráticos e os direitos fundamentais previstos
constitucionalmente.
Contudo, o Estado de Direito Democrático, que é predominantemente um
Estado Representativo, pois o povo, que é titular do poder, quase que não o
exerce diretamente, está passando por um grave problema de baixa
representatividade.
Os representantes dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário
acabam por não representar os interesses da coletividade, mas, sim, interesses
particulares de grupos específicos, quando não seus próprios interesses.
Este desvirtuamento tem vários diagnósticos, tais como a atuação de
grupos de pressão, a perda de ideologia dos partidos políticos, o descrédito na
política, dentre outros.
O que importa efetivamente é que não há Estado melhor do que o Estado
de Direito nos dia de hoje. Além do que este é o Estado elencado pela
Constituição Federal do Brasil (logo no seu preâmbulo e no caput do seu artigo
primeiro).
Mesmo com suas deficiências, ele vem difundindo valores importantes
como a dignidade da pessoa humana, a igualdade e a liberdade.
Não promove realmente de forma plena, mas ele oferece as condições
necessárias para que possam ser alcançados, como através da atuação em
conformidade com os direitos fundamentais e com as modalidades da
democracia participativa.
O Estado de Direito Democrático encontra expressão jurídico-
constitucional em um complexo de princípios e regras dispersos no texto
constitucional. Na realidade, o Estado de Direito é também um princípio
fundamental constitucional. Princípio este que é estruturante na medida em que
indica as ideias diretivas básicas da ordem constitucional, tendo como seu
alicerce, outros princípios e regras constitucionais.
REFERÊNCIAS
ADORNO, Sérgio. Crime, justiça penal e desigualdade jurídica. Revista USP.
São Paulo, n. 21, março-maio 1994.
DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos da Teoria Geral do Estado. 19. ed. São
Paulo: Editora Saraiva, 1994.
____________. Estado de direito e cidadania. Direito e Cidadania, Lisboa, n.
19, p. 125-129, jan./abr. 2004.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 15. ed.
São Paulo: Malheiros Editores, 2003 .
SANTOS, Boaventura de Souza. Pela mão de Alice. São Paulo: Conter, 1997.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 30. ed. São
Paulo: Malheiros Editores, 2008.
4. Ibidem, p. 1173-1175.
6. Ibidem, p.12-13.
7. Ibidem, p.12-13.
8. Ibidem, p. 13.
9. Ibidem, p. 14.
17. DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos da Teoria Geral do Estado. 19. ed.
São Paulo: Editora Saraiva, 1994. p. 181.
20. BOBBIO, Norberto. O futuro da Democracia; uma defesa das regras do jogo.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986. p. 18-20.
22. E não cabe alegar que esta democracia direta nos tempos modernos poderia
ser viabilizada pelo avanço tecnológico, o que alguns chamam de
computadorcracia, pois por mais que se consiga otimizar o tempo das
pessoas na tomada das decisões, teria que invocá-las à participação política
com uma frequência muito elevada frente à complexidade dos problemas
hoje existentes, o que acabaria por cair de qualquer modo na questão da
massificação da individualidade do cidadão. Dalmo Dallari (em sua obra:
DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos da Teoria Geral do Estado. 19. ed.
São Paulo: Editora Saraiva, 1994. p. 130), ao qual este artigo discorda neste
aspecto, é um dos que defende a viabilidade desta democracia direta via
terminais avançados de computador e trata apenas de um obstáculo para
tanto, qual seja, as resistências dos políticos profissionais que não querem
deixar de representar os interesses do povo.
24. BOBBIO, Norberto. O futuro da Democracia; uma defesa das regras do jogo.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986. p.9.
25. Não cabe neste texto aprofundar a discussão acerca do papel dos partidos
políticos e o desvirtuamento destes, ocasionado por motivos de diversas
ordens, valendo apenas dizer por ora que os partidos políticos, de um modo
geral, acabaram se transformando em instituições meramente lucrativas e
burocráticas, esvaziadas de ideologia ou debate político.
26. Em Porto Alegre, por exemplo, o orçamento participativo consiste em um
processo de decisão pela população sobre as prioridades de obras da
prefeitura.
31. MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 15. ed.
São Paulo: Malheiros Editores, 2003. p. 109.
32. ADORNO, Sérgio. Crime, justiça penal e desigualdade jurídica. Revista USP.
São Paulo, n. 21, março-maio 1994. p. 320.