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Objectivo Geral
Objetivos Específicos
Como afirma Marrara (2014, p. 26): “a regra da ‘reserva legal’ em sentido amplo, significa que o Estado
não age sem suporte no Direito (relação de juridicidade necessária) e, sobretudo, na Constituição
(relação de constitucionalidade necessária)”. Santos Neto (2003, p. 162) complementa: “O princípio
da reserva de lei, por seu turno, concerne a um conjunto de matérias constitucionalmente definidas que
devem ser reguladas exclusivamente por lei”. No que diz respeito à supremacia da lei, Marrara (2014, p.
27) pondera como, neste caso, “a ação estatal é considerada válida apenas se não contrariar, nem for além
das normas nas quais está fundamentada” (MARRARA, 2014, p. 27).
Madeira (2014, p. 36) ressalta que, de modo mais específico, o princípio da legalidade
encontra fundamentos nas ideias iluministas e na origem do Estado de direito, a partir
da elaboração de teóricos como Montesquieu, um dos primeiros a defender uma divisão
clara entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Mas é possível ir ainda mais
longe na origem deste princípio, que remonta ainda “à Magna Carta de 1215,
documento imposto pelos barões ingleses que se preocupavam em limitar o poder do rei
João Sem Terra”. Os barões pretendiam, portanto, limitar o poder do governante através
de um ordenamento jurídico, substituindo a vontade individual do monarca pela
“vontade geral” elaborada por “representantes” do povo.
Santos Neto (2003, p. 157) ressalta, por sua vez, que o princípio da legalidade
Mas é, sem dúvida, à Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, que a
ideia de legalidade aparece claramente enunciada, ao qual se deve acrescentar também
as “constituições” decorrentes das Revoluções Liberais: inglesa, americana e francesa.
Nesse cenário rompe-se com a ideia de um direito natural, que entende o direito como
um conjunto de leis universais, necessárias e imutáveis, seja deduzidas pela razão ou
oriundas de um poder divino e passa a tratar o direito como uma convenção e normas
que devem ser estabelecidas socialmente.
São quatro os dados que se nos afiguram altamente elucidativos e indispensáveis para a
consideração da legalidade e legitimidade como temas da teoria política: o histórico, o
filosófico, o sociológico e o jurídico.
(Santos Neto, 2008) “Despreza-se a lei como fim e dela se serve como meio. A
legitimidade do ordenamento jurídico burguês é atacada a fundo nessa tomada de
posição dos pensadores revolucionários marxistas, que alargam cada vez mais o hiato
separando a legalidade da legitimidade, cuja ruptura tem exemplos de antecedência
histórica na polêmica dos liberais com os tradicionalistas conservadores do século
XIX.”
Durante o nacional-socialismo a crise chega ao máximo grau de intensidade. Aqui
temos concretizado o exemplo histórico supremo de uma corrente de opinião, de uma
ideologia, de um partido político, cujos chefes, sem quebra da legalidade, tomaram o
poder à sombra do regime estabelecido e dele se serviram do modo que se nos afigura
mais ominoso em toda a história do gênero humano, e cuja legitimidade, vista ou
apreciada pelos critérios do racionalismo imperante na doutrina jurídica dos
movimentos liberais e positivistas do século XIX, pareceria irrepreensível. O mesmo se
passou na Tchecoslováquia com a tomada do poder por uma revolução aparentemente
pacífica, de teor parlamentar, que instaurou ali a nova legalidade proletária.
Exemplos como àqueles que acabamos de citar nos convidam de imediato a retomar o
problema mediante um segundo ponto de partida: o filosófico.
Via de regra, os governos que nascem das situações revolucionárias, dos golpes de
Estado, das conspirações triunfantes, são governos ilegais, mas eventualmente
legítimos, se abraçados logo pelo sentimento nacional de aprovação ao exercício do seu
poder. Confirmada a viabilidade desses governos, a legitimidade fundará então com o
tempo a nova legalidade. E esta há de perdurar, conciliada no binômio legalidade-
legitimidade, até que ulteriores comoções da consciência nacional tragam com a
intervenção súbita de crises imprevistas e profundas para a conservação do poder a
perda do equilíbrio político dos sistemas legais e sua consequente destruição.
Dos escritos mais antigos ainda conserva algum interesse nos dias presentes o de autoria
de Benjamin Constant sobre o espírito de conquista e usurpação e mais alguns discursos
políticos de Wilson, quando o Presidente dos Estados Unidos sustentou a doutrina
americana da legitimidade democrática.
Conclusão
A legitimidade é muito mais ampla do que a legalidade, por mais leis que existam. Não
se pode legislar tudo, para todas as situações possíveis. Logo, o legítimo figurará como
uma reserva mais abstracta, passível de concretização a cada momento. Neste sentido, a
legitimidade funde-se com a ideia de Ética e deveria ser a base da legalidade, ou seja,
deveria ser o instrumento necessário para a construção das leis. Por estas razões, os
conceitos não se podem fundir. E no entanto, a legitimidade nem sempre é consensual.
Nem sempre se identifica apenas com as regras globais e civilizacionais da Ética e dos
Direitos Humanos. Vai, frequentemente, para além disso. E torna-se subjectiva.
Podemos ilustrar esta subjectividade recorrendo aos exemplos concretos acima. Há
quem encontre legitimidade na situação de MLA e quem não a veja. O mesmo se passa
com Lula ou com as offshores. E estou a referir-me a opiniões de residentes num mesmo
país, com alguma homogeneidade cultural ou religiosa.
Referências bibliográficas
MADEIRA, José Maria P. Administração Pública: Tomo I. 12. ed. Rio de Janeiro:
Freitas Bastos, 2014.
MARRARA, Thiago. A legalidade na relação entre Ministérios e agências reguladoras.
In: ARAGÃO (org.). O poder normativo das agências reguladoras. Rio de Janeiro:
Forense, 2005.
BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. 10. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2000.
ARAGÃO, Alexandre Santos de. Princípio da legalidade e poder regulamentar no
Estado contemporâneo. Revista de Direito Administrativo, v. 225, p. 109,129, jul/set.
2001. Acesso em 19/06/2017.