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Baudrillard Lyotard ENTRE NARRATIVA E METANARRATIVA O bem-estar como mundo e como representação

“O consumo é a totalidade virtual de todos os objetos e mensagens Legitimação do saber Um exemplo de metanarrativa é a filosofia iluminista, que A modernidade foi conceptualizada como a superação dos sectores modernos
que se constituem doravante num discurso que parece cada vez mais A legitimação tem por modelo a da autoridade e da legislação acreditava que a razão e seus produtos - o progresso científico e a sobre os sectores tradicionais, por meio do progresso técnico, da
coerente. O consumo, pelo fato de possuir um sentido é uma atividade (legislador) – o cientista “legislador” estabelece que tal tecnologia - levariam o homem à felicidade, emancipando a industrialização e na valorização do indivíduo. Como assinala Sebastien
de manipulação sistemática dos signos” (BAUDRILLARD). Então, enunciado será cientifico se obedecer a tais critérios, tal como um humanidade dos dogmas, mitos e superstições dos povos primitivos. Charles: “Hipermodernidade: uma sociedade liberal, caracterizada pelo
caberia ao consumidor comprar para que a sociedade continue legislador o faz ao dispor que tais cidadãos devem exercer tais O marxismo é outro exemplo de metanarrativa. Para os marxistas, a movimento, pela fluidez, pela flexibilidade; indiferente como nunca antes se
produzindo, a fim de pagar o que foi comprado. O homem torna-se funções. Essa ligação já existe em Platão, a ligação entre legitimação história era impulsionada pelo confronto entre duas classes foi aos grandes princípios estruturantes da modernidade, que precisaram
parte da ordem de produção, mas sem relação com o próprio produtor. e legislador, quando o direito de decidir sobre o que é verdadeiro contraditórias, a burguesia e o proletariado, que resultaria, ao fim da adaptar-se ao ritmo hipermoderno para não desaparecer” (Lipovetsky,
Contudo, segundo o autor, o consumo não apresenta uma relação não se dissocia do direito de decidir se é justo, havia um revolução do proletariado, numa sociedade sem classes, de plena 2004:26).
passiva em relação à produção que é pretensamente ativa. Na lógica entrosamento entre os gêneros de linguagem “ciência” e liberdade e igualdade: o comunismo. Para explicar as novas transformações sociais do bem-estar como mundo e do
do consumo, nem tudo se refere ao objeto em si: a dinâmica apresenta “ética/política”. Lyotard diz que “a legitimação é o processo pelo qual um bem como representação, o termo pós-moderno teve como mérito dar nome
uma faceta puramente teórica, se afastando da esfera material. Não se O método – os jogos de linguagem ‘legislador’ ao tratar do discurso científico é autorizado a prescrever as grandes transformações ocorridas nas sociedades ditas como
chega a uma saturação ou satisfação quando se fala de consumo. Neste jogo de linguagem do qual fala Lyotard, o pós-modernismo as condições estabelecidas” (LYOTARD, 2013, p.13), logo, vemos desenvolvidas, acentuando uma mudança de direcção e reorganizando o
O consumo surge como modo ativo de relação, como modo de propõe um diálogo entre a “cultura do presente e a história do que na pós-modernidade estes discursos legitimadores são funcionamento social e cultural das sociedades democráticas.
atividade sistemática e de resposta global, que serve de base a todo passado”. A estética pós-moderna nos faz voltar ao passado a fim de ineficazes. O sujeito fragmentado perde seus dispositivos de Hipermodernidade
nosso sistema cultural verificar o que tem de valor nessa experiência remota, se é que ali legitimação e assume identidades específicas conforme contexto, O termo hipermodernidade foi criado pelo filósofo francês Gilles Lipovetsky
Em “A sociedade de consumo”, Baudrillard introduz a cultura do existe mesmo algo de valor. Entre idas e vindas, o passado e o mediante a ineficácia dos “discursos autorizados que se para delimitar o momento actual da sociedade humana. O termo “hiper” é
mass media afirmando que, assim como os acontecimentos se presente são julgados um à luz do outro. deslegitimam no contexto pós-moderno” (LYOTARD, 2013, p.31): utilizado em referência a uma exacerbação dos valores criados na
repetem na história (e se tornam uma evocação caricatural ao se A natureza do Vinculo Social – a alternativa moderna Lipovetsky  Modernidade, atualmente elevados de forma exponencial. O termo
repetirem), “o consumo cultural pode definir-se como o tempo e o Ao falar do saber na sociedade contemporânea deve-se decidir sobre A nova ordem amorosa Quando falamos da nova ordem amorosa Hipermodernidade como ideia de exacerbação da Modernidade surgiu em
lugar de ressurreição caricatural e da evocação pândega do que já qual a representação que fazemos dela. No último século, há duas na perspectiva de Gilles Lipovetsky o termo remete-nos a felicidade  meados da década de 1970 e ganhou destaque em 2004 graças ao estudo de
não existe — do que é consumido no sentido original do termo representações centrais, dois modelos: a – a sociedade é um todo em que estapode ser associada a muitos conceitos e noções, tornando autores franceses e ao livro “Os tempos hipermodernos” de Lipovetsky com a
(acabado e volvido)”. funcional (Talcott Parsons e sua escola) e b – a sociedade se divide o objectivo de especificá-lo de forma consistente e abrangente uma colaboração de Sébastien Charles.
A cultura seria, portanto, constantemente reciclada, de maneira a em duas partes (todas as escolas marxistas). A idéia de que a tarefa muito difícil de ser levada a cabo. Desde os antigos gregos, o Vattimo eo Niilismo
acompanhar os modismos. Quem não se recicla, não é um sociedade forma um todo orgânico (escola francesa) torna-se mais ser humano vive em busca do grande segredo da felicidade, na Niilismo é uma doutrina filosófica que indica pessimismo e ceticismo
verdadeiro cidadão da sociedade de consumo. Se o princípio de precisa com o funcionalismo e assume uma outra modalidade eterna procura do que o fará feliz e satisfeito com a sua vida. Esta extremos perante a realidade ou valores humanos. Num sentido amplo, o
organização governa atualmente toda a cultura de massas, o direito quando Parsons, nos anos 50, compara a sociedade a um sistema busca não é exclusiva de um grupo de pessoas, mas é compartilhada niilismo consiste numa atitude de negação ou descrença absoluta em relação
de todos os aculturados não é para a cultura, mas para a reciclagem auto-regulável. O modelo teórico e material não é mais o organismo por diversos estudiosos, entre eles filósofos, teólogos, psicólogos e a princípios, sejam eles religiosos, morais, políticos ou sociais.
cultural. Assim, a cultura já não se produz para durar. vivo, mas é aquele fornecido pela cibernética. Sua visão é ainda cientistas sociais. Niilismo vem da palavra em latim nihil, que significa "nada". Ele representa
Como é ser consumidor numa sociedade de consumo otimista, acredita no ‘welfare state’ e nas sociedades abundantes. Na nova ordem amorosa Gilles Lipovetsky  sendo um filósofo uma atitude crítica em relação às convenções sociais e aos valores
De acordo com Bauman, a maneira como a sociedade atual “molda” A função narrativa e a legitimação do saber contemporâneo resgata a importância do capitalismo no que se tradicionais.
seus membros é ditada pelo dever de desempenhar o papel de Não se deve pensar que a passagem de um saber para o outro se dá refere aos mercados de massa, abordando a economia fordista, o De acordo com Nietzsche, o niilismo pressupõe a morte da Divindade Cristã
consumidor. Ele quer dizer que a nossa sociedade funciona a partir de forma definitiva. O recurso ao narrativo é inevitável para o fetichismo das marcas e a organização pós-fordista. Segundo o e seus princípios. O homem se despede assim dos valores morais e regras
de uma norma que considera importante a capacidade e vontade de discurso da ciência -  p. ex. - seus relatos na mídia, fundamentais por pensador, a sociedade do hiperconsumo estaria organizada em nome estabelecidas por essas doutrinas. (Nietzsche Apud Gomes, 2004, P. 148).
seus membros serem bons consumidores. Naturalmente, nas duas causa de suas implicações econômicas e políticas. O próprio trabalho de uma felicidade (chamada de paradoxal). A produção dos bens, os O niilismo passivo é o de Schopenhauer, segundo o qual para o ser humano
sociedades sempre houve a produção de bens de consumo. de Lyotard o prova. serviços, as mídias, os lazeres, a educação, a ordenação urbana, tudo nada faz sentido, a vida é uma batalha sofrida. Nietzsche tem como objetivo
Para os consumidores da sociedade atual, o que interessa é a ‘O saber científico não pode saber e fazer saber que ele é o seria pensado e organizado, em princípio, com vista à nossa maior dar mais importância ao niilismo ativo que ao passivo, indicando que o
sensação do novo, enquanto o que se deseja ainda é sonho de verdadeiro saber sem recorrer ao outro saber, o relato, a narrativa, felicidade (Borile,2016. 89).. Homem é mais forte sabendo que o mundo não tem sentido. Só dessa forma o
consumo que é, para ele, o não-saber, sem o que é obrigado a se pressupor a si O autor cunha a expressão turboconsumidor para se referir às ser humano é capaz de criar novos valores adequados. (Pecoraro, 2009, p.
Multiplicidade dos objectos mesmo e cai assim no que ele condena, a petição de princípio, o rápidas mudanças sociais e económicas que levaram o ser humano 389.).
Surgimento da multiplicidade dos objectos as pessoas são preconceito. mas não cairia também nisso, valendo-se do relato?’ não apenas a um consumo em massa, mas a uma situação de Gadamer acreditava na arte como experiência de verdade. Em complemento,
estimuladas a pesquisar seus gostos, costumes, personalidade e A ciência moderna tem duas novas componentes na problemática da individualização e hiperindividualização do consumo, como se este Vattimo vai dizer que a arte é experiência da verdade se é experiência
investir em si a partir de suas próprias características e não segundo legitimação. Desvia-se da busca metafísica de uma prova primeira fosse o direcionador dos sentimentos em torno do ser feliz, o que autêntica, isto é, se o encontro com a obra modifica realmente o observador.
a dos outros. Hoje, os indivíduos buscam legitimar-se e não (Deus) e reconhece que as condições do verdadeiro – isto é, as atingiria todas as esferas sociais (os que querem e podem consumir, Com isso, temos em Gadamer, a conformidade da mostra de um caráter
legitimar o grupo ao qual pertencem. Por outro lado, a regras do jogo da ciência – são imanentes a esse jogo, não podem ser excluindo-se o oposto a este quadro) e idades (adultos e crianças historicamente relevante da experiência estética, suscitado por Hegel por
multiplicidade dos objectos não garante a multiplicidade de estabelecidas de outro modo a não ser no seio de um debate ele ansiosos por consumir). meio da identificação da obra de arte com a verdade, o que faz jus à dialética
escolhas, porque os sujeitos não são iguais. Os objectos de consumo mesmo já científico e que não existe outra prova de que essas regras De acordo com as reflexões de Lipovetsky, (2004), a nova ordem do sujeito consigo mesmo e com a história.
realmente se oferecem a todos, mas a todos que tenham condições sejam boas senão o fato de formarem o consenso dos experts. amorosa na contemporaneidade valoriza os laços emocionais e Ademais, Vattimo defende que:
financeiras para adquiri-los, a todos que compartilhem os mesmos Os relatos da legitimação do saber  sentimentais, as trocas íntimas entre as pessoas e a proximidade O objetivo de Gadamer é recuperar a arte como experiência de verdade,
gostos e valores neles representados. As diferenças manifestas nos Uma tem por sujeito a humanidade como herói da liberdade – comunicacional com o outro. O autor, discorrendo sobre a felicidade contra a mentalidade cientificista moderna, que limitou a verdade ao campo
gostos, costumes, conhecimentos, atitudes e concepções dos sujeitos postula essa versão que todos têm direito ao ensino e ao associada ao amor, afirma que em uma sociedade que não cessa de das ciências matemáticas da natureza, relegando todas as outras experiências
precisam encontrar algumas afinidades naquilo que lhes é oferecido. conhecimento, à ciência, do que foram afastados pela religião e prestar culto ao ideal amoroso e na qual a verdadeira vida está mais ou menos explicitamente, ao domínio da poesia da pontualidade estética
Hermenêutica e Niilismo pelos tiranos. Vide as disposições napoleônicas visando aparelhar de associada ao que se saboreia a dois, a relação estável e exclusiva do Erlebnis. Com isso, Vattimo quer dizer que é preciso superar a ideia de
Para Vattimo escolhe por retomar o problema da hermenêutica, técnicos o estado, o que reverteria para o povo sob a forma de acesso constitui ainda um fim ideal. verdade como conformidade da proposição à coisa e propor uma noção mais
recordando algumas interpretações construtivas feitas por Apel e ao conhecimento e à ciência. Trazendo à tona a barbárie da ética e da estética, Lipovetsky abrangente fundada no conceito de Erfahrung, ou seja, de “experiência como
Jauss: o primeiro postulava que deve haver uma síntese entre No outro relato de legitimação, a relação ciência-estado-nação se dá conclui-se que a actual sociedade do hiperconsumo deve criar modificação que o sujeito sofre quando encontra algo que tem de fato
filosofia da linguagem de origem pragmatista e empirista e filosofia de outra forma. Vê-se na fundação da universidade de Berlim e nas formas de sustentabilidade, não sendo apenas destrutiva, como se relevância para si” (Vattimo, 2002, p. 122).
da existência de origem heideggeriana; o segundo defendia que é formulações de Humboldt – aparentemente é um ‘buscar a ciência vem observando, mas também responsável. O pensamento heideggeriano é oposto ao niilismo, no entanto possui dois
decisivo haver uma consciência hermenêutica mais aguda para em si mesmo’, mas remete esta “à formação espiritual e moral da traços niilistas: o primeiro está relacionado ao conceito de An-denken, que é
construir uma crítica artística e literária mais abrangente. Sobre isso, nação’ (Bildung). Humboldt evoca um ‘espírito’, Fichte uma ‘vida’, a forma de pensamento que Heidegger opõe ao pensar metafísico de
Vattimo confirma a ideia de Apel constatando que: “[…] o ideal do organizando um idealismo que pressupõe um princípio único esquecimento do ser, e o segundo está ligado à decisão antecipadora da morte
Verstehen [entendimento] que guia a hermenêutica é o modelo a universal, uma Idéia, que se manifesta simultaneamente na pesquisa e que devia estar na base da existência autêntica.Ao buscar o viés poético,
realizar numa sociedade liberada das opacidades criadas pela e descobertas da ciência como na persecução de justos fins na vida Heidegger afirma que: “Cheio de mérito, todavia, poeticamente habita / o
neurose, pela desigualdade, pela penúria”. moral e política. O sujeito é a síntese final disso.  homem nesta terra” (Heidegger, 1936 Apud Vattimo, 2002, p. 123).
Para Vattimo (2002, p. 115). Diz que “Para Nietzsche, niilismo é a O niilismo, para Vattimo, representa “o acontecimento da ontologia
situação em que o homem reconhece explicitamente a ausência de ocidental, caracterizada pelo progressivo enfraquecimento da noção
fundamento como constitutiva da sua condição (aquilo que, em aristotélico-platônica de ser”. E ainda, ele “vê na hermenêutica a
outras palavras, Nietzsche chama de morte de Deus)”. oportunidade de corresponder de modo justo àquele duplo trabalho de
relativização, realizado em filosofia pelo historicismo de Dilthey e pelo
perspectivismo nietzschiano”.

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