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INTRODUÇÃO

Muito se tem falado sobre crescimento de Igrejas, expansão do Reino e


sobre alcançar os perdidos nos últimos anos. Nota-se que há no coração da
Igreja um anseio pelo alcançar do maior número de pessoas ao seu redor. Ao
mesmo tempo, percebem-se diferentes métodos usados pelas Igrejas para se
chegar ao objetivo.
Infelizmente, há uma parte das Igrejas que não têm a preocupação de
analisar se estes métodos são de fato bíblicos e saudáveis à proclamação do
Evangelho. Há pastores e líderes eclesiásticos que aderem a diferentes
métodos, visando somente o crescimento numérico, sem ao menos ver as
catástrofes que estes podem causar ao rebanho do Senhor.
Pelo fato de visarem o crescimento rápido, esses diferentes métodos
trazem danos a Igreja, não refletindo o que Cristo desejava para Sua Igreja:
maturidade, comunhão e proclamação.
A partir da Grande Comissão, expressa em Mateus 28.19-20, percebe-
se que o Senhor Jesus, antes da Sua ascensão ao céu, apontou o meio pelo
qual os discípulos, homens simples, poderiam alcançar o mundo com do
Evangelho: fazendo discípulos. Esta ação se chama discipulado.
Sinteticamente, o propósito desta pesquisa é informar a respeito do
diálogo que se dá na práxis religiosa, mais especificamente no contexto
educativo dos grupos de discipulado, em uma determinada comunidade cristã,
frente a referenciais teóricos da tradição cristã. Para alcançar este propósito, o
autor propõe os seguintes objetivos: 1) apresentar o histórico da Igreja
Comunidade da Graça e sua visão para a prática do discipulado; 2) apresentar
os princípios fundamentais do discipulado na teoria de Dietrich Bonhoeffer e de
Karl Barth; 3) apresentar os princípios da práxis educativa na teoria de Thomas
Groome; 4) elaborar uma síntese comparativa entre os autores, visando à
reflexão quanto à práxis educativa do discipulado; 5) elaborar uma análise
comparativa entre a prática da ICG e a reflexão teórica, apresentando
possíveis contribuições e limitações à práxis educativa.
Diante de um tema demasiadamente abrangente, a pesquisa se limita
frente às demandas: não se pretende estabelecer, com os referenciais teóricos,
um novo modelo ideal de discipulado cristão; não se pretende defender a
comunidade de fé estudada como modelo ideal na prática dos grupos de
discipulado, bem como, na defesa de um modelo negativo nesta prática; a
pesquisa permanecerá na análise do objeto de pesquisa, através da ótica dos
referenciais teóricos, com vistas à práxis educativa.

1. A SOCIEDADE HIPERCONECTADA

O que aconteceu com a humanidade? Por que temos a sensação de que


alguma transformação muito severa está em curso? A tecnologia é a grande
responsável pela mudança tão drástica de comportamento dos cidadãos
contemporâneos? A mobilidade e a velocidade deram o tom dessa nova era?
Estas são algumas das perguntas que surgiram durante o trabalho e que
suscitaram outras, ampliando bastante o universo de análise do momento em
que estamos vivendo e vivenciando. Apesar de se tratar de um assunto muito
atual, sendo necessário buscar conteúdos e autores do momento, foi
fundamental em diversas ocasiões dar um passo atrás e traçar uma linha do
tempo, com apoio de filósofos e pesquisadores sobre as transformações
ocorridas nessa transição do século anterior ao tempo presente.

Interrupção, incoerência, surpresa são as condições comuns de nossa vida.


Elas se tornaram mesmo necessidades reais para muitas pessoas, cujas
mentes deixaram de ser alimentadas... por outra coisa que não mudanças
repentinas e estímulos constantemente renovados... Não podemos mais tolerar
o que dura. Não sabemos mais fazer com que o tédio dê frutos. Assim, toda a
questão se reduz a isto: pode a mente humana dominar o que a mente humana
criou? (VALÉRY apud BAUMAN, 2001, p. 7).

A era da modernidade, segundo Lipovetsky e Charles, na obra Os


tempos hipermodernos, possuía dois valores essenciais (liberdade e igualdade)
e uma figura inédita (o indivíduo autônomo, em ruptura com o mundo da
tradição). Nessa fase, considerada modernidade clássica, o surgimento do
individualismo ocorreu simultaneamente com a evolução do poder estatal, o
que fez com que a autonomização dos indivíduos permanecesse mais na teoria
do que na realidade. Esse período se passa entre 1880 e 1950, segundo o
filósofo. Como evolução ao cenário da modernidade, surge em contraponto à
pós-modernidade, por meio do consumo de massa e dos valores que ele
veicula (cultura hedonista e psicologista), datada da segunda metade do século
XX, ainda de acordo com Lipovetsky e Charles.

A pós-modernidade representa o momento histórico preciso em que todos os


freios institucionais que se opunham à emancipação individual se esboroam e
desaparecem, dando lugar à manifestação dos desejos subjetivos, da
realização individual, do amor-próprio. As grandes estruturas socializantes
perdem a autoridade, as grandes ideologias já não estão mais em expansão,
os projetos históricos não mobilizam mais, o âmbito social não é mais que o
prolongamento do privado – instala-se a era do vazio, mas “sem tragédia e sem
apocalipse” (LIPOVETSKY; CHARLES, 2004, p. 23).

Os autores de Os tempos hipermodernos (LIPOVETSKY; CHARLES,


2004), argumentam que, a partir de 1950, o individualismo ganha destaque e
se liberta das normas tradicionais, surgindo daí uma sociedade cada vez mais
voltada para viver o presente e as novidades que ele traz. Todas as camadas
sociais começam a participar ativamente desse momento da história, gerando
um forte interesse pelas novidades, pela promoção do fútil e do frívolo, do culto
do desenvolvimento pessoal e do bem-estar (ideologia individualista
hedonista). Nesse momento, não existiam mais modelos prescritos pelos
grupos sociais, mas condutas escolhidas e assumidas pelos indivíduos;
deixaram de existir normas impostas (elas passaram a ser discutidas) e surgiu
uma vontade de seduzir (termo que se aplica na análise do social ao modelo de
sociedade pós-moderna) que afetou o domínio público (culto à transparência e
à comunicação) e o privado (multiplicação das descobertas e das experiências
subjetivas). O livro trata esta fase como jubilosa e liberadora do individualismo,
pois se vivenciava a desafeição pelas ideologias políticas, o definhamento das
normas tradicionais, o culto ao presente e a promoção do hedonismo individual.
No momento em que triunfam a tecnologia genética, a globalização liberal e os
direitos humanos, o rótulo pós-moderno já ganhou rugas, tendo esgotado sua
capacidade de exprimir o mundo que se anuncia (LIPOVETSKY; CHARLES,
2004, p. 52).
Lipovetsky e Charles (2004) indicam que, desde os anos 1980,
mudanças no individualismo começam a ocorrer e vários sinais nos fazem
pensar que entramos na era do hiper, que se caracteriza pelo hiperconsumo,
pela hipermodernidade (que se segue à pós- modernidade) e pelo
hipernarcisismo. Para os autores, a hipermodernidade é uma sociedade liberal
que se caracteriza pelo movimento, pela fluidez, pela flexibilidade - sociedade
essa que se torna indiferente como nunca aos grandes princípios estruturantes
da modernidade e que precisaram se adaptar ao ritmo hipermoderno para não
desaparecer. Estamos vivendo, portanto, a terceira fase da modernidade, onde
surge um indivíduo “mais senhor e dono da própria vida, sujeito
fundamentalmente instável, sem vínculos profundos, de gostos e
personalidades oscilantes. Se antes tínhamos uma modernidade limitada,
então agora chegou o tempo de uma modernidade consumada”, completa o
autor (LIPOVETSKY; CHARLES, 2004, p. 41).
Na mesma linha de reflexão, Harari também nos traz uma contribuição:

Enquanto sistemas sociais e políticos anteriores duravam séculos, hoje em dia


cada geração destrói o mundo antigo e constrói um novo em seu lugar. Como
brilhantemente expressa o Manifesto comunista, o mundo moderno
positivamente requer incerteza e distúrbio. Todas as relações fixas e todos os
antigos preconceitos são varridos para um lado, e novas estruturas tornam-se
antiquadas antes de chegarem a se solidificar. E tudo o que é sólido se
desmancha no ar. Não é fácil viver num mundo tão caótico e é ainda mais difícil
governá-lo (HARARI, 2016, p. 223-224).

Marc Augé (2006) falando do momento histórico atual, que diz respeito a
todos nós, reflete sobre o paradoxo do mundo contemporâneo, que é ao
mesmo tempo unificado e dividido, uniforme e diverso, desencantado e
reencantado. O autor entende que essa mudança de perspectiva, tão
carregada de contradições e tão impactante, leva a três movimentos
complementares: “a) o passar da modernidade, que chamarei de
sobremodernidade; b) o passar dos lugares, que chamarei de não-lugares; c) o
passar do real ao virtual” (AUGÉ, 2006, p. 101). Dimensões tão diferentes, mas
que conseguem caminhar lado a lado neste momento em função da
interligação planetária proporcionada pelos meios de comunicação, que
aproximou indivíduos e lugares num mesmo contexto, complementa Augé.

Os tempos hipermodernos implicam no fato de cada indivíduo, entregue à sua


própria liberdade, é submetido a influências paradoxais que opõem, ao mesmo
tempo, as exigências do hedonismo e as da responsabilização, gerando, como
consequência, um tipo de sociedade esquizofrênica dividida entre uma cultura
do excesso e o elogio da moderação (CHARLES, 2009, p. 29).

Para Bauman (2001), as palavras “fluidez” ou “liquidez” são as metáforas


mais adequadas quando se tem interesse em captar a presente fase que
estamos vivendo, nova de muitas maneiras, na história da modernidade. O
autor explica que os fluidos se movem facilmente, eles fluem, escorrem,
inundam, respingam, transbordam, são filtrados e, diferentemente dos sólidos,
não são facilmente contidos; contornando os obstáculos, dissolvem outros e
invadem ou inundam seu caminho. Essa mobilidade entre os sólidos nos faz
associar a ideia que são leves, e quanto mais leve viajamos, com maior
facilidade e rapidez nos movemos, característica dessa nova era. Esta é uma
nova realidade que surge, sem abandonar por completo a era anterior.
Podemos observar uma mutação incompleta, pois a hipermodernidade não
inicia do zero, ela se apresenta repleta de resquícios do status quo ante
(BAUMAN, 2001, p. 54). Augé (2006) utiliza-se do termo sobremodernidade
que, segundo ele, amplia e diversifica o movimento da modernidade, e por ser
oriundo de uma lógica de excesso é possível mensurá-lo a partir de três
excessos: o excesso de informação, o excesso de imagens e o excesso de
individualismo (sendo que os três excessos estão vinculados).
O individualismo ganha destaque na hipermodernidade. O foco é o
indivíduo e seu comportamento. Não é fácil tentar decifrar esses indivíduos
hipermodernos, pois ao mesmo tempo que são mais informados, são mais
desestruturados; são mais adultos e autônomos, mas também mais instáveis;
são menos ideológicos, mais abertos e mais influenciáveis; são mais críticos e
também mais superficiais; além de mais céticos e menos profundos, explica
Lipovetsky (2004). Sébastien Charles destaca em Cartas sobre a
hipermodernidade (2009, p. 29), “a sociedade hipermoderna é complexa e
paradoxal porque, ao mesmo tempo em que ela estimula os prazeres (o
hedonismo, o consumo, a festa), ela produz comportamentos angustiados e
patológicos”. Inclusive esta questão, a respeito do comportamento e das
patologias emocionais que impactam os cidadãos contemporâneos, será
tratada com mais profundidade no capítulo 3. Este processo de individualização
remete a situações até então inéditas, como por exemplo a substituição da
valorizada privacidade pela autoexposição intencional e prazerosa (BAUMAN;
DONSKIS, 2014).

Quanto à “morte do anonimato” por cortesia da Internet, [...] submetemos à


matança nossos direitos de privacidade por vontade própria. Ou talvez apenas
consintamos em perder a privacidade como preço razoável pelas maravilhas
oferecidas em troca. Ou talvez, ainda, a pressão no sentido de levar nossa
autonomia pessoal para o matadouro seja tão poderosa, tão próxima à
condição de um rebanho de ovelhas, que só uns poucos excepcionalmente
rebeldes, corajosos, combativos e resolutos estejam preparados para a
tentativa séria de resistir (LIPOVETSKY; CHARLES, 2004, p. 23).

Como efeito do individualismo e das relações enfraquecidas, Bauman


(2004) identifica um empobrecimento das relações entre os indivíduos e
comunidades. Para Sébastien Charles (2009, p.48), “ocorre que nas nossas
sociedades hipermodernas, em que os laços tradicionais ligando os indivíduos
à comunidade se enfraqueceram, a busca pela felicidade, que cada um deve
realizar sozinho, parece bastante com uma via crúcis”. Com a hiperconexão,
surge uma situação inusitada no cotidiano de quem vive conectado, que é a
ilusão de nunca estar só, a fantasia de que a hiperconectividade nos traz uma
infinidade de conexões, mas logo é desfeita e a solidão se revela – o alone
together de Sherry Turkle. A velocidade que as trocas exigem, assim como a
necessidade de estar sempre conectado, se tornaram requisitos para não
perdermos nada e nos mantermos ativos em nossas redes. Se em algum
momento houver a necessidade de diminuirmos o nosso ritmo ou até mesmo
interrompermos esse fluxo, seremos alcançados pela solidão real que a
hiperconectividade criou. E como sugerem os autores de Cegueira moral, “ou
você está on ou está off. Esse é um plebiscito diário numa sociedade líquida
moderna” (BAUMAN; DONSKIS, 2014).

2. A IMPORTÂNCIA DO DISCIPULADO NA IGREJA

Sabe-se que a palavra discipulado não é encontrada na Bíblia. Mesmo


assim, tem-se conhecimento de que foi uma atividade praticada por Jesus para
iniciar a primeira Igreja1 (Mt 4.18-23). Jesus em momento algum buscou
conceituar “discipulado”; quem o fez foram seus discípulos através da história,
a partir da compreensão das palavras do Mestre.2
Mas qual é a definição de discipulado? Dietrich Bonhoeffer define o
discipulado de uma forma bem simples: “... é comprometimento com Cristo”.3.
Para Araújo, discipulado é: o ministério de, no poder do Espírito Santo,
conduzir pessoas a um compromisso total com Jesus Cristo, acompanhando-
as no processo de amadurecimento em Cristo e capacitando-as para fazerem
novos discípulos.4
Concordando com a linha de pensamento de Araújo, Jones define
discipulado apontando que este é o processo no qual um cristão com uma vida
coerente e imitável se dedica a ensinar e acompanhar uma pessoa, nova
convertida, rumo à maturidade em Cristo, preparando para também reproduzir-
se em pelo menos três gerações.5
Segundo Phillips, o discipulado cristão é: um relacionamento de mestre
e aluno, baseado no modelo de Cristo e seus discípulos, no qual o mestre
reproduz tão bem no aluno a plenitude da vida que tem em Cristo, que o aluno
é capaz de treinar outros para ensinarem a outros.”6
Kuhne define o discipulado da seguinte forma: “... é um trabalho
espiritual pelo qual o novo crente se firma na fé.”7 Para Kuhne, o discipulado é
um processo que leva o novo convertido a firmar-se na Palavra, aprender
verdades espirituais básicas e criar raízes por meio da prática destas verdades,
para crescer em Cristo.8
Discipulado, segundo Dallas Willard, é o processo no qual o indivíduo
toma a decisão de se dedicar inteiramente a árdua tarefa de se parecer com
Cristo e permanecer em sua fé e prática. Nesta decisão, o novo discípulo de
Cristo inicia uma caminhada de organização de todas as áreas da sua vida
para se parecer a cada dia mais com o Mestre.9
Queiroz indica que o discipulado é o cuidado e acompanhamento do
indivíduo que passou pelo novo nascimento em Cristo, e se encontra como um
“bebê espiritual”, necessitando de cuidados de alguém adulto na fé.10
Em sua obra “Ser e fazer discípulos”, Ortiz afirma que o discipulado é
uma relação de vida, em que o discipulador ensina com sua própria vida como
ser discípulo de Cristo e não ensina somente o que a Bíblia diz.11
Solonca indica brevemente que o discipulado é uma ordem de Jesus.
Também explica o que o discipulado não é. Para Solonca, discipulado não é
somente mais um ministério da Igreja que se preocupa com novos convertidos.
Também não é um encontro semanal rotineiro para transmitir conceitos
teológicos. Muito menos uma sequência de “12 lições” com o novo convertido.
Para Solonca, discipulado vai além disso: é preparar pessoas para viverem
profundamente como Cristo viveu e para se reproduzirem. Para ele, discipulado
é um acompanhamento para o moldar de Cristo na vida do discípulo, um forjar
na personalidade do indivíduo a ponto deste impactar as pessoas ao seu
redor.12
Casimiro, seguindo a mesma linha de interpretação de Solonca, afirma
que o discipulado não é um encontro para somente transmitir informações
bíblicas, mas é um processo de formação espiritual, onde o discipulador busca
influenciar com sua vida o novo discípulo.13
Igor P. Baumann resume de forma clara o que é o discipulado: não é
uma técnica, mas um relacionamento com Cristo.14

DISCIPULADO DE CRIANÇAS

Fazer que as crianças recebam verdadeiramente a Jesus Cristo como


Salvador, baseadas em um conhecimento claro da mensagem do evangelho,
deve ser a nossa maior preocupação. Jesus disse: “Deixai as crianças e não as
impeçais de virem a mim, porque de tais é o reino dos céus” (Mt 19.14).
Ao mesmo tempo, precisamos reconhecer que podemos sutilmente
influenciálas ou mesmo pressionálas a fazerem “uma decisão” de seguir a
Cristo, fundamentadas na tentativa de agradar os homens e não a Deus. A
conseqüência disto é séria e, com o tempo, trará mágoas para todos os
envolvidos. Por esta razão, após termos ensinado o evangelho à criança,
devemos gentil e cuidadosamente deixála ciente de que, se desejar conhecer
mais sobre a salvação, sempre ficaremos felizes em ajudála. Nossa
responsabilidade é encorajar as crianças a virem a Jesus, enquanto ainda são
crianças. Entretanto, a salvação pertence ao Senhor, e devemos aguardar
pacientemente pelo tempo de Deus. Se, porventura, a criança mostrar
verdadeiro interesse pelas coisas de Deus, e demonstrar em sua vida,
evidências da graça transformadora através da convicção e do arrependimento
de pecado, através do amor por Cristo, através de um desejo de viver para
agradar a Deus e da vontade de seguir fielmente a Cristo apesar do preço,
então alegrese! Essa criança provavelmente foi salva.
Se isto for verdade, como nova criatura, essa criança será capacitada
pelo Espírito Santo a viver de modo que dê mais prazer a Deus. Encorajea e
ore com ela para que Deus a faça crescer na fé, no amor, no entendimento e
na santidade e na obediência à vontade dele revelada na Bíblia. [1] Partindo
destes pressupostos, podemos considerar alguns aspectos importantes do
evangelismo e discipulado infantil
Podemos destacar alguns alvos amplos nesta área:
1) Ensinar o conhecimento geral da Bíblia. Precisamos treinar as
crianças a terem um conhecimento geral das Escrituras, tal como, saber os
livros da Bíblia na ordem em que eles se encontram; ser capazes de encontrar
os textos principais das Escrituras, como o Salmo do Bom Pastor, o relato da
criação e do dilúvio, a chamada de Abraão e de José, os dez mandamentos, as
bênçãos e as maldições da aliança, a passagem de Isaías sobre o Servo
sofredor, algumas profecias do Velho Testamento sobre o Senhor Jesus Cristo,
onde encontrar as bemaventuranças, onde se encontra o relato sobre a igreja
primitiva, onde está o relato de Jesus falando com Nicodemos, ou onde
encontrar o fruto do Espírito, e o capítulo do amor, e ainda as qualificações
para os oficiais da igreja, e ainda passagens que descrevem o corpo de Cristo.
Isto pode ser parte do culto familiar e/ou do currículo da igreja.
2) Ensinar as doutrinas básicas às nossas crianças, através de
perguntas e respostas (catecismo). É interessante notar que Dt 6.2025 destaca
este método de ensino.
3) Ensinar as crianças a lidarem com a vida de forma bíblica.
Precisamos ensinálas a se portar corretamente diante das ofensas e como
responder às dificuldades da vida com uma perspectiva bíblica. Quando um
filho chega em casa chorando porque alguém o machucou, o pai tem a
oportunidade de, nessa hora, instruir a sua criança a não pecar nessas
circunstâncias. É muito mais necessário a criança aprender a lidar com as
ofensas sofridas do que o pai ir resolver essas questões. Precisamos ensinálas
passagens como Rm 12, onde elas aprenderão como retornar o bem pelo mal
sofrido. Também Lc 6, que nos diz para abençoarmos aqueles que nos
amaldiçoam.
4) Treinar o caráter de nossas crianças. O caráter delas precisa ser
dirigido para dentro da linha do Senhor. Precisamos ensinálas a temer ao
Senhor, a serem humildes, a possuírem integridade e diligência, gratidão e
lealdade, disciplina e sabedoria, discernimento e atenção, pureza e mansidão.
Essas coisas não fazem parte da nossa cultura, e por isso nós precisamos
ensinálas.
5) Ensinar às crianças um desenvolvimento social geral. O versículo de
Lc 2.52 nos diz que Jesus cresceu em sabedoria e graça diante de Deus e dos
homens. Ele deve ter se conduzido de tal maneira que as pessoas da sua
cultura o respeitaram. Por isso, nossas crianças precisam aprender a se
comportar e lidar de forma respeitável nos mais diversos tipos de
relacionamentos. Precisamos ensinálas em todas as questões e tentações que
dizem respeito a amizades. Há algumas tentações que têm a ver com as
autoridades, outras com os professores, com os demais membros da família, e
também com toda a sociedade. E elas precisam aprender a se comportar
convenientemente em cada caso.
6) Treinar as crianças nas questões acadêmicas. Mesmo estando
distantes desta área da vida das crianças, nós precisamos ajudálas de forma
que elas estejam aprendendo a olhar o mundo sob o prisma de Deus. Há uma
passagem muito interessante em 1Rs 4.2934 que nos diz que Salomão era
mais sábio que todos de sua época, possuindo sabedoria sob o prisma divino
em todas as questões. Assim também, devemos ensinar as crianças a
aprender todas as questões sob este prisma.
7) Ensinar as crianças a terem uma visão bíblica sobre possessões. Elas
precisam ver as posses da família como dádivas de Deus e como ferramentas.
Precisam ver as pessoas como sendo mais importantes do que aquilo que
possuem. Em 1Tm 5 diz que nós não devemos confiar nas riquezas e que
devemos ser ricos em boas ações.
8) Ensinar o valor do tempo para as crianças. Ef 5 nos chama para remir
o tempo porque os dias são maus. E isso não é apenas para os adultos, mas
também para as crianças. Daí termos de ensinálas a serem responsáveis pelo
seu tempo. Elas precisam de tempo para brincar, mas precisam entender que a
vida é curta, e que há oportunidades que exigem o uso sábio do tempo.
9) Ensinar as crianças a desenvolver projetos que estejam relacionados
com o interesse delas. Precisamos ajudálas a encontrar bons livros para serem
lidos, a fazer boas coisas com o seu tempo. Precisamos ensinálas a ter
resistência e perseverança, mesmo quando elas perdem o interesse na tarefa,
principalmente quando se tratar de tarefas longas e que precisam da ajuda dos
adultos.
10) Ensinar as crianças a controlarem as suas emoções. Nós
precisamos ensinálas a ser pessoas que vivam baseadas nas verdades
bíblicas e não nas suas emoções e nos seus sentimentos, a encontrarem as
suas verdades na Palavra de Deus. Elas precisam aprender a entender os
seus sentimentos, e a serem guiadas pelos caminhos bíblicos. Nós precisamos
ensinálas a viver de acordo com aquilo que é justo e reto.

CONCLUSÃO

O discipulado é o método traçado por Cristo, em que, por intermédio de


um relacionamento, um discípulo de Cristo leva outro a um comprometimento
com o Senhor, incentivando-o à ser imitador do Mestre, crescendo em
maturidade e gerando novos discípulos deste. Discipulado não é apenas
transmitir informações da Palavra, mas um processo onde o discipulador
ensina com a sua vida e suas experiências como ser um discípulo genuíno do
Senhor Jesus.
O verdadeiro discípulo de Cristo é aquele que dá evidências de Sua
presença nele, por meio da permanência na Palavra (conhecer e praticar),
amor ao próximo e do gerar frutos para a Glória do Pai.
Mas percebe-se que muito se têm negligenciado o plano traçado por
Jesus e ensinado por Ele aos seus discípulos. Os novos métodos de expansão
de Igreja apresentados dia após dia não conseguirão substituir o plano
apresentado pelo Mestre. Pois nenhum outro resulta em maturidade,
comunhão e expansão natural como o método de Jesus. Pois estes são
subprodutos do discipulado.
A maturidade é alcançada por meio do conhecimento da Palavra, do
impacto desta na vida do indivíduo, movendo-o a ser um praticante do que
aprende e da transmissão de experiências vividas com Cristo. A comunhão
entre os discípulos é simplesmente o resultado de um relacionamento entre os
destes com o Mestre. Esta comunhão gera encorajamento e cuidado entre o
Corpo de Cristo.
No decorrer da pesquisa, nota-se que o discipulado foi praticado por
Jesus e ensinado aos seus primeiros discípulos, os apóstolos. Estes
receberam a ordem de dar continuidade ao trabalho iniciado por Cristo,
porquanto deveriam ensinar a outros tudo o que Jesus os tinha ensinado. Isso
inclui a ordem de fazer outros discípulos apresentada logo antes.
Esta forma de expansão do Evangelho foi levada a sério pelos primeiros
discípulos de Jesus. O apóstolo Paulo apontou em 2 Timóteo 2.2 que o
discipulado é repassar a outros aquilo que já foi aprendido da Palavra e da sua
prática. E estes que receberem o ensino, devem repassar ainda à outros que
passem à outros. Isso é multiplicar discípulos de forma saudável.
Assim como foi eficiente para os primeiros discípulos e para a Igreja
Primitiva, o discipulado é útil para a Igreja contemporânea. Pois visa o
crescimento do indivíduo em Cristo de forma saudável, para que este venha
frutificar e gerar novos discípulos do Senhor. Com isso todo o Corpo é
beneficiado.
O processo do discipulado conduz naturalmente o novo discípulo de
Cristo à proclamar o Evangelho que o alcançou. Não é um processo forçado,
mas um resultado natural do relacionamento com Cristo.
O discipulado é um excelente instrumento para a expansão do
Evangelho na terra. Boa parte dos problemas encontrados na Igreja
contemporânea poderiam ser solucionados por meio deste. Pois o discipulado
não traz nenhum malefício, mas tão somente benefícios ao Corpo de Cristo e
aos seus membros.

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