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Erberson R. Pinheiro dos Santos Os 4Cs da Educação Cristã

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Sumário

Sumário 4

I CONHECIMENTO BÍBLICO 11
1 Introdução 13

2 A Importância da hermenêutica 17
2.1 O abismo do tempo . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.2 O abismo geográfico . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.3 O Abismo cultural . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.4 O abismo do idioma . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.5 O abismo literário . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.6 O abismo sobrenatural . . . . . . . . . . . . . . 20
2.7 Hermenêutica, exegese e homilética . . . . . . . 20

3 O método histórico-gramatical 25
3.1 Preparação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3.2 Pesquisa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
3.3 Análise contextual . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3.4 Análise formal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.5 Análise detalhada . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

4
Erberson R. Pinheiro dos Santos Os 4Cs da Educação Cristã

3.6 Síntese . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3.7 Reflexão teológica . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
3.8 Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . 45

II CONHECIMENTO DAS DOUTRINAS 49


4 Introdução 51

5 Os perigos da falta de ensino das doutrinas 53

6 Doutrinas que devemos saber para ministrar uma


boa aula 57
6.1 Teontologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
6.2 Cristologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
6.3 Pneumatologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
6.4 Soteriologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
6.5 Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . 86

III CONHECIMENTO DO ASSUNTO 87


7 Introdução 89
7.1 Dicas para estudar e aprender melhor . . . . . . 91

8 Princípios para preparar uma boa aula 95


8.1 Anotar o que estuda . . . . . . . . . . . . . . . . 96
8.2 Conhecer o escritor da revista . . . . . . . . . . 97
8.3 Conhecer o assunto principal da revista . . . . . 97
8.4 Conhecer os tipos e o assunto das lições . . . . . 99
8.5 Como preparar uma aula quando não tem uma
revista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108

5 169
8.6 A estrutura de um estudo bíblico – Afirmar, ilus-
trar e aplicar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112

IV CONHECIMENTO DE DIDÁTICA 129


9 Introdução 131

10 Aprendizagem 135
10.1 Estilos de aprendizagem . . . . . . . . . . . . . . 139
10.2 Aplicação do ciclo de aprendizagem na sala de aula 146

11 Estrutura de uma aula na EBD 151


11.1 Revisão da(s) aula(s) anterior(es) . . . . . . . . . 151
11.2 Objetivos da aula . . . . . . . . . . . . . . . . . 152
11.3 Introdução ao assunto da aula . . . . . . . . . . 154
11.4 Ministração do assunto . . . . . . . . . . . . . . 155
11.5 Aplicação do assunto ensinado . . . . . . . . . . 156
11.6 Conclusão e apresentação do próximo assunto . 156
11.7 Recursos didáticos . . . . . . . . . . . . . . . . . 157

12 Resumo dos estilos de aprendizagem 161

13 Conclusão 169
Erberson R. Pinheiro dos Santos Os 4Cs da Educação Cristã

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Introdução à metodologia dos 4Cs

“Se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação


ao ensino;”
(Romanos 12:7).

É possível que, ao analisar esse valoroso versículo, você se


pergunte: O que é necessário saber para ser um professor de
excelência da EBD?
Em busca da resposta para essa pergunta, durante minha cami-
nhada como professor, sabendo que o desfecho para um excelente
professor depende de vários fatores centrados/dependentes prin-
cipalmente no conhecimento do professor, li e fiz uma análise
crítica de vários livros sobre educação cristã. Deste modo, percebi
que, de forma geral, segundo esse conjunto de livros, para ser um
professor de excelência é necessário seguir inúmeros passos. São
tantas as etapas que, como resultado, o professor fica desanimado
e ainda mais confuso com tudo o que foi aprendido. Além do mais,
a maioria das dicas são massivamente teóricas e dificilmente tem
aplicação prática e, se tem, não são aplicadas pela maioria dos
leitores desses livros.
Foi pensando nesses desafios, e com a intenção de tornar o
assunto mais simples e prático para o entendimento do professor,
que eu defini o que é necessário para ser um professor de exce-

9 169
lência em 4 passos, uma metodologia que eu chamo de “Os 4Cs
da Educação Cristã”, dividida em:

• 1° C - Conhecimento Bíblico

• 2° C - Conhecimento das Doutrinas

• 3° C - Conhecimento do Assunto

• 4° C - Conhecimento de Didática

O educador cristão que aprimorar cada um desses conhecimen-


tos, vai impactar muitas vidas com o seu ensino. Você se torna
um professor de excelência da EBD quando molda Cristo na vida
de seus alunos.
Parte I

CONHECIMENTO BÍBLICO

11 169
Capítulo 1
Introdução

O primeiro passo da metodologia dos 4Cs da Educação Cristã é


aplicar o Conhecimento Bíblico, esse é o primeiro C, pois o conhe-
cimento da palavra de Deus vem em primeiro lugar. Não existe
educação cristão sem conhecimento Bíblico, portanto, tenha em
mente que para preparar uma boa aula para EBD é necessário
desenvolvê-lo.
Na maioria das vezes o professor não precisa “preparar uma
aula do zero”, pois existem editoras que já vendem a revista com
o estudo pronto. As igrejas aderem a uma editora e adquirem as
revistas para os professores e alunos, no entanto, essa facilidade
não exime o professor de preparar a aula. É importante ressaltar
que ministrar uma aula apenas com o conteúdo que vem na lição,
sem se aprofundar nas passagens bíblicas citadas, deixa a aula
muito superficial.
Considerando que o professor já tem em mãos a lição de uma
revista da EBD, sabe-se que esta sempre apresenta um texto bí-
blico chave. Muitas vezes o conteúdo da lição consiste em explicar
detalhadamente essa passagem bíblica. Em outras lições, o con-
teúdo é baseado em um tema, que para ser bem compreendido e
explicado, deve-se consultar vários versículos. Isso significa que

13 169
você vai precisar interpretar as escrituras em todas as aulas que
for ministrar.
Nesse processo de interpretação, será necessário você interpre-
tar um salmo (poesia), uma profecia, uma parábola, uma carta,
entre outros, e para isso, precisa diferenciá-los. Você, como pro-
fessor da EBD, deve identificar os gêneros literários e as formas
literárias dos textos bíblicos que são citados na lição, além disso,
considerar que cada gênero e forma têm regras específicas para
interpretação, não se deve interpretar uma parábola como se fosse
uma narrativa histórica, por exemplo.
Nesta parte do livro abordarei um pouco a respeito de her-
menêutica e irei me aprofundar sobre exegese, apresentando o
método histórico-gramatical. A ideia é oferecer um método de
interpretação bíblica para você aplicar em qualquer circunstân-
cia. Não importa se você tem a revista com o estudo pronto
ou se vai preparar uma aula do zero. Não importa se você vai
ensinar em uma célula, em um culto durante a semana ou na
EBD. Independentemente de como esse ensino acontece, você
tem que interpretar corretamente o texto bíblico escolhido para a
ministração.
Interpretar corretamente um texto bíblico é fundamental para
o crescimento saudável da igreja 1 . A Bíblia é a Palavra de Deus
e a sua mensagem é a base para a igreja, pois não existe outro
meio de ouvir Deus falar.
Muito se tem escrito sobre interpretação bíblica, porém, há
uma certa lacuna entre o texto acadêmico e o educador cristão,
que tem a missão de interpretar e transmitir a mensagem bíblica
para a igreja. Infelizmente, nem todos educadores cristãos têm
acesso aos livros e cursos sobre interpretação bíblica e baseado
1
NICODEMUS, A. A Bíblia e seus intérpretes. 3ª edição. São Paulo: Cultura Cristã,
2017.
Erberson R. Pinheiro dos Santos Os 4Cs da Educação Cristã

nisso, irei abordar os principais conceitos de interpretação bíblica


apresentando um método de interpretação que pode ser aplicado
facilmente por qualquer professor da EBD. No final desta parte
você vai encontrar uma lista de livros para se aprofundar neste
assunto.

15 169
Capítulo 2
A Importância da hermenêutica

Para interpretar corretamente a Bíblia, deve-se conhecer alguns


detalhes dos livros que a compõe, tais como: quando foi escrito,
em que circunstância foi escrito, por quem foi escrito e qual o
propósito pelo qual foi escrito. Ao contrário do que muitos pen-
sam, você não precisa fazer um curso de teologia para saber de
todas essas coisas, esse conhecimento pode ser adquirido em
livros sobre hermenêutica e exegese. Aqui, neste livro, irei apre-
sentar um método de interpretação conhecido como "método
histórico-gramatical".
A mensagem principal da Bíblia é de fácil compreensão, e todos
têm a capacidade de entender1 . No entanto, algumas passagens
são de difícil compreensão, e para isso é necessário um conheci-
mento de hermenêutica bíblica.
Hermenêutica bíblica é a arte de interpretar a Bíblia. Pelo
fato de a Bíblia ser um livro divino, não teríamos necessidade de
interpretá-la, pois Deus não iria se comunicar com sua criação de
maneira complexa. Porém, a Bíblia também é um livro humano,
pois foi escrito por homens, em situações reais da vida humana
1
ZUCK, R. B. A interpretação bíblica: meios de descobrir a verdade da Bíblia. 1ª
edição. São Paulo: Vida Nova, 1994.

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e com uma linguagem humana. Portanto, quando colocamos o
aspecto humano, muita confusão é feita e há uma real necessidade
de interpretar os textos sagrados para que possamos entender
realmente o significado do texto e a sua aplicação para os dias
atuais.
Antes de explicar sobre interpretação bíblica, apresentarei a
você alguns problemas, que deixa mais evidente a necessidade de
fazermos a interpretação correta das escrituras. Sendo necessário
previamente considerar que a Bíblia é um livro antigo, e por
isso, de difícil interpretação, há livros na Bíblia, por exemplo, que
foram escritos a 3400 anos atrás. Isso mostra que na hermenêutica
é necessário tentar transpor vários abismos para realizar uma
interpretação correta das escrituras sagradas2 .

2.1 O abismo do tempo


Como a Bíblia foi escrita há milhares de anos, existe um abismo
temporal que nos separa dos escritores e dos primeiros leitores.
Seria muito bom encontrar com Moisés e perguntar para ele o
que ele quis dizer em certa passagem, mas isso não é possível.
Esse abismo temporal nos leva aos outros abismos, pois a cultura,
a língua e a literatura mudam com o passar do tempo.

2.2 O abismo geográfico


Outro problema que enfrentamos quando vamos interpretar a
Bíblia, é o local no qual ela foi escrita. Estamos muito longe de
Israel, Egito, Roma, Grécia. Não temos a noção das distâncias
percorridas, da vegetação do local, do clima, dentre outros fatores
específicos da geografia local. Em relação ao clima, por exemplo,
2
ZUCK, R. B. A interpretação bíblica: meios de descobrir a verdade da Bíblia. 1ª
edição. São Paulo: Vida Nova, 1994.
Erberson R. Pinheiro dos Santos Os 4Cs da Educação Cristã

muitos não sabem que em Israel neva durante inverno e que


durante o ano a temperatura é amena, atingindo no máximo 30
graus Celsius.

2.3 O Abismo cultural


A questão cultural é muito importante, pois cada povo tem uma
cultura própria, o que é normal para um, é estranho para outro,
e tem valor específico para cada pessoa. Precisamos entender
a cultura da época dos tempos bíblicos para entender algumas
passagens de maneira correta.

2.4 O abismo do idioma


O abismo do idioma é uma das maiores barreiras da interpretação
bíblica, pois ao se traduzir um texto de uma língua para outra,
algumas palavras perdem a força que tem no original, o que
compromete o real sentido dos textos. As línguas nas quais a
Bíblia foi escrita – hebraico, aramaico e grego - possuem algumas
características particularidades bem estranhas se comparadas à
nossa. O alfabeto dessas três línguas é totalmente diferente do
nosso. No hebraico e aramaico, a leitura é feita de trás para frente,
além de não possuir vogais, somente consoantes. Dessa forma,
para que haja uma interpretação correta dos textos bíblicos é
necessário muitas vezes recorrer aos originais.

2.5 O abismo literário


A maneira que os escritores bíblicos expressaram as verdades
divinas é muito particular da época, muitas partes da bíblia fo-
ram escritas em provérbios e parábolas, e essas formas são pouco
usadas hoje em dia. Como a Bíblia foi escrita por cerca de 40 escri-
tores, temos uma grande diversidade de estilos. Alguns escrevem

19 169
em forma de romance, outros em provérbios, outros escreveram
poesias, já no Novo Testamento temos as cartas. Para realizarmos
uma boa interpretação devemos entender cada estilo literário e
as figuras de linguagem usadas pelos escritores bíblicos.

2.6 O abismo sobrenatural


A Bíblia é um livro sobre Deus, o criador do universo, que não
pode ser explicado por palavras humanas e muito menos pela ló-
gica humana. Por esse motivo algumas verdades como a doutrina
da trindade, as duas naturezas de Cristo, a soberania de Deus e a
vontade humana são difíceis de serem entendidas por nós. Muitas
vezes vamos ver características humanas sendo dadas a Deus, tais
como a mão de Deus, os ouvidos de Deus, isso é chamado de lin-
guagem antropomórfica. Considerando esses aspectos, devemos
entender que para fazermos uma interpretação correta devemos
contar com a ajuda do Espírito Santo, pois, afinal de contas, foi
Ele quem inspirou os escritores bíblicos.

2.7 Hermenêutica, exegese e homilética


Para interpretar corretamente a Bíblia, é necessário aplicar al-
gumas regras da hermenêutica, e para aplicá-las corretamente,
os especialistas criaram alguns métodos que sintetizam e facili-
tam o uso dessas regras de interpretação. Antes de discutir esses
métodos, é necessário apresentar algumas definições3 .
Hermenêutica: Ciência (princípios) e arte (tarefa) de apurar o
sentido do texto bíblico.
Exegese: Verificação do sentido do texto bíblico dentro de seus
contextos, histórico e literário.
3
ZUCK, R. B. A interpretação bíblica: meios de descobrir a verdade da Bíblia. 1ª
edição. São Paulo: Vida Nova, 1994.
Erberson R. Pinheiro dos Santos Os 4Cs da Educação Cristã

Exposição: Transmissão do significado do texto e de sua apli-


cabilidade ao ouvinte moderno.
Homilética: Ciência (princípios) e arte (tarefa) de transmitir o
significado e a importância do texto bíblico sob forma de pregação.
Pedagogia: Ciência (princípios) e arte (tarefa) de transmitir o
significado e a aplicação do texto bíblico sob forma de ensino.
Agora, com a clareza desses conceitos, acredito que a sua tarefa
como professor da EBD consiste nos seguintes passos:
a) Primeiro: você deve conhecer os princípios de interpretação
estudando hermenêutica.
b) Segundo: você deve fazer a exegese do texto bíblico, ou seja,
analisar o caráter mais técnico do texto. Na exegese você analisa
o texto e faz a interpretação propriamente dita, sendo necessário
considerar o contexto histórico, cultural e literário. Além disso,
o uso de um dicionário é indispensável, e em alguns casos, se
faz necessário consultar as línguas originais. A exegese é um
trabalho completo de interpretação, e o seu resultado é um texto
escrito explicando a passagem bíblica de maneira detalhada. Se
você é um professor da EBD que tem apenas 6 dias para preparar
uma aula, não é necessário fazer uma exegese completa do texto
principal da lição escrevendo cada detalhe, pois isso pode ser
muito demorado. A ideia é que o professor aplique os principais
conceitos da exegese no preparo da aula, anotando aquilo que
seja mais relevante para explicar melhor a passagem bíblica aos
seus alunos. Ao fazer isso, o resultado será uma pesquisa mais
profunda do texto com anotações daquilo que é mais importante.
Mas se você é um professor que tem mais tempo e quer fazer algo
completo, fique à vontade para se aprofundar, pois assim terá um
estudo que poderá ser usado em várias ocasiões futuras.
c) Terceiro: Uma vez que seu estudo está pronto, você deve fazer
a exposição que pode acontecer de duas maneiras: no formato de
pregação ou no formato de ensino. A homilética vai ajudar na

21 169
pregação, já a pedagogia vai ajudar no ensino. Veja a figura 2.1
adaptada do livro “A interpretação bíblica"do Roy zuck4 :

4
ZUCK, R. B. A interpretação bíblica: meios de descobrir a verdade da Bíblia. 1ª
edição. São Paulo: Vida Nova, 1994.
Erberson R. Pinheiro dos Santos Os 4Cs da Educação Cristã

Figura 2.1:

23 169
Capítulo 3
O método histórico-gramatical

Para fazer a interpretação correta das Escrituras é necessário


adotar um método. Isso não significa que você vai fazer algo
engessado, sem poder seguir as instruções do Espírito Santo. Você
vai orar, buscar a direção de Deus e depois vai usar as diretrizes de
algum método para fazer a interpretação correta do texto bíblico
em questão. Será apresentado aqui o método de interpretação
bíblica chamado de histórico-gramatical.
Esse método surgiu na Reforma Protestante no século XVI, e
tem como premissa que a Bíblia é a Palavra de Deus, infalível e
inspirada pelo Espírito Santo. Com esse método você terá um
passo a passo para fazer a interpretação do texto bíblico e entender
o seu real significado. A aplicação do método deve acontecer de
maneira flexível, pois dependendo da profundidade do seu estudo,
muitos passos podem ser resumidos ou adaptados para a sua
realidade.
O método histórico-gramatical, emergido progressivamente,
da prática da interpretação da Bíblia, defende que o “[...] signi-
ficado de um texto é aquele que o autor tinha em mente, e que
a intenção do autor pode ser derivada com o máximo de exati-
dão, observando-se os fatos da história e as regras de gramática

25 169
aplicáveis ao texto sob estudo”1 .
A estrutura proposta aqui é baseada no livro “Introdução a
exegese bíblica” de Michael Gorman. Os passos a serem seguidos
são:

1. Pesquisa: Preparação e visão geral.

2. Análise contextual: Consideração do contexto histórico


e contexto literário do texto.

3. Análise formal: Análise da forma, estrutura e movimento


do texto.

4. Análise detalhada: Análise das várias partes do texto.

5. Síntese: Síntese do texto como um todo.

6. Reflexão teológica: Aplicação prática.

Saiba que você sempre precisa interpretar um texto bíblico


para ministrar uma aula de excelência. Algumas lições são
temáticas, outras lições são 100% baseadas em um texto bíblico.
Mas, independentemente do tipo de lição, o ato de interpretar
deve ser colocado em prática. Os tipos de lições serão abordados
de maneira mais detalhada no 3º C – Conhecimento do assunto.
Adiantando um pouco esse assunto, considere a seguinte classifi-
cação das lições:

Tipo 1: O professor tem a revista com o estudo pronto e a


lição em questão é temática.

1
VIRKLER, Henry A. Hermenêutica avançada. 1ª edição. São Paulo: Editora Vida,
2001.
Erberson R. Pinheiro dos Santos Os 4Cs da Educação Cristã

Exemplo: Lição 6 da CPAD do 2º trimestre de 2018 - Ética Cristã


e Suicídio.

Essa lição foi baseada em um tema – Suicídio - e a passagem


bíblica principal - 1 Samuel 31.1-6 - serviu mais de suporte. Na
exposição do assunto da lição foi usado várias passagens para
sustentar o ponto de vista bíblico sobre o tema em questão. Só
para ficar bem claro, nessa lição o texto bíblico não foi muito
explorado, apenas um subtópico falou explicitamente dele.

Tipo 2: O professor tem a revista com o estudo pronto e a


lição é baseada em uma única doutrina bíblica ou várias doutrinas.

Lição 4 da CPAD do 3º trimestre de 2017 - O Senhor e Salvador


Jesus Cristo.

Essa lição teve como propósito mostrar quem de fato é Jesus


Cristo. Foi estudada a humanidade e a divindade de Jesus, enfati-
zado o propósito da sua missão que é salvar a humanidade.

Tipo 3: O professor tem a revista com o estudo pronto e a


lição em questão é a exposição de um texto bíblico.

Exemplo: Lição 8 da CPAD do 4º trimestre de 2018 - Encontrando


o nosso próximo.

Essa lição foi baseada na parábola do bom samaritano. Foi


realizada a exposição do texto de Lucas 10.25-37. Nesse caso, toda
a lição se baseou nesse texto.

Tipo 4: O professor não tem uma revista pronta

27 169
Exemplo: Você pretende ministrar uma série de estudos expondo
a carta aos efésios.

Nesse caso você vai montar seu estudo sozinho.


Vou explorar com mais detalhes cada um desses tipos de lição
no 3º C que fala do conhecimento do assunto.
Este método é muito usado no meio acadêmico e pode parecer
complicado para alguns, mas farei uma adaptação deste método
para facilitar a sua aplicação pelos professores da EBD. Podemos
chamá-lo aqui de “Método Histórico-gramatical para Professores
da EBD”.
A partir de agora você vai aprender detalhadamente como fazer
a interpretação de um texto bíblico para ministrar uma aula de
excelência. Não se preocupe em decorar todas as etapas, tente
entender a essência do método.
A aplicação do método na preparação da aula vai depender
muito do tipo de lição que você vai ministrar. Se a lição for baseada
em um texto bíblico, é de suma importância fazer um estudo
completo da passagem bíblica. Neste caso, o método deve ser
aplicado por completo, pois a interpretação correta da passagem
já será sua aula.

3.1 Preparação
Antes de começar a fazer o trabalho de exegese (interpretação)
você precisa escolher o texto bíblico corretamente. Esse trabalho
é chamado de delimitação da perícope.

Delimitação da perícope
Para quem tem a revista, o texto bíblico já vem delimitado. No
entanto, nem sempre a delimitação proposta pelo escritor da
revista está de acordo com a sua delimitação verdadeira. Você vai
Erberson R. Pinheiro dos Santos Os 4Cs da Educação Cristã

entender isso mais adiante.


A primeira tarefa a ser feita no processo de interpretação bíblica
é a delimitação do texto a ser estudado, algo essencial para que
o estudo a ser ministrado tenha coerência. Em uma linguagem
mais técnica, essa parte é chamada de delimitação da perícope.
Uma perícope é um “pedaço” de um texto que tem começo, meio
e fim. Nem sempre a divisão que está na Bíblia é fiel ao que o
autor queria fazer, isso acontece porque a divisão de capítulos e
versículos que tem na Bíblia hoje foi feita pelos tradutores e não
pelo escritor original.
Suponha que você deseja pregar a respeito da passagem que se
encontra em Efésios 5.1-2. O que vem em mente é que esse texto
é independente, pois está no começo do capítulo. Mas se você
olhar com mais cuidado, verá que os versículos 1 e 2 do capítulo
5 estão concluindo o pensamento de Paulo acerca da santidade
que começa no versículo 25 do capítulo 4; dessa forma o texto a
ser estudado deve ser Efésios 4.25-5.2.
Esse texto (Efésios 4.25-5.2) é considerado uma perícope, pois
aqui Paulo está se aprofundando sobre o tema santidade discutido
anteriormente (Efésios 4.17-24). Ele trata aqui (Efésios 4.25-5.2)
sobre o abandono de todo pecado que era praticado antes da
conversão; mais adiante, ele começa a falar das obras das trevas
(Efésios 5.3-13). O que está antes e depois de Efésios 4.25-5.2
deve ser levado em consideração, mas essa passagem tem começo,
meio e fim.
Às vezes não é fácil identificar quando começa e termina o
texto, mas uma dica que pode ajudar é verificar onde começa e
termina o parágrafo. Algumas bíblias são divididas em parágrafos
e em outras Bíblias os parágrafos podem ser identificados com
a letra que está em negrito. Além de procurar os parágrafos,

29 169
você pode encontrar alguns traços que indicam essa delimitação2 ,
entre eles, posso citar:

A mudança do local onde acontece a ação. Em João 8.59 Jesus


sai do templo, e em João 9.1 Jesus está caminhando; isso indica
que em João 9.1 começa uma nova perícope.

Aparição de um novo personagem. A perícope que começa em


João 9.1 termina em João 9.12, pois no versículo 13 o milagre
já tinha acontecido e aparecem novos personagens, que são os
fariseus.

Mudança de argumento. As vezes a passagem começa com


“finalmente...”, “quanto ao mais” e outras conjunções (Ef 6.10, 1 C
12.1, 2 Tm 4.6). Essas conjunções indicam que vai começar um
novo argumento.

3.2 Pesquisa
Visão Geral (Familiarização com o texto)
A familiarização com o texto é muito importante, pois quase tudo
o que lemos pode não ficar muito claro com uma leitura inicial;
por isso, é necessário ler a passagem bíblica várias vezes para
conseguir entender o que o autor quis dizer. Ler em traduções
diferentes também ajuda muito, pois o processo de tradução é
complexo, assim um texto bíblico pode ficar mais claro em uma
tradução do que em outra. Nesse momento, você ainda não vai
tirar conclusões, no máximo vai fazer algumas anotações, ou
seja, vai registrar as primeiras impressões da passagem bíblica
2
KUNZ, Claiton André. Método histórico-gramatical. In: Via teológica. Curitiba:
FTBP, 2008. Nº 16, vol. 2, p. 23-53.
Erberson R. Pinheiro dos Santos Os 4Cs da Educação Cristã

escolhida. Não existe uma regra com relação ao que anotar, se


tiver uma palavra que se repete, anote ela; se for uma narrativa
anote o nome dos personagens.
Outra tarefa que deve ser realizada é entender um pouco mais
sobre o livro em que está contida a passagem bíblica. Você deve
procurar saber quem escreveu, quando escreveu, para quem escre-
veu, porque escreveu e o tema principal, isso faz toda a diferença.
Explicar uma passagem de filipenses sabendo que Paulo estava
preso faz toda diferença na interpretação. Para essa tarefa será
necessário ler um livro de introdução ao Antigo Testamento ou
Introdução ao Novo Testamento. Não se preocupe agora em fazer
um estudo profundo da passagem nesta fase da interpretação, no
próximo passo você terá a chance de se aprofundar.

Formulação da hipótese
De acordo com o dicionário:

Hipótese: proposição que se admite, independentemente do fato de


ser verdadeira ou falsa, como um princípio a partir do qual se pode
deduzir um determinado conjunto de consequências; suposição,
conjectura.

Logo no início da sua interpretação você já deve formular sua


hipótese; neste caso, você vai supor ou conjecturar o significado
do texto bíblico estudado. Talvez, no final do seu estudo, você
chegue à conclusão de que sua hipótese não é válida, mas é im-
portante fazer mesmo assim.
Muito provavelmente, na formulação da hipótese, você irá
exteriorizar tudo aquilo que você já ouviu sobre o texto e aquilo
que você acha que o texto significa, mas não se preocupe, assim
que você for prosseguindo no estudo, poderá ir revisando sua
hipótese inicial.

31 169
Faça as seguintes perguntas para formular uma boa hipótese:

• Qual o tema principal desse texto?

• Qual o papel desse texto no livro como um todo?

3.3 Análise contextual


A análise contextual é um trabalho demorado, pois exige consulta
em outros livros, na internet e muitas vezes com algum amigo
que entende mais do assunto. Após fazer essa análise, todo o
resto fica mais fácil e o texto fica muito mais claro.

Contexto histórico
Todos os textos bíblicos foram escritos em um contexto histórico
específico, e para compreender corretamente um texto bíblico é
necessário saber quando o texto foi escrito, por quem foi escrito,
para quem foi escrito e onde foi escrito. Ao considerar tudo isso,
é necessário entender qual o contexto político e religioso naquela
situação3 .
Observe que para entender o Antigo Testamento, você deve
saber sobre a divisão de Israel em Reino do Norte e Reino do Sul,
você tem que compreender também sobre os povos vizinhos de
Israel, tais como: os moabitas, os amonitas e os filisteus. Além
disso, ter conhecimento dos grandes reinos, tais como: Egito,
Assíria, Babilônia e Medo-Persa.
No Novo Testamento, o contexto histórico geral também deve
ser compreendido para que as histórias do Novo Testamento fa-
çam sentido; você deve ter o entendimento que a região da Judeia
3
GORMAN, Michael. Introdução à exegese bíblica. 1ª Edição. Rio de Janeiro:
Thomas Nelson Brasil, 2017.
Erberson R. Pinheiro dos Santos Os 4Cs da Educação Cristã

foi comandada por um tempo pelos gregos, depois foi coman-


dada pelo império romano, e que por esse motivo, nessa região
falava-se aramaico, grego e latim. É importante saber também,
que na época de Jesus havia grupos religiosos que pensavam
de maneira diferente: saduceus, fariseus, zelotes, herodianos e
essênios; que os judeus tinham uma relação mais próxima com
os gentios (comparando com períodos anteriores), pois viviam
entre eles, mas não se relacionavam com os samaritanos. Essas
observações são apenas alguns exemplos, procure se aprofundar
no contexto histórico através dos livros de introdução ao Antigo
e Novo Testamento, atlas e livros que falam especificamente do
contexto histórico dos tempos bíblicos.

Contexto cultural
Se nos dias de hoje as culturas são diferentes, imagina agora o
abismo cultural entre nós e os povos dos tempos bíblicos; são
textos escritos em uma região diferente da nossa há muitos anos.
Entender o contexto cultural é de extrema relevância para se
fazer uma interpretação correta da Bíblia.

Para entender um pouco mais sobre o contexto cultural, ob-


serve o seguinte exemplo da passagem bíblica de Marcos 9.17:

“E enviou dois dos seus discípulos, e disse-lhes: Ide à cidade, e


um homem, que leva um cântaro de água, vos encontrará; segui-o”
(Marcos 9.17).

Sem conhecer o contexto cultural, pode surgir a seguinte dú-


vida: “E se tivesse vários homens carregando cântaros de água?”
Mas se você considerar o contexto cultural, vai descobrir que
na cultura da época somente mulheres carregavam cântaro de
água, portanto, quando vissem um homem realizando essa ativi-

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dade, saberiam que aquela era a pessoa recomendada por Jesus.
Provavelmente Jesus já tinha combinado com esse homem antes
e esse seria o sinal para que os discípulos o encontrassem4 .
Se você tem dúvidas de como fazer uma boa análise histórica e
cultural, comece fazendo as seguintes perguntas:

• Quais são as características principais dos primeiros leitores


do texto?

• Tem como saber algo a mais sobre a sua história, posição


social, crenças ou política?

• No texto em questão tem alguma referência a algum aconte-


cimento histórico, cultural ou crenças? (Analisar isso pode
esclarecer sobre o pano de fundo no qual o texto foi escrito).

• Houve alguma circunstância especial que levou o autor


bíblico a escrever aquele livro específico?

Essas perguntas são importantes, pois elas nos levam a fazer


uma análise mais profunda da passagem estudada; e aquelas
anotações que você fez no início da leitura podem ser expandidas
agora.

Contexto literário
Para entender o contexto literário, é necessário ler o que vem antes
e depois do texto estudado, pois todo texto deve ser entendido
de acordo com seu contexto; se for possível, leia todo o livro
em que está o texto. A leitura do livro completo contribui para
o entendimento de alguns questionamentos, tais como: Qual a
função do texto dentro do livro? Qual argumento o escritor está
4
VIRKLER, Henry A. Hermenêutica avançada. 1ª edição. São Paulo: Editora Vida,
2001.

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