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José Carlos Barbosa

sr

Adoro a
Sabedoria
de Deus
Itinerário de Jolin Weslevj,
o Cavaleiro do Senhor

BSllll

Editeo
Adoro a Sabedoria de Deus
Copyright © 2002, Unirnep, Copyright © 2011 [2a impressão), Editeo - Faculdade de Teologia / Umesp
Publicado pela Coordenação Nacional de Educação Cristã - CONEC,
pela Confederação das Sociedades Metodistas de Homens da Igreja Metodista
e pela Faculdade de Teologia da Igreia Metpdista/Umesp

Catalogação preparada pela bibliotecária


Aparecida Cqmelli Tavares (CRB-8-3781) - SibuotecaJalmar Bowden

922.7 BARBOSA, José Carlos


8234a Adoro a sabedoria de Deus: itinerário
de John Wesley, o cavaleiro do Senhor/
José Carlos Barbosa. São Bernardo do
Campo: EDITEO,

ISBN 978-85-8046-006-3

t Biog^fia - Wesley, John I. Itinerário


de John Wesley, o cavaleiro do Senhor II. Titulo

CDO184 ed.

Igreja Metodista Faculdade de Teologia da Igreja Metodista /Umesp


João Carlos Lopes (Bispo Presidente) Paulo Roberto Garcia (Reitor)

Secretaria Para Vida e Missão da Igreja Coordenador da Editeo


Joana D'Arc Meireles ' Helmut Renders

Coordenação Nacional de Educação Cristã Conselho Editorial


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Josué Adam Lazier (Bispo Assessor)
Helmut Renders
José Carlos de Souza
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Bispo Assessor: Adolfo Evaristo de Souza
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DE HOMENS
José Carlos Barbosa

Adoro
a Sabedoria
~de Deus
Itinerário de John Wesletj,
o Cavaleiro do Senhor
Apresentação

[Segunda impressão]

Helmut Renders e Renilda Martins Garcia

ntregamos, nas mãos do povo metodista e de todas as pessoas interessadas,

E a segunda impressão do livro Adoro a Sabedoria de Deus, do pastor e


professor Dr. José Carlos Barbosa.
Esta publicação é resultado de um esforço conjunto da Confederação
das Sociedades Metodistas de Homens, da Coordenação Nacional de
Educação Cristã e da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista. A
Editora da Unimep cedeu gentilmente o texto original e o próprio autor fez a
cessão dos direitos de publicação à Associação da Igreja Metodista. Por esta
razão, fazemos público o nosso agradecimento a todas as pessoas e segmentos
institucionais que transformaram este sonho em realidade.
O encontro com o passado permite o acesso a perspectivas históricas de
fé e vida. A partir daí, novos horizontes se abrem e enxergamos outras formas
de existir, sob a inspiração de Cristo. Não ensinamos a copiar o passado, mas
captar a sua essência e aprender com as atitudes e visões encontradas e assim,
desenvolver discernimento, atitudes e novas perspectivas hoje. Esta é a razão pela
qual resgatamos esta belíssima e inspiradora obra “Adoro a Sabedoria de Deus”.
Esperamos que este livro contribua para a renovação da fé, da comunhão
entre as pessoas, as famílias, as comunidades e a igreja, bem como para a
transformação da sociedade.
. ; . . . il •

■r-


• .

___ ______ __ __________________________________


Apresentação

Um Devocional Diário de Wesley

Almir de Souza Maia


Reitor da Unimep

John Wesley era uma personalidade complexa e inquieta. Estima-se que tenha
cavalgado mais de 400 mil quilômetros, pregado cerca de 42 mil sermões, escrito
milhares de cartas e publicado centenas de livros, tratados, panfletos, revistas e
um periódico. Ao falecer, em 1791, o movimento organizado por Wesley somava
mais de 71 mil pessoas na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos. Esse movimento
viria a se constituir na Igreja Metodista, atualmente presente em 138 países,
com uma comunidade de 70 milhões de participantes, organizados pelo World
Methodist Councii.
Além dos muitos sermões publicados e das milhares de cartas enviadas,
Wesley também manteve, durante grande parte de sua vida, um diário público
e outro mais reservado. Esses documentos ficaram para a história como
importante registro de seu pensamento, comportamento, doutrina, filosofia e
prática de vida. Trata-se de um material riquíssimo, ainda pouco explorado por
estudiosos e pesquisadores.
A obra que temos o prazer de apresentar não é uma obra acadêmica ou
histórica, mas aproveita essa rica herança. Trata-se de um devocional diário,
visando a propiciar inspiração e reflexão, ao estilo do nosso tão conhecido
No Cenáculo, porém, com uma peculiaridade: para cada dia, o autor apresenta
algum fato relevante relativo à vida de John Wesley, procurando coincidir dia
e mês.
Estudioso do metodismo e atual coordenador do Centro de Estudos e Pesquisas
sobre Educação e Metodismo (Cepeme/Unimep), o rev. José Carlos Barbosa soube
resgatar 365 “pérolas” da vida e obra de Wesley, transformando-as em pequenos
textos para serem lidos em poucos instantes, em qualquer momento do dia. E,
portanto, um livro fácil e agradável de ler, além de uma grande contribuição para o
conhecimento geral sobre a vida e obra do fundador do metodismo.
Seu lançamento é extremamente oportuno, já que, em 2003, celebram-se os 300
anos de nascimento de John Wesley. Com esse livro, os metodistas brasileiros terão
a oportunidade de acompanhar parte do extraordinário itinerário desenvolvido pelo
cavaleiro do Senhor, o fundador do movimento metodista.
Temos, portanto, a grande satisfação de apresentar este trabalho, convidando a
todos os leitores para adentrar o maravilhoso universo de John Wesley;

10
Prefácio

Renovando o Entusiasmo
Característico do Metodismo Histórico

Bispo João Carlos Lopes


Presidente da 6a RE

John Wesley foi, certamente, um dos personagens mais influentes na


Inglaterra do século XVIII e, sem dúvida, um dos grandes líderes cristãos da
história.
Na introdução de sua obra Sermom on Several Occasions, ele afirmou que
procurava falar adpopulum — falar “em linguagem simples, para pessoas simples”.
Mas com o passar dos anos, mesmo na Inglaterra, seus escritos foram ficando
distantes da pessoa comum. Esse distanciamento foi causado, possivelmente,
pelas mudanças na língua inglesa.
No Brasil, os escritos de John Wesley têm sido quase que propriedade
exclusiva de acadêmicos e teólogos. Mesmo sendo um dos líderes religiosos
mais citados nos meios protestantes, seus escritos raramente chegam às mãos
das pessoas leigas. O rev. José Carlos Barbosa vai ainda além, afirmando que
também “nós, pastores metodistas do Brasil, conhecemos muito pouco sobre
Wesley’ \
Concordo com ele! Para muitos de nós, o pensamento do fundador do
movimento metodista continua sendo um tesouro a ser descoberto. Daí a
importância de Adoro a Sabedoria de Deus, do rev. Barbosa. Aqui, parte desse
tesouro é revelada.
Amante da academia, o autor consegue transmitir, em linguagem simples,
o conteúdo profundo da vida e dos escritos de John Wesley. Por meio de
ilustrações, com histórias pitorescas e testemunhos de transformação de vidas,
leva o leitor ao coração do pensamento e do movimento wesleyano.
O autor sabe do que está falando, pois é obviamente um apaixonado
pela história de Wesley. Assim, manifesta seu talento, sua experiência e seu
trabalho de pesquisador cuidadoso para expressar, de maneira clara, elementos
fundamentais da “maravilhosa herança religiosa” recebida pelo povo chamado
metodista.
Em 2003 o mundo celebra os 300 anos do nascimento de John Wesley.
Eventos especiais estão sendo preparados em várias partes do mundo,
especialmente na Inglaterra, desde a pequena Epworth (cidade em que nasceu,
em junho de 1703), passando por Oxford (na qual estudou) até Londres (onde
estão seus restos mortais).
Estou convencido de que Adoro a Sabedoria de Deus ajudará o povo metodista
brasileiro a celebrar essa data tão significativa para todos nós.
O livro tem o formato de anuário — há uma mensagem para cada dia
do ano. Creio, porém, que alguns, tendo iniciado a leitura, não resistirão e
continuarão lendo até o final. De uma forma ou de outra, tenho certeza de
que essa obra renovará em muitos o entusiasmojcaracterístico do metodismo
histórico.

12
Sumário

J A N E I R O 1 9
Foi uma verdadeira misericórdia Deus não ter ouvido a
minha oração.

F E V E R E I R O 5 1
Vocês não têm nada a fazer, senão salvar almas. Portanto,
gastem e sejam gastos nessa obra. Devem ir sempre, não
apenas ao encontro dos que precisam de vocês, mas dos que
necessitam mais.

M A R Ç O r 7 9

Devem assumir a responsabilidade.de converter-se em agentes


da paz, ser carinhosos e atenciosos com todos.

A B R I L 1 0 8
Quando as águas se esparramam demais, não são profundas.

MAiO 137
Por volta das 10 horas, meu irmão foi-me trazido em triunfo
por um grupo de amigos e declarou: “Eu creio”.

JUNHO 167
Caminhe pelo menos uma hora por dia ao ar livre. Se estiver
chovendo, caminhe na saia de jantar.
JULHO 192
Estou decidido a ser um cristão bíblico completo. Há alguém
disposto a seguir-me nesse caminho?.

AGOSTO 223
Nossas doutrinas principais são: arrependimento, fé e santidade.
Consideramos a primeira o pórtico da religião, a segunda a porta
e a terceira a religião em si mesma.

SETEMBRO 255
Tal caso nunca antes conheci, nunca li nada igual: uma pessoa
convencida do pecado, convertida a Deus e renovada em amor
em 12 horas.

OUTUBRO 285
Quero que os metodistas sejam exemplo permanente de sabedoria
e modelo em todas as coisas, grandes e pequenas.

NOVEMBRO 318
Você não pode ter um lugar no céu sem uma barba! Portanto,
rogo-lhe que deixe crescer a sua imediatamente.

DEZEMBRO 349
O melhor de tudo é que Deus está conosco.

Glossário vJVJwí

Sobre o autor 388

14
Introdução

onheci John Wesley antes de conhecer a Igreja Metodista. Fazia o curso

C de comunicação social na Unimep, correndo atrás do sonho de ser


jornalista. Na verdade, queria mesmo ser escritor, apaixonado que era por
Graciliano Ramos, Euclides da Cunha, Machado de Assis, Máximo Gorki, John
Steinback e muitos outros. Só que não havia uma escola para formar escritores e
o atalho encontrado foi estudar comunicação.
Já nos primeiros dias de faculdade, fiquei conhecido dos bibliotecários e
da livraria. Numa dessas ocasiões, descobri os livros da Imprensa Metodista e,
da Associação dos Seminários Teológicos Evangélicos (Aste). Estavam lá os
Sermões, alguns outros livros sobre Wesley e quase a coleção completa da aste.
Ao verificar o preço — não havia, então, o costume de remarcação —, percebi
que estavam muito baratos. Comprei tudo o que encontrei. Foi fácil, bastou
apenas economizar alguns dias de comida. Foi assim que conheci John Wesley
e apaixonei-me por ele. Na época, eu o coloquei ao lado de Dom Bosco, São
Francisco e de alguns outros santos, então da minha devoção.
Alguns meses depois, convidado pelo Adilson Alexandre, então um colega
de trabalho, fui à Escola Dominical da Igreja Metodista. Pela primeira vez entrava
numa igreja “de crente”. Era o mês de maio e o assunto, história do metodismo.
Na ciasse, o professor começou a falar sobre John Wesley, meu conhecido. Não
abri a boca, mas saí dali com a sensação de que havia uma ponte bonita ligando-
me àquela igreja, que gostava tanto de Wesley.
Na Fa« de i eologia
___ _____ _____ 1 orin /» rYi/i
ociuhia, uííjl-l cíj.í.v^ *uy, io depois, meu amor por Wesley
se insinuar no rosto do prof. Reily, quando nos ensinava sobre Wesley e o
metodismo, mais eu me certificava de que aquele inglês tinha sido um discípulo
jULJLHw/SD UlU JL.OUO V^llòLÜ.

De lá pra cá a admiração só tem aumentado, tornando praticamente


inevitável a produção deste livro, nascido efetivamente de maneira muito curiosa.
Estava lendo o Journal, de John Wesley, quando me deparei com uma experiência
inusitada e divertida, ocorrida em 31 de março de 1764. Ele estava pregando num
determinado templo, no culto da manhã, quando, admirado, viu que um burro
entrou pela porta do templo e lá permaneceu, imóvel, em posição de profunda
atenção, durante bom tempo. Lendo o episódio, me ocorreu que, possivelmente,
haveria muitas outras curiosidades parecidas com essa. A medida que ia me
envolvendo na leitura, fui descobrindo não apenas fatos pitorescos, mas, muito
mais que isso, uma feição mais completa de John Wesley. Ao concluir a leitura
de quase todos os seus textos, uma certeza se instalou no meu coração: nós,
pastores metodistas do Brasil, conhecemos muito pouco sobre Wesley. Ainda
mais, cometem-se um Crime gravíssimo contra nós, metodistas brasileiros. Além
do fato de sermos originários de um metodismo de segunda-mão, enxertado,
recebemos um Wesley manco, desequilibrado, oscilante entre a beatitude e o
revolucionarismo social.
Creio que se nós, metodistas brasileiros, tivéssemos conhecido melhor o
pensamento de Wesley, tenamos evitado grande parte das escaramuças ocorridas
em nosso meio. E claro que cada época exige uma nova postura, com novas
respostas. Porém, com Wesley, aprenderiamos a enfrentar melhor os nossos desafios.
Preservaríamos o essencial e deixaríamos de lado tantas miudezas pelas quais
continuamos nos batendo. Num texto escrito no início do seu ministério, em 1745,
ele registrou que opiniões e polêmicas o adoeciam e que estava cansado, aborrecido
com aquele tipo de “alimento-espuma”. Afirmava que o peso de nossa religião reside
na santidade do coração e da vida. Buscava uma religião sólida e substancial e queria
estar ao lado de pessoas dedicadas a uma vida de fé, paciência e amor.
Temos uma herança maravilhosa. Somos o povo chamado metodista, fruto
de uma rica experiência de coração aquecido. Precisamos resgatar a essência da fé
cristã, batizada por Wesley corno doutrina da perfeição cristã. Essa doutrina, para ele,
é o grande tesouro ofertado por Deus aos metodistas, como afirmou inúmeras
vezes. Dizia mais: onde não se enfatiza a necessidade de buscar essa santificação,
o trabalho mingua e desaparece. Olhando para parte de nossas igrejas locais,
nas quais não há sequer sombra de uma efetiva vida cristã, nem a presença de
atos de piedade e obras de misericórdia, fica fácil e até inevitável constatar que a
afirmação de Wesley adquiriu o status de profecia. Dá o que pensar!
Este livro, em sua feição devocional, pretende nos remeter não apenas a
John Wesley, mas também a Jesus Cristo, o seu grande modelo. Do mesmo modo
que o apóstolo dos gentios foi corajoso ao dizer “Sede meus imitadores, como
eu sou de Cristo”, também nós podemos ter a certeza de que, imitando Wesley,
estaremos dando de cara com Jesus Cristo. Não há nenhum risco. O verdadeiro
cristão metodista compreende tudo isso com muita facilidade. Ele sabe que
a nossa grande meta é viver a fé cristã de forma equilibrada, sem os riscos
costumeiros da esquizofrenia e da esclerose, doenças tão comuns em nossos
dias. Precisamos nos curar da esquizofrenia, da cegueira espiritual, que consiste
em. viver de modo desequilibrado, exagerando na questão do cumprimento da
Lei e esquecidos do amor e da prática da misericórdia. Cabe, também, nos curar
da esclerose, que consiste na falta, na ausência do sagrado, num descompromisso
com alguns meios de graça conhecidos por nós como atos de piedade,
Na celebração dos 300 anos de nascimento de John Wesley, uma questão
nos deve inquietar: o que temos feito com a maravilhosa herança religiosa que
recebemos? O que nós, povo chamado metodista, temos feito com esse tesouro
oferecido por Deus? Será que o enterramos em algum canto de nossa história?
Com um formato que lembra um pouco o nosso No Cenácuh, este livro
oferece um total de 365 dias/mensagens, uma para cada dia do ano. Para compor
o dia l.° de janeiro, por exemplo, entre todas as experiências ocorridas e relatadas
por Wesley nesse dia do ano, escolhi a que me pareceu a mais significativa. Assim
fiz com todo o conjunto, procurando destacar os seus atos mais interessantes
em cada dia do ano, independentemente de uma ordem cronológica. Desse
modo ocorre no livro certa dança de datas, podendo, num dia, ser mencionado
um fato ocorrido em janeiro de 1787 e, no dia seguinte, outro de janeiro de
1726. Além de fatos datados e ajustados para compor o cicio de um ano, há
ainda inúmeros excertos de sermões e de outros textos de Wesley, entremeados
no livro. Contudo, tanto num caso como no outro, o objetivo continua sendo
unicamente o mesmo: possibilitar uma feição mais completa da figura do
f11n.d2.cloi do movimento metodistíi.
Quanto ao título, trata-se de uma frase pronunciada por John Wesley, em
outubro de 1741, logo após ter sofrido um de seus inúmeros aciáent
declaração de amor, “Adoro a sabedoria de Deus”, ele reconhece que o acidente
ocorrido com ò seu cavalo, que o jogou ao chão e o feriu, era parte integrante
de um maravilhoso designo divino. Para ele, o acidente serviu de ponte para que
pudesse entrar em contato com um grupo de pessoas extremamente carentes do
Evangelho. Acabou acolhido por todos os vizinhos, que precisavam conhecer a
maravilhosa graça divina e aguardavam a chegada de um enviado, um apóstolo
que recebera de Deus um ministério extraordinário.
Dedico o livro aos meus queridos colegas pastores, especialmente àqueles
que resistem bravamente a todas as armadilhas e seduções apresentadas no atual
panorama religioso brasileiro. Para eles, faço a mesma recomendação de John
Wesley aos. seus pregadores, na conferência de 1745, em Bristol: “Vocês não têm
nada a fazer, senão salvar almas. Portanto, gastem e sejam gastos nessa obra.
Devem ir sempre, não apenas ao encontro dos que precisam de vocês, mas dos
que necessitam mais”.

13
Janeiro

Foi uma verdadeira misericórdia


Deus não ter ouvido a minha oração

John Wesley, em carta dirigida à sua mãe


Susanna, no dia 19 de março de 1727
15 de Janeiro - Solidariedade Sempre

No início de janeiro de 1787, o rigoroso inverno estava sendo impiedoso


com a população da Inglaterra, particularmente com os mais pobres. John
Wesley, o pregador metodista, dispunha de um abrigo confortável, que lhe
permitia enfrentar com tranqüilidade a inclemência da estação. Aos 84 anos de
idade e com saúde não muito estável, tinha razões mais que suficientes para
justificar o direito de permanecer protegido em sua residência. Entretanto, todos
que o conheciam sabiam da sua disposição em fazer alguma coisa para minorar
o sofrimento dos desprotegidos pequeninos de Deus.
Esse amor pelos pobres havia nascido durante o período do Clube Santo,
em Oxford. Começara com John Morgan, um irlandês integrante do grupo que
desenvolvia inúmeras ações beneficentes. Ele ensinava crianças órfas, cuidava
de pobres e idosos e visitava prisões. Foi Morgan quem incentivou o grupo
a desenvolver algumas atividades nessa direção. Por insistência dele, em 24 de
agosto de 1730, Wesley e o irmão visitaram a Prisão do Castelo.
Naquele final de mês, John Wesley visitou a senhora Vasey, uma das muitas
pessoas idosas e pobres em Oxford que dependiam da eventual caridade da
igreja paroquial para qualquer sustento material ou espiritual. Dois anos mais
tarde, juntamente com John Clayton, filho de um livreiro de Manchester, que
possuía a mesma visão social de Morgan, nasce uma nova área de trabalho para
os membros do Clube Santo. Clayton conseguiu licença para ir ao Asilo São
Tomás duas vezes por semana.
Quando, em janeiro de 1740, uma forte nevada na região de Bristol levou
à miséria muitas pessoas, Wesley fez algumas coletas especiais para os pobres
que, não tendo trabalho nem assistência de suas paróquias, “estavam reduzidos
à extrema necessidade”. Numa viagem à Holanda, no verão de 1786, ele
ficou maravilhado com o exemplo dos diáconos de Amsterdã, que socorriam
semanalmente de 200 a 300 pobres “com o maior silêncio e decência”.
Aos 84 anos de idade, durante uma semana inteira, a primeira do ano de 1787,
ele saiu às ruas de Londres para pedir alimento, agasalho e dinheiro visando a
atender aos pobres. Perambulou por diversos bairros da capital, bateu em muitas
portas e suplicou apoio, especialmente dos metodistas, explicando, com paciência
e obstinação, que muitas pessoas sem renda e assistência precisavam de auxílio.
Apos sua campanha solidária, o resultado foi decepcionante: apenas seis ou sete

20
pessoas contribuíram com 10 libras cada uma. Apesar da pouca solidariedade,
conseguiu juntar 200 libras, pouco, mas o suficiente para fazer efetivamente algo.
Acreditava que, se 40 ou 50 pessoas tivessem ofertado 10 libras, o seu plano teria
sido executado com perfeição,

2 de janeiro - Estive Preso e Visitaste-me

No texto Um novo chamado fervoroso às pessoas razoáveis e religiosas, Wesley


comenta rapidamente a situação do presídio Newgate, em Bristol, lugar insalubre
e sujo, que inspira horror. Ele achava que, “daquele lado do inferno”, não havia
nada comparável à prisão, onde as pessoas eram entregues à iniquidade, totalmente
desprovidas do temor a Deus e do respeito ao ser humano. De tal forma que, ao sair de
tal escola, estavam completamente adaptados a todo tipo de maldade, perfeitamente
brutais e diabólicos, preparados para qualquer palavra ou ação malignas.
John Wesley sempre se mostrou muito preocupado com os presos. Para
se ter uma idéia, durante nove meses, a partir de setembro de 1783, ele visitou
e pregou nas cadeias de Londres, Bristol e Oxford mais de 60 vezes. Ele
considerava os carcereiros responsáveis, em parte, pela precária situação das
cadeias. Quando Dagge, carcereiro da prisão Newgate, em Bristol, se converteu,
depois de ouvir uma pregação metodista, a situação do presídio transformou-
se extraordinariamente. Em carta escrita ao editor do jornal London Chronicle,
de 2 de janeiro de 1761, John destaca algumas mudanças importantes.
Quão surpreso fiquei quando estive ali, poucas semanas atrás! Cada lugar, acima e
abaixo, até no fosso onde se confinam os criminosos durante a noite, está tão limpo
como a casa de um cavalheiro; há agora uma regra sobre cada prisioneiro lavar e limpar
sua cela compietamente, duas vezes por semana. Aqui não há brigas e alvoroços.
Se alguém pensa ser tratado mal, leva sua causa imediatamente ao carcereiro, que
ouve as partes contendedoras' cara a cara e, em seguida, decide o assunto. Foram
eliminados os motivos de brigas em razão de que raramente um engana o outro —
se algo assim é descoberto, o caságo significa uma reclusão mais estrita. Aqui não
se permite o uso de bebida alcoólica, não importa a vantagem que proporcione ao
carcereiro ou ao dono da cantina. Também não se admite a prostituição, pois as
prisioneiras são vigiadas com cuidado e mantidas separadas dos homens. Faz-se todo
o esforço possível para evitar a preguiça: são providas ferramentas e materiais para os
que querem trabalhar em seus ofícios. Estão trabalhando, entre outros, um sapateiro,
um alfaiate, um caideireiro e um carroceiro. No dia do Senhor não há trabalho nem
jogo c tonos sc vestem para assistir ac culto puouco na capeia. jbíinguern pooe taitar,
exceto os enfermos. Para ajudar os prisioneiros, há uma Bíblia grande encadernada,
ao lado da capela, acessível a qualquer um. Pela bênção de Deus, nessas regras, o
cárcere tem um novo ambiente.

3 de janeiro - Separação e Autonomia

Um dos temas mais difíceis que acompanharam o ministério de John


Wesley foi a separação da Igreja da Inglaterra, a possibilidade de transformar
o movimento metodista numa igreja independente.
A medida que ocorria a expansão e a consolidação do movimento
metodista, com a organização das sociedades e o estabelecimento das suas
casas de pregação, houve uma crescente pressão por parte de pregadores e
dos próprios metodistas no sentido de uma separação da Igreja da Inglaterra.
Isso era desejado porque lhes traria autonomia: entre outras coisas, a Ceia do
Senhor poderia ser ministrada pelos pregadores metodistas em suas próprias
casas de pregação.
Havia um grande incômodo em torno da ministração dos sacramentos
e Thomas Walsh, um irlandês convertido do catolicismo, expôs a situação a
Wesley, afirmando que o povo precisava receber as ordenanças de Cristo, mas
não ia à igreja por causa dos sacerdotes ímpios. Assinalou que, com muita
alegria, as pessoas comungariam com os pregadores metodistas, que as tinham
levado de volta a Deus. Além do preconceito contra os sacerdotes anglicanos,
bom número de metodistas tinha dificuldades para encontrar oportunidades
de receber a comunhão, Um deles explicou ao vigário de Devün que era muito
difícil, aos membros da sua sociedade receber com freqüência a comunhão,
uma vez que alguns precisavam andar mais de 16 quilômetros a pé.
O assunto da separação se tornou mais urgente em junho dé 1754,
quando Thomas Sheriock, bispo de Londres, excomungou o sr, Çardiner por
pregar sem licença. A reação de John Wesley foi sucinta: C<E provavelmente o
ponto que deverá ser rapidamente determinado a respeito da Igreja. Pois, se
precisamos ser dissidentes ou silenciosos, Acíum est (Está tudo acabado)”.
Em diversas outras ocasiões, a separação quase chegou a se concretizar. John
achava ser preferível a separação do que renunciar aos quatro pontos básicos
do programa metodista: pregadores leigos, pregação ac ar livre, pregação de
improviso e organização de sociedades.

22
Na conferência de 1756, foi assinado um pacto de unidade, em que
todos concordaram unanimemente que, enquanto fosse legal ou possível
continuar unidos, seria evitada a separação. Charles Wesley foi o grande
batalhador da não separação, lutando contra os ■finelquizedéquios”,
pregadores metodistas que queriam se tornar sacerdotes e empurravam
John Wesley na direção da separação. Para ele, “nada, a não ser a graça,
pode proteger nossos filhos, depois de nossa partida, de se transformar em
milhares de seitas e milhares de erros”.

4 de janeiro - itinerância, Marca Metodista

Uma das principais características do metodismo era a itinerância de seus


pregadores. Havia o chamado circuito, çUUomposto por uma determinada
paróquia (área geográfica) com aproximadamente 25 lugares de pregação. O
pregador, responsável pelo circuito, tinha a obrigação de atender a paróquia,
pregando em cada lugar uma vez por mês, no mínimo. John Wesley achava
que as constantes viagens a cavalo eram extremamente saudáveis e impediam
que seus pregadores metodistas se transformassem em pregadores molengas e
acomodados. Em carta endereçada a Franeis Asbury, ele afirma estar alarmado
com as alterações feitas no metodismo norte-americano, que tinha desprezado
a itinerância.
O próprio Wesley cuidava da organização dos circuitos, alguns deles amplos
e que exigiam muito trabalho dos pregadores. As viagens dele eram feitas a cavalo
e ocorriam muitos acidentes, um deles com consequência grave. Em janeiro
de 1774, recuperando-se de uma queda ocorrida anos antes e que, na ocasião,
parecera não ter maior importância, ele relata:
Há três ou quatro anos, o cavalo tropeçou e me lançou ao chão. Senti muita dor, mas
iogo me recuperei e não prestei mais atenção ao fato. Meses depois observei testiculum
alterum altero duplo majorem esse [um dos testículos estava duas vezes maior que
o outro]. Consultei um médico, que me disse ser um caso comum, não significando
enfermidade alguma, ü m ano mais tarde, em maio, o testículo tinha atingido o tamanho
de um ovo de galinha. Estando em Edimburgo, o dr. Hamilton msisüu que eu buscasse
a opinião dos doutores Gregory e Mouro. Eles imediatamente diagnosticaram um
hidrocele e me recomendaram buscar, tão logo chegasse a Londres, uma cura radical,
que pensavam pcderia ser feita em 16 dias. Em Londres, consultando ó dr. Whaten,
1______ _______ _ _________ ____ ^ ’
iiiC âCOnSCiüGU CjUC CU flâO pCHo c.Aj.1 Cuia Ciü liiiv jJ
sem repouso de 15 a 16 dias. Ele não sabia se minha consdtuição física poderia ser
atrapalhada com a cirurgia, da qual eu nunca me recuperaria. Também me sugeriu a não
non ifa c /Asi*Aa UOOU1U s-j decidi ton
No mês passado, o inchaço foi acompanhado de uma dor constante e, hoje, o dr.
Whaten realizou a operação, redrando mais de 11 onças [medida antiga equivalente
a 28,691 g] de um líquido amarelento e transparente. Junto com o líquido saiu, para
sua grande surpresa, uma pedra do tamanho de uma pequena bala, o que supôs ser a
causa do transtorno.

Apesar da cirurgia para drenar a hidrocele, feita no início de 1774, a doença


voltou a perturbá-lo meses mais tarde, a ponto de exigir atenção regular, a cada
nove ou dez semanas.

5 de janeiro - Críticas e Oposição

O movimento metodista era bombardeado por todos os lados, com crídcas


de vários tipos, desde a acusação de os metodistas serem agentes secretos do
príncipe Charles Edward Stuart - jovem que vivia na França e iria invadir a
Inglaterra para reclamar o trono à sua família — até a de que transformavam os
trabalhadores em vagabundos e suas famílias em mendicantes.
Wesley sempre rebateu todas elas. Em 5 de janeiro de 1761, envia uma carta
ao editor do Westminster Journal\ reclamando da afirmação do jornal de que o
metodismo teria disseminado um espírito anárquico de fanatismo, propagado
por folgazões e aceito por tontos. Wesley escreveu:
USenhor, pode me chamar de folgazão e tonto. Porém, prove que sou um ou
outro. Dizes que sou fanático. O que significa com esse termo? Um crente
em Jesus Cristo? Defensor de sua igualdade com o Pai e com toda a revelação
cristã? Quer dizer alguém que sustenta as doutrinas antiquadas do novo
nascimento e da justificação pela fé? Se é assim, então, eu sou um fanático.
Dizes que o metodismo pretende ser um novo descobrimento da religião.
Esse é um grande erro, Não pretendemos tal coisa, afirmámos que é a
única antiga religião, tão antiga quanto o cristianismo, Moisés e Adão.
Queria, senhor, que, antes de escrever qualquer outra coisa sobre os metodistas, lesse
com cuidado qualquer um dos nossos escritos. Resumindo o assunto, os ingredientes
completos de nossa religião são amor, alegria, paz, paciência, mansidão, bondade,
fidelidade, humildade e temperança. Contra eles, penso que não há lei e, portanto, sigo
pensando que devem ser tolerados, pelo menos num país cristão.
6 de janeiro - Caráter de um Metodista

No texto 0 caráter de um metodista, John Wesley assinala que metodista é


aquele que:
tem o amor de Deus derramado em seu coração pelo Espírito Santo que lhe foi
dado (Rm 5.5);
(...) ama ao Senhor seu Deus com todo o coração e alma, com toda a mente e
as suas forças (Mc 12.30);
(...) confia integralmente no Senhor e recebe todas as coisas com alegria no
coração; seja dificuldade, alegria, enfermidade, seja saúde, vida, seja morte, ele
sempre dá graças ao bom Deus, desde o mais profundo do seu coração, sabendo
que assim como toda boa dádiva vem do alto, apenas aquilo que é bom poderá
vir do Pai das luzes (Tg 1.17). E em virtude dessa confiança, ele não vive ansioso
e intranqüilo, porque lança sobre Deus toda sua ansiedade e descansa Nele;
(...) ora sem cessar, o que não significa estar sempre na igreja, e sim não perder
nenhuma ocasião de lá estar. Não significa viver de joelhos ou com o rosto
dirigido ao Senhor, mas com o coração sempre, em todo tempo e lugar, voltado
a Deus. Esteja só ou acompanhado, descansando, ocupado ou conversando,
deitado ou em pé, Deus está sempre presente em seus pensamentos.
(...) ama o próximo como a si mesmo. Seu coração está cheio de amor pela
humanidade, pelos inimigos e pelos que o perseguem.
(...) purifica-se de todo sentimento de vingança, inveja, malícia, raiva, ira ou de
toda e qualquer inclinação maldosa.
(...) tem como propósito fundamental fazer a vontade de Deus. Sua única
intenção, em todo momento e em todas as coisas, não é fazer a própria vontade,
mas agradar e fazer a vontade daquele que lhe salvou.
(...) ama ao Senhor e guarda os seus mandamentos, não alguns deles ou a
maioria, mas todos, do menor ao maior. Procura evitar tudo o que Deus proíbe,
realiza tudo o que Deus ordena, seja fácil seja difícil, alegre e doloroso.
(...) coloca-se a serviço de Deus, pronto a obedecê-Lo em todas as circunstâncias.
Apresenta continuamente seu corpo e sua alma em sacrifício vivo, santo e
agradável a Deus, completamente e sem reserva, entregando tudo o que possui
para a giória do Pai.
(...) faz o bem a todos, de todos os modos.possíveis. Alimenta o faminto, cobre o
desnudo, visita os doentes e presos. Além dessas obras de misericórdia, trabalha
também em favor de suas almas, despertando os que dormem, animando os
cansados e estimulando a todos para que sejam sempre abundantes na obra do
Senhor.
7 de janeiro - Médico do Corpo e da Alma

John Wesley era profundamente fascinado pela medicina. Acompanhava de


perto a literatura sobre o tema, chegando a questionar a capacidade profissional
de alguns médicos. Conforme anotação de 7 de janeiro de 1773, ele visita uma
menina que estava morrendo de varíola. Ao descobrir que a medicação receitada
era unicamente açafrão, ele interfere no tratamento, recomendando aos pais
que mudassem os remédios. Dias depois, quando a paciente já se encontrava
restabelecida, ele assinala ter salvado a criança da morte e dos médicos, e indaga
sobre a competência do profissional: “Como pode uma pessoa ser tão ignorante?”.
Em outra ocasião (16/agosto/1748), durante uma viagem de Newcastle a
Leeds, lê o Relato da praga em Londres, escrito pelo dr. Hodge, e fica surpreso ao
verificar que o doutor ainda não tinha aprendido, mesmo com os sintomas tão
evidentes, que a primeira parte atacada pela infecção é o estômago. Com isso,
continuava obstinadamente a insistir no regime de cura por meio do calor, apesar
dos péssimos resultados alcançados, ou seja, a morte da maioria dos seus pacientes.
Em Carta a um clérigo (4/maio/1748), Wesley concorda que a vida e a saúde são
muito importantes e afirma ser inquestionável o fato de os médicos precisarem
ser muito bem preparados para o exercício da profissão. Entretanto, ele questiona
o que pensar quando um médico formado, por exemplo, na Universidade de
Dublin e considerado apto ao exercício da profissão, não consegue realizar
seu objetivo. Se, entre mais ou menos 500 pacientes, ele não consegue curar
nenhum, o que pensar desse médico? Pergunta sobre o que fazer quando, por
outro lado, alguém, que não possua a formação profissional de médico, mas
tenha conhecimento de medicina e compaixão pelos enfermos e moribundos,
passe a curar muitos dos doentes que o doutor não conseguiu, ainda mais sem
pagamento algum.
O tema da prática médica exclusiva aos portadores de diploma universitário
é questionado por John Wesley. “Deve ser condenado aquele que consegue curar
enfermos que o médico titulado não consegue curar, apenas porque não possui
estudos completos e uma educação universitária? Será que o fato de não ser
médico devidamente autorizado Mae tira o direito de exercer o seu ofício?” Wesley
não concorda com essa opinião, pois médico seria aquele que cura (medicus est
qui medetur). e não-médico seria o que não cura (medicus non est qui non medetur).
Reconhece que o título de doutor em medicina confere autoridade e oferece o
mínimo de garantia, mas nem sempre isso ocorre. Segundo ele, muitos médicos
não estão capacitados a desempenhar a profissão.

8 de janeiro - Há em Mim Algum Caminho Mal?

No texto Orações para cada dia da semana, no trecho correspondente ao domingo


à noite, John Wesley destaca algumas perguntas que um cristão sério deve fazer a si
mesmo no início de suas devocionais vespertinas.
1. Qual o grau de atenção e fervor de minhas orações matutinas, públicas ou privadas?
2. Fiz algo sem- a devida atenção, sem procurar a glória de Deus?
3. Considerei pela manhã que virtude em particular iria praticar e os assuntos que
teria durante o dia?
4. Fui zeloso em descobrir e praticar todo bem ao meu alcance?
5. Interessei-me pelos assuntos de outros mais do que o amor cristão requer?
6. Antes de fazer uma visita ou ser visitado, considerei a ajuda que poderia dar ou
receber?
7. Mencionei algum fracasso ou falta de alguém, quando não era necessário para o
benefício do outro?
8. Reclamei de alguma pessoa sem necessidade?
9. Antes de fazer qualquer coisa, considerei como essa ação. poderia ser motivo de
bênção durante o dia?
Quanto às perguntas relacionadas ao amor de Deus, ele enumera ás seguintes:
1. Separei alguma parte desse dia para pensar sobre a perfeição divina e a sua
misericórdia?
2. Procurei fazer desse um dia de descanso celestial, sagrado ao amor divino?
3. Empreguei em obras de misericórdia as partes do dia que não usei em oração,
leitura ou meditação?
Mais adiante, de roga:
Livra-me da indolência, do medo e do abatimento de espírito. (...) Livra-me, ó Deus,
do amor idolátrieo a qualquer criatura. Sei que muitos se perdem por amar essas
criaturas. Livra-me de tal afeição cega. (...) Sobretudo livra-me, ó Deus, da idolatria
de amar a mim mesmo. Sei que essa é a raiz de todos os males. Sei que me criaste
não para fazer a minha vontade, mas a tua. Sei que o principal pecado do diabo é
ter uma vontade cc-nírária à tua. Ajuda-me contra ele, o mais perigoso de todos os
ídolos, para que eu possa, discernir todas as suas argúcias e resistir a todo o seu poder.
Pastor de Israel, recebe-me essa noite e me coloca sob Tua proteção. Aceita meus
pobres serviços e perdoa todos os meus pecados (...). Que todos nós que esperamos
a Tua salvação possamos amá-Lo e louvá-Lo eternamente. Ó Deus Pai, Deus Filho,
Deus Espirito oanto (...) Pai nosso.
9 de janeiro - Enfrentando Oposição

No verão cie 1781, John Wesley recebe da sociedade metodista de Yorkshire


uma carta, assinada por diversos líderes, a respeito de uma questão bastante difícil.
Já que Wesley incentivava e até exigia que todos os metodistas continuassem
pardcipando dos cultos da Igreja Anglicana, o que deveriam fazer quando
ouvissem dos ministros anglicanos doutrinas falsas? Na carta, afirmava-se que
os pregadores insistiam muito na abordagem de temas caros aos metodistas. O
que fazer: ouvir e engolir calado?
Em resposta (9/jan./1782), Wesley reconhece ser difícil a questão e confessa
não saber o que dizer na ocasião em' que recebera a denúncia. Como o problema
não era isolado, afetando não apenas um ou outro local, mas praticamente
todas as sociedades, ele aguardou a reunião da conferência seguinte e expôs
publicamente a questão. Na carta, lida diante dos participantes, os metodistas de
Yorkshire assinalam que o sr. R., ministro da Igreja Anglicana, afirma e insiste em
provar que não podemos ser salvos de nossos pecados nessa vida, nem devemos
esperar a perfeição em amor antes da nossa morte. Essa era a doutrina que
consideravam perigosa. O que fazer? Deveriam continuar participando dos cultos
sem reclamar ou denunciar aquele tipo de ensinamento? Eles estavam prontos a
obedecer a decisão de Wesley e, se a resposta fosse para continuar participando,
eles obedeceriam. Poderiam continuar ouvindo heresias de qualquer tipo, mas
não seria conveniente. Aquelas doutrinas, repetidas insistentemente, poderiam
ser nocivas e debilitar suas almas.
A questão foi colocada na conferência. Como o problema era comum a
toda Grã-Bretanha, Wesley permitiu que os pregadores, membros daquele
conclave, falassem a respeito. Depois do debate, decidiu-se unanimemente que
“todos os metodistas, educados como metodistas, assistam aos serviços da
Igreja Anglicana tão freqüentemente quanto possível; porém, quando o ministro
começar a pregar sobre os Decretos Absolutos ou ridicularizar a-doutrina da
perfeição cristã, eles devem, calada e silenciosamente, sair da igreja, retornando
na próxima oportunidade”.
Na carta, Wesley assinala que quanto mais refletiu sobre o tema, mais se
convenceu de que a decisão da conferência tinha sido a mais acertada:
Aconselho a meus amigos que, quando isso ocorrer, saiam da igreja de forma caiada
c silenciosa, Somente devo advertir para que r.ão sejam críticos, não acusem ninguém

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por causa de uma palavra, nem por conta de poucas orações. Qualquer pessoa que
crê nos decretos pode mencioná-los sem pensar. Porém, se o ministro em qualquer
momento tratar deliberadamente a propósito da Predestinação Absoluta ou refutar
a Perfeição Bíblica, então, aconselho a todos os metodistas que saiam caladamente.

10 de janeiro - Tolerância Zero

Em diversas ocasiões, John Wesley recomendou aos pregadores metodistas


não se envolverem em controvérsias. Entretanto, ele mesmo se viu envolvido em
diversas. Uma delas, provavelmente a mais indefensável de todas, foi a ruidosa
oposição à Lei de Tolerância aos Católicos, de 1778.
Na carta enviada ao editor de The Public Advertiser, de janeiro de 1780, Wesley
usa palavras muito fortes para combater a referida lei e destacar o seu apoio ao
trabalho da recém-formada Associação Protestante, liderada por Lord George
Gordon. As atividades dessa Associação seguiram rumo próprio, mas é bastante
provável que o apoio de Wesley tenha contribuído ainda mais para acirrar os
ânimos intolerantes.
Em junho de 1780, Gordon liderou uma multidão de mais de 20 mil pessoas
em marcha ao Parlamento, com o objetivo de pressionar a Lei de Tolerância aos
Católicos. Como a Câmara dos Comuns se recusou a considerar a proposta, houve
uma grande revolta e a cidade de Londres tornou-se palco, durante quatro dias, de
verdadeiras cenas de banditismo, com saques, pilhagens e incêndios em todos os
bairros, Para acabar com os protestos, a polícia entrou em ação, encerrando George
Gordon na prisão da Torre de Londres. Na ocasião, Wesley não se encontrava na
capital, o que certamente o livrou de algumas confusões. No final do ano, de volta
à cidade, Wesley visitou o líder do movimento, ainda na cadeia.
Na carta ao editor, Wesley assinala ter recebido o panfleto intitulado “Um
Chamado da Associação Protestante ao Povo da Grã-Bretanha” e, depois de
tê-lo lido, apoiado seus pontos principais. Segundo wesley, o panfleto tinha sido
escrito numa linguagem ciara e simples, com argumentos fortes e convincentes,
além de propósitos bondosos e bem-intencionados.
Procurando explicitar os termos qo seu envolvimento na refenda Associação,
Wesley 01121
Não tenho nada a ver com as perseguições. Não persigo nenhuma pessoa por seus
princípios religiosos. Estime que haja “uma liberdade tão ampla em religião” como

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qualquer pessoa possa imaginar. Porém, esse não é o ponto; não vou discutir se a
religião é verdadeira ou falsa. (...) Meu argumento não está baseado nessa suposição.
Portanto, deixemos de lado todas as declarações sobre intolerância c perseguição
na religião! Suponhamos que toda palavra dita no Credo do Papa Pio seja certa,
suponhamos que o ConcOio de Trento seja infalível; ainda assim, insisto que nenhum
governo não católico romano deve tolerar pessoas de crenças católicas romanas. (...)
Aqueles que reconhecem o poder espiritual do Papa não podem garantir sua lealdade a
nenhum governo. Porém, todos os católicos romanos o reconhecem, portanto, não
podem garantir sua lealdade à Inglaterra, Pondo a religião de lado, está claro que,
apoiando-se em argumentos racionais, nenhum governo deve tolerar pessoas que não
possam assegurar sua lealdade e conduta pacífica a esse governo.

11 de janeiro - Valorização do Obreiro

Em carta à sociedade em Keighley (ll/jan./1779), Wesley comenta o caso de


William Shent, pregador meio itinerante, pessoa de fundamental importância para
o estabelecimento do metodismo em Leeds. A figura do pregador meio itinerante
surgiu pela primeira vez em 1753, quando 12 pessoas foram designadas como
itinerantes de meio. período. William Shent, por exemplo, era barbeiro em Leeds e
viajava apenas metade do ano.
John Wesley ficou sabendo que Shent, acusado de haver cometido pecado
grave, fora expulso da sociedade e estava vivendo uma terrível crise financeira, sem
casa para morar e passando fome. Defendendo o pregador, ele afirma:
Tenho algumas perguntas que gostaria de propor à sociedade em Keighley.
Quem tomou possível os primeiros pregadores metodistas entrarem em Leeds? William Shent.
Quem foi o primeiro a receber John Nelson em sua casa, quando ele chegou? William Shent
Quem me convidou e me recebeu quando aí cheguei? William Shent
Quem se manteve a meu lado enquanto eu pregava na rua com pedras voando por todos
os lados? William Shent
Quem suportou a tormenta da perseguição de todo o povo e a deteve,' colocando em
risco a própria vida? William Shent
De quem foi a palavra de louvor a Deus por muitos anos, de forma notável? De William Shent
Por intermédio de quem foram levadas ao Senhor tantas crianças que agora estão no
paraíso e também muitas que ainda vivem? De William Shent
Quem agora está sendo despedaçado e jogado à rua? William Shent.
E ninguém se importa com isso. William Shent caiu em pecado e foi publicamente
despedido da sociedade. Mas terá de morrer de fome também? Ele, com seus cabelos

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i r'

brancos, e todos os seus filhos devem ficar sem lugar onde repousar a cabeça? Vocês
podem suportar isso? Onde está a graddão? E a compaixão? Onde está o cristianismo?
E a humanidade? Onde está o interesse da causa de Deus? Ouem é sábio entre vocês?
Quem tem interesse no Evangelho? Quem está revestido de misericórdia? Que se levante
essa pessoa e se faça algo para resolver tal situação. Vocês todos levantem-se, como um
só corpo, e retirem o opróbrio. Vamos colocá-lo em pé mais uma vez. Pode ser que se
salve, ele e sua família. Façam isso logo.

12 de janeiro - Plano de Visitação

John Wesley anota em seu Journal (12/jan./1774) que instituiu para


si mesmo um plano de visitação: “Comecei ao extremo leste do povoado
a visitar a sociedade, de casa em casa. Não conheço atividade pastoral
alguma de maior importância que essa. Sem dúvida, é um trabalho muito
penoso e só posso depender de uns poucos, entre nós pregadores, que se
comprometem a fazê-lo”,
Ele recomendava aos seus pregadores que visitassem não apenas os
membros das sociedades, mas também os pobres não ligados aos metodistas.
Obviamente os pregadores itinerantes tinham dificuldades para fazer esse üpo
de trabalho, já que viviam correndo de um lado para o outro. Era, portanto,
aos pregadores locais, trabalhadores nas cercanias de sua residência e não
viajantes, e aos líderes das sociedades, das classes e das bandas que Wesley
recomendava a visitação.
Além de destacar que cabia aos líderes a obrigação de realizar esse tipo
de atividade, John Wesley sempre estimulou os demais metodistas para que
tivessem esse contato, espècialmente com os mais pobres e doentes. Ele próprio
estabeleceu um método de visitação a enfermos, indicando um grupo de 12
pessoas para essa missão específica e que, às terças-feiras à noite, se reuniam
com ele. Em carta à srta. j. C. March (7/fev./1776), ele aconselha: <fVá e veja
o pobre e o doente em suas humildes choupanas. Tome a sua cruz, mulher!
Lembre-se da fé! Jesus foi adiante de você e irá ao seu lado!”. Em outra.ocasião,
para a mesma pessoa, ele recomenda:
Visite os pobres, as viúvas, os doentes, os órfãos em sua aflição, sim, embora eles não
tenham nada que os recomende, a não ser que foram comprados com o sangue de Cristo.
E verdade que isso não é agradável à carne e ao sangue. Há milhares de circunstâncias
geralmente ligadas a essa realidade que chocam a delicadeza de nossa natureza ou, antes,

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de nossa educação. Mas as bênçãos que se seguem a esse trabalho de amor irão mais do
que equilibrar a cruz.

Em outra carta à srta. March (10/dez./1777), afirma que,.apesar de viajar uma


média de quase 8 mil quilômetros por ano, ainda encontra tempo para visitar os
necessitados. Por crer na Bíblia, considera que essa é uma obrigação e um dever
absoluto. E completa: “essas são as características pelas quais o Pastor de Israel
conhecerá e julgará as ovelhas no grande dia”.
No seu Journal (9/set./1776), Wesley anota:
Comecei o que há muito desejava fazer: visitar as sociedades de casa em casa, separando
pelo menos duas horas diárias para esse propósito. Fiquei surpreso ao descobrir a
simplicidade com que todos falavam de seu estado temporal e espiritual. Não poderia ter
conhecido de outra maneira a grande obra de Deus. Encontrei pouca coisa que reprovar
e muito a louvar a Deus. Pude observar algo que nunca esperei: visitando as famílias ao
redor do assentamento de Lawford’s Gate, as mais pobres da cidade, não encontrei nem
uma pessoa desempregada.

13 de janeiro - Bem-aventurados os Perseguidos

No texto O ciistianismo moderno manifestado em Wednesbury e outros lugares vizinhos de


Stajfordshire, John Wesley relaciona diversos testemunhos de perseguições sofridas
por metodistas. Segundo relato de Jonathan Jones (13/jan./1744), ele se deparou
com um enorme grupo de desordeiros afirmando que iriam destruir os seus
pertences e derrubar a sua casa, como já haviam feito com a de Joshua Constable.
Conhecendo o líder do grupo, Thomas Tonks, foi até ele e conversou em tom
amável e convincente, dando-lhe um pouco de dinheiro. Para os outros do grupo
ofereceu cerveja e procurou persuadi-los do projeto que tinham em mente.
Naquele dia, as coisas sossegaram, mas, no seguinte, apareceu John Stokes
com um porrete na mão, exigindo boa soma de dinheiro, do contrário, quebraria
as janelas da casa. Do mesmo modo ele conseguiu conter-lhe o ímpeto,
)ferecendo-lhe uma bebida. Mais tarde, por volta das 6 horas da tarde, vieram
íohn Bagot e John. Linyard. cada um armado com seu porrete e dizendo a mesma
coisa. Como ele havia dado dinheiro aos outros, também eles o queriam, senão,
chamariam todos os outros companheiros e fariam o mesmo que já tinham feito
aos vizinhos. Depois de muita conversa e um pouco de dinheiro, eles também se
foram. No mesmo dia, apareceram ainda John Wilks, com uma pistola na mão, e

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mais seis ou oito armados de porretes. Novamente, só depois de muita conversa
e bebida, eles também se foram.
No finai do relato, Jonathan Jones explica que tudo começou quando o rev.
sr. E., junto com outras pessoas, redigiu um documento afirmando que nunca
se reuniriam para ler, cantar ou orar, nem escutar o sr. Wesley. O documento foi
passado de mão em mão por toda a vizinhança e quem não o assinasse teria a
casa destruída. No relato de Humphrey Hands consta que o maior temor dos
metodistas era a possibilidade de negar o Mestre. Segundo ele, apesar de todas as
ameaças, com a graça de Deus, a grande maioria escolheu perder todas as coisas
do que negar a fé no Salvador.

14 de janeiro - Susanna, a Mãe do Metodismo

Em janeiro de 1727, John Wesley, estudante no Lincoln Çoüege, comenta


com a mãe que começou a ler a polêmica entre os bispos Atterbury e Hoadly. Ao
chegar à metade do livro, interrompeu a leitura porque julgou não valer a pena
gastar 20 ou 30 horas para saber se eles estavam interpretando bem ou mal o
pensamento um do outro. Na ocasião, Wesley estava com quase 24 anos de idade
e a preocupação em partilhar com a mãe sua leitura confirma o sen profundo
respeito e a admiração por ela.
Susanna sempre se mostrou muito interessada na educação dos filhos.
Mesmo sem possuir educação universitária, pois na época as mulheres não
podiam se matricular nas universidades, ela esteve à frente do seu tempo e
implantou na casa uma lei esdpulando “que nenhuma menina seria ensinada
a trabalhar enquanto não soubesse ler bem. Para ela, “colocar a criança para
aprender a costurar, antes que possa ler perfeitamente, é a verdadeira razão de
tão poucas mulheres poderem ler a ponto de serem ouvidas, e nunca a ponto de
serem bem entendidas”.
Todos os filhos foram bastante influenciados pela mãe, p articular mente
Wesley, que, mesmo na universidade, manteve o costume de solicitar a ela a
opinião sobre os assuntos considerados por ele interessantes. Em carta enviada à
mãe (28/maio/1725), afirma terem lhe recomendado o livro Imitação de Cristo, de
Thomas Kempis. Depois de tê-lo folheado várias vezes - ainda não tinha podido
lê-lo com cuidado e atenção conclui que o autor devia ter sido uma pessoa
muito devota, mas não concordava com as idéias principais ali expressas. Wesley
assinala que não podia crer que, ao nos enviar ao mundo, Deus teria decretado
irrevogavelmente que seríamos perpetuamente infelizes e enumera uma série de
outras questões das quais discorda.
Em outra carta (18/jun./1725), Wesley agradece à mãe os comentários
enviados sobre o livro de Kempis - “A senhora me explicou muito bem os
princípios de Thomas Kempis” — e afirma ter ouvido de determinada pessoa que
A Vida e a Morte, de Jeremy Taylor, não era recomendável aos jovens. Ele pede à
mãe explicações sobre alguns de seus pontos e a resposta chega depressa. Onze
dias mais tarde, outra carta de Wesley indica seu agradecimento pelos novos
comentários, especialmente os relacionados à questão da humildade. Em 22 de
novembro de 1725, ele assinala estar esperando as opiniões da mãe sobre um
livro publicado pelo bispo George Berkeley, defendendo um idealismo filosófico
que negava a existência da matéria. Por essa carta, reconhecemos que a mãe
também fez observações sobre a obra.

15 de janeiro - Conversão aos Pobres

Consta no Journal de John Wesley (15/jan./1777), uma visita aos membros


da sociedade metodista moradores da pequena aldeia de Bethnal Green.
Bastou uma rápida olhada no local para se certificar de que muitas famílias
viviam em situação de extrema miséria. Wesley ficou impressionado com tal
realidade, inimaginável para quem não a tivesse visto com os próprios olhos,
As cenas eram impressionantes, muito mais dramáticas do que as verificadas
na triste e deprimente prisão de Newgate. Ele descreve o que chama de “o
mais vivo retrato da miséria”: um pobre homem teria se arrastado de sua cama
de enfermo e ido até sua maltrapilha esposa e seus três pequenos filhos, todos
desnudos. Quando um pão é trazido, todos correram, agarraram o pão e o
despedaçaram num instante. Ele fica profundamente indignado diante daquilo
e começa a pensar sobre o que fazer para corrigir aquela triste realidade. Não
bastariam alguns projetos provisórios e precários. O ideal, que possibilitaria
uma mudança mais profunda, seria maior solidariedade entre as pessoas,
sobretudo por parte dos mais abastados.
Desde o início do seu ministério, John Wesley dedicou atenção especial
aos pobres e doentes. Em 1741, ao notar que a sociedade unida de Londres
lúmero de pessoas carentes, fez um apelo à sociedade para

34.
que cada um contribuísse com um penny por semana a um fundo de auxílio
aos pobres e doentes e para que também fossem trazidas roupas a serem
distribuídas aos necessitados.
Fascinado, desde o tempo de Oxford, com a possibilidade de ajudar na
cura das doenças, ele publicou uma coleção de receitas medicinais e estocou
remédios nas três principais casas de pregação. Auxiliado por um cirurgião e
um farmacêutico, chegou a organizar um “tipo de experiência emergencial”,
distribuindo remédios a doentes pobres. Em dezembro de 1746, anunciou à
sociedade de Londres sua intenção de “dar assistência médica aos pobres”,
todas as sextas-feiras, na Fundição, tornada um dispensário médico. Outras
medidas mais foram tomadas, entre elas a criação de uma pequena indústria
caseira de tricô destinada às mulheres pobres desejosas de aprender a
trabalhar nessa área.

16 de janeiro - Rigor na Admissão de Membros

John Wesley foi sempre muito rigoroso na admissão de novos membros


ao movimento metodista. Em carta dirigida ao pregador Lancelot Harrison
(16/jan./178Q), assinala reconhecer que naquele distrito muitos não conheciam
as Regras Gerais. Exige, então, que o pregador reunisse imediatamente cada
sociedade, com o objetivo único de ler e explicar o conteúdo delas. Além disso,
orienta que ninguém mais seja recebido como membro, antes de tê-las lido e
concordado com elas.
Em outra carta (22/fev./1776), dessa vez dirigida ao pregador Joseph
Benson, ele se mostra mais incisivo:
Basta de ameaças; é hora de agir. Em novembro passado, eu disse à sociedade em
Londres: nossa regra manda reunir uma classe uma vez por semana, não uma vez a
cada duas ou três semanas. Advirto-ihes, agora, que não darei tickets a ninguém em
fevereiro, a não ser às pessoas que já o receberam. Cumpri minha palavra. Faça o
mesmo onde quer que você visite as classes. Comece, se necessário, em Newcastle e
prossiga a Sunderland. Já não aceitaremos somente promessas. Exclua os que não se
reuniram se re vezes no tnmestre. Leia seus nomes na socieuaue e lnrorme-ines que,
no próximo trimestre, serão excluídos todos os que não se reunirem doze vezes (isto
e, a menos que possam justificar as íaitas pela distância, enfermidade ou qualquer
outro motivo inevitável}, bem temor ou íavorinsmo, destitua os lideres, das ciasses e
das sociedades, que não cuidam das almas sob seus cuidados.
Em 11 de janeiro do ano seguinte, ele repete a Benson: “O que tenho a dÍ2er é
muito breve. Necessito que você se reúna com as sociedades de Sunderland e Shields
no próximo trimestre e não dê ticksís a nenhuma pessoa que não se comprometa
a não vender ou comprar produtos contrabandeados”. No dia 13 de outubro de
1778, ele escreve a William Church dando orientações e exigindo uma postura
mais inflexível. Assinala que o cristão também é forjado pela disciplina e que cabe,
especialmente aos líderes, dar bom exemplo de seriedade no cumprimento das
normas. Exige que os pregadores e líderes metodistas insistam no cumprimento
de todas as regras da sociedade, mesmo das menores. Ele próprio costumava dar
o exemplo do que exigia. Afirma não fornecer tickets a nenhuma mulher usando
chapéus caros e luxuosos, pois, para ele, se não estivesse disposta a desfazer-se
deles, não merecia e não devia fazer parte do metodismo.

17 de janeiro - Fundo de Empréstimo aos Pobres

A questão da pobreza incomodava muito John Wesley. Além das


arrecadações obtidas pelas sociedades, que também tinham a finalidade de
assistir os pobres, várias outras alternativas foram criadas. Em 17 de janeiro de
1747 surgiu a idéia de criar um fundo de empréstimo aos pobres. Fruto de uma
coleta pública para fazer empréstimos de pequenas quantias, tornou-se um
grande sucesso, Muitas pessoas contribuíram, inclusive quem não participava
do movimento metodista.
A coleta para a formação do fundo de empréstimos foi feita em Londres.
As 50 libras coletadas entre alguns amigos de Wesley foram entregues a
dois ecônomos (stewards) da sociedade, que foram à Fundição e fizeram
empréstimos de uma libra aos necessitados de um “empurrão financeiro” para
desenvolver pequenos empreendimentos e outras finalidades. Tudo foi bem
feito e organizado. Aqueles que tomavam o empréstimo se comprometiam
a pagá-lo em um período de, no máximo, três meses, sem juros.'junto com a
nota promissória, assinada pelo avalista e pelo beneficiado, constavam várias
Ni-1«

informações sobre a pessoa, inclusive qual a classe de que participava. Em


1772, o valor emprestado subiu para 5 libras, comprovando que o projeto
alcançava um nível mais sofisticado.
WW «JÇ«

Esse programa de empréstimo de prazo curto para pequenos negócios


ajudou, no primeiro ano de funcionamento, mais dc 250 pessoas. Em 1774,
um dos beneficiados foi James Lackington, jovem de 26 anos que, com as 5
libras emprestadas, começou um negócio de venda de livros. Lackington, que
morava perto da Fundição, mostrou grande talento nos negócios e, em seis
meses, conseguiu aumentar razoavelmente o seu capital. Dois anos depois, havia
adquirido uma boa fortuna e abandonou os metodistas.

18 de janeiro - Os Frutos não Nascem Sozinhos

Em janeiro de 1762 John Wesley vai à Irlanda. Depois de passar alguns dias
em Dublin, dirige-se à Newry e encontra a sociedade metodista em situação
muito precária. As ofensas e brigas haviam despedaçado a sociedade. Do grupo
de mais de cem pessoas, sobravam apenas 32. No culto da quarta-feira à noite
poucos participaram. A chuva tinha afugentado os ouvintes curiosos e, depois
do sermão, organizou o ágape, a festa do amor. Apesar do grupo pequeno, foi
uma experiência maravilhosa.
Wesley assinalou que Deus derramou seu espírito çom abundância. Muitos
saíram cheios de consolação, particularmente alguns vindos de Lisburn, a mais
de 32 quilômetros de distância, para participar do culto. Uma jovem de 16 anos
de idade passou por uma experiência muito bonita. Deus restaurou a luz da
sua face e lhe deu clara evidência de seu amor. Tudo ocorreu de forma tão
extraordinária que a sua alma parecia ser toda amor.
Por que o trabalho metodista na Escócia estaria passando por aquelas
dificuldades? Meses depois, em julho, ele se dirigiu até Portarlington, onde havia
uma sociedade pobre e morta. Não poderia ser diferente, pois seus pregadores se
fechavam em um quarto com 20 a 30 ouvintes. Achavam que o trabalho pastoral
consistia em cuidar apenas de um grupinho. Para que houvesse crescimento na
obra, seria necessário muito trabalho. Os frutos não nascem sozinhos. E preciso
trabalhadores que lancem as sementes, que as plantem.
Incomodado com aquela situação, Wesley dirigiu-se diretamente ao mercado
da cidade. Ali, bem no centro, ele proclamou com voz forte e segura: “Eis que
o semeador saiu a semear” (Mt 13.3). Com coragem e determinação, proclamou
a Palavra de Deus e uma verdadeira multidão o rodeou. Na manhã seguinte,
às 5 horas, o salão metodista estava repleto de pessoas, totalizando mais que o
dobro de sua capacidade. Às 8 horas, ele retornou ao mercado e pregou sobre
o texto “Como te deixaria, ó Efraim? Como te entregaria, ó Israel?” (Os 11.8).
Solenemente, a multidão escutou a proclamação da Palavra de Deus. Muitos
atenderam ao chamado e se converteram ao Senhor.

19 de janeiro - Os Leões se Convertem

Em 1742, um episódio desafiador ocorreu na cidade de Long Lane. John Wesley


estava pregando, baseado no texto de 1 João 3.8 sobre “O que pratica o pecado é
do diabo”. No meio do culto, segundo Wesley, começou uma grande confusão: “os
que serviam ao diabo ficaram enfurecidos, fizeram todo o barulho possível, bateram
e empurraram violentamente as pessoas e destruiram parte da casa. Finalmente,
começaram a jogar grandes pedras sobre o telhado e as telhas caíam entre as pessoas”.
Percebendo que a situação se tomava perigosa, inclusive com o risco de alguém ser
morto, Wesley ordenou que todos ficassem quietos e não tentassem nenhuma reação.
Em seguida, dirigindo-se à turba, disse que havia recebido instruções do juiz para
denunciar as pessoas que provocavam distúrbios nos cultos metodistas. Suas ameaças
de nada serviram e contribuíram para acirrar ainda mais o animo dos revoltosos; assim,
Wesley ordenou que três homens fortes e calmos agarrassem o líder do grupo rebelde
para entregá-lo à polícia. Assim foi feito e ele foi levado para dentro da casa Embora
seguro fortemente, continuava xingando de forma espantosa. Seus companheiros
gritavam com força o nome de Richard Smith, sugerindo que ele entrasse para socorrer
o líder seguro pelos metodistas.
Em seu relato, Wesley afirma que naquele momento aconteceu uma coisa
gloriosa. Richard Smith não pôde responder aos apelos de seus amigos, porque já
estava nas mãos de Alguém muito mais forte do que ele. Deus alcançou o seu coração
e também o de uma mulher que, até então, bradava palavras terríveis e atirava tudo
o que lhe caía nas mãos. Os dois entraram na casa e caíram de joelhos diante de
Wesley, suplicando a misericórdia divina. Com a conversão de Smith e da mulher,
Wesley achou por bem retirar a acusação contra o líder dos bagunceiros, baseado
na promessa de melhora da sua conduta. A partir daquele dia, nunca mais ocorreu
nenhum obstáculo mais relevante para a pregação metodista em Long Lane.

20 de janeiro - Assumindo um Novo Pape!

Susanna Wesley nasceu em 20 de janeiro de 1669 e faleceu em 30 de julho de


1742. Assumiu papel fundamental na formação dos fundadores do movimento
38
•T,'

metodista, tendo incutido nos filhos John e Charles grande paixão pela salvação
das pessoas.
Em carta escrita ao marido, que por sinal deixou John encantado, ela destaca
determinadas circunstâncias que a levaram a zelar pela saúde espiritual dos filhos
e de muitos vizinhos. Recomenda ao marido não dar atenção às críticas, uma vez
que seu objetivo foi se esforçar no sentido de que as pessoas participassem da
Igreja e não profanassem o Dia do Senhor. Escolhia os melhores sermões e os
que falavam sobre o avivamento, e os lia perante o grupo. Não permitiu que outra
pessoa fizesse a leitura, conforme a recomendação do marido, pois não conseguiu
achar ninguém que pudesse ler bem, sem ficar soletrando boa parte do texto, e
também porque não havia entre os filhos alguém com voz forte o suficiente para
ser ouyido por todos.
, Eis alguns trechos da carta de Susanna a Samuel:
Como sou mulher, sou também dona de casa de uma família numerosa. E
ainda que o cargo superior das almas recaia sobre você, (...) em tua ausência
não posso fazer nada menos que velar sobre cada alma que deixas sob meus
cuidados, como um talento encomendado a mim sob uma confiança do
grande Senhor de todas as famílias, tanto do céu como da terra. E se eu
for infiel a Ele ou a ti, não cumprindo como melhorar esses talentos, como
poderei responder-Lhe quando Ele me exigir contas de minha mordomia?
Esses e outros pensamentos parecidos no começo me fizeram tomar muito mais
cuidado com as almas de meus filhos e empregados. (...) Pensei que era meu
dever dedicar parte do dia à leitura e à instrução de minha família (...). Decidi
começar com meus próprios filhos e utilizei o seguinte método: tomar uma parte
de cada noite para conversar com cada filho em separado. Na segunda, falo com
Moily; na terça, com Hetty; na quarta, com Nancy, na quinta, com Jacky; na sexta,
com Patty, no sábado, com Charles e no domingo, com Emily e Suky juntas.
Este foi o início da minha presente prática. O fato de oauas pessoas virem e
se unirem a nós foi acidental. (...) Assim, nosso grupo aumentou para quase
30 pessoas e raramente excedeu a 40 no inverno passado (...). Por fim, me
ocorreu que, mesmo não sendo homem, nem ministro, meu coração estava
sinceramente dedicado a Deus e eu me inspirava num verdadeiro zelo por sua
glória, podia fazer algo mais do que faço. Pensei que podia orar mais por eles
e falar com aqueles que converso com o mais cálido afeto, Com os poucos
vizinhos que antes vinham, passei a conversar com mais liberdade e carinho.
A partir de então, nosso grupo aumentava cada noite, já que eu não me atrevia a
negar a ninguém o pedido para entrar. No domingo, creio que ávemos mais. de 200
pessoas e muitos se retiraram, pois já não havia lugar na sala.

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21 de janeiro - O Fim do Mundo

As predições apocalípticas esparramadas por George Bell, anunciando o fim do


mundo para 28 de fevereiro de 1763, provocaram pânico e terror em muita gente.
Pregando à congregação de Wapping (21/jan./1763), Wesley esforçou-se para tirar
alguma coisa boa do movimento e fez severa exortação, a partir do texto bíblico
que diz “Buscai o Senhor enquanto se pode achar”. Durante a pregação, destacou
a profeáa anunciada por George Bell como equivocada e que devia ser rejeitado
qualquer anúncio datando o fim do mundo.
Previsões dessa natureza sempre ocorreram, em quase todas as épocas. Em
carta a Christopher Hopper (3/jun./1788), John Wesley se vê na necessidade dé
explicar sua posição sobre o tema. Isso porque tinha surgido um grande equívoco
quando ele fez alguns comentários à posição de Bengel-a, que estipulava 1736 como
o início do milênio. Ele explica:
Eu não disse nada, nem mais nem menos, na igreja de Bradford, com relação ao fim
do mundo, tampouco quanto à minha própria opinião. O que disse foi que Bengel-a
havia opinado não que o mundo terminaria, e sim que o reino do milênio de Cristo
começaria no ano 1736. Com relação a isso, não tenho nenhuma opinião. Não
posso chegar a nenhuma conclusão a respeito disso. Esses cálculos estão além do
meu entendimento. Somente tenho um propósito: salvar minha alma e as daqueles
que me escutam.

No sermão Os sinais dos tempos (ago./1787), baseado em Mateus 16,3, Wesley


evita oferecer qualquer indicação a respeito de datas, mas assinala estar perto o dia
em que o Senhor cumprirá suas gloriosas promessas. Ele diz nunca ter havido uma
época, desde os apóstolos, tão propícia como aquela em que vivia. Afirma que, em
seu tempo,
A levadura do Evangelho (a fé operando a santidade interior e exterior, mediante o amor
(G1 5.6), estendia-se por todas as partes. Em várias regiões da Europa, especialmente
na Inglaterra, Escócia e irianda. Nas ilhas, no norte e no sul, desde a'Geórgia até a
Nova Inglaterra e Teranova, os pecadores estavam se convertendo verdadeiramente ao
Senhor, experimentando mudanças profundas no coração e na vida. já não se contam
por dezenas ou centenas, mas por milhares, dezenas de milhares. Os sábios desse mundo
e as pessoas educadas e famosas não conseguem compreender quando ele faia sobre as
obras extraordinárias de Deus. Não conseguem discernir os sinais dos tempos. Nem ver
o sinal de que Deus está se levantando para sustentar Sua causa e instaurar Seu reino
sobre a Terra!

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22 de janeiro - Impedidos de Pregar

John Wesley recebeu uma carta da sra. Parker, expressando a disposição dela
de descartar os pregadores metodistas, impedindo-os de pregar em sua capela.
Respondendo, em janeiro de 1784, Wesley afirma que tomou o tempo necessário
para replicar com calma as suas considerações.
A senhora me dá crês razões para descartar os pregadores metodistas: a primeira,
porque várias pessoas que haviam abandonado sua capela prometeram retornar
novamente, sob a condição de que não mais se permitisse aos metodistas pregar
ali; segunda, porque eles pregam sobre a perfeição cristã; e a terceira é que,
enquanto eles estavam pregando, várias pessoas foram afetadas de forma violenta.
Seriam válidas essas razões? Vamos considerá-las diante de Deus, com calma e
imparcialidade.
1. A senhora alega que várias pessoas que haviam abandonado sua capela prometeram
retornar novamente, com a condição de que não mais se permitisse aos metodistas
pregar na sua capela. Creio que a senhora nunca deveria ter reunido ou recebido
pessoas desse dpo. Que espírito papista tão rígido esse! Que fanatismo vil! O espírito
exato do calvinismo! Seguramente, ninguém que não seja calvinista deve estimulá-la,
nem por palavras nem por obras. Considero que a pessoa que age assim faz mais
é manter uma causa má, tão má quanto ela pode ser. .Pois, quem Deus reconhece
como eles [os metodistas] na Grã-Bretanha, Irlanda e América? Quem reconhece
Ele agora em Yorkshire, Cheshire, Lancashire, Cornwall? Na verdade, esses são os
sinais da nossa missão, prova de que Deus nos enviou. Sessenta mil pessoas olhando
para o céu e muitas delas regozijando-se em Deus, seu Salvador. A senhora viu um
exemplo disso em Leeds. Venha outra vez verificar se a obra é ou não de Deus (...).
2. A senhora diz que eles pregam a perfeição cristã. E a senhora, não o faz? Quem
não o faz prega os oráculos de Deus? Essa palavra bíblica significa nem mais nem
menos que “amar a Deus com todo nosso coração” (Mt 22,37), “ter o mesmo
sentimento que houve em Cristo” (Fp 2.5) e “andar como ele andou” (IJo 2.6).
3. A senhora afirma que, enquanto um deles pregava, várias pessoas caíram ao solo,
clamaram em voz alta e foram afetadas vioientamente. A senhora nunca leu os meus
joumals, ou a Narração, do dr. Jonatas Edwards, ou as Coleções Históricas, do dr. Gillies?
Não entende, então, que Deus, que faz todas as coisas com sabedoria, quis, durante
• quase 50 anos, quando atuou da forma mais poderosa, que esses sinais externos
(naturais ou não) acompanhassem a obra interna? Quem pode cridcar isso? Deixem
que Deus faça o que bem lhe parecer.
Portanto, tenho de pensar que nem essas razões, nem nenhuma outra,
podem justificar o rechaço dos mensageiros de Deus, e, consequentemente, que
todos os que o fazem ou os animam mantêm uma causa má.
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23 de janeiro - Casamento Tumultuado

A vida conjugal de John Wesley com Mary Goldhawk, viúva de Anthony


Wazeille, sempre foi tumultuada. No seu Journal (23/jan./1771), ele registra que
a esposa saiu de casa, foi para Newcastle, propondo-se a nunca mais regressar.
Afirmando não saber a causa de tal decisão, assinala: “Non eam reliqui; non dimisi;
non revocabo (Não a abandonei, não a mandei embora, não reclamarei a sua volta)”.
São poucas as informações sobre o seu casamento anotadas por Wesley em
seu Journal. Ele achava que o casamento não atrapalharia suas constantes viagens.
Pensou inclusive que sua mulher poderia acompanhá-lo no ministério. No início,
ela viajou ao seu lado, mas logo desistiu.
Seu irmão Charles e outros líderes metodistas não tinham ficado felizes
com sua decisão de casar-se. Charles manifestara-se frontalmente contrário,
afirmando ser aquela uma decisão equivocada, que poderia comprometer o
bom andamento do movimento metodista. Nem o próprio Wesley ficou feliz
por tanto tempo, porque logo se referiu ao casamento como tendo “tomado
sua cruz”. A impressão é de que ele não estava tão seguro a respeito de casar-
se. Em reunião com um grupo de jovens solteiros (6/fev./1751), poucos dias
antes de seu casamento, ele demonstrou, de diferentes modos, quão bom
era, para aqueles que haviam recebido o dom de Deus, permanecer eunucos
por causa do Seu reino, a não ser que um caso particularmente excepcional
mudasse a regra.
Uma carta (23/mar./1760) confirma os constantes conflitos entre o casal
ocorridos em situações de extrema bizarrice. Molly, a esposa, desmontou sua
cama e amontoou todas as peças no escritório. Diz ele:
Pobre Molly! Não podia aguentar um pouco mais? Nem um mês? Nem 20 dias?
Encontrou uma desculpa para raiar como antes? Realmente, uma desculpa muito pobre,
mas, tal como é, pode servir na falta de uma melhor. Você desmantelou a cama. E queres
colocá-la no meu estúdio. Não respondo se podes ou não! Na verdade, considero tudo
isso como uma desculpa. Que necessidade tinha de desmantelar a cama? Que necessidade
havia (tendo a desmantelado) de colocar as peças num único quarto pequeno que tenho,
quando você possui quatro quartos?

Wesley tornou-se viúvo de Mary Goldhawk em 8 de outubro de 1781, A notícia


foi recebida por ele só três dias depois, em sua volta a Londres. Foi o fim de üm
casamento tumultuado e infeliz.

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24 de janeiro - A Melhor Mulher do Mundo

No final de janeiro de 1773, Wesley realizou, em Norwich, a cerimônia do


funeral de E. T. Após ouvir os insistentes comentários feitos pelo viúvo, destacando
as virtudes da falecida, Wesley anotou: “Seu marido fala dela como se fosse a mulher
mais excelente e a mais afetuosa esposa. Conheci muitos casos assim. Muitos casais
que, enquanto vivem juntos, falam mal um do outro, mas, tão logo morre um deles,
o sobrevivente refere-se ao falecido como a melhor criatura do mundo”.
Em 1749, John Wesley se apaixonou por Grace Murray, viúva que tinha
sido responsável pela casa dos órfãos em Newcastle. Numa carta longa ao seu
irmão Charles, ele enumera uma infinidade de virtudes da mulher amada, Como
não foi possível a Wesley casar-se com “a melhor mulher de toda a história da
igreja cristã”, que é como se refere à Grace Murray, não sabemos se o fundador
do movimento metodista repetida o comportamento do viúvo de Norwich e
de muitos outros casais ou se de fato conseguida, durante o casamento, manter
acesa a chama da admiração e do amor.
Em todo caso, o certo é que Wesley sempre enfatizou aos seus
pregadores a necessidade de tratar as mulheres com muito carinho. Entre as
milhares de cartas escritas por ele, boa parte delas foi endereçada a mulheres.
Nesses escritos há sempre um tom muito carinhoso, como se comprova,
por exemplo, na carta a PçJeggy Dale, de 18 de junho de 1767: “Minha
estimada Peggy. Para conversar com você viajaria três ou 500 quilômetros e
me sentida mais que recompensado”.

25 de janeiro - Viagem Perigosa

John Wesley, seu irmão Charles e os outros dois companheiros do Clube


Santo continuavam em viagem à Geórgia. O dia 25 de janeiro de 1736 foi
marcante. No Journal Wesley assinala que, por volta do meio dia, começou nova
tormenta, a terceira naquele dia e a maior de todas.

Ela continuou e, às quatro da tarde, se tomou muito mais violenta. As ondas do mar eram
enormes e subiam aos céus. Os ventos rugiam e silvavam tão daramente como voz humana.
O navio não apenas se movia violentamente de um lado a outro, mas se sacudia com um
movimento tão desigual e ruidoso que qualquer pessoa só conseguia se sustentar com muita
r
dificuldade. Era impossível ficar em pé sem se apoiar em algo. A cada 10 minutos, ocorria
um duro golpe na popa ou na borda, dando a impressão de que as tábuas estavam sendo
estraçalhadas. Nesse momento, uma criança, banzada previamente. foi trazida para ser
recebida como membro da Igreja. Isso me fez recordar o profeta Jeremias comprando um
terreno no momento em que os caldeus estavam a ponto de destruir Jerusalém, e parecia
uma promessa do Deus misericordioso dirigida a ensinar-nos aqui na terra dos yiventes.
Depois das orações, passamos duas ou três horas conversando sobre o pertinente à
ocasião, confortando-nos em tranqüila submissão à sabedoria e à santa e afável vontade
de Deus. Agora a tormenta não nos parecia tão horrível como antes. Bendito seja o Deus
de toda consolação! As 7 horas fui ver os alemães. Fazia tempo que havia observado
a seriedade do seu comportamento. De sua humildade haviam dado constante prova,
realizando trabalhos para outros passageiros, que nenhum dos ingleses poderia fazer.
Por esse trabalho não desejavam nem recebiam pagamento, dizendo ser bom para seus
corações orgulhosos e que o Salvador tinha feito muito mais por eles. Cada dia encontravam
ocasião de mostrar tal espírito de mansidão que nenhuma ofensa poderia destruir. Se
eram empurrados, golpeados ou derrubados, se levantavam e se retiravam sem proferir
qualquer queixa. Havia agora a oportunidade de provar se estavam livres do espírito de
temor, assim como do orgulho, da cólera e da vingança. No meio da leitura dos Salmos, já
no início do serviço religioso, as águas embravecidas rasgaram a vela principal e cobriram
o barco, como se fossem cobertores, dando a impressão de que o mar nos tinha tragado.
Um terrível grito ouviu-se entre os ingleses. Os alemães, calmamente, continuaram
cantando. Mais tarde, perguntei a um deles: “Você não teve medo?5’. “Graças a Deus,
não”. Questionei ainda: “E suas mulheres e crianças não ficaram com medo?”. Ele
respondeu com toda a calma: “Não, nossas mulheres e crianças não temem a morte”.
Dirigi-me, então, aos ingleses que choravam e tremiam, Fiz ver a eles a diferença na hora
da prova entre aqueles que temem a Deus e aqueles que não o temem. As 12 horas, o
vento se acalmou. Esse foi o dia mais glorioso que vivi até agora.

26 de janeiro - Caminhando e Lendo

O livro de receitas caseiras Mediana 'Primitiva (Primitive Physick:), escrito por


John Wesley e, já em 1776, reeditado pelo menos 17 vezes, foi atacado por
Wiiliam Hawes, jovem médico que acusava o autor de charlatanice e grave
ameaça à sociedade. Por causa de um continuo erro de impressão, a obra de
Wesley receitava como vomitório para envenenamento “uma ou duas dracmas

uma vez que a dracma representava o total de 60 gramas, suficiente para matar
algumas dezenas de oessoas.
Alertado pelas denúncias do médico, o jornal Ga^etteer publicou editorial
extremamente crítico, afirmando que “algumas pessoas lêem correndo, que a
vida completa de Wesley é prova de que ele é dessa ciasse de leitor, e é dessa
maneira que ele lê as Escrituras e todos os demais livros”.
Na resposta enviada ao editor do jornal (25/jan./1776), Wesley aceita
humildemente a crítica de ter confundido dracma por grão, destacando que na
edição seguinte o erro seria corrigido. Faz ainda alguns comentários a respeito do
tom sarcástico presente no artigo sobre ele ler correndo as Escrituras e os demais
livros. Admite um pouco de verdade na afirmação do jornal e assinala que, por
muitos anos, ele e o irmão viajaram juntos, a pé, e, enquanto caminhavam pelas
estradas, um ia atrás do outro, lendo em voz alta algum livro de história, poesia
ou filosofia. “Leio enquanto caminho”, admite Wesley, “tinha muito trabalho e
pouco tempo disponível, já que as horas em que ficava em casa eram dedicadas
quase que exclusivamente a escrever”. No começo, lia a pé. Depois, passou a ler
montado no cavalo. Mais tarde, quando já estava com quase 70 anos de idade,
ganhou de amigos uma carruagem e passou a ler com mais conforto.

27 de janeiro - Cartas Amigáveis

Alexander Knox estava com 12 anos de idade quando seu pai hospedou John
Wesley em sua casa, em Londonderry, na Irlanda. Isso aconteceu em 1765 e, depois
dessa ocasião, Wesley continuou visitando a família diversas outras vezes.
Apesar de a conversão de Alexander só ter ocorrido após a morte de Wesley,
pode-se dizer que as mais de 20 cartas recebidas por ele do líder metodista,
procurando estimulá-lo na caminhada cristã, foram fundamentais na decisão.
Alexander tornou-se pregador metodista e notável teólogo. Em uma dessas
cartas, de 21 de janeiro de 1776, John Wesley afirma que a enfermidade que tinha
debilitado a saúde do jovem devia ser vista como parte do projeto divino de dar
uma nova direção à sua vida.
Assim que recebi a sua caria, respondi abordando o seu problema específico. Não
entendo como essa carta não chegou ao seu destino. Talvez alguém a tenha interceptado.
Sua enfermidade continuará durante o tempo necessário para apagar as paixões da
juventude, mantê-io morto para o mundo e prevenir que busque a felicidade onde
ela nunca esteve e jamais poderá ser encontrada. Olhe a sua situação desse ponto de
vista: é uma grande bênção e uma prova de que Deus se preocupa e vela por você (...).
Não posso deixar de admirar a sabedoria e a bondade da Divina Providência com
relação a você. Como já tem todas as necessidades e comodidades da vida, como tem
um pai carinhoso e complacente e, por natureza, um temperamento alegre e livre, com
toda a probabilidade, despertaria a admiração e o afeto de seus familiares e amigos,
depositando neles sua felicidade, se não houvesse sido preparado um equilíbrio tão
maravilhoso para você. Uma enfermidade corrente, especialmente uma transitória,
não haveria cumprido esse propósito, nem lhe salvaria de admirar-se a si mesmo ou
de ser admirado por outros. Portanto, Deus o mantém muito tempo em sua escola, a
melhor escola onde a Infinita Sabedoria podia matriculá-lo, de modo que você possa
aprender compíetamente a ser manso e humilde de coração, e a buscar toda a sua
felicidade em Deus.

28 de janeiro - Amor Fraterno

O rev. Samuel Davies, pastor em Hanover, na Virgínia, escreveu a seguinte


carta a Wesley, transcrita em seu Journal (28/jan./1757):-
Apesar de que você e eu divergirmos em algumas pequenas coisas, desde muito tempo
tenho admiração por você e pelo seu irmão, e tenho orado pelo êxito de vocês como
zelosos vivificadores de uma cristandadeexperimental.Sedivirjodevocêsnoreferenteao
temperamento, no plano ou ainda em essências da religião, estou seguro de que o erro deve
estar do meu lado. Bendito seja Deus por termos corações para nos amar uns aos outros.
Como sabia que sua correspondência deve ser muito extensa e seu trabalho variado
e contínuo, procurei guardar meu amor peculiar por vocês em segredo até que
cheguemos onde os mares não mais nos separarão. Porém, seu último gesto piedoso
me obriga a dar-lhe o trabalho de ler uma carta [três meses antes, John Wesley tinha
obtido o seu endereço e lhe enviado alguns livros]. Estou certo de que Deus o assistirá
com suas bênçãos e lhe dará utilidade a uma distância de quase 5 mil quilômetros.
Quão grande é a honra que Deus pôs sobre você ao fazê-lo restaurador de uma religião
decadente! Depois de lutar com tanta oposição, e levantar-se quase sozinho, com que
prazer deve estar contemplando tantos que se incorporam, zelosos, à mesma causa,
ainda que talvez não sob o mesmo tipo de nome, nem abertamente conectados a você.
Estou esforçando-me em minha pobre maneira de promover a mesma causa
nessa parte de nosso pecaminoso globo. Meu êxito não é igual aò' meu desejo,
mas ampiamente sobrepuja ambos, meus méritos e minhas expectativas. Batizei
mais de 150 negros adultos, dos quais mais ou menos 60 são comungantes.
Carentes de sofisticação, alguns demonstram a arte de dissimular. Mas, bendito
seja o Senhor, a maioria deles, até onde sei, sãc verdadeiros cristãos. Não
tenho dúvida de que vários são genuínos filhos de Abraão. Entre eles, em
primeiro lugar, e, depois, entre os brancos, distribuí os livros que me mandou.
Desejo que informe ao seu irmão essa carta, dirigida também a ele. E permita-me que
eu e minha congregação, particuJarmente meus pobres negros convertidos, recebam
o favor de suas orações.

29 de janeiro - Viagem Missionária

Em 29 de janeiro de 1736, John Wesley está a bordo de uma embarcação a


vela, atravessando o Atlântico rumo ao Novo Mundo. Uma viagem desse tipo,
no século XVIII, ainda era uma façanha que exigia coragem, especialmente a
ele, que nunca estivera em um navio e, desde a juventude, tinha abominado e
temido o mar. Iniciada meses antes, em 14 de outubro de 1735, a viagem contava
com o pequeno grupo composto pelos dois irmãos Wesley, Benjamim Ingham
e Charles Delamotte, membros do Clube Santo, com a meta de “salvar nossas
almas e viver plenamente a glória de Deus”.
Naquele dia òcorreu a terceira e pior tempestade de toda a viagem.
De acordo com o relato: “Era mais ou menos 7 da noite quando caímos
dentro de um furacão. A chuva e o vento estavam extremamente violentos.
Num momento, o céu ficou tão escuro que os marinheiros não podiam ver
as cordas; nem recolher as velas. O barco provavelmente naufragaria, se,
repentinamente, o vento não tivesse acalmado, do mesmo modo que havia
começado”.
A experiência mostrou a Wesley a necessidade de se submeter à “sábia,
santa e graciosa vontade de Deus” e também abriu seus olhos para a fé
profunda de um grupo de morávios alemães a bordo da embarcação.
Enquanto participava dos serviços religiosos, o mar se derramava sobre
o navio, partia a vela mestra e fluía s^hre o convés, “como se o grande
mar já tivesse nos engolido”. Ao mesmo tempo em que os passageiros
ingleses gritavam de medo, os morávios continuavam cantando os salmos
calmamente, sem interrupção, Wesley ficou tremendamente impressionado:
jamais vira tanta calma e segurança. Ern seu Journal' anota: “Esse foi o dia
mais glorioso que já vi”.
A viagem para a Geórgia foi muito importante. Em sua igreja, em
Savana, surgiu um pequeno grupo de estilo pietista, chamado por Wesley
de o segundo nascimento do metodismo. Ele partiu para o Novo Mundo
toíaimente convencido de que seu chamado missionário vinha de Deus:
“Estou seguro, se eu for uma vez (totalmente) convertido, de que Ele me
usará, tanto para fortalecer meus irmãos como para pregar Seu nome aos
gentios, para que até aos 4o ut qa a salvaçao de nosso Deus’

30 de janeiro - Deus Ajuda Quem Cedo...

No sermão Remindo o tempo, escrito no final de janeiro de 1782, com base


em Efésios 5.16, John Wesley explica que cada pessoa deve procurar encontrar
a exata quantidade de sono exigida pela sua constituição física. Conta que, 60
anos antes, acordava à meia-noite ou pouco depois e ficava um bom tempo
sem conseguir retomar o sono. Procurando corrigir o problema, deduziu logo
que permanecia na cama um tempo bem maior que o necessário. Arrumou um
despertador que o acordou às 7 horas da manhã, uma hora mais çedo do que
costumava se levantar. Naquela noite, ele acordou de madrugada e ficou sem
dormir certo tempo. Na noite seguinte, reduziu o horário para as 6 horas. Ainda
sobrou tempo. Na terceira, colocou o relógio para despertar às 5 horas. Mais
uma vez, o mesmo problema. Na quarta manhã, ele encontrou a sua medida
exata. Foi dormir no horário de sempre, entre 21 e 30 e 22 horas, e acordou às
4 horas, sem ter perdido tempo com insônia no meio da noite. A partir desse
dia, nunca mais teve problemas com o sono. Em um mês inteiro, não perdia,
segundo ele, mais do que 15 minutos de sono.
De acordo com o pensamento de Wesley, ficar na cama por um período
maior do que o necessário produz diversos tipos de prejuízo.
Era primeiro lugar, uma hora por dia significa seis horas semanais que poderíam ser gastas
em outras atividades. A pessoa poderia ganhar algum dinheiro com esse tempo. Sé não
necessita de mais dinheiro, poderia oferecê-lo a quem precisa. O segundo prejuízo é na
própria saúde, na medida em que o costume de permanecer na cama vai deteriorando,
gradual e imperceptiveknente, a saúde física. Essa é a causa de todas as enfermidades
nervosas. Foram realizadas muitas investigações paia explicar por que razão os transtornos
mentais tornaram-se mais comuns do que eram em épocas anteriores. Há muitos fatores,
mas o principai é o fato de a pessoa permanecer muito tempo na cama, acomodada. Em
vez de se levantar às 4 horas, ficamos deitados até as 7, 8 ou mesmo 9 horas.

No final do sermão, Wesley dá algumas orientações e exorta a todos


a permanecer sempre firmes, metódicos e a estipular rigorosamente uma
hora para acordar e levantar da cama. Aos que iniciaram e não conseguiram
• vV, ir adiante, ele aconselha retomar o plano. “Entretanto”, escreve, “não se
pode imaginar que o fato de acordar bem cedo seja suficiente para fazer um
cristão. Trata-se de apenas mais um passo, entre muitos outros. Só que ele
é importante para ajudar-te a buscar o mesmo sentimento que houve em
Cristo Jesus (Fp 2.5).”

31 de janeiro - Instabilidade Espiritual

Uma questão que sempre preocupou John Wesley é a instabilidade espiritual.


Num certo período, a pessoa está cheia de amor e bastante ativa na comunidade,
logo mais adiante mostra-se desanimada e debilitada espiritualmente, uma
verdadeira gangorra. Wesley se diz cansado de ver exemplos desse tipo, inclusive
entre líderes e pregadores.
Em 31 de janeiro de 1765, ao examinar o assunto, conclui que tal oscilação
ocorre porque as pessoas não investem no crescimento espiritual. Segundo
Wesley, é fundamental ao cristão continuar sempre em crescimento.
Qualquer interrupção, qualquer relaxamento faz com que a pessoa não apenas deixe
de crescer, mas também perca boa parte do seu dinamismo. Refletindo sobre o
maná distribuído ao povo hebreu no deserto, pode-se afirmar que essa é a lógica
da vida cristã. Não se pode acumular: cada dia requer o mesmo itinerário de buscar
o alimento na fonte. Na oração ensinada por Jesus consta “o pão nosso de cada
dia dá-nos hoje” (Mt 6,11). O fato de ontem ter buscado o alimento é um precioso
indicativo de que aprendemos o caminho, de que sabemos onde encontrar o pão da
vida. Mas não é garantia de que teremos alimento sempre. Sem busca, a vida cristã
fica completamente esclerosada.

Para Wesley,
O caso é muito simples: a regra invariável do proceder de Deus mostra que, “ao que
não tem, ainda o que tem será tirado” (Mt 25,29). Portanto, é impossível reter o que
se recebe, sem melhorá-lo. E preciso complementar ainda que se acredite que, quanto
mais se recebe, maior a necessidade de se ter cuidado e trabalho, vigilância e oração,
prudência e diligência em todas as formas do viver. Alguém duvida de que aqueles
que se esquecem disso logo perdem o que receberam? Ai daqueles que os ensinar a
esquecer, a não vigiar, a não orar!

Outra correspondência sua, dessa vez enviada a Adam Clark (26/nov./1790),


assinala que reter a graça de Deus é muito mais difícil que recebê-la. Segundo ele,
anenas uma em cada três pessoas consegue fazer isso, É impossível reter o amor

49
puro sem que haja crescimento. Para Wesley, í£é por essa razão que os pregadores
metodistas precisam continuar insistindo no assunto. Devem continuar
ensinando a doutrina da perfeição cristã. Qualquer líder ou pregador que fale
direta ou indiretamente contra essa doutrina não pode continuar pregador ou
líder metodista. Tal pessoa não deve permanecer, porque quem tem tal postura
não é um honesto”.
Em carta de 21 de julho de 1774, dirigida a Thomas Rankin, assistente
geral do movimento metodista na América do Norte, John Wesley salienta estar
refletindo muito sobre o que fazer para ajudar as pessoas a se interessar pela
busca da perfeição cristã. Reconhece ainda não ter estabelecido uma regra a ser
acolhida pela pessoa no exato instante da sua justificação. Diz que não há uma
regra que incentive a continuar caminhando até a perfeição, cabendo ser feito
algo exatamente.para aquela ocasião, pois se trata do momento mais importante
que todos os outros. Nessa hora a pessoa adquire a simplicidade das crianças
pequenas, ferve em espírito, pronta e disposta a cortar a mão direita ou arrancar
o olho direito (Mt 5.29-30). Acha necessário fazer algo, porque se continuar
permitindo que o fervor mingue será muito difícil trazer novamente as pessoas
até aquele ponto.

50
Fevereiro

Vocês não têm nada a fazer, senão salvar almas.


Portanto, gastem e sejam gastos nessa obra.
Devem ir sempre, não apenas ao encontro
dos que precisam de vocês, mas dos que
necessitam mais.

John Wesley, aos pregadores metodistas reunidos


em Bristoí, na conferência de 1745
12 de fevereiro - O Desafio da Unidade

O desenrolar dos acontecimentos nos Estados Unidos, com a independência


do país e a autonomia do metodismo na formulação de sua própria estrutura
eclesiástica, trouxe muita apreensão a John Wesley. Seu grande sonho sempre foi
a união de todos os metodistas.
Em carta ao rev. E. G, da Philadelphia (l°./fev./1791), ele afirma: “Estejam
seguros de que não ocorra o perigo de se separarem de seus irmãos da Europa.
Não percam a oportunidade de manifestar a todas as pessoas que os metodistas
são um só povo no mundo inteiro e que é sua determinação continuar assim,
‘ainda que as montanhas surjam e os mares se desbordem em vão para separar-
nos”. Sugere ainda que, assim como escreveu a história do metodismo na Grã-
Bretanha e Irlanda, seria importante algumas pessoas se disporem a preparar
uma “relação histórica do que nosso Senhor tem feito na América, desde
o momento em que Richard Boardman aceitou o convite para realizar o seu
trabalho missionário”.
A unidade metodista sempre foi um grande desafio e assunto prioritário
para John Wesley. Em carta dirigida a Thomas Rankin (4/dez./1773), reconhece
as realizações dos metodistas na América do Norte, assinalando que elas seriam
maiores se os irmãos Boardman e Pilmoor continuassem metodistas genuínos
na doutrina e na disciplina.
No texto Um informe claro sobre o povo chamado metodista, Wesley reafirma
seu temor quanto à estreiteza de espírito e de coração, ao zelo partidário e ao
fanatismo miserável, que levam as pessoas a acreditar que todos os que não
compartilham seus pontos de vista estão afastados de Deus. Para evitar esse '
tipo de problema, ele costumava ler aos metodistas informações sobre a ação de
Deus em várias partes do mundo, não apenas pelo metodismo, mas das outras
denominações. Dedicava uma noite por mês a essa tarefa, que considerava um
momento reconfortante para todos os que amam a Deus e ajudam a derrubar
todo tipo de separação.
Ao se referir às primeiras sociedades metodistas, wesley admite que uma
característica do metodismo na admissão de seus membros é o fato de não se
procurar impor a eles nenhum tipo de opinião. Presbiterianos, independentes,
anabaüstas e também cs quakets podem continuar adorando a Deus da maneira
deles. Fazer parte do povo metodista não significa abrir mão da sua forma

52
- característica de adorar. Há apenas uma condição: o profundo desejo de salvar sua
alma. Isso já é suficiente e não se deseja nem se enfatiza mais nada.

2 de fevereiro - O Primeiro Amor

Na carta escrita à igreja em Éfeso, João, o exilado na Ilha de Patmos,


revela que aquela comunidade havia abandonado o primeiro amor (Ap 2.4). Os
versículos restantes desse documento dão a perceber que aqueles cristãos não
haviam abandonado a fé, ao contrário, eram perseverantes, fortes e capazes de
enfrentar provações difíceis. A expressão abandonar o primeiro amor é empregada
com frequência. Não raro as pessoas reclamam a perda do entusiasmo inicial, do
primeiro amor, já não sendo capazes de manter o mesmo sentimento da época
de sua conversão.
A uma metodista que enfrentava grandes provações e lamentava ter perdido o
primeiro amor; John Wesley recomenda muito cuidado. Assegura serem inevitáveis
as mudanças na caminhada cristã. Não é possível que determinada pessoa continue
a vida inteira do mesmo modo. Mas, ao contrário do que se afirma, não se trata
de perder a alegria produzida na primeira fase da experiência religiosa. Ocorre que
o ardor do início cede espaço a uma relação mais serena e tranqiiila. “A alegria
eufórica, freqüentemente percebida no início da justificação ou da santificação
completa, é uma grande bênção, mas raramente continua por muito tempo antes
de se converter em amor tranquilo e aprazível”, resume.
Embora considere que o ardor inicial sofre uma transição necessária,
convertendo-se em relação mais tranquila e serena, Wesley chama a atenção
para o fato comum de os cristãos abandonarem definitivamente o primeiro
amor, abandonando a fé em Jesus Cristo. Em fevereiro de 1779, ele escreve
a Hester Ann Roe: “São tão poucos os que retêm a mesma paixão de afeto
que recebem quando são justificados ou mais plenamente santificados”. São
inevitáveis a transformação e o amadurecimento do cristão: a impetuosidade
ingênua e até desordenada, marcada pelo imediatismo, dá espaço a uma nova
posLara. idiia0i2.nlO, íi&o sc u.cvg pcr*_icr ou. uiiriiriiiin u p&xCsís, cit ame
recebida na fase inicial.
Há mudanças, aponta Wesley, mas elas são de qualidade. O correto é que o
amor aumente cada vez mais, à medida que se estreita o contato com Deus, que
se aprofunda o conhecimento de Deus. Fara ele, é normal o arrefecimento e até

53
o abandono do primeiro amor; por outro lado, o certo é como se verificou na
vida cristã do casal Ritchie; desde a primeira vez em que foram visitados pela-
salvação divina, nunca deixaram de crescer na graça e no amor.

3 de fevereiro - Liderança Firme

John Wesley sempre manteve o controle do movimento metodista. Todas as


decisões passavam por suas mãos, desde a delimitação doutrinária até a organização
dos circuitos. Com a independência dos Estados Unidos e a relativa autonomia
conquistada pelo metodismo estabelecido naquele país, esse controle tornou-se
mais difícil. No entanto, Wesley nunca abriu mão da liderança, mantendo-se
sempre muito bem informado a respeito do desenvolvimento do metodismo.
Em carta endereçada a Freeborn Garrettson (3/fev./1790), ele comenta: y fey.
Duas ou três semanas atrás, tive o prazer de receber sua carta, na qual me dá um
preciso informe sobre o progresso rápido e extenso da obra de Deus na América. -
Também me informa ter escrito uma narração de sua vida, com instruções de que
me fosse enviada, e desde então estou esperando, mas já não tenho mais expectativas
de recebê-la, porque, a menos que me venha rápido, não me encontrará mais nesse
mundo. Como vê, o tempo é muito curto e a morte se aproxima. Enquanto vivermos,
façamos a obra do nosso Senhor a boa hora e, em seu tempo, Ele nos dará nosso
galardão completo. .1 U.

No dia seguinte, ele escreve a Thomas Morrell:


Você me enviou uma descrição completa a.respeito da obra na América. Qualquer, um
espera que o tempo esteja se acercando quando a “Terra ficará repleta do conhecimento
da glória do Senhor” (Is 11,9). Verdadeiramente, as revoluções assombrosas, que
ocorrem na Europa parecem ser precursoras do mesmo grande evento. E verdade
que os pobres pagãos, que não conhecem nada de Deus, não possuem tal propósito,
nem sabem o que fazem. Porém, “Jeová preside o dilúvio e se senta como rei para
sempre” (SI 29.10). Enquanto isso,' é conveniente que os metodistas em todas as
partes do globo se unam tão estreitamçnte quanto possívei”.

4 de fevereiro - Abandonando o Chá

Na Inglaterra do tempo de John Wesley, o chá era quase uma instituição


e utilizado pela esmagadora maioria da população. Tratava-se de um costume
profundamente arraigado na dieta alimentar. Muitas pessoas cultivavam a planta
do chá em pequenas hortas residenciais. John Wesley começou a tomar chá com
17 anos de idade e o fez por décadas. Na visita ao jardim de James Gordon, em
Mile Ende, em fevereiro de 1775, ele conhece diversas modalidades da planta.
Em meados de 1746, numa longa conversa com líderes metodistas de
certa cidade, tratou-se da necessidade de oferecer aos pobres da sociedade
metodista local sugestões práticas de economia e que produtos consumidos com
regularidade traziam prejuízos ao bolso do consumidor e à sua saúde. Depois de
algum tempo de discussão chegaram ao chá. Todos admitiram que as famjQias
gastavam dinheiro com aquela mercadoria e que, além do aspecto financeiro,
tratava-se de um produto sem benefícios à saúde. Decidiu-se abandonar o chá e
os líderes deveriam ser os primeiros a dar o exemplo.
No seu Journal, Wesley revela ter seguido à risca a decisão, mas com
dificuldades para romper uma prática de 26 anos. Teve dores de cabeça nos
três primeiros dias e sentiu-se sonolento de manhã à noite. No terceiro dia, no
período da tarde, perdeu a memória quase completamente e à noite buscou o
remédio por meio da oração. Na manhã seguinte, as dores haviam desaparecido
e a memória estava mais alerta que nunca. A partir daí, enfrentou e conseguiu
vencer o vício do chá sem mais dificuldades, admitindo que o novo costume
trouxe muitos benefícios.
Durante 12 anos ele não mais experimentou a bebida, até que o dr. Fothergill,
seu médico assistente, recomendou-lhe usar novamente. Em outubro de 1759,
reclamando da esposa, ele confessa que ela não lhe dava liberdade nem para
tomar um chá com a família. Wesley tomou chá o resto de sua vida.

5 de fevereiro - Para ser Pastor é Preciso Amar

No texto Um discurso aos clérigos, de fevereiro de 1756, e em parte da coleção


Espiritualidade e Hinos, John Wesley assinala que o pastor, no exercício de seu
" importante trabalho, deve visar à glória de Deus e à salvação de vidas. Essa
deve ser sua intenção, seu objetivo fundamental. Se for movido por essa boa
intenção, se o olho for bom, toda a sua obra estará cheia de luz. Deus, que
mandou Sua luz brilhar no meio das trevas, reluzirá no coração desse pastor,
dirigirá os seus caminhos, verá o fruto da sua aflição e ficará satisfeito. Porém,
se a sua intenção não for sincera, se o seu olho não for bom, se houver qualquer
tipo de motivação obscura, o seu corpo e a sua alma viverão em trevas e ele não
gozará das bênçãos de Deus. A maldição divina cairá sobre ele, não encontrará
consolo em seu coração e não haverá fruto em seu trabalho.
Além ue boas intenções, o pastor deve estar investido de profundo amor
por todas as pessoas. Um amor mais profundo que aquele experimentado por
cristãos comuns, pois, de outro modo, ele não poderá cumprir sua missão, não
conseguirá resistir a todas as lutas e tribulações surgidas em seu ministério.
Da mesma maneira que um pai não consegue superar todas as dificuldades
acarretadas pela criação de um filho, se não sentir por ele intenso afeto, também
o pastor, sem esse amor profundo, não terá como suportar os problemas e
as dificuldades no trabalho de guiar e criar muitos filhos "à medida de varão
perfeito” em Cristo Jesus.
Somente um louco seria capaz de assumir o ministério pastoral sem sentir
esse afeto, esse amor pelas pessoas. Qualquer um, em seu juízo normal, escolhería
cultivar a terra ou exercer qualquer outra tarefa, a não ser que tivesse a profunda
preocupação com a glória de Deus e a sede da salvação de almas.
Quanto ao seu ofício, o que faz ser um ministro do Evangelho, um pastor
de almas, se não a completa dedicação a Deus, a abstenção, com todo cuidado e
diligência, de toda má palavra e obra, de toda aparência de pecado? Não foi ele
chamado a ser exemplo de caráter? Não deve a sua vida estar de acordo com o
seu chamado, em contínuo ato de louvor a Deus e de solidariedade a todas as
pessoas? Não deve ele ser humilde, sério, prudente, gentil, paciente e abstêmio?
Não foi vocacionado por Deus com a finalidade de providenciar luz e poder a
seus irmãos, guiando-os nos muitos perigos?
O ministro do Evangelho deve responder algumas questões: amo a Deus com
toda a minha alma, e a meu próximo e a toda raça humana como a mim mesmo? Esse Q
amor me absorve, me possui e é minha suprema felicidade? Esse amor é o manancial
de onde brotam todos os meus pensamentos e que governa minhas palavras e ações?
Pastores, sigamos cumprindo todas as ordenanças de Deus, especialmente
meditando em Sua palavra, negando-nos a nós mesmos, tomando 'a nossa cruz a
cada dia e fazendo o bem a todos.

b se fevereiro — encontro com o Novo Mundo

Numa sexta-feira, -5 de fevereiro de 1736, quase às 8 horas da manhã,


'wesley pisa pela primeira vez em solo americano, segundo ele, uma ilha pequena ||
: e desabitada. Assim que desembarcaram, o general Oglethorpe (fundador da
colônia da Geórgia, em 1732, asilo de ingleses encarcerados em razão de dívidas)
guiou o grupo até uma parte elevada, onde se ajoelharam e agradeceram a Deus
pelo sucesso da viagem. Wesley iniciou imediatamente sua atividade pastoral no
Movo Mundo. Dirigiu-se à sua primeira “congregação”, convidando-os a uma
breve cerimônia. Fez a leitura do capítulo ó do Evangelho de Marcos, sobre as
instruções de Jesus a seus 12 discípulos enviados à missão, os relatos sobre o
sofrimento e a morte de João Batista, as dificuldades enfrentadas no mar pelos
discípulos e a salvação de Jesus, que disse “Não temais!”. Segundo Wesley, os
textos bíblicos eram magnificamente apropriados àquela ocasião.
Uma carta escrita à sua mãe (18/mar./1736) traz o relato breve do lugar,
bem mais agradável do que se podia imaginar,, segundo ele. Saudável inclusive no
verão, permitindo que ele não adoecesse desde a chegada ao continente, tampouco
nenhum dos membros da sua nova congregação, formada por mais de 700
pessoas. Wesley se mostra exultante com o interesse religioso demonstrado por
todos, citando o exemplo de um baile que não teria acontecido, pois o salão estava
completamente vazio, enquanto a igreja estava cheia. E considera a imigração
uma ótima alternativa para os pobres, que receberíam gratuitamente terras e
' mantimentos para sobreviver até conseguir se manter com a própria produção.

7 de fevereiro - Chegam os Desordeiros

A perseguição aos metodistas foi muito forte, sobretudo na fase inicial do


movimento. Um dos testemunhos relacionados por Wesley, em O cristianismo moderno
. manifestado em Wednesbury e em outros lugares vizinhos de Stajfordshire, descreve o sofrimento
. de Thomas Parkes, sua esposa e seus sete filhos.
O primeiro grupo de desordeiros chegou à casa de Parkes em 7 de fevereiro
de 1744. Cinco homens, todos armados de porretes, exigiam a sua assinatura
documento em que se comprometia a nunca se reunir para ler, cantar ou
i orar, nem escutar o sr. Wesley ou outro pregador. Parkes respondeu que não
etia assiná-lo, pois cria que os pregadores falavam sobre a verdade de Jesus.
Se assinasse, estaria negando Àquele que enviou os pregadores.
O grupo ameaçou saquear a casa e, mesmo assim, Parkes respondeu que
fizessem o que bem quisessem, porém, não escapariam do tribunal divino.
Perguntou-lhes ainda se havia feito algo de mal a qualquer um deles. Disseram-lhe

57
que não, que o problema era ele e a família terem abandonado a igreja oficial. Ele
afirmou integrar uma igreja dissidente, mas que amava o bem e cria numa só Igreja
de Cristo e que o importante era participar dessa igreja.
Não houve meio de evitar a destruição. Um grupo maior destruiu todas as
janelas, levou embora muitas coisas da casa e confessou estar preparando uma lei
que deveria em breve ser jurada por todos. Parkes retrucou que só se submetería
à Lei de Deus, jamais às leis do demônio. Entregando sua causa a Deus, a família
abandona a casa depredada. Ao olhar as ruínas, Parkes dÍ2 ter sentido no coração
um amor muito grande pelos perseguidores. Apesar de tudo, ele reconhecia que
Deus o amava e de todo o coração ele louvava ao Senhor.

8 de fevereiro - Perfeição Cristã

Ao pregador metodista George Merryweather, John Wesley escreve (8/


fev./1766):
Onde a perfeição cristã não é pregada forte e explicitamente, raras vezes há uma
bênção notável de Deus e, conseqüentemente, há fraco crescimento na sociedade e
pouca vida nos seus membros. Portanto, sejacob Rowell se debilitou e fala pouco dela,
supra você sua falta de serviço. Fale e não se intimide. Não permita que sua estima
por qualquer pessoa o induza a atraiçoar a verdade de Deus. Até que não pressione
os crentes a esperar a salvação plena agora, não deve esperar nenhum avivamento.
E certo que Deus, às vezes, sem nenhuma causa conhecida por nós, derrama Sua graça
de maneira extraordinária. Em algumas instâncias, demora a dar a graça justificante y
ou santificante, por razões que não conhecemos. Esses são álguns dos segredos do v
Seu governo, que aconselho guardar em seu coração. Espero que você e sua esposa H
retenham o que têm è desejam mais. U

O tema da perfeição cristã tornou-se tópico regular na agenda das JJ


conferências anuais.. De um lado, havia os exageros de pessoas extrapolando yl
os limites e afirmando que o cristão perfeito poderia viver sem. pecado, em ||
estado quase angelical. Os representantes maiores dessa posição foram Thomas |g
Maxfield e George Bell, que. tiveram muitos seguidores, inclusive pregadores.
F*ÍA ."M "te.—.
u—rO/
a
i£s.vu.\^r
vullv . tema, incomoQauos tamoem com os
apfnrrAm /\n /ni-io o.\rri,/rrTrtm
uo duo uvnavcuii
u ouivíuíi

inúmeros exageros.
Apesar da evidente preocupação com as extrapolações, John Wesley estava
deslumbrado com a situação de muitas sociedades metodistas na época. Para
ele, tratava-se da confirmação dos seus ensinamentos, de que qualquer pessoa

58
poderia ser limpa de todos os pecados (mesmo com a permanência de fraquezas)
e experimentar o amor puro antes da morte, O crescimento do número de
membros era vertiginoso: a sociedade de Londres, por exemplo, cresceu de
2.300 a 2.800 membros em dois anos. Outras sociedades também passavam pela
mesma experiência, entretanto, algumas que não davam a devida ênfase a esse
assunto viviam crises, como a de Cornwall.
Em 15 de setembro de 1762, Wesley destacou que os metodistas de Cornwall
deveríam dar mais atenção à doutrina da perfeição cristã, pois, nos lugares
onde ela não era proclamada com o devido destaque, os crentes morriam ou
esfriavam. O único modo de prevenir e evitar esse esfriamento espiritual era
manter nos crentes a expectativa constante em torno da perfeição. Devia haver
uma “expectativa a cada hora”, já que de nada adiantava esperar a perfeição
cristã na morte ou em algum momento mais à frente.

9 de fevereiro - Uma Data Muito Especial

A data de 9 de fevereiro é muito especial para John Wesley. Quase todos os


anos, emocionado, ele se lembrava do generoso gesto divino de salvação ocorrido
quando ainda era garoto. Em 1750, ele participava, em Londres, de uma vigília.
Por volta das 11 horas da noite, ele relatou aos presentes o importante: episódio
que tinha marcado a sua vida: o incêndio na casa da família, quando ele tinha
pouco mais de seis anos de idade. No seu Journal,\ revela que naquele dia do mês e
na mesma hora, 40 anos antes, foi tirado do meio das chamas. Terminado o breve
relato, vozes de iouvor e de ação de graças soaram alto e todos se regozijaram
diante de Deus.
Em sua narrativa sobre o fato, Samuel Wesley descreve:
Ura pouco depois das 23 horas ouvi o grito de “fogo” na rua mais próxima ao
lugar onde eu deitara. Se estivesse no meu próprio quarto, como de costume,
todos teríamos perecido. Puíei da cama, vesti-me de coiete e trajes noturnos e
olhei pela janela. Vi o reflexo das chamas, mas não sabia onde estavam. Calcei as
meias e, com as calças nas mãos, corri ao quarto de minha mulher. Tentei forçar
a oorta, trancada do lado de dentro. As duas íilhinhas mais velhas, que estavam
com ela, se levantaram e correram à escadaria para despertar o resto da família. (...)
Subi a,escada, achei os filhos: desci e abri a porta da rua. O capim do teto caía
no fogo, o vento nordeste lançava as chamas sobre mim. Duas vezes tentei subir
a escada, mas fui obrigado a ceder. Corri até a porta que dava para o jardim e a
abri. O fogo ali estava mais manso. Mandei as crianças me seguir, mas apenas duas
delas achavam-se comigo e uma terceira [Charles], que ainda não sabia andar,
nos braços da criada. Corri com ele ao meu gabinete no jardim, fora do alcance
das chamas; coloquei o menor no colo da outra e, percebendo que minha esposa
não havia me seguido, voltei apressadamente para buscá-la, mas não a achei.
Desci, corri até os filhos, no jardim, para ajudá-los a transpor o muro. De
lá de fora, ouvi um dos meus pobres cordeirinhos, com mais ou menos seis
anos de idade, ainda deixado no segundo andar, clamar tristemente: “Ajuda*
me”. Corri outra vez para a escadaria, mas ela agora se achava tomada de
chamas. Tentei transpô-las pela segunda vez, defendendo a cabeça com as
calças que levava nas mãos, porém, a corrente de fogo me jogou para baixo.
Julguei ter cumprido o meu dever e saí da casa, em direção da parte da
família que eu havia salvado, com o clamor de meu filho ainda aos ouvidos.
Fiz todos se ajoelharem para pedir que Deus lhe recebesse a alma. (...)
O menino que eu ouvira clamar pela janela (...) correu para a janela que dava
ao quintal, trepou numa cadeira e pediu socorro. Poucas pessoas haviam se
aproximado, entre elas, um homem que me quer bem. Ele ajudou um outro a
subir à janela. (,..) e o pequeno John pulou nos seus braços e foi salvo.

10 de fevereiro - Idéia Brilhante

A dívida assumida por Wesley com as construções em Bristol e


Londres era muito pesada. A quantia de 25 a 35 libras anuais recebida
por ele, na qualidade de fellowt da Universidade de Oxford, era suficiente
apenas para os seus gastos pessoais. Precisava de muito mais dinheiro
para saldar os empréstimos.
Em fevereiro de 1742, na reunião com diversos líderes da sociedade de í§
Bristol, visando a estudar meios de pagar as dívidas do salão novo, surgiu uma 7
idéia brilhante. O capitão Foy, capitão de navio com base em Bristol, propôs
que cada membro da sociedade contribuísse com um penny por semana para4]
tal finalidade. A solução inovadora de Foy era simples; dividir á sociedade em
grupos ne 12 pessoas, cana um ncies com um líder responsável pela entrega da ij)
quantia
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seu grupo. Foy se ofereceu inclusive para liderar o grupo das 11 pessoas mais _
pobres. Sua sugestão foi acatada e colocada em prática,
No mês seguinte, o mesmo piano foi implantado em Londres, na sociedade
da Fundição. No seu journal (2b/mar./1742), 'wesley conta;
Nomeei vários homens diligentes e razoáveis para reunirem-se comigo. Mostrei-Lhes a
grande dificuldade para conhecer as pessoas que desejavam estar sob meus cuidados.
Depois de muita discussão, todos concordaram que não havia melhor caminho, para
chegar a um conhecimento seguro e completo de cada pessoa, que o de dividi-las em
classes, como as de Bristol, sob a supervisão daqueles em quem se podia confiar
mais. Essa foi a origem de nossas classes, em Londres, pela qual nunca pude agradecer
suficientemente. A utilidade indizível da instituição havia sido desde então mais e mais
manifesta.

Em carta dirigida a Adam Clarke (28/jan./1790), Wesley escreve sobre a


dificuldade no pagamento das dívidas contraídas para a construção de certos
edifícios metodistas:
Maravilho-me sempre com as pessoas de Bristol. São tão honestas, mas ao mesmo
tempo tão lerdas, que é quase impossível despertar-lhes o entusiasmo. Somente com
Deus as coisas se tornam possíveis. Vários anos atrás, ajudei a sociedade de Bath de tal
modo que, se houvesse perseverado, agora não teria nenhuma dívida. Em Plymouth
havia somente 30 membros e sua dívida era de 1.400 libras esterlinas. Aconselhei-os que
cada membro poupasse mensalmente determinada quantia. E, em Doca, cem pessoas
prometeram fazer o mesmo. “Eu”, disse uma delas, “darei uma coroa por mês”; “Eu”,
disse outra, “darei meia coroa por mês” e muitos contribuíram com quantias menores.
Agora a dívida está paga. Iniciei um plano parecido em Bath, como havia feito, com
êxito, em vários outros lugares. Porém, o abandonaram em duas ou três semanas. Por
quê? Porque dei quatro guinéus para evitar que uma pessoa fosse colocada na prisão e
condenada! Foi uma boa razão ou não? “Por que”, disseram um e outro, “não entregou
o dinheiro a mim?”

11 de fevereiro - Um Método que Deu Certo

A proposta original do capitão Foy, estipulando a criação dos grupos de 12


pessoas, com a escolha de um líder responsável pela cobrança semanal, revelou-se
providencial para a solução de outros problemas que incomodavam John Wesley.
À medida que os líderes começaram suas rondas semanais, contatando todos os
membros da sociedade, logo descobriram a existência de inúmeros problemas,
como brigas domésticas, bebedeiras e outros tipos de comportamento nocivo.
Ele imediatamente percebeu que os líderes poderíam assumir funções mais
importantes, tornando-se guias espirituais, reunindo-se com ele semanalmente.
O método aiudc-u Wesley a conhecer melhor a sociedade de Londres, que,
em fevereiro de 1742, já possuía quase mil membros. Indiretamente, via os
líderes, pessoas de sua total confiança, conseguiu estender o toque pessoal de
sua supervisão pastoral. Tornou-se mais fácil e vantajoso reunir os membros
das classes do que visitá-los em suas próprias casas. Dessa forma, segundo
Wesley, “uma inquirição mais completa foi feita sobre o comportamento de cada
pessoa (...). As brigas foram apaziguadas, desentendimentos foram removidos
(...). Conselhos ou reprovações eram dados sempre que exigidos (...). Depois
de uma hora ou duas passadas nesse serviço de amor, concluía-se com preces e
ações de graças”.
Além de celeiro para a formação de líderes — muitos deles se tornaram
pregadores metodistas -, as classes e bandas também proporcionaram a
edificação de outra importante liderança leiga. Era o ecônomo (sternrd), espécie
de tesoureiro, responsável pelo recebimento de valores e pagamentos de despesas.
Surgiu, assim, o primeiro ecônomo entre os metodistas, manejando as transações
financeiras e a contabilidade de cada sociedade. Logo em seguida, quando Wesley
começou uma coleta especial para os necessitados, a organização estava pronta
para cuidar das contribuições. Desse modo, nenhum valor arrecadado passou
mais pelas mãos dos irmãos Wesley. Foi uma ótima providência, uma vez que
eram freqüentes as acusações de eles estarem enriquecendo à custa dos pobres.

12 de fevereiro - Equívocos Misteriosos

No dia 12 de fevereiro de 1748, Wesley preparava-se para realizar o culto em


Shepton. Entre os metodistas presentes havia muita impaciência e preocupação.
Os olhares se voltavam freqüentemente para os lados, procurando verificar
início de tumultos. Alguns líderes tinham sido informados, por fontes seguras
e confiáveis, que uma multidão fora recrutada com o objetivo de atrapalhar
a reunião metodista. Alguns detalhes avisavam que os líderes do movimento
haviam providenciado grande quantidade de bebida alcoólica a ser distribuída
gratuitamente entre os elementos dispostos a todo tipo de maldade contra os .
metodistas. i
Por volta das 4 horas da tarde, Wesley começou o sermão e foi até o fim,
sem que ninguém fizesse-lhe nenhuma oposição ou houvesse qualquer distúrbio.
Terminado o culto, chegou a notícia de que os arruaceiros tinham errado o A
endereço. Pensaram que o serviço religioso seria realizado na casa de Wilíiam f
S tones, como freqüentemente acontecia. Mas o irmão Wiiliam, de forma
inocente e não planejada, decidiu mudar o lugar da reunião, conduzindo o grupo
metodista ao outro extremo da cidade. Quando a turba se deu conta do equivoco
e percebeu o projeto frustrado, ficou enraivecida e seguiu o grupo metodista
de volta à casa do sr. William. Lá, todos permaneceram de plantão, atirando
pedras, terra e lixo sobre janelas, paredes e telhados da residência. O Journal traz
0 seguinte relato:
Uma das pedras atingiu o dono da casa, fazendo-o espirrar muito sangue.
Amedrontado, ele pensou que íamos todos morrer. Eu disse-lhe que a única maneira
era orar ao Senhor, o único que poderia livrar-nos do perigo. O sr. William começou
a orar como nunca antes hayia feito. A multidão estava arrombando a porta da frente,
quando escapamos pela dos fundos e fugimos pelo campo. Quiseram incendiar a casa,
mas um dos elementos proibiu-lhes, pois sua casa, vizinha, também seria engolida
pelo fogo.

13 de fevereiro - Prantos Renovadores

Wesley anota em seu Journal\ em 13 de fevereiro, de 1760, um relato


extraordinário. Um grupo de mais ou menos 30 pessoas se reuniu era Otley,
às 8 horas da noite, para, como de costume, orar, cantar hinos e “estimular uns
aos outros no amor e nas boas obras” (Hb 10.24, um dos versículos favoritos
de John Wesley). Finda a oração, algumas pessoas, entre suspiros e gemidos, se
queixaram da carga sentida pelo pecado que ainda tinham.
Depois da reunião, a maioria continuou ainda de joelhos, gemendo e
suspirando pelas grandes e preciosas promessas de Deus. Um dos participantes
nem bem começou sua oração, quando o “Espírito Santo foi derramado sobre
cada um deles, com gemidcc que não podiam ser expressos”. Estalaram de todos
os lados prantos fortes e ardentes, não havendo dúvida alguma a respeito do
favor de Deus. Só lhes restava permanecer ali, aguardando a ação purificadora
do Espírito Santo. Um deles gritou em meio à agonia: “Senhor, livra-me da
minha natureza pecaminosa”. Em seguida, bradou um segundo, um terceiro
e um quarto, ao passo que o primeiro clamava: “Deus de Abraão, de Isaque,
de jacó, escuta-nos por causa de teu filho Jesus Cristo”. Outro disse: “Bendito
seja, Senhor Deus, para sempre, porque limpou meu coração. Louva ao Senhor,
minha alma. Todas as minhas entranhas, louvem o Teu santo nome”. E ainda
outro: “Agarro-me a Ti com mãos tremendo, mas não Te deixarei ir”, afirmando
pouco depois: “Louvem o Senhor comigo, porque Ele limpou o meu coração
do pecado”. Mais um exclamou: “'Estou amarrado sobre o fogo do inferno por
um fio muito delgado”.
O grupo continuou ali por mais duas horas, uns louvando e magnificando
a Deus, outros clamando por perdão ou pela pureza de coração, com a mais
profunda agonia de espírito. Na manhã seguinte, voltaram a se reunir e o Senhor
esteve novamente presente para sarar os quebrantados de coração. Um recebeu
a remissão dos pecados e três creram que Deus os limpou de suas faltas.
John Wesley conta a experiência crendo firmemente que a ação de Deus
naquele lugar e na vida daquelas pessoas foi uma ação legítima. Foi lá conhecer
o grupo, ouviu os relatos, reconheceu que eram pessoas simples, pobres, na
maioria analfabetos e incapazes de falsear os fatos. Para ele, foi fácil perceber
que o lugar e as pessoas haviam recebido a visitação do Espírito Santo de Deus.

14 de fevereiro - Buscar Vantagens

John Wesley recebeu o título de mestre do Lincoln College, da Universidade


de Oxford, em 14 de fevereiro de 1727. Um mês depois, enviou à mãe uma carta
interessante sobre seu plano de empregar-se num pequeno povoado, as vantagens
do salário, o complexo em virtude da baixa estatura e da fraca compleição física
e a possibilidade de viver uma vida meio escondida, com poucos amigos, seus
livros e afastado da vaidade universitária.
Ao menos uma vantagem me trouxe o título. Estou agora em liberdade para
-escolher o emprego que quiser. Como creio conhecer bem minhas deficiências,
e quais delas necessitam de mais atenção, espero poder usar o meu tempo
melhor do que na época em que não o tinha tanto à minha disposição.
Querida mãe, falo o que sei. Posso explicar facilmente o fato de ser pequeno e
fraco. Provavelmente, minha vida seria o contrário, se não tivesse ocorrido uma
série de acidentes estranhos. Posso perceber facilmente a sabedoria, e a misericórdia
da Providência ao distínguir-me com essas imperfeições. (...) Ao conversar com
uma ou duas pessoas, das quais já ihe talei, eiiminou-se em mim o interesse por
outros prazeres. Cheguei a ponto de desprezar todos os outros contentamentos ao
compará-los com a arte de dialogar. Desde então, tenho dado muitos passos até
chegar a desdenhá-los absoiutamente. No momento, não tenho interesse em ter
companhia, o entretenimento mais elegante depois dos livros, e, a menos que haja
uma mudança peculiar de pensamento, me sinto meihor assim. Creio que o caráter
estável do meu espírito me faz preferir o retire do mundo à situação em que me

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encontro agora, pelo menos por algum tempo. Imagino ser muito mais proveitoso
estar num retiro do que permanecer na universidade. Num lugar afastado, posso,
sem interrupção, imprimir cm minha mente os hábitos que prefiro, antes que
a flexibilidade da juventude termine. Na universidade, dadas as muitas vantagens,
sujeito-me à inconveniência de necessariamente expor-me à insolência e à vaidade.
Ofereceram-me, ultimamente, trabalho numa escola em Yorkshire, a 64 quilômetros
de Doncaster. Pensarei mais sobre isso quando a proposta for oficial. O salário é bom,
de modo que, em um ano, seria possível pagar minhas dívidas e ainda sobrar algum
dinheiro. Porém, o que me ajuda a aceitá-lo é a formidável descrição do lugar feita ontem
por um cavalheiro. O povoado [Skipton-in-Craven] situa-se em um pequeno vale quase
inacessível de tão encerrado entre duas montanhas. Uma pessoa pode esperar poucas
visitas de fora e do povo, quase nenhuma. Poderia escolher livremente as pessoas com
quem desejo dialogar e, por essa razão, as traria ao povo comigo. Esse prazer de dialogar
com outras pessoas custaria menos ali do que em qualquer outro lugar.

15 de fevereiro - A Morte não Causa Temor

No seu Journal (15/fev./1767), John Wesley anota ter realizado o ofício


fúnebre de Richard Morris. Era um homem honesto e Wesley manteve com ele
boa amizade, tendo participado de uma sociedade metodista durante 20 anos.
Apesar da efetiva participação na vida da sociedade, Morris nunca conseguiu
abraçar inteiramente as doutrinas metodistas. Segundo Wesley, apenas com a
chegada da enfermidade ele se mostrou mais interessado em levar a sério a vida
cristã. Quando Deus o chamou, estava preparado. Encontrava-se tranquilo e
sereno, louvando e regozijando-se em Deus. Foi assim que partiu dessa vida.
Por sua vez, John Wesley não temia a morte. Contudo, uma das mais
importantes experiências da sua vida acontecera na viagem à Geórgia, quando,
em alto mar, admitiu seu medo de morrer e que esse medo estava relacionado
com sua insegurança espiritual.
Em carta de 11 de fevereiro de 1790, com quase 87 anos de idade, Wesley
reconhece que uma das coisas que mais o incomodava e o deixava pesaroso era
o fato de grande parte dos seus amigos já ter partido. Convidado para realizar
seus ofícios fúnebres, apesar de toda a sua experiência, via-se com o coração
prorondamente marcado pela. morte daqueles entes queridos e das pessoas que
trabalharam ao seu lado. “Não me dá tristeza a partida de James Gore desse mundo
malvado. Você [Adam Clark] e eu seguiremos no devido tempo, tão depressa
terminemos o nosso trabalho. Ultimamente, muitos de nossos amigos têm sido
recolhidos para o celeiro como espigas de trigo maduro.”

16 de fevereiro - Saúde Perfeita

Embora tivesse uma constituição física muito franzina, John Wesley gozava
de boa saúde. Ele continuou ativo e lúcido até os últimos dias de sua vida.
Tendo completado 81 anos, escreveu: “Estou tão forte aos 81 como era aos
21, mas com melhor saúde. Desconheço dor de cabeça, dor de dentes e outros
transtornos corporais que me afetaram na juventude. Enquanto vivermos,
vivamos para Ele”,
Aos 83 anos de idade, afirmava: “Eu mesmo estou assombrado. Agora
faz 12 anos que não tenho sensação de fadiga. Nunca estou cansado (tal é
a bondade de Deus!), nem ao escrever, pregar ou. viajar. Uma causa natural,
sem dúvida, é o meu exercício contínuo, além da mudança de ares. Como ela
contribui para a saúde eu não sei, mas certamente contribui”.
Levando em conta o seu ritmo de vida,.pode-se aludir como graça divina o
fato de ter resistido tão bem e durante tanto tempo. Aliás, ele mesmo assinala
que sua boa saúde não pode ser atribuída a nenhuma causa secundária, mas
somente ao Soberano Senhor de tudo. Whitefield, por exemplo, também um
viajante incansável, não teve a mesma sorte, morrendo bem mais jovem, com
asma, em 30 de setembro de 1770, sem atingir os 60 anos de idade.
Wesley enfrentou muitas intempéries, em suas inúmeras viagens, que ■:%
poderiam facilmente ter culminado em alguma grave enfermidade. No Journal %
(16/fev./1747), ele explica que no dia anterior havia passado por maus bocados
e ficado extremamente debilitado e sem forças. Estava viajando e assombrou-se ;|
com a calmaria do tempo, coisa que raramente ocorria. Mas o assombro terminou Jf
depressa. O vento mudou completamente ao norte e soprou com tanta força J
e intensidade que, quando ele e seus companheiros chegaram a Hattfield, não Jj
conseguiam mais sentir as mãos e os pés.
Como tinham horário para chegar ao destino, descansaram por pouco tempo 'VI
e retomaram a viagem, enfrentando o vento e a neve. Adiante, em Baidock M
Field, a tormenta recomeçou com muito mais força. O granizo caía com tantá/||
violência em seus rostos que não conseguiam enxergar o que estava na frente e :||
mal podiam respirar. Apesar de todas essas dificuldades, alcançaram o destino,. f|
Baldock, onde alguém os esperava para conduzi-los a Potton. Prosseguiram e, às
6 horas da tarde, ele já estava pronto para pregar o Evangelho.

17 de fevereiro - Pregação na Cara do Sol

No dia 17 de fevereiro de 1739, em Kingswood, perto de Bristol, George


Whitefield pregou pela primeira vez ao ar livre. Um público de mais ou menos
200 pessoas, trabalhadores das minas de carvão, ouviu atentamente o sermão.
Em seu Journal ele registra: “Bendito seja Deus, porque as dificuldades foram
superadas e agora tenho o campo aberto. Alguns podem censurar-me, mas acaso
há motivo? Os púlpitos me são negados e os pobres mineiros estão a ponto de
perecer por falta de conhecimento”.
O “rapaz pregador”, como foi chamado no início de seu ministério,
nunca mais parou. Havia encontrado o segredo para despertar o povo
que vivia afastado do Senhor. Seu segundo sermão foi acompanhado por
mais de 2 mil pessoas e o seguinte despertou a atenção de mais de 4 mil,
passando em outros momentos à assistência de até 10, 20, 30 mil pessoas.
Ninguém se importava com o sol forte na cabeça, com a chuva, com o
calor ou o frio. Todos permaneciam em profundo silêncio, que o preenchia
de “admiração santa”, ouvindo sermões freqüentemente com mais de uma
hora de duração.
Seu ministério se desenvolveu entre a América do Norte e a Grã-Bretanha,
chegando a cruzar o Atlântico por 13 vezes. Com um talento oratório
extraordinário, pregava a tempo e fora de tempo. Calcula-se que, em 34 anos,
■tenha pregado 18 mil sermões, em média 10 por semana. Na América do Norte,
organizou um circuito de 2.700 quilômetros a cavalo, pregando incansavelmente
. por todos os lugares onde passava. Tornou-se famoso e, quando chegava a notícia
de que ele chegaria a certa localidade, multidões de pessoas de todos os cantos se
juntavam para ouvi-lo. Gente a pé, a cavalo, em carros, cruzando campos, vales,
bosques e rios, atraída por sua força irresistível.
Benjamim Franklin, seu amigo e admirador, declarou: “Era maravilhoso ver a
mudanç . prociu ida tão prontamente nos hábitos de nossos habitantes. De um estado
hgiosamente indiferente e despreocupado, parecia agora como se todo o mundo
estivesse se tornando religioso, de tai maneira que ninguém, ao entardecer, podia
caminhar pela a.idade sem ouvir cânticos de salmos em muitos lares e em cad
M<V4.aj.
18 de fevereiro - Não é Bom que o Homem esteja Só!

John Wesiey casou-se com Mary Goidhawk, viúva e mãe de dois filhos, no dia
18 de fevereiro de 1751. O cupido que estimulou a decisão foi Edward Perronet,
pastor metodista, poeta, músico e grande amigo de seu irmão Charles.
A primeira paixão de Wesiey havia ocorrido na Geórgia, pela jovem Sophia
Christiana Hopkey. Em carta endereçada a ela (6/fev./1737), fala de seu amor, do
fogo que queima o seu peito e da necessidade de refletir, buscando a orientação
de Deus. No final, ele a convida a orar fervorosamente, suplicando ao Senhor
que lhe mostre o que deve ser feito. Em virtude da indecisão de Wesiey, por
achar que o matrimônio atrapalharia o ministério pastoral, a jovem acaba se
casando com outro pretendente, William Williamson.
O infeliz desenlace da situação contribuiu para que Wesiey se tornasse ainda
mais reticente quanto ao matrimônio. Em carta ao irmão Charles (25/set/1749),
ele relaciona algumas razões que o afastavam do casamento:
Desde que tinha 6 ou 7 anos, se alguém comentava algo relacionado com casamento,
respondia que nunca me casaria, porque jamais iria encontrar uma esposa como a que meu pai
encontrou. Com mais ou menos 17 anos, não pensava em casamento, pois não tinha condições
de manter uma esposa. Logo me çonvena de que “era ilegal o casamento de um sacerdote”,
baseando essa convicção no (suposto) sentido da igreja primitiva. Mais tarde, depois de ler
alguns escritores místicos, cheguei a pensar que o matrimônio era o “estado menos perfeito”
e que havia algum grau {pelo menos) de “corrupção da mente, necessariamente referente
à relação nupcial”. Ao mesmo tempo, me impressionaram grandemente as palavras de São
Paulo aos Coríntios e julguei “impossível para um homem casado estar sem preocupações ou
atender as coisas do Senhor sem distrações, como faria um homem solteiro” (ICo 7,32-33).
De igual maneira, sentindo grande desejo de fazer tudo o que puder para dar de comer
ao faminto e prover de abrigo o desamparado, não podia pensar em casar-me, “porque
isso seria um gasto tão granae que não me sobraria para ajudar os necessitados”. Minha
grande objeção, nos últimos 12 anos tem sido que “a comissão do Evangelho me foi
encomendada” (ICo 9.17). Não farei nada que direta ou indiretameofe nossa atrapalhar a
pregação do Evangelho.

No dia 19 de fevereiro de 1732, Wesiey pregou a seus alunos de Oxford


um sermão sobre “o dever da comunhão constante'', baseado em Lucas 22.19-
20. Cerca de 55 anos depois, já no finai da vida, ele fez uma revisão do texto
e reafirma os seus pensamentos, não fazendo nenhuma alteração importante.
Resumidamente, eie diz ser dever de todo cristão receber a Ceia do Senhor
tão freqüentemente quanto possível. Em primeiro lugar, por se tratar de um
claro mandamento de Cristo, que teria dito: “Façam isso em minha memória”.
Ele nos ordena a- receber o pão e o vinho em memória de sua morte, Em
segundo, porque aqueles que obedecem ao seu mandato serão beneficiados
com o perdão dos pecados e com o fortalecimento e a renovação espirituais.
O pão e o vinho fortalecem o corpo e a alma, dando-nos forças para cumprir nosso
dever cristão. Se quisermos obedecer ao mandamento do Senhor, se quisermos
força para crer, amar e servir, não devemos perder nenhuma oportunidade de
participar da Ceia do Senhor, Assim fizeram os primeiros cristãos, que incluíam
a comunhão como parte fundamental para o culto no dia do Senhor. A prática
mantida por vários séculos era quase diária (no mínimo, quatro vezes por semana).
Um antigo cânon (o Canon H de um Concilio celebrado em Anfioquia, no ano 341)
afirma que, se um cristão participa das orações dos fiéis e logo vai embora, sem
receber a Ceia do Senhor, é excomungado por produzir confusão na igreja de Deus.

Uma das desculpas mais comuns para justificar a não tão assídua participação
na Ceia do Senhor tem por base o texto de 1 Coríntios 11.27: “Aquele que comer
o pão ou beber o cálice do Senhor inciignamente será réu do corpo e do sangue
do Senhor”. Muitos não participam por se sentirem indignos, embora o texto
não fale sobre set indigno de comer e beber. O que ele diz é “comer e beber
indignamente”, totalmente diferente.
Deus nos oferece uma das maiores misericórdias e nós a recusamos por
nos sentirmos indignos? A questão é que sempre seremos indignos de receber
qualquer misericórdia de Deus. Ele sabe que não somos dignos de receber o
perdão, mas Ele nos perdoa, apesar da nossa indignidade. O que Deus poderá
fazer conosco se chegarmos a ponto de recusar suas misericórdias?

20 de fevereiro - Guardar os fviandamentos

John Wesiey enfrentou sérias contendas doutrinárias e teológicas com os


caivinistas e os moravianos. Em Bristol, particular mente, os conflitos foram
sérios e foi necessário maior rigor no processo de admissão de membros nas
sociedades. Até então, para ser aceito, bastava mostrar disposição e interesse
na busca da salvação, A partir de fevereiro de 1741, surgem os tickets, espécie de
bilhetes, renováveis trimestralmente, fornecidos aos membros que mostravam
desejo sincero de salvação. Isso tornou o controle mais rigoroso e muitos
encontraram dificuldades para renovar seus bilhetes. Os primeiros modelos
de ticket, escritos à mão, continham determinado versículo bíblico, como o de
maio de 1750: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (Jo 14.15),
mais a data, o nome da pessoa e a letra correspondente ao trimestre.
Por meio de um exame cuidadoso, Wesley sabia quais pessoas podiam ser
aprovadas e aquelas sobre as quais havia “alguma objeção razoável”, ou seja,
que não eram recomendadas por pessoas “confiáveis” e que não deveríam
ser aprovadas. Os aprovados, aqueles que eram recomendados, recebiam seus
tickets. Os demais enfrentavam seus acusadores e eram questionados. Em caso
de inocência e contrição, eram recebidos na sociedade. Os reprovados não
recebiam os tickets e eram colocados “em experiência”, Muitos recusavam esse
período de experiência e saíam voluntariamente, o que fizeram 40 pessoas nessa
primeira ocasião.
Tal controle, implantado no início de 1741, recebeu algumas modificações,
tornando-se mais complexo. Em março daquele ano, Wesley colocou algumas
mulheres de Bristol “que haviam se tornado negligentes” em uma banda separada,
Esses grupos ficaram conhecidos como bandas penitenciais e eram compostos
de membros que se desviaram das bandas comuns. Desse modo, os exames
trimestrais, concedendo ou recusando o fornecimento dos tickets, tornaram-se
um meio fundamental de disciplina para os integrantes das sociedades. 1
Em carta escrita por Charles Wesley ao irmão (24/out./1743), há uma
defesa firme do modelo. Charles explica que quando uma pessoa justificada
retorna ao seu primeirc estado, afundando no pecado, assume uma situação pior A
do que antigamente, quando não conhecia a misericórdia de Deus. Ela nunca
poderá se recuperar até retornar novamente a Cristo, arrependida sinceramente. |
Enquanto permanecer desse modo, é muito pior que um pubiicano, um vulgar |f
fariseu, uma vez que está abusando da misericórdia divina.

"5 *5
mmJÍ ViC ÍÇVs.! W Testemunho de um Jovem

Em 21 de fevereiro ue 1742, urn domingo, John Wesley se encontrava em


Bath, cidade próxima a Bristol, Inglaterra. No culto da noite, ele pregou sobre

~n
o texto de 2 Pedro 1.4, explicando as “preciosas e grandíssimas promessas” que
nos são concedidas. Participando do culto estava um jovem que havia recebido
uma graça preciosa do Senhor. Wesley reproduz, em seu Journal,\ o testemunho
desse rapaz:
John Woolley esteve por algum tempo nessa escola, mas foi expulso por mau
comportamento. Logo fugiu de casa, escondendo-se em guaritas e outros lugares,
dias e noites, de modo que sua mãe não conseguisse encontrá-lo. Durante esse
tempo, passou fome e frio. Em certa ocasião, passou três dias sem alimento, algumas
vezes chorando e orando por ele mesmo e outras, jogando com os meninos na rua.
Certa noite chegou ao Salão Novo. O sr. Wesley estava falando sobre a
desobediência aos pais. O menino estava tão confuso que pensou não haver
no mundo inteiro outra pessoa tão perversa como ele. Regressou à sua casa
e nunca mais voltou a fugir. Sua mãe viu a mudança no seu comportamento,
mas ignorava a razão. Com frequência, o rapaz ia sozinho para os montes
e para o campo, para orar, deixando de lado os companheiros ociosos.
O diabo começou, então, a insdgá-lo com toda suá força, . tentando levá-lo
continuamente ao suicídio. As vezes, sentia impulso de enforcar-se, outras,
de lançar-se ao rio, Mas tudo isso fez com que ele se tornasse mais diligente
com a oração. Certo dia, enquanto lutava com Deus, a quem viu no meio de
uma inexplicável luz, se sentiu cheio de alegria e do amor de Deus e apenas
soube onde estava. Sentiu tal amor por toda a humanidade que achou que
poderia estender-se ao solo e deixar-se pisotear pelos seus piores inimigos.
A partir daquele momento seus pais ficaram surpresos com ele. Agora estava solícito
em ajudá-los em todas as coisas. Quando eles iam à igreja, o rapaz se ocupava em
cuidar dos irmãos menores e, depois de fazê-los dormir, corria até o Salão para
iluminar o caminho de volta de seus pais. Não perdia a oportunidade de ouvir a
pregação ou de fazer algum bem, tanto em casa como em qualquer outro lugar onde
' se encontrasse.

22 de fevereiro - Imitando Jesus Cristo

A grande preocupação de John Wesley sempre foi imitar Jesus e estimular


as outras pessoas a também seguir o Seu exemplo. Compreendendo que grande
parte do ministério de Jesus foi passado com os pobres e oprimidos, numa carta
de fevereiro de 1776, ele faz a seguinte recomendação à srta. J. C. March:
Tenho encontrado algumas pessoas pobres e sem instrução que possuem gostos e
sentimentos refinados e muitas outras, muitas mesmo, ricas que não têm nenhuma
dessas qualidades. Mas não quero falar disso. Quero que você converse mais com
as pessoas mais pobres, pessoas que, mesmo não tendo gostos refinados, possuem
almas, que você poderia guiar no caminho do céu. Muitas delas têm fé e amor de Deus
numa medida bem maior que várias outras pessoas que conheço. Misture-se pouco
a pouco no meio dessas pessoas, mesmo encontrando uma centena de situações
desagradáveis, deixando para trás os preconceitos de sua classe social. Não se limite a
conversar apenas com pessoas corteses e elegantes. E claro que eu também gostaria
de ter relacionamentos apenas com pessoas instruídas e elegantes, mas não é possível
encontrar um precedente a isso na vida de nosso Senhor ou em nenhum de seus
apóstolos. Minha estimada amiga, caminhemos como Ele caminhou.

Como se pode perceber na carta de Wesley, o problema mais grave enfrentado


pela srta. J. C. March estava relacionado com o pregador Perronet, considerado
por ela simplório e inculto.
Agora entendo o que você disse com relação a Perronet, mas acho que, nesse caso,
você foi muito suscetível. Sem dúvida, a pregação dele está acompanhada do poder de
Deus e alcança o coração de muitos. Então, por que não alcança o seu coração? Não
lhe falta simplicidade? Em determinada ocasião, parecida com essa, um amigo sugeriu
ao sr. Blacwell que fosse me escutar. Ele retrucou: “Não, vou escutar a Deus! Quero
ouvir Deus falando, independente de quem seja o pregador”.

Finalizando a carta, ele aborda a questão financeira e aconselha que ela


não permita nunca que seus gastos excedam seus recebimentos. Sugere levar
sempre em consideração o propósito de ganhar e economizar o mais que puder
e “oferecer tudo o que for possível”. Explica que não se trata de uma regra
matemática a ser seguida, mas de um projeto que pode se tornar possível com a
ajuda do Espírito Santo.

23 de fevereiro - Lutando Contra a Escravidão

O último registro do Journal de John Wesley é do dia 23 de fevereiro de


1791. Ele tinha terminado de ler Gustavus Vasa, livro sobre um antigo escravo de
Barbados, chamado Olaudah Equiano. Wesley inspirou-se, então, a escrever uma
palavra de encorajamento a WilJiam Wiiberíorce, membro do parlamento inglês,
em sua luta contra o comércio de escravos e contra a própria escravidão. Seria a
última carta que Wesley escrevería em vida, dizendo o seguinte:
Caro senhor, a não ser que o poder divino o tenha aiçado para ser um Átanásio contra
mundum, não posse ver como poderá terminar Sua gloriosa empresa, opondo-se àquela
execrável vilania, que é o escândalo da religião, da Inglaterra e da natureza humana.

72
A não ser que Deus o tenha verdadeiramente erguido a essa obra, o senhor será
consumido peia oposição dos homens e dos demônios. Mas se Deus for pelo senhor,
quem lhe será contra? São eles todos juntos mais fortes que Deus? Não se canse de
fazer o bem. Conünue, em nome de Deus, e com a força do seu poder, até que a
escravidão americana, a mais vil que já houve sob o sol, se desvaneça diante desse poder.
Lendo essa manhã um tratado escrito por um homem africano, me impressionou muito a
circunstância de o homem com apele escura ser maltratado pelo homem branco e não ter
o direito a reclamar jusüça, uma vez que há uma lei em todas as nossas colônias afirmando
que o juramento de um negro contra o de um branco de nada vaie. Que vilania é essa!
Que Aquele que lhe tem guiado desde sua juventude conünue fortalecendo-lhe nessa
e em todas as coisas. Essa é a oração de seu afetuoso servidor, John Wesley.

24 de fevereiro - Tristezas e Alegrias

No dia 24 de fevereiro de 1747, John Wesley visita a sociedade metodista


em Tetney e a encontra bastante ativa. Já em uma outra visita (6/mar./1759),
depara-se com uma situação deprimente. A sociedade em Norwich, que chegou
a contar com mais de 1.600 membros, estava desolada, completamente destruída.
Quando se deparava com uma situação dessas, Wesley permanecia mais tempo
no local e, com muita paciência, procurava recomeçar a obra.
A pequena sociedade em Tetney trouxe muita alegria a Wesley. Ele ficou
tão feliz com o grupo que anotou em seu Journal a informação de que nunca
havia encontrado, em toda Inglaterra, uma sociedade como aquela. Além da
vida espiritual cheia de qualidade, levada pela grande maioria dos integrantes,
eles também eram muito generosos quanto às contribuições financeiras. Na
conversa com Micah Eknoor, judeu convertido ao cristianismo e líder da
sociedade na ocasião, Wesley quis saber com detalhes como o grupo conseguia
alcançar resultado tão expressivo. Elmoor explica a estratégia adotada pelo
grupo: todos os membros solteiros da sociedade tinham estabelecido um
compromisso de doação total à obra de Deus. Prometeram dedicar tudo o
que possuíam e todo o tempo disponível a eia. Desenvolveram também um
esquema de acolher os visitantes e os novos moradores de Tetney. Todos que
chegassem à cidade, sem dispor de meios financeiros suncientes, recebiam
alimentação e albergue.
Sociedades como a de Tetney oxigenavam o ardor de John Wesley,
animando-o ainda mais na tarefa de espalhar a santidade bíblica.
25 de fevereiro - São Poucos os Ceifeiros

Em fevereiro de 1784, John Wesley reuniu-se com todos os pregadores


metodistas para avaliar profundamente a proposta de envio de missionários
às índias Orientais. No seu Journal registra que, “depois de o assunto ser
amplamente considerado, estivemos unânimes em avaliar que não tínhamos
chamado, nem convites, nem condições providenciais de qualquer natureza”,
O grande incentivador do trabalho missionário foi Tomas Coke, que, nessa
reunião, sugeriu ainda a criação da sociedade para o estabelecimento de tais
missões. Anos antes, em 1777, durante uma conferência, ele já havia proposto
a criação de uma missão metodista na África. A proposta não foi considerada,
provavelmente por causa dos graves conflitos ocorridos em solo norte-
americano, influenciando a decisão amedrontada de Wesley de que “o chamado
parecia duvidoso”.
Thomas Taylor, pregador metodista favorável ao início da missão,
reclamou terem gasto uma hora e meia para decidir que não era o momento
de iniciar tal projeto missionário. Aborrecido com a decisão, assinalou em
seu Journal: “Somos muito cansativos e temos longos discursos com poucos
resultados”. Apesar da não aprovação do projeto, cabe salientar que Wesley
não era contrário à idéia de missão. Ele defendia a necessidade dos trabalhos
missionários em todas as partes do mundo, conforme consta no sermão A
expansão geral do Evangelho, concluído em 1783. É praticamente certo admitir
o seu temor como fruto da grave crise vivida naquela ocasião.
4 retomada do assunto ocorreu em 1786, no embalo de algumas
ordenações de pregadores enviados por Wesley à Escócia. As iniciadvas de
Coke, antes sem resultados efetivos por causa da falta de apoio de Wesley,
passaram a ser consideradas. Pondo de lado a proposta arriscadà e onerosa
de enviar missionários às índias, o interesse voltou-se para campos mais
próximos. Na mensagem Propondo uma subscrição anual para o sustento dos
missionários, elaborada em 1786, Coke aponta a possibilidade das missões em
ilhas adjacentes da Escócia, ilhas do Canal, Newfoundland, Nova Scotia,
Quebec e índias Ocidentais. A proposta de subscrição, cuia finalidade era
também tar som alar nussionarios a se envoiver na oora missionária,
recomenda que os assistentes deviam desempenhar papel fundamental
nessa atividade. Seriam eles os responsáveis pela divulgação e coleta de
recursos ao desenvolvimento do projeto.

26 de fevereiro - Educação de Crianças

John Wesley sempre se preocupou com a educação das crianças. Em carta


endereçada aos sócios do dr. Bray (26/fev./1737), ainda na Geórgia, John
Wesley comenta o método extremamente rigoroso de educação das crianças de
Savannah.
No sermão sobre a educação das crianças, fundamentado em Provérbios
22.6, Wesley reproduz trechos do livro Chamado Sério para uma Vida Santa, de
William Law, afirmando que o autor expõe admiravelmente as bases para uma
boa educação infantil. Segundo Law:
Se houvéssemos continuado perfeitos, tal como Deus criou a primeiro ser humano,
talvez nossa natureza perfeita fosse capaz de instruir todas as pessoas. Porém, assim
como as doenças e enfermidades tornaram necessária a existência de remédios e
médicos, igualmente os desajustes em nossa racionalidade geraram a exigência de
receher educação e ter mestres. Do mesmo modo que a única finalidade do médico
é restituir à natureza humana o seu estado original, o grande objetivo da educação é
restituir à nossa racionalidade o seu estado original. A educação, portanto, deve ser
considerada um segundo intento de alcançar a razão e, por meio dela, compensar, até
onde seja possível, a perda da perfeição original. Se a medicina pode ser chamada,
com justiça, a arte de restituir a saúde, assim também a educação não deve ser
vista senão como a arte de-restituir ao ser humano a sua perfeita racionalidade.
O cristianismo introduziu uma aova ordem permitindo-nos conhecer com tanta
profundidade a natureza humana e a razão da sua criação, e colocar no devido lugar
o bom e o mal que há em nós, ensinando-nos o caminho para purificar nossas almas,
agradar a Deus e alcançar felicidade eterna. Seria, pois, lógico esperar que, em todo o país,
houvesse numerosas escolas, onde não apenas se ensinasse o catecismo, mas também se
possibilitasse ao aluno receber real formação, capacitação e prática num estilo devida de
acordo com as mais importantes doutrinas do cristianismo. A educação que brindavam
Pitágoras ou Sócrates não buscava outro fim que o de ensinar os jovens a pensar, julgar
e agir. Não é razoável crer que uma educação cristã deveria ter como único objetivo
ensinar as crianças a pensar, julgar e agir de acòrdo com os princípios do cristianismo?
Aqueles que nos educam deveriam atuar como nossos anjos da guarda, não permitindo

7C
r
que se aproxime de nossa mente nada que não seja sábio e santo, ajudando-nos a
descobrir os raciocínios falsos de nossa mente e a dotninar toda paixão equivocada
em nosso coração. E perícitamente razoável espetai- e exigir todos esses benefícios de
uma educação cristã, assim como reclamamos da medicina nos ajudar a fortalecer o
que está bem em nosso organismo e a Livrar-nos de todas as enfermidades.

27 de fevereiro - Problemas de Saúde

Em fevereiro de 1791, o estado de saúde de John Wesley não estava


nada bom. Ele era acompanhado pelo dr. Whitehead, seu médico e amigo de
confiança. O pastor Joseph Bradford, companheiro de Wesley em inúmeras
viagens e futuro substituto seu na direção do movimento metodista, enviou nota
urgente a todos os pregadores metodistas em Londres, rogando: “O sr. Wesley
está muito doente. Orai, orai, orai”.
No dia 27, um domingo, John Wesley estava um pouco mais lúcido.
Depois de alguns dias de repouso absoluto, assistido apenas pelo médico, por
Bessie Ritchie e por Bradford, Wesley apresentou uma repentina melhora. No
domingo, suas feições estavam mais alegres e.ele deixou a cama, sentou-se na
cadeira e-bebeu uma xícara de chá. Sorridente, repetiu versos do irmão Charles:
“Senhor, atende o teu servo, .até que eu deixe alegremente esse corpo, e coroa
a minha vida de misericórdias com um fim triunfante”. Naquele momento, ele
se lembrou da experiência vivida em Bristol, oito anos antes, quando também
acreditava viver seus últimos momentos. Disse na época a seu assistente, o
mesmo Joseph Bradford:
Tenho estado refletindo sobre a minha vida, passando em revista os 50 a 60 anos
idos, nos quais, segundo os meus fracos esforços, tentei fazer algum bem a meus
semelhantes. Agora, provavelmente, estou a poucos passos da morte e o que tenho
eu a confiar para a salvação? Nada vejo naquilo que tenho feito ou sofrido que seja
digno de nota. Não tenho outro plano senão esse: sou o principal dos pecadores, mas
Jesus morreu por mim.

Sentado em City R.oad, recordando a cena ocorridí iuiiStOi


reconheceu não ser preciso dizer nada mais do que havia falado naquela
ocasião. Repetiu; “I rhe chief of simers am, butJesus disâforme (Sou o principal
dos pecadores, mas Jesus morreu por mim)”. Horas mais tarde, deitado,
falou: “Quão necessário é que cada um edifique sobre o alicerce adequado”
WK.-
pP

g em seguida, disse uma vez mais: “I the chiej of sinners am, but Jesus diedfor
b-tfi'■ Estava se preparando para o grande encontro com Cristo.

28 de fevereiro - Provocando Confusões

George Bell, soldado da guarda real e convertido em 1758, foi o responsável


por um dos problemas mais sérios ocorridos no seio do metodismo. Ele anunciou
ter recebido de Deus uma profecia, marcando o fim do mundo para o dia 28 de
fevereiro de 1763.
Antes desse anúncio absurdo, ele já estava causando sérios incômodos.
Discípulo de Thomas Maxfield, um dos primeiros pregadores leigos de
Wesley, ele e seu mestre discordavam da doutrina da perfeição cristã. Diziam
que, até atingir a perfeição, a pessoa estava sob a maldição e condenação de
Deus. Atingida a perfeição, o cristão não mais pecava e, uma vez perfeito,
persistiria nesse estado quase angelical. Tais idéias, anunciadas com paixão
num ambiente suscetível, levaram a uma combinação perigosa de afirmação
de infalibilidade. Boa parte dos membros da sociedade começou a imaginar
que não morreria ou ficaria imune a qualquer tipo de tentação. Houve divisão,
orgulho e arrogância espiritual, especialmente daqueies que se jactavam de
possuir mais graça e espiritualidade que os demais.
Desde o momento em que soube da tal profecia, Wesley procurou, de todos
os modos, esclarecer tratar-se de um ensinamento contrário às Escrituras, não
contando, portanto, com o aval dos metodistas.
Com o passar dos dias e a aproximação da data fatídica anunciada
por Bell, aumentava o terror. Wesley relata que muitos dos seus amigos
. acreditaram na profecia e se mantiveram acordados na noite anterior a 28 de
fevereiro, na casa do amigo mais íntimo de Wesley, o sr. Biggs, aguardando
r\ p <ati watif a
O ÒOU ^ U-JLXIL^ JLJJLXJLV^XiUW.

Na tal noite, Wesley pregou em Spitaiílelds a respeito do “Prepara-te


para encontrar-te com teu Deus5’ (Am 4.12), denunciando o absurdo de
se pensar no fim do mundo naquela data. Apesar de tudo, muitos tiveram
medo de deitar-se e. andaram pelos campos, convencidos de que, se o
mundo não se acabasse, pelo menos um terremoto consumiría a cidade de
VA ^ ulto terminou cedo e. enauanto as pessoas estavam ansiosas
\Y/opio.r
vv V-.OJ.V/y? u\ ;tume, já às 1 0 da noite dormia tranquilamente.

77
29 de fevereiro - Anunciando o Fim do Mundo

Em Breve história do povo chamado metodista, John Wesley explica que durante
toda a primavera esteve ocupado era visitar a sociedade, inteiramente confundida
pela falsa profecia de George Bell, que obviamente não se realizou. Passou muito
tempo assistindo os metodistas e tranqüilizando os que se sentiam confusos e
angustiados por muitas dúvidas e inquietações. Havia uma enxurrada de calúnias
e maldades provenientes de todas as partes.
Teria sido necessário chegar àquele ponto? O que poderia ter sido feito com
antecedência para evitá-lo? Wesley destacou que, desde 6 de dezembro de 1762,
quando soube dos exageros e foi ouvir Bell na Fundição, reconheceu que parte
do que dizia provinha de Deus e parte era fruto de uma mente febril. Na época,
entendendo que nada do que falava era perigosamente equivocado, não viu
motivo para reprimi-lo. E claro que percebeu que aquilo tudo certamente não
acabaria bem, mas não adotou medida mais severa. No final de dezembro, no
dia 26, permitiu que Bell pregasse na capela de West Street e na Fundição. Nessa
ocasião, decidiu não deixá-lo mais pregar ali, pois ele se mostrava cada vez pior:
falava ser de Deus coisas que não eram de Deus.
Wesley se comportou de maneira cuidadosa, pois a questão envolvia pessoas
boas e sérias, que passaram a acreditar nos anúncios feitos por George Bell. A
decisão de impedi-lo de pregar nas sociedades metodistas foi tomada com o
objetivo de reprimir o ímpeto de alguns dos discípulos de Bell. O caso mais forte
de exagero ocorreu com Benjamin Harris, o mais fanático de todos, que teve um j
ataque de loucura, ficou mudo e veio a falecer pouco tempo depois. J
Apesar de todas as tentativas de Wesley, não foi possível alterar a marcha *
dos acontecimentos. Houve divisão. Assim que se abriu uma pequena brecha, a $
água passou a correr sem impedimentos. Todos os dias, membros da sociedade J
devolviam suas credenciais. Eram pessoas ardorosas, convictas ,e dispostas a
convencer
' . outras mais, com
’ todo o tipo deA maldades e. calúnias. Assim, um 7 si
grupo muito grande abandonou a sociedade metodista, unindo-se a George Bell,T
o profeta do fim do mundo.
Março

Devem, assumir a responsabilidade


de converter-se em agentes da paz,
ser carinhosos e atenciosos com todos.

John Wesley, em carta, de 1°. de março de 1775, dirigida a


Thomas Ranicin e aos metodistas da América do Norte
12 de março - Situação Melindrosa

Ainda jovem, com 35 anos de idade, em 1773, Thomas Rankin foi nomeado
assistente gerai e superintendente do metodismo na América. A carta a ele enviada
por Wesley, em Io. de março de 1775, assinala ser provável o restabelecimento
da paz entre a Inglaterra e as colônias na América. Na ocasião, Wesley redige
também algumas linhas aos pregadores metodistas, orientando-os a se comportar
com a devida prudência exigida pela situação.
Vocês nunca se encontraram em situação tão difícil como a de agora. Devem assumir
a responsabilidade de se converter em agentes da paz, ser carinhosos e atenciosos
com todos, não se incorporando a nenhum dos grupos. Apesar das insistências,
das palavras duras ou suaves, não digam nem uma só palavra contra qualquer
um dos grupos. Mantenham-se puros, façam tudo o que puderem para ajudar
e suavizar as coisas, porém, tenham especial cuidado na hora de adotar esse papel.
Assegurem-se de estar sempre unidos: isso é sumamente importante. Não só não
permitam surgir amarguras, raivas, friezas ou qualquer outro sentimento que produza
divisão. Identifiquem as pessoas que desejam provocar divisões e colocá-los uns contra
os outros. Sempre encontrarão pessoas desse tipo. Não lhes dêem atenção, ou melhor,
acompanhem, exponham ahertamente a questão e desmascarem tais pessoas. A conduta
de T. Rankin tem sido muito proveitosa para o plano dos metodistas. Espero que todos
vocês sigam seus passos. Que seu olho seja bom. Estejam em paz uns com os outros e
o Deus da paz estará com todos vocês.

2 de março - Combati o Bom Combate...

Na manhã de 2 de março de 1791, John Wesley pronunciou seu último


“adeus”. No dia anterior, bastante debilitado, conseguiu reunir forças e começou
a cantar o hino de Isaac Watts, “Louvarei meu Criador enquanto tiver fôlego”,
baseado no Salmo 63,4. Todos que o acompanhavam ficaram atônitos. Ele fez
várias tentativas de continuar cantando, mas não deu certo. Os lábios, que, por
décadas, alimentaram a.fome espiritual de multidões, já não conseguiam articular
os sons. Num esforço sobre-humano, fez sua última declaração, expressão da
mais profunda fé: “O melhor de tudo é: Deus está conosco”. Chamado ao
seto de Abraão, ele poderia repetir tranquilamente a bonita frase do apóstolo
Paulo: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé” (2 Tm 4,7).
Naquele momento, o pastor Joseph Bradford, assistente que iria substituí-lo na
direção do metodismo, repetiu as palavras do salmista: “Levantai, ó portas, as
:: vossas cabeças; levantai-vos, ó portais eternos” (SI 24.9).
A biografia de John Wesley, escrita por Hampson, em Í79i; traz a seguinte
descrição-:
Seu rosto, para um homem velho, era dos mais agradáveis. A testa clara e lisa, o nariz
aquilino, os olhos mais brilhantes e penetrantes que se possa conceber e a feição ainda
vigorosa, dificilmente encontrada na sua idade, dando a impressão da mais perfeita
saúde, combinavam-se para fazer dele uma figura venerável e interessante. Poucas
pessoas o viram sem se admirar de sua aparência e muitos que lhe tinham grande
preconceito mudaram de opinião no momento em que lhe foram apresentados
frente a frente (...). Nas-roupas, era modelo de limpeza e simplicidade. Estreita estola
plissada, c-asaco com pequena gola aprumada, sem fivelas na altura dos joelhos, nem
seda ou veludo em qualquer parte da roupa, além da cabeça branca como a neve,
davam a idéia de algo primitivo e apostólico, ao mesmo tempo que um ar de limpeza
e asseio emanava de toda a sua pessoa.

Na lápide onde está enterrado o seu corpo, atrás da capela, na City Road,
lê-se a inscrição:
Essa grande luz surgiu / pela singular Providência de Deus, / para iluminar essas
nações, / e para reavivar, reforçar e defender / a doutrina apostólica pura e a prática
/ da igreja primitiva, / que ele continuou a defender tanto por seu / trabalho como
por seus escritos, / durante mais de meio século; / e quem, para sua inexprimível
alegria, não apenas viu sua influência se estendendo, e sua eficácia testemunhada
/ nos corações e nas vidas de muitos milhares, / tanto no mundo ocidental como
nesses reinos, mas também, muito acima de todo o poder e / expectativa humana, /
viveu para ver a provisão feita, pela singular graça de Deus, / para sua continuação e
estabelecimento, / para a alegria das futuras gerações. / Leitor, se você está impelido
a bendizer o instrumento, dê glória a Deus.

3 de março - Buscar Enquanto se Pode Achar

Em 3 de março de 1748, na cidade de Bristol, John Wesley aceita o convite


do sr. Holloway, um vizinho, arrecadador de impostos, para tomar o café da
manhã em sua residência. Durante o curto período de conversa, o anfitrião conta
um pouco de sua vida e do grande interesse pela fé cristã. Diz que quando se
filiou aos metodistas tinha boas intenções, mas, com o passar do tempo, seu
interesse foi arrefecendo. Aquele convite fazia parte do propósito de retomar
a caminhada cristã. Wesley ouviu com interesse e fez algumas exortações sobre
valer a pena andar nos caminhos do Senhor.
No seu Journal\ reproduz o relato do sr. Holloway sobre a esposa. Este teria
dito que ela estava amargamente oposta a qualquer coisa relacionada com a igreja
e a fé cristã. Entretanto, certo dia, em casa, um raio atingiu o gato sentado ao
seu lado, matou-o e a derrubou ao chão, queimando-lhe a pele em várias partes
do corpo, mas sem sequer chamusquear a roupa. Quando ela voltou a si, não
pôde fazer nada menos que reconhecer o poderoso chamado de Deus. Mas a
seriedade de sua decisão não durou muito, pois suas amizades a fizeram desistir.
Após essa primeira experiência, que ela não se determinou a acolher, Deus
voltou a chamá-la por meio de sonhos e visões noturnas. Ela se viu suspensa
no ar, quando alguém surgiu nas nuvens, gloriosamente sob o brilho do sol,
carregando algo parecido com uma lança. Em seguida, avistou uma segunda
pessoa, que tinha nas mãos uma vassoura para varrer a terra, e uma terceira
segurando uma ampulheta, um relógio de areia, dando a entender que o tempo
era curto. Aquilo tinha afetado a mulher tão profundamente que, a partir de
então, ela começou a buscar a Deus com todo o coração.

4 de março - Falando por Meio de Sonhos

As pessoas compartilhavam com John Wesley todo tipo de preocupação.


A sra. Woodhouse, por exemplo, no início de 1768, falou-lhe a respeito de
alguns sonhos anunciando a morte do pai, que ocorreu realmente dias depois.,-1
A impressão é que ela. ficou muito perturbada com a experiência e amedrontada|
com a possibilidade de ter deixado de fazer algo para evitar o ocorrido. Pòr|
carta, Wesley procura tranqüilizá-la, dizendo que, ao contrário do que imaginava-,
seus sonhos significavam ter sido sua pessoa alvo da misericórdia divina, cujqh;
objetivo foi tão-somente prepará-la. Seu pai tinha sido chamado pelo Senhor^
como uma espiga de milho madura, um testemunho bonito.
Sobre tais experiências, ele explica não haver nenhuma dúvida de que, àsj
vezes, Deus mostra aos seus filhos, por meio de sonhos ou visões noturnas,
coisas que estão por vir. Não seria uma regra, nem fruto de mérito pessoal. Masjf
elas ajudam a nos aproximar mais do Senhor, pois são meios de fazer crescer';^
nossa fé e santidade. Uma ressalva de Wesley é no sentido de orientá-la a toma^
cuidado com a possibilidade de tornar-se dependente desse ripo de mani.festaçãor|
Elizabeth Ritchie também o questiona a respeito de um tema muito
parecido, sobre as formas utilizadas por Deus para guiar os seus filhos. Wesley
lhe responde, falando de sua própria experiência (24/fev./1786):
Sem dúvida, é a vontade de Deus que sejamos, dentro do possível, guiados pela nossa razão.
Porém,emalguns momentos, arazãonos oferecepoucaluz, emoutros, nenhuma. Em todos
os casos não pode dirigir-nos corretamente, se não somente em subordinação à unçao do
Santo. “Reconhece-0 em todos os Teus caminhos e Ele endireitará suas veredas” (Pr. 3,6).
Não recordo ter ouvido nem lido nada igual à minha própria experiência. Desde
que posso recordar algo, tenho sido guiado de forma peculiar. Meu temperamento é
tranqüilo: nem me altero nem me deprimo muito. O conde Zinzendorf observa três
formas diferentes que parecem boas a Deus para guiar seu povo: alguns são guiados
quase em cada instante por textos apropriados das Escrituras, outros encontram uma
razão clara e simples para tudo o que devem fazer e, sem dúvida, outros ainda são
guiados não tanto pelas Escrituras, nem pela razão, mas por impressões particulares.
Raramente me deixo guiar por impressões; geralmente, pela razão e pelas Escrituras.
Entendo absolutamente mais do que sinto. Desejo sentir mais amor e fervor por Deus.

5 de março - Continuar Pregando

Em 5 de março de 1738, um domingo, John Wesley teve uma boa conversa


.com Pedro Bõhler, líder morávio. Como resultado dessa conversa, Wesley
ficou claramente convencido do seu pecado de incredulidade e dá sua falta
dessa fé pela qual obtemos a salvação cristã completa. Ao reconhecer a sua
[falta de fé, julgou-se na obrigação de não continuar pregando.-Como poderia
pregar aos outros, se ele mesmo não possuía fé? Indagando-lhe a respeito de
fima solução, se deveria parar ou continuar pregando, a resposta do morávio
foi taxativa: “De maneira nenhuma. Pregue a fé até que a obtenha e, então,
jjuando a tiver, pregarás a fé”.
No dia seguinte, convencido de que a orientação de Bõhler era correta,
esiey começou a pregar a nova doutrina da salvação somente pela fé,
'ciando pelo Castelo, com o prisioneiro Wiiliam Ciifford, condenado à morte
por assalto, roubo e deserção da infantaria. O até então zeloso defensor da
impossibilidade de arrependimento no leito de morte, coiocou em prática a
Ova doutrina.
Pedro Bõhler convenceu John Wesley de que o seu problema não era
praqueza na fé, mas simples descrença. Bõhler dizia faltar a wesley “aquela fé
pela qual unicamente somos salvos”. O problema não era uma fé fraca, mas
nenhuma fé. Não há “graus de fé” — você a tem ou não. A fé verdadeira é
sempre acompanhada da sensação de segurança e evidenciada pela libertação do
pecado, do medo e da dúvida, três frutos presentes inseparavelmente da certeza
e testemunhos da verdadeira fé. Qualquer dúvida ou medo, portanto, é sinal de
descrença.

6 de março - É Possível Reorganizar

Ao mesmo tempo em que, em certos lugares, o trabalho metodista crescia e se


mantinha estável, em outros, ocorria exatamente o contrário. No dia 6 de março de
1759, Wesley visitou a sociedade em Norwich e descobriu que, dos quase 1.600
membros, não havia sobrado ninguém. A obra tinha acabado completamente. No
culto da noite, após a pregação, indagou se havia gente interessada em fazer parte da
sociedade. Mais ou menos 20 pessoas responderam positivamente. Conversando
com elas, ele as percebeu assustadas, pois, durante muito tempo, tinham ouvido
todo tipo de maldades contra ele.
Sua tarefa então era reorganizar a sociedade de Norwich e ali ele permaneceria.
0 tempo que fosse possível. Na reunião de Io. de abril, a sociedade já contava com
570 membros, entre eles 103 novos. Se pudesse ficar mais duas semanas, talvez o
número de pessoas chegaria a mil. Diferentemente do costume tradicional, que
regulamentava o funcionamento das outras sociedades, Wesley introduziu regras
novas e estranhas. Determinou que homens e mulheres ocupassem bancos
separados e proibiu os espectadores de assistir das galerias os cultos em que se
administrava a Ceia do Senhor.

1 ds março — Missionário no Novo Mundo

John Wesley aponta o dia 7 de março de 1736, um domingo, como o início


de seu ministério em Savannah. Faz um breve comentário sobre o texto de Lucas é
18, 29-30, destacando a resposta dc Jesus a Pedro: “Em verdade vos digo que
ninguém há que tenha deixado casa, mulher, irmãos, pais ou filhos, por causa do :
reino de Deus, que não receba no presente muitas vezes mais, e no mundo por
vir, a vida eterna”. Em seguida, fez a sua primeira pregação, fundamentada no
texto de 1 Coríntios' 13.
Refletindo sobre aquele primeiro contato com a sua congregação, conclui:

f
•••

|
»
*
Sem dúvida, não obstante essas declarações simples de nosso Senhor, não obstante
minha própria e repetida experiência, não obstante a experiência de todos os seguidores
sinceros de Cristo com quem tenho falado, lido ou ouvido sobre esse assunto, que
mostram claramente que aqueles que não amam a luz odeiam aqueles que trabalham
para oferecê-la, não obstante tudo isso, sou testemunha, contra mim mesmo, de que
quando vi o número de pessoas abarrotadas na igreja, a atenção profunda com que
recebiam a palavra e a seriedade em seus rostos, não pude conter-me em duvidar da
prova tanto da experiência como da razão e da Bíblia. As duras penas, poderia crer
que a maioria, a grande maioria dessa gente tão solícita e séria, poderia mais tarde
pisotear aquela palavra e dizer todo tipo de maldade, falsamente, de quem a pregou.

ê; Em Breve história do povo chamado metodista, Wesley descreve a rotina de trabalho


ç [1 em Savannah. Dirigia os ofícios religiosos às 9 horas da manhã, ao meio-dia e
. à tarde. Nos dias de semana, às 5 horas da manhã e às 7 horas da noite, lia
■ | orações e expunha o segundo texto do Lecionado. Nos domingos e dias festivos,
; t ' administrava a Ceia do Senhor.

8 de março - Separar o Joio do Trigo

Wesley registra no seu Journal (8/mar./1747) que pregou em Gateshead


sobre o amor bondoso do Senhor. Mas, “A noite, ao notar a abundância de
estranhos no salão, mudei o tom da minha voz e usei as palavras terríveis do
profeta Amós, ‘Subvertí alguns entre vós, como Deus subverteu a Sodoma e
Gomorra, e vós fostes como um tição arrebatado da fogueira; contudo, não vos
convertestes a mim, disse o Senhor (4.11)”.
Nos três dias seguintes, Wesley supervisionou as classes. Haviam-lhe
dito, inúmeras vezes, ser praticamente impossível conseguir distinguir, entre
os membros, os bons e os malvados, os preciosos e os vagabundos. Diziam
que tal avaliação só poderia ser feita mediante o milagroso discernimento de
espíritos. Porém, sua experiência naquele lugar confirmou a possibilidade de se
realizar a tarefa, até com certa tranquilidade, mas não por quaiquer pessoa. Eram
necessários dois requisitos básicos — valor e firmeza por parte do examinador e
bom senso e honestidade do Síder de cada classe.
Ele destacou ainda o exemplo da ciasse liderada por Robert Peacock:
Será que as pessoas dessa classe vivem em bebedeiras ou em outro pecado? Será
que participam ua igicja e usam os meros de gz*açar oçia que pmticipam de tocas

85
r
as reuniões marcadas? Se Robert Peacock tem bom senso, pode responder essas
perguntas com franqueza. Se é honesto, fará isso. Mas se não for esse o caso, poderá
Uttvv,i ide
V^i ■ está a dificuldade de averiguar se há algum desordenado nessa

classe? E assim, conseqüentemente, em qualquer outra classe?

Concluindo, Wesley questiona a necessidade de qualquer discernimento


milagroso para corrigir essas sociedades. Além do mais, de que serviría esse
discernimento? Ainda que o tivesse, a sentença definitiva só podería ser formulada
quando os fatos fossem provados. Não bastava apenas o discernimento
milagroso; o mais importante era a determinação de levar adiante o propósito de
confirmar çoncretamente os fatos.
Durante a supervisão, percebe que quase tudo está em ordem. Muitos foram
convidados a se retirar por comportamento inadequado e a sociedade, que no
primeiro ano tinha mais de 800 membros, agora está reduzida à metade. Para
Wesley, o rigor era necessário e, argumentando como fundamental a qualidade
do grupo, ele lembrou o antigo provérbio “A metade é maior do que o todo”.

9 de março - Qualidade Espiritual

Para John Wesley, o desafio maior enfrentado pelo movimento metodista


não eram as perseguições e os obstáculos externos, mas a baixa qualidade
espiritual de seus pregadores e líderes. Acreditava que, se pudesse contar com
cem pregadores que nada temessem, a não ser o pecado, e desejassem somente
a Deus, os resultados seriam extraordinários.
Em Um novo chamado fervoroso às pessoas razoáveis e religiosas, ele aborda o papelç
dos pregadores:
Será que os pregadores agem tão zelosa e atentamente para ganhar almas como as;;
pessoas, para ganhar o ouro que perece? Conhecem por experiência o que significa
“o zelo de tua casa me consome” ou são como esses “atalaias que não vigiam”?;ff
Preocupam-se em conhecer o nome de çada membro' da sua cohgregação, semhJ
esquecer os mais humildes? Indagam e se interessam a respeito da vida espiiát
das pessoas? Cuidam com ternura e paciência de cada vida sob seus cuidados?*!
Preocupam-se com. a caminhada espiritual de cada um, se está firme ou não,-
crescendo ou não na graça e no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo?
Para que o pastor realize todas as suas tarefas, é imprescindível que coloque o coraçãòfj
inteiro no trabalho e não deseje outra coisa que gastar-se por amor às suas ovelhas : j
(2Co 12.15). Sua meta deve ser buscar e salvar o que está perdido, conduzir as almas deq|
Satanás até Deus, instruir o ignorante, recuperar o malvado, convencer o contraditor,
guiar seus passos pelo caminho da paz e mantê-los nele, seguir-lhes passo a passo, para
que não se extraviem, e aconselhar-lhes em suas dúvidas e tentações, levantar os que
caem, reanimar os que desmaiam e consolar aos pusilânimes, organizar todo tipo de
ajuda segundo requeiram as circunstâncias, segundo as várias necessidades das pessoas.
O trabalho pastoral não pode se resumir a pregar uma ou duas vezes por
semana e realizar formalmente os serviços de uma paróquia. Um trabalho desse
dpo é muito fácil e qualquer pessoa poderá fazê-lo, apenas com um pouco de
bom senso, Só que não é apenas isso. Que tipo de pregadores são esses que
não conseguem compreender a importância e o alcance de seu ministério?
Em nome do Senhor Jesus, o grande pastor das ovelhas, exorto a todos os meus
irmãos, pregadores, para que se apliquem e coloquem o coração inteiro no trabalho.
Que cada um olhe para o . Senhor e lhe diga: “Sou eu Senhor? Sou eu um desses
ociosos, descuidados, indolentes pastores, que não se preocupam em alimentar o seu
rebanho? Sou eu um desses sonolentos, que não fortalecem a débil e não curam a
enferma (Ez 34.4)? Esquadrinha-me, Senhor, e prova-me, examina meus pensamentos
e meu coração (SI 26.2), vê se há em mim caminho mau e guia-me no caminho eterno
(SI 139.24)”.

10 de março - Voto Consciente

Na Inglaterra do século XVIII o direito ao voto nas eleições parlamentares


restringia-se a determinada classe social. John Wesley não votava, porque suas
topriedades estavam bem aquém do exigido. Mesmo assim, escreveu A um
'tor, cujo resumo é o seguinte:
Que pensa fazer nas eleições parlamentares? Votará em algum dos candidatos?
Se é assim, espero que não tenha recebido nenhum dinheiro em troca. Estou
seguro de que conhece as exigências do juramento que fará de que não
recebeu “presente ou qualquer recompensa, direta ou indiretamente, nem
promessa de recebê-la, em troca do seu voto” nas presentes eleições. (...)
Espero que não tenha recebido, nem receba, alguma outra coisa: convites, comida
ou bebida. Se aceita alguma dessas coisas em troca do seu voto, está cometendo
perjúrio. Como poderá prestar juramento de que não recebeu presentes? Se não
pagou por ele, então, foi um presente. O que fará? Venderá sua alma ao diabo
por um trago ou pedaço de pão? Pense no que está fazendo! Atue como se toda a
eleição dependesse só do seu voto, e como se todo o parlamento (e a nação toda)
dependesse apenas dessa pessoa por quem votará para que ocupe uma banca.
Porém, se não aceita presentes, em quem votará? Em quem ame a Deus. Também deve
amar seu país e ter princípios férreos e irremovíveis, Por seus frutos o conhecerá: se

87
abstém-se de coda aparência do mal, é zeloso de boas obras e faz o bem a todos cada
vez que tem oportunidade. Se preocupa por colocar em prática constantemente os
mandamentos de Deus. F, não o faz simplesmente como um dever, mas se alegra nessas
oportunidades de servir, considerando-as privilégio e bênção para os filhos de Deus.
Porém, que fará se nenhum dos candidatos apresenta esses frutos? Pois, então,
vote naquele que ama ao Rei, ao rei Jorge, a quem Deus em Sua sabedoria e
providência dispôs que reinasse sobre nós. (...) Talvez tenha outra classe de objeção.
Provavelmente diga: ‘‘Eu defendo a Igreja, defenderei a Igreja da Inglaterra sempre.
Por isso, votarei em ..., verdadeiro homem da Igreja, amante da Igreja”. Está certo?
Amigo, pense um pouco. Que classe de homem da Igreja ele é? Um homem de
Igreja que freqüenta prostitutas, joga por dinheiro, se embriaga? Ou é um homem
da Igreja que mente, jura e amaldiçoa? Não é um fanático que persegue dissidentes
e está pronto a mandá-los ao inferno ao menor sinal? (...) Só ama a Igreja quem.
ama a Deus e, em conseqüência, ama também a toda a humanidade. Qualquer
outro que fale de amor à Igreja, mente. Desconfie de uma pessoa assim. (...)
Atue como uma pessoa honrada, um súdito leal, um autêntico inglês que ama seu
país e a Igreja, em uma palavra, atue como cristão! Uma pessoa que não teme a nada,
exceto o pecado, e não busca outra coisa que o céu. Seu único desejo é dar glória a
Deus nas alturas e na Terra, paz e boa vontade para com os homens.

11 de março - Equilíbrio entre Lei e Evangelho

Desde o início de março de 1759, John Wesley encontrava-se em Norwiçh,


a convite de James Wheatley, ex-pregador metodista, expulso em 1751. Com
a ajuda de George Whitefield e William Cudworth, Wheatley havia retornado
ao ministério e construído, nessa cidade, enorme edifício, o tabernáeulo. Daí o
convite para a visita de Wesley. J
Em 1751, diversos pregadores acabaram expulsos do movimento Q
metodista. Contra Wheatley, chamado “espantoso impostor e hipócrita”, 7
pesava a séria acusação de imoralidade, que representava a suspensão 7
automática. Entretanto, a mais grave falta a ele imputada era influenciar |
os demais pregadores com uma “rapsódia desconjuntada de palavras sem -:í|
sentido”. O estilo popular de Weatiey, enfatizando tão-somente a graça do •;§
Evangelho em detrimento da Lei, espalhava um perverso antinomianismo |
e atrapalhava o antigo, correto e verdadeiro modo de pregar - o modo *|
metodista —, que consistia, segundo Wesley, no perfeito equilíbrio entre Lei
e Evangelho. -j

ss
Aceito o convite, Wesley partiu para Norwich. Em Breve história do povo
' çhamado metodista, ele afirma ter se submetido às pressões de amigos e alugado
o tabernáculo. Ao chegar, descobriu que a sociedade, havia praticamente
desaparecido. Ele sabia que teria de recomeçar “das cinzas”. No culto da
noite, convidou a se reunirem com ele as pessoas desejosas de entrar para a
sociedade. Das que aceitaram o convite, a maioria parecia ovelhas assustadas.
Ele disse-lhes que compreendia aquele medo delas, pois durante muito
tempo, ouviram muitas maldades a seu respeito.
Nas várias semanas em que prosseguiu reorganizando a sociedade, ele
implantou novidades, como o uso do ticket, a separação entre homens e
mulheres no salão e a admissão apenas dos comungantes nos cultos de santa
ceia. Antes, disse ele, as galerias ficavam cheias de espectadores e, depois
desse seu trabalho, a sociedade contava com 570 membros, 103 novos. Wesley
acreditava que, se tivesse mais duas semanas disponíveis, teria conseguido
alcançar o total de mil membros. Fitando cada pessoa, ele se perguntou:
“Quantos de vocês permanecerão na fé? As aves de rapina devorarão alguns,
o sol queimará muitos, outros serão afogados pelos espinhos que vão
crescendo. Se a metade permanecer, eu ficaria muito feliz”.
Meses mais tarde, no início de setembro, Wesley retornou a Norwich e o
caos tinha se instalado mais uma vez. Reunindo-se com os membros, disse clara
e objetivamente: “Vocês são a sociedade mais ignorante, orgulhosa, obstinada,
volúvel, intratável, desordeira e incoerente que eu conheço nos três reinos”. No
seu Journal (9/set./1759), registrou que a dura exortação foi muito bem acolhida:
ninguém se ofendeu e muitos corações endurecidos foram abrandados.

12 de março - Ação do Espírito Santo

0.0 ^niíestações diferentes começaram a ocorrer durante as


p'pregações de John Wesley: pessoas gritavam, levantavam os braços, caíam ao
Éjj solo e choravam. Na primeira semana de março de 1742, cie esteve pregando na
i; região norte de Kingswood. Dia 12, avaliando o seu trabalho, conversando sobre
j^todos os casos, cuidados amente, e se certificando da procedência das pessoas
p> envolvidas com aquelas manifestações, concluiu que:
1. todas elas tinham perfeita saúde e nunca haviam sofrido convulsão de

as
2. as ocorrências se deram de forma imprevista, sem aviso, quando as pessoasp|
escutavam a Palavra de Deus ou refletiam sobre o que tinham ouvido;
3. no momento em que caíram ao chão, elas perderam as forças e se vírani^J
cada uma a seu modo, tomadas de forte dor, expressa de maneiras diversas:
uma espada atravessando o corpo, um grande peso comprimindo-as contra -I
a terra, uma tal asfixia que as impedia de respirar, um inchaço no coração,p
prestes a rebentá-lo e a sensação de que o coração, as entranhas e o corpo
todo estivessem sendo despedaçados. Desse modo, os sintomas observados '%
não podiam ser creditados a qualquer causa natural, mas ao Espírito de li
Deus. Wesley não podia duvidar que Satanás estava despedaçando aqueles. íj
que se aproximavam de Cristo.
Ainda naquele ano, ele comentou, em seu Journal (30/dez.), certas.'2
manifestações ocorridas nos cultos, tendo examinado meticulosamente todo$i||
os casos. Alguns não eram capazes de descrever o que lhes acontecia, apenas|||
que, a certa altura do culto, se viam caídos no chão, gritando e sem controle do: fl
que falavam. Wesley estava convencido de que aquilo tudo era obra de Deus e,'fp
portanto, não cabia nenhuma repreensão: “Que sabedoria é essa que se atreve ||
a repreender essas pessoas, dizendo que devem permanecer silenciosas? De|||
modo algum! Deixem que clamem por Jesus de Nazaré até que Ele respondaji
‘Tua fé te salvou’.”

13 de março - Doutrinas Equivocadas

Desde o nascimento, o movimento metodista conviveu com obstácultíj


de diversos tipos, da tendência de avaliar o crescimento do trabalho apenáj
em termos numéricos ao risco frequente da arrogância de alguns líderes;||
Em meados de 1738, John Wesley destacou a ocorrência bastante comum dg
equívocos quanto à avaliação da obra de Deus: “Vejo ciaramente que julgambl
impropriamente quando medimos o aumento da obra de Deus, nesse e e|
outros lugares, com base somente no crescimento da sociedade. A sociedad|
aqui nao e numerosa, mas x j c u$ tem atuaco sobre esse lugar. IN ao se ve rna»|
bêbados pelos cantos, nem pessoas desrespeitando o Dia do Senhor, neÉ|
maldades espalhadas pelas ruas”.
Em 1747, após ter estabelecido sociedades metodistas em várias parte!
do país, assumiu a tarefa de eliminar os obstáculos ao amor fraternal entre óf
jf^Bernbros de Newcastle. O mal que Wesley pretendia arrancar pela raiz era a
dos membros de achar que “não devemos justificar-nos a nós mesmos”,
I pf;iesultado da influência da teologia mística disseminada fortemente na época.
• f^-vSua receita para esse e outros vários problemas era aquela também recomendada
; py a Elizabeth Ritchie, anos depois, em 12 de agosto de 1776: “Deseje somente o
& amor! Não há nada mais elevado na Terra ou no céu. Qualquer coisa da qual se
fale, parecendo mais elevada que o amor, é entusiasmo natural ou sobrenatural.
ÍT7Não deseje nenhuma dessas coisas extraordinárias. Tal desejo pode ser uma
|pi-gntrada para milhares de enganos”.
p'7 Até mesmo para Tomas Coke, pessoa de sua extrema confiança, Wesley deu
M tais orientações e solicitou de amigos ajuda para mantê-lo sempre no mesmo
fiável. Em carta de 25 de junho de 1777, recomenda:
O dr. Coke promete muito e nos dá razão para esperar que trará não somente a flor,
mas também a fruta. Até aqui, tem se portado -muito bem e parece consdente de seu
inimigo, o aplauso. Também estará em perigo, pois seu testemunho ofenderá alguns. Se
você o conhece, uma carta amigável seria útil e recebida com gratidão. Esses momentos de
situação indedsa necessitam de toda a ajuda que qualquer um possa dar.

Em 24 de março de 1757, escreve ao pregador Thomas Olivers: “Cuide-se


eÉSô.
1. Çdo
H orgulho e da arrogância. (...) Seja obstinado somente em avançar depressa até
Ça-perfeição”.
Outro problema, considerado por Wesley o mais grave de todos, pois contaminava
fetilmente as pessoas, era a prática de se falar mal e desprezar os irmãos. A carta, de 16
k novembro de 1777, endereçada a Mary Bishop traz o alerta: “O que não gosto no sr.
plton é sua tendência de condenar e desprezar seus irmãos”.

|4 de março - Babel Atrapalhando

Em março de 1748, John Wesley pregava em diversas igrejas da Irlanda


lá maior barreira, nessa viagem era o idioma. Em Rhyd-y-spardyn, foram
|itos dois sermões - um em galês, pelo sr. William, e o outro por Wesley,
ífsando a alcançar os que compreendiam a língua inglesa. Reconheceu-se
jfee muitos o entenderam e sentiram o poder de Deus.
Também nessa viagem, ele participou do culto na igreja de Llangefni
Évaborrecido por tê-lo compreendido muito pouco, desabafou: “Que
ilflroenáa maldição foi a confusão de línguas! Quão doloroso são
seus resultados! Todos os pássaros do céu, todas as bestas do campo
compreendem a linguagem de suas espécies. O homem é o único bárbaro
/-* K t~r\ rv» m r o h /
r\ r\
UVU XX X c 5*^ der entre os seus pruprios ifrnãos!”.
A tarde, pregou em Llanflhangel para um público atento. Dessa vez,
no lugar de dois sermões diferentes, ele pediu que o sr. Jones fosse o seu
tradutor. Assim, seu sermão foi traduzido ao idioma gaulês, que todos
podiam compreender. De acordo com a sua avaliação, o resultado foi muito
bom, pois a comoção mostrou-se geral, com gritos e prantos durante todo
o culto. Muito feliz com o resultado, exclamou que teria sido ainda melhor
se ele mesmo pudesse explicar, naquele idioma, as maravilhosas obras de
Deus!
Wesley sempre se manifestou interessado no aprendizado de novos
idiomas. Em seu Journal, revela que, na viagem à Geórgia, em outubro de
1735, começou a aprender alemão para poder conversar com o grupo de
26 moravianos, dedicando três horas diárias à atividade. Já na Geórgia,
com o objetivo de se comunicar com seus paroquianos judeus, que falavam
espanhol, começou a estudar o idioma de Cervantes.
Considerando o currículo da escola de Kingswood, com as disciplinas
de inglês, francês, latim, grego, hebraico e mais outras cinco línguas, nas
quais Wesley escreveu e publicou gramáticas, pode-se deduzir ele çria
firmemente na importância do aprendizado de idiomas. Esperava que os
alunos da 7a. classe, nível máximo, repetissem a Iliada de Homero, fizessem
versos em grego e lessem a Bíblia Hebraica.

15 de março - "Ai de Mim se não Pregar o Evangelho"

Na manhã de 15 de março de 1761, John Wesley pregava para uma platéia


atenciosa em Wednesburv. Tinha marcado um segundo culto à tarde, mas não se
encontrava bem de saúde, com forte dor nas costas e na garganta. Mas já estava
acostumado íaçoes como aquera: em varias outras em que estava moisposto :
fisicamente, acabava se recuperando durante a pregação. Assim, decidiu pregar $
ate quando rosse possivei.
Pronta para ouvi-lo estava uma multidão de 8 a 10 mil pessoas. Em pé, %
na esquina da capela, ele leu o texto de Filipenses 3,8: “Considero tudo como -f
perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus meu Senhor: A
por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo para ganhar
a Cristo”. O sermão atingiu o objetivo: muitas pessoas foram atraídas para o
evangelho c centenas delas reafirmaram o compromisso de continuar servindo
a Jesus Cristo.
Terminada a pregação, as enfermidades haviam desaparecido. A noite,
na reunião do ágape, homens e mulheres falaram de suas experiências de tal
maneira que todos se comoveram. Alguém disse: “Por 17 ou 18 anos pensei que
Deus havia se esquecido de mim. Nem eu, nem ninguém da minha casa podia
crer. Mas agora, bendito seja Seu nome. Ele tomou a mim e a toda a minha casa
e deu a oportunidade a mim, à minha esposa e aos nossos sete filhos de, juntos,
nos alegrarmos em Deus nosso Salvador”.

16 de março - Manter Amizades

O trabalho pastoral itinerante dificultava a manutenção de fortes laços de


amizade. A exigência de contínuas viagens e os inúmeros compromissos exigiam
que John Wesley deixasse de lado alguns amigos queridos.
Em março de 1752, ele acompanhou Robert Kirkham, ministro anglicano
e amigo antigo, no regresso ao seu lar. Conhecia bem o lugar e tinha feito boas
amizades ali. Nesse retorno, 20 anos depois, o local continuava idêntico, mas quase
todas as pessoas conhecidas já tinham morrido. Percorreu o local, conversou
com muitas pessoas, mas não conseguiu encontrar ninguém conhecido. A única
exceção foi uma tia do pregador, que, ao vê-lo de novo, não se conteve, afirmando
sentir muito por Wesley ter abandonado os seus amigos para levar uma “vida
de cigano”. A boa conversa amiga durou pouco e, no final, surgiram muitos
comentários agradáveis sobre as difíceis exigências da vida pastoral, terminando
num clima de muito carinho.
Após o culto da noite de 17 de março, no salão metodista de Evesham, os
amigos continuaram conversando, porém, havia uma questão no ar. Kirkham
AW algo, mas estava com dificuldades. Percebendo o clima, Wesley foi
quena -dizer
facilitando a conversa até que ocorreu o desabafo: “Tenho de cuidar de 2 mil
almas, mas não sei cuidar direito da minha própria”. Não era a primeira vez que
um oregador desabafava de forma tão profunda.
Wesley conversou longa e pacientemente com o amigo. Na manha seguinte,
depois do culto das 5 horas, no momento de os dois se afastarem, cada um
com seu trabalho específico, o pastor já estava mais tranqüilo. Sabendo que
essas crises são comuns, vão e voltam, Wesley anotou: “Quantos dias durará
essa nova fase?”. Refletindo sobre o estado do pastor, responsável por cuidar
de nada menos do que duas mil pessoas, e sobre o comentário da tia, quanto
a eles levarem uma vida cigana, Wesley admitiu que tal atividade não era
prazeirosa. Só havia adotado aquele tipo de vida por amor ao Evangelho e
por crer na vida eterna.

17 de março - Soberania Absoluta de Deus

No início de 1785, Charles Wesley enfrentou grave enfermidade e esteve


à beira da morte. Antes mesmo do seu restabelecimento, o irmão enviou a ele
uma carta, destacando a extraordinária ação de Deus e a crença de que aquela
experiência tinha sido importante para o despertar religioso da família.
Estou preparando-me para a viagem ao norte e quero dedicar um tempo para escrever-
lhe duas ou três linhas. Detenho-me um momento para admirar as dispensações
sábias e misericórdias da Divina Providência. Nunca antes ocorreu um chamado tão
forte a todos os membros de sua família. Se, até essa data, não ouviram nem a você
nem ao Deus de seus pais, o que mais será necessário para convencê-los que o fato
de vê-lo durante tanto tempo diante da iminência da morte? Creio verdadeiramente
que, se eles compreenderem a advertência, Deus o levantará outra vez. Sei que a ;
sentença de morte está sobre você, como esteve sobre mim 12 anos atrás. Sei que a i'
sua natureza humana está completamente esgotada, mas não está sujeita à Palavra de f
Deus? Eu não dependo dos médicos, mas Daquele que levanta os mortos. Que toda
a sua família desperte e se dedique a orar sem cessar. Então, só terei a dizer a cada um i?
“Se creres, vereis a Glória de Deus” (Jo 11.40). “Fortalecei-vós no Senhor e na força
do Seu poder” (Ef 6.10).

No sermão Afligidos um diversas provas, John Wesley relaciona diversas razões t


para o fato de um cnstão sincero passar por aflições e enfermidades. Um dos 7
aspectos positivos é que as pessoas ao redor do enfermo podem testemunhar c _
comportamento dele diante da aflição. À experiência tem mostrado que o exempld'1,
fala mais forte que a palavra e pode influenciar não apenas os que participam do
dom gracioso da ré, mas também os não conhecedores de Deus, ao perceberem
=\ jjT- <• ^
I serenidade com que o enfermo enfrenta o período de tormenta. Que bom e
grande testemunho oferece aquele que aceita humildemente a vontade de Deus,
'Ç mesmo sofrendo, e se mostra capaz de dizer palavras de confiança e fé em meio
à enfermidade e à dor. Capaz de, em meio à perda, admitir: “O Senhor deu, o
Senhor tirou. Bendito seja o nome do Senhor!” (Jó 1.21).

18 de março - Avivamento Necessário

O Journal (18/mar. /1761) de John Wesley descreve uma porção de acontecimentos


O- importantes, confirmando a maravilhosa ação de Deus em Wednesbury.
Em conversa com vários moradores, ávidos por testemunhar a realização
de Deus em suas vidas, Wesley concluiu que ocorria ali um avivamento
^semelhante ao da cidade de Londres. Ficou muito feliz ao reconhecer que o
movimento metodista produzia frutos admiráveis em todos os cantos e dnha
motivos de sobra para esperar que tais sinais significavam apenas o início de
uma grande obra.
Em todos os cultos, havia libertação. No de domingo de manhã, um
v
prisioneiro de Satanás foi posto em completa liberdade durante o sermão. No
sábado à noite, outro se derramou e aceitou Jesus Cristo. Diversos receberam o
perdão de seus pecados. Na segunda e na quarta, pessoas creram que “o sangue
de Jesus Cristo os limpou de todos os pecados” (ljo 1.7). Naquela quarta-feira,
18 de março, a graça misericordiosa de Deus esteve presente e muitos suplicaram:
“Senhor, se quiseres, podes purificar-me” e ouviram resposta idêntica àquela
ipferecida por Cristo ao leproso: “Quero, sê limpo!” (Mt 8.3). Muito feliz ao
verificar que o Senhor honrava o seu ministério, Wesley disse: “A presença
de Deus foi tão maravilhosa até a meia-noite, como se tivesse curado toda a
■congregação”.

llS de março - Colocar a Casa em Ordem

“'O que eu faria se tivesse apenas dois dias de vida?” A indagação está
sgistrada no Journal (19/mar./1747). de John Wesley. A resposta indica o zelo
|Ggoroso no tratamento a todas as questões relacionadas à sua vida pessoal e ao
lànovimento metodista.
“Não há muito a fazer nesses dois últimos dias”, constata, “nenhum
assunto pendente, nenhuma questão não resolvida. Tudo está encaminhado.
As propriedades em Bnstol, Kingswooa e Newcastie já foram regularizadas e
todas as escrituras estão em ordem”. Se morresse naquele momento, seu irmão
Charles e os demais companheiros de ministério não teriam maiores dificuldades.
Se tivesse apenas mais dois dias de vida, só lhe restaria encomendar sua alma ao
fiel e misericordioso Deus. Além de extremamente previdente e cuidadoso, John
Wesley sempre procurou exortar os demais metodistas a imitar o seu exemplo,
particularmente os líderes de classes e pregadores.
Com tal propósito, ele assinalou, certa vez, o caso de uma pessoa imprevidente
e as complicadas conseqüências do seu comportamento. Em setembro de 1779, em
Bristol, soube do falecimento de um dos primeiros professores da escola metodista
de Kingswood. Na ocasião em que trabalhava na escola, aquele homem estava bem
ajustado e feliz. O problema começou quando deixou a escola e assumiu outra
profissão, economicamente mais rendosa. Adquiriu riquezas, não soube se equilibrar
e abandonou a fé, a sociedade metodista e Cristo. Morreu de um momento para o
outro, sem a devida organização, sem completar o seu testamento, permitindo que
gananciosos entrassem numa aguerrida disputa pela herança.
Lembrou o lamentável episódio, mostrando aos metodistas e outras pessoas
presentes a importância de se manter regularizadas todas as questões. “Hoje
mesmo, antes de dormir, façam seus testamentos.”
Aos 86 anos de idade, em fevereiro de 1789, John Wesley já se sentia cansado e
sabia não lhe restar muito tempo de vida. Como ocorrera inúmeras vezes, refez seu
testamento, declarando sua última vontade, em documento registrado em cartório,
sobre a destinação dos seus pertences. Um item curioso do testamento traz a seguinte
recomendação: “Ofereço seis libras a serem divididas entre seis homens pobres,
nomeados pelo assistente, que levarão o meu corpo à tumba, pois particularmente
não desejo carroça, nem carruagem, nem escudo de armas, nem pompas, exceto as
lágrimas dos que me amaram e me seguirão ao seio de Abraão”.

20 de março - Pregando aos Animais Selvagens

Em carta dirigida a John Smith, de março de 1747, Wesley destaca acreditar


que havia proporcionado mais benefícios aos paroquiancs de Epworth ao pregar
por três dias, sobre o túmulo do pai, do que no período de três anos ocupando
o púlpito da igreja.
Tudo começou com Whitefield, que, segundo Charles Wesley, era um
pregador influente, com uma voz poderosa que levantava até os mortos.
Apesar de possuir uma índole bem diferente do irmão e apreciar um
ambiente mais refinado, Charles também participou ativamente da nova fase
do movimento, que mobilizava e atraía verdadeiras multidões.
A pregação ao ar livre mobilizava todo tipo de gente, especialmente os
pobres, que recebiam o Evangelho “com lágrimas nos olhos”. Esses “animais
selvagens”, como Charles os chamava, eram muito barulhentos e emocionais.
Comportavam-se como donos das praças e dos outros locais onde se davam
as pregações. Mesmo ao pregar nas igrejas, como em Shoreham, ele notava
que “os animais selvagens começavam a rugir, bater os pés, blasfemar, tocar
os sinos e transformar a igreja em uma selvageria”. Ao mesmo tempo em
que se procurava reunir essa multidão para os cultos metodistas, o desafio era
encontrar a fórmula ideal para atender tais pessoas em seu primeiro contato
com o Evangelho. Daí o surgimento das sociedades, classes, circuitos e
outras formas da organização metodista.
John Wesley foi se convencendo de que essa organização tinha a
virtude de possibilitar ao recém-convertido o necessário crescimento na fé.
Onde a liderança não providenciava a devida organização,, o trabalho logo
desaparecia, como atesta em seu Journal (25/ago./1763):
Estou mais convencido que nunca da idéia de que pregar como um apóstolo,
sem juntar os despertados e adestrados nos caminhos de Deus, é apenas procriar
crianças para o assassino. Quanta pregação foi feita em todos esses anos em toda
Pembrokeshire! Mas não há sociedades regulares, nem disciplina, nem ordem
ou conexão. Conseqüentemente, entre dez despertados, nove estão agora mais
adormecidos do que nunca.

21 de março - Colaborador Importante

John Ciayton, filho de um livreiro de Manchester, desempenhou


-importante papel no início do movimento metodista. Em agosto de 1732,
abriu nova área de trabalho aos membros do Clube Santo, conseguindo
licença para visitar o Asilo São Tomás duas vezes por semana. Ajudou
John Wesley a estreitar as relações com os editores e livreiros de Londres e
Oxford, além de incentivar Wesley a colecionar suas orações para publicar
a Coleção. Também é de Clayton a primeira referência ao termo metodista,
em agosto de 1732.
Apesar dessas importantes contribuições, Clayton teve certa dificuldade
para compreender as inovações do movimento metodista. A carta que lhe foi
remetida por Wesley, em março de 1739, destaca algumas dessas dificuldades.
Para Clayton, Wesley deveria permanecer na universidade ou aceitar o ofício
de pastor em alguma paróquia. Mas esse último argumenta não ter o direito de
invadir o espaço de outro pastor, nem de reunir pessoas que não estivessem
sob a sua jurisdição eclesiástica para cantar, orar, ler a Bíblia e ouvir sermões. A
resposta de Wesley diz ainda: A
Baseando-me em princípios bíblicos, não creio ser difícil justificar o que faço. >
Nas Escrituras, Deus me ordena instruir aos ignorantes, reformar os maus e
confirmar os virtuosos. O ser humano me proíbe fazê-lo na paróquia de um outro'
e isso significa não fazer nunca, pois agora não tenho paróquia e provavelmente
nunca a terei. A quem devo escutar? A Deus ou ao ser humano? (...) Onde
pregarei, se seguir os princípios por você mencionados? Nem na Europa, Ásia,
África, América, nem em qualquer área cristã habitável, porque todas já estão
divididas em paróquias. Você poderia me dizer para voltar a pregar aos pagãos,: j
onde já estive. Nem isso eu poderia, pois [de acordo com seus princípios] todos .4
os pagãos da Geórgia pertencem à paróquia de Savannah ou de Frederica. A
Deixe-me expor agora meus princípios quanto a esse tema. Considero todo J
o mundo minha paróquia, quero dizer, em qualquer parte dele, julgo digno^J
justo e meu dever declarar as boas novas de salvação a todos os que queirantá
ouvi-la. Essa é a obra para a qual Deus me chamou. Estou certo de que Sua||
bênção a acompanha.

Preocupado com a visão do amigo, Wesley conclui:


Oh, amigo meu, meu coração se comove por você. Temo que, nésse assunto, hajásj
a fé naufragado. Temo que “Satanás, disfarçado de anjo de luz” (2Co 11.14), haja|
assaltado e prevalecido em você. Temo que esse filho do inferno, a prudência!
mundana ou mística, tenha afastado-o da simplicidade do Evangelho. De outraf
modo, como pode conceber o fato de que ser desprezado e aborrecido por todos|
nos torna-menos aptos ao serviço do Mestre. (...) Desejo que você também $èjf|
desprezado por causa de Cristo.
22 de março - Visitando a Cidade

John Wesley confessa, ao irmão Charles, estar desenvolvendo um


método regular de visitação de enfermos. Desde março de 1741, Londres
sofria uma epidemia e Wesley visitava muitos doentes, fazendo o que estava
a seu alcance. Em abril daquele ano, escreve ao irmão ter exposto o seu
propósito a uma sociedade metodista e convencido dez pessoas a ajudá-
lo no trabalho. Depois de apelos mais insistentes, o grupo cresceu para 46
membros, ficando cada dois visitantes responsáveis pór uma das 23 áreas em
que dividiram a cidade. No mês seguinte, todos os membros da sociedade
metodista de Londres foram solicitados a dar um penny por semana para
acudir aos doentes e pobres.
j,v Aos pregadores metodistas, Wesley sempre recomendou que dedicassem
Intenção especial aos enfermos. No sermão Afligidos em diversas provas, com base
jpíem 1 Pedro 1.6, ele destaca que todos os cristãos estão sujeitos a experimentar
|Tf-aflições, as quais, de acordo com o apóstolo, podem produzir muita dor e
fÇ sofrimento, marcando profundamente a alma. Em momento algum, insinua
fg£à. possibilidade de o cristão ter qualquer privilégio no sentido da imunidade
i-Í
pyçom relação a enfermidades e outros' problemas. Muitos tipos de dor e aflição
podem abater uma pessoa, inclusive o crente sincero e dedicado ao Senhor.
■'Em muitos casos, também não é possível adotar medidas preventivas eficazes
Insurgem as enfermidades ou os problemas que afligem o cristão. Se eles não
forem rapidamente solucionados, o seu prolongamento consegue afetar e
itprmentar a alma, desencadeando outras doenças e depressão, complicando
da mais o quadro.
Na fase de maior debilidade é que a pessoa mais necessita dç apoio da
^comunidade. Jesus não foi enviado ao mundo para se congratular com os
|áudáveis, os bem-sucedidos,.os puros e bons. Veio auxiliar os doentes e
idas bem-aventuradas foram remetidas aos que não contam com o apoio
|ó mundo. Essa era visão de John Wesley. Ele organizou um ministério para
iuidar dos eníermos, porque sabia ser a hora da dor em que as pessoas mais
essitani de carinho e atenção. Organizou o ministério por reconhecer
nós, cristãos, somos as mãos, os braços, as pernas, ã boca, o corpo de
us no mundo,

59
V

23 de março - Escola Dominical

Alegro-me pelo fato de você ter criado escolas dominicais em Newcasde. Essa tem
sido, por muitos séculos, uma das melhores instituições da Europa e fará mais e
melhor, se professores e inspetores cumprirem o seu dever. Nada impedirá o êxito
dessa bendita obra, a não ser a negligência. Portanto, você deve vigiá-los com cuidado,
para que não se cansem de fazer o bem.

Essa carta de John Wesley foi enviada a Charles Atmore, em 24 de março de


1790. Uma outra, dirigida a Mary Bishop anos antes (21/maio/1781), também
enfatiza como fator determinante do sucesso de uma escola a seriedade e a
dedicação de seus professores na tarefa de transformar os alunos em cristãos.
Quando Molly Maddern ensinava umas poucas crianças em Kingswood, vi uma
escola verdadeiramente cristã. Forjar cristãs era a sua primeira preocupáção para
com as meninas. Só depois lhes ensinava o que as mulheres precisam aprender.
Assim como nessa escola, também não encontrei defeito na de Leytonstone,
que funcionava sob os cuidados da srta. Bosanquet. Não observei nada do que
era feito que devesse ser omitido, nem nada de omitido que devesse ser feito.
Posso falar sem reserva? Creio que sim. Esperava ver uma escola cristã em Publow e, por
um tempo, a vi. Não sei como expressá-lo. Não vi a simplicidade do início, uma atmosfera
mundana parecia estar ali se infiltrando. Admiro a boa educação, mas é difícil mantê-la
livre de superficialidades e atitudes em desacordo com o sentimento que havia em Cristo!
Quero que os estudantes sejam educados da mesma forma que a srta. Bosanquet
educava os seus. Apesar de muito bem-educados, havia, sem dúvida, algo neles
que denotava o fato de pertencerem a outro mundo. A sra. Castleman foi uma
das estudantes de Molly Maddern. Como se vê, ela é educada e também cristã. ;
Forje cristãs, minha estimada srta. Bishop, forje cristãs. Que essa seja a sua meta. Forje :A
S'
~ cristãs como Miranda, a srta. Ritchie e como foi a srta. J. C. March. Permita a tudo o mais v-:
que você ensina subordinar-se a essa meta. Ocupe-se dela.

24 de março - Expansão da Obra

O metodismo chegou à Irlanda no ano de 1747, após a conferência de 1746'


ter estabelecido a necessidade de responder ao chamado da Providência em
direção a novos locais, como Dublin e Edimburgo. Provavelmente, o trabalho
em Dublin teve início antes do verão de 1747, época em que dois pregadores,
jonathan Reeves e John Trembath foram indicados para fazer uma jornada até a

100
Irlanda. Quanto à criação da sociedade metodista, é bem possível que ela tenha
. sido criada naquele verão, por Thomas Williams, líder excluído da sociedade de
JLonares tres anos antes, me roí reaamitiao e enviou çaxra a jonn wcsxcy, peumao
ajuda no trabalho. A resposta foi imediata: poucas semanas após a conclusão da
conferência de 1747, John Wesley e Trembath partiram para a Irlanda.
A segunda visita a esse país, no ano seguinte, foi muito mais tumultuada,
com gente gritando e insultando Wesley. Em Birr, durante a pregação nas ruas,
ocorreu um pequeno tumulto. Um frade carmelita começou a gritar: <£Você
mente! Você mente!”. Insuflado, um grupo impetuoso o agrediu, derrubando
e empurrando-o para fora. Em 24 de março de 1771, uma vez mais na Irlanda,
a primeira medida de Wesley foi averiguar a situação da sociedade em Dublin.
Ele sabia que choques e conflitos contínuos nos dois anos anteriores tinham
ocasionado o tropeço de muita gente, debilitado os pregadores e criado
obstáculos para muitos membros da sociedade.
Procurou inteirar-se da origem dos conflitos, sem tomar nenhuma medida
apressada, disposto a escutar as partes envolvidas, primeiro separadamente e
depois em conjunto. Na conversa com os pregadores e líderes, ficou animado e
esperançoso de que os obstáculos poderiam ser solucionados. Em outra reunião,
convocada extraordinariamente, os ânimos foram finalmente serenados e todos
se retiraram em paz.

25 de março - Livros de Auto-ajuda

Em carta dirigida a Ann Bolton (25/mar./1772), Wesley comentou o


conteúdo de alguns livros em moda na época. Tratava-se, aparentemente, de
literatura mística, parecida com a de hoje em dia, denominada de auto-ajuda.
No início, ele chegou a se entusiasmar com tais livros. A partir do encontro
com Wiiiiam Law, pietista que se inclinou ao misticismo, em meados de 1732,
e lhe apresentou o tratado místico medieval Theologia Germanica, Wesley vibrou
com. a espiritualidade desses escritores. Referia frequentemente à obra clássica
A Imitação do Cristo, atribuí da ao místico medieval Thomas Kempis, como
‘‘padrão cristão”.
A Ann Bolton recomendou muita prudência com relação a vários escritores
que se intitulavam místicos e abundavam entre os católicos romanos. Eles
falavam de autodespojo, auto-inanição, autodestraição, e assim por diante, como
r
se tudo se resumisse à vontade das pessoas. Um dos primeiros inconvenientes é
que tais expressões não são bíblicas e representam o perigo de levar as pessoas
a achar que não necessitam ou mesmo a negar os dons de Deus. Mais ainda,
podem fazer dessa negação um mérito.
Outra carta, de outubro daquele ano, retoma o tema: é preciso evitar esse
tipo de literatura, pois os autores se mostram astutos especialistas em querer
complicar a religião cristã. Não se deve sequer iniciar a leitura, pois há algo de
fascinante nela e, ao entrar nesse universo, não se encontra mais saída. Para
todos os interessados em viver a fé cristã, a recomendação é que se tenha
como modelo de religião o descrito por Jesus Cristo, no Sermão do Monte, e
pelo apóstolo Paulo, no capítulo 13 de 1 Coríntios. Segundo Wesley, “Todas as
expressões altissonantes ou misteriosas usadas por aquela classe de escritores ou
significam isso ou estão equivocadas. Cuide-se deles. Deixe-os antes que sofra a
influência deles”.
Ele assinala, ainda em outro texto, no prefácio a uma coleção de 65 hinos,
que os místicos colocam outro fundamento.
Falam bastante e muito bem contra a esperança de ser aceito por Deus via as boas
obras, para logo ensinar que somos aceitos, por nossos hábitos e comportamentos
virtuosos. Eles supõem que seremos justificados por causa de nossa justiça interior.
Não é verdade. A santidade do coração, assim como a santidade de vida, não é causa
mas efeito dela. A única causa de nossa aceitação diante de Deus é a justiça e a morte
de Cristo, que cumpriu a Lei de Deus e morreu em nosso lugar. A causa de nossa
aceitação não é a santidade de vida e as boas obras, mas unicamente a fé. A fé que
produz necessariamente santidade e boas obras.

26 de março - Vivendo em Santidade

Com 87 anos de idade, John Wesley continuava com suas atividades,


sobretudo a pregação do Evangelho. No sermão Sobre as vestes ctê núpcias, de
março de 1790, ele afirma que seus olhos estavam cada vez mais embaçados, sua
força física mais abatida, mas, apesar de tudo, procurava prosseguir fazendo o
bem, antes de ir ao pó. Nesse sermão, acrescenta algumas idéias sobre a relação
entre a justiça de Cristo, que representa para o crente o “direito” ao céu, e a
santidade, que dá a ele a “aptidão”' para o céu. Desse modo, a santidade é a
verdadeira veste nupcial.

tro
Depois desse, cinco outros sermões foram escritos, com destaque sempre
aos seus temas favoritos. Em Viver sem Deus, ele repete com mais energia que
o viver santo é mais importante que as opiniões ortodoxas. Quantas vezes
destacou que as características dos metodistas não se firmam em opiniões dessa
ou de qualquer outra natureza. Em 0 perigo do aumento das riquezas, ele denuncia
a ganância e a acumulação supérflua como elementos perigosíssimos, capazes
de destruir a vida espiritual de qualquer pessoa. Apesar de ter feito tal denúncia
por mais de 50 anos, avalia que muito pouca gente, no máximo uns 50 avarentos,
decidiram mudar de vida a partir da sua pregação. Para ele, a questão financeira
é muito séria, pois a maioria dos cristãos não vê incompatibilidade entre a fé e a
cobiça por riqueza.
Sobre afé foi o seu último sermão, de meados de janeiro de 1791, terminando
com dois versos do poema A vida da fé., escrito pelo irmão, Charles, em 1740:
“As coisas desconhecidas dos fracos sentidos / Invisíveis pelos fracos raios da
razão, / Com forte e poderosa evidência / Demonstram sua origem celestial. /
A fé empresta sua luz de reconhecimento: / As nuvens se dispersam, as sombras
voam / O invisível torna-se visível / E Deus é visto pelo olho mortal!”

27 de março - Corrigindo Rumos

Retornando à Irlanda, em 27 de março de 1789, John Wesley assinala que


a viagem tinha sido péssima, com forte vento atrapalhando a embarcação. Ele
não se recordava de outra ocasião em que tivesse se sentido tão mal no mar.
. Obviamente já não se lembrava da sua primeira viagem de navio, à Geórgia,
debaixo de terríveis tempestades.
Em Dublin, prega no novo salão metodista sobre o episódio da
enfermidade e recuperação do rei Ezequias (Is 38.1-8), sendo muito grande
o regozijo experimentado por toda a congregação. Ao vê-la numerosa e
•extremamente atenta e cordial, ele se sentiu em casa, A mudança realizada
por Deus naquele lugar, em poucos anos, tinha sido muito grande: boa parte
das pessoas, antes superficial e despreocupada, era agora séria e interessada
no trabalho. A comunidade havia passado por uma série crise e os líderes,
enviado várias cartas a Wesley sobre as dificuldades encontradas. Poucas
pessoas assistiam os cultos nos domingos, a maioria permanecia em casa ou
ia a reuniões de dissidentes.

103
Por conta do contato mais estreito com dissidentes (presbiterianos ou -
congregacionais), muitos estavam influenciados e inclinados a se separar da Igreja
Anglicana. Para remediar a situação, propuseram a Wesley marcar os cultos no
salão metodista no domingo, no mesmo horário dos serviços da Igreja Anglicana.
Alegaram que, se tal medida não fosse tomada, em pouco tempo os metodistas
estariam aliados aos dissidentes. Wesley não desejava abrir precedentes a esse
respeito: queria que os metodistas participassem regularmente da igreja oficial,
da Santa Ceia aos domingos e, nos demais horários, estivessem presentes nas
reuniões das sociedades. '
A medida sugerida pela liderança foi acatada por Wesley. Ele concordou
que os metodistas participassem da igreja (oficial) de St. Patrick no primeiro
domingo do mês e, nos demais, se fizessem presentes nos cultos metodistas.
Com isso, resolveu-se devidamente o problema. Os metodistas não foram mais
às reuniões dos dissidentes e voltaram a frequentar em massa St. Patrick. Wesley
destaca em seu Journal: “Observem! Isso se faz não para preparar-se para, mas
para prevenir uma separação da Igreja”.

28 de março - Escolhendo a Mensagem Certa

Preparando-se para pregar o Evangelho, na noite de 28 de março de 1750,


no País de Gales, Wesley se surpreendeu ao perceber que, em vez das pessoas
simples e pobres, havia muitos ricos na congregação. Muita gente coberta de
ouro e prata estava afi para ouvi-lo. O que falar àquele público? Depois de refletir %
por instantes, escolheu o texto de Lucas 16.19-31, sobre Lázaro e o riço.
Se o próprio Wesley viu-se indeciso em pregar para esse público específico,
obviamente seus pregadores, leigos na maioria, encontravam ainda maiores Jg
dificuldades nessas situações. Com o objetivo de ajudá-los, e aos demais líderes
do movimento metodista, Wesley publicou seus sermões. O primeiro volume
surgiu em 1746 e outros o sucederam em 1748,1750 e 1760. Em 1763. preparou
um documento estipulando que os nomeados pela conferência não poderiam '||g
“pregar doutrinas distintas daquelas contidas em Notas sobre o Novo Testamento e
nos quatro volumes dos sermões”.
A necessidade de estabelecer regras doutrinais nasceu porque Wesley,%
convencera-se de que a ortodoxia era de suma importância. Mesmo considerando
que a exposição doutrinária sistemática pudesse representar uma camisa d<

104
espontaneidade metodista, prejudicando a ênfase na experiência cristã, ele concluiu
necessárias as regras como forma de evitar, nos cultos e reuniões metodistas, o
ensinamento de outra coisa que não a sã doutrina. A triste experiência com George
Bell e suas previsões apocalípticas exigiram medidas mais severas.
Diferentemente das demais experiências históricas que procuraram insistir
em fórmulas doutrinárias e tratados de teologia, John Wesley preparou uma
coleção de sermões, idéia primorosa que, além de permitir a presença dos
elementos essenciais da sua doutrina, conseguiu dar vazão à espontaneidade,
No púlpito, não lia seus sermões, nem esperava que os outros pregadores o
fizessem. Desde a época em que pregava em Oxford, bem antes da experiência
de Aldersgate, ele o fazia sem o uso de manuscrito, seguindo a tradição de
famosos pregadores da Igreja da Inglaterra, que insistiam no dever da pregação
ser feita a viva voz, e não lida.
Avesso à idéia da pregação improvisada, há informações de que Wesley teria
se dedicado até por semanas na elaboração de certos sermões. E mesmo depois de
prontos, caso surgissem novas idéias, ele não hesitava em fazer as alterações necessárias.
Reconhecia que o sermão pregado tinha por meta convidar o crente a crer e a obedecer,
ao passo que o sermão escrito servia para ajudá-lo a refletir e a crescer.

29 de março - A Morte de Charles Wesley

Charles Wesley morreu no dia 29 de março de 1788. Incapaz de segurar a


caneta, ditou para a esposa Sally seus últimos versos: “Na velhice e em extrema
debilidade, / Quem remirá um pobre desamparado? / Jesus, Tu és minha única
esperança, / A força de meu corpo e coração enfraquecidos, / O, possa eu
vislumbrar um sorriso de Ti, e entrar na eternidade!”.
A carta de Samuel Bradburn, informando John Wesley sobre a morte do
irmão, não foi endereçada de forma precisa e só chegou ao remetente vários
dias depois, em 5 de abril. Na ocasião, com 85 anos de idade, John realizava o
trabalho missionário na região central da Inglaterra. Após receber a triste notícia,
escreveu imediatamente a Sally, esposa do irmão, explicando a sua ausência,
assinalando algumas palavras de conforto e confirmando uma visita oportuna,
, assim que seus compromissos permitirem.
Duas semanas mais tarde, continuando a viagem de pregação, ele anunciou,
üo preparatório para o cântico congregacional, durante o culto em Bolton,
o hino Come, o Thou Traveller Unknow (Vem, ó tu, viajante desconhecido), também
conhecido como Wrestlingjacob ÇA luta de Jacô), de autoria de seu irmão Charles. O
pnmeiro verso - “Minha antiga companhia se foi / E eu estou deixado sozinho
contigo” - foi por ele entendido, em seu íntimo, como se fosse “Meu irmão
Charles se foi”. Não conseguindo conter-se, começou a chorar. Levou as mãos
ao rosto e sentou-se. Apenas minutos depois, já refeito da profunda emoção, é
que prosseguiu com o culto.

30 de março - Um Dia Importante

Foi marcante o 30 de março de 1764, dia de grande consolação para muitos dos
participantes do culto na nova igreja de Rorherham. John Wesley leu o texto bíblico
de Efésios 2,8 e repetiu um dos seus mais importantes sermões, pronunciado pela
primeira vez em 11 de junho de 1738, na igreja de Santa Maria, em Oxford, diante
da universidade. A introdução do sermão, chamado A salvação pelafé, revela:
Todas as bênçãos concedidas por Deus ao ser humano vêm unicamente da sua
gratuita liberalidade e favor. Vêm do seu favor totalmente imerecido, uma vez que
não tem direito algum à menor de Suas misericórdias. Por pura e livre graça Deus
“formou o homem do pó da terra, lhe soprou nas narinas o fôlego de vida”, pôs
sobre essa alma o selo da imagem divina e colocou tudo “debaixo de seus pés” (SI
8,6). A mesma graça que, até a dia de hoje, guarda em nós a vida, o alento e todas as
coisas; Porque o que quer que sejamos, tenhamos ou façamos, jamais mereceremos
a mínima dádiva divina. ‘Tois todas as nossas obras, tu as fazes por nós” (Is 26.12).
Todas essas coisas não são senão outras tantas provas da gratuita misericórdia
de Deus. E qualquer justiça ou retidão do ser humano é também dom de Deus.
Com o que poderá o pecador expiar o menor de seus pecados? Com suas próprias obras?'
Por muitas e santas que sejam, não são suas, mas de Deus. Por si mesmas, são iníquas
e pecaminosas, e, portanto, cada uma requer nova expiação. A árvore podre não pode
produzir senão frutos podres. O coração humano está completamente corrompido e .
abominável; encontra-se destituído da glória de Deus” (Rm 3.23), da gloriosa justiça
iniçialmente impressa sobre sua alma, segundo a imagem de seu grande Criador. Não .
tendo, pois, o que alegar, nem justiça, nem obras; a boca emudece diante de Deus.
No entanto, se o pecador encontra favor diante de Deus, é graça sobre graça (Jo 1.16). :
Se Deus se digna todavia a derramar sobre nós novas bênçãos (a maior delas, a salvação),
o que podemos dizer senão “Graças a Deus por Seu dom inefável” (2Co 9.15). “Deus.,:
prova o próprio amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós' ;
ainda pecadores” (Rm 5.8). Assim, “pela graça sois'’salvos, por meio da fé” (Ef. 2.8). A
graça é a fonte e a fé é a condição da salvação.
Na mesma ocasião, ele se reuniu com um grupo de 60 pessoas que criam e
afirmavam com determinação que Deus as havia redimido dos pecados. Depois
de conversar com o grupo por um bom período, Wesley ficou satisfeito com a
qualidade espiritual demonstrada por todos. Apesar de todas as barreiras que
enfrentavam, todos eram muito sérios na vida cristã e nenhum deles caminhava
de forma indigna. Aprenderam a ser mansos e humildes de coração (Mt 11.29)
para em tudo adornarem a doutrina de nosso Senhor Jesus Cristo (Tt 2.10).
Foi uma boa experiência para Wesley, que deixou aquela sociedade
metodista com alegria no coração. Um homem com a sua vivência sabia bem o
que estava falando. Graças a Deus, não havia naquele grupo egoísmo, teimosia e
impaciência, marca dos metodistas de Londres.

31 de março - Burro Ouvindo Sermão

Os dias 31 de março foram recheados de vários episódios interessantes,


com destaque aqui para dois deles. O primeiro, ocorrido numa quarta-feira,
em 1742, foi que John Wesley ficou sabendo que Ann Calcut havia perdido a
fala. Junto com alguns metodistas do lugar, ele se dirigiu até a casa da senhora,
crendo firmemente na oração como um importante meio de graça. Havia tido
inumeráveis experiências confirmando a resposta de Deus às orações dos
fiéis, como, em 28 de fevereiro de 1739, quando uma senhora, já idosa, estava
enlouquecida e amarrada à cama. Com a oração, foi instantaneamente restaurada
à plena saúde mental. Acreditando que os ouvidos do Senhor não estão surdos,
segundo o profeta Isaías (59), John Wesley começou a orar e imediatamente
ocorreu a libertação. A mulher voltou a falar e, dali em diante, não mais parou de
glorificar a Deus e dar testemunho da graça recebida.
O segundo episódio ocorreu em 1764 e é bastante divertido. Wesley
pregava de manhã em um templo quando, admirado, viu um burro entrando
pela porta e lá permanecendo, imóvel, ern posição de profunda atenção. A
situação inusitada, parecida com o episódio da burrinha de Balaão, permitiu-lhe
o seguinte comentário: “Será que aquela besta muda não poderia repreender
muitas pessoas, que possuem menos decência e não muito mais entendimento?”.
Abri!

uando as águas se esparramam demais,


não são profundas.

John Wesiey, referindo-se, repetidas vezes, aos trabalhos


de evangelização que alcançavam sucesso meteórico
J2 de abri{ - Divisão é Armadilha Diabólica

Wesiey recomendava aos pregadores não perder nenhuma oportunidade


de proclamar os metodistas como um povo unido. Um dos temas que mais
o preocupava era a possibilidade de uma divisão. Sabia que separar-se da
Igreja Anglicana era um convite ao vírus da intolerância e da divisão, e seus
desdobramentos, no meio metodista.
De acordo com o seu sétimo discurso sobre o sermão do monte, baseado
em Mateus 6.16-18, a armadilha utilizada mais comumente por Satanás é a
divisão. Sua meta é separar aquilo que foi unido por Deus. Mas a divisão não
ocorre apenas como resultado do conflito entre pessoas e grupos, a mais sutil e
ambiciosa é divisão da própria religião em duas parcelas opostas, uma exterior e
outra interior.
Por meio dessa maquinação sutil de Satanás, a fé tem sido colocada
paralelamente às boas obras, como se fossem distintas e inconciliáveis. Muita
gente zelosa e sincera caiu e continua caindo nessa armadilha diabólica. Alguns
exaltam a fé a tal ponto que excluem completamente as boas obras, negando-
lhes não apenas a causa de nossa justificação, pois sabemos que o homem é
justificado gratuitamente mediante a redenção em Jesus Cristo, mas também
como frutos necessários da fé. Outros, procurando evitar esse erro, tomam a
direção oposta e sustentam que as boas obras são a causa e a condição prévia de
nossa justificação, representando a religião completa de Jesus Cristo.
Da mesma maneira, o fim e os meios da religião também são tidos como
opostos. A vida cristã de pessoas cheias de boa intenção consiste em assistir os
cultos, tomar a Ceia do Senhor, ouvir sermões e ler livros piedosos, deixando
de lado a finalidade de tudo isso, o amor a Deus e ao próximo. Tal prática tem
se tornado muito comum, fazendo com que os mandamentos de Deus sejam
PCrm fs. A
«W\|UV-^J.U.C/0 V UVOJ^l.V»^W’VJ.VU«
^ /'VO

Entre os meios de graça, o mais violado por essa postura maniqueísta e


separadora é o jejum. Alguns cristãos exaltam a prática do jejum a ponto de
extrapolar o bom senso, indo muito mais além dos ensinamentos da Escritura
Sagrada. Outros, pelo contrário, o desprezam compietamente, como se fosse
uma prática ultrapassada e inócua. .Aqueles falam do jejum como um ato infalível,
um fim em si mesmo. Estes, como se nada significasse, uma atividade estéril
sem relação com a verdadeira religião. As duas posições estão equivocadas. A

109
beldade”. Durante os dias seguintes, a cena se repetiu em diversos lugares, dentro
verdade sobre o jejum está no meio desses dois modelos. O jejum não é tudo
fyT fora de Bristol — Baptist Mills, Hanham Mount e Two Mile Hill em Kingswood,
mas também não é irrelevante. Não é um fim em si mesmo, mas é um meio5
precioso que leva a esse fim. É um meio de graça estabelecido por Deus e ví;-Rose Green, Bath e Pensford.
Posteriormente, em 28 de agosto de 1748, Wesley se disse surpreendido pelo
quando utilizado com sabedoria e de acordo com os princípios ensinados pelj
L fato de pessoas condenarem a pregação ao ar livre, julgando-a indecente. Para
própria Bíblia, há crescimento espiritual e as bênçãos são abundantes.
ele, “a maior indecência está na Catedral de St. Paul, quando parte considerável
da congregação dorme, conversa ou olha ao redor, sem se importa ouvir uma
2 de abril - Buscando o Povo r; palavra sequer do pregador. Há muito mais decência num cemitério ou campo
A aberto, onde a congregação se comporta de forma conveniente e escuta a
Na tarde de 2 de abril de 1739, uma segunda-feira, John Wesley realizou seu pregação da Palavra de Deus”.
primeiro sermão ao ar livre. Num primeiro momento ele não pôde aceitar aquele
"‘estranho modo de pregar nos campos”. Sempre foi um obstinado com tudo o
3 de abril - Deus Continua Agindo
que fosse relacionado com decência e ordem, e considerava a salvação das almas-
quase um pecado, se não fosse feita dentro da igreja. Depois dessa primeira?
Às 9 horas da manhã de 3 de abril de 1764, Wesley pregou em Scotter,
experiência, esse seria o seu templo. A pregação ao ar livre, “na cada do sol”,
povoado situado a pouco mais de 10 quilômetros a leste de Epworth. Assim que
tornou-se a grande marca do movimento metodista. Qualquer lugar aberto era i
iniciou o sermão, surgiu uma chama do Espírito Santo e muitos se convenceram
adequado, desde que o povo pudesse se reunir e o pregador, ser ouvido. Wesley
de seus pecados quase imediatamente, sendo justificados.
logo descobriu que os cemitérios (ao lado dos templos) e as praças dos mercados
Muitos adversários do Evangelho, incitados por um homem maldoso, que
eram ótimos lugares. A pregação ao ar livre não era ilegal na Inglaterra, mas
afirmava não haver lei para os metodistas, organizaram motins e tumultos,
considerada irregular e associada aos heréticos “pobres padres” lolardos, dos
visando a atrapalhar o trabalho de Wesley. As confusões só terminaram quando
tempos da Pré-reforma, e a itinerantes dissidentes dos dias mais recentes. A
um juiz daquela comunidade, procurado por Wesley, acatou a causa e impediu a
Tudo começou com o entusiasmado George Whitefield, que desenvolveu
atividade dos baderneiros, que ficaram mansos como ovelhas.
extraordinário trabalho de evangelização em Bristol. Quando estava se mudando |
Após os trabalhos em Scotter, Wesley se dirigiu a Grimsby, povoado antes
para Gales, pediu ajohn Wesley que ocupasse o seu lugar, porque “muitos estavam |
extremamente indiferente ao Evangelho, mas agora transformado no mais vivo
maduros para ser organizados em bandas”. Segundo Whitefield: “Alegro-me
atuante da região. Ele ficou muito feliz com a descoberta do grande e rápido
sinceramente com . seu zelo infatigável e o seu grande sucesso proporcionado:
áumento na sociedade. Havia uma multidão na casa de reuniões e, mesmo
por Deus em Oxford e outros lugares. (...) Solicito sua presença aqui no finaífj
com o acréscimo das galerias, o espaço não era suficiente para tanta gente.
da próxima semana”, E reforçando o pedido, acrescentou: “Será anunciado no|
jornal desse dia”. Wesley falou sobre a natureza da perfeição cristã, que muitos indecisos quanto
■doutrina passaram a ficar completamente satisfeitos. A questão, segundo ele, é
O texto de Wesley para essa primeira experiência foi tirado do Evangelho dá
Lucas: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evaneehzaffj j&perimentar o que se crê.
No culto da noite, todos os líderes do povoado estavam presentes e viram a
aos pobres, enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração dal
ação maravilhosa do Espírito Santo. Alguns participantes caíram ao chão como
vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos e apregoar o ano aceitáveM
ortos e, logo depois, se alegraram com gozo inefável (ÍPd 1.8). Uma mulher
do Senhor” (Lc 4.18-19). Em seu Journal, ele registra sua decisão de “ser maisl|
Jbi acometida de violentos ataques. Depois do culto, wesley foi vistia-ía e a viu
vil” (2Sm 6.22), proclamando no caminho “as boas novas de salvação a mais otíl
fÇtn tremendas convulsões dos pes a cabeça e tremedeiras espantosas. Na manha
menos, o mil pessoas, ralando do pátio de urna pequena olaria localizada fora d»f

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beldade”. Durante os dias seguintes, a cena se repetiu em diversos lugares, dentro
verdade sobre o jejum está no meio desses dois modelos. O jejum não é tudo
fyT fora de Bristol — Baptist Mills, Hanham Mount e Two Mile Hill em Kingswood,
mas também não é irrelevante. Não é um fim em si mesmo, mas é um meio5
precioso que leva a esse fim. É um meio de graça estabelecido por Deus e ví;-Rose Green, Bath e Pensford.
Posteriormente, em 28 de agosto de 1748, Wesley se disse surpreendido pelo
quando utilizado com sabedoria e de acordo com os princípios ensinados pelj
L fato de pessoas condenarem a pregação ao ar livre, julgando-a indecente. Para
própria Bíblia, há crescimento espiritual e as bênçãos são abundantes.
ele, “a maior indecência está na Catedral de St. Paul, quando parte considerável
da congregação dorme, conversa ou olha ao redor, sem se importa ouvir uma
2 de abril - Buscando o Povo r; palavra sequer do pregador. Há muito mais decência num cemitério ou campo
A aberto, onde a congregação se comporta de forma conveniente e escuta a
Na tarde de 2 de abril de 1739, uma segunda-feira, John Wesley realizou seu pregação da Palavra de Deus”.
primeiro sermão ao ar livre. Num primeiro momento ele não pôde aceitar aquele
"‘estranho modo de pregar nos campos”. Sempre foi um obstinado com tudo o
3 de abril - Deus Continua Agindo
que fosse relacionado com decência e ordem, e considerava a salvação das almas-
quase um pecado, se não fosse feita dentro da igreja. Depois dessa primeira?
Às 9 horas da manhã de 3 de abril de 1764, Wesley pregou em Scotter,
experiência, esse seria o seu templo. A pregação ao ar livre, “na cada do sol”,
povoado situado a pouco mais de 10 quilômetros a leste de Epworth. Assim que
tornou-se a grande marca do movimento metodista. Qualquer lugar aberto era i
iniciou o sermão, surgiu uma chama do Espírito Santo e muitos se convenceram
adequado, desde que o povo pudesse se reunir e o pregador, ser ouvido. Wesley
de seus pecados quase imediatamente, sendo justificados.
logo descobriu que os cemitérios (ao lado dos templos) e as praças dos mercados
Muitos adversários do Evangelho, incitados por um homem maldoso, que
eram ótimos lugares. A pregação ao ar livre não era ilegal na Inglaterra, mas
afirmava não haver lei para os metodistas, organizaram motins e tumultos,
considerada irregular e associada aos heréticos “pobres padres” lolardos, dos
visando a atrapalhar o trabalho de Wesley. As confusões só terminaram quando
tempos da Pré-reforma, e a itinerantes dissidentes dos dias mais recentes. A
um juiz daquela comunidade, procurado por Wesley, acatou a causa e impediu a
Tudo começou com o entusiasmado George Whitefield, que desenvolveu
atividade dos baderneiros, que ficaram mansos como ovelhas.
extraordinário trabalho de evangelização em Bristol. Quando estava se mudando |
Após os trabalhos em Scotter, Wesley se dirigiu a Grimsby, povoado antes
para Gales, pediu ajohn Wesley que ocupasse o seu lugar, porque “muitos estavam |
extremamente indiferente ao Evangelho, mas agora transformado no mais vivo
maduros para ser organizados em bandas”. Segundo Whitefield: “Alegro-me
atuante da região. Ele ficou muito feliz com a descoberta do grande e rápido
sinceramente com . seu zelo infatigável e o seu grande sucesso proporcionado:
áumento na sociedade. Havia uma multidão na casa de reuniões e, mesmo
por Deus em Oxford e outros lugares. (...) Solicito sua presença aqui no finaífj
com o acréscimo das galerias, o espaço não era suficiente para tanta gente.
da próxima semana”, E reforçando o pedido, acrescentou: “Será anunciado no|
jornal desse dia”. Wesley falou sobre a natureza da perfeição cristã, que muitos indecisos quanto
■doutrina passaram a ficar completamente satisfeitos. A questão, segundo ele, é
O texto de Wesley para essa primeira experiência foi tirado do Evangelho dá
Lucas: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evaneehzaffj j&perimentar o que se crê.
No culto da noite, todos os líderes do povoado estavam presentes e viram a
aos pobres, enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração dal
ação maravilhosa do Espírito Santo. Alguns participantes caíram ao chão como
vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos e apregoar o ano aceitáveM
ortos e, logo depois, se alegraram com gozo inefável (ÍPd 1.8). Uma mulher
do Senhor” (Lc 4.18-19). Em seu Journal, ele registra sua decisão de “ser maisl|
Jbi acometida de violentos ataques. Depois do culto, wesley foi vistia-ía e a viu
vil” (2Sm 6.22), proclamando no caminho “as boas novas de salvação a mais otíl
fÇtn tremendas convulsões dos pes a cabeça e tremedeiras espantosas. Na manha
menos, o mil pessoas, ralando do pátio de urna pequena olaria localizada fora d»f

110
seguinte, ela já se encontrava plenamente liberta, reconhecendo a bondade e a
misericórdia de Deus.

4 de abril - Evitando Falsas Ilusões

Wesley não se iludia com certas manifestações durante os cultos. No dia 4 de


abril de 1748, em Holyhead, no País de Gales, ele pregou para uma assistência
numerosa. O culto foi bastante inspirado e grande parte da congregação
derramou-se em lágrimas, comovida e desejosa de alcançar a salvação.
O que, .para muitos pastores, poderia ser compreendido como um trabalho
evangelístico de sucesso, para Wesley, exigia uma avaliação mais serena e
cuidadosa. Apesar de todas as mostras visíveis de aquela comunidade estar
preparada para a obra do Senhor, Wesley se mostrou reticente, achando que
muito trabalho havia a ser feito. Muitos o procuram, desejosos de contar as suas
experiências. Tudo bem bonito, um sucesso, mas Wesley sabia ser apenas o início
da caminhada. Início promissor, é verdade, no entanto, achava que quando “as
águas se esparramam demais, não são profundas”.
Em 11 de maio de 1765, a presença de Wesley é divulgada na cidade de
Derry, na Irlanda do Norte. Na manhã seguinte, domingo, às 7 horas, ele pregou,
na praça principal, para a maior platéia que já havia visto naquela região. Após o
culto, ao ver o entusiasmo das pessoas, ele mais uma vez se mostrou reticente;
“As. águas se estendem tão largas como em Athlone. Deus permita que sejam
igualmente profundas!”
. . '-!
5 de abril - Remindo o Tempo |

John Wesley iniciou seu primeiro Diary, seu diário íntimo, em 5 de abril de
1725, influenciado pelos livros 0 Viver Sanio e 0 Morrer Santo, áo. bispo Jeremy
Taylor, que assinala ser o cuidado com o tempo o primeiro instrumento da vida
santa. O empurrão definitivo veio de seu pai, Samuel, que, consultado, afirmou
não conhecer nada melhor para conduzi-lo à verdadeira piedade do que um
diário cristão.
Com a finalidade de usá-lo no meticuloso controle do uso do tempo e na
auto-avaliação espiritual permanente, Wesley manteve seu Diary até pouco antes
da morte, jamais imaginando ou pretendendo que fosse publicado.
112
Ao lado desse diário secreto, Wesley manteve o Journal.’ espécie de diário
publico, cujo primeiro volume, publicado em 1739, traz informações desde
outubro de 1735, quando da viagem à Geórgia, até janeiro de 1738, já de volta a
Inglaterra. Não há no Journal a preocupação minuciosa de descrever as atividades
desenvolvidas de hora em hora, nem o objetivo de uma avaliação espiritual
permanente. O que há são relatos de viagens, experiências de pregação, inúmeros
outros assuntos sérios e também depoimentos mais extrovertidos sobre questões
prosaicas, alheias totalmente ao âmbito religioso.
No Journal de 5 de abril de 1790, ele anota que,S estando em
Northwich, presenciou um fato muito interessante, um dos fenômenos mais
extraordinários que tinha visto ou ouvido falar. O sr. Seller lhe mostrou, no
pátio de sua casa, um grande cachorro Newfoundland e um velho corvo.
Os dois animais se apaixonaram tanto um pelo outro que não mais se
desgrudavam. A intimidade chegou a ser tão grande que o pássaro aprendeu
a imitar o latido do cachorro tão perfeitamente que ficava difícil distinguir
um do outro. Muitas vezes se ouvia o cachorro latindo, mas, na verdade, era
o corvo imitador. Outro dado curioso confirmando a forte paixão dos dois
animais é que quando, por alguma razão, o cachorro saía de casa, o corvo
mostrava-se visivelmente inconsolável. No caso de o cachorro permanecer
fora de casa alguns dias, o corvo recolhia seus ossos e restos de alimento,
guardando-os até a volta do companheiro.

6 de abril - Arrumando Tempo para Ouvir as Pessoas

Os metodistas ficavam exultantes com a presença de John Wesley em suas


comunidades. Porém, ela não era muito freqüente por conta de suas constantes
e necessárias viagens. Ele e o irmão Charles eram os maiores responsáveis pelo
acompanhamento do trabalho metodista. Havia uma infinidade de tarefas em
desenvolvimento, entre elas, e uma das mais importantes, o acompanhamento
do trabalho dos pregadores,
Apesar da agenda sobrecarregada, John Wesley sempre encontrava tempo
para conversar. Ouvia muitos testemunhos, que destacavam a ação de Deus. Um
deles, registrado em seu Journal(6 jahr./1 75ó), é sobre uma pessoa que acreditava
firmemente na eficácia da oração feita com fé. Tinha sofrido um acidente, ferindo
gravemente o tornozelo e, como o problema era sério, o médico recomendou

113
um tratamento demorado. Entretanto, o paciente voltou a se movimentar antes
do tempo recomendado, de forma que não houve o restabelecimento completo.
Sete anos depois, convertido à fé cristã, regressava da igreja quando tropeçou
num pedaço de madeira e caiu pesadamente sobre o tornozelo machucado.
Ao tentar se levantar, percebeu a nova e grave lesão. Estendido ao solo, orou:
“O Senhor, não poderei ouvir ã Tua Palavra durante algumas semanas”.
Imediatamente, sugeriu-lhe uma voz interior: “Invoca o nome de Jesus Cristo
e ficarás curado”. Ao ouvir aquilo, saltou, esticou o pé e disse: “Senhor Jesus
Cristo, invoco o Teu nome, permita-me a cura”. No mesmo instante a dor
passou e o pé estava completamente restabelecido.

7 de abril - O Bom Samaritano

Em 7 de abril de 1755, em viagem a Manchester, John Wesley vivenciou


algumas interessantes experiências. Na metade do caminho, durante uma
pausa para o almoço, se aproximou de uma mulher sentada na cozinha e
perguntou-lhe se estava bem, pois sua aparência não era saudável. Ela havia
estado recentemente enferma, com todos os sintomas de uma pleurisia. Leigo
apaixonado pela medicina, ele recomendou a ela um remédio simples, fácil,
barato e quase infalível no combate àquela doença. Passou-lhe a receita: bastava
um punhado de urtiga, fervida por alguns minutos, e aplicada nas costas. A
mulher ficou feliz com a atenção de Wesley e mais ainda com a descoberta da
chance de curar-se.
Enquanto ele tomava sua refeição, um ancião bem vestido explicou estar 1
regressando à sua casa, perto de Hounslow, na esperança de chegar a um acordo .
com seus credores, a quem já havia entregue quase todos os bens. Lamentou não
saber como continuar a viagem, pois. estava sem dinheiro e havia contraído uma. 1
febre terçã. Wesley ofereceu-lhe pequena ajuda e prometeu interceder junto ai
Deus por ele, confiando que a sábia Providência dirigiria seus passos, de maneira;|
a encontrar remédio para os seus males. ;J
Adiante, Wesley alcançou um pobre homem arrastando-se com as muletas, i
Estava indo para Nottmgham, onde vivia sua esposa. Suas duas pernas tinham j
quebrado abordo de um barco e, cuidando de sua saúde, havia gasto praticamentéff
todo o seu dinheiro. Em seu Journal,, Wesley anota que também aquele homemti
mostrou-se agradecido
cv
com a conversa e oronto

Dara
j.
aceitar a mão de Deus. t! tf
À tarde, na chegada a Barton Forge, levando o cavalo até um ferreiro para trocar as
ferraduras, contatou cinco ou seis famílias e falou-lhes do Evangelho. A noite, durante
LÇ' sua pregação, lá estava a maior parte das pessoas com quem tinha estado ao longo do
dia. Com todo o carinho, Wesley exortou a todos a se amar e a se ajudar uns aos outros.
d
8 de abril - Casamento Feliz

Charles Wesley casou-se com Sarah Gwvnne no dia 8 de abril de 1749. Seu
U primeiro contato com Sarah ocorreu em Bristoj e, depois disso, ele a visitou
algumas vezes em Garth, sua cidade natal. A cerimônia de casamento realizou-se
numa capela próxima à casa da noiva. Charles contava com 42 anos e Sarah com
23. Diferentemente do casamento de John, o de Charles Wesley foi muito feliz.
O casal teve oito filhos, mas apenas três sobreviveram, dois homens, Charles e
Samuel, e uma mulher, Sarah.
Depois de casado, Charles continuou como pregador itinerante por poucos
anos. Abandonou a itinerância em 1757, estabelecendo-se em Bristol até 1771,
quando mudou-se definitivamente para Londres. Na capital, passou a dedicar
mais tempo às sociedades metodistas da cidade, pregava frequentemente na
;; City Road Chapei e desenvolveu excelente trabalho pastoral com os presos. Não
^apenas* os visitava e pregava o Evangelho, como também escreveu inúmeros
hinos para serem cantados por eles.
Depois de seis anos de casados, num texto à esposa, Charles Wesley confessa:
Ao ler as passagens sobre o nosso casamento, você não pode imaginar quanto amor
lhe tenho e a todos da sua família. Sua mãe, pai, irmã, primas e criadas têm se portado
de tal modo comigo que não posso deixar de amá-los. E me recordo com prazer de
todos os passos e circunstâncias em que a Providência Divina nos guiou em nosso
amor. Regozijo-me ao refletir sobre nossa união tão. abençoada e me sinto grato a
todos que contribuíram para isso. Acima de tudo, quero agradecer ao nosso Benfeitor
por haver dado você ao meu coração, para lhe satisfazer os desígnios e levar-lhe as
“bodas do Cordeiro”.

19 de abril - Culto de Vigília

Os cultos de vigília entre os metodistas foram instituídos oficialmente em


9 de abril de 1742, em Londres. Recomendava-se serem marcados uma vez por
mês, numa sexta-feira, preferencialmente a mais próxima da lua cheia. O objetivo
era facilitar a presença de um grupo maior de pessoas. Como a vigília terminava
sempre após a meia-noite, a claridade da lua ajudava a caminhada das pessoas
que moravam mais distantes dos locais de reunião.
Antes dessa instituição formal, os metodistas já se reuniam em vigília. Tudo
começou quando alguns da sociedade de Kingswood passaram a se reunir nas
noites de sábado para oração, louvor e gratidão a Deus. O objetivo era cumprir
a recomendação apostólica de “vigiar e orar”. Entretanto, praticamente uma
década antes, alguns membros do Clube Santo já faziam algo nesse sentido.
Benjamim Ingham (com hesitante encorajamento de John Wesley) passou a
reunir alguns metodistas de Oxford para passar parte da noite do sábado em
vigília, como preparação ao domingo. Mais tarde, em maio de 1741, também em
Kingswood, Charles Wesley “fazia vigília” com seu irmão John. A experiência foi
tão boa que Charles anotou em seu Journal: “Gostaria que esse costume primitivo
fosse reavivado entre todos os nossos irmãos”.
John Wesley via com bons olhos o novo hábito adotado em Kingswood.
Além do precedente dessas “assembléias à meia-noite” nas igrejas primitivas,
que se estendiam na madrugada, tal prática estava de acordo com as “vigílias”
da Igreja da Inglaterra. Ele achava que todas as sociedades deveriam adotá-la. A
recuperação desse antigo hábito cristão poderia ser um meio eficaz para salvar
uma alma da morte ou “tirar o tição da fogueira”. Os mineiros, que antigamente
passavam as noites na taberna, agora podiam gastar esse tempo em oração.

10 de abrií - Buscando Novas Experiências

A busca de novas experiências espirituais é muito comum, e uma necessidade,


entre os cristãos. Quem não exercita os atos de piedade, e não usa os meios de
graça, corre o risco de contaminar-se pela escierose espiritual. Por outro lado,
quando a busca espiritual é realizada atabalhoadamente e sem discernimento,
pode produzir esquizofrenia espiritual, transformando pessoas em consumidores
insaciáveis de novas experiências.
Numa carta escrita a Hester Ann Roe, em 10 de abril de 1781, john
Wesley aborda esse tema e assinala que muitos metodistas, durante o grande
derramamento do Espírito Santo em Londres, se entusiasmaram e começaram
a falar de várias novas bênçãos recebidas. Porém, depois de certo tempo,
■concluíram não haver bênção maior que o amor puro, em geral acompanhante
da plena segurança da esperança da salvação. As Escrituras Sagradas sempre
'' apresentam o amor como o ponto mais alto, o dom supremo.
Nessa mesma carta, ele ainda destaca ser bastante comum dar credibilidade
a uma doutrina que sustente que “nenhum santo cai da graça” ou “uma vez
salvo, salvo para sempre”. Para Wesley, tal doutrina não encontra apoio na Bíblia.
Frequentemente surgem pessoas atrevidas e presunçosas defendendo essa posição,
achando que a santidade ou a falta dela não faz diferença, nem afeta nada, que
tudo continua igual se a pessoa peca e serve ao Diabo ou se atende a Deus: o que
importa é se a pessoa já foi ou não salva, essa é uma questão definitiva.
Wesley ensina que a “pleroforia” (segurança plena) da fé é uma convicção
tão clara de a pessoa estar sob o favor de Deus que exclui toda dúvida e temor.
É tão nítida e segura que transmite extrema tranquilidade, a crença de gozar a
y glória de Deus. Essa confiança difere totalmente da opinião de que “nenhum
santo cai da graça”. No momento em que o cristão cede a qualquer impiedade,
na vida ou no coração, já não tem tão clara a plena segurança, de modo que ela
só existe enquanto a pessoa permanece firmemente ligada a Deus.

11 de abril - Resolvendo Problemas de Relacionamento

John Wesley encontrava-se na Irlanda, desde o início de abril de 1767,


7 entusiasmado com o trabalho metodista. De forma geral, as pessoas daquela
fregião tinham temperamento amável, a suavidade e cortesia dos irlandeses,
a seriedade dos escoceses e a franqueza dos ingleses. Embora plenamente
:satisfeito com a acolhida e o desenvolvimento das sociedades metodistas,

ele também encontrava problemas e situações que precisavam ser corrigidas.


1 'Uma das sociedades enfrentava sérios problemas de relacionamento, inclusive
(entre líderes. Eram pessoas fervorosas e dedicadas, mas, por alguma razão, não
Í conseguiam conviver harmoniosamente.
Procurando dirimir os desajustes, Wesley sugeriu ao grupo permanecer ali ao
|lado dele para resolver as desavenças. Todos concordaram. Mediando a conversa,
deu liberdade para que um a um fosse colocando as questões incômodas. Houve
ita discussão e tentativa de entendimento, mas nada deu certo. O próprio
(Wesley usou de todos os argumentos possíveis para produzir o ajustamento,
oltou-se ao ponto inicial e os conditos persistiram.

117
Reconhecendo que aquela dinâmica não estava trazendo o resultado esperado]?
contribuindo até para reforçar o problema, Wesley achou necessário recorrer ar
um expediente mais eficaz. Convidou todos para orar juntos, permitindo' ao:
Espírito Santo realizar o que eles não estavam conseguindo. A proposta foi:
acolhida e quase imediatamente o grande poder de Deus se manifestou sobre
todos. Começaram a chorar, tocados pela graça divina. Os mais exaltados e
encolerizados romperam em grande pranto e, em poucos minutos, estavam se
abraçando, pedindo perdão e perdoando. Em pouco tempo desapareceu qualquer
resquício de conflito. Estavam unidos, bem mais do que nunca.

12 de abril - Abrindo o Jogo

No dia 12 de abril de 1789, um domingo de Páscoa, os cultos dirigidos pòíl


John Wesley foram bastante concorridos. De manhã, a celebração da ressurreição?’!
de Jesus foi marcante, sensibilizando todos os presentes. O culto da tarde também H
foi extraordinário, com um público bem maior do que aquele que o salão podia
comportar. Wesley estava com 86 anos de idade e ficou emocionado com a ação |f|
de Deus no seio do povo chamado metodista. Só Deus podería realizar obra tão
bonita como aquela. Jlj
Após o culto da tarde, em reunião com a sociedade local, Wesley falou
com mais detalhes sobre o propósito do metodismo. Ninguém deveria participar
do movimento sem antes concordar inteiramente com suas doutrinas. Segundo^
Wesley, o plano original do metodismo não consistia em criar um gruptijjj
distinto e separado; a meta era estimular, primeiramente, os membros da IgrejS
Anglicana, mas também todos, cristãos ou hereges, a adorar a Deus em espírittp
e em verdade.
Seu objetivo, naqueles 50 anos, tinha sido procurar a unidade do corpo
Cristo, Ele não queria o metodismo como um grupo separado, .tampouco quèjj
surgisse no meio metodista um sentimento de arrogância em relação aos demai^
cristãos. Naquele período, jamais alterara a doutrina da lareia; havia apenasil
* * * '—' * ^ ,rO<e

modificado algumas ênfases em virtude das necessidades surgidas ao longo:


dos anos: 1 . pregação ao ar livre; 2 . oração de improviso ou extemporânea;
organização de sociedades; 4. aceitação da ajuda de pregadores leigos. Aiér
dessas quatro, outras modificações foram efetuadas visando à prevenção e
remoção de males e perigos.
||3 de abril - Como é Bom Pregar o Evangelho

John Wesley adorava pregar. Na sua última Páscoa, em abril de 1790, ele
jpfj>regou duas vezes, de manhã e à noite, sem sentir o mínimo cansaço. Por volta
de 1.600 pessoas participaram da Ceia do Senhor. Naquela noite, ele dormiu
feliz e em paz.
Pregou dezenas de milhares de sermões, em grande parte confirmados em
seus diários. A seguir, algumas experiências registradas por Wesley:
1. Em 14 de setembro de 1740, ao regressar à noite à sua casa, não tinha
ainda descido da carruagem quando uma multidão o assediou.
Regozijei-me e louvei o Senhor, reconhecendo ser aquele o momento que havia
buscado. Imediatamente falei aos que estavam ao redor sobre a “justiça e o juízo
vindouro” (At 24.25). No início, nem todos escutaram, pois era grande o barulho.
Mas, aos poucos, o silêncio aumentou até o ponto de uma congregação silenciosa
e atenta. Ao deixá-los, mostravam muito amor e nos despedimos com uma bênção.

2. Em 12 de ahril de 1748, Wesley encontrava-se em Athlone, na Irlanda.


Preguei sobre Hebreus 13.20 e me despedi daquela gente amorosa, cuja amabilidade
nunca vi, nem na Europa, nem na América. Mais de cem me seguiram a pé, e muitos
a cavalo, por um quilômetro e meio até o alto da colina. Ali cantamos o hino de
despedida - homens, mulheres e crianças com lágrimas nos olhos. Catorze homens
a cavalo continuaram até Clara, nove milhas irlandesas mais. $e a gente de Athlone
amasse a Deus como me ama, seria elogiada por toda a Terra

3. Na manhã de 24 de junho de 1761, às 6 horas, Wesley pregava na


Baía de Robin Hood, na Rua Lower. “No meio do sermão, um grande
gato saiu assustado de uma das habitações, saltou sobre a cabeça de
uma mulher e por cima dos ombros de várias pessoas. Ninguém se
assustou, se moveu ou gritou. Parecia até que, em vez de um enorme
gato, uma mariposa tivesse sobrevoado a assistência, tal a tranqüilidade
dos ouvintes.”
d Em 12 de setembro de 1784, Wesley pregou em Kingswood, sob a sombra

de uma dupla fileira de arvores semeada por ele propno 40 anos antes.
“Alguém poderia imaginar que as árvores teriam um dia essa finalidade? O
sol brilhava tão quente como na Geórgia, mas seus ráios não conseguiram
penetrar nossa cobertura. E o nosso Senhor, enquanto isso, brilhou sobre
muitas almas e refrescou os abatidos.”

119
7
14 de abril - Chegam Novos Ajudantes goutrina e a disciplina metodista publicadas nos quatro volumes dos Sermões e
aas Notas sobre 0 Novo Testamento, junto com as Atas extensas da conferência.
 missão merodista na América recebeu grande reforço em abril de 1773
com a chegada de Thomas Rankin, escolhido assistente geral por John Wesley IS de abril - Santificação é o Grande Tesouro
Antes de Rankin, em 1769, tinham chegado Richard Boardman ejoseph Piknoor
e, em 1771, Francis Asbury. Também em 1773 realizou-se a primeira conferência A Em abril de 1777, John Wesley lançou os alicerces da nova capela metodista
dos pregadores metodistas na América, com dez pregadores, cinco distritos e na City Road. Na ocasião, ele pregou com base no texto de Números 23.23,
1.160 membros. ig abordando o metodismo como o “despertar e o progresso de um extraordinário
Em carta dirigida a Rankin, no início de dezembro de 1773, Wesley trabalho de Deus”. Segundo ele, o metodismo não consistia numa nova religião,
recomenda tratar as sociedades com odmismo: não se deveria afirmar mas na “antiga” religião da Bíblia, da igreja primitiva.
continuamente que elas estavam ruins ou mortas, pois tal prática redundaria Anos depois, já no final do seu ministério, ele reflete sobre a singularidade
em seu fracasso. O ideal era o esforço em estimular sempre as esperanças do metodismo, dizendo que “a doutrina da santificação é o grande tesouro
do grupo, falando ao mesmo tempo com júbilo e determinação e exortando depositado por Deus nas mãos do povo chamado metodista”. Entretanto,
constantemente tempos melhores. 7 nem todos os pregadores do movimento assumiram devidamente essa norma,
O momento político era bastante delicado: muitos colonizadores resumida por Wesley para Robert C. Brackenbury, em 15 de setembro de
identificavam os metodistas como traidores, por causa da fiel lealdade de Wesley 1790. Os pregadores metodistas formavam um grupo heterogêneo e exigiam
à Coroa. Defensor intransigente da perspectiva Tory, ele cria na idéia de que acompanhamento constante: alguns, de determinado circuito, nem sequer
Deus, e não o povo, era a fonte de todo o poder. Em pronunciamento escrito aos abordavam o tema do grande tesouro depositado por Deus, outros se concentravam
pregadores metodistas, em Io. de março de 1775, Wesley faz algumas importantes exclusivamente na temática do amor de Deus.
recomendações, reconhecendo a difícil situação por eles vivida: Ao irmão Charles, que, durante certo período, esteve incumbido de examinar
A responsabilidade de vocês é converter-se em agentes da paz, ser carinhosos e os pregadores metodistas, John Wesley assinalou, em julho de 1766; “Busca o
atentos com todos, mas sem incorporar qualquer partido. Apesar das insistências, que puderes, até encontrar o que quiser. Não espere homens sem manchas nem
das palavras duras ou suaves, não digam uma só palavra contra um lado ou outro. ; rugas”. Em 1751, preocupado com o fato de não ter pregadores suficientes para
Mantenham-se puros, façam o que puderem para suavizar as coisas, só não abracem A ;; cuidar das sociedades já estabelecidas, John recomendou ao irmão não ser tão
as brigas dos outros. Estejam sempre unidos, porque isso é sumamente importante. A ' inflexível na avaliação, nem reprovar “os jovens sem muita necessidade”.
Não evitem apenas amarguras ou ira entre voçês, mas também a timidez e a frieza. 7
Para conseguir o mínimo de unidade entre os pregadores, Wesley teve de se
Identifiquem uC pessoas que tratarão de colocá-los uns com os outros. Sempre
encontrarão tais pessoas. ..■esforçar bastante. Ao amigo Charles Perronet, confidenciou: “Se pudéssemos,
' por uma vez, levar todos os nossos pregadores, itinerantes e locais, uniforme s
Nem todos os pregadores enviados por Wesley permaneceram na América, ir fifirmemente a insistir nos dois pontos Cristo morrendo por nós e Cristo reinando em
Papel importantíssimo foi desenvolvido por Francis Asbury, confirmado como A pós, abalaríamos as trêmulas portas do inferno”.
assistente gerai para a América, em setembro de 1783, logo após a conclusão J Visando a essa tão desejada unidade, nasceu, em 1746, um projeto de
política da guerra da independência, com a assinatura da Paz de Paris. Na carta - ; .teguiamentar a recepção de novos pregadores. Esse exame dos pregadores
enviada aos pregadores na América, Wesley confirma a nomeação e assinala não 7
constava de inúmeras perguntas:
querer que “nossos Irmãos americanos recebam ninguém que não o aceite como |
Eles sabem em quem têm crido? Possuem o amor de Deus em seus corações?
assistente geral”. Ele também faz um apelo para que todos se decidam a cumpní
Desejam e buscam somente a Deus? Eies são santos em todo c seu comportamento?

izi
7
14 de abril - Chegam Novos Ajudantes goutrina e a disciplina metodista publicadas nos quatro volumes dos Sermões e
aas Notas sobre 0 Novo Testamento, junto com as Atas extensas da conferência.
 missão merodista na América recebeu grande reforço em abril de 1773
com a chegada de Thomas Rankin, escolhido assistente geral por John Wesley IS de abril - Santificação é o Grande Tesouro
Antes de Rankin, em 1769, tinham chegado Richard Boardman ejoseph Piknoor
e, em 1771, Francis Asbury. Também em 1773 realizou-se a primeira conferência A Em abril de 1777, John Wesley lançou os alicerces da nova capela metodista
dos pregadores metodistas na América, com dez pregadores, cinco distritos e na City Road. Na ocasião, ele pregou com base no texto de Números 23.23,
1.160 membros. ig abordando o metodismo como o “despertar e o progresso de um extraordinário
Em carta dirigida a Rankin, no início de dezembro de 1773, Wesley trabalho de Deus”. Segundo ele, o metodismo não consistia numa nova religião,
recomenda tratar as sociedades com odmismo: não se deveria afirmar mas na “antiga” religião da Bíblia, da igreja primitiva.
continuamente que elas estavam ruins ou mortas, pois tal prática redundaria Anos depois, já no final do seu ministério, ele reflete sobre a singularidade
em seu fracasso. O ideal era o esforço em estimular sempre as esperanças do metodismo, dizendo que “a doutrina da santificação é o grande tesouro
do grupo, falando ao mesmo tempo com júbilo e determinação e exortando depositado por Deus nas mãos do povo chamado metodista”. Entretanto,
constantemente tempos melhores. 7 nem todos os pregadores do movimento assumiram devidamente essa norma,
O momento político era bastante delicado: muitos colonizadores resumida por Wesley para Robert C. Brackenbury, em 15 de setembro de
identificavam os metodistas como traidores, por causa da fiel lealdade de Wesley 1790. Os pregadores metodistas formavam um grupo heterogêneo e exigiam
à Coroa. Defensor intransigente da perspectiva Tory, ele cria na idéia de que acompanhamento constante: alguns, de determinado circuito, nem sequer
Deus, e não o povo, era a fonte de todo o poder. Em pronunciamento escrito aos abordavam o tema do grande tesouro depositado por Deus, outros se concentravam
pregadores metodistas, em Io. de março de 1775, Wesley faz algumas importantes exclusivamente na temática do amor de Deus.
recomendações, reconhecendo a difícil situação por eles vivida: Ao irmão Charles, que, durante certo período, esteve incumbido de examinar
A responsabilidade de vocês é converter-se em agentes da paz, ser carinhosos e os pregadores metodistas, John Wesley assinalou, em julho de 1766; “Busca o
atentos com todos, mas sem incorporar qualquer partido. Apesar das insistências, que puderes, até encontrar o que quiser. Não espere homens sem manchas nem
das palavras duras ou suaves, não digam uma só palavra contra um lado ou outro. ; rugas”. Em 1751, preocupado com o fato de não ter pregadores suficientes para
Mantenham-se puros, façam o que puderem para suavizar as coisas, só não abracem A ;; cuidar das sociedades já estabelecidas, John recomendou ao irmão não ser tão
as brigas dos outros. Estejam sempre unidos, porque isso é sumamente importante. A ' inflexível na avaliação, nem reprovar “os jovens sem muita necessidade”.
Não evitem apenas amarguras ou ira entre voçês, mas também a timidez e a frieza. 7
Para conseguir o mínimo de unidade entre os pregadores, Wesley teve de se
Identifiquem uC pessoas que tratarão de colocá-los uns com os outros. Sempre
encontrarão tais pessoas. ..■esforçar bastante. Ao amigo Charles Perronet, confidenciou: “Se pudéssemos,
' por uma vez, levar todos os nossos pregadores, itinerantes e locais, uniforme s
Nem todos os pregadores enviados por Wesley permaneceram na América, ir fifirmemente a insistir nos dois pontos Cristo morrendo por nós e Cristo reinando em
Papel importantíssimo foi desenvolvido por Francis Asbury, confirmado como A pós, abalaríamos as trêmulas portas do inferno”.
assistente gerai para a América, em setembro de 1783, logo após a conclusão J Visando a essa tão desejada unidade, nasceu, em 1746, um projeto de
política da guerra da independência, com a assinatura da Paz de Paris. Na carta - ; .teguiamentar a recepção de novos pregadores. Esse exame dos pregadores
enviada aos pregadores na América, Wesley confirma a nomeação e assinala não 7
constava de inúmeras perguntas:
querer que “nossos Irmãos americanos recebam ninguém que não o aceite como |
Eles sabem em quem têm crido? Possuem o amor de Deus em seus corações?
assistente geral”. Ele também faz um apelo para que todos se decidam a cumpní
Desejam e buscam somente a Deus? Eies são santos em todo c seu comportamento?

izi
Têm dons (e também a graça) para o trabalho? Possuem (em um grau tolerável)
compreensão clara e profunda? Conservam o julgamento correto das coisas de
Deus? Trazem consigo a concepção justa da salvação pela fé? Deus lhes deu o dom
da elocução? Falam justa, fácil e claramente? Têm frutos? Falam, em geral, apenas
para convencer ou influenciar os ouvintes? Ou têm obddo a remissão dos pecados
mediante suas pregações? E também a sensação clara e duradoura do amor de Deus?

16 de abri! - O que é o Céu?

O que é o céu? É um lugar geográfico ou uma situação determinada, um


estado de espírito? Numa carta datada de abril de 1776, John Wesley trata a
questão, freqüentemente presente nas lições de Escola Dominical e que continua
ainda sem resposta. A
Alguns escritores fazem uma distinção que parece boa: a parte essencial
do céu e as partes secundárias. Uma pessoa de pouca instrução também faria
essa distinção, çomo o pobre camponês à beira da morte, em Frederica: “Claro
que o céu é um lugar muito bom. Porém, isso não me importa. Eu quero é ver
Deus e estar com Ele”. Para Wesley, a questão não deve ser abordada dessa
maneira. Não se trata de saber se o céu é um lugar físico ou uma condição
espiritual, pois não há oposição entre os dois pontos. O céu é tanto o lugar
onde Deus mora com os santos em condição glorificada como um estado de
espírito privilegiado.
Wesley relembra que Homero imaginava o céu como um lugar geográfico- d
pavimentado com bronze. Na mesma linha, o famoso poeta inglês Milton falájl
de um céu pavimentado com lâminas de ouro ou o define mais subümementéj|
como “casa de Deus, pavimentada de estrelas”. A descrição dessa casa de Deus g
tão completa quanto somos capazes de imaginar é encontrada em várias partes
do Apocalipse. Esse livro traz uma visão formosa do lugar santíssimo, onde há, 4
primeiramente, aquele sentado ao trono, depois, as quatro criaturas viventes, os:||
vinte e quatro anciãos, uma multidão incontável e, ao redor de todos, grande
número de anjos constituídos por Deus numa ordem maravilhosa.
Concluindo, Wesley afirma que, além da questão sobre o que é o céu,
outra bem mais importante a ser considerada por todos os cristãos. Tratá
se de saber não no que consiste, mas o que é essencial no céu. Segundo eie,j
o essencial, indubitavelmente, é ver Deus, eonhecê-Lo, amá-Lo, Vendo

122
conhecendo Deus, entenderemos Sua natureza e Suas obras da criação, da
M -providência e da redenção.
Wesley sempre se mostrou avesso a discutir temas para ele irrelevantes.
Qualquer polêmica só poderia ser levada a efeito se tivesse relação com artigos
básicos da fé cristã. O céu não é um tema que exija uma teologia mais elaborada.
Assinala ele: “Certamente, quando estivermos lá, no paraíso, apenas em uma hora
aprenderemos muito mais do que durante todo o transcurso de nossa vida física”.

17 de abril - Leituras Inadequadas

No dia 17 de abril de 1764 John Wesley .visitou Helmsley, desejoso de


i jQ; conhecer o trabalho metodista naquela cidade. Dirigindo-se à residência do sr.
;ÉjConyers, foi informado de que o dono da casa tinha saído e voltaria dentro
||(de poucos minutos. Convidado a entrar e esperar, foi conduzido a uma sala
que servia de escritório e biblioteca. Muito curioso, ele examinou alguns livros
ffcsobre a mesa e registrou: “Pelos livros que vi esparramados pela mesa e à janela,
pude perceber a razão de sua atual frieza; ele, que estava tão animado um ano
■§
atrás. Nenhum dos nossos livros, em verso ou em prosa, estavam por ali, apenas
títulos de outra natureza. Se nossos irmãos fossem tão zelosos para se fazerem
W cristãos como o são para se fazerem calvinistas!”.
Foi grande a luta de Wesley contra o calvinismo. Ele estava convencido de
que a ênfase calvinista na atividade predeterminada de Deus, no momento da
^justificação (“uma vez salvo, salvo para sempre”), normalmente resultaria em
aidade espiritual e acomodação moral. Dizia que todos estamos, em todos os
omentos, agradando ou desagradando a Deus, de acordo com nossas obras,
|nosso temperamento interior e noscç comportamento exterior. Nenhuma
‘inatividade pode estar em harmonia com o crescimento na graça. Sem rigor na
ttarefa de remir o tempo é impossível reter até mesmo a nova vida recebida na
justificação.
A conferência metodista de 1770 tratou da questão sobre o que poderia ser
ieito para reavivar o trabamo dc :le estava decaindo. A resposta foi
|dar mais atenção à doutrina, pois havia, descuido e inclinação ao calvinismo. Em
Predestinação: uma reflexão desapaixonada, Wesley relaciona exaustivamente 90
ISópicos sobre o assunto, Quase no finai, destaca: “Dia a dia vejo tristes exemplos
pie almas, especialmente que já haviam começado a boa carreira, destruída pelo
diabo em razão dessa doutrina contrária às Escrituras. Isso me impulsiona a me
opor a ela, baseado no mesmo princípio que me faz trabalhar para salvar almasJ
da destruição. (...) A doutrina da predestinação conduz naturaimente à ante-sala
da morte”.

18 de abril - Lutando Contra a Escravidão

John Wesley foi um ferrenho opositor do regime da escravidão negra.


Na carta endereçada a Samuel Hoare, em 18 de abril de 1787* assinala que
os metodistas dos Estados Unidos estavam comprometidos com essa luta e
enfrentariam violenta oposição dos escravistas.
Há uma ou duas semanas recebí uma carta do sr. Clarkson, informando sobre o seu
propósito verdadeiramente cristão de procurar, se possível, uma Ata do Parlamento .
para a abolição da escravidão em nossas fazendas. Por muito tempo desçjei
quitar essa nossa desonra, não somente à religião, mas à própria humanidade,
especialmente quando leio os tratados do sr. Benezet e os textos do sr. Sharp sobre
o assunto. Meus amigos na América pensam o mesmo. Estão libertando várias
centenas de pobres negros, cada dia mais, tão rapidamente quanto possível, quando
as circunstâncias o permitem. São pequenos passos contra essa terrível abominação.
Mas o plano do sr. Clarkson ataca as raízes. E se colocado em prática, será uma
honra permanente para a nação britânica. E uma grande satisfação saber que muitos
de vocês estão dispostos a respaldar tal medida. No entanto, sem dúvida, vocês
terão oposição forte e violenta, pois os donos de escravos são um grupo numeroso,
rico e, portanto, poderoso. E quando o negócio deles está em perigo, não estão
vocês tocando na menina de seus olhos? Não reunirão todas as forças contra vocês
e mandarão chamar todos os amigos? Não empregarão escritores mercenários, que ;
lhes tratarão sem justiça ou misericórdia? Porém, confio, senhores, que isso não
lhes causará medo.

A previsão de Wesley era correta. Os escravaglstas do Sul dos Estados


Unidos fizeram violenta oposição aos metodistas. Entretánto, com os
numerosos movimentos de reavivamento espiritual e o consequente hl
crescimento do metodismo, houve uma mudança substancial da sua y||
configuração doutrinária. Cresceu bastante o número de metodistas
indulgentes ou até mesmo defensores do regime escravocrata. Com isso, o y
conflito aprofundou-se e produziu, em 1844, a divisão da Igreja Metodista, ú
com a criação, dois anos depois, da Igreja Metodista Episcopal do Sul.

124
19 de abril - É Preciso Reformar

Em 19 de abril de 1764, Wesley remete uma carta a 40 ou 50 clérigos da


Igreja da Inglaterra, apelando aos colegas de ministério reconhecer e aproveitar
o metodismo para a reforma da Igreja. Seria possível uma união em torno de
alguns pontos fundamentais.
Segundo Wesley, quando Deus começou sua grande obra na Inglaterra,
havia poucos obreiros, no entanto, eram todos unidos de um só coração. Mas
aquilo durou pouco tempo. Primeiro caiu um, logo outro, até que, com exceção
dele e de seu irmão, sobraram pouco mais de dois elementos, o que impediu
a realização de muita coisa boa e produziu muito de ruim. Entristeceu-os e
debilitou-os. Ofereceu a seus inimigos comuns a oportunidade de blasfemar.
Deixou perplexos e confundidos muitos cristãos sinceros.
Conforme o número de obreiros foi aumentando, também cresceu a desunião
entre eles. As ofensas se multiplicaram. Em vez de se aproximar uns dos outros,
distanciaram-se, até que os irmãos em. Cristo, e também companheiros e obreiros
no Evangelho, perderam totalmente a conexão e o companheirismo. Deveria ser
assirn? Aqueles integrantes de um só corpo, ligados a uma só cabeça e servos
de um mesmo Senhor não deveriam unir-se na mesma obra? “Falo agora com
aqueles obreiros ministros da Igreja da Inglaterra”, afirma Wesley.
A unidade possível e necessária entre os obreiros não era uma unidade de
opinião, de pontos de vista, de vocabulário. Era salutar o desacordo sobre diversos
temas. Ele esperava outro tipo de unidade: que o líder falasse com respeito e bondade
do colega, defendesse o caráter, recomendasse, elogiasse e ajudasse o companheiro
no que fosse necessário, com todos os meios honestos possíveis. Os pregadores não
deveriam julgar, nem ser invejosos, nem se entristecer com as vitórias dos outros,
nem torcer pela queda deles. Nunca falar sem respeito, com frieza ou sem bondade
dos colegas, repetir as suas faltas, erros e debiiidades, dar atenção às intrigas sobre
eles, nem fazer qualquer coisa que prejudicasse o. seu trabalho.
Wesley sabia da dificuldade de sua recomendação ser acatada por todos.
Sabia que o diabo e seus anjos eram contra ela, como também todos os que
não conhecem Deus. Se os pastores não confiassem em si mesmos, jamais
conseguiríam alcançar seu objetivo. Entretanto, para Deus, a união é possível.
Ao que crê tudo é possível. Essa união era proposta aos que crêem e mostram
sua fé por intermédio das obras.
Ele repete a frase de Thomas Kempis, escrita em Imitação de Cristo: Expecta
Dominum, mriliter age (et confortare); noli diffidere, noli discedere; sed corpus et animam
exporte constanterpro gloria Dei (Espera no Senhor, atua virilmente, tem valor, não
te desesperes, não fujas, apenas constantemente entrega a alma e o corpo para a
glória de Deus).

20 de abril - O Senhor Ressuscitou

Na manhã de 20 de abril de 1747, uma segunda-feira, às 9 horas, John


Wesley pregou a uma grande congregação, em Renton, e, às 6 da tarde, em
Osmotherley, no cemitério, perto da igreja. O tema era O Senhor ressusàtou
verdadeiramente (Lc 24.34). Ao ver a multidão ouvindo o Evangelho, ele comenta:
“Quão sabiamente Deus ordena todas as coisas! Alguns não escutariam a
Palavra de Deus fora de um templo. Para o bem deles, pregamos no templo.
Outros não escutariam no templo. Para o bem deles, somos obrigados a
freqüentemente pregar nos caminhos’’.
Em Osmotherley, encontrou-se çom John Nelson, pregador metodista e.
grande amigo, que lhe relatou suas mais recentes experiências. Tinha pregado
vários dias em Heworth Moor e, no culto do domingo de manhã, um grupo de
desordeiros de York, contratado para provocar tumulto, colocou-se no meio da
congregação. Ao final do sermão, o líder do grupo gritou: “Por que não esmiolam
o cachorro?”.. Depois, da palavra de ordem, os membros do grupo começaram
a atirar tudo o que tinham nas mãos, dispersando a congregação rapidamente. T
Nelson deixou a cidade em direção a York, mas o grupo de desordeiros o seguiu, ^
atirando tijolos e pedras, atingindo-o, várias vezes, nas costas e na cabeça. Uma J
das pedradas na cabeça, de tão forte, o fez desmaiar. Dois moradores de Acomb J
apiedaram-se dele e o conduziram até a entrada da cidade, onde um honesto .
comerciante o levou para sua residência. Os revoltosos continuaram a persegui- "à
lo, jurando que destruiríam todas as janelas da casa se o pregador metodistaA
não a deixasse. O comerciante, homem de muita coragem, enfrentou o grupo: 5
"quem tocar na mmiia casa aguentara as consequências e, durante toda a vida, ■■J
não se esquecerá”. Só então os malfeitores se retiraram. ,3|
Nelson relatou ainda que um cirurgião havia curado a sua ferida na cabeça e, %
refeito, ele escolheu um lugar na cidade e começou a cantar um hino, visando a J
atrair as pessoas para um culto, juntou uni oom grupo, mas, antes que começasse ç

125
o sermão, os mesmos desordeiros começaram a atirar pedras e terrões. Dois
deies o espancaram com toda - - -y na cabeça e no peito, chutando-o quando
já estava caído ao chão. Julgando-o morto, deixaram-no. Mas pela misericórdia
de Deus, foi novamente acolhido, voltou a si e, depois de uma noite de descanso,
já estava recuperado para continuar seu ministério.

21 de abril - Irmãos Separados

Os irmãos John e Charles Wesley eram diferentes em muitos aspectos e


discordavam em muitos pontos. Em carta de 27 de junho de 1766, John declara
ao irmão: “Na administração, ganho de você, mas na boa poesia, você é o
^vencedor. Siga o seu próprio caminho, fazendo o que Deus o vocacionou fazer.
Insista na bênção instantânea, então, eu terei mais tempo para meu chamado
: particular, persistindo na obra gradual”.
Já no início do movimento, a questão moraviana separou os irmãos. Em
21 de abril de 1741, John escreve que se alegrava ao saber que o irmão estava
expressando suas idéias de forma mais livre, mas não podia concordar com todas
elas. Sentindo-se abandonado pelo irmão e pelos companheiros John Cennick,
Joseph Humphreys e Westley Hall, ele reclama terem todos sido seduzidos
pelo conde de Zinzerdorf, deixando-o só. Ao final da carta, em tom de tristeza,
assinala: “O veneno está em ti. As palavras bonitas capturaram o seu coração”.
Uma das reclamações de Charles era que o irmão cobiçava demais o poder.
:Numa carta, de 4 de dezembro de 1751, John revela conhecer essa opinião e

daga: “Em que sentido crê ser necessário aquebraritar o meu poder e reduzir
'.minha autoridade a limites aceitáveis?”. A questão do poder relacionava-se
•i diretamente com o tema da separação da Igreja da Inglaterra, que também
afastava os irmãos. Charles dispunha-se a evitar a separação da Igreja a qualquer
feeusto, ao passo que John também o queria, mas não de forma tão determinada.
iReferindo-se ao irmão, Charles revela: “Seu primeiro objetivo era o metodismo,
.depois a Igreja. O meu era primeiro a Igreja e, depois, os metodistas”.
Em alguns momentos o tema da separação se tornou mais candente. For
,esse motivo, Charles não participou da conferência de 1785, irritado com o que
considerava “fraqueza dp irmão” a respeito do assunto. Em carta de 19 de agosto
pde 1785, John diz ao irmão pretender ser muito objetivo e, se ele estivesse de
Jacordo seria ótimo, mas, se não, poderíam “concordar em estar em desacordo”,
como falava Whitefield. Concluindo, faz um comovente apelo: “Se quiser caminhar
de acordo comigo, faça-o. Porém, não seja um obstáculo para mim se não quiser
ajudar. Talvez, se tivesse permanecido ao meu lado, eu conseguiría fazer melhor.
Mas, sem dúvida, com a sua ajuda ou sem ela, avanço lentamente”.
Apesar das diferenças, os dois irmãos se respeitavam profundamente. Em
27 de junho de 1766, John registra que a distância era um estratagema de Satanás
e que eles precisavam ser mais inteligentes, pensar em voz alta, usar a luz e a
graça por eles recebida para se ajudar mutuamente. Mais tarde, em carta de 14
de junho de 1768, desabafa: “Estou cansado de nossas guerras internas, dos
pregadores falando um contra o outro. Acertemos isso, de uma vez por todas”.

22 de abril - Falso Profeta

Na Inglaterra do século XVIII, a relativa liberdade religiosa permitia espaço


aos mais diversos tipos de manifestações. Inúmeros personagens peregrinavam
pelos cantos do país, anunciando suas virtudes místicas. Sempre que era informado
da presença de alguém com esse figurino, Wesley cuidava de averiguá-la.
No dia 22 de abril de 1746, acompanhado do sr. Piers, foi ver uma pessoa
que se autodenominava profeta. Uma hora ao seu lado foi mais que suficiente
para Wesiey dar um veredito. Não podia crer que fosse enviado por Deus,, pelas
seguintes razões: estava cheio de si mesmo, vão, temerário e obstinado; tinha
falado com extrema amargura tanto do Rei, como dos bispos e do clero; insistia :.
em se comunicar em latim, sem o conseguir, demonstrando que ele próprio não >|
entendia seu chamado. ' Wà
. i-M
Para Wesley, a principal tarefa do pregador consistia em expor e tornar claro o m
texto bíblico. Era de suma importância seus pregadores aprenderem a interpretar 7||
a Bíblia corretamente e, com tal propósito, lhes ofereceu várias diretrizes.
A primeira, e mais importante, afirma dever-se mergulhar na Bíblia de modo í||j
que ela impregne profundamente a vida, o pensamento e até linguagem dá-S|j
pessoa. Não basta ter boa vontade ou modernos instrumentos de interpretação
E tundamental a inserção, bastante visível na vida de John wesley. Ao ler seus
sermões, percebe-se que as palavras bíblicas e as suas próprias estão entremeadas,
constituindo um único tecido.
A segunda assinala que a Bíblia deve ser lida em sua totalidade, como uma só.
unidade, Ela possui uma mensagem básica e nenhum texto pode ser interpretado ;

128 ■
de forma contraditória a ela. A terceira diretriz, recomendada repetidamente
,por Wesley a seus pregadores, é a escolha de textos com sentido claro. O
propósito da pregação é informar a mensagem da Bíblia, chamar os ouvintes
J ao arrependimento e à obediência, e não procurar elucidar passagens obscuras,
destrinçar profundidades teológicas ou demonstrar erudição.
A advertência contra os perigos de uma interpretação excessivamente
alegórica ou espiritualizada é a quarta diretriz. O texto bíblico, sempre que
possível, deve ser considerado em seu sentido literal. Somente se recorre à
alegoria nos casos em que o senddo literal contradiz a mensagem da Bíblia, do
amor de Deus.
A quinta diretriz de Wesley sugere evitar o tom moralista da pregação cristã,
limitada a dizer aos ouvintes o que devem fazer. Os mandatos de Deus também
são promessas e Ele não nos manda fazer nada sem, ao mesmo tempo, prometer
a graça necessária à sua realização. Trata-se do equilíbrio entre Evangelho e Lei.
Deve-se falar sobre os mandamentos, sobre aquilo que se requer de nós, mas não
se pode esquecer da graça maravilhosa de Deus, oferecida na medida certa para
cumprir o que é mandado.
Por último, Wesley fala sobre os perigos de uma interpretação bíblica
excessivamente particular. Considera-se orgulhosamente um homo unius libri
(homem de um só livro), enfatizando a autoridade suprema das Escrituras, mas
também acha que, apesar de todas as possibilidades de equívocos, a Igreja e a
tradição podem servir como guia, menos sujeito ao erro do que uma interpretação
individual e solitária.

23 de abril - Repreensões que Contribuem

John Wesley era bastante exigente com os pregadores metodistas. Um deles,


Thomas Meyrick, chegou a lhe dar muito trabalho, obrigando a repreendê-lo
seriamente e a encará-lo como um caso perdido. No final de abril de 1744, Meyrick
enviou a Wesley uma carta, falando da nova experiência vivida e agradecendo
suas severas correções.
Estou completamente convencido Ge que o seu temor à minha pessoa procede
inteiramente do seu amor por minha alma. Portanto, devo pensar que seria culpado
da maior ingratidão se não me esforçasse em fazer uso apropriado de sua bondosa
repreensão, Sei que minha alma não prosperou. Que minha vivência não tem sido

ou cereal com água Com a ajuda de Deus, isso lhe protegerá de uma desordem nervosa,
como se estivesse na presença de Deus. Que não tenho me portado como desejo 'IP
espeqalmente se levantar bem cedo, todas as manhãs, quer pregue quer não. Seja firmemente
um seguidor sério e humilde de Jesus Cristo. Não tenho sido muito exemplar em
sério; não há outro país no mundo onde isso c mais necessário do que na Irlanda. (...)
meu comportamento, que deveria ser consistente com o trabalho importante para
Em cada povoado, visite de casa em casa a todos que puder. (...) E por esse meio que
o qual fui designado. (...) Não estou livre de culpa, mas ultimamente descobri, ou D; I
as sociedades crescem, onde quer que Thomas Ryan esteja. Desde cedo até à noite ele
melhor, senti em minha alma muitos obstáculos à obra de Deus. Antes os via,
prega, advertindo cada pessoa, para poder apresentá-la perfeita diante de Jesus Cristo. Em
mas em vão, sem me preocupar em libertar-me deles. Portanto, permaneceram
toda e qualquer ocasião, evite familiaridade com as mulheres. Ela é um veneno mortífero,
como outras tantas barreiras insolúveis em meu caminho. Ultimamente estive
tanto para elas como para você. Não há como pecar por ser demasiado cauteloso nesse
muito confuso, uma vez que as repreensões recebidas me colocaram sob
assunto. Comece a fazê-lo desde agora. O tópico principal de sua conversação, tanto como
estrito auto-exame. De imediato, encontrei muitos aspectos negativos que se
de sua pregação, devem ser os temas mais importantes da lei. Há também várias coisas
mostraram uma carga tão pesada a ponto de eu passar dias inteiros aflito. (...)
pequenas a serem realizadas com sinceridade. Eis algumas delas: Seja ativo e diligente,
Estive por muito tempo em estado de morte, sem vida, tendo perdido os agradáveis
sabores do amor de Deus por mim um dia desfrutados. Não conseguia encontrar
I evite a preguiça, a moleza e a indolência Fuja delas, senão nunca passará de meio cristão.
Seja limpo. Nesse aspecto os metodistas deveríam imitar o padrão dos quakers. Evite o
prazer na oração, nem orar com o coração. Se me forçava a orar (já que era uma cruz
aspecto desagradável, a sujeira, o desasseio em sua pessoa, roupa, casa e tudo o que o
dolorosa), a vergonha cobria meu rosto e mal podia levantar os olhos, consciente da
rodeia. (...) Que sua roupa sempre esteja em bom estado. Nunca a use rasgada, esfarrapada.
infidelidade a Deus e da negligência da minha vigilância, Ficou suspensa toda relaçãoA
entre Deus e minha alma. (...) Quando me apresentava sozinho diante de Deus À (...) Remende suas roupas ou não espere que as pessoas remendem suas vidas. Que
ninguém veja um metodista maltrapilho. Fique limpo dos piolhos. Eles são prova da
procurando colocar minhas queixas, minha boca se fechava e o diabo sussurrava '■&
falta de limpeza e de asseio. Não corte o seu cabelo; mantenha-o sempre limpo. (...)
aos meus ouvidos: “Em que te ajuda a oração?”. Se continuava perseverante fS
na oração, minha mente se enchia de milhares de pensamentos supérfluos, de Não use tabaco, a menos que receitado por um médico. E um capricho impuro e
modo a não conseguir permanecer ajoelhado. Meu coração se endurecia cada daninho. Rompa com esse costume pernicioso. (...) Os cristãos não devem
vez mais, a ponto de me fazer imaginar que logo estaria completamente perdido; 3 continuar com tal vício. Não toque o licor. É fogo líquido, veneno seguro e lento,
Mas bendito seja o Senhor! Algum tempo atrás encontrei um avivamento de i que drena as forças da vida. À bebida, ao tabaco em pó e às casas cheias de fumo
amor e passei a ter mais comunhão com Deus do que em outros tempos recentes. v|| atribuo a cegueira tão comum nç país.
Que seja meu cuidado constante vigiar e orar, pois a negligência nessas coisas foi
a causa principal da minha morte anterior! A ligeireza e a inconstância mentaí
que me oprimiam agora desapareceram. Com freqüência, encontro grande;;; S5 de abril - Falecimento de Samuel
doçura em minha alma e posso chorar por minha passada ingratidão a Deus!
Ore por mim, estimado senhor. (...) Não posso deixar de agradecer pelo muito Samuel, pai dos irmãos Wesiey, faleceu no dia 25 de abril de 1735, aos 69
que lhe devo, diante de Deus, por seu cuidado, repreensões e bondade. Quf íos de idade. Seu ministério pastoral havia sido desenvolvido na comunidade de
Deus lhe recompense!
Ipworth, pequena vila com população de dois mil habitantes, que não mediram
Isforços para atrapalhar seu trabalho pastoral. Perseguições, ódios, prisões
24 de aDril — Cuidando da Saúde lovimentaram a sua vida. Amigos recomendavam-lhe abandonar o lugar, mas
jfe se manteve sempre firme e decidido. Em 1705, era carta dirigida ao arcebispo
Durante sua visita à Irlanda, Wesiey escreveu, em 24 de abril de 1769, uíril York, Samuel conta um pouco das suas lutas.
severa carta ao pastor Pichará Steel, com 13 sugestões sobre pregação, visitação! A maioria dos meus amigos mc aconselha a abandonar Epworth, se é que reaimente
saúde e comportamento, entre outros temás. me proponho a sair daqui com vida. Confesso que não compartilho essa idéia, pois
imagino poder ainda fazer algum bem ali, Eu me sentiría covarde se desertasse do
Quero lhe dizer as coisas que tenho em mente desde meu regresso da Irlanda. Se nãdt meu posto, só porque o inimigo concentra seus' dardos inflamados contra mim. Np
as levar cm conta-, sofrerá; se as observar, será bom para nós dois. Comecemos com'fJ momento, chegaram a ferir-me, mas creio que não poderão matar-me.
pequenas. Se a saúde é importante para você, não jante nada mais que um bouco de le!f^

131
ISO

ou cereal com água Com a ajuda de Deus, isso lhe protegerá de uma desordem nervosa,
como se estivesse na presença de Deus. Que não tenho me portado como desejo 'IP
espeqalmente se levantar bem cedo, todas as manhãs, quer pregue quer não. Seja firmemente
um seguidor sério e humilde de Jesus Cristo. Não tenho sido muito exemplar em
sério; não há outro país no mundo onde isso c mais necessário do que na Irlanda. (...)
meu comportamento, que deveria ser consistente com o trabalho importante para
Em cada povoado, visite de casa em casa a todos que puder. (...) E por esse meio que
o qual fui designado. (...) Não estou livre de culpa, mas ultimamente descobri, ou D; I
as sociedades crescem, onde quer que Thomas Ryan esteja. Desde cedo até à noite ele
melhor, senti em minha alma muitos obstáculos à obra de Deus. Antes os via,
prega, advertindo cada pessoa, para poder apresentá-la perfeita diante de Jesus Cristo. Em
mas em vão, sem me preocupar em libertar-me deles. Portanto, permaneceram
toda e qualquer ocasião, evite familiaridade com as mulheres. Ela é um veneno mortífero,
como outras tantas barreiras insolúveis em meu caminho. Ultimamente estive
tanto para elas como para você. Não há como pecar por ser demasiado cauteloso nesse
muito confuso, uma vez que as repreensões recebidas me colocaram sob
assunto. Comece a fazê-lo desde agora. O tópico principal de sua conversação, tanto como
estrito auto-exame. De imediato, encontrei muitos aspectos negativos que se
de sua pregação, devem ser os temas mais importantes da lei. Há também várias coisas
mostraram uma carga tão pesada a ponto de eu passar dias inteiros aflito. (...)
pequenas a serem realizadas com sinceridade. Eis algumas delas: Seja ativo e diligente,
Estive por muito tempo em estado de morte, sem vida, tendo perdido os agradáveis
sabores do amor de Deus por mim um dia desfrutados. Não conseguia encontrar
I evite a preguiça, a moleza e a indolência Fuja delas, senão nunca passará de meio cristão.
Seja limpo. Nesse aspecto os metodistas deveríam imitar o padrão dos quakers. Evite o
prazer na oração, nem orar com o coração. Se me forçava a orar (já que era uma cruz
aspecto desagradável, a sujeira, o desasseio em sua pessoa, roupa, casa e tudo o que o
dolorosa), a vergonha cobria meu rosto e mal podia levantar os olhos, consciente da
rodeia. (...) Que sua roupa sempre esteja em bom estado. Nunca a use rasgada, esfarrapada.
infidelidade a Deus e da negligência da minha vigilância, Ficou suspensa toda relaçãoA
entre Deus e minha alma. (...) Quando me apresentava sozinho diante de Deus À (...) Remende suas roupas ou não espere que as pessoas remendem suas vidas. Que
ninguém veja um metodista maltrapilho. Fique limpo dos piolhos. Eles são prova da
procurando colocar minhas queixas, minha boca se fechava e o diabo sussurrava '■&
falta de limpeza e de asseio. Não corte o seu cabelo; mantenha-o sempre limpo. (...)
aos meus ouvidos: “Em que te ajuda a oração?”. Se continuava perseverante fS
na oração, minha mente se enchia de milhares de pensamentos supérfluos, de Não use tabaco, a menos que receitado por um médico. E um capricho impuro e
modo a não conseguir permanecer ajoelhado. Meu coração se endurecia cada daninho. Rompa com esse costume pernicioso. (...) Os cristãos não devem
vez mais, a ponto de me fazer imaginar que logo estaria completamente perdido; 3 continuar com tal vício. Não toque o licor. É fogo líquido, veneno seguro e lento,
Mas bendito seja o Senhor! Algum tempo atrás encontrei um avivamento de i que drena as forças da vida. À bebida, ao tabaco em pó e às casas cheias de fumo
amor e passei a ter mais comunhão com Deus do que em outros tempos recentes. v|| atribuo a cegueira tão comum nç país.
Que seja meu cuidado constante vigiar e orar, pois a negligência nessas coisas foi
a causa principal da minha morte anterior! A ligeireza e a inconstância mentaí
que me oprimiam agora desapareceram. Com freqüência, encontro grande;;; S5 de abril - Falecimento de Samuel
doçura em minha alma e posso chorar por minha passada ingratidão a Deus!
Ore por mim, estimado senhor. (...) Não posso deixar de agradecer pelo muito Samuel, pai dos irmãos Wesiey, faleceu no dia 25 de abril de 1735, aos 69
que lhe devo, diante de Deus, por seu cuidado, repreensões e bondade. Quf íos de idade. Seu ministério pastoral havia sido desenvolvido na comunidade de
Deus lhe recompense!
Ipworth, pequena vila com população de dois mil habitantes, que não mediram
Isforços para atrapalhar seu trabalho pastoral. Perseguições, ódios, prisões
24 de aDril — Cuidando da Saúde lovimentaram a sua vida. Amigos recomendavam-lhe abandonar o lugar, mas
jfe se manteve sempre firme e decidido. Em 1705, era carta dirigida ao arcebispo
Durante sua visita à Irlanda, Wesiey escreveu, em 24 de abril de 1769, uíril York, Samuel conta um pouco das suas lutas.
severa carta ao pastor Pichará Steel, com 13 sugestões sobre pregação, visitação! A maioria dos meus amigos mc aconselha a abandonar Epworth, se é que reaimente
saúde e comportamento, entre outros temás. me proponho a sair daqui com vida. Confesso que não compartilho essa idéia, pois
imagino poder ainda fazer algum bem ali, Eu me sentiría covarde se desertasse do
Quero lhe dizer as coisas que tenho em mente desde meu regresso da Irlanda. Se nãdt meu posto, só porque o inimigo concentra seus' dardos inflamados contra mim. Np
as levar cm conta-, sofrerá; se as observar, será bom para nós dois. Comecemos com'fJ momento, chegaram a ferir-me, mas creio que não poderão matar-me.
pequenas. Se a saúde é importante para você, não jante nada mais que um bouco de le!f^

131
ISO
Com salário muito pequeno, sofrendo inúmeras vicissitudes, ele conseguiu
dar aos filhos a melhor educação possível na Inglaterra da época. Para John,
escreveu que lutaria duramente, visando a obter o dinheiro necessário à sua
ordenação. Além desse üpo de apoio, sempre incentivou os filhos, escrevendo- •' Ú
lhes, todos os dias, cartas extraordinárias. Teve de superar muitos desafios, como
se pode observar em uma de suas orações:
Estou cansado de minhas aflições, meu coração me falha, a luz de meus olhos vai se ír
apagando, afundo em águas profundas e não há quem possa ajudar-me. Mas ainda
assim espero meu Deus. Embora todos me abandonem, o Senhor me susterá e Nele
encontrarei sempre a mais verdadeira, carinhosa, compreensiva, infindável e poderosa
amizade. Deixem-me que Nele eu alegre minha alma atribulada e descanse de todas
as minhas tristezas.

Uma de suas maiores paixões foi a poesia. Em latim, escreveu um grande


poema sobre Jó. Erudito, conhecia muito bem, além do latim, o grego, o hebraico
e outros idiomas modernos. Numa carta escrita ao filho John, expõe o plano de.
editar em formato oitavo a Bíblia sagrada, em grego, hebraico, caldaico, no grego
da Septuaginta e na Vulgata Latina.
De saúde frágil, esperava que um de seus filhos o sucedesse na paróquia
de Epworth, apesar de todos os problemas sofridos, inclusive o incêndio
supostamente criminoso de sua casa, em 1709. Em dezembro de 1734, Samuel
explicita essa sua vontade, em carta ao filho John. Dois anos antes, havia feito a
mesma proposta ao filho Samuel Junior:
Minha primeira e maior razão para isso é que estou persuadido de que servirá a Deus
e a seu povo aqui melhor do que eu o fiz, embora — graças sejam dadas a Deus! - -7.
depois de quase 40 anos de trabalho entre essa gente, percebe-se muita melhora, com- |
mais de cem pessoas presentes à última celebração da Santa Ceia, quando geralmente
não há mais que 20.

26 de abril - Espinho na Carne

Em 26 de abril de 1765, uma sexta-feira, por volta do meio-dia, Wesiey pregou ,


em Mussçlburgh, na Escócia, a um pequeno grupo. A noite, teve a oportunidade de c
pregar em Edimburgo e, terminado o coito, despediu-se formalmente das pessoas.
Apesar de tudo ter corrido bem - o culto fora abençoado e as pessoas.,
ficaram felizes com a sua presença -, Wesley não sc sentiu tranquilo. Desd*

132
sua saída de Newcasde a essa longa viagem missionária, ele preocupava-
í se-com o inchaço em sua coxa direita. No início da viagem, o ferimento
era pequeno e não incomodava a sua locomoção. Uma semana depois, o
pequeno sinal já havia se tomado o tamanho de um ovo de galinha e, no dia
anterior aos cultos, 25 de abril, o que poderia ser um furúnculo estourou,
deixando-o bastante preocupado com o fato de não poder montar a cavalo,
sobretudo um cavalo trotador, como era o seu, e de não ter como cumprir
seus compromissos.
No dia seguinte ao culto em Musselburgh, Wesley viajou já bem cedo a
Glasgow. Olhando o ferimento, percebeu uma vez mais a mão de Deus: o
inchaço diminuira sensivelmente e ele podia prosseguir tranqüilo. Dois ou três
dias mais tarde, já não havia mais sinal do ferimento. Embora acostumado
com o tratamento de enfermidades daquele tipo, não sabia o certo o que lhe
ocorrera. Se tinha sido um furúnculo, era único, pois em nenhum momento
sentira qualquer dor ou incômodo maior. Mesmo sem uma idéia precisa do
ocorrido, acreditou não ter muito a questionar, reconhecendo a ação de Deus,
mais uma vez, em sua vida.

27 de abril - Confortando Oprimidos

Numa quarta-feira, 27 de abril de 1737, visitando a fazenda do sr. Bellingér,


na Geórgia, Wesley ouve de um dos escravos: “Quando estava em Ashley Ferry,
ia à igreja todos os domingos, mas aqui vivemos enterrados no bosque. Ainda
que tivesse uma igreja a quase 10 quilômetros daqui, estou tão coxo que não
posso caminhar, mesmo assim me arrastaria até lá”.
Desde agosto de 1736, quando, em contato com diversos escravos na igreja
em Charleston, descobriu que eles não tinham nenhuma instrução cristã e nada
conheciam sobre os princípios básicos da fé cristã, Wesley pensou um projeto
de evangelização específico.
Taivez uma das formas mais. fáceis e rápidas de ensinar o cristianismo aos negros
americanos seria, primeiro, encontrar os fazendeiros mais sérios e perguntar-lhes
quais dos seus escravos inciinam-se ao cristianismo e entendem ingiês. Depois, ir até
esses escravos, de fazenda em fazenda, permanecendo o tempo necessário. Estive
com três ou quatro cavalheiros na Carolina, que se mostraram bem contentes em
prestar tal ajuda.
r
Esses primeiros contatos com a realidade da escravidão são significativos,
pois vão marcar a posição de John Wesley e do metodismo sobre a questão. Além
do interesse pelo trabalho de catequese, esforçando-se para admitir escravos
negros no seio do movimento metodista, Wesley também se opôs firmemente
ao tráfico de escravos africanos, formando a Soáety for the Suppression of the Slave
Trade (.Sociedade o Fim do Comércio de Escravos). Ele concordava inteiramente com a
posição adotada, em 1772, por Lord Mansfield, de que “o escravo torna-se livre
assim que colocar os pés em território inglês”.

28 de abril - Dando um Jeitinho

Aquela quinta-feira, 28 de abril de 1748, amanheceu escura, fria e


chuvosa. John Wesley, como de costume, acordou cedo e se aprontou para
viajar, cumprindo um compromisso agendado. Todos ao redor diziam não ser
possível viajar em meio a uma tempestade daquelas, mas ele precisava manter
a sua palavra. -4
Antes das cinco da manhã, o encarregado de lhe arrumar um cavalo veio : vi
dizer que não daria para viajar num dia como aquele. Wesley então falou a ele dos ■í
seus compromissos, convencendo-o a alugar o cavalo. Preparou a montaria e
partiu, confiante de que Deus guardaria a sua jornada. Antes das nove da manhã
chegou a Kilcock, parando para visitar uns conhecidos. O velho fazendeiro
e sua esposa estavam enfermos: ele com gota e a mulher com uma sensação
generalizada de mal-estar.
Wesley orou pelo casal, leu trechos da Bíblia e lembrou que as provações são
sinais do amor de Deus e do Seu amor a todos os purificados. Ao ouvir aquilo a :
mulher se derramou em lágrimas: “Oh, Senhor, ofereço-lhe meus sofrimentos,
minha dor, minha enfermidade. Se me ama, isso é suficiente. Aqui estou: faça de
mim o que seja Sua vontade”.
Antes do meio-dia ele chegou a Kinnegad. Exausto, descansou cerca de uma
hora e logo retomou a viagem. Tinha 22 quilômetros pela frente até chegar a seu
destino. As 6 da tarde, alcança TyrreUspass e, uma hora depois, já se reunia com
a sociedade metodista local, pregando a Palavra de Deus. Sentia-se bem, feliz
por ter cumprido o seu compromisso e descobrir os irmãos metodistas cheios
da graça de Deus.
| 29 de abril - Sou de Jesus e Ele é Meu

No dia 29 de abril de 1759, John Wesley estava em Stockport, preparando-se


para pregar o Evangelho. Andou pelo povoado, à procura de um lugar adequado,
e, finalmente, encontrou um campo verde agradável, onde aconteceu o culto
solene e abençoado.
Terminada a cerimônia, aproveitou para rever uma menina de 13 anos de
idade, doente, convertida numa outra vista sua à cidade. Ela contou que, durante
20 meses, teve intensas e constantes dores em todo o corpo. Antes não sabia do
Senhor Jesus, mas agora o conhecia e sabia que era conhecida por Ele: “Sou de
Jesus e Ele é meu”. Ao ver o semblante sereno da menina, Wesley perguntou
se ela não se reclamava mais da dor e da enfermidade. A resposta o deixou
p impressionado: “Não tenho sequer um pensamento de queixa. Sou felÍ2 sempre.
Não trocaria essa cama de aflição pelo palácio do rei Jorge”.
Num misto de assombro e preocupação, ele lembrou a possibilidade de
ela ficar orgulhosa de sua enfermidade e que aquilo seria um erro. A menina
explicou-lhe que não havia motivo para preocupar-se, pois não sentia o mínimo
orgulho. Só tranqüilidade, porque reconhecia a Deus como tudo na sua vida.
Muitas vezes a dor incessante a fazia chorar, mas não havia medo, nem revolta.
Tinha entregado sua vida ao Senhor e, se aquela era a Sua vontade, estava pronta
para enfrentar a morte. Dizia que o mundo era cheio de perigos e, como o
apóstolo Paulo, ficaria feliz em poder encontrar o seu querido Salvador.

30 de abril - Valorizando o Jejum

John Wesley aconselhava muitos pregadores a seguir o exemplo de Samuel


IjMeggot, que, por meio do jejum, conseguira dinamizar um circuito capenga.
| Com base em Mateus 6.16-18, explica como deve ser o jejum:
Km nrimHro lugar, é fundamental que se volte exclusivamente ao Senhor e que nossos
olhos estejam sempre fixos Nele. Que nossa intenção seja glorificar nosso Pai que está
aos céus, expressar nossa vergonha e dor pelas transgressões cometidas contra a Sua
santa Lei, aguardar o aumento da graça purificadora, fixar nossos afetos nas coisas
do alto, acrescentar seriedade e honestidade às nossas orações, apartar a ira de Deus
e obter as grandes e preciosas promessas que Ele nos fez por meio de Jesus Cristo.
É preciso tomar cuidado e evitar que o jejum se converta em prática para alcançar
o reconhecimento das pessoas. Contra isso há a admoestação do Senhor: “Quando-
jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas, que desfiguram o rosto
com o fim de parecer aos homens que ieiuam” (Mt 6.16).

Outro risco freqüente é transformar o jejum em obra meritória. Muitos


imaginam que, jejuando, se tornam merecedores de alguma coisa. O desejo de
estabelecer nossa própria justiça, de procurar a salvação por mérito, e não por
graça, é algo profundamente arraigado nos corações humanos. Não devemos
imaginar que o mero e formal cumprimento do jejum atrairá inevitavelmente a
bênção divina. O jejum não é uma armadilha com vista a alcançar algum fruto,
por mais honroso e necessário que seja. Também não é uma prova de resistência,
A saúde, dom de Deus, deve ser preservada. Qualquer esforço extraordinário,
comprometedor da saúde, transforma o jejum em sacrifício, em obra humana.
O jejum é um precioso meio de graça, devendo ser realizado em todas as
oportunidades possíveis, acompanhado de ardente oração, do derramamento
da alma diante de Deus e da confissão, ao Senhor, dos pecados, necessidades,
culpabilidades e desamparos. Que sejam feitas orações por nós mesmos, por
nossos irmãos, pelo povo de Deus e por toda a humanidade.
Para que o jejum seja completo, é necessário estar associado a obras de
misericórdia, como disse o anjo do Senhor a Cornélio, em seu jejum e oração:
“Suas orações e suas esmolas elevaram-se para memória diante de Deus” (At 10.4).
Maio

Por volta das 10 horas, meu irmão foi-me trazido


em triunfo por um grupo de amigos e declarou:
“Eu creio

John Wesley, sobre a experiência do coração


aquecido alcançada pelo irmão Charles
12 de maio - Proibida a Presença de Vagabundos

Entre as inúmeras acusações sofridas por Wesley, uma delas era a de que
transformava os trabalhadores em vagabundos e, em decorrência disso, muitas
famílias se tornavam mendigas. Em Um chamado fervoroso às pessoas razoáveis e
religiosas, ele se defende da acusação:
Vou explicar como se originou tal acusação. Dois ou três anos após o meu regresso da América,
um capitão Robert Williams, de Bnstol, apresentou ao intendente da cidade uma declaração
sobre ser de conhecimento geral o fato de eu tirar as pessoas do trabalho, convertendo-as
em odosas, por pregar-lhes demasiadamente. Na verdade, tudo ocorreu do seguinte modo.
Quando retomei de Savannah, a maioria das pessoas se levantava às 7 ou 8 da manhã. Os que
trabalhavam, o faziam até as 6 da tarde, poucos atéas 7, horário em que, no verão, o solse esconde.
Comecei as orações e pregações nos pehodos da manhã e da noite: o serviço matutino
tinha inído às 5 e terminava antes das 6 horas e o vespertino principiava às 7 horas da J
noite. Pois bem, supondo que todos os adultos assistissem as pregações de manhã e à "
tarde, isso os transformaria em gente odosa? Teriam menos ou mais tempo para trabalhar?
Continuo seguindo a mesma regra em Londres, Bnstol e Newcasde, conduindo o serviço
religioso, seja verão seja inverno, antes das 6 da manhã e não começo antes das 7 da noite.
Muito bem. Vocês, que fazem tais objeções, por acaso trabalham o ano todo das 6 às 6?
Queriam que todos trabalhassem dessa maneira? Poderão chamar de odosos ps que
cumprem esse horário? É verdade que alguns costumam trabalhar mais horas. A estes
aconselho não vir nos dias de semana, sendo evidente que seguem o meu conselho, com
raras exceções, em alguma ocasião extraordinária. Porém, espero que nenhum de vocês,
que demitem essas pessoas de seus empregos, se atreva a afirmar que eu os converto em
odosos. Estamos tão distantes de estimular a ociosidade que não permitimos aos conheddos -
como odosos partidpar de nossas sodedades. São expulsos como se fossem ladrões ou ;i
assassinos. Mostrar diligência em tudo (assim como frugalidade) é uma das regras das quais ,7|
fazemos as mais minudosas averiguações. . :J§

2 de maio ~ Adesão Equivocada


m
A decisão de Samuel, filho caçula de Charles Wesley, de aderir ao catolicismo
romano trouxe transtornos à família. N u.ma car i a*
2 de maio de l /84 m
a Sarah e Charles, irmãos mais velhos de Samuel, John Wesley comenta:
Não duvido da aflição de vocês por conta de Samuel ter mudado de religião. Ele mudou
suas opiniões e seu modo de adorar. Mas isso não é religião; é coisa compleiamente
diferente. Vocês podem perguntar: !rEntão ele não sofreu nenhuma perda com a
mudança?”. Sim, sofreu perda irreparável, pois sua nova opinião e seu novo modo de
adorar são tão desfavoráveis para a religião (...). O que é a religião? É a felicidade em
Deus ou no conhecimento e no amor de Deus. E a fé operando por meio do amor
(G1 5.6), produzindo justiça, paz e gozo no Espírito Santo (Rm 14.17). Em outras
palavras, é um coração e uma vida devota a Deus, comunhão com Deus Pai e Filho,
sentimento que houve também em Cristo Jesus, nos tornando possível andar como Ele
andou (ljo 2.6). Todavia, ou ele tem ou não tem essa religião. Se a tem, finalmente não
perecerá, apesar das opiniões absurdas e não bíblicas e as formas de adorar supersticiosas
e idólatras que adotou. Elas são obstáculos que impedirão grandemente a ele atingir a
carreira proposta. Se não tem essa religião, se ainda não entregou a Deus o seu coração,
o caso é muitíssimo pior: duvido que alguma vez o fará, porque seus novos amigos
tratarão continuamente de impedi-lo, oferecendo-lhe algo mais no lugar, insistindo
para que continue mantendo as formas externas, sem ter nascido de novo, sem temer a
Cristo, sem renovar-se na imagem Daquele que o criou. Isso é uma perversidade mortal.
Portanto, vocês têm muita razão de chorar por ele. Mas não sentem também a necessidade
de chorar por vocês mesmos? Já entregaram o coração a Deus? Têm santidade em seus
corações? Têm o reino de Deus dentro de vocês e justiça, paz e gozo no Espírito Santo?
Clamem ao que é poderoso para salvar-lhes, de modo que possam ter essa única coisa
necessária, a religião verdadeira! Séria e diligentemente usem todos os meios colocados
por Deus em suas mãos! De outra maneira, não se surpreenderíam se Deus permitisse que
fossem levados por uma grande ilusão. Se forem ou não, se protestantes qu papistas, nem
vocês nem ele poderão entrar na glória, a menos que sejam limpos de todá a contaminação
do corpo e do espírito e aperfeiçoados no temor a Deus!

3 de maio - Falando Sobre Perfeição Cristã

Numa ocasião, no ano de 1763, John Wesley pregou à sociedade metodista


de Yarm. Conversando com as pessoas, percebeu logo que quase ninguém
conhecia ao certo a doutrina da perfeição cristã. Os outros pregadores metodistas
ali não tinham falado sobre o tema. Além do esquecimento da doutrina, outro
motivo ainda mais forte produzia todo aquele descrédito: a rudeza de nossos
pobres irmãos de Londres tinha desprestigiado aquela sociedade num raio de
mais de 320 quilômetros. Ou seja, os defensores da perfeição tinham provocado
mais danos que todos os adversários juntos.
Em Breves reflexões sobre a perfeição cristã, escrito no início de 1767, Wesley
afirma:
Hoje de manhã vieram à minha mente algumas idéias a respeito da perfeição cristã,
sobre como e quando a recebemos. Cri que poderia ser útil escrevê-las.
Entendo por perfeição a condição de amar a Deus e ao próximo com um amor humilde uma alteração drástica da disciplina metodista. Não temos esse costume na Inglaterra,
amável, paciente e que governe a nossa maneira de ser, de falar e de agir. Não creio ser Escócia ou Irlanda. Não permitimos a ninguém, exceto ao assistente, permanecer
impossível perdê-la. parcial ou totalmente. Ao a firmar
'
issn rnfnin rrmlfoc
-------------- ’----- V.AJJ/1VÍ50CS
_ __ ._ _J___1 ]^ ^ 'Th, 1 — a . ,
Í1U rilCÒIilU ÍUCiU Uül OCgÜllUU hliu JLd-LVCZ, cu mCÒixiO tCmia. txicuto
M U r\ «r» o o nkf-o

de nossos hinos, que em parte afirmam e em parte sugerem essa impossibilidade o que pregar do que muitos dos nossos pregadores. Sem dúvida, estou seguro de
Não insisto em usar o termo livre do pecado, tampouco me oponho ao seu uso que, se precisasse pregar três anos consecutivos num lugar, tanto as pessoas quanto
Com respeito ao modo da perfeição, creio que ela se produz na alma por um eu mesmo chegaríamos a estar mortos como as pedras. Mais ainda, essa prática é
simples ato de fé. Ocorre, portanto, num instante. Porém, antes e depois desse contrária a toda economia do metodismo. Deus sempre trabalhou entre nós por meio
momento, há uma obra de Deus gradual e progressiva Quanto ao tempo da dessa mudança constante de pregadores.
perfeição, acredito que geralmente é o momento da morte, antes de a alma se
desprender do corpo. No entanto, também pode acontecer 10, 20 ou 40 anos Na carta dirigida a Lady Maxwell, de 8 de agosto de 1788, ele admite o
antes. O usual é dar-se vários anos depois da justificação, mas desconheço qualquer fato de muitas pessoas, na Escócia e na Inglaterra, preferirem manter sempre
razão conclusiva para negar sua ocorrência em cinco anos ou cinco meses. o-mesmo pregador. Mas não podia abandonar o plano de ação seguido desde
Se é necessário transcorrer muitos anos após a justificação, gostaria muito de saber o o início. Durante 5G anos Deus havia abençoado a prática da itinerância. Não
número deles. Quantos dias, meses ou anos podem transcorrer entre a perfeição e a
podia admitir alterações.
morte? Quão afastada da época da justificação e tão próxima da morte?
1 b:-

4 de maio - Itinerância é a Palavra de Ordem 5 de maio - Exemplo a Ser Imitado

Consta no Journal de John Wesley (5/maio/1757) parte da conversa dele com


Em 4 de maio de 1784, na Escócia, John Wesley preocupava-se acerca da-
John Johnson a respeito da srta. Judith Beresford, metodista bastante respeitada
permanência dos pregadores em determinado lugar, por um período maior que
o recomendado. As regras sobre isso sempre foram muito claras e objetivas, mas, e admirada. Johnson teria lhe dito:
às vezes, alguns circuitos promoviam alterações. Judith Beresford sempre foi uma inocente e sóbria jovem mulher, com a aparência
de piedade, até ser convencida de seu pecado e pouco depois justificada. Foi um
Para resolver a questão, ele demonstrou aos pregadores metodistas que a
modelo tanto de piedade como de misericórdia. Apesar de sua fortuna e de seu
permanência deles durante um período maior que 15 dias em um único local . estado enfermo, nunca deixou de trabalhar. Quando não tinha outra ocupação,
trazia muitos prejuízos. Não se podia ficar seis ou oito semanas no mesmo lugar, trabalhava para os pobres. Todos diziam que, se a srta. Beresford não fosse
pois o pregador já não tinha o que dizer e o povo desaparecia. Desse modo, ao céu, ninguém nunca entraria nele, tal era o bom testemunho dado por ela.
o pregador esfriava, ficava na cama, sucedendo o mesmo com as pessoas. Se Tinha fervoroso amor pela Palavra de Deus e não havia dor que a impedisse de ouvi-la.
permanecia até 15 dias, tinha assunto para as pregações e a população vinha % Com freqüência não dormia à noite, com receio de perder a pregação da manhã. Não
perdia oportunidade de reunir-se com seus irmãos, com quem seu coração unia-se
escutá-lo. Passando esse período, as coisas se complicavam. A partir dessa >■
intimamente. Não tinha medo ou vergonha de reconhecer como irmãos seus os mais
conversa, elaborou-se um plano para aquele circuito, visando a fazer um rodízio Dobres, onde quer que os encontrasse e em qualquer companhia. Somente o fato de ye-los
constante entre os pregadores. já provocava grande alegria em sua alma, tanto que eia não podia nem desejava esconder.
Já j_iStaQOS timãos, o modero adotado era oem diferente. Apesar da sua Quando a enfermidade a confinou em seu quarto, regozijou-se com uma alegria
insistência para que fosse observada tal prática, o meíodismo norte-americano já indescritível e mais ainda ao se libertar de todas as dúvidas a respeito da perfeição
nnna adquirido certa autonomia e seguia suas próprias linhas. Em carta a Francis cristã. Nunca ninguém esteve mais sedento do que ela, já que sua mente estava em
Cristo. Diligentemente exortava os irmãos a também buscar a perfeição com fervor
Asbury (30/setembro/1785), Wesley recomenda algumas alterações:
e assiduidade. Quanto mais sua força física diminuía, mais se fortalecia em espírito.
Na. próxima conferência valería a pena considerar profundamente se algum pregador Chamava a todos ao seu redor para ajudarem-na a regozijar-se e louvar a Deus. Sem
ueve permanecer em um único lugar por três anos consecutivos. Isso me alarma, pois é temor, mas com cuidado a si mesma, não se excedia em seu desejo de estar com Cristo.
Entendo por perfeição a condição de amar a Deus e ao próximo com um amor humilde uma alteração drástica da disciplina metodista. Não temos esse costume na Inglaterra,
amável, paciente e que governe a nossa maneira de ser, de falar e de agir. Não creio ser Escócia ou Irlanda. Não permitimos a ninguém, exceto ao assistente, permanecer
impossível perdê-la. parcial ou totalmente. Ao a firmar
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de nossos hinos, que em parte afirmam e em parte sugerem essa impossibilidade o que pregar do que muitos dos nossos pregadores. Sem dúvida, estou seguro de
Não insisto em usar o termo livre do pecado, tampouco me oponho ao seu uso que, se precisasse pregar três anos consecutivos num lugar, tanto as pessoas quanto
Com respeito ao modo da perfeição, creio que ela se produz na alma por um eu mesmo chegaríamos a estar mortos como as pedras. Mais ainda, essa prática é
simples ato de fé. Ocorre, portanto, num instante. Porém, antes e depois desse contrária a toda economia do metodismo. Deus sempre trabalhou entre nós por meio
momento, há uma obra de Deus gradual e progressiva Quanto ao tempo da dessa mudança constante de pregadores.
perfeição, acredito que geralmente é o momento da morte, antes de a alma se
desprender do corpo. No entanto, também pode acontecer 10, 20 ou 40 anos Na carta dirigida a Lady Maxwell, de 8 de agosto de 1788, ele admite o
antes. O usual é dar-se vários anos depois da justificação, mas desconheço qualquer fato de muitas pessoas, na Escócia e na Inglaterra, preferirem manter sempre
razão conclusiva para negar sua ocorrência em cinco anos ou cinco meses. o-mesmo pregador. Mas não podia abandonar o plano de ação seguido desde
Se é necessário transcorrer muitos anos após a justificação, gostaria muito de saber o o início. Durante 5G anos Deus havia abençoado a prática da itinerância. Não
número deles. Quantos dias, meses ou anos podem transcorrer entre a perfeição e a
podia admitir alterações.
morte? Quão afastada da época da justificação e tão próxima da morte?
1 b:-

4 de maio - Itinerância é a Palavra de Ordem 5 de maio - Exemplo a Ser Imitado

Consta no Journal de John Wesley (5/maio/1757) parte da conversa dele com


Em 4 de maio de 1784, na Escócia, John Wesley preocupava-se acerca da-
John Johnson a respeito da srta. Judith Beresford, metodista bastante respeitada
permanência dos pregadores em determinado lugar, por um período maior que
o recomendado. As regras sobre isso sempre foram muito claras e objetivas, mas, e admirada. Johnson teria lhe dito:
às vezes, alguns circuitos promoviam alterações. Judith Beresford sempre foi uma inocente e sóbria jovem mulher, com a aparência
de piedade, até ser convencida de seu pecado e pouco depois justificada. Foi um
Para resolver a questão, ele demonstrou aos pregadores metodistas que a
modelo tanto de piedade como de misericórdia. Apesar de sua fortuna e de seu
permanência deles durante um período maior que 15 dias em um único local . estado enfermo, nunca deixou de trabalhar. Quando não tinha outra ocupação,
trazia muitos prejuízos. Não se podia ficar seis ou oito semanas no mesmo lugar, trabalhava para os pobres. Todos diziam que, se a srta. Beresford não fosse
pois o pregador já não tinha o que dizer e o povo desaparecia. Desse modo, ao céu, ninguém nunca entraria nele, tal era o bom testemunho dado por ela.
o pregador esfriava, ficava na cama, sucedendo o mesmo com as pessoas. Se Tinha fervoroso amor pela Palavra de Deus e não havia dor que a impedisse de ouvi-la.
permanecia até 15 dias, tinha assunto para as pregações e a população vinha % Com freqüência não dormia à noite, com receio de perder a pregação da manhã. Não
perdia oportunidade de reunir-se com seus irmãos, com quem seu coração unia-se
escutá-lo. Passando esse período, as coisas se complicavam. A partir dessa >■
intimamente. Não tinha medo ou vergonha de reconhecer como irmãos seus os mais
conversa, elaborou-se um plano para aquele circuito, visando a fazer um rodízio Dobres, onde quer que os encontrasse e em qualquer companhia. Somente o fato de ye-los
constante entre os pregadores. já provocava grande alegria em sua alma, tanto que eia não podia nem desejava esconder.
Já j_iStaQOS timãos, o modero adotado era oem diferente. Apesar da sua Quando a enfermidade a confinou em seu quarto, regozijou-se com uma alegria
insistência para que fosse observada tal prática, o meíodismo norte-americano já indescritível e mais ainda ao se libertar de todas as dúvidas a respeito da perfeição
nnna adquirido certa autonomia e seguia suas próprias linhas. Em carta a Francis cristã. Nunca ninguém esteve mais sedento do que ela, já que sua mente estava em
Cristo. Diligentemente exortava os irmãos a também buscar a perfeição com fervor
Asbury (30/setembro/1785), Wesley recomenda algumas alterações:
e assiduidade. Quanto mais sua força física diminuía, mais se fortalecia em espírito.
Na. próxima conferência valería a pena considerar profundamente se algum pregador Chamava a todos ao seu redor para ajudarem-na a regozijar-se e louvar a Deus. Sem
ueve permanecer em um único lugar por três anos consecutivos. Isso me alarma, pois é temor, mas com cuidado a si mesma, não se excedia em seu desejo de estar com Cristo.
Quando sua enfermidade se agravou, chamou a mãe e os irmãos e exortou seriamente
cada um deles. Depois disse: ‘‘Agora nada mais tenho a fazer aqui. Estou preparada
para morrer. Digam ao sr. Wesiey que sinto muito não ter crido antes na doutrina da
perfeição divina. Bendito seja Deus”.

Outra pessoa, que também conhecia Judith Beresford, escreveu a Wesiey:


Glória seja a Deus pelo bendito privilégio de estar com ela, noite e dia, um mês antes
da sua morte. Quando fui vê-la pela primeira vez, estava de cama e extremamente
debilitada. (...) Dias antes de morrer, seu amor foi tão grande que clamou: “Yenci!
Venci! Venci!” E, quando tinha apenas forças para falar, louvou a Deus de maneira
maravilhosa. Mesmo quando delirava, suas palavras todas relacionavam-se com as
coisas de Deus. Chamou o sr. Wesiey, como se ele estivesse ao seu lado, e disse: “Oh!,
senhor, quão difícil é o rico entrar no reino dos céus! Sou salva!”.

Ele próprio destaca que JuditK Beresford morreu aparentando ter cem anos
de idade, mas tinha de fato apenas 24 anos.

6 de maio - Um Testemunho Maravilhoso

John Wesiey mantinha correspondência com Judith Beresford. Em uma de


suas cartas a ela, solicitou-lhe um relato de sua experiência religiosa. Recebeu a
seguinte resposta:
Já que deseja saber como fui primeiramente convencida da minha condição de pobre
pecadora, devo começar por dizer que a bondade e a misericórdia me seguiram em :
todos os meus dias. (...) Passei minha meninice com simplicidade e paz. O Senhor
me atraiu com laços de amor e encontrei grande alegria em voltar minha alma na |
Sua direção. Ignorava completamente a noção de pecado original, mas sentia e '
lamentava meus pecados. Depois de algum tempo chorando por eles, senti paz c
renovei minhas decisões. Mas elas não duraram muito, pois o orgulho, a inveja e toda J
a classe de maldades floresceram em meu coração. Sem dúvida, tinha, às vezes fortes %
convicções e tomava frequentemente a decisão de ser muito séria ao me tornar adulta. |
Assim continuei, desde os oito ou 10 anos até os 17. Então, fui tão má quanto a
maldade pode ser. Não desejava outra coisa a não ser a admiração de todos e t
estava envolvida dessa vaidade idiota a que estão propensas as mulheres jovens, v:
No Natal de 1750, aconselharam-me participar da Ceia do Senhor. Sabia ser A
aquilo o correto, mas tinha consciência de minha ignorância e incapacidade i
para tanto. Sem dúvida, esforçei-me na preparação e fiquei satisfeita ao fazer A
uma confissão formal de meus pecados e ao verter algumas lágrimas por eles. f

142
Por esse tempo havia muitos comentários sobre o metodismo e uma prima foi
levada a buscar o Senhor. Visitei-a em janeiro de 1751 e, antes de partir, disse-lhe que
ficaria contente em ser instruída- A partir dessa data mantivemos correspondência e
pouco a pouco a luz entrou em meu coração. Embora soubesse não haver nada de
bom em mim, ainda assim o ídolo se escondia em mim e confiava verdadeiramente
em minhas orações e outros deveres. Dessa maneira, continuei por todo o ano,
ao final do qual minhas maldades foram mais violentas. (...) Em 1753 e 1754 vivi
grandes calamidades exteriores e, às vezes, fortes conflitos interiores. Sem dúvida,
bendito seja Deus, encontrei consolo ao colocar minhas queixas diante Dele. (...)
No início de 1755 dvemos pregação perto de Ashbourne. Eu havia desejado isso por
muito tempo. Encontrei grande bênção de poder conversar com essa querida gente
e não tive medo de nenhuma das coisas que sofri ou podia sofrer. Meus amigos já
não buscavam a minha companhia e aqueles que me estimavam agora sacudiam a
cabeça. (...) Oh!, como Ele me guiou e me conduziu ao Seu seio! Não é maravilhoso?
Entretanto, não estou lhe contando uma décima parte do que vivi. O tempo falha e
minhas forças falham. Louve a Deus comigo e magnifiquemos juntos o Seu nome.

7 de maio - Dons Especiais

Nas inúmeras viagens que realizou, John Wesley conheceu as mais variadas
e interessantes pessoas. No início de maio de 1176, ele estava pregando em
diversas localidades na Escócia. Nos dias 6 e 7, pregou, em Carlisle,-para uma
7 congregação muito atenta. Apresentaram-lhe ali um “gênio extraordinário”, um
homem, cego desde os quatro anos de idade, que podia fiar estames de lã, tecer
em felpa ou pelúcia, em uma máquina de tear de sua própria fabricação. Não
bastasse isso, disseram-lhe que o “gênio” tecia seu próprio nome na felpa, fazia
sua roupa e, ainda por cima, era capaz de criar e construir qualquer tipo de
7 ferramenta.
Realmente, uma pessoa com tal capacidade não era fácil de ser encontrada.
Em conversa com esse homem, Wesley soube que, anos antes, tinha mostrado
interesse em conhecer melhor o órgão da igreja. Permissão concedida, ele
permaneceu bom tempo apalpando cada parte do instrumento até chegar a
construir o seu próprio órgão, que, segundo especialistas, era de boa qualidade.
Após um período, aprendeu a tocar diversos tipos de música, como tomadas de
salmos, cantos antifonais, solos de órgão ou qualquer coisa que ouvia.

143
Wesley confirmou a habilidade do cego, chamado joseph Strong, como'
músico capaz de tocar com grande exatidão as músicas mais complexas.
Concordou tratar-se de um caso raríssimo, um gênio extraordinário, afirmando,
inclusive, que a Europa dificilmente poderia produzir caso semelhante. Mas
alertou: “O que há de bom nisso tudo, se ele está sem Deus no mundo?”.

8 de maio - Forma de Batismo, Controvérsia Inútil

Na carta endereçada ao rev. Gilbert Boyce, pastor batista, em maio


de 1750,. a posição teológica tolerante e aberta de John Wesley é plena e
facilmente identificável. Já no início do texto, ele afirma não acreditar que a
Igreja da Inglaterra, os metodistas ou qualquer outro tipo de sociedade
consiga representar a verdadeira Igreja de Cristo. Nenhuma denominação ou
grupo pode ter a pretensão de julgar-se a legítima Igreja. A Igreja de Cristo é
uma só, formada por todos os crentes sinceros e verdadeiros. Cada uma das
denominações, sociedades ou agrupamentos representa apenas um ramo dessa
Igreja verdadeira e una.
Quanto ao batismo, tema básico de qualquer controvérsia envolvendo os
batistas, Wesley assinala que a forma não é determinante e necessária para a
salvação. Qualquer discussão a esse respeito é perda de tempo e os esforços do
pastor Boyce poderiam ser melhor canalizados, em vez de insistir na persuasão,
das pessoas ao batismo por imersão. Tempo e inteligência poderiam ser melhor
aplicados em convencê-las, como era seu propósito, a “amar a Deus com todo
o coração e ao próximo como a si mesmos” (Lc 10.27). Não é a forma de
batismo que decide se alguém é salvo ou não, tanto faz batizar de uma ou de
outra maneira. Necessário à salvação é ter o mesmo sentimento que houve em
Cristo Jesus (Fp 2.5).
Assim como não se dispunha a perder tempo na discussão sobre a forma
de batismo, Wesley também não se preocupava em defender qualquer modo de -
governo eclesiástico. Por mais de 20 anos, havia estudado todas as argumentações
sobre o tema e áecidiu-se peio que neias considerava bom (lTs 5.21), pelo que,
segundo o seu juízo, não contradiz a Escritura, ao contrário, está estritamente
de acordo com eia. Adotou, então, como princípio recusar-se a participar de
qualquer controvérsia sobre temas dessa natureza, mantendo definitivamente i
sua posição, sem nenhuma possibilidade de transigência. Mesmo considerado .-
"papista, turco ou herege, ainda assim continuaria firme, sem se importar com os
ditos a seu respeito.
No final da carta, afirma estar plenamente convencido de que a postura do
rev. Gilbert Boyce não era modvada por cólera ou qualquer outro sentimento
parecido. Ele sabia tratar-se de alguém dominado por profunda convicção e
pronto a discuti-la. Qualquer outra pessoa podia se interessar pelo tema, menos
ele, que tinha sido chamado a realizar outra obra. Sua missão não era tornar as
pessoas membros da Igreja Anglicana, da Igreja Batista ou de qualquer outra.
Sua missão era ajudar as pessoas a se tornar cristãs.

r': 9 de maio - Ninguém é Perfeito


W-
John Wesley nunca foi um grande amigo da democracia. Em Thoughts upon
I Liberty (Pensamento sobre a Liberdade), de 1772, ele admite que o bom comando do
f rei e do Parlamento era certamente mais protetor da verdadeira liberdade que a
| barulhenta “turba patriótica” que obriga a todos a abrir e iluminar suas janelas
r; em homenagem ao opositor John WiLkes.
;fh Em texto anterior, Thoughts concerning ths origin of power {Reflexões sobre a origem
h' do poder), discorda do pensamento preponderante na época sobre o povo ser
a fonte do poder. Afirma não haver autoridade senão da parte de Deus e, as
que existem, por Deus foram estabelecidas. Não há poder supremo, senão o
proveniente de Deus, soberano de tudo. Os pontos básicos desse texto de Wesley
são os seguintes:
A opinião sustentada geralmente por pessoas de entendimento e educação, tanto na
Inglaterra comõ nos outros países civilizados, é a de que o povo constitui a fonte
do poder: “Todas as pessoas são iguais por natureza; ninguém é superior; todos
são naturalmente livres, donos de suas próprias ações. Daí que nenhuma pessoa
pode ter poder sobre outra, a não ser por seu próprio consentimento. O poder do
governante na nação tem origem no povo”.A questão é que as mesmas pessoas, que
afirmam ser o povo a fonte de todo poder, se vêem numa intrincada dificuldade pata
responder uma simples pergunta: “Quem é o povo? Será todo homem, mulher ou
criança? Por que não? Por que todo homem, mulher ou criança não tem direito à
opinião para consagrar seus governantes? Que argumento apresentam para que as
mulheres não possam eleger seus próprios governantes? Por que excluir os menores
dessa eleição? Sustentam que muiheres e crianças não têm sabedoria e experiência
necessárias para julgar a capacidade dos governantes. Mas quem as tem? Quantos
votantes da Grã-Bretanha têm essa capacidade: um em cada 20, um entre cem?

145
r
Se forem excluídos todos os que não possuem sabedoria, sobrarão muito poucos. ;f
Além de privar mais da metade das pessoas de seus direitos naturais, por serem $
muiheres ou jovens, ainda roubam e impedem que outros, por não serem proprietários
de terra, acabem privados desse direito. Com base em que direito fazem tal exclusão?
A suposição de o povo ser a origem do poder é indefensável. Opõe-se absolutamente
ao princípio no qual supostamente se baseia, o de que o direito de eleger seus
governantes pertence a todo ser de natureza humana. Assim sendo, então, pertence
a cada indivíduo, não apenas aos proprietários; não só aos homens, mas também
às mulheres; nem somente aos homens e mulheres adultos, com mais de 21 anos
de idade, como também aos com 18, 20 ou mais de 60 anos de idade. Se isso não é
observado, todo o princípio cai por terra, trazendo-nos de volta à sublime verdade de
que não há autoridade senão de Deus.

10 de maio - Recepção Calorosa

No dia 10 de maio de 1748 John Wesley encontrava-se na Irlanda, onde


sua presença era requisitada por todos. O culto havia sido extraordinário e, aos
participantes, ele demonstrou a dificuldade de se separar daquelas pessoas tão
amáveis. Por onde passava, havia sempre gente a cumprimentá-lo, querendo
falar-lhe, a tal ponto que o obrigava a parar em cada esquina. Perto de uma
colina, uma multidão o aguardava. Abriram-lhe caminho, ele cantou alguns
versos de um hino, disse poucas palavras e continuou caminhando. As pessoas
ficaram extasiadas, muitos homens, mulheres e crianças derramaram lágrimas.
O clima estava extraordinário e todos sentiam a presença de Deus. Apesar de
ter vivido muitas experiências, a receptividade daquele povo o surpreendeu
inteiramente. Nunca havia passado por tal situação. Ao se despedir da multidão,
Wesley assinalou que, um dia, todos se reencontrariam no reino de Deus, onde
não há tristeza nem dor (Is 35.10).
Seu objetivo na ocasião era seguir em direção a Tuilamore. Mas, ao começar M
a viagem, sentiu que precisava alterar a rota, de modo a passar por Coolalough.
Apenas sentiu que aquele era o caminho apontado por Deus. Até então
sabia, nem que a esposa do sr. Handy, de cama há dias, tinha o sincero desejo de
vê-lo uma vez mais antes que abandonasse o reino.
Enquanto isso, na casa do sr. e da sra. Handy, os familiares insistiam não
ser possível Wesley passar por lá. Todos sabiam do seu itinerário. No momento
em que todos procuravam confortar a enferma, dando-lhe a espera:
outra ocasião para a visita do pastor, john Wesley chegou, surpreendendo-os.
rinediatamentc todos sc rnaravilhararn c louvaram a Deus.
Sua permanência naquele lugar foi curta, pois ele sabia que Deus tem a sua
própria agenda e estava aberto para receber Suas orientações. Desse modo, a
obra de Deus ia sendo realizada.

11 de maio - Como Realizar a Obra de Deus?

Em 11 de maio de 1765, John Wesley estava em Derry, na Irlanda do Norte,


onde não conhecia ninguém e não havia metodistas. Assim, como chamar a
atenção das pessoas? Que estratégia adotar para pregar ali o Evangelho?
Aquela obviamente não era uma situação inusitada para o pregador de 62
anos de idade, que tinha enfrentado inúmeros obstáculos e estabelecido centenas
: de sociedades metodistas por toda a Grã-Bretanha. Mas cada situação era
diferente. Da mesma forma que o apóstolo Paulo, tinha seu próprio método
de iniciar um trabalho missionário, ele também possuía o seu e sabia que havia
necessidade de tal método adequar-se a cada situação.
Enquanto pensava o que fazer, aproximou-se dele um morador, perguntou o
seu nome e informou-lhe o endereço residencial do pastor da cidade. Reconhecendo
a Providência Divina, Wesley dirigiu-se ao endereço indicado, manteve amistosa
conversa com o pastor e aceitou o convite para hospedar-se na casa dele.
Feliz ao ver as coisas se ajeitando convenientemente e tendo encontrado
um homem bom e hospitaleiro que lhe abriu as portas da cidade, registrou em
seu Journal: “Da mesma maneira que um sr. Knox me foi retirado, outro em seu
lugar me foi dado”, referindo-se a James Knox, de Sligo, que tinha abandonado
o metodismo, e ao seu anfitrião, também chamado Alexander Knox.
No dia seguinte, um domingo, pregou às 7 da manhã, na praça principal,
para a maior platéia vista até então naquela região. Após o culto, percebendo
,o entusiasmo das pessoas, disse: “As águas se estendem tão largas como em
Athione. Que Deus permita serem igualmente profundas!”.

12 de maio - Uma Questão de Sensibilidade

Consta do Journal de John Wesley (12/maio/1759) observação interessante a


eim da saúde de certa oessoa.
respeít JL
Ao refletir sobre o caso da Dobre
l
mulher aue i.

*1 n~i
tinha dores contínuas de estômago, não podia deixar de comentar a negligência
bastante comum da maioria des médicos.
Destacou que esses profissionais apenas prescreviam remédios, sem a
mínima preocupação com a origem da enfermidade. Havia uma relação muito
apressada e desinteressada entre médicos e pacientes. Se não procuravam saber
mais informações sobre os enfermos, obviamente não conseguiriam receitar o
remédio apropriado, possibilitando até a morte como resultado de medicação
exagerada ou errônea.
No caso daquela pobre mulher, era simples perceber a origem do seu mal
na dor sofrida pela morte do filho. Tal sofrimento não poderia ser curado com
a simples ajuda de drogas. Wesley perguntava-se por que nem todos os médicos
consideravam muitas enfermidades físicas causadas ou influenciadas pela
mente. Não seria mais simples se reconhecessem determinadas enfermidades
fora de seu alcance e buscassem apoio nos ministros? O inverso ocorria com
muita freqüência: ao descobrir a mente desordenada pelo corpo, os ministros
costumavam pedir ajuda aos médicos.
A conclusão de Wesley é de que o tratamento de algumas enfermidades
está fora do círculo de ação dos médicos, pois a maior parte deles não conhece
a Deus. Ninguém pode ser expert em medicina sem mostrar-se um cristão
experimentado. Na carta a Lady Maxwell (5/jul./1765), há conclusões suas
importantes anespeito da saúde.
Você- deve desfrutar de todo ar fresco e exercício que puder. Aconselho-a dormir
cedo, nunca após as 22 horas, de modo a levantar-se o mais cedo possível. O bom
estado de ânimo depende muitíssimo disso. Os remédios lhe serão de pouca utilidade:
você necessita apenas de uma dieta apropriada e regular, além de exercício constante,
com a bênção de Deus.

13 de maio - Quadros Desoladores


•s
Em viagem„ a^ Gaiway, na Irlanda, John Wesley atravessa, em
_
13 de maio de -■'ú
1773, uma região triste e dçsalentadora. Segundo uma pesquisa feita na época,
a população era formada por 20 mil papistas, católicos romanos, e apenas v:
500 protestantes. Analisando o quadro sombrio, perguntou se tais pessoas, •
independentemente da sua denominação religiosa, eram- verdadeiramente j
cristãs. Tinham a mente em Cristo, caminhando como Ele? De que adiantava ser A
chamado de protestante ou papista? Sem as idéias e o exemplo de Cristo, valia
muito pouco fazer parte dessa ou daquela religião.
Em Casdebar, surpreendeu-se ao ver a congregação portando-se muito bem
e com atenção durante grande parte do culto. Entretanto, ficou extremamente
. desapontado com o estado deprimente em que se encontrava a escola do
i. povoado. Era um espetáculo desolador: não havia sequer um portão no pátio,
uma das paredes tinha um grande buraco e muitas janelas estavam completamente
destruídas! Na porta da igreja, vizinha à escola, havia uma montanha de lixo:
uma sujeira terrível, um quadro completo de pobreza e desolação! Tudo indicava
que aquela escola estava abandonada e provavelmente desativada.
Tal foi a sua surpresa quando, no dia seguinte, ao passar por ali, viu um
grupo de 40 crianças saindo da igreja. Curioso, aproximou-se, fez perguntas e
; soube que não havia um professor para aquelas crianças, completamente sujas.
Ao chegar à hospedaria, Wesley fez um minucioso informe endereçado aos
responsáveis pelas escolas públicas de Dublin, com sugestões simples de serem
adotadas. A correspondência foi enviada, mas ele não soube se foram tomadas
medidas para sanear o problema.

14 de maio - Livros que Influenciaram

Na carta escrita a um amigo (14/maio/1765), Wesley destaca alguns livros


que tinham sido fundamentais no seu itinerário espiritual. Em 1725, leu Rule
and Exerdses of Holy Living and Holy Dyind (Regras e exercidos do viver santo e do
morrer santo), de Jeremy Taylor, que o impressionou profundamente, sobretudo
o capítulo sobre a intenção, a vontade pessoal, a decisão. A leitura motivou-o,
conforme a orientação do autor, à firme intenção de entregar-se plenamente
a Deus. Outros livros marcantes na vida de John Wesley foram Perfeição Cristã
e Sério Chamado a uma Vida Devota e Santa, ambos de Wiiliam Law, e Imitação de
Cristo, de Thomas Kempis. Eles o ajudaram a tomar a decisão de dedicar-se a
Deus de corpo, alma e espírito.
Tá a decisão de tornar-se homo uniusiibri (homem de um só livro, a Bíblia) surgiu
em 1730. Na ocasião, ele reconheceu claramente que a única coisa fundamental
em sua vida era buscar de todo o coração, com toda a alma e entendimento, a fé
qU( CL LU. Cl j_VV_r (G! 5.6). Esse importante período de influência pietisía foi.
lamentai Tomo consequência teológica, nasceu a profunda
CL OLO.CL V A U a ,

149
I
convicção de que a santidade é uma realidade interior, “a-verdadeira religião
está assentada no coração e a Lei de Deus se estende por todos os nossos
pensamentos, assim como pelas palavras e ações”. Como resultado prático,
acolheu a sugestão de Jeremy Taylor sobre a primeira regra de um viver santo ser
o cuidado com o seu tempo. Daí nasceu o compromisso de fazer um Diário, um
registro de. seu progresso espiritual.

15 de maio - Escutando a Vontade de Deus

O nome de Thomas Maxfield é sempre lembrado na história do metodismo.


Apesar de não ter sido o primeiro pregador leigo entre os metodistas, é geralmente y
aceito çomo tal. Antes dele vieram Joseph Humphreys, que começou a pregar A
em junho de 1738, na socieda.de de Deptford, e John Cennick, no dia 14 de'ri|
junho de 1739, para os membros da sociedade de Kingswood.
Maxfield, que tivera violenta experiência com a pregação de Wesley em J
Bristol, em abril de 1739, foi incumbido de liderar a sociedade da Fundição. Um d
ano depois, na ausência dos irmãos Wesley, e “insensivelmente levado” pelos A
seus sinceros ouvintes a “ir além do que havia planejado a princípio”, pregou
pela primeira vez.
Wesley ficou sabendo do fato e protestou contra a irregularidade à sua mãe - ri
Susanna, na época moradora da Fundição: “Thomas Maxfield se tomou um ri
pregador, eu acho”. Mesmo não concordando com a idéia da pregação leiga,
a mãe respondeu: “Cuidado com o que vai fazer a esse respeito com o jovem ri|
rapaz, pois ele certamente foi chamado por Deus para pregar, como você OvÍ||
foi. Examine os frutos de sua pregação e também vá ouvi-lo”. Diante de tão l||
convincente argumento, restou-lhe ouvir o tal pregador e concordar: “Ó Senhorf>|!|
deixe-o fazer o que lhe parecer melhor”. .7j§
Maxfield permaneceu no metodismo até o início de 1763 e provocou muitos J||
problemas. Em maio desse ano, em carta a um amigo, Wesley faz o históricá|§i
do relacionamento tumultuado. Nos 18 itens enumerados na carta, Wesley
assinala que, desde o início, foi o grande incentivador do trabalho desenvolvido
por Maxfield. Defendeu-o vigorosamente, mesmo com o risco de desagradar a Jfj
pregadores e grande número de pessoas. Quando eie se tornou responsável pelo:
grupo que se reunia na Fundição, quartel-generai do metodismo em Londres, :J
surgiram visões, sonhos, revelações e outros tipos de manifestações. Segundo :J|

150
Wesley, o problema não foi exatamente o surgimento dessas manifestações, mas
a postura depreciativa e arrogante assumida por Maxfield e seus adeptos em
relação às demais pessoas que não tinham tal experiência. Eles passaram a se
comportar como se fossem mais espirituais que os outros e a discriminar os
demais pregadores que não concordassem com aquele modelo.

16 de maio - Falando sobre o Juízo Divino

Pregando na igreja de Port Glasgow, na Escócia, John Wesley abordou os


temas morte e juí%o de Deus. Foi um sermão caloroso, entusiasmado, e ele mesmo
afirmou não se recordar de antes ter falado tão forte e incisivamente. Em Reflexões
sobre a soberania de Deus, ele destaca a questão do juízo divino:
No momento em que Deus atua como soberano, premiando ou castigando,
deixa de atuar exclusivamente como senhor, segundo Sua própria vontade e
desejo, pára atuar como juiz imparcial, guiado sempre por Sua justiça inalterável.
É verdade que, em alguns casos, Sua misericórdia se regozija, sobrepujando a justiça,
porém, Sua severidade nunca vai além da justiça. É possível Deus recompensar além do
estritamente justo, no entanto, no castigo, Ele jamais se excederá. Podemos admitir que
Deus atua como soberano, convencendo algumas almas pecadoras, fazendo-as desistir
no meio de suas carreiras ppr causa do Seu irresistível poder. Também parece que Ele
atua com poder fascinante no momento de nossa conversão. Assim mesmo, pode ser
que, muitas vezes, durante o transcurso de nossa batalha como cristãos, Deus nos toque
com Seu poder irresistível, por intermédio do qual todo crente pode dizer: “Em tempo de
tribulação / Tu me socorreste / Quando estava abatido / Me livraste de cair em pecado”.
Assim como, indubitavelmente São Paulo teve a possibilidade de acatar ou ser rebelde
à visão celestial, também toda pessoa, logo que Deus atua, pode crescer em Sua
graça ou impedi-la de atuar. Portanto, seja o que for que Deus tenha decidido fazer
por Sua soberana vontade, como criador do céu e da Terra, e qualquer que seja Sua
ação misericordiosa, superando e ultrapassando o exigido pela justiça, a regra geral se
rnantém tão imóvel quanto as estruturas da Tem: ‘-Não fará justiça o juiz dc toda a
Terra?”. (Gn 18.25). Ele julgará o mundo e todas as pessoas de acordo com a mais
estrita justiça. Ninguém será castigado por fazer o que não poderia ter evitado ou por
não fazer algo completamente fora de suas possibilidades. Todo castigo pressupõe que
o transgressor teve como evitar a falta pela qual foi castigado. De outro modo, o castigo
seria decididamente injusto e incompatível com a forma de ser de nosso Deus soberano.
Asseguremo-nos de diferenciar sempre essas duas visões: Deus como criador e Deus
como soberano. Devemos ter grande cuidado ao diferenciar uma da outra para poder
dar a Deus toda a glória por Sua graça soberana, sem questionar Sua justiça incorruptível.
17 de maio - Um Grave Acidente

Em 17 de maio de 1759, John Wesley registrou, em seu Journal, a ocorrência


de um grave acidente numa mina de carvão, em que a Providência Divina,
presente, evitara tragédia maior.
Segundo Wesley, o padrão de construção de uma mina de carvão envolve
canais para a circulação do ar. Uma mina localizada a três quilômetros de certo
povoado, com profundidade de 400 metros, estava descuidada há muito e suas
paredes estavam caindo. Quatro homens foram designados para reformar as
paredes e estavam já a 300 metros quando surgiu um incêndio. Num instante, uma
bola de fogo atravessou todo o canal, seguida de uma violenta explosão, como
de um canhão. Três dos homens se deitaram no chão, protegendo-se, pois, do
contrário, morreriam queimados em poucos minutos. Um deles, conhecedor do
amor de Deus, começou a clamar por misericórdia, mas não resistiu e desmaiou.
Os outros continuaram se arrastando até chegar à saída.
Estavam muito machucados e um deles não resistiu aos ferimentos, falecendo,
O grupo de resgate, enviado à procura do trabalhador que ficara preso dentro da
mina e, segundo os indícios, deveria estar morto, encontrou a vítima desmaiada,
por causa da intoxicação, sem nenhum ferimento físico. Após recuperar-se, o
homem admitiu que o seu desmaio lhe salvou a vida e evitou maiores danos.
Ao perder o sentido, ficou estendido no chão e o fogo passou por cima de seu
çorpo, sem atingi-lo. Se tivesse se arrastado, como fizeram os outros, teria sem
dúvida se queimado.
Wesley destacou que Andrew English, o trabalhador resgatado vivo e sem A
nenhum arranhão, considerava a. vida e a morte bem-vindas. Era um cristão e A
Deus havia restaurado a luz do seu rosto.

IS ds maio - A Primeira Escola

Na primeira metade do ano de 1768, os alunos da escola metodista de


Kingswood passaram por importantes experiências. Uma carta, de 18 de maio,
dirigida a John Wesley, informa sobre cs acontecimentos:
A obra de Deus continua em Kingswoad. Dos 130 membros que se somaram à
sociedade desde a ultima conferência, a maioria recebeu a fé iusdficadora e ccndnua
regozijanáo-se em Deus. seu salvador. E o que á mais assombroso, não conheço um

152
único que tenha tido uma recaída. O derramamento do Espírito sobre as crianças
do Colégio não tem sido excessivo. Creio que todos têm sido afetados, sem exceção,
uns mais que os outros. Doze deles encontraram a paz no Senhor e alguns de forma
realmente extraordinária. Já não duvidam em absoluto do favor de Deus, como não
desconfiariam de Sua própria existência. O Senhor continua com eles, ainda não de
forma tão poderosa como algumas semanas atrás.

James Hindmarsh, um dos professores de Kingswood, também relatou a


Wesley alguns fatos extraordinários verificados na escola.
Na quarta-feira, dia 20 de abril de 1768, Deus se apresentou surpreendentemente
diante de nossas crianças. Tempos antes, notávamos uma preocupação séria em
alguns deles. Mas, nessa noite, enquanto estavam em suas dependências privadas,
o poder de Deus se manifestou a eles como um grande vento que os fez clamar
por misericórdia. Espero que essa noite, na qual 20 jovenzinhos experimentaram
angústia suprema, não seja jamais esquecida. Deus deu a paz a dois deles, J.
Glascot e T. Maurice. Nunca vi tão grande manifestação do amor de Deus.
Certamente eles se regozijaram com uma alegria indescritível. Não necessitamos
exortar-lhes à oração, pois o espírito de oração inunda todo o colégio. Enquanto escrevo,
os gritos de vários garotos, vindos dos seus respectivos departamentos, ressoam em
meus ouvidos. Desde que comecei a escrever, outros oito também foram liberados e
se regozijam em Deus: John Coward, John Lyon, John Maddern, John Boddily, John
Turgar, Charles Brown, Willíam Higham e Robert Hindmarsh. Suas idades variam de
8 a 14 anos. Poucos resistem à obra e é provável que não consigam agüentar por muito
tempo. Isso porque as orações dos que creem parecem vencer todos os obstáculos.
Também parece crescer em grande medida a obra de Deus entre os mineiros de carvão.
Eu já havia encerrado essa carta, mas continuo escrevendo para informar-lhe que
mais dois de nossos meninos encontraram a paz e outros estão experimentando uma
profunda convicção do pecado. Alguns de nossos amigos de Bristol estão aqui e
ficaram estupefatos diante desses acontecimentos. Esse é o dia que tanto desejamos
ver, o dia que você vislumbrava e pelo qual suportou tanta oposição pelo bem desses
pobres meninos.

IS de maio - Batalha Espiritual

Wesiey registrou a dramática história da conversão de uma jovem no dia 19


de maio de 174ó, urna segunda-feira. A moça, bastante sensata, levava uma vida
tranquila, acreditando ser boa cristã, pois cumpria rigorosamente os requisitos
-'vigidos pela sua igreja. Numa ocasião, a moça fiçou doente, sofrendo violentas
febres. O médico que tratava de sua enfermidade confidenciou aos familiares

153
a gravidade do caso e ausência de chances de ela sobreviver. Descobrindo a /’
sua grave situação, a moça disse: “Ouer dizer que vocês vão ao céu e eu ao Q
inferno!”. Segundo seu irmão, a partir daquele momento, ela ficou desesperada
e agonizante, afirmando já estar no inferno, sentir as suas chamas e o diabo a
possuir sua alma e a dividir seu corpo em pedaços,
Foi longa e terrível a batalha da jovem. Sentia-se comendo fogo e enxofre
e, por isso, parou de se alimentar. Durante 12 dias nada ingeriu e por mais
de 20 dias só tomou água. Não dormia nem de dia nem à noite. Permanecia
deitada, maldizendo e blasfemando, rasgando as roupas e quebrando tudo
ao seu alcance.
John Wesley visitou-a justamente no período em que ela vivia a sua maior
agonia. Para ele, o pecado mais pesado da moça era desconhecer a Deus ou
o Seu amor, não crer em Jesus Cristo e, ainda assim, ter se convencido e ao.ség*
outros de ser boa cristã. Após sua oração, a jovem parou de se agitar e de 3!
dizer blasfêmias. Dias mais tarde, ela começou a tomar um pouco de chá
e, aos poucos, recuperou-se totalmente da enfermidade. Seu pesar e agonia
transformaram-se em paz e alegria. Ela sentia então a segurança da salvação
em Jesus Cristo. ^Q

20 de maio - Um Campo Promissor

Em 20 de maio de 1776, uma segunda-feira, John Wesley pregou por diversas


vezes numa região da Escócia. Diante da atenta platéia de Old Meldrum, falou
com base em 2 Coríntios 8.9 e sobre a graça de nosso Senhor Jesus Cristos
Sua segunda mensagem, dessa vez em Banff, fundamentou-se em Mateus 19.20
e Apocalipse 3.17 e exortou a todos que se julgavam ricos e acreditavam nãoj
precisar de mais nada. ;%

A visita ao condado de Banff, um dos povoados mais ordenados e elegantes


da Escócia, deixou-o impressionado. Segundo seu registro, a cidade ficava aój
lado de um neaueno monte, inclinada em direção do mar e suficientementéS
protegida dos fortes ventos. As ruas eram retas e largas e o povoado era-
considerado o quinto, senão o quarto maior do reino. O condado de Banff àp
Keith era o mais aglomerado de todos os que tinha visto no país. Isso se deviás*
sobretudo, se não inteiramente, ao falecido conde de Findlater, infatigável.^
aammisiraaor quc tomou a si o esforço cie ouscar homens trac-amaGores

154
-.-'todas as partes e oferecer-lhes pequenos povoados, permitindo a eles viver
ff&om comodidade.
ll* Em Keith, ao pregar o Evangelho, Wesley maravilhou-se com a seriedade
|A,e atenção da congregação. O pastor da paróquia local, sr. Gordon, convidou-o
para jantar em sua casa e pôs a igreja à sua disposição. Nessa cidade, havia uma
•• pequena sociedade metodista em franco desenvolvimento. Entretanto, a capela,
p alugada, estava sendo colocada à venda pelo proprietário, pondo em risco o
; trabalho metodista.

Inteirado do problema, John Wesley decidiu comprar a propriedade,


§ envolvendo duas casas, um pátio e um jardim com três acres de boa terra. Na
jQ conversa para fechar o negócio, o proprietário lhe disse taxativamente: “Senhor,
filão aceitarei menos de 16 libras e 10 xelins a serem pagos parte agora, parte em
Michaelmas (29 de setembro, dia de São Miguel Arcanjo) e o saldo no próximo
mês de maio”. O negócio foi fechado e a sociedade metodista pôde continuar
Ü.se desenvolvendo.

21 de maio - Conversão do Poeta

A experiência religiosa de Charles Wesley ocorreu no dia 21 de maio de


1738, em Whitsunday. Tão logo encontrou o irmão John, declarou exultante
Ide alegria: “Eu creio!”. Para celebrar o grande acontecimento, os dois oraram
Ijuntos, agradecidos a Deus, e cantaram o Hino da Conversão, que Charles já
liavia composto.
No ano seguinte, por conta do primeiro aniversário de sua conversão,
|Charles Wesley escreve o poema “MjI línguas eu quisera ter para cantar louvores
gto meu querido Redentor”:
Mil línguas para celebrar, / Ó meu Libertador, / As glórias de Sua majestade, /
Os triunfos do Seu amor. / Meu bom. Senhor, Mestre e Deus, / Que eu possa
divulgar / Seu grato nome e Seu louvor / No céu, na Terra e no mar. / Que o
doce nome de Jesus / Nos livre do temor, / Nas tristezas traga luz, / Perdão
ao pecador. / Destrua o poder do mal / E brinde liberdade, / Ao mais puro
pode dar / Pureza e santidade. / Eic faia e ao ouvir Sua voz / O morto viverá,
/ Se alegra o triste coração, / Os pobres encontram paz. / Escutem, surdos,
ao Senhor, / Louvem os mudos a Deus, / Os coxos saltem, vejam hoje / Os
ceeos ao Senhor.
22 de maio - Que Grandes Construções!

No dia 22 de maio de 1771, uma quarta-feira, John Wesley pregava enr:;


Ballingarrane, na Irlanda. Depois do culto, dirigiu-se a Askeaton e visitou o
antigo e enorme castelo do conde de Desmond. As paredes imponentes, com
finos entalhes de mármore nas janelas, permaneciam firmes, dando a idéia de sua
magnificência. O último proprietário do castelo tinha vivido como um príncipe e
se rebelado algumas vezes contra a rainha Isabel. Na sua última rebelião, quando
seu exército foi totalmente derrotado, ele fugiu para os bosques com 200 ou
300 homens. No entanto, a dura perseguição fez com que eles dispersassem e o
conde chegou sozinho a uma pequena cabana. Horas mais tarde, um soldado o
encontrou e cortou-lhe a cabeça.
Wesley visitou também uma antiga abadia ali perto, talvez a ruína mais
formosa do reino. Suas paredes, apartamentos e claustros estavam inteiros e
completos. Os pisos em mármore negro extremamente polido conservavam-se
perfeitos, como na época de sua construção, 700 ou 800 anos antes. Não fosse
o vandalismo com a maioria dos antigos edifícios da Irlanda, esse poderia durar
outros milhares de anos.
Diante daqueles sólidos edifícios, Wesley refletiu sobre a eternidade: diante
dela, o que significavam 800 ou 900 anos?!

23 de maio - Doutrinas Importantes

Muitos pensam que o novo nascimento e a justificação são apenas modos *


diferentes de expressar a mesma coisa e são dons oferecidos ao crente num
único instante. John Wesley, por sua vez, explica ser fundamental ao cristão '■
compreender bem esses dois termos, uma vez que a falta de discernimento sobre f
eies tem provocado grande confusão. Foram ditas e escritas coisas admiráveis | ■ ti.-/
acerca da justificação sem se ter uma idéia clara do significado do novo.p
nascimento. Alguém teria conseguido escrever com mais precisão que Martinho ú
i C /“\ í-v-a!/*. h A - Í7 ?Ci*r. divcrt ✓ *!.-. r\ 1 <-r
a. j cio ? u uu VaDra. iixiei- n&o Ao. innõ[UCíii

ignorante que ele quanto ao tema da santificação!


o esclarecimento ue vvésley sobre a cnferença entre os dois termos aparece
nos Si tnões O grandeprküégiG dos nascidos de Deus e M vinha do Senhor.
A justificação implica somente uma mudança relativa, ao passo que o novo
nascimento exige uma mudança real. Ao justificar-nos, Deus faz algo por nós;
ao engendrar-nos novamente, Ele atua em nós. Com a justificação, muda a nossa
relação com Deus, de modo que, de inimigos, passamos a ser Seus filhos. Com o
novo nascimento, há uma transformação radical em nossas almas: de pecadores
chegamos a ser santos. Uma restaura em nós o favor de Deus, outro nos
recupera a imagem de Deus. Uma tira o pecado, outro tira o poder do pecado.
O novo nascimento começa no preciso momento em que a pessoa é justificada. Quando
alguém é justificado, “nasce de novo, nasce do alto, nasce do Espírito” (Jo 3.3-8). E
o primeiro passo, o início do caminho. Assim como, após o parto, quando a criança
vem ao mundo, há o crescimento progressivo, em estatura, força e inteligência, ocorre
a mesma coisa com o nascimento espiritual. Depois do nascimento há uma continua
caminhada em direção ao crescimento espiritual. Não se trata somente de mudança
exterior, de ébrio a sóbrio, de ladrão a honesto, por exemplo. Há também transformação
interior, do caráter pecaminoso pelo de santidade, do orgulho em humildade, da ira
em mansidão, do eterno descontentamento e insatisfação em paciência e resignação.
Em resumo, trata-s[e da transformação de nossa mente terrena, animal, diabólica para
que haja em nós o “mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus” (Fp 2.5).

Carece compreender que um não pode ser considerado superior ao


outro. A justificação não é mais nem menos importante que a santificação.
Cada uma tem seu próprio espaço. Devemos, do mesmo modo e com o mesmo
entusiasmo, sustentar a doutrina da justificação.plena, gratuita e presente, assim
como a doutrina da completa santificação de vida.

24 de maio - Um Dia Decisivo

O dia 24 de maio de 1738 foi decisivo para John Wesley. No seu Journal.' ele
assinala não poder se restringir ao relato dos fatos daquele dia. Para compreender
a importância daquela quarta-feira, fazia-se necessária uma descrição mais
abrangente. Assim, ele lembra quando, aos 10 anos de idade, assumira o
compromisso sério de não ser mal como outras pessoas, participar dos trabaihos
da Igreja, ler a Bíblia e fazer suas orações. Fala dos cinco anos de universidade
e, depois, da pressão do pai para que ingressasse no ministério pastoral. Registra
suas primeiras preocupações sociais, em i / nu, ao começar a visitar as prisões e
ajudar os pobres e doentes.
Descreve rapidamente a experiência frustrante na América, o retorno
e a constante luta para se libertar da escravidão do pecado: se antes o servia
voluntariamente, agora o fazia de modo involuntário. Caía, se levantava <£pi
tornava a cair. Algumas vezes era derrotado, em outras era o vencedor. Provará^
os terrores da lei e o consolo do Evangelho. Em toda essa luta, entre a naturezaeSl
a graça, que continuou por mais de 10 anos, encontrou respostas extraordinárias^
na oração, especialmente quando estava com problemas. Contou com muitos''
confortos, que significaram curtas antecipações da vida de fé. Combatia of:
pecado, mas não estava justificado.
No seu retorno à Inglaterra, em janeiro de 1738, estava fortemente convencido
de que a causa da sua insegurança era a incredulidade e de que a obtenção de
uma fé viva e verdadeira seria fundamental. Na conversa com Pedro Bõhler,’ 11
como que preparada por Deus assim que ele chegou a Londres, surpreendeu-: M
se ao ouvi-lo dizer que a verdadeira fé produzia dois frutos inseparáveis, o
domínio sobre o pecado e a paz constante surgida da consciência do perdão;;
Tais ensinamentos pareceram-lhe um novo Evangelho e, se aquilo tudo fossfl _
verdadeiro, ele não tinha fé, í|||
Sua jornada espiritual continuou até 24 de maio de 1738, quando assinala
ocorrência de claros sinais de que teria o seu grande encontro. Pela manhã, pofnSi
volta das 5 horas, abrindo aleatoriamente o Novo Testamento, deparou-se com -;S|
2 Pedro 1.4: “Ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas para que,
por elas, vos torneis co-participantes da natureza divina”. Ao sair de casa, abriu :C
novamente a Bíblia e leu Marcos 12.34: “Não estais longe do reino de Deus”. ÀT
tarde, convidado à Catedral de St. Paul, ouviu o Salmo 130: “Das profunde2as:.|
clamo a ti, Senhor. Escuta, Senhor, a minha voz: estejam alertas Teus ouvidos àsf
minhas súplicas. Se observares iniqüidades, quem, Senhor, subsistirá? Contigop§
porém, está o perdão, para que Te temam. (...) Espere Israel no Senhor, pois nq|
Senhor há misericórdia, copiosa redenção. É Ele quem redime Israel de todas a{|
suas iniqüidades”,
Com expectativa Wesley participou do culto, mas, sem que nada de|
extraordinário ocorresse, ele voltou para casa. No fim do dia, .havia pouco^
resquícios da quase euforia do início do dia. Os ecos proféticos ouvidos entléi
tornaram-se silenciosos. Â noite, foi sem vontade a uma sociedade na ruájl
Aidersgate, onde alguém lia o prefácio da Epístola aos Romanos, de Lutero. Atjg
8 e 45 da noite, enquanto descrevia a mudança operada por Deus no coraç
por meio da fé em Cristo, ele sentiu o seu coração estranhamente aquecido.-!
Sentiu que confiava em Cristo, apenas em Cristo, para a salvação e experimentou
..segurança de que Ele havia perdoado os seus pecados e o livrado da Lei do
^Çcâdo e da morte (Rm 8.2).
Após aquela experiência, começou a orar, com todas as forças, especialmente
Élelos que o tinham ultrajado e perseguido. Em seguida, testemunhou abertamente
jpa todos ao redor o que havia sentido pela primeira vez em seu coração. Não
passou muito tempo antes que o inimigo sugerisse: “Isso não pode ser fé, pois
llbnde está seu regozijo?”. Então ele aprendeu que a paz e a vitória sobre o
l||ecado são essenciais à fé no Capitão de nossa salvação. Porém, quanto à alegria
Ipralmente presente no início, sobretudo nos grandes sofredores, Deus algumas
fffezes a dá e outras não, de acordo com os desígnios de sua própria vontade.
Ao sair dali, seu primeiro impulso foi repartir com o irmão mais novo a
Ixperiência. John Wesley escreveu: “Por volta das 10 horas, meu irmão foi-me
ipzido em triunfo por um grupo de amigos e declarou: ‘Eu creio’. Cantamos
ilegremente um hino e oramos”..
Provavelmente aquele, hino tenha sido composto por Charles na época da
|üa conversão: “Onde começará a minha alma admirada: como posso aspirar
^ãp céu inteiro? Um escravo remido da morte e do pecado. Uma tocha tirada do
pfbgo. Como posso elevar triunfos dignos ou cantar os louvores do meu grande
libertador?”.
Retornando à sua casa, foi sacudido por diversas tentações. Clamou a Deus
|por misericórdia e as tentações desapareceram. Conforme levantava os olhos aos
|;éus, Deus lhe enviava a ajuda necessária. Essa era a grande diferença em relação
|s situações anteriores: antes lutava com todas as forças, mas era quase sempre
|encido. Agora tudo mudava, ele era sempre vencedor.
Na manhã seguinte, ao despertar, o mestre Jesus estava presente no seu
ípração e na sua boca. Reconhecia que sua força consistia em ter os olhos sempre
lixos Nele. A tarde, regressando à Catedral de St. Paul, saboreou gostosamente
gpboa Palavra de Deus por intermédio do hino que repete as palavras iniciais
Éò Salmo 89: “Cantarei para sempre Tuas misericórdias, Ó Senhor. Meus lábios
fíociamarão a todas as gerações a Tua fidelidade” (SI 89,1).
Ali mesmo, no tempio, o tentador sussurrou aos seus ouvidos, procurando
HJetar dúvidas: “Se tu crês, por que não há mudança mais notável?”. Ele
ppondeu não saber a razão, mas sentia a preciosa paz de Deus. Além de tudo,
psus, seu mestre, havia lhe proibido qualquer inquietação pelo dia de amanhã,
pomo prosseguiam as artimanhas do tentador, solicitou ajuda a Palavra de Deus

159
e leu o texto 2 Coríntios 7.5, nas palavras do Apóstolo Paulo: “Lutas por fora'
temores por dentro”. Entendeu, então, que, mesmo continuando com temores
no coração, seu papel era prosseguir sempre na fé. 7

25 de maio - Os Enfaixadores

. Os metodistas da Irlanda foram apelidados de enfaixadores. A origem do


apelido se deve a um famoso sermão de John Cennick, o pregador, leigo, sobre
“o bebê que jazia envolto em faixas”. Wesley explica que um sacerdote papista
ouviu Cennick falar de um menino envolto em faixas e, provavelmente, por
desconhecer tratar-se de uma expressão bíblica, passou a chamar -pejorativamente
assim os metodistas.
O trabalho metodista na Irlanda, que começou em Dublin, antes do verão
de 1747, estava se desenvolvendo muito bem e produzindo fortes oposições.
No dia 25 de maio de 1750, uma pessoa chamada Roger OTerrall anunciou-
se publicamente preparado a liderar qualquer tumulto para derrubar a casa
de qualquer um que se atrevesse a dar hospedagem a certo “enfaixador”. Tal
enfaixador, que procurava hospedagem na cidade, era John Wesley.
Apesar dos infatigáveis esforços para atrapalhar o trabalho de evangelização,
segundo Wesley, “durante todo o tempo, Deus nos concedeu grande paz em
Bandon”. No dia-seguinte, um sábado, a expectativa era maior ainda. Ele pregava
na rua principal da cidade para uma numerosa congregação, quando um clérigo’
católico, com um porrete na mão, começou a perturbar. No seu Journal^ conta
que a cena foi rápida: antes que o agitador tivesse tempo de falar, duas ou três
mulheres decididas e fortes o empurraram para dentro de uma casa, procuraram
dissuadi-lo e o jogaram no jardim.
Outro agitador era um tal de sr. M., jovem cavalheiro, acompanhado por
outros dois homens com pistolas nas mãos. Mas tudo se passou, novamente,
de forma rápida, já que várias pessoas levaram-nos para fora, ainda que com
cavalheirismo e cortesia. O terceiro veio com mais fúria, mas esbarrou num
açougueiro (não metodista), que o tratou como se estivesse diante de um boi. Deu-
lhe um ou dois fortes golpes na cabeça, esfriando-lhe a valentia, especialmente
ao ver que ninguém se prestava a defendê-lo.
Após esses pequenos incidentes, resolvidos prontamente, John Wesley pôde
terminar o sermão com tranquilidade.

160
26 de maio - A Multidão quer Ouvir a Palavra de Deus

Na primeira metade de 1742, John Wesley iniciou viagem a regiões distantes.


A condessa de Huntingdon, familiarizada com o trabalho metodista em
Kingswood, sugeriu uma visita aos mineiros do Norte, John Nelson, pedreiro
que havia conhecido John Wesley em Londres e começara a pregar “como uma
coruja no deserto”, convidara-o várias vezes para ir a Birstall, o que acabou
ocorrendo em maio.
No caminho de Birstall a Newcastle, em 26 e 27 de maio de 1742, John leu
“com grande esperança” o livro de Xenofonte, As Coisas Memoráveis de Sócrates.
Ficou completamente assombrado com a falta de juízo do autor, acreditando
que muitas daquelas coisas jamais teriam sido mencionadas por Platão. O fato
; podia ser positivo, porque permitia ver as sombras ao lado do mais brilhante de

‘ todos os pagãos da Antiguidade.


No dia 30 de maio de 1742, iniciou em Newcastle seu ministério por Sandgate,
“a parte da cidade mais pobre e desprezada”. Em pé, no final da rua, com John
Taylor, cantava o Salmo 100 quando três ou quatro almas curiosas vieram ver o
acontecido. Em pouco tempo, havia quatro ou cinco centenas de pessoas e não
demorou muito para que Wesley pregasse para 1.200 ou 1.500. O texto bíblico
era Isaías 53 e, no final do sermão, anunciou outra pregação naquela noite. Foi
tamanho o número de pessoas no culto da noite que, por mais que tivesse voz
forte e clara, certamente pelo menos metade do povo não conseguiu ouvi-lo.

27 de maio - Escolas Arruinadas

Em 27 de maio de 1776, uma segunda-feira, John Wesley visitou St. Andrew,


cidade da Escócia que antigamente tinha sido uma das maiores do reino.
Decadente, eia representava então pouco mais de 10% do que havia sido em
seu período áureo, embora dele ainda trouxesse marcas. Ruas inteiras haviam
::se transformado em prados e jardins, três delas, amplas, retas e formosas,

: mantiveram-se, dando acesso à antiga catedral, que, pelas ruínas, parecia ter mais
de 300 pés de largura e medidas proporcionais quanto ac- cumprimento e altura.
Wesley acreditava que eia deveria ter sido maior que a catedral de York e com
dimensões iguais às das maiores catedrais da Inglaterra. O campanário, mantido
ao lado da catedral, tinha mais de 1,300 anos.
Muito pesaroso, Wesley descreveu também o monte de ruínas em que tinhg ;ff
se transformado o St. Leonard College. Restavam duas faculdades, uma deias'^
com uma praça aceitável, mas com as janelas quebradas, parecendo um bordeL
Os estudantes, antes de abandonar a escola, faziam questão de destruir os vidros.
Uma situação como aquela era de exclusiva responsabilidade dos diretores da
escola; uma direção séria e responsável evitaria boa parte daqueles problemas. 1
A outra faculdade, num edifício mais humilde, possuía formosa biblioteca
recentemente construída. Nas duas escolas o número de alunos era bem reduzido, l
cerca de 70. Junto com as escolas de Old Aberdeen, New Aberdeen, Glasgow í
e Edimburgo, somavam-se apenas 310 estudantes universitários. O mais grave, i
segundo Wesley, não era a grande estrutura para tão reduzido grupo de alunos, r$
e sim o calendário acadêmico seguido pelas instituições. Os alunos iniciavam Aí
as aulas em novembro e regressam às suas casas já em maio. Estudavam cinc©|||
meses, folgando o restante do ano. :■
Preocupado seriamente com o descalabro da educação na Escócia, ele. ||
denuncia a falta de bom senso aos responsáveis pela área: se alguém instituísse f|j
aquele folgado calendário nos colégios da Inglaterra, seria considerado pouco1
melhor que um salteador de estradas. yM

28 de maio - O Espírito Santo Continua Agindo

John Wesley copia em seu Journal (28/maio/1759) páginas do diário de outra


pessoa, provavelmente a sra. Elizabeth Blackwell: A
O sr. Blackwell e eu fomos ouvir o sr. Hicks em Wrestlingworth, a seis quilômetros ;f|
de Everton. Primeiramente, ficamos felizes em saber que ele havia se entregacfô?
completamente ao trahaiho de Deus e que o poder de Deus se manifestava sobré;|
seus ouvintes. Enquanto ele pregava, 15 ou 16 ouvintes sentiram as ftecfias|§
do Senhor, caindo ao chão. Alguns clamaram com força, durante horas, aôpÉ
passo que os demais permaneciam silenciosos. Pude ver, ao lado, uma menifl&AS
profündamente convencida do pecado e um menino com 9 ou 10‘anos, que, co®Jj§|
muitos outros, ao serem levados à casa pastoral, estenderam-se como mortòsi^
ou lutaram com todas as forças. Em pouco tempo, seus gritos aumenta
descontroladamente, de modo que o canto mais forte mal podia ser ouvido,Jf|
Por fim, alguém me chamou para orar e, por algum tempo, todos se acalmarani^
Mas o baralho recomeçou. O sr. Hick orou e, depois dele, o sr. Berridgfep
Ainda assim, apesar de alguns terem recebido consolação, outros permaneciam^
em profunda tristeza. A luta violenta de muitos na igreja acabou com vários®
bancos quebrados. É comum as pessoas permanecerem imóveis e depois cair,
ao regressar aos seus lares. Alguns foram encontrados estendidos como mortos
pelo caminho e nos jardins de Berridge, sem poder caminhar de volta à casa.
De forma geral, noto que poucos anciãos e apenas alguns ricos experimentam
êF- essa obra de Deus. Eles geralmente a desprezam ou até se indispõem contra
ela. Na verdade, no começo, o sr. Hicks tinha profunda aversão por esse tipo
de experiência, chegando a negar os sacramentos para aqueles membros de sua
paróquia que fossem ouvir o sr. Berridge. Nenhum desses cavalheiros, nem o sr.
Hicks, nem o sr. Berridge, eram eloqüentes, e até pareciam débeis no falar. O
Senhor, por esse meio, demonstrou claramente que esta é Sua própria obra.

% Um dos personagens citados, John Berridge, foi pregador metodista


pgm Everton. Não foi muito tranquila a relação dele com os irmãos Wesley,
èspecialmente por causa da sua teologia calvinista e da ligação estreita com
condessa de Huntingdon e com George Whitefield. O pomo da discórdia
correu em 1760, quando ele publicou Collection of Divine Songs, incluindo hinos
e Charles Wesley modificados conforme sua teologia calvinista.

29 de maio - As Casas dos Metodistas são Diferentes

Os metodistas não devem nunca deixar de participar dos meios de graça,


)bretudo da Ceia do Senhor: essa é uma das ênfases do ensino de John Wesley.
todos os demais pregadores iáâstiàíri'He^^põiítòT"''^ :

Os meios de graça da oração e do estudo da Palavra de Deus eram simples,


jodendo realizar-se em qualquer lugar. Mas a Ceia do Senhor era diferente.
|)s metodistas dela participavam na Igreja Anglicana e nem sempre isso era
facilitado ou contava com o apoio dos ministros anglicanos. Em muitos
ípcais, os metodistas eram vítimas de preconceitos e sofriam perseguições,
pfuma ocasião, Charles Wesley disse que era muito fácil adivinhar, entre toda
| cidade, quais as casas dos metodistas. Bastava verificar as janelas, portas e
paredes, As fachadas de suas casas estavam sempre danificadas, vítimas dos
ptnplacáveis perseguidores.
Os irmãos Wesley foram, aos poucos, fazendo adaptações. Reconhecendo
íue tal participação nem sempre era possível, passaram a dar um sentido
lais amplo às instruções da Igreja, de modo oferecer o sacramento aos seus
peguidores. Quando os pobres mineiros de Kingswood foram repelidos da
|Ceia pelo clérigo de Bristol, Charles superou sua rigorosa inclinação pela

163
instituição eclesiástica, passando a ministrar-lhes o sacramento em lugar
não-eclesiástico de Kingswood.
A mudança de comporramento de John Wesiey ocorreu também em razão
da necessidade. No início, estendera a ministração do sacramento aos enfermos
e incluía muitos amigos metodistas, alegando que tal prática não se enquadrava
na “ministração particular”, proibida pela Igreja.
Em 29 de maio de 1743, um domingo, ocorreu importante alteração: muitos
metodistas de Londres, que não podiam ou não compareciam aos templos
anglicanos para a Ceia do Senhor, passaram a contar com um novo serviço. Na
ocasião, Wesiey adquiriu, por meio de arrendamento, uma capela huguenote em
desuso, na West Street. Como o edifício já havia sido consagrado, sentiu-se à.
vontade para ministrar os sacramentos aos metodistas da região. Nesse mesmo
local, dois anos antes, em agosto de 1741, tinha realizado uma série de cultos e
ministrado o sacramento da Ceia a muitas pessoas.

30 de maio - A Morte de um Cristão

John Wesiey reproduz, no dia 30 de maio de 1756, uma carta do sr. GiUies,
descrevendo alguns episódios marcantès da morte do sr. Wardrobe, membro de
uma sociedade metodista.
Hoje, 7 de maio, às 4 horas, acabo de presenciar os últimos suspiros de uma.
pessoa muito querida sua, minha e de todos que a conheciam. O sr. Wardrobe
faleceu. Sábado passado, foi atacado de violenta cólica, justamente quando se
dirigia à igreja, que acabou se transformando em doença dos intestinos. As::
circunstâncias de sua morte são dignas de serem escritas. Com que grande prazer. '
recebeu a mensagem! Foi-se com todo o triunfo de um conquistador! Clamava
“Minha batalha já terminou. Combati o bom combate. Minha vitória é completa. í
Coroas d.e graça adornarão essa cabeça (drando o chapéu) e serão colocadas. %
palmas nessas mãos. Em breve cantarei para sempre ‘Sei que meu Redentor viveANy
Nos seus últimos momentos, estendeu-me a mão, dizendo: “Agora, deixem:::|
que seu servo parta em paz, porque meus olhos já viram a salvação”. $e..>
pudesse repetir a metade do que ele falou, escrevería durante três horas,
No momento, é suficiente dizer que eie, assim como viveu, morreu a morte dçqj
um cristão. Não choramos por ele, e sim por nós mesmos. Desejaria saber como ,7;
melhorar esse terrível juízo para, desse modo, preparar-me também, sem saber
quando o nosso Senhor vem.

p 31 de maio - Fofocas Perigosas

No final de maio de 1787, John Wesiey foi informado de sérios conflitos em


f certa sociedade metodista, prejudicando várias pessoas. Depois de averiguar
melhor, concluiu que aqueles problemas não tinham fundamento, eram acusações
levianas e improcedentes.
O primeiro envolvia F.B., jovem dirigente da classe de mulheres solteiras,
de conduta inatacável, que tinha sido acusada de prática indecorosa pelo sr. A.,
em cuja casa vivera durante anos. A acusação maldosa contra a jovem metodista
partira de uma pessoa que não merecia nenhum crédito.
Outro conflito tinha a ver com John Carr, um dos membros mais antigos
da sociedade. Carr e outras pessoas permaneceram lendo a Bíblia e orando,
enquanto o pregador local lia um sermão no salão. O ato fora interpretado
como oposição e o grupo, acusado de querer abandonar a sociedade
metodista. Após conversas inflamadas e desamorosas, 14 membros foram
expulsos da sociedade,
Com a chegada de Wesiey, o assunto foi novamente investigado. Ele recebeu
a informação, de John Carr e dos outros irmãos, de nunca ter havido, da parte
deles, intenção de se opor ao pastor local. Era uma simples casualidade, uma vez
que era comum pessoas permanecerem orando durante a pregação.
Wesiey afirmou quedar única' falta cometitiãTera terem se reunido em hora
imprópria. Ninguém deveria deixar de ouvir a pregação pastoral, a menos com
autorização específica. Entretanto, a falta não exigia decisão tão drástica, de
modo que os expulsos foram novamente readmitidos à sociedade.
Recebeu a todos com muita alegria, solicitando a ambos os lados do conflito
não falar nenhuma palavra do passado. Durante o culto da noite, enquanto
falava sobre os frutos do Espírito Santo, a paz e o amor desceram sobre todos,
gloriosamente. Na celebração da Ceia do Senhor, todos foram novamente
repletos de consolação. O mesmo ocorreu no culto da manhã seguinte, quando
o sr. Broadbent pregou sobre ísaías 40.1: “Consolai, consolai o meu povo, diz o
vosso Deus”.

165
Junho

Caminhe pelo menos uma hora


por dia ao ar livre.
Se estiver chovendo,
caminhe na sala de jantar.

John Wesley, em carta, de 5 de junho de 1778,


a Aiexander Knox
1? de junho - Balanço das Atividades

Em junho de 1773, fazendo um balanço da sua atividade como escritor,


John Wesley concluiu que tudo o que havia ganhado durante muitos anos era
uma dívida de 500 ou 600 libras. Nunca tivera o objetivo de ganhar dinheiro,
embora uma das freqüentes acusações contra ele era a de ser ganancioso. Os
inimigos do metodismo inventavam muitas histórias.
O texto Um chamado fervoroso às pessoas razoáveis e religiosas foi escrito com o
propósito de se defender dessas acusações:
Talvez vocês tenham ouvido que nós, na realidade, não nos importamos com nenhuma
igreja e que a ganânda é a verdadeira origem das nossas ações. Que eu, em particular,
sou muito bem remunerado pelo meu trabalho, recebendo 1.300 libras anuais apenas da
Fundição em Londres, segundo detalhada contabilidade feita por um reverendo, afora qs
rendimentos vindos de BristoL, Kingswood, Newcastle e outros lugares. Mas, durante os
últimos 14 anos, alguém percebeu em mim amor pela ganânda? Não tenho eu recordado
constantemente ás palavras de Jesus Cristo: “Mais bem-aventurado é dar do que receber?”.
Os irmãos de Oxford não sabem disso? Que ganânda busquei entre eles? De quem tirei
algo? De quem cobicei ouro, prata ou vestes? Até o último momento em que permaned
entre vocês, a quem negud algo do que tenho? E vocês de Epworth e Wroote, a quem
ministrei por três anos, podem também dizer o que busqud entre vocês? E os de Savannah
e Frederica, aos quais Deus me pôs à prova, mostrando-me o que havia em meu coração,
podem dizer que ganância busquei? De quem tomei algo? Que alimento ou roupa cobicei
(já que nem prata ou ouro tinham, o mesmo que eu, que passei muitos meses com fome
e sem roupa)? Vocês e Deus Pai de nosso Senhor Jesus Cristo sabem que não minto. (...)
Informem-se um pouco mais e descobrirão que as arrecadações fdtas em
Newcastle, Btistol e Kingswood (únicos lugares fora de Londres onde se elas
se dão) são recebidas, pelos administradores das sociedades e nunca chegam às
minhas mãos. Os que desejarem revisar as contas desses administradores poderão
comprovar, com seus próprios olhos, que tiro das sodedades tanto quanto vocês, (...)
As ofertas públicas não são para mim, obviamente, posto que as coletas servem aos
pobres ou a algum outro propósito específico. O dinheiro é recebido e gasto diante de
muitos testemunhas, sem jamais passar por minhas mãos.

> de junho - Conversa pra Boi Dormir

No -dia 2 de junho de 1753, um sábado, Wesley ouviu um relato estranho


sobre um fato difícil de ser aceito. Um pregador metodista, de nome jonathan
Catlow, costumava pregar enquanto dormia. Investigando o assunto, recebeu o
seguinte relatório:
Na sexta-feira, dia 25 de maio, mais ou menos à 1 hora da madrugada, estando
profundamente adormecido, ele começou a falar. Em dois ou três minutos,
estavam presentes William, Mary, Amélia Shent, John Haime, John Hapson,
Joseph Jones, Thomas Mitchell e Ann Foghill Primeiramente exortou a
congregação a “cantar em espírito e também com entendimento”, instruindo-
os sobre como fazê-lo. Começou, então, a anunciar um hino, linha por linha:
“Venha, Espírito Divino, pomba celestial, com todo o Seu poder de avivamento”.
Deu o tom e cantou até o final, solicitando atenção ao que seria ouvido. Mencionou
o texto 1 João 5.19:. “Sabemos ser de Deus e o mundo inteiro jaz no maligno”.
Dividiu seu discurso em seis partes, tratando de mostrar que: 1. os verdadeiros
crentes são de Deus; 2. eles sabem ser de Deus; 3. o mundo jaz no maligno;
4, cada indivíduo do mundo está nessa ^condição; 5. era terrível o fim do mundo.
Por último, exortou aqueles que eram de Deus e os outros, que eram do mundo.
Depois de pregar sobre dois ou três desses pontos, parou para falar com um
clérigo, que o havia interrompido ao entrar. Discutiram por algum tempo. Ele
dava espaço ao clérigo para colocar suas objeções e respondia uma após outra Em
seguida, pediu à congregação, agora que o perturbador tinha se retirado, dar graças
a Deus, dirigindo cântico “Bendito seja o Senhor de onde vem toda a bênção”.
Concluiu a pregação pedindo que a sociedade se reunisse. Primeiro dirigiu um bino,
como antes, e exortou todos para se amassem uns aos outros, pois: 1. tinham um só
Criador, Preservador e Pai; 2. tinham um só Redentor; 3. tinham um só Santificador;
4. caminhavam num único caminho de santidade; 5. iriam todos ao mesmo céu.
Depois do hino de despedida, cumprimentando um por um, disse: “Boa noite,
irmão. Boa noite, irmã”. Isso durou até 15 para as 2 da madrugada, estando ele
completamente adormecido durante todo o tempo, Na manhã seguinte, não sabia de
nada do"que tinha ocorrido. Acreditava ter dormido a noite inteira, sem ter sonhado.

Tendo lido o relatório, Wesley não faz nenhum comentário, nem procura
qualquer explicação para o fato. Afirma apenas não saber como interpretar
tal acontecimento.

5 ds junho “ Avivamento Religioso

Numa carta endereçada a Elizabeth Ritchie John Wesley faia com entusiasmo
do avivamento religioso, afirmando que o comentário de Lutero sobre ele durar
não mais que 30 anos foi verificado diversas vezes, em vários países. Entretanto,
implc do meíodismo na Inglaterra, cujo avivamento ultrapassava os 50
anos, confirmava a existência de exceções. O mais provável com o metodismo
na Inglaterra era não só continuar se ampliando, como também aprofundar-se
mais do que nunca.
Em junho de 1756, refletindo acerca dos frutos e do crescimento das congregações
locais, ele reconhece que o processo se repetia frequentemente. Em todas as partes,
a obra de Deus crescia até atingir seu ponto culminante, assim permanecendo por
certo tempo até começar a decair. A explicação para o fato era simples.
No início, a curiosidade faz com que muitas pessoas se aproximem da Igreja. A
graça antecipadora de Deus atrai muitas pessoas, que ouvem a Sua palavra e recebem
' consolo espiritual. A curiosidade aumenta à medida que as pessoas comentam umas
com as outras sobre o que estão presenciando, de forma que o Espírito Santo toca
muitos corações. Com isso, o trabalho local atinge o ponto alto.
Depois disso, os convites de Deus já não são seguidos e o Espírito Santo se
entristece. As pessoas não se esforçam mais, nem convidam outras como antes.
Desse modo, os poderes naturais e sobrenaturais declinam e a maioria passa a
ser menos influenciada. Além disso, outro fator bastante inibidor é o obstáculo,
o tropeço, as pedras e a estreiteza do caminho, que afugenta muita gente.
Wesley também aborda a questão do avivamento em carta datada de 9 de
setembro de 1790, e enviada a Adam Clark. Afirma que, no grande avivamento
ocorrido em Londres, sua primeira grande dificuldade havia sido controlar
os que discordavam do movimento e a segunda, conter as extravagâncias dos
que o promoviam. Essa fora a parte mais difícil do trabalho, pois muitos não
aceitavam o controle. Em Londres, seguira a regra de maneira inflexível: ou as
pessoas se submetiam ou abandonavam o metodismo. Mesmo que o responsável
pelo trabalho atuasse com correção, o normal era os dois lados quererem
culpá-lo. Concluindo, propõe as seguintes diretrizes práticas: 1. assegurar-se
de que nenhuma das reuniões de oração continue depois das 9 horas da noite,
especialmente aos domingos; 2. não permitir exortações nas reuniões de oração;
3. tomar cuidado com o ciúme das pessoas; 4. nunca considerar uma pessoa
inimiga da obra pelo fato de eia criticar e se queixar de irregularidades.

4 de lunho - Conhecendo uma Nova Cultura

Na primeira semana de junho de 1738, poucos dias após sua experiência


renoiosa
•o (24
\ de maio), Tohn
/ • J Wesley decide ir à Alemanha. No seu Journal,

169
explica que já tinha tomado tal decisão na América, mas agora havia chegado."
o momento, pois “minha débil mente não suportava a própria divisão interna e
tinha a esperança de que a conversa com os santos varões, testemunhos vivos
do poder total da fé e que, sem dúvida, podiam suportar os fracos, fora utilizada
por Deus para me fortalecer a alma de tal modo que poderia andar de fé em fé,
de poder em poder”.
A julgar pelo conteúdo das cartas enviadas, a viagem foi extraordinária. Ao
irmão Charles, informou que suas maiores expectativas tinham sido superadas:
“jovens e anciãos não respiram outra coisa que não seja fé e amor, a toda hora
e em todo lugar”. Em outra carta, dessa vez a Samuel, seu irmão mais velho, o
qual discordava de suas novas opiniões, revela:
Finalmente Deus atendeu ao desejo do meu coração. Estou com uma igreja cuja
conversação está nos céus (Fp 3.20), em que há o “mesmo sentimento que houve em •
Cristo” (Fp 2.6) e que ‘‘anda como ele andava” (ljo 2.6). Assim como todos têm um
Senhor e uma fé, assim mesmo participam de um só espírito, o de mansidão e amor,
que uniforme e continuamente anima todas as conversas. Oh, que coisa grande e santa
é o cristianismo! E quão distante está daquele cristianismo apenas de nome, que não
purifica o coração, nem renova a vida conforme a imagem de nosso bendito Redentor.
Eu me entristeço muito ao lembrar que o santo nome de Cristo continua sendo
blasfemado entre os pagãos quando vêem cristãos descontentes, ressentidos, com
mentes terrenais, julgando e ridicularizando uns aos outros, falando mal uns dos
outros, aumentando a carga, ao invés de levá-la uns dos outros (G1 6.2). Sei que
eu mesmo, e não duvido que você, às vezes, e minha irmã também temos caído
sob essa condenação. Deus permita nunca mais pensarmos em servir-Lhe violando
esses mandamentos que são a vida mesma de sua religião. Deixemos de lado toda ira,
malícia, amargura e maledicência (Cl 3.8).

Wesley permanece na Alemanha até 22 de agosto de 1738. Entre seus • /À


inúmeros contatos, um dos mais importantes foi a cordial entrevista com o
professor.A. H. Francke, filho de August Hermann Francke, um dos fundadores
do pietismo, movimento que muito influenciou o metodismo, “cujo nome”, na
sua opinião, “é ungüento precioso”.

5 de junho - Conselhos Úteis

john Wesley manteve correspondência com inúmeras pessoas. Para Alexander


Knox, cujo pai, John Knox, foi o primeiro a recepcioná-lo em Londonderry. na

170
Irlanda, Wesley escreveu um total de 20 cartas. Na de 5 de junho de 1778, dá a
síe alguns conselhos pessoais, inclusive recomendações de leitura.
Aconselho-o: nunca deite depois das dez, nunca se levante depois das seis, caminhe
pelo menos uma hora por dia ao ar livre. Se estiver chovendo, caminhe na sala de
jantar. (...) Dedique a primeira hora da manhã e das cinco às seis da tarde a orar em
lugar privado e a ler ordenadamente as Escrituras, com as Notas Explicativas sobre
o Novo Testamento e qualquer outro livro prático. Depois, dedique algum tempo da
manhã à leitura de livros do bispo Pearson, ou qualquer outro sobre religião, e mais
um tempo da tarde para história,.poesia ou filosofia.

Os conselhos de Wesley, caso tenham sido mesmo seguidos, não bastaram.


No ano seguinte, em 23 de dezembro,, ele reconhece, em outra carta, que o
||f problema de Alexander Knox era físico, algo mais sério, exigindo tratamento
mais rigoroso. Afirma que seus nervos estavam totalmente alterados e, de vez
em quando, sofria uma depressão, não se tratando de pecado, nem de falta de fé,
embora ela fosse pequena. Era uma pessoa muito instável e necessitava do amor
IP de Deus derramado abundantemente sobre a sua vida para que pudesse ter um
coração agradecido e feliz. Apenas às vezes demonstrava-se agradecido, somente
quando possuía a chispa divina da gratidão. Vivia na maior parte do tempo
irritado, nervoso e mal-humorado. Outra razão importante da sua depressão
era a força diabólica em sua vida, aproveitando-se das ocasiões de tristeza e
depressão para sugerir-lhe pensamentos equivocados.
No final, John Wesley recomenda ao amigo paciência, que Jesus Cristo estaria
sempre ao seu lado, cuidando de sua vida e da de todos os seus queridos familiares.
Não havia o que temer. O Espírito ia assisti-lo, suprindo as suas debilidades. Era
preciso ter fé, além de saber que estava passando por um processo de purificação
e que seria salvo. Esperar a bênção do Senhor já à mão, prestes a chegar.

5 ds junho “ lucidã Shíiplss cfüê dso Bons Rssultados

Se, em aiguns lugares, as sociedades metodistas eram dirigidas


equivocadamente, ocasionando divisões, conflitos e até mesmo comprometendo
trabalho, em outros, os líderes agiam com mais eficiência. Informado a respeito
do trabalho desses bons líderes, John Wesley fazia questão de destacar o fato.
I Em 7 de junho de 1763, seu Journal traz o registro de uma idéia simples, aplicada
com seriedade e constância, cujo resultado era extraordinário.

171
Há algo de notável n". maneira como Deus revive Sua obra nessas partes. Há poucos
meses a maioria das pessoas desse circuito estava muito desanimada. Samuel Meggot
^ 4000 X^cLJL110.JlM V^dOUt <x gUtUUílJL tOua 5cX LH-fC1T3.
com jejum e oração. Na primeira reunião, Deus se revelou de forma maravilhosa e,.
desde então, a obra tem crescido. As sociedades vizinhas ouviram falar do que estava
acontecendo e concordaram em seguir tal prádca, experimentando a mesma bênção.

Quase 20 anos depois, em carta remetida ajohn Cricket, em 10 de fevereiro


de 1783, ele se vale do exemplo de Samuel Meggot e da sociedade de Barnard
Castle para recomendar que se fizesse o mesmo em Derry. Que no domingo
seguinte, o pastor reunisse os metodistas e os repreendesse fortemente pela sua
infidelidade e escassez de resultados, aconselhando-os a se humilhar e jejuar às
sexta-feiras. Procurando animar o pastor, renova a sua esperança de que uma
chama brotaria também em Londonderry: “Não perca a esperança. Virão dias
melhores!”
Ainda na carta escrita em 1763, ao mesmo tempo em que destaca a
recuperação de um circuito inteiro em conseqüência da implementação de
uma idéia simples, assinala que tal feito era, na verdade, um simples dever, uma
obrigação. Nenhuma comunidade metodista poderia negligenciar a oração e
o jejum. Segundo Wesley, o abandono de tal prática produz esclerose e morte
espiritual entre os cristãos.

7 de junho - Hospitalidade é uma Virtude

Em suas viagens a países vizinhos da Inglaterra, particularmente a Escócia,


a Alemanha e a Holanda, John Wesley percebeu profundas diferenças culturais,
sobretudo quanto à hospitalidade.
Em 7 de junho de 1785, depois de ter pregado em diversas cidades, ele
chegou a um assentamento morávio em Gracehill, na Irlanda. Impressionou-se
com a organização: de um lado do vilarejo, chalés destinados aos casais e casas :■
para os homens solteiros, do outro, as moradias das mulheres solteiras e,. ao j
centro, a capela. Embora as habitações fossem limpas c seus habitantes corteses, J
notou que a hospitalidade não se parecia com a dos metodistas ingleses. Estes ■,
não permitiríam que um estrangeiro, sobretudo um cristão, os visitasse sem
oferecer a ele pelo menos uma ceia simples. Mas aquela, irifelizmente, era uma
maneira de ser muito particuiar.
Recordou sua visita à casa do bispo Anton, velho conhecido que não via
__.l- mais de 46 anos e que morava na Holanda: ele não lhe oferecera sequer
um copo de água para molhar os lábios. Apesar de admitir o comportamento
-dos moravianos irlandeses como um traço cultural, a recepção na Holanda
; havia extrapolado os limites da descortesia, tinha sido uma coisa vergonhosa.
Segundo Wesley, alguns comportamentos não podem ser creditados apenas
à questão cultural, contradizem não só o cristianismo, mas à humanidade em
geral. Certos atos envergonhariam qualquer judeu, maometano ou mesmo um
herege justo.
Em outra viagem, de um mês, à Holanda, em junho de 1783, dnha
ocorrido o mesmo problema. Ela fora bastante positiva, mas exigiu-lhe
assumir uma despesa bem grande. Só em uma hospedaria, os gastos chegaram
a cem florins. Contudo, “De nenhuma maneira, posso lamentar as vicissitudes
nem as despesas dessa pequena jornada. Ela abriu-me um novo caminho,
um novo mundo, onde a terra, os edifícios, as pessoas e os costumes eram
desconhecidos. Senti-me em casa em Ultrecht e Amsterdã, como se estivesse
em Bristol ou em Londres.

8 de junho - Quem é Ele?

John Wesley era encarado pelo público de diversos modos. Para alguns,
parecia um fanático extravagante e líder autocrático. Para outros, um confiante
pregador da Sola Fideiy um gigante espiritual. Entre os próprios metodistas, era
visto como um cristão inabalável, extremamente regular e convicto na sua fé.
Em junho de 1766, enquanto suas declarações teológicas em público
ganhavam um tom de certeza, sua peregrinação espiritual experimentava alguns
pontos baixos. Uma carta escrita ao timão Charles dá a idéia do solstício de
inverno em sua alma, sobretudo o parágrafo, transcrito a seguir, com frases
taquigrafadas, de modo a esconder sua agonia de leitores indesejáveis.
Em uma das rainhas últimas cartas, dizia não sentir a ira de Deus em mim, nem
podia acreditar nisso. Entretanto, e esse é ó mistério, não amo a Deus. Nunca o
amei, portanto, jamais acreditei Nele no verdadeiro sentido cristão da palavra.
Sou apenas um pagão honesto, um prosélito do templo, um temente a Deus.
Ei, ainda assim, ser tão usado por Deus, tão preso a esse fato, que não posso ir para
a frente, nem para trás! Certamente nunca antes houve um caso como esse, desde o
princípio do mundo! Se tivesse essa fé, não teria sido tão estranho. Porém, nunca tive
mais evidência do mundo eterno ou invisível do que agora, ou seja, reaimente nenhuma,.
a não ser um pequeno brilho do raio luzente da razão. Não possuo testemunho direto
nem de que soun de Deus, nem dc qualquer coisa invisível ou eterna.

As palavras francas e doloridas, a abertura de alma, que certamente


assustaram o irmão, podem ser interpretadas como a maneira pessoal de Wesley
de experimentar, ao modo dos místicos, a “noite escura da alma”. Ela representa,
paradoxalmente, não tanto um momento de desespero espiritual, e sim uma
crise, uma exigência pessoal para a escalada de níveis espirituais mais elevados.
Tal interpretação torna-se plausível no parágrafo seguinte da carta ao irmão:
Apesar disso, não me atrevo a pregar de modo diferente do que faço, seja sobre a
fé, o amor, a justificação, seja sobre a perfeição. Ainda assim, descubro mais um
aumento do que um decréscimo do meu zelo por todo o trabalho de Deus em todas
as suas partes. Sou impulsionado a fazê-lo, não sei como, de modo que não posso
estar parado. Quero que todos venham para aquilo que não conheço.

9 de junho - O Poder da Música

O texto Pensamentos sobre o poder da música foi escrito por John Wesley em 9 de
junho de 1779. De um total de quatro páginas, destacamos os seguintes parágrafos:
Do poder da música de afetar os ouvintes e despertar paixões humanas temos
vários exemplos surpreendentes na história antiga. Dizem que os músicos
gregos da época eram capazes de produzir qualquer paixão: inspirar amor ou....
ódio, alegria ou dor, esperança ou temor, valor, fúria ou desespero. Podiam • •
despertá-las uma depois da outra ou variá-las de acordo com a melodia;^
Como explicar esse fato? A música moderna não alcança tais efeitos, embora todofe
reconheçam que nossos instrumentos superam os antigos em todos os itens de
comparação. O que é a lira, instrumento de sete ou dez cordas, comparado comí
o nosso violino? O que é qualquer uma de suas flautas confrontada com o nosso* '
oboé ou a nossa flauta alemã? O que representam juntos todos os instrumentos':
usados nesses dois ou três mil anos, em comparação ao nosso órgão? Por que, entãoiiíí
com essa vantagem inconcebível -a música moderna tem menos poder que a antig^l
Em algumas ocasiões, a música moderna tem conseguido alcançar efeito tão poderoso ;
quanto a antiga, de maneira que, frequentemente, indivíduos ou mesmo platéias;^
numerosas chegam a derramar lágrimas. Mas quando sucedeu tal coisa? Em geral;
no momento em que é cantado um formoso solo, o som repercute como um eco dei
sentimento, a música flui extremamente simples e sem enfeites. Quando o compositor
se preocupa com a melodia, e não com a harmonia. Só assim apa laturait
da música para mover as paixões. A melodia foi calculada para tal finalidade e a cumpre.
Por isso, tantas pessoas se vêem afetadas pelos ares escoceses e irlandeses, compostos
não de acordo com as regras da arte, mas da natureza. Simples no mais alto grau, sem
harmonia, de acordo com o atual sentido da palavra, mas com muita melodia. Ela não é
ouvida unicamente, mas sentida por todos os que mantêm seu gosto nativo, que ainda não
foram viciados, corrompidos, por dar atenção ao contraponto e à música complicada.
O contraponto e a harmonia, assim chamados, destroem o poder da música. Se,
alguma vez, pudessem desaparecer de nossas composições, se pudéssemos retornar
à simplicidade e à melodia dos antigos, então, os efeitos de nossa música seriam
surpreendentes. E, provavelmente maiores do que antes, já que os instrumentos
modernos são bem melhores que os antigos.

10 de junho - Destruindo a Base

Em 10 de junho de 1741, John Wesley pregou sobre o “reino interior de


Deus” em Markfield, cidade com forte influência moraviana. A congregação
recebera a sua palavra de modo bastante positivo e muitos descobriram ser
hereges de coração e cristãos nominais.
A tarde, em visita à residência do sr. Joseph Caladine, homem simples e aberto
de coração, desejoso de saber e fazer a vontade de Deus, Wesley surpreendeu-se
com a informação de que, meses antes, a região havia passado por um avivamento,
entretanto, desde a chegada do sr. Símpson, três quartos do povo ficaram mais
adormecidos que nunca. Era uma pena a comunidade quase inteira ter perdido
p ímpeto do início. Sugeriu, então, a Caladine não descuidar da oração, um meio
de graça imprescindível, mas a resposta desse irmão deixou-o consciente sobre
o que estava de fato acontecendo naquela comunidade. Caladine argumentou
que não havia uma base bíblica para a oração familiar, nem para a privada, não
necessitando o crente fazê-las. “E o que nosso Senhor Jesus Cristo quis dizer
com a recomendação ‘Entra no teu quarto e, fechada a porta, ora’” (Mt 6.6)?,
retrucou o pastor. E ouviu do irmão que a frase era simbólica, significando a
entrada no quarto do coração.
À noite, Wesley reuniu-se com a sociedade de Nottingham e percebeu
importantes mudanças, fruto da influência quietista: 1. nem metade do salão estava
Ocupada, ao passo que, pouco tempo antes, o local ficava tão lotado que sobrava
gente lá fora; 2, ao entrar, ninguém fazia qualquer oração; todos se sentavam
knediatamente, falavam com o vizinho ou olhavam ao redor para conferir os
presentes; 3. quando começou a orar, a surpresa foi geral, ninguém se ajoelhou e oi
que ficaram em pé postaram-se.o mais negligentemente possível; 4. tanto os binários
metodistas quanto as bíblias, antes sempre disponíveis, tinham desaparecido e, em
seu lugar, havia hinos moravianos e os sermões do conde Zinzendorf.

11 de junho - Surpresas Agradáveis

Numa segunda-feira, 11 de junho de 1764, John Wesley prega a um público


bastante cortês em Inverness, uma das maiores cidades da Escócia, depois de
Edimburgo, Glasgow e Aberdeen. Com as ruas principais largas e retas, casas
antigas, nem boas nem más, a cidade situa-se num lugar tranqüilo, com todas
as condições para a vida e a piedade. As pessoas em geral falam um inglês
extraordinário e têm comportamento amigável e cortês.
Depois do culto, um cavalheiro convidou-o para visitar seu povoado,
afirmando que o ministro da paróquia ficaria muito feliz se ele fizesse uso
de sua igreja. Não era do seu feitio recusar convites de tal natureza, mas, em
razão de diversos compromissos agendados, não havia como aceitá-lo. Wesley
precisava estar em Aberdeen na quarta-feira seguinte, 13 de junho. O máximo
que conseguiría fazer era pregar uma vez mais em Inverness, atendendo aos
insistentes apelos dos metodistas.
-Assim, durante o segundo culto, impressionou-se com a igreja lotada, bem
mais do que nas ocasiões anteriores. Além do grande número de pessoas, o
comportamento sereno e educado delas depois o culto o surpreendeu. Homens,
mulheres e crianças permaneceram reverentes, e em profundo silêncio, enquanto
ele caminhava pela rua central da cidade.
Durante a viagem a Aberdeen, procurou compreender a admirável seriedade
da população de Inverness. Era bastante provável que a justificativa, se dava ao
fato de, nos últimos cem anos, ter contado com uma sucessão, de ministros
piedosos como poucos em toda a Grã-Bretanha. %

X2 dê junho “ ^SSSD3S Mgjhycsdss

Uma sociedade metodista de Newcastle atravessava fase muito difícil,


ado,-em 12 de junho de 1774. John Wesley visitou-a para informar-se
problemas aíi escorridos. Nem mesmo Peggv Snenser e Saih7 Blackburn,

176
pessoas importantíssimas e grandes amigas suas, estavam presentes à reunião,
comprovando a seriedade da situação.
À noite, chamadas para conversar, Peggy Spenser decidiu-se, felizmente, a
se reintegrar ao grupo. Já Sally Blackburnera recusou-se até mesmo à conversa.
Em prantos, acabou trazida quase à força, mas não se permitiu sequer um olhar
ou uma palavra a Wesley.
O que teria acontecido para machucar tanto aquelas pessoas? Conforme fora
averiguado, as causas da triste situação, nos últimos dois anos, da obra de Deus
naquele lugar eram: 1. nenhum dos pregadores foi capaz de portar-se como um
pai para os recém-nascidos; 2. Jane Salkeld, ativa na obra, casou-se e foi impedida
de reunir-se com os jovens, não restando ninguém para assumir o seu lugar; 3.
a maioria dos ativistas na sociedade era de homens e mulheres solteiros e, em
pouco tempo, criaram afeição desordenada entre si, afligindo o Espírito Santo de
Deus e resultando em separações; 4. muitos líderes subestimaram a obra de Deus
e chamaram de engano a santificação, de modo que afligiram-se ou se encheram
de cólera, acabando por debilitar-se; 5, conseqüentemente, o amor esfriou e a
desilusão, os ciúmes, o rancor e as conjecturas malévolas se multiplicaram.

13 de junho - Pregando no Cemitério

Após as já conhecidas resistências iniciais, a pregação ao ar livre tornou-se


característica do movimento metodista. De todos os novos e naturais templos, o
mais famoso foi o cemitério de Epworth. A lápide de Samuel Wesley, pai de John
Wesley, tornou-se um púlpito bastante conhecido.
Em 13 de junho de 1742, WesW aii pregou, a uma grande multidão de
pessoas, o capítulo 5 do Evangelho de Mateus, início do Sermão do Monte. O
culto começou às 6 da manhã e estendeu-se por quase três horas, pois a multidão
não abandonava o iocai. Vendo a extraordinária obra de Deus naquele lugar,
Wesley observa oportunamente:
Ninguém pense que o seu trabaiho de amor se perde quando os frutos não aparecem
imediatamente. Meu pai trabalhou aqui durante quase 40 anos, mas viu poucos resultados
do seu esforço. Também vivi muitas iutas e parecia ter gasto minhas forças em vão. Mas
agora o fruto aparece. Não havia quase ninguém entre o povo que tanto meu pai como eu
não tivéssemos experimentado aiguma aflição. Porém, a semente semeada tempos atrás
agora germina, trazendo arrependimento e perdão dos pecados.

177
14 de junho - Espaço para Pregadores Leigos

O surgimento de pregadores leigos no interior do metodismo resultou


mais de uma necessidade do que de planejamento. Conforme foi aumentando
o número de sociedades metodistas, em regiões cada vez mais distantes, ficou
claro para John Wesley a necessidade de ajuda. Assim, ele passou a indicar leigos 1
de sua confiança para assumir a direção dessas sociedades. Um dos primeiros,
John Cennick, reconhecido por sua liderança em Reading, foi chamado a auxiliar
o trabalho das sociedades de Bristol e Kingswood, no verão de 1739.
No inicio, cabiam a Cennick tarefas bem específicas, como liderar o povo nas
preces e no estudo da Bíblia e fazer as exortações ocasionais. Outras atividades,
como pregação e exposição da Bíblia, eram atribuições próprias dos clérigos.
Para Wesley, os limites estavam claros e definidos, portanto, ao convidar Cennick, 9
não esperava que ele extrapolasse suas funções.
A proposta foi aceita com entusiasmo, pois na ocasião Cennick já estava A
inteirado, por meio de George Whitefield, sobre o projeto de instalação de uma
escola metodista em Kingswood. Com a esperança de se tomar um dos professores
da escola, imaginou que o convite representasse um favorecimento a suas pretensões.
Porém, em 14 de junho de 1739, quando John Cennick já se encontrava
em Kingswood, Samuel Wathen, líder da sociedade da rua Baldwin, atrasou-
se e uma das mulheres insistiu para que Cennick lesse um sermão ou fizesse
uma exposição da Palavra de Deus. Antes de acatar a sugestão, mesmo sabendo
das suas atribuições, Cennick “lançou sortes” para saber a vontade de Deus,7
a exemplo do próprio Wesley, que costumava fazê-lo. Tranquilizado com|
o resultado positivo da experiência, falou ao povo “com ousadia e particular*!
liberdade em seu coração”. -iÊÊ
Depois disso, John Cennick não parou mais de pregar. Em seu Joumal^M,
registra que sua pregação era bem-aceita, não só em Kingswc )d, mas tambéntji
em Bristol e em outras localidades da região.

15 de junho - Infero Merece Respeito

Numa viagem a Londres, em 15 de junho de 1741, no início de seu ministério^


John Wesley leu o famoso Comentário de Martinho Lutero sobre a Cpísíola aos Gálate.
Sua reação foi bem interessante:

178
Fiquei completamente envergonhado. Quanto havia eu estimado o livro, por
conta das recomendações de outros. Ou por ter lido excelentes citações suas. Mas,
o que dizer agora que o julgo por mim mesmo, que o vejo com meus próprios
olhos? O autor não só não diz nada, não esclarece nenhuma dificuldade relevante,
como também é superficial em seus comentários sobre várias passagens e confuso
em quase todas elas. O livro é profundamente místico, do princípio ao fim e,
portanto, fundamentalmente equivocado. Por exemplo, para citar apenas um dos
pontos por ele levantados, como pode desacreditar a razão, considerando-a um
inimigo irreçonciliável do Evangelho de Cristo? O que é a razão se não o poder
de compreender, julgar e dissertar? Esse poder não deve ser condenado em sua
totalidade mais que o poder de ver, ouvir ou sentir.

Apesar dessa severa avaliação, cabe destacar o profundo respeito nutrido por
H Wesley a Lutero. No sermão At salvação pelafé, pregado na igreja de Santa Maria, em
pOxfòrd, em 11 de junho de 1738, ele o chama de “glorioso campeão do Senhor
dos Exércitos”. Numa carta a Elizabeth Hutton (ago./1744), afirma admirar
li mais Lutero do que Calvino. Mais tarde, em seu Journal (jul./1749), concluindo
a tradução de um livro sobre a vida de Lutero, o descreve como “um homem
I altamente favorecido de Deus e um bendito instrumento em suas mãos”.
Em AÍ vinha do Senhor; escrito em 17 de outubro de 1787, com base em Isaías
i 5.4, retoma a crítica feita em junho de 1741 sobre a sua frustração quanto à
leitura do livro de Lutero.
Fala-se com frequência que poucas pessoas conseguem alcançar uma posição dara a
respeito da justificação e da santificação. Muitos têm falado e escrito admiravelmente
bem sobre a justificação sem ter dela uma idéia clara e, mais, ignorando completamente
a doutrina da santificação. Será que alguém conseguiu escrever com mais acerto que
Martinho Lutero a respeito da justificação somente pela fé? E, certamente, ninguém
mais ignorante que ele, ou com idéias tão confusas, sobre a doutrina da santificação.
Para nos convencer desse fato, e esclarecer qualquer dúvida, basta ler o seu tão famoso
Comentário sobre a Epístola aos Gaiatas.

lis de junho - Uma História inusitada


Apanhado por uma forte chuva de verão, na Irlanda, e sem ter onde se
j|abrigar, Wesley correu até uma pequena cabana, onde havia um grupo de
^crianças com a mãe, a avó e a bisavó. Percebendo o temor das mulheres, um
;dos companheiros de Wesley, que falava irlandês, apresentou-se à família. Em
Iseguida, no lugar simples e pequeno, cantaram um hino e .fizeram orações.

179
Quando a chuva passou, “nos retiramos, depois de dar-lhes um pouco de-
dinheir.o, e todos nos,seguiram com milhares de bênçãos e agradecimentos’’,
anota wesiey, em seu Journal (ló/jun./1765). É bastante provável que tal
encontro inusitado tenha repercutido na vida daquelas pessoas simples.
No mesmo dia, mais tarde, Wesiey ouviu um estranho relato de Prudence
Nixon sobre George, seu falecido esposo. Em novembro do ano anterior, num
domingo à noite, o marido orava fervorosamente, desejoso de parür e estar
com Cristo. De madrugada, ela percebeu o marido com o corpo endurecido,
sem sentido e movimento. Supondo-o morto, orou com grande fervor e
clamou por quase meia hora; “Senhor Jesus, devolva-me George! Não o leve!”,
O marido, então, abriu os olhos e disse enfaticamente: “Melhor seria se você
tivesse me deixado ir!”. Zangado, começou a maldizer e blasfemar. Durante
dias, pareceu estar possuído por um espírito imundo. No final daquela semana,
sofrendo terrivelmente com a situação, a mulher orou: “Senhor, estou disposta
a entregá-lo a Ti”. Na mesma hora, o marido recobrou o entendimento e,
ternamente agradecido, beijou-a, deitou e morreu.

17 de junho - Lutando com Deus em Oração

A noite de 17 de junho de 1749, um sábado, não era muito convidativa.


- •: O vento castigava as ruas de Athlone, dificultando o acesso ao novo salão
:> metodista. Apesar da intempérie, o culto dirigido por John Wesiey foi bastante
abençoado. Se lá fora o vento açoitava fortemente, convidando as pessoas a.
esconder-se em casa, no salão recém-inaugurado, o vento do Espírito Santo agia
de forma maravilhosa.
Após a pregação da Palavra de Deus, Wesiey perguntou se alguém desejava
se entregar ao Senhor, de corpo e alma. A sra. Glass, com um grito fortíssimo,
fez tremer o lugar: “Eu me entrego”. Ao dar o seu testemunho,, suas palavras
foram tão penetrantes como relâmpagos. Outra mulher também testemunhou a
sua decisão. Em seguida, a sra. Meecham, sofredora e desesperançosa, levantou-
se, deu seu testemunho, cantou e louvou a Deus.
Ao perceber c- clima extremamente propício, John propôs organizar ã
sociedade local e todos continuaram orando, como se os seus corações se
integrassem em um só. Ninguém se moveu ao final do culto e do pronunciamento
da bênção apostólica: todos permaneceram quietos, em seus lugares, enquanto

ISO

.-3
VCfesley passava pelo corredor. Na saída, foi chamado por outra mulher: “Meu
fi---peus, o Senhor me esqueceu!”, que, m seqüència, caiu ao chão. A presença de
peus foi invocada; o clamor deie e de todos os presentes foi intenso. Todos
ficaram ali, lutando com Deus em oração, até que Ele deu a resposta de paz.

T 18 de junho - Crianças, Jovens e Adultos se Convertem

John Walsh, um leigo metodista que acompanhou de perto o extraordinário


reavivamento na cidade de Everton, costumava testemunhar sua experiência
de conversão. Como Wesley, ele também se considerava um tição tirado do
fogo: “Tenho observado freqüentemente que nada do que eu digo causa tanta
impressão sobre mim e os outros como recontar a minha conversão”.
O Journal de Wesley traz o relato, provavelmente de John Walsh, da obra de
Deus em Everton e vizinhança (18/jun./1759):
Ao chegar à casa onde o sr. Berridge havia pregado pela manhã, encontramos
% pessoas regozijando-se em Deus e rogando ao Senhor. Enquanto orava, muitos se
r"
• amontoaram na casa. Começaram com um estranho e involuntário riso, de forma
>- que ficou difícil ouvir a minha voz. Tentei falar mais alto, mas uma rouquidão
li-
repentina se apoderou de mim e o riso aumentou. Comecei a orar quando me
p' dei conta de que aquilo era obra de Satanás. Imediatamente o Senhor repreendeu
e o riso acabou, assim como a minha rouquidão. Uma intensa luta com Deus
corria por todos os presentes, com pena ou júbilo, até que, além das três jovens
da casa, uma moça e uma menina de 12 anos, consideradas as pessoas mais
malvadas de Harston, foram grandemente abençoadas com as consolações divinas.
Uma anciã, que antes ridicularizava o Evangelho e fazia chacotas dos que choravam,
debulhou-se em pranto. Outra mulher, que havia conhecido o Senhor por 25 anos,
ao ouvir pela primeira vez a pregação do sr. Berridge, ficou cheia de felicidade,
reconhecendo a salvação que Deus, desde muito tempo, havia trazido ao seu coração.

19 de junho - Escola para Crianças Pobres

Em junho de 1739, Wesley se encarregou de resolver um problema que


^gustiava os moradores de BristoL Não havia escola nas instalações das minas
de Kingswood e ele se preocupava com as crianças pobres, que deviam não só
aPrender a ler, escrever e contar, mas também conhecer Jesus Cristo e a Palavra

de Deus. Assim, levou avante um piano concebido iniciaimente por Whitefieid:

131
construir uma escola perto de Two-Mile Hill, com espaço para pregação,
acomodação de dois professores e destinada a estudantes de todas as idades,
incluindo idosos. A nova escola foi construída em Kingswood, fora de Bristol.
Três semanas antes da reabertura dessa escola, em 24 de junho de 1748,
a conferência estabeleceu as regras e seu currículo, com o objetivo de instruir
crianças “em todos os ramos do conhecimento útil”, do alfabeto às qualificações
apropriadas ao “trabalho do ministério”. A lista de matérias era impressionante:
leitura, escrita, aritmética, francês, latim, grego, hebraico, álgebra e música.
Para as matérias de inglês e cinco outras línguas, Wesley escreveu e publicou
gramáticas. A primeira turma, de estudantes de seis a dez anos de idade, teria
línguas,- tradução e versão de livros como Instruções para Crianças e Praelectiones
Pu&riles. Na terceira série, os alunos leríam as Confissões de Santo Agostinho e, na.
quarta, Cesar. Na sétima série, nível máximo, seria feita a leitura da Ilíada, de,Ç.-iè.»
Homero, de versos em grego e da Bíblia hebraica. A expectativa era de que Sk?
qualquer estudante com o currículo de Kingswood seria melhor que 90% dos
graduados em Oxford e Cambridge.
A severidade do programa igualava em rigor a disciplina acadêmica. A rotina
começava com orações particulares e cânticos às 4 da manhã, seguindo-se com
as matérias acadêmicas, práticas devocionais e refeições até o horário de dormir,
às 8 horas da noite. Os períodos da manhã e tarde terminavam com um intervalo
para andar ou trabalhar. A ausência de recreação era explicada simplesmente
com a frase: “Aquele que brinca quando criança brincará quando for homem”. O
cardápio, organizado cuidadosamente por Wesley, incluía jejum nas sextas-feiras
até as 3 da tarde por todos os que estivessem com saúde.

d.0 de junho - Um Acidente Perigoso

John Wesley detalha, em 20 de junho de 1774, o que podería ter sido o mais
séiio incidente de sua vida.
Perto das 9 horas, parti para Horsley, com o sr. Hooper, o sr. e a sra. Smith e suas duas
pequenas filhas. A três quilômetros perto do povoado, na parte mais alta do caminho,
os cavalos repentinamente desabalaram colina abaixo, rápidos como flecha e sem.
nenhuma causa aparente. Caí da boléia e os cavaios corriam, a toda velocidade, rentes.
ao precipício. Quando surgiu uma carroça no sentido contrário, esquivaram-se, como se
tivesse aiguérh na condução, e depois passaram tranquilamente por uma ponte estreita,
As pessoas corriam da frente deles e, mais à frente, eies cruzaram um portão aberto.

182
Nesse instante, avistei outro portão, fechado, e achei que enfim ele os deteria, mas
estava enganado. As crianças gritavam “Avô, salve-nos!”, e lhes respondi: “Vocês não
vão se machucar, não tenham medo!” Aquela altura, não senti mais temor ou inquietude
(Bendito seja Deus) do que se estivesse sentado em meu escritório. Os cavalos
continuavam correndo, aproximando-se de um precipício profundo, quando o sr. Smith
lançou-se à nossa frente, detendo-os. Se continuassem, todos cairiamos no abismo!
Algumas das mais extraordinárias circunstâncias foram: 1. os dois cavalos, mansos e
tranqüilos, começaram a correr a toda velocidade justamente no topo do morro; 2.
embora o cocheiro fosse jogado com toda violência ao chão, não se machucou; 3. a
carruagem passou duas vezes rente ao precipício sem cair; 4. esquivou-se da carroça;
5, atravessou a ponte sem problemas; 6. a meia-volta feita pelos animais, depois de
atravessar o primeiro portão, não podería ser feita, com tamanha velocidade, nem por
um cocheiro experiente da Inglaterra; 7. os cavalos atravessaram o segundo portão,
derrubando-o, sem diminuir a velocidade, o que é quase impossível. Provavelmente, a
madeira da carruagem tenha golpeado o portão no centro, rompendo-o; 8. as crianças,
gritando de medo, ao me ouvir dizer que nada de mal lhe aconteceria, calaram-se
imédiatamente e ficaram tranqüilas; 9. finalmente, o sr. Smith chegou no tempo certo;
um minuto a mais e estaríamos no precipício. “Digam-nos os redimidos do Senhor, os
que Ele resgatou da mão do inimigo” (SI 107.2).

21 de junho - Encontrando Gênios

No interior do movimento metodista surgiram os mais admiráveis


| personagens. John Wesley destaca a figura de John Downes, pregador reconhecido
| como pessoa de brilhante inteligência e gênio incomum. Tão impressionado
ifficou com Downes, que chegou a compará-lo a Isaac Newton. Para comprovar
Éa sua genialidade, menciona três exemplos. No tempo de colégio, John Downes
Ivdisse ao professor de álgebra: “Se^rhor, posso provar essa preposição melhor
f do que está no livro”. No início o professor não acreditou, mas ele conseguiu
|| provar-lhe que sua fórmula estava correta. Tempos depois, seu pai o mandou a
1-NewcastLe, com um relógio para ser consertado. Ele observou atentamente as
| ferramentas e o trabalho do relojoeiro e, chegando em casa, fez suas próprias
ferramentas e outro relógio, que funcionou perfeitamente.
u-ceiro exemplo da genialidade de Downes foi presenciado por Wesley.
|Mals ou menos 30 anos atrás, enquanto fazia a barba, viu-se observado
atentamente por Downes, qim lhj.í'í.uc ibém
±.í.íesculpia
uov numa madeira. O gênio estava
>?ssj 17j i va i ido o seu rosto, pois pretendia grava—lo
_ln mi numa folha oe cobre. Sem

nenhum tipo de experiência anterior, fez as ferramentas e gravou o prato. Ao


183
que tudo indica, a obra de arte agradou Wesley, pois mais tarde foi utilizada no:
prefácio das Notas sobre o Novo Testamento. .27
Em janeiro de 1772, Wesley passou uma hora agradável na companhia do dr.
S., seu amigo mais idoso na época, o maior gênio que já tinha visto, especialista em
construir miniaturas. Todos os objetos de sua casa eram projetados e construídos
por ele, destacando-se a tela em frente à lareira, os vários tipos de lâmpadas e
o recipiente para tinta. Incomodado com os ratos que infestavam as habitações,
Wesley sugeriu-lhe projetar uma ratoeira, acreditando que, se o amigo se propusesse
seriamente a fazê-la, poderia ter inventado a melhor feita até então no mundo.

22 de junho - Conversando com as Pessoas

No dia 22 de junho de 1761, uma segunda-feira, John Wesley conversa


com cada um dos membros da sociedade metodista de Hutton Rudby. Das
80 pessoas, identificou que 70 possuíam grande convicção religiosa, 16 haviam
passado por uma renovação de amor e estavam sedentas. Havia também um
grupo de meninos e outro de meninas caminhando muito bem.
As 11 da manhã, pregou novamente e reuniu-se com os líderes da sociedade.
Apesar de se sentir fisicamente debilitado, ainda encontrava forças para animar
os metodistas a prosseguir na gloriosa obra do Senhor Jesus. Exortou-os
amorosamente, explicando que o caminho cristão é estreito e são muitos os
obstáculos a serem superados pelos fiéis, mas os que perseveram até o fim
recebem a herança do Senhor.
Depois dessa curta estadia, cumpriu a mesma maratona em Stokesley,
prosseguindo até Guisborough. O sol do verão queimava, mas de vez em quando
alguma nuvem se interpunha. Uma pessoa, que não era metodista, mas que, de
algum modo, tinha amor pela causa do Evangelho, sugeriu-lhe a realização do
sermão no mercado central. Escolheu-se o local, arrumou-se a mesa, entretanto,
a vizinhança não era nada boa. Além do barulho, 0 fedor forte de peixe quase
astixiava o pregadior, cuja vontade era sair dali para um lugar mais arejado, l/ius
aquele era o local onue as pessoas estavam e poucas se disporiam a acompanhá-lo
a um lugar mais aprazível. Começou a pregação, “a voz do Senhor soou tão forte
como o estrondo das águas” (Si 93.4) e, em poucos minutos, a multidão tornou-
se tranqüila e atenta. I_eu o texto 1 Coríntios 1.30 e oroclamou Tesus que
r
"'nos tornou da oarte de Deus sabedoria, iustiça, santificação e redenç^ ^ 5>
23 de junho - Cristianismo Guerreiro

Em junho de 1766, John Wesley encontrava-se na Escócia. No dia 23


de junho, início de verão, ele viajava a cavalo por uma região extremamente
aprazível, sentindo no rosto a brisa suave, a caminho de Thornhill, localizada a
96 quilômetros de Glasgow.
Chegando ao povoado para pregar o Evangelho e se reunir com os metodistas,
conheceu o livro A História da Igreja da Escória, de John Knox. Impressionou-se
çom o espírito beligerante da obra. Ao invés de apontar os equívocos cometidos
pela Igreja, o autor exaltava o espírito guerreiro e belicoso empreendido
por ela em sua tarefa missionária. Diante de uma história marcada por tanta
violência e agressividade, não se podería esperar outra coisa dos cristãos. Nem
ficar assombrado com o fato de os cristãos escoceses serem violentos, ácidos e
amargos de espírito. Esse exemplo histórico tão eloqüente permitia compreender
a situação atual da Igreja naquele país.
As pessoas costumam justificar aquele tipo de trabalho e comportamento como
uma exigência da época, como no Antigo Testamento, na entrada à terra prometida.
Para Wesley, era possível compreender a cultura veterotestamentária, mas não
admitir tal espírito belicoso na* Europa cristã. O trabalho de Deus não necessitava do
trabalho do demônio para levá-lo a cabo. O fim não podia jamais justificar os meios.
Isso era uma falácia, uma mentira. Um espírito tranqüilo e calmo conseguia realizar
bem melhor um trabalho difícil que um espírito furioso. Ainda que, no tempo da
Reforma, Deus tenha contado com pessoas amargas, altivas e apaixonadas, não as
usou porque elas eram assim, mas apesar de serem assim. Não há dúvida de que as
teria usado mais e melhor se tivessem um espírito- mais humilde.

24 de junho - Enfrentando Crises

Os conflitos produzidos por George Bell e seus seguidores tiveram ampla


| repercussão. Após o fracasso da previsão do fim do mundo, muitos se sentiram
frustrados e abatidos. Mesmo os que não tinham participado do movimento
| também se viram desorientados. Na carta de John Wesley à srta, J. C. March, de
|':24 de junho de 1764, ele agradece as informações positivas e assinala o fato de
outras pessoas lhe terem escrito que a situação estava controlada, que havia mais
f tranquilidade e que Deus tinha repreendido os ventos e tempestades.

185
J. C. March sempre foi admirada por Wesley, considerada cristã exemplar,.^
modelo a ser imitado oelos metodistas. Entretanto' nessa ocasião ela enfrentava'^
uma fase difícil, depois de ter chegado a um nível espiritual tão elevado. Por isso,
perdera parte de sua confiança, sentindo-se uma cristã de segunda classe. O texto
de Wesley mostra a sua preocupação em incutir à amiga a retomada de confiança.
Estou preocupado com você. Não posso duvidar, por nenhum momento, de que você
está salva do pecado. Cada ato seu, cada palavra ou pensamento sempre estiveram
cheios de amor. Você era, em certa medida, uma testemunha viva da perfeição que
creio e prego, a única perfeição da qual somos capazes enquanto permanecermos
nesse corpo. Levar a perfeição a um ponto mais alto é debilitar seus fundamentos
e destruída da face da Terra. Preocupo-me com você, temo que, ao comportar-
se como uma sombra, haja perdido a substância e, aspirando a umà perfeição que .
não se pode alcançar, haja descartado aquela pertencente agora aos filhos de Deus,
Esse é o amor que preenche o coração. Certamente preencheu o seu e poderá
lo novamente, por causa da sua fé simples e sincera. Não abandone sua confiança,'.;'^
que receberá como prêmio uma grande recompensa. Converse muito com o.s;%
completamente despertos, que lutam não para destruí-la, mas para edificá-la. Maldita.'^
seja toda humildade que faz naufragar a fé. Olhe para o alto e receba o poder de
Deus. Receba mais uma vez tudo o que você já teve e muito mais. Não dê lugar
raciocínio pernicioso. Você precisa proteger-se por uma mão forte e terna. Seja como V
uma criança pequena. O Senhor está perto. Ele é seu e nada lhe faltará. ^

25 de junho - Quais são as Acusações?

Em 25 de junho de 1745, além dos membros da sociedade metodista di


St. Just, havia muita gente ávida para ouvir a Palavra de Deus. A noite, Wesií
pregou para numerosa congregação e, depois, reuniu-se com os membros
sociedade mais amável e formal que conhecia. Tudo correu bem.
Na manhã seguinte, às 5 horas, pregou novamente a um público numeros&1
e atencioso sobre o texto de Romanos 8.1: “Nenhuma condenação aos
estão em Cristo Jesus'"’. Após o sermão, um sargento aproximou-se e pre
Edward Greenfield, mineiro de 46 anos de idade, casado e pai de sete
Os presentes murmuraram, indignados, pois conheciam o comportamento
acusado. Assistindo a movimentação, Wesley perguntou quais eram as acusar
a Greeníieid. Sabia que Greenfield, três anos antes, quando não conhecia
Evangelho de Jesus Cristo, tinha um comportamento condenável. Era conheeicfê

186
iglçomo beberrão, irresponsável e capa2 de todo o tipo de iniqüidade. Entretanto,
convertido ao metodismo, havia se tornado uma nova criatura, abandonando
tòdefinitivamente seu antigo modo de vida. Teria o irmão Greenfield tido uma
§yrecaída? Haveria algum problema importante?
|§ O sargento e um cavalheiro que o acompanhava explicaram que aquele
|| homem era, na verdade, muito bom. Não havia nenhuma acusação contra o
|| seu comportamento moral. O problema era ter se tornado arrogante e dÍ2er a
pf todos que Jesus Cristo havia perdoado os seus pecados. Orgulhava-se de saber,
l|de ter convicção e de seus pecados terem sido perdoados por Cristo. Certos
if‘cavalheiros da comunidade, acostumados com o antigo Edward Greenfield, não
"^toleravam a mudança, nem admitiam tamanha insolência.
Um metodista estava sendo condenado porque ousava crer nas palavras
|ie Cristo, ousava afirmar para as pessoas que Jesus Cristo havia perdoado os
peus pecados! Essa era a acusação. Que dia aprazível aquele! Que comunidade
pnetodista extraordinária! John Wesley estava felÍ2. Podia pegar o cavalo e partir,
ló testemunho de pessoas como Edward Greenfield iria produzir muitos frutos.

26 de junho - Colocando o Dedo na Ferida

Em carta de 26 de junho de 1790, endereçada a um bispo anglicano, John


Ipfesley escreve:
Pode parecer estranho uma pessoa que não o conhece pessoalmente incomodá-
lo com uma carta. Porém, sinto a necessidade de fazê-lo: creio ser o meu dever. E
preciso falar com franqueza, pois não tenho nada a esperar nem a temer nesse
mundo, que estou a ponto de abandonar. Os metodistas, em geral, são membros
da Igreja da Inglaterra. Crêem em suas doutrinas, assistem seus serviços e
participam de seus sacramentos. Não fazem' mal a ninguém intencionalmente,
mas procuram praticar todo o bem possível a todos. Para isso, empregam
íreqüentemente uma hora juntos, em oração e exortação, ajudando-se mutuamente.
Permita-me, então, perguntar: “Cui botio”? Co'm que propósito razoável expuisatia essas
pessoas da Igreja? Não são tão tranqüilas, piedosas, inofensivas, ainda mais que qualquer
um de seus vizinhos, com exceção, talvez, de algum louco que não sabe o que faz? Quem
os expulsa da Igreja? V. Sa. o faz, de forma cruel e dissimulada. Eles desejam uma licença
para adorar a Deus segundo suas próprias consciências. V. Sa. nega e os castiga, porque
eles não possuem essa licença, não lhes deixando nenhuma alternativa a não ser “Deixar a
Igreja oumorrer de fome”. V. Sa. £ um bispo cristão, protestante, que persegue seu próprio
rebanho? E certo que não os queima, porém, os mata de fome. S pequena a diferença!

187
E V. Sa. apela a uma lei civil e abominável, não melhor que a legislação sobre a queima­
dos hereges. Assim, a perseguição proscrita na França é tolerada outra vez na Inglaterra.'
Oh, meu Senhor, por Deus, por Cristo, pela misericórdia, permita a essa pobre gente
desfrutar de liberdade religiosa, da mesma forma que desfruta de liberdade civil. Estou
perto de entrar na eternidade. Talvez V. Sa. também! Talvez, dentro de pouco tempo,
tenha de prestar contas ao grande Pastor e Bispo de nossas almas. Que Ele nos permita
fazê-lo com alegria.

27 de junho - Um Triste Acidente

Acidentes acontecem em todas as partes e em todos os momentos. Com


John Wesley ocorreram muitos. No entanto, é provável que o acidente mais
marcante de sua vida tenha sido o de Belton, no dia 27 de junho de 1786, por
volta da 1 hora da tarde.
O acidente não aconteceu com ele, mas, por envolver crianças, certamente o-
marcou bastante. Ele pregava ao ar livre, como fizera milhares de vezes, quando
uma senhora, mãe de três crianças pequenas, as deixou brincando no quintal, ao
lado de um poço. A menor, de apenas dois anos e meio, inclinou-se e caiu rio
poço. As outros duas correram para socorrê-la, mas a tábua em que pisavam se
rompeu, atirando-as para dentro do poço. Depois de grande tumulto, as crianças
acabaram resgatadas.
Wesley recomendou uma respiração boca-a-boca e esfregar sal no corpo
dos meninos. Infelizmente, a criança menor, que ficou mais tempo na água, não
pôde ser socorrida a tempo e faleceu. Foi uma experiência difícil para a família,
para os vizinhos e também para o próprio pregador metodista.

28 de junho - Saúde de Ferro

John Wesley sempre foi muito orgulhoso e agradecido a Deus por sua saude
física. São comuns, em seu Journal\ após ter alcançado os 70 anos, comentários
V/u-t-rro +- A» mitrlf* rr>#alhrvf e* mnip /~51 o ♦-*/~\ r» i/-• íí/-n ✓ ni •. /a D C ,-v,, Q í\ .-\o
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'*-'*-•-**.v-1-£3<-«,0. ^ ouvu. ixj.vu.ivi •— vwjl jljlxaao uxopuoiyav mu.v^ auo Í j U ju alJLvQO

de idade, üm 28 de junho de 1770, dia do seu aniversário, ele refletiu sobre as


razões de sua boa saúde.
i osso crer oiie & ciuríio petiaS cumpro / >.j Anos. C,/uao msx&vixiiosos ss.o os catuinnos
de Deus! Como tem me guardado desde a minha meninice! De 10 aos 13 ou 14 anos,

188
tive somente pão como alimento e nem sequer o suficiente. Creio que, em vez de me
prejudicar, isso me deu a base de minha boa saúde. Quando cresci, depois de ler o livro
teyne, ch ■ rvo c>r ir>ha A K I- AI* Kocfçmf-A ór
a i
i. Es
outro grande meio de manter minha saúde até os meus 26 anos. A partir daí, comecei
a cuspir sangue e o fiz por vários anos. Um clima cálido me curou o mal. Depois,
estive próximo da morte por conta de uma febre, que me deixou mais saudável do
que nunca. Onze anos mais tarde tive tuberculose em terceiro grau e, em três meses,
Deus curou-me. Desde essa data, não mais conheci mais dor ou enfermidade e agora
estou bem melhor de saúde do que aos 40 anos! É a obra de Deus!

Anos depois, em 28 de junho de 1784, afirmou:


Hoje começa meu octogésimo segundo ano e me encontro forte para trabalhar e
em boa forma física e mental para qualquer exercício, como se üvesse 40 anos. Não
imputo isso a causas secundárias, mas somente ao soberano Senhor de tudo. Ele
ordena que o sol da vida permaneça pelo tempo que julga necessário.

Em seu Journal (28/jun./1789), apresenta um quadro totalmente diferente:


Nesse dia cumpro meus 86 anos. Envelheci: minha vista decaiu de tal maneira, que
não posso ler as letras pequenas, a menos que com luz forte; minhas forças decaíram,
tanto que caminho bem mais lentamente que anos atrás; minha memória para nomes,
de pessoas ou de lugares, enfraqueceu e demoro bastante para recordar alguma coisa.
O que eu temeria, se me inquietasse pelo dia de amanhã (Mt 6.34), é © meu corpo pesar
sobre minha mente, criando teimosia por causa da diminuição do meu entendimento ou
rabugice em razão do aumento das minhas enfermidades físicas!

29 de junho - Vizinhos Insensíveis

Em O cristianismo moderno manifestado em Wednesbury e outros lugares vizinhos


de Staffordshire, John Wesley relaciona diversos testemunhos de perseguições
aos metodistas.
Mary Turner conta que, certo dia de junho de 1743, por volta das 4 horas
da tarde, quando suas duas filhas brincavam em frente de casa, em West
Bromwich, apareceu um grupo de desordeiros. Eles começaram a atirar pedras e
ladrilhos com tanta rapidez e força, que eia pensou que seria adngida na cabeça.
Amedrontada, correu em direção a uma das filhas, que, muito assustada, chorava
e gritava pela mãe. Ao ouvir os seus gritos, eles passaram a atirar pedras na
jovem, que fugiu para uma casa vizinha. Contudo, antes de conseguiu entrar, a
porta foi atingida por uma grande pedra. A outra filha também foi perseguida e
apedrejada, uma pessoa correu atrás dela com um porrete nas mãos, ameaçando
atingi-la. Felizmente, conseguiu se esconder em outra casa vizinha, assustada e
certa de que seria assassinada.
Mary tentou conversar com o grupo revoltoso sobre o motivo daqueles
ataques. Um dos integrantes se aproximou com um porrete na mão, jurando
que, se ela dissesse mais uma única palavra, lhe daria um golpe na cabeça e a
enterraria numa vala. Em seguida, destruiu todos os vidros das janelas. Uma
mulher o ajudou a quebrar parte do telhado. As filhas de Mary Turner tiveram a
sorte de ser recebidas por vizinhos, Mas isso nem sempre ocorria.
John Griffiths conta que sua esposa e filhos fugiram para a casa de seu pai,
mas ele não quis deixá-los entrar. Só depois de a nora e os netos chorarem muito,
ele se apiedou e permitiu sua entrada. O mesmo ocorreu em muitos lugares.;
Os metodistas eram expulsos de suas casas e ninguém se animava a acolhê-los.-
Muitos vizinhos não prestavam ajuda por temer que os desordeiros destruíssem
também as suas casas.
Charles Wesley afirmava ser muito fácil identificar, entre os moradores
de uma cidade, as famílias metodistas. Bastava, olhar para as janelas, paredes e
telhados: as marcas da perseguição eram visíveis.
John Griffiths explica que os vizinhos e amigos ficavam enraivecidos com
a mudança de vida entre os metodistas. Convertidos, eles não mais bebiam, não
aceitavam os jogos de azar e não blasfemavam. O novo comportamento trazia
indignação e revolta geral, fazendo surgir as perseguições.

30 de junho - O Álcool é um Veneno

John Wesley sempre combateu rigorosamente o consumo de bebidas


alcoólicas. Em A um bebedor, ele afirma:
Quai a razão pela qual se envenena? Só por prazer? For prazer está disposto a transformar-
se numa besta ou ainda num demônio? Correrá o risco de cometer toda dasse de vilezas:.
pdo prazer sentido nos breves instantes em que o veneno desce pela garganta? Não pode
se chamar cristão! Não pode se chamar humano! Bebe por estar em companhia dos amigos, --,
visando a alegrá-los? Diz ser por causa da companhia. Como se explica isso? Tomaria
veneno para rato por causa da companhia? Mesmo que 20 outras pessoas bebam ao seu
lado, deveria recusar-se a fazê-lo. Quanto mais deveria recusar-se de ir ao inferno por estar J
com companhia. Também afirma que é para alegrar os amigos. Que tipo dc amigos são Jí
os que se alegram vendo a sua destruição? Que amigos suportam esse tipo de coisa ou
até mesmo procuram induzi-lo a isso? São criminosos, os piores inimigos, os tipos de
amigo capazes de sorrir,, ao mesmo tempo em que cravam um punhal no seu coração..
Não procure encontrar desculpas! Não diga como muitos: ífNão estou fazendo mai a
ninguém; só a mim mesmo”. Ainda que assim fosse, não deixa de ser um pensamento
pobre: “Só entrego ao diabo a minha própria alma e nenhuma outra”. Mas aí já é demais:
por que precisa entregar-lhe sua alma? Não faça isso; entregue-a para Deus. E inimigo do
rei porque lhe priva de um súdito útil; é inimigo de seu país, pois não presta o serviço que
podería, como humano e cristão. É, também, inimigo de cada um que o vê pecar, uma vez
que seu exemplo pode induzir-lhe a fazer o mesmo. A pessoa ébria é um inimigo público.
É inimigo de Cristo, do Senhor que o comprou. Desafia Sua autoridade e buria o Seu poder
soberano e o Seu imenso amor. Volta a crucificá-lo e, quando O chama Salvador, é como se
voltasse a ttai-Lo com um beijo. Arrependa-se!
Julho

Estou decidido a ser um cristão bíblico completo.


Há alguém disposto a seguir-me nesse caminho?

John Wesley, em sermão de 2 de julho de 1789, em Dublin


| Xg de julho - Pescando no Aquário do Vizinho

O movimento metodista do século XVIII também enfrentou um problema


l comum em nossos dias: o proselitismo barato que consiste em roubar membros
7'/ das outras igrejas.
% Ao chegar a Grimsby, em Io. de julho de 1779, um sábado, Wesley encontrou
• 7 uma pequena mostra desse comportamento. Segundo ele, nessa e em outras
7 regiões do reino, “esses mocetões chamados pregadores de Lady Huntingdon
.

f: têm atrapalhado bastante a obra de Deus”. Os tais “mocetões” andavam por


7 todos os cantos, misturando-se nas sociedades metodistas e confundindo as
; | pessoas ao questionar algumas doutrinas e afirmar que a permanência na Igreja
?£ Anglicana era um erro grave e intolerável. Optavam pelo caminho mais fáçil,
í | mas não o mais éüco e responsável. Eram pessoas sem coragem, capacidade ou
í graça para combater o diabo onde Cristo ainda não tinha sido pregado.
Não haveria problema se essa incursão no seio metodista fosse ocasional,
: f pois é compreensível que ocorra. Mas, de acordo com Wesley, tratava-se de uma
7 estratégia, de uma sistemática muito bem organizada. Aguardava-se a entrada do
A metodismo em certo local, deixando a cargo dele travar a grande batalha inicial,
- e, quando o grupo começava a se reunir, aproximava-se, suscitando contendas
t- sobre determinadas opiniões e costumes. Em Grimsby, um desses pregadores
L estava lutando para dividir o pequeno grupo e o pobre rebanho. Wesley sabia
p não haver muita coisa a fazer. O remédio era orar e alertar os líderes e pregadores
j|: para que tomassem cuidado.

| 2 de julho - Não há Bálsamo em Gileade?

“Acaso não há bálsamo em Gileade? Ou não há médico? Por que não se


realizou a cura da filha do meu povo?” (Jr 8.22). No sermão realizado em 2
de julho de 1789, em Dublin, e baseado nesse texto do profeta Jeremias, John
Wesley falou sobre as causas da ineficácia do cristianismo e sobre como tudo
seria diferente, sc os cristãos fossem mais generosos e dividissem seus bens
materiais com os pobres.
Por que o cristianismo fez tão pouco ao mundo? Não é ele o bálsamo, o instrumento
u-ado pelo Grande Médico à humanidade para restabelecer sua saúde espiritual? Por que
não consegue realizar a cura? Não teria sido a intenção do nosso onisciente e onipoten te

193
I

Criador, por meio do cristianismo, oferecer o remédio à corrupção da humanidade?


O cristianismo não conseguiu isso no passado, nem o estiL fazendo no presente, ,
E verdade que boa parte ua humanidade ainda não conhece o cristianismo. Entretanto,,.,
mesmo no Ocidente, a maioria dos que recebem o nome de cristãos sequer nem sabe
o significado do cristianismo. Mesmo nós, metodistas, que cremos num cristianismo
baseado nas. Escrituras, por que não conseguimos ser inteiramente cristãos?
Por que não é encontrado o remédio que traga saúde espiritual aos metodistas?
Rogo a Deus que me permita, antes de morrer, levantar a voz mais uma vez, como
um toque de trombeta, para alertar os que acumulam dinheiro e não dão tudo o
que podem. Muitos irmãos nossos, amados de Deus, não têm comida, roupas, nem
onde recostar a cabeça. Por que sofrem tanto? Vejam os membros pobres de Cristo,
traspassados de fome, tremendo de frio, quase nus! Enquanto isso, vocês desfrutam
da abundância das coisas desse mundo, como carne, bebidas e roupas. Será possível
atender a todos os pobres de nossa sociedade? A igreja primitiva de Jerusalém
conseguiu fazer isso. “Não havia nenhum necessitado e se repartia a cada um segundo
sua necessidade” (At 4.34-35). Temos provas suficientes de que, ainda hoje, isso pode
ser feito. Vejam os quakers e os moravianos. Por que não podemos fazer o mesmo?
Estou desconcertado e não sei o que fazer. Poderia ter feito muita coisa. Poderia ter
sido mais categórico e inflexível, dizendo: “Aqui estamos eu e a minha Bíblia. Não estou
disposto e nem me atrevo a apartar-me desse livro. Estou decidido a ser um cristão bíblico
completo. Há alguém disposto a seguir-me nesse caminho? Com respeito às roupas,
por exemplo, poderia têr sido tão firme como os quakers ou os moravianos. Poderia ter
dito: “Essa é a maneira como nós nos vestimos, porque sabemos estar de acordo com as
Escrituras e ser racional. Se te unes a nós, deves vestir-te como nós, ainda que, certamente,
não tens que unir-te a nós, a menos que realmente o desejes”. Lamentavelmente o tempo
passou! Não sei o que posso fazer agora.

3 de julho - A Justiça é Cega e Burra

Desde o surgimento do Clube Santo os metodistas sempre dedicaram


atenção especial aos presos. Em 3 de julho de 1761 Wesley está em York, onde
lhe solicitam que visite um pobre prisioneiro. Feita a visita, fica Sensibilizado
com a história da pessoa e se dispõe a ajudá-la.
n ocor aquela pessoa revela muito bem o papei oucstionavel no
judiciário inglês de então. Os pobres não tinham acesso à justiça. Aí daqueles que
caíssem nas mãos de um advogado inescrupuloso. Conta Wesley:
Tempos atrás, um homem que vivia perto de Yarm ajudou algumas pessoas a importar
conhaque de contrabando. Sua parte estava avaliada em 4 libras esterlinas. Após certo

19-
tempo, quando ele já havia abandonado completamente esse ofício e continuado com
seu trabalho de tecelão, foi conduzido a uma cadeia em York. Pouco depois chegou a
j§£ decisão da jusdça, dizendo que Jac W. havia desembarcado um barco carregado com
H? conhaque e genebra no porto de Londres e que, por essa razão, devia à S. Majestade
ã§:; 577 libras esterlinas e algo mais.
||i
gf-'.. Essa era a história do prisioneiro. Com tal dívida, ele jamais conseguiria
ji. sair da prisão do Castelo. Ironizando e considerando o exagero da justiça no
ikicaso, Wesley destaca que, para contar essa valiosa história, o advogado usou 13
% a 14 folhas de papel. Além de tudo, toda a acusação foi formulada de forma
Í mentirosa e leviana. A realidade era muito diferente do que a configurada no
% tribunal.
H O que fazer numa situação daquelas? Wesley lamenta, assinalando:
bg ■ Oh! Inglaterra, Inglaterra! Até quando podemos agüentar esse tipo de coisa? Há algo
|§:: de semelhante entre os papistas, turcos ou hereges? Em nome da verdade, justiça,
misericórdia e do bom senso, pergunto: 1. Por que as pessoas mentem pelo simples
fato de mentir? 2. Por que se afirmou que foi no porto de Londres, quando todos
sabem que o conhaque foi desembarcado a 480 quilômetros de distância? 3. Onde
está a jusdça, que infla 4 libras e as transforma em 577? 4. Onde está a misericórdia
de arrastar o rosto de um homem, chupar o sangue a um pobre despossuído de tudo?
y Não seria isso uma execrável vilania?
s■
4 de julho - Selecionando os Melhores

John Wesley assinala em seu Journal (4/jul./1786) que se reuniu com a


Lsociedade seleta de determinada cidade. Mas o que significa o termo select soàety
ftempregado por ele!
Antes de mais nada é necessário destacar que sociedades religiosas já existiam
|na Europa. O próprio Clube Santo era uma sociedade deste tipo. Foi numa
|reunião de uma sociedade religiosa na rua Aidersgate, em 1738, que Wesley teve
jsua grande experiência. Depois disso, ele ainda continuou participando durante
palgum tempo numa sociedade em Fetter Lane, Londres.
De forma geral, as sociedades admitiam membros de diversas denominações,
ias sociedades fundadas por Wesley participavam moravianos, presbiterianos
membros de diversos grupos dissidentes. A primeira sociedade inteiramente
|metodista foi a de Bristol. Depois dela, tornou-se comum o acesso apenas aos
simpatizantes do movimento metodista.

195
O nome original dado por Wesley foi o de “Sociedades Unidas”. Elas eram-
subdivididas em várias bandas, que se reuniam frequentemente, sobretudo com
o propósito de cuidar do sustento mútuo e para aplicar a disciplina aos membros
que não viviam de acordo com as normas impostas.
No seio de algumas sociedades, que contavam com um número muito grande
de pessoas, foi organizada a chamada sociedade seleta, composta por membros que
mostravam maior compromisso e que se decidiam a viver uma vida voltada para
a busca da perfeição cristã. No caso da sociedade seleta de Shelfield, Wesley diz
que “a maioria dos membros andava na gloriosa liherdade”, ou seja, haviam
recebido a graça da perfeição cristã. Além desse grupo especial havia ainda
um outro, também específico e criado apenas em alguns locais, denominado
grupo de penitentes, composto por pessoas que haviam abandonado a fé e que se
arrependeram e desejavam voltar.
Na direção das classes, das sociedades e dos demais grupos estavam líderes,
chamados de assistentes ou ajudantes. Esses líderes estavam subordinados a Wesley
e recebiam a autorização para pregar nas reuniões. Os pregadores mais eficientes
e responsáveis recebiam o título de assistentes, enquanto outros eram chamados
de ajudantes. Havia os pregadores locais, nomeados para pregar nas próprias
sociedades. Naturalmente, era entre os pregadores locais que se recrutava a
maioria dos ajudantes e entre os ajudantes que se escolhiam os assistentes.
Os assistentes e os ajudantes eram pregadores itinerantes, tanto no sentido de
que pregavam em todo um circuito de sociedades que visitavam regularmente,
como no sentido de que periodicamente Wesley os nomeava para outro circuito.

5 de julho - Estratégia Missionária

Consta que em 5 de julho de 1762, John Wesley viajou a Clonmel, Irlanda,


e à noite pregou num local próximo à entrada de um acampamento militar. O
público que participava do culto mostrou-se bastante agressivo. Diz ele que, não
fosse a presença inibidora dos soldados, a multidão desenfreada poderia cometer
atos perigosos. Muitos que estavam ah. davam mostras de que eram capazes das
maiores torpezas.
No dia seguinte ele viaja a Carrick on Suir, com pianos de continuar com a
mesma estratégia missionária. Ao saber que uma família muito temente a Deus
- jg?.
falecimento do chefe da casa, ele se dirigiu até a casa. Atendido por uma senhora
" muito atenciosa, ele foi informado mais minuciosamente a respeito da situação
da família. Ela disse que o marido havia falecido recentemente, deixando-a
com quatro filhos pequenos, sem nenhum pecúlio financeiro, mas com total
confiança em Deus.
Após a visita pastoral, que contou com conselhos, leitura da Bíblia e oração,
ele anotou a seguinte impressão: “Suas palavras, sua aparência, todo seu porte,
eram de uma só peça e mostrava a dignidade de uma tristeza cristã. Fiquei
bastante agradecido por Deus ter me enviado justamente naquele momento! ‘Os
que semeiam com lágrimas, com alegria colherão’.” (SI 126.5).

ih*.
6 de julho - 0 Ateu e o Sapo

John Wesley utilizava poucas ilustrações em seus sermões. No texto Viver sem
Deus, baseado em Efésios 2.12, escrito em 6 de julho de 1790, ele compara o ateu
a um sapo. Conta que, certa feita, viu uma grande e velha árvore ser derrubada.
Do interior de uma toca saiu um sapo muito grande, muito velho. Olhando
para aquele anfíbio, Wesley deduziu que, provavelmente, ele esteve encerrado
ali desde seu primeiro momento de vida. Ficou encerrado na obscuridade mais
impenetrável, isolado do sol, da lua, das estrelas e de toda beleza da natureza.
É possível, diz ele, traçar um assombroso paralelo entre aquele velho sapo
e a pessoa que está sem Deus no mundo. De alguma forma aquela criatura
permaneceu viva durante muito tempo no interior daquele tronco. Em seu
aspecto interno e externo contava com os atributos essenciais da vida animal.
Entretanto, que tipo de vida! Pois, ainda segundo ele, ocorre exatamente isso na
vida daquele que está sem Deus. Um espesso véu se interpõe entre essa pessoa e
o mundo invisível. Não percebe e não faz a menor idéia desse mundo espiritual.
Não possui nenhuma visão de Deus e nem se sente atraído até Ele. Em resumo,
tal pessoa tem tanto conhecimento do mundo espiritual como aquele sapo teve
do mundo natural. Ela permaneceu preso no seu escuro.esconderijo.
Quando o Espírito do Tbdo-Poderoso sacode o coração de alguém,
penetra na dureza de seu coração e recria todas as coisas, aparece então o sol
de justiça brilhando em sua alma, mostrando-lhe a luz da glória áe Deus. A
pessoa se encontra num mundo novo. Tudo ao seu redor se torna novas e ela
(ICo 2.9). Agora vê até onde é possível para seus olhos recém-abertos. Vê o
novo caminho para entrar ao lugar santíssimo pelo sangue de Jesus Cristo (Kd
10.19-20). Pela mesma graça, aquele que antes não ouvia agora pode ouvir.
Ouve a voz que ressuscita os mortos. Já não é surdo ao seu convite nem aos
seus mandamentos, a suas promessas ou ameaças, mas alegremente escuta toda
palavra que sai da sua boca (Mt 4.4), a qual governa todos seus pensamentos,
palavras e ações. Ao mesmo tempo recebe outras capacidades espirituais que lhe
permitem discernir entre o bem e o mal. Está capacitado para provar e ver que o
Senhor é bom. Reconhece que o amor de Jesus é muito melhor do que o vinho,
e “mais doce que o mel que destila o favo” (SI 19.10).

7 de julho - Um Remendo Estranho

Para John Wesley não era nada fácil pregar ao ar livre, pregar na “cara do sol”,
na expressão do próprio Wesley. Ocorriam situações inusitadas e imprevistas de
todo üpo, desde bêbados irônicos até chuvas de pedras atiradas ao pregador.
Apesar de todos os inconvenientes e das dificuldades que cercavam esse tipo
de trabalho, John Wesley sempre entendeu que essa era uma das características
básicas do movimento metodista.
Num determinado domingo de julho de 1740, atendendo ao convite
do sr. Seward, John prega em Moorfield. O tema do sermão é a obra da
fé, a constância da esperança e o trabalho do amor. Algumas pessoas, que
lá estavam apenas como expectadores, faziam grande barulho durante a
pregação, impedindo que os demais ouvissem a Palavra de Deus. Um crente-;
entusiasmado encontrou uma solução bem original para resolver a °ítíiaçãoi v
Enquanto Wesley pregava o seu sermão, ele reuniu os bagunceiros num canto:!;
e passou a ler-lhes um capítulo do livro O Dever Total do Homem. A situação foi 7
resolvida a contento, com o término daqueie tipo de barulho. Entretanto, toda A
a atividade de leitura do texto foi acompanhada de perto por boa parte doSÍI
que estavam presentes ao culto. No relato que anota em seu Journal, Wesley íf
destaca a “bondade” do irmão que “queria livrar-nos do barulho dos ouvintes
desatentos” e, ironicamente, ressalta que “gostaria que nem ele e nem ninguém
nunca lesse um livro tão ruim, ainda mais diante da possibilidade de ler um A
outro bem melhor, a Bíblia”.
8 de julho - Instituição Exemplar

No sábado de 8 de julho de 1786, Wesley está em Nottingham e visita


o Hospital Geral da cidade. Assim que entra pelo pátio ele já se mostra
bem impressionado com tudo que vê. O extremo zelo em todos os cantos
confirmava que aquela instituição era administrada por uma pessoa
muito competente e cuidadosa. Tanto na parte externa como na interna,
especialmente nos quartos e no atendimento aos doentes, tudo estava na
mais perfeita ordem. No seu Journal ele sublinha nunca ter visto um hospital
tão bem-arrumado. Considera até que a recuperação rápida dos enfermos se
deve, em boa parte, ao asseio do Hospital.
Wesley havia recebido ótimas informações sobre o hospital e aproveitara
a visita para confirmar a veracidade das informações. Entretanto, ele ali
estava para visitar alguns doentes, recomendados por membros da sociedade
metodista. Visita diversos deles e ora, especialmente, por dois em particular. Um,
um notório pecador. A outra pessoa, uma mulher, era um caso muito estranho.
Tivera removido os dois seios, nos quais os médicos encontraram 17 alfinetes e
também em outras partes do corpo.
O caso foi bastante comentado em toda região. Formaram-se diversos
grupos procurando uma resposta para o dilema de saber como é que os alfinetes
foram parar no corpo daquela senhora. A resposta encontrada pelos médicos, a
mais plausível de todas, sustentava que os alfinetes tinham sido engolidos, ainda
que ninguém soubesse quando e como.
Como interpretar aquele fenômeno tão incomum? Wesley sabe que
o comportamento das pessoas tende a optar por uma explicação mais
simplista. Muitos preferem explicar aquilo como se fosse uma obra
satânica. Será? Por que essa necessidade de compreender o mundp de uma
forma tão maniqueísta, atribuindo a Deus todas as coisas boas e positivas
e, ao Diabo, tudo aquilo que se compreende como coisas negativas? Será
que esta é a realidade? Ele ouve todas as hipóteses para o estranho caso e
fica silencioso. Ele não sabe direito a explicação para aquele estranhíssimo
fato. Ele tinha consciência de que não é conveniente assumir uma postura
de sabichão, como se tivesse respostas para todos os acontecimentos. Há
muitos mistérios. Melhor ficar calado.

199

mt
9 de julho - Esportes que podem ser Admitidos

"Procurai, com zelo, os melhores dons. E eu passo a mostrar-vos um


caminho ainda mais excelente” (ICo 12.31). No sermão denominado Um caminha
excelente, baseado no texto acima, John Wesley destaca a necessidade de intercalar
o trabalho com momentos de distração. Existem diversas aüvidades recreativas.
Algumas estão dirigidas aos homens, como é o caso de esportes ao ar livre como
caça, tiro ao alvo e pesca, atividades que não interessam à maioria das mulheres.
Há outras atividades que alcançam os dois sexos, como corridas, teatro, bailes,
jogos de cartas e leituras.
Determinadas formas de diversão, outrora populares, já não são mais bem-
vistas. A nobreza e a classe alta parecem não mais se interessar pela cetraria, a arte
de caçar com falcões, que foi tão popular em outros tempos. As classes populares
já não se divertem vendo homens se ferindo em lutas de espadas. Outros esportes,
como a tourada, também já não são ffeqüentes. Até mesmo a briga de galo já
desapareceu da Inglaterra. Para ele, esportes violentos como esses são resquícios
da barbárie dos godos e devem ser eliminados por constituírem uma ofensa não só
às religiões, mas também à própria natureza humana. Registra ele:
Com relação a certos esportes, como corridas de cavalo e caça a raposas e lebres, não
devemos ser muito severos. Quanto ao teatro, a questão é diferente, espedalmente o teatro
inglês que mistura tudo que é profano e imoral. A respeito dos jogos de cartas, a minha
opinião é a mesma sobre as obras de teatro. Eu não poderia fazê-lo com consciência
tranquila, mas não sinto que deva julgar aqueles que têm Idéias diferentes da minha.
Ainda que determinados jogos, leitura de obras de teatro, novelas e periódicos sejam
“entretenimentos inocentes”, será que não há para aqueles que amam a Deus “caminhos
mais excelentes” de diversão? Os ricos que desejem passatempo poderíam dedicar-se ao
cuidado e melhoda de suas terras. Poderíam ocupar-se de organizar e aperfeiçoar suas
hortas e jardins. Poderíam visitar e conversar com vizinhos. Visitar enfermos, pobres,
órfãos e viúvas. Se desejam entretenimento dentro de casa podem ler boa poesia, livros
de história ou de filosofia, podem dedicar-se à música. Porém, sobre , todas as coisas,
uma vez que se tenha aprendido a orar, compreenderá que essa mesma “força que cria
e enche todo espaço, que tudo abarca neste formosíssimo planeta”, como descreveu
o poeta Milton, em 0 Paraíso Perdido, também o rodeará e estará presente em suas
ocupações, onde quer que vá e em tudo o que faça. Então poderá afirmar sem temor:
“já não caio em poços depressivos, já não tenho momentos ociosos em que não sei
como aproveitar o tempo; minha vida já não é uma carga, vivo apenas para servir a
Deus e conhecer íesus”.
10 de julho - Há Muita Gente Sofrendo

No sermão Afligidos em diversasprovas., baseado em 1 Pedro 1.6, John Wesley assinala


que muitos cristãos enfrentam provações bem difíceis e que aqueles que estão de fora
dificilmente conseguem compreender a extensão e profundidade desse sofrimento.
Ele cita o exemplo de uma família que é alcançada pela miséria ou por um
outro tipo de calamidade semelhante. Pode ocorrer que, de fora, pareça uma
situação simples e sem importância, algo provisório. Só que as coisas não são
bem assim. Há muita gente sofrendo, mas poucos interessados em ajudar a levar
o fardo. Mais, Wesley destaca:
Na primeira epístola a Timóteo, o apóstolo recomenda que não se deve
ter apego aos bens materiais e que, “tendo sustento e roupa, devemos ficar
contentes” (6.8). Ele está certo ao dizer que o amor ao dinheiro é a raiz de
todos os males (6.10). Mas o que ocorre com aqueles que não dispõem de uma
casa para abrigar sua família? O que será daqueles, que não possuem roupa
para vestir seus filhos, ou abrigo para proteger os seus da inclemência do frio?
O texto bíblico assinala que, quando Deus amaldiçoou o homem, declara que com o
“suor do seu rosto comería o pão” (Gn 3.19). Entretanto, quantas pessoas neste país
cristão trabalham, se esforçam e se cobrem de suor, sem conseguir o pão? Quantos
lutam contra o cansaço e contra a fome ao mesmo tempo? Não é duro para alguém,
depois de trabalhar durante toda uma jornada, regressar para uma casa pobre, fria,
suja e incômoda, e descobrir que não há comida suficiente para repor as energias
gastas? Pode haver algo pior que andar em busca de alimento, dia após. dia, sem
conseguir encontrá-lo? Pode haver algo pior do que ter em casa cinco ou seis filhos
precisando do alimento, que seus pais não conseguem adquirir? Há milhares de
histórias desse tipo e, se não houvesse uma mão invisível que lhes orientasse, essas
pessoas prontamente amaldiçoariam a Deus e morreríam (Jo 2.9). “Falta de pão! Falta
de pão! (Am 1-.6). Quem pode falar desse assunto a menos que tenha vivido em sua
própria carne?

11 de julho - Despedida Precipitada

A conferência do verão de 1766 foi uma grande oportunidade para repensar


a caminhada metodista. Aos 63 anos de idade, John Wesley, por uma razão
pessoal, afirma não ter certeza de que participará ou não da próxima reunião. Faz
um curto relato sobre a situação do rnetodisrno e relaciona algumas sugestões
aos pregadores, num tom dramático de despedida.

201
O objetivo de Wesley é responsabilizar os demais pregadores e líderes diante
da grande tarefa que devem realizar. Solicita que sejam muito firmes na condução
do trabalho, sejam fiéis na observância das orientações gerais e atuem com muita
coragem e vigor.
Para a pergunta que surgiu no início da reunião, interpelando o porquê
dos pregadores metodistas não serem mais capacitados intelectualmente,
responde ser por não trabalharem com mais ardor. Para curar esse mal,
ele primeiro prescreve que os pregadores leiam mais livros úteis. Devem
ler regular e disciplinadamente, todas as manhãs, num mínimo de cinco
horas por dia.
Acostumado com a desculpa dada por alguns de que liam somente a Bíblia,
ele lembra o triste exemplo de George Bell, que de forma arrogante afirmara
não precisar de mais nenhum outro livro. Onde está Bell agora, indaga ele?
Qual o resultado de sua cegueira? Atrapalhou a vida de muitas pessoas e hoje
não lê mais nada, sequer a Bíblia. Para todos aqueles que querem imitar esse
exemplo negativo, sugere que ensinem os demais a também só lerem a Bíblia
e também que deixem de pregar, pois pregar significa colocar novas palavras,
fazer novas leituras,
Wesley insiste na necessidade de que os pregadores leiam bons livros.
Sem livros, o que ocorre é fanatismo. Todo aquele que afirma não precisar de
nenhum outro livro, a não ser a Bíblia, está muito acima do apóstolo Paulo
que solicita que lhe tragam os livros, especialmente os pergaminhos.
Para os que argumentavam não ser possível apresentar um padrão para
todos, ele afirma reconhecer tal diferença. Assinala que alguns podem ler
mais e outros menos. Só que ninguém deve ler menos do que o sugerido...
por ele. Para os que alegavam não ter acesso a livros, dá garantias de que
vai enviar exemplares. Basta que solicitem. Sua meta é que seus pregadores :
leiam sempre e sejam pessoas estudiosas. A outros que respondiam não
gostar de ler, ele orienta a procurar adquirir o gosto pelos livros. Diz que,
à medida que forem lendo, o gosto virá e logo se tornará um hábito. Aos j
que não querem assumir esse compromisso, adverte ser melhor deixar o
trabalho pastoral e retornar à sua atividade anterior. Enquanto isso, Wesley
continuava a suprir seu povo com mais publicações: produziu uma média
de seis obras por ano, entre 1755 e 1765, aumentando, a partir daí, ainda
mais tal produção.

202
12 de julho - Preservando o Casamento

A relação de John Wesley com sua esposa foi muito tumultuada. E


provável que nenhuma mulher estivesse preparada para se casar com
um homem como ele, que tinha asas nos pés e que possuía como meta
prioritária o cuidado com as sociedades metodistas e a pregação do
Evangelho.
Numa carta (12/jul./1760), há algumas linhas poéticas em que ele fala
do seu amor, de algumas virtudes da mulher e da sua vontade de viver em
harmonia:
Estou escrevendo-lhe novamente, ainda que não tenha respondido minhas
duas últimas cartas. Estou pensando em regressar à Inglaterra outra vez,
depois de quase atravessar este reino. Em poucos dias desejo ir a Cork, onde
provavelmente tomarei um barco para Bristol. A conferência vai ser realizada
ali e começará no dia 27 de agosto, numa quarta-feira. Se não houver um
barco pronto para zarpar de Cork por volta do dia 20 de agosto, penso (se
Deus quiser) regressar a Dublin diretamente e sair dali. Meu desejo é viver
em paz com todos os seres humanos, com você em particular. E (como já
disse inúmeras vezes) faço e farei tudo o que puder para satisfazê-la; tudo o
que você desejar, a menos que julgue afetar minha própria alma, ou a sua, ou
a causa de Deus. E não há nada que me daria mais alegria que tê-la comigo
sempre, desde que se mantenha de bom humor é que não fale mal de mim pelas
costas. .Todavia, a amo por seu trabalho incansável, por sua frugalidade exata,
e por seu asseio e limpeza fora do comum, tanto em sua pessoa e sua roupa,
como em todas as coisas que a rodeiam. Aprecio-lhe pela paciência, destreza
e ternura em ajudar os enfermos. E se pudesse resignar-se a seguir os meus
conselhos, poderia ser cem vezes mais útil tanto para os enfermos como para
os sãos em todos os lugares onde Deus colocá-la para trabalhar por intermédio
de meu ministério. Oh! Molly, por que não aproveita essas oportunidades?
Por que não pode / Capturar os momentos dourados enquanto voam, / E, em poucas
horas fugazes, assegurar a eternidade? Se pensa da mesma forma que eu, se quer
fazer o melhor de uns poucos dias, melhorar o entardecer da vida, comecemos
hoje! E o que fizermos, façamos com todas as nossas forças. O ontem passou,
e não deve recordá-lo: o amanhã não nos pertence. Agora, Molly, comecemos
de novo: caminhemos de mãos dadas à terra de Emanuel. Se agrada a Deus
que nos encontremos outra vez, encontremo-nos para sempre. Prefere que
fiquemos no quarto ou na casa do sr. Stonehouse? A paz seja com seu espírito!
Seu esposo afetuoso, John Wesley.

203
13 de julho - Unidade no Fundamental

John Wesley escreveu sua Carta a um católico romano em julho de 1749. Do


texto de sete páginas, eis algumas partes:
Receio que muitos protestantes hão de irar-se contra mim, por escrever-lhes dessa
maneira, e dirão: “Tu estás favorável demais aos católicos; eles não merecem tal
consideração de nossa parte”. Devemos, sem discussão sobre opiniões, provocar
um ao outro ao amor e às boas obras. Que os pontos em que temos diferença de
opinião fiquem de lado: aqui há suficientes áreas onde concordamos, suficientes
para serem o fundamento de todo o espírito e ato cristão. (...) Se não podemos
ainda pensar o mesmo em todas as coisas, pelo menos podemos estar juntos no
amor. Nisso, não podem errar. Pois de um ponto ninguém poderá duvidar nenhum
momento: Deus é amor; e quem vive em amor vive em Deus e Deus nele. Em
nome, então, e na força de Deus, resolvamos, primeiro, a não nos ferir mutuamente;
a não fazer nada descaridosa ou inamistosamente, nada que não gostaríamos que
fosse feito a nós mesmos. Pelo contrário, busquemos em cada oportunidade um
bondoso, amigável e cristão trato entre nós, Resolvamos, em segundo lugar, com
a ajuda de Deus, a nada falar áspera ou inamistosamente um do outro. A maneira
mais certa para conseguir isso é dizer todo o bem possível, tanto sobre o outro
como para o outro em toda a nossa conversação, entre nós ou concernente ao
outro,, usar só a linguagem do amor, falar com toda a delicadeza e meiguice,
com a expressão mais carinhosa e consistente com a verdade e a sinceridade.
Em terceiro lugar, resolvamos não nutrir nenhum pensamento menos caridoso .
e nenhum espírito inamistoso um para com o outro. Deitemos o machado à
raiz da- árvore; examinemos tudo que nasce em nosso coração e não admitamos
qualquer atitude que seja contrária ao terno afeto. Então, facilmente evitaremos
ações e palavras sem caridade, quando a própria raiz da amargura está decepada.
Esforcemo-nos, em quarto lugar, para mutuamente nos ajudar-mos sempre,
regozijemo-nos em fortalecer nossas mãos em Deus. Acima de tudo, que cada.
um de nós tenha cuidado de si mesmo (uma vez que cada um deve prestar contas
a Deus), que não se afaste da religião de amor, que não venha a ser condenado
naquilo que ele mesmo aprova. O, que nós (sem nos importarmos com o que
outros fazem), prossigamos para o prêmio da nossa soberana vocação: que
sendo justificados pela fé, tenhamos paz com Deus pelo Senhor Jesus Crisio,
por intermédio dc quem acabamos de receber a reconciliação; que o amor de
Deus seja derramado em nossos corações pelo-Espírito que nos foi outorgado.
Consideramos tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento
de Cristo nosso Senhor; estando pronto a perder todas as coisas por Ele,
considerando-as como refugo para ganharmos a Cristo.
14 de julho - Filha do Inferno

Para Wesley coda controvérsia pode ser considerada “filha do inferno”. É por
isso que se sente intimidado e extremamente preocupado com a possibilidade de
entrar, pela primeira vez, numa situação dessas. E claro que em diversas ocasiões
anteriores ele já havia sido questionado e atacado, só que sempre evitou qualquer
tipo de controvérsia. A questão é que, anteriormente, os ataques tinham sido
encobertos e eram de adversários do metodismo. Agora não. Ele foi agredido
publicamente, não por um inimigo, mas por um amigo íntimo. E por isso que ele
acha necessário se defender. Para destacar a sua surpresa, ele repete as mesmas
palavras do imperador Júlio César, ao ser apunhalado por Brutus: “Até tu, filho
' meu?”.
A obra Os princípios de um metodista foi publicada por Wesley em julho de
1742, para refutar um texto de Josiah Tucker, um formidável oponente que havia
acusado o metodismo de ser uma nova seita. Logo no início, Wesley confessa
não saber como se comportar diante de uma situação tão inusitada. Teme, não
o adversário, mas a si mesmo, pois não sabe como vai se comportar. Será que
■ ele corre o risco de se .portar do mesmo modo que os demais contendentes?
Diz que, numa controvérsia cada contendente, se comporta como soldado, que
procura ferir seu oponente da pior maneira possível. A regra comum tem sido
sempre essa. Você deve envergonhar o seu adversário de tal modo que ele não
consiga se reabilitar.
Mas será que, em uma perspectiva cristã, as coisas precisam ser desse modo?
Acaso alguém deixa de ser nosso próximo por ter uma opinião distinta da nossa?
Será que não deveriamos tratá-lo como desejamos que ele nos trate? Gostamos
que ele nos envergonhe e nos coloque na pior situação possível? Se não é assim,
por que tratamos os outros dessa maneira? Quem não procuraria aproveitar-se
o máximo da situação para benefício próprio, ignorando os méritos da causa?
Quem é que, numa controvérsia, cobre com um manto de amor a nudez do
seu irmão? Quem consegue se manter sereno numa controvérsia, ex seus
argumentos sem atacar pessGaimente o outro? Quem consegue demonstrar em
cada frase que ama a seu próprio irmão, mas que ama mais a verdade?
Ele conta ser necessário fazer a sua defesa e entrar nessa controvérsia. Só
que pretende se comportar de forma diferente. Quer tratar o sr. Tucker, seu
oponente, como trataria o seu próprio irmão Charles, a pessoa mais querida do
r
mundo. Não deseja pronunciar contra ele nenhuma palavra que não pronunciaria
contra seu irmão. Esse é o seu propósito. Pede a Deus que tanto ele quanto.’Jfll
todos os que creem dever se opor a ele sejam revestidos como eleitos de Deus,'
santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, oH
de mansidão, de paciência, suportando-nos uns aos outros, e perdoando-nos uns , ||
aos outros, da mesma maneira que Cristo nos perdoou (Cl 3.12-13).

15 de julho - É Muita Emoção

No começo de 1759 tem início uma vigorosa renovação espiritual em


Everton e região. Em 15 de julho, um domingo, John Wesley estava pregando na
cidade de York. Após o sermão, pede que os metodistas permaneçam no local
e lê para eles um relatório descrevendo a recente ação de Deus, em Everton.
Mas não consegue terminar. Já no começo da leitura, quando trata dos inúmeros
sinais realizados por Deus, muitas pessoas começam a chorar silenciosamente.
O que era uma atitude isolada, de poucas pessoas, dá espaço para uma comoção
generalizada. Muitos, sem conseguir se conter, começam a chorar num verdadeiro ã
e ruidoso pranto. Num dado momento, um homem grande e forte cai no chão,
como se estivesse morto. Todos continuam do mesmo modo; quase sem exceção,
se sentem tocados pela maravilhosa ação divina. Impossibilitado de continuar
com a leitura, já que desnecessária, Wesley começa a lutar com Deus em oração.
Tal foi a unção com Ele naquele lugar que todos, unanimemente, permanecerem
no local até as 9 horas da noite. Foi um dia de grande júbilo, uma experiência
maravilhosa. A ação renovadora de Deus começou a se espalhar por toda parte.
Aos leitores do seu Journal, Wesley solicita a permissão de incluir mais
algumas informações sobre o que estava ocorrendo em Everton. Ele reproduz
parte do diário, provavelmente de John Walsh, relatando o papel importante
desempenhado pelo sr. Berridge naquele importante movimento de renovação
espiritual. Diz o relatório: .
A primeira vez que vi o sr. Berridge foi no dia 2 de junho de 1758. Encontrei-o outra
vez no dia 7, do mesmo mês, quando ele estava em Luton Dov/n. Ali, um tremendo
senddo da presença de Deus me sobreveio e minha voz se fez mais forte, na mesma
proporção em que minha alma se alegrava. Send naquela hora uma grande vontade
de interceder a Deus pelo êxito do trabalho do sr. Berridge. Orei e o Senhor Deus
me deu uma visão do que iria suceder via o seu ministério, Foi tal a visão que hquei
impressionado durante uma hora, até que perdi a voz e só me restaram lágrimas.

205
John Wesley gostava muito e tinha o hábito de incluir nos seus cultos um
^espaço pata a leitura de relatórios e testemunhos que confirmavam a ação de
|:peus. Tal prática sempre deu excelentes resultados.

16 de julho - Último Encontro

Wesley recebeu de Yorkshire uma carta informando a morte do sr. Clayton,


ocorrida em julho de 1746. Nessa carta, escrita por um amigo metodista, há
muitos detalhes sobre a exemplar vida cristã daquela pessoa que tinha sido muito
querida por todos.
Era costume de John Wesley ler cartas como essa para as sociedades
metodistas. Lia relatórios sobre o desenvolvimento da obra missionária,
;■ testemunhos e experiências pessoais. Lia todas aquelas informações que julgasse
- contribuir para o amadurecimento espiritual dos metodistas. O sr. Clayton tinha
sido cristão exemplar, um modelo para os seus paroquianos. Com a leitura da
carta e a transcrição de parte dela em seu Journal.’ ele sublinha ser uma grande
honra o cristão continuar sempre perseverante e fiel nos caminhos do Senhor.
Dizia a carta recebida por Wesley:
Na quarta-feira, 16 de julho, visitei o bom velho sr. Clayton. Estava bastante debilitado
e parecia que não dispunha de muito mais tempo de vida. Voltei a visitá-lo na segunda-
feira, dia 21, e o encontrei muito mais enfermo e fraco. Ao me receber, ele anunciou
que não gostaria de receber mais ninguém. Disse ainda que tinha muitas coisas a me
dizer e solicitou que eu lhe transmitisse, a nossa conversa, que lhe enviava saudações
e que desejava muita prosperidade em seu piedoso trabalho. Vendo que ele não
podia conversar muito, saí do quarto, sem imaginar que aquele seria o nosso último
encontro No sábado seguinte, ao regressar novamente para visitá-lo, descobri que ele
havia falecido durante a madrugada, entre 2 e 3 da manhã. Fui'ao seu solene enterro e
acompanhei seu corpo até a sepultura. Muitos dos paroquianos derramaram lágrimas
por aquele que havia sido um verdadeiro pai para os pobres. Apesar de ter renda anual
de 40 libras e salário de trezentas libras pelo fato de ter sido reitor, morreu, pobre.

í / 00 üUisiõ — U?ss rUV© iuissiíestíLis

No texto Pensamentos sobrs um Fenômeno Recente, escrito em julho de 1788, John


Wesley destaca orgulhosamente que a tolerância é uma das características mais
marcantes do povo chamado metodista. Os metodistas pensam e deixam pensar.
207
A pergunta que se faz aos novos membros é a mesma que fez Jeú àjonadabe;
“Tens tu sincero o coração para comigo, como o meu é para contigo? Se tens,
dá-me a mão"' (2Rs 10.15).
No sermão sobre o espírito católico, ele assinala que há muitos estorvos
no caminho e que não se pode exigir que todos tenham o mesmo modo de
pensar ou o de adorar a Deus. Nem todos podem ver as coisas sob uma mesma
perspectiva. Qualquer pessoa sábia e sensata permitirá aos outros ter a mesma
liberdade de pensamento que defende para si mesma. Segundo Wesley,
Cada um deve seguir a sua própria consciênda, evitando qualquer constrangimento ao
outro. Deus não outorgou a ninguém o dirdto de apropriar-se da consciência do outro.
Para aqueles que desejam se unir a mim eu não pergunto... Se são membros da minha
igreja ou de minha congregação? Se aceitam a mesma forma de governo eclesiástico? Se
oram do mesmo modo? Se recebem a Ceia do Senhor do mesmo modo? Se concordam
com a maneira de batismo, com a admissão dos padrinhos, com a idade dos batizandos.
Não desejo discutir a respeito de nenhum desses ou de outros pontos. Deixemos essas
coisas numa lista de espera. Falaremos dela quando surgir a ocasião, quando tivermos
oportunidade, quando for necessário. Neste momento, a única pergunta que interessa
é: ‘Teu coração é sincero, como o meu é sincero para o teu?”. O que eu quero é que
me ame. Não apenas como ama a toda a humanidade; não apenas como ama seus
inimigos, ou os que o odeiam e o perseguem; não apenas como ama ao estrangeiro.
Não estou satisfeito com isso. Quero que me ame com temo afeto, como um amigo
mais próximo que um irmão, como um irmão em Cristo, como um concidadão da nova
Jerusalém, como um soldado companheiro do mesmo combate. Quero que me ame
com paciência e que não leve em conta a minha ignorância; quero que me ame com
amor não invejoso, mesmo que Deus faça prosperar minha obra mais do que a sua;
quero que me ame com um amor que não se irrita, com um amor que tudo suporta.
Quero qüe interceda por mim a Deus, que lute com Ele a meu favor para que as minhas
deficiências sejam superadas, para que meu coração seja cada vez mais sincero, para que
eu possa ter convicção plena das coisas invisíveis, para que possa ter uma visão mais
sólida do amor de Deus em Cristo Jesus, para que eu possa caminhar mais firmemente
pela fé. Ore para que o amor a Deus e a toda a humanidade se derrame mais plenamente
em meu coração; ore para que eu seja mais fervoroso e ativo em fazer a vontade de
Deus.- mais zeloso na prática de boas obras, mais cuidadoso em evitar todo tipo de mal.

-is os juino *“ Agsniês secretos,,, d@ usus

Com muita frequência circularam entre os adversários do movimento


vesicyano acusações de que os metodistas eram agentes secretos do príncipe

20§
Charles Edward Stuart, o jovem pretendente ao trono que vivia na França e iria
invadir a Inglaterra para reclamar o trono para sua família. Na carta que Wesley
escreve a Ebenezer Blackwell (18/jul./1747), ele destaca que “os jacobinos
mais violentos estão continuamente falando que vamos trazer o pretendente ao
trono da Inglaterra”. Na carta enviada ao rei Jorge II, em 1744, em nome das
sociedades metodistas da Inglaterra e de Gales, Wesley declara a lealdade do
povo metodista e procura dar fim aos boatos perigosos:
Somos tão insignificantes, “um povo esparramado e perseguido, pisoteado
desde o princípio até agora” (Is 18.2,7), que de maneira alguma deveriamos ter
o atrevimento de nos dirigir à Vossa Majestade, se não nos víssemos induzidos,
verdadeiramente obrigados a fazê-lo, por duas razões: primeira, que apesar de
todos nossos protestos sobre o assunto continuamos sendo apresentados como
uma seita peculiar de homens* separados da Igreja estabelecida; a segunda, que
continuamos sendo caluniados como papistas e desleais à Vossa Majestade.
Em vista dessas considerações, cremos ser obrigatório de nossa parte, se é
que nos distinguimos como um corpo diferente de nossos irmãos, estender
nossas mais respeitosas saudações à Vossa Majestade; declarar diante daquele
a quem servimos, o Rei dos reis, o Senhor dos senhores, que somos parte
dessa igreja protestante estabelecida nestes reinos, que nos unimos todos com
este e não com outro fim: para promover a justiça, a misericórdia, a verdade,
a glória de Deus, e a paz e a boa vontade entre os seres humanos; e que
detestamos e que não concordamos com as doutrinas fundamentais da Igreja
de Roma e somos fiéis à pessoa real de Vossa Majestade e à sua ilustre casa.
Não podemos, verdadeiramente, dizer ou fazer mais ou menos o que entendemos
que esteja de acordo com a Palavra escrita de Deus. Mas estamos prontos para
obedecer à Vossa Majestade até o úldmo em todas as coisas que consideramos
que estejam de acordo com ela. E exortamos seriamente a todos com quem
falamos a honrar ao rei da mesma forma que temem a Deus. Nós, particular mente
os clérigos, exortamos a todos a respeitar os poderes superiores como vindos
de Deus; e declaramos continuamente que “é necessário estar-lhes sujeitos não
somente por razão do castigo, mas também por causa da consciência” (Rm 13.1,5).
“Prata e ouro não temos. Mas o que temos” (At 3.6), humildemente rogamos à
Vossa Majestade aceitá-lo, junto com nossos corações e orações. Que Aquele que
nos comprou com seu sangue, o Príncipe de todos os reis da terra, peleje contra
todos os inimigos de Vossa Majestade com a “espada de dois gumes que sai da sua
boca” (Ap 1.16). E que quando ele. chame Vossa Majestade à sua presença, cheio
de vitórias e anos, que seja com essa mesma voz, “Vem, recebe o reino preparado
para ti desde a fundação do mundo” (Mt 25.34). Estas são as contínuas orações
de seus leais e obedientes súditos.

209
19 de julho - Faltou um Amigo

John Wesley terminou a tradução de um livro sobre a vida de Martinho


Lutero em 19 de julho de 1749. A respeito do famoso reformador, ele escreve:
Sem dúvida ele foi um homem altamente favorecido por Deus e um bendito
instrumento em suas mãos. Entretanto, que lástima o fato de não ter tido nenhum
amigo fiel! Alguém que pudesse aconselhado com simplicidade e agudeza a respeito
do seu espírito rude e intratável e o zelo cortante de suas opiniões, coisas que canto
atrapalham a obra de Deus.

Ao contrário de Lutero, Wesley sempre teve muitos amigos, com os


quais mantinha assídua correspondência. Em carta escrita a Mary Chapman
(mar./1737), declara o seguinte: “Não há dúvida de que a verdadeira amizade é.;
mais forte que a morte, pois a sua amizade perdura, apesar de tanta oposição, e
dos milhares de quilômetros que nos separam”.
Outro amigo de Wesley foi John Newton, pessoa de muitas qualidades.
Entretanto, a amizade entre os dois ficou estremecida por causa de algumas
fofocas feitas pelo sr. Cudoworth, que pintou Wesley como um monstro terrível.
Na carta que escreve ao amigo em 9 de abril de 1765, ele assinala que pode
existir amizade entre duas pessoas, independentemente do modo de pensar e
de falar. Foi sobre essa base que nascera a amizade entre eles. Os dois sabiam
que havia diferenças, que cada um tinha a sua própria teologia e o seu modo
de abordar algumas questões. Mas, apesar de tudo isso, havia entendimento e
frequentemente conversavam amistosamente.
Ao amigo recomenda muito cuidado com a intolerância, com o apego-
excessivo à opinião ou às frases! Deveria fugir disso, porque a Providência-
Divina lhe designara como sanador de relações quebrantadas, reconciliador de
pessoas honestas prejudicadas e o trabalho feliz de umficador dos filhos de Deus
divididos sem necessidade. No final da carta ele faz um pedido pára que o amigo-:
continue do modo que sempre foi:
Em nome daquele que mostrou misericórdia, rogo que mostre essa misericórdia aos .
seus irmãos. Em tudo que for possível, suavize e dulcifique os espíritos toscos e.
amargos. Indte-os a insistir num único ponto: a fé que opera pelo amor (G1 5,6), ou)
em outras palavras, Cristo iluminando, justificando, santincando, reinando na alma

21G
20 de julho - Um Homem de Respeito

John Wesley nutria profundo respeito por Adam Clarke, não apenas por
ser ele um homem muito inteligente, bom escritor e profundo conhecedor
das línguas orientais, mas também por ser excelente pastor e plenamente
identificado com a doutrina metodista. Apesar de Clarke ser bem mais jovem,
nascera em 1760, havia tanto respeito que em diversas cartas Wesley indaga a
sua opinião sobre alguns assuntos. Na carta de 9 de fevereiro de 1791, admite
não saber mais o que fazer com o sr. Madda e pede a opinião de Clarke.
Na mesma ocasião, elogia o projeto de criação da sociedade dos forasteiros
(amigos), sublinhando que se trata de uma instituição exceiente; destaca
ainda uma questão em evidência na época, aquilo que chama de magnetismo
animal\ e indaga a opinião do amigo, dizendo que, para ele, trata-se de uma
armadilha de Satanás.
Vindo do catolicismo, Clarke se converteu ao metodismo em 1779.
Em 19 de julho de 1782 ele pregou seu primeiro sermão como pastor
metodista, baseado em 1 João 5.19. Em setembro do mesmo ano foi
nomeado pregador itinerante no circuito de Bradford-Avon. Mais tarde
recebeu condecoração acadêmica da Aberdeen University e foi eleito
membro da Real Academia Irlandesa.
Numa carta remetida a John Valton (29/jan./1790), outro excelente
pastor metodista, infelizmente falecido muito cedo (23/mar./1794), John
'Wesley destaca que, onde quer que os dois pregadores Clarke e Valton
rabalhassem, a obra sempre prosperava: “Seria muito estranho se não
surgisse um avivamento onde você e Adam Clarke estão”. Em outra carta
(14/mar./1790), endereçada à Henry Moore, Wesley assinala: “Vamos bem
neste distrito; não é de se estranhar, já que John Valton e Adam Clark e a
srta. Johnson estão aqui”.
No início de 1790, Adam Clarke passou por uma fase de enfermidade muito
ifícil. Na carta de Io. de junho de 1790, dirigida à srta. Cooke, Wesley escreve:
“Que podemos fazer para ajudar a Adam Clark? Agora, você quer salvar sua vida?
Busque nos arredores; considere se há algum circuito onde ele possa descansar
muito e trabalhar pouco. Outra possibilidade é que você e ele passem o mês
de setembro em minhas habitações em Kingswood, com a condição de que
ele pregue só duas vezes por semana, e que vá aos mananciais de água quente
todos os dias. Precisa fazer isso, se não morre. Eu não quero (nem você) que
ele nos abandone tão depressa. Você sabe que isso vai significar-alguns gastos
e creio que podemos ajudar. Penso que essa seria a forma melhor de proceder.
Enquanto isso, deixe que ele faça o que puder, e nada mais”.
Em outra carta (9/fev./1791), John Wesley escreve: “Você tem uma boa
razão para bendizer a Deus por dar-lhe forças todos os dias. Verdadeiramente
Ele lhe tem apoiado de maneira maravilhosa durante essas aflições complicadas.
Você poderia dizer muito bem: 'Confiarei no Senhor enquanto viver’.”

21 de julho - Andando nos Caminhos do Senhor

Wesley conheceu Katherine Murray em janeiro de 1767. Ela estava


acamada e mandou chamá-lo. O relato de suas experiências foi anexado em seu
Journal (21 /jul./1767). Diz o texto que, em 1749, a irmã de Katherine ouviu
os metodistas, convenceu-se de seus pecados, uniu-se à sociedade e convidou
sua irmã para que fizesse o mesmo. Esta, ao saber que uma determinada
pessoa também fazia parte da sociedade, sentiu grande desprezo e recusou-se a
compor o mesmo grupo que tal pessoa. Entretanto, logo depois se convenceu
*de que seus pecados, seu orgulho, eram tão abomináveis para Deus como
os pecados daquele homem ou de qualquer outro. Munida dessa convicção
muito forte, a partir disso, ela começou a orar fervorosamente, suplicando a
misericórdia divina. Narra Wesley:
Poucos dias depois, o Senhor se apiedou dela. Estando era oração, teve uma clara
representação do bendito Senhor coroado com espinhos e vestido com uma
túnica de púrpura. Logo reconheceu que sua alma havia encontrando descanso
em Deus e que havia recebido o perdão de seus pecados. Naquele momento,
toda e qualquer angústia desapareceu e o amor de Deus inundou seu coração.
Ficou tão encantada com tal amor que não conseguia se conter e gritava a todos
que eles também receberíam a certeza do perdão se aceitassem Jesus Cristo.
Durante sete anos eia caminhou na luz dara do Senhor, dando testemunho,
de sua fé e nunca sentindo nenhuma dúvida a respeito da misericórdia
divina. Ela se deleitava ao ler e ouvir a pregação da Palavra de Deus.
Dizia que nunca regressava de um sermão sem ser aperfeiçoada e, com
frequência, se sentia tão estimulada que esquecia qualquer cansaço ou dor.
Enfrentou muitos problemas, não apenas com os filhos do mundo, mas também
com os filhos de Deus. Profundas feridas entraram em sua alma e com freqüênda
lhe faziam chorar diante do Senhor. Sofreu provas externas e internas durante
cinco anos, mas conseguiu se manter afastada do pecado. Em 1761, ao ouvir um
sermão de John Johnson, reconheceu a absoluta necessidade de ser salva de
todo pecado e ser aperfeiçoada em amor. Sua oração ao Senhor passou a ser a
seguinte: “Senhor, toma plena posse de meu coração e reina nele sem rival algum”.
Nos instantes finais de sua vida, as dores foram violentas. Ao fim, levantou os braços
e disse: “Glória a Jesus! Amem a Jesus! Jesus é glorioso!”. A seguir, permaneceu quieta
durante uns 15 minutos e logo entregou sua alma às mãos do Redentor.

22 de julho - Festa do Amor

No terceiro domingo de julho de 1761, John Wesley está em Birstall, na


sociedade metodista, e prepara a festa do ágape. Até então, naquele lugar nunca
tinha sido realizada uma atividade como aquela. Ele conversa com as pessoas,
explica o objetivo e assinala que tal cerimônia já estava se tornando tradicional
no seio metodista e que seria muito interessante também eles continuarem com
a sua prática.
Wesley explica que não se trata de uma réplica da Ceia do Senhor. Muitos
. se surpreendem quando ele destaca que a verdadeira intenção de um ágape é
uma conversação livre e familiar. Todos podem e têm a liberdade de falar, sejam
homens ou mulheres. A única exigência é que o objetivo de toda conversa seja
para a glória de Deus.
Explicado o significado da cerimônia e dado o seu início, aos poucos as
pessoas foram se acostumando e vários se expressaram. Em pouco tempo
havia uma chama perpassando o ambiente, correndo de um coração ao outro.
O momento mais tocante ocorreu quando uma pessoa muito simples começou
a descrever a maneira como Deus havia agido em sua vida, naquela mesma
manhã, deixando sua alma em completa paz. Ela contou que, durante o sermão
da manhã, pregado por Wesley sobre Mateus 8.3, baseado na resposta de Jesus
ao leproso (“Quero, sê limpo!”), seu coração foi tocado de maneira muito
profunda. Depois dela, outras duas pessoas também enfatizaram que haviam
passado pela mesma experiência e que agora se encontravam contagiados pela
docc paz de Deus. A seguir, muitos outros falaram, e cada vez mais o clima
da reunião foi se tornando leve e abençoado. No final, depois de um bom
tempo, todos, muito alegres, louvaram e agradeceram ao Senhor pelas obras
maravilhosas aue tem. realizado.

213
23 de julho - Discutir com os Filhos do Diabo

Entre os dias 20 e 24 de julho de 1761, John Wesley está em Birstall, onde


teve oportunidade de conversar longamente com o rev. Henry Venn e aclarar
diversas questões. Após a conversa, e muito satisfeito com o seu resultado,
Wesley fez a seguinte oração: “Senhor, se devo discutir, permita que seja com os
filhos do diabo. Deixa-me estar em paz com teus filhos!”.
No final do texto Um novo chamado a pessoas razoáveis e religiosas - parte JII,
concluído em 18 de dezembro de 1745, explica que discussões doutrinárias têm
sido pedra de tropeço para muita gente:
Não colocamos nossa maior ênfase em nenhuma opinião, seja correta ou não. Tampouco-
iniciamos ou nos metemos numa discussão sobre elas. O peso de nossa religião, como nqs_
a entendemos, reside na santidade do coração e da vida. (...) Assim, não gastando o tempo
com disputas, queremos gastar nosso tempo e nos gastarmos no anúncio da religião;
autêntica e prática. (...) Não vamos discutir sobre opiniões, Mas vejam se seu coração é reto?:
para com Deus (SI 78.37), se crêem e amam nosso Senhor Jesus Cristo, se amam o próximo .
e andam como o Mestre andou. As opiniões me adoecem. Estou cansado de opiniões.
Minha alma se aborrece com esse alimento que é pura espuma. Dêem-me uma religião
sólida e substancial, Dêem-me uma pessoa que ama humilde e gentilmente a Deus e aos
demais. Uma pessoa cheia de misericórdia e bons frutos. Sem parcialidade, sem hipocrisia;
Uma pessoa que se entregue à obra da fé, à paciência dá esperança, às ações do amor?:
Permitam-me estar com esta classe de cristão, quaisquer que sejam suas opiniões, “Qualquer ;
que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, é meu irmão, irmã e mãe” (Mt 12.50).
Por reforma quero dizer, não o retomo a este ou aquele rito ou cerimônia, pq|7
mais decentes e significativos que sejam, mas o retorno ao amor sereno a Deú&*-
e ao próximo, à prática consistente da justiça, da misericórdia e da verdade
Eu não feio de opiniões, enquanto não toquem em questões fundamentais. Não vale$t
pena gastar dez palavras sobre isto. Se têm essa ou aquela opinião religiosa, me importo
tanto quanto a opinião que tenham sobre astronomia. São conduzidos a um sentimeritQlL
religioso, a uma vida santa? Isso é o que interessa. Porque disso depende tanto sua felicidadef
social como pessoal, temporal e eterna São levados ao amor a Deus e ào próximo? Essa
a religião pura e sem mácula. A reiigião autêntica que agora se propaga é o amor.

24 de julho - local de Retiro Espiritual

Em julho de 1782 Wesley está em Londres e, junto com seu irmão Cbaríes^
tem pela frente uma atividade difícil, mas que se tornou muito comum. Ele já?
[está com quase 80 anos de idade e, invariavelmente, quase todas as semanas há
^notícias do falecimento de aicru,"ri companheiro de missão. Dessa vez trata-se de
|»Ebenezer Blackwell, amigo íntimo e confidente, administrador da capela City
ÉRoad, patrocinador das publicações de Wesley e pessoa muito importante para
io metodismo em Londres. No dia 24, os dois irmãos passam algumas horas
J| conversando e consolando a viúva.
H No seu Journal sublinha que a casa de campo de Lewisham, propriedade de
Blackwell, lhe traz ótimas recordações: 40 anos atrás aquele era o seu lugar de

{ ■ retiro preferido, quando podia passar dois ou três dias fora de Londres. Junto
Ü com o irmão, caminha uma vez mais ao redor do jardim e do prado, lembrando,
emocionado, que o seu grande amigo trabalhou muito naquela propriedade, a
'fim de melhorá-la, acatando todas as suas sugestões.
Faz parte da carta escrita a Adam Clark, de fevereiro de 1790: ‘‘Não me dá
[tristeza a partida de James Gore deste mundo malvado. Você e eu o seguiremos
|no seu devido tempo, tão logo terminemos o nosso labor. Ultimamente muitos
pde nossos amigos têm sido recolhidos ao celeiro como grãos de trigo maduro”.
H No sermão Afligidos em diversas provas, baseado em 1 Pedro 1.6, que diz
| “No presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias
f provações”, Wesley afirma:
Mi'
A morte de pessoas próximas, pessoas a quem amávamos: um pai ou mãe, qüe ainda
não haviam chegado ao ocaso de sua vida; um filho ou filha que recém-initíava sua
vida e que estava apegado a nosso coração; uma amiga ou amigo a quem amávamos
como a nós mesmos. Talvez esse filho ou amigo tenha morrido em nossos braços!
Talvez sua vida tenha sido arrebatada quando menos esperavamos! Quando começava
a florescer, foi cortada como uma flor. Em todos esses casos, não apenas podemos,
mas devemos ser afetados; é parte do plano de Deus que assim suceda. Ele não quer
que sejamos duros como pedras: Ele quer dar direção aos nossos sentimentos, não
fazê-los desaparecer. Portanto, é possível que um ser puro derrame lágrimas. Pode
haver aflição sem pecado.

-5 de julho - Mantendo a Unidade

Em 25 de julho' de 1786 iniciou-se uma conferência metodista, com a


besença de aproximadamente 80 pregadores, para abordar o tema da separação
ia Igreja Anglicana. Wesley manifestou o seu ponto de vista, já ampiamente
lonhecido. conseguindo que houvesse a decisão unânime de continuar mantendo-
215
a união. Muitos pregadores achavam que a reunião seria marcada por grandes V
discussões e conflitos, mas tal não ocorreu. Mais uma vez Wesley conseguiu
manter a unidade, mas ele tem ciência de que, após a sua morte, haverá novas
deliberações sobre a questão e a decisão certamente será revista.
No sermão Os profetas e os sacerdotes, de maio de 1789, John Wesley afirma
orgulhar-se muito do modelo implantado no metodismo. Afirma ser algo
inteiramente novo na história do cristianismo. O comum, o recorrente na
história, é a repetição do mesmo processo no mundo. Sempre que Deus opera
poderosamente em determinada cidade ou nação, os protagonistas desenvolvem
um espírito exclusivista e não tardam em dizer aos seus vizinhos e aos outros: “Não
se aproximem de nós, porque somos mais santos que vocês”. Assim que possível,-
eles se separam, se retiram para o deserto, constroem seus próprios templos, criam
novas denominações e formam agrupamentos nos quais só são admitidos aqueles
que concordem e subscrevam suas idéias e práticas; Com o metodismo, ainda
segundo ele, a situação é completamente diferente. Não se trata de uma seita nem
de um partido. Os metodistas não se separaram da comunidade religiosa à qual
pertenciam originalmente. Eles são membros da Igreja Anglicana e assim desejam
permanecer. Ele considera que Deus lhe dá longevidade para que possa continuar
reafirmando seu propósito de unidade, de não separação.
John Wesley tinha plena consciência de que a tarefa de permanecer ligado à
Igreja Anglicana era muito difícil. Havia pessoas insatisfeitas em todos os lados.
Alguns lhe falam que ele efetivamente já havia se separado da Igreja Anglicana,
na medida em que pregava ao ar livre e comissionava seus próprios pregadores.
Do outro lado, certas pessoas se sentiam incomodadas pelo fato de não haver
ocorrido oficialmente a separação. Para todos eles a explicação que dava era:
“Concordo com a doutrina da Igreja da Inglaterra em sua totalidade. Amo sua .
liturgia. Aprovo seu esquema disciplinário e minha única vontade é que possa
colocá-lo em prática. Não me aparto das normas da Igreja inteocionaímente,
exceto em algumas poucas instâncias que considero absolutamente necessárias”, j

28 de julho - O Valor de um Homem Simples 1

No final de julho de 1762, John Wesley está em Dublin e percebe que a "J
chama do Evangelho continua aumentando cada vez mais na cidade. No seu •’ Jj
Journal ele destaca que um dos responsáveis por aquele avivamento foi John CjJ

216
Manners, um homem simples, de talento mediano, não eloqüente e até mesmo
muito rude no falar. Na carta que escreve a Wesley, o pregador relata:
A obra aqui é cal como nunca esperei. Alguns são perdoados e santificados quase
todos os dias. Essa semana três, ou quatro foram perdoados, e outros tantos, se não
mais, foram renovados em amor. As pessoas estão exaltadas. No domingo passado
ocorreu uma coisa que eu nunca tinha visto antes. Enquanto eu orava na sociedade, o
poder de Deus se manifestou sobre nós de tal forma que alguns gritavam: “Senhor, eu
posso crer”. Rapidamente a gritaria foi geral, com fortes orações. Duas vezes comecei
a cantar, mas a minha voz não pôde ser ouvida. Logo recomendei que ficassem mais
quietos e compostos e assim esperassem pela bênção, o que todos aceitaram, menos
dois ou três, que não podiam se conter. Orei outra vez e o suave poder da graça caiu
em muitos corações. Nossas congregações crescem muito e não tenho dúvida de que
veremos maiores coisas do que essas.

Numa outra carta, escrita quatro dias depois, John Manners registrou:
A obra de Deus aumenta a cada dia. Quase todos os dias, as pessoas são perdoadas e
justificadas. Na quinta-feira vieram três jovens e me disseram que o sangue de Jesus
Cristo os havia purificado de todo pecado. A jovem Dorothea King me contou que
havia sido perdoada sete anos antes e que durante cinco anos esteve convencida da
necessidade de santificação. Duas semanas atrás, ela foi alcançada por uma convicção
tão intensa, que até hoje não se cansa de exaltar a misericórdia do Senhor.

27 de julho - Avivamento Extraordinário

Falando sobre o avivamento em Dublin e o trabalho de John Manners,


Wesley destaca que ele mesmo pôde testemunhar a obra que. estava acontecendo
naquele lugar:
Fazendo um exame mais cuidadoso, encontrei quarenta e três ou quarenta e
quatro pessoas que pareciam gozar do amor puro de Deus. Pelo. menos 40
dessas pessoas haviam sido liberadas nos últimos quatro meses. Alguns outros,
que também haviam recebido a bênção, não estavam mais na cidade. O mesmo
número, ou talvez até maior, havia encontrado a remissão de pecados. A mão
do Senhor não está encolhida, Ele continua agindo tão rápido como sempre.
Em alguns aspectos, a obra de Deus nesse lugar foi mais extraordinária que a em
Londres. Ela é bem maior em proporção ao tempo e ao número de pessoas. Aquela
sociedade tinha mais de dois mil e setecentos membros; esta contava apenas com a
quarta parte deste número. Seis meses depois que a chama se prendeu ali, tivemos cerca
de 30 testemunhos relatando a grande salvação. Em Dublin houve por volta de 40, em
menos de quatro meses. O trabalho foi mais puro. Em todo esse tempo, quando foram
tratados com suavidade e ternura, não houve nenhum indisciplinado que não se deixasse '
aconselhar, nenhum que fosse mais sábio que seus mestres, nenhum que sonhasse ser
imortal ou infalível com respeito à sua capacidade de resistir à tentação; em resumo, não
houve pessoas caprichosas ou entusiastas. Todos eram tranqüiios e de mente sóbria.
Sei que vários destes, com o correr do tempo, caíram de sua firmeza. Não estou nada
surpreso com isso; não era nada mais do que se podia esperar. Mas bem me assombro
que um maior número de pessoas não tenha caído. Tampouco isso de modo algum
altera minha avaliação a respeito da grande obra que Deus realizou naquele lugar.

28 de julho - Viver é Pregar

No dia 28 de julho de 1757, depois de um dia cansativo de trabalho, Johh: ;;|f


Wesley escreveu em seu Journal. “Ao meio-dia preguei em Woodseats e à noitey-||
em Sheffiçld. Para mim, viver é pregar!”. •sja
•y
Wesley estava muito feliz naquele verão. Nessa mesma página do Journal ele
destaca, com alegria, a mudança de comportamento da população em relação ao
metodismo. As terríveis perseguições, como as ocorridas em Wednesbury e na
região de Staffordshire, ficaram para trás.
Que tranqüilo é este país agora que os perseguidores principais não se vêem mais.
Quantos deles foram arrebatados numa hora em que menos esperavam! Faz algum
tempo, uma mulher de Thorpe, que com freqüência jurava que lavaria as mãos no
sangue do coração do próximo pregador que chegasse, foi levada à sua morada
eterna antes da chegada do pregador. Pouco antes de John Johnson se estabelecer ”- q
em Wentworth, um homem corpulento e saudável que vivia ali disse a seus vizinhos:.;
“Depois de Io- de maio não haverá outra coisa senão oração e pregação. Mas eu fard-Híí
todo o possível para impedir que isso ocorra”. Antes da data, ele mesmo estava em
silêncio em sua tumba. Um servente de Lord Rookingham, de tão amargo, passou^!
a dizer muitas mentiras para fazer o mal. Mas dentro de pouco tempo sua boca foi Â
fechada; Afogoú-se num viveiro de peixes.

A felicidade de Wesley era por causa da resposta positiva alcançada pelo ministério; J.
iordinátio desenvolvido por ele e pelos demais pregadores metodistas. Ele 7;
reconhecia que seu movimento era uma ajuda de emergência dirigida espedaimente - 4
aos pobres e marginalizados que não eram alcançados pela igreja oficial. M
No texto 0 cristianismo moderno manifestado em Wednesbury e em outros lugares
próximos a Staffordshire, bem no final, John Wesley destaca o seu compromisso de Tf
submissão ao Senhor:
Se essa alma e esse corpo podem ser úteis para algo, seja para fazer a Tua vontade.
Se for a Tua vontade visitar-me, seja com a dor ou com a desonra, me humilharei
e por Tua graça serei obediente até a morte. Seja o que for que me aconteça, tanto
se vier de meu próximo como de estranhos, dado que és Tu que os empregas,
ainda que eles não o saibam (a menos que Tu me ajudes a descobrir um meio legal
de reparar o mal), eu não abrirei a minha boca ante o Senhor que me fere, exceto
para bendizer-lhe. Daqui para frente, ninguém poderá tirar-me nada, nem minha
vida, nem minha honra, nem meus bens, já que estou preparado para oferecê-los
enquanto perceba que Tu os requeres de minhas mãos. Sejam quais forem os
sofrimentos que de agora em diante torturem minha carne, ou qualquer agonia
que martirize meu espírito, “Pai, em tuas mãos entrego minha vida e tudo o que
me concerne”.

|29 de julho - Livre do Pecado

John Wesley sempre manteve uma correspondência ativa, especialmente


|r com pregadores e membros do movimento metodista. Além de enviar cartas,
H ele também recebia informações a respeito do desenvolvimento das atividades.
|| No seu Journal (29/jui./l 759)^ ele reproduz um relato, provavelmente de John
j§ Walsh, sobre a obra de Deus em Everton e vizinhança:
Preguei em Orwell essa manhã, sobre Isaías 55,1. Um homem .que havia
sido convencido anteriormente do pecado caiu como se estivesse sofrendo
uma convulsão. Ele passou por grande angústia de alma e rogou ao Senhor
Jesus por sua salvação. Lutou como se estivesse agonizando, a ponto de
ficar çompletamente banhado de suor. Durante a oração ele golpeava de tal
modo a cadeira onde estava ajoelhado, dando a impressão de que sua alma
se aproximava do inferno. Seu rosto se iluminou de repente e nós pensamos
que dentro de pouco ele se libertaria. Mas, de repente, ficou mais angustiada
que nunca ao passar por um conflito ainda mais intenso. Cada músculo de seu
corpo se agitava rortemente, como se sua natureza estivesse se desfazendo.
Nunca havia visto antes um ataque convulsivo tão violento, mas num instante
Deus dissipou a nuvem. Seu rosto novamente se cobriu de riso e falou como
se estivesse vendo o Senhor de bem perto. Clamou ao Senhor e Ele o declarou
livre do pecado. Nesse momento ele aplaudiu com suas mãos e clamou em alta
voz: “Jesus é meu! E o meu Salvador!”. Perguntei-lhe: “Aceitaria passar tudo isso
de novo?”. Ele respondeu que por nada deste mundo gostaria de sofrer tudo
novamente. Mas sofreria muito mais se continuasse a estar sem Cristo: “Ainda
mais, por Sua causa estou disposto a sofrer todas as coisas”.

219
30 de julho - Falecimento de Susanna Wesley

Susanna, mãe adorada dos irmãos Wesley, faleceu em 30 de julho de 1742, 01


tarde de uma sexta-feira. John afirma que sentou-se ao lado dela, no canto da
cama, e pôde acompanhar os seus momentos finais. Apesar de não conseguir
falar, ela estava bastante tranquila. Seu olhar era calmo, sereno, fixo no alto..No
seu Journal ele cita o texto de Eclesiastes 12.6-7: “Antes que se rompa o fio de
prata, e se despedace o copo de ouro, e se quebre o cântaro junto à fonte, e se
desfaça a roda junto ao poço, e o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte
a Deus, que o deu”. Assinala que, sem nenhuma luta, sua alma foi posta em ■
liberdade e foi cumprido seu último desejo, dito um pouço antes de perder a fala:
“Filhos, tão logo seja libertada, cantem um hino de louvor ao Senhor”. Apesar
da grande dor pela perda da mãe querida, os filhos cantam, agradecidos a Deus
por aquela que também havia sido pregadora da justiça divina. Toda família,
louva agradecida a Deus, especialmente John e Charles, que ficaram sabendo que
a mãe, dias antes, finalmente havia passado pela maravilhosa experiência pessoal
de fé, idêntica à experimentada pelos dois irmãos, ocorrida ao feceber a Santa
Ceia, ministrada pelo seu genro, Westley Hall.
O sepultamento ocorreu no dia 1 °. de agosto, por volta das 5 horas da tarde.
John, que considerou ter sido aquela uma das mais solenes reuniões que já tinha
visto, leu e falou sobre o texto de Apocalipse 20.11-12, que diz: “Vi um grande
trono branco e aquele que nele se assenta, de cuja presença fugiram a terra e
o céu, e não se achou lugar para eles. Vi também os mortos, os grandes e os 7
pequenos, postos em pé diante do trono. Então se abriram livros. Ainda outro "J
livro, o livro da vida, foi aberto. E os mortos foram julgados, segundo as suas
obras, conforme o que se achava escrito nos livros”.
Na cabeceira da tumba foram escritas as seguintes palavras: 7
Aqui jae^ o corpo da era. Susanna Wesley, a filha mais jovem e última sobrevivente do Dr, ::
Samuel Annesíey. Em segura e firme esperança de levantar / E requerer a sua mansão celestial, S
! Uma cristã aqui, seu corpo deixado, Trocando da crus^pela coroa, j Ela, verdadeira filha de "«|
afiiçõOy l Acostumada â dor e à miséria, f Chorou uma longa noite de medo e tristeqa, / Uma-
noite legal de setenta anos. j O Pai então lhe revelou o rilho, j E je-lo conhecido no partir do A
pão; / Ela conheceu e sentiu seus pecados perdoados, j E descobriu assim o penhor do céu.
Preparada para a comunhão celeste, / Ela escutou o chamado. Eevanta-te. amada’; / ,(Venho:>, g
respondeu seu olhar moribundo, / e qual cordeirinho, como o seu Senhor, morreu.
31 de julho - Uma Santa Mulher
íüí*‘-
Consta no Journal de John Wesley (31 /jul./l 741) uma visita à Jane Muncy,
uma das primeiras mulheres a fazer parte da banda metodista de Fetter Lane.
Naquela ocasião gravemente enferma, Jane Muncy era uma jovem bastante
determinada e inteiramente dedicada ao trabalho do Senhor. Desenvolvia
inúmeras advidades e trabalhava muito, até tarde da noite, procurando ganhar
e economizar o máximo possível para socorrer os necessitados. Extremamente
zelosa e capaz, ela rapidamente se transformou em líder daquela comunidade.
John Wesley registra que, numa determinada ocasião, Jane Muncy estava

ouvindo as pessoas discutirem sobre meios de graça. Apenas os homens
conversavam sobre o tema e, quando ela quis dar sua opinião, os demais a
ff.
|p; olharam com certa suspeição. Sem dar atenção ao visível preconceito, ela
| continuou participando seriamente da conversa. Quando alguém afirmou que
| “homens e mulheres solteiros não deveriam conversar entre si”, retrucou que
f não estava disposta a aceitar regras e doutrinas elaboradas por homens.
Ela era assim, uma pessoa determinada e inteligente. Não perdia ocasião
5 para enfrentar todo tipo de controvérsia, sempre enfatizando a importância de
J se praticar atos de misericórdia para com os mais pobres e necessitados.
Na época em que foi transformada em líder de uma ou duas bandas,
| sua dedicação tornou-se ainda maior. Possuía inúmeras virtudes e se tornou
exemplo de fé, de abnegação, de pureza e de dedicação aos trabalhos da
comunidade metodista. Wesley assegura que sua fé era firme e imutável, além
l de ser rigorosíssima na assistência às ordenanças de Deus, públicas e privadas.
| E como prêmio de toda essa dedicação, ao invés de viver uma vida saudável, ela
estava enferma numa cama, atacada por uma febre violenta e dores intensas,
| ininterruptas.
Quando Wesley entra no quarto, Jane lhe estende a mão e seu rosto anuncia
l muita paz. Ela, que quase não mais conseguia falar, arranca forças do fundo da
alma e diz; “Tu vieste, tu, benciito cio Sennor? nouvado seja o nome cio Sennor
^ or isso”. Ele acolhe suas mãos e lhe pergunta se está triste ou desanimada por
estar sofrendo tão grande provação. Responde que de forma alguma se sente
desanimada. Não se queixa da dor, nem por um instante. Dá graças a Deus por
tudo, inclusive pela enfermidade. Mais no finai da visita, quando o pastor lhe
afirma que o Senhor vai estar sempre ao seu lado, sustentando a sua vida, diz
estar convicta de que Deus, Pai de Jesus Cristo, irá continuar cuidando da
•vida. Nada tem a pedir. Só quer dar louvores ao Senhor, pelas bênçãos recebidas
durante a sua vida.
‘‘Dormiu em paz”, pronuncia John Wesley, “dormiu em paz Jane Muncy,-
uma cristã que foi como uma mãe em Israel. Os feitos realizados por ela a
louvarão nas portas do céu” (Pv 31.31).

222
Agosto

ossas doutrinas principais são: arrependimento,


fé e santidade. Consideramos a primeira o pórtico
da religião, a segunda a porta e a terceira a
religião em si mesma.

John Wesley, em Os Princípios de um Metodista,


Melhor Explicados, de junho de 1746
12 de agosto - Conselho aos Pastores

No dia Io. de agosto de 1786, John Wesley escreveu o texto Conselho aosfk
pregadores. Os três primeiros conselhos são os seguintes: 1. Sempre conclua o,; ''
culto em uma hora; 2. Nunca grite; 3. Nunca se apóie ou ataque a Bíblia.
Num texto anterior, Os princípios de um metodista, melhor explicados, (jun./1746),
ele descreve as mudanças ocorridas com ele, com respeito à pregação:
Desde 1725 até 1729 preguei muito, mas não pude ver nenhum fruto do meu
trabalho. Certamente era lógico que isso ocorresse, visto que eu não expunha o
fundamento do arrependimento, nem tampouco enfatizava a necessidade de crer no
Evangelho, porque entendia que todos os que me ouviam já eram crentes e que a
maioria não tinha necessidade de arrependimento. De 1729 a 1734, aprofundando
mais na necessidade de arrependimento, vi algum fruto, mas muito pouco; e não
era para menos, porque eu não pregava sobre a fé no sangue do pacto. Desde 1734
até 1738, falando mais de fé nas visitas de casa em casa, obüve maiores frutos de
minha pregação do que havia conseguido antes; ainda que ignore se aqueles què
se reformaram aparentemente se transformaram interiormente, convertendo-se
profundamente a Deus. De 1738 até o. presente, falando continuamente de Jesus
Cristo, apresentando-O como único fundamento para a vida, demonstrando que Ele
é tudo para todos, o primeiro e o último, e baseando minha pregação totalmente
em “O reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no Evangelho’*
(Mc 1.15), a Palavra de Deus se estendeu como fogo em rastilho de pólvora.
As pessoas clamavam: “Que devemos fazer para ser salvos?” (At 16.30). (...)
Que nosso afã seja convencer a toda a humanidade de que ser um bom
cristão é amar ao Senhor nosso Deus com todo nosso coração e servir-lhe
com todas as nossas forças; e amar a nosso próximo como a nós mesmos:
Nossas doutrinas principais, que incluem todas as demais, são três: arrependimento,
fé e santidade. Digamos que consideramos a primeira como o pórtico da religião, a
segunda como a porta e a terceira como a religião em si mesma.

2 de agosto - Questão Financeira

do sosticdlio cios prcgudo mot-n/itofne


urc. uwcjljlo cau grande Ú
relevância e que trazia preocupação a John Wesley. bm carta de 2 de agosto ; %
de 1788, endereçada às sociedades metodistas da Inglaterra e da Irlanda, eie
assinaia que no início do metodismo, quase 50 anos antes, todos os pregadores . .|
eram solteiros, incluindo eie próprio e seu irmão Charles. Entretanto, com o; MÉ
'' tempo, muitos deles foram se casando e constituindo família. De forma que
se antes era bem mais fácil o sustento financeiro, agora, com o casamento,
havia a necessidade de um salário complementar para a esposa do pregador.
Mesmo com a nova situação, as próprias comunidades nas quais serviam se
• responsabilizavam pela manutenção, só que nessa primeira fase não havia
nenhum salário determinado.
•A Na carta, Wesley deixa implícito que esse modelo não deu certo na
medida em que o pregador e sua família ficavam muito vulneráveis, à mercê da
generosidade da comunidade, que nem sempre era exemplar. Assinala que, por
volta de 1758, houve a necessidade de uma alteração na metodologia. Ao invés
■ de deixar a critério da comunidade local, ficou estabelecido que seria muito
mais conveniente estabelecer uma pensão fixa para os dois. Os circuitos, em
: que os pregadores atuavam, ficavam responsáveis pelo salário.
Solucionada a questão das prováveis injustiças que poderíam ser
cometidas, logo se constatou que determinados circuitos, por serem menores
e de pouca renda, não conseguiam arrecadar o necessário para os salários.
Para suprir a deficiência, John Wesley e o Dr. Coke se responsabilizaram para
completar o necessário.
Foi nessa época, conta ele, que se abriu um precedente muito perigoso,
quando três ou quatro esposas passaram a ser sustentadas pelo Fundo de
Contingência, um fundo especial de emergência. Ele explica que 0 precedente
foi negativo porque mais e mais esposas passaram a reivindicar o complemento
de salário por meio do Fundo. Depois de certo tempo, bem rápido, o Fundo
começou a se esgotar. Diante de tal situação, ele não sabia o que fazer. A única
alternativa preventiva seria analisar a situação das sociedades metodistas da
Inglaterra e da Irlanda, solicitando a todos os membros que dessem a maior
ajuda possível.
Cinquenta anos depois, o mesmo problema sobre como sustentar
adequadamente os pregadores da Palavra de Deus permanece. A diferença,
diz ele. é que nesse período o ooder econômico dos metodistas havia crescido
bastante. É possível exigir uma contribuição maior. Ele crê no sucesso da
iniciativa porque o sentimento de piedade e de colaboração dos metodistas
não é limitado. Todos estão dispostos a contribuir, dando alegremeníe
alimento e roupa par iqueies que dão todo seu tempo, esforço e trabalho
Dara servi-los.

225
3 de agosto - Assim Nasceu o Termo Metodista

O termo metodista nasceu com o grupo de amigos, estudantes do Merton


College, de Oxford, chamado originalmente de Clube Santo. Esse apelido foi
logo substituído por uma série de outros nomes zombeteiros, tipo Clube Religioso
e Traças da Bíblia. John Wesléy não gostava de que chamassem de Clube e, apesar
dele mesmo ocasionalmente usar o termo, estava hesitante em adotar qualquer
designação formal como uma “sociedade”.
Parece que a primeira pessoa a utilizar a expressão metodista foi John
Bingham, professor do Christ Church, que anunciou: “Um novo grupo de
metodistas surgiu entre nós”. Entretanto, a primeira referência ao termo vem
de uma carta de John Clayton, de Oxford, a John Wesley, em visita a Londres,
em agosto de 1732, pela qual se deduz que o termo está diretamente associaduv
com o próprio Wesley: “Agora que você se foi, nós perdemos em grande parte o>:
honroso apelido de metodistas”.
O nome não saiu da mente de muitas pessoas. Parecia ser uma designação
apropriada para o grupo de wesleyanos, por algumas razões, depreciativas ou
não. Em poucas semanas, levado pelos rumores que se espalharam com rapidez,
o termo estava nos lábios de muita gente de Oxford. Depois de ser usado numa
carta crítica publicada num jornal de Londres (Fog’s Weekly Journal), em dezembro,.
metodista se tornaria amplamente reconhecido como o rótulo do movimento
wesleyano em Oxford.
Em 1733 foi publicado um panfleto anônimo denominado Os metodistas de
Oxford. A partir daí a expressão foi fixada definitivamente. Wesley e seus amigoáf
passaram a ser chamados de metodistas, palavra inicialmente carregada de...
zombaria e preconceito, mas que aos poucos foi se modificando e ganhando'?
características positivas.
No final de 1733, estavam associados ao grupo de metodistas mais de 40
pessoas. Algumas das quais tinham 20 anos de idade ou pouco mais, mas váriasji’
ainda eram adolescentes, còm até 14 anos.
O primeiro surgimento do metodismo em Oxford havia dado ao mund#J
um grupo de estudantes conscientes, inclinados a desenvolver uma aproximaçãoA
disciplinada da vida cristã, uma piedade meditativa que tentava implantai1^
a santidade interna e externa; uma teologia que exibia as tendências ecléticaèA
da tradição do viver santo; uma organização que estava baseada num sistema
IjjnterJigado de pequenos grupos que compartilhavam regras e resoluções pelas
Sanais podiam implementar a sua teologia bíblica na vida diária.

|4 de agosto - As Riquezas Atrapalham

| No texto Pensamentos sobre o metodismoy de 4 de agosto de 1786, John


f Wesley se revela muito preocupado com a questão do dinheiro. Ele viaja por
t todas as partes e percebe claramente que os metodistas estavam conhecendo
|uma nítida ascensão social e econômica, resultado do trabalho diligente e
|| do modo de vida frugal e econômico que levavam. No texto, ele assinala
Èque a religião produz necessariamente a laborosidade e a frugalidade e que
estas, inevitavelmente, produzem riqueza. E, à medida que surge a riqueza,
Ifambém surgem orgulho, amor às coisas do mundo e vontade de satisfazer
í necessidades supérfluas.
Seu receio é que, com o enriquecimento, os metodistas se afastem da essência
|da religião, abandonem o sentimento de humildade que houve em Cristo. Ele
^considera que a melhoria da situação econômica iria interromper o reavivamento,
| atrapalhar a busca da verdadeira religião. A história do cristianismo confirmava
| seu prognóstico. A história do movimento metodista caminhava nessa mesma
Idireção. John Wesley estava vendo essa realidade se dar. Em muitos lugares o
metodismo estava perdendo o entusiasmo.
| Ele não tem medo de que o povo chamado metodista deixe de existir. Seu
Jtemor é que se transforme numa seita morta, numa forma de religião sem poder.
|E tal fato poderá ocorrer, se os metodistas não forem cuidadosos e não se
Imantiverem firmes na doutrina, no espírito e na disciplina inicial.
O que fazer para evitar que o metodismo se transforme numa mera
instituição religiosa, sem a essência do verdadeiro cristianismo? A resposta que
iWesley oferece, a única resposta, é a seguinte: em primeiro lugar, não se deve
roibir que os metodistas sejam diligentes, trabalhadores e econômicos, não
jdados a gastos desnecessários. Esse modelo é correto e deve ser mantido. Os
metodistas devem ser exortados a ganhar e a economizar tudo o que puderem.
I.Devem ser exortados a enriquecer. Em segundo lugar, a questão que se coloca
|é quanto ao uso dessa riqueza. O que fazer para que ela não afunde o metodista
= o mais profundo inferno? A alternativa é evidente. Essa riaueza acumulada
Ide ve ser distribuída entre os mais pobres. Os metodistas devem dar tudo o que
puderem. Dessa forma haverá substancial crescimento na graça de Deus. Eles;
estarão acumulando tesouros no céu. ......

5 de agosto - Início da Decadência?

A conferência de 1777, em Bristol, reunindo todos os pregadores metodistas,


estava cercada de uma expectativa pessimista. Já no início, em 5 de agosto, John
Wesley introduz a questão polêmica: “O povo metodista é um povo decaído?”.
Nessa época, o conflito entre Wesley e os calvinistas tinha alcançado o seu.
apogeu. Revistas como The Spiritual Magazine (Revista 'Espiritual) e The Gospel
Magazine (Revista Evangélica) publicavam calúnias terríveis contra Wesley e contra
os metodistas. Nesta última, naquele mesmo ano, foi publicado o artigo The
serpent and the fox (“A serpente e a raposa”), descrevendo uma conversa entre
Nick, o demônio, e o Velho João, o sacerdote. Provavelmente a calúnia mais
grave tenha sido a publicada no EanaticalConversion (Conversão Fanática), afirmando
que a, festa de amor metodista era uma orgia em que “as virgens são defloradas
em fantasias religiosas”.
Wesley explica que as calúnias estavam sendo veiculadas por adversários do
metodismo, gente que desejava apenas atrapalhar a obra de Deus. A cada um dos
pregadores, ele pergunta: “Você tem razão para crer que os metodistas sejam um
povo caído? Há decadência ou incremento na obra de Deús em que você está?
Comparando há alguns anos, as sociedades estão mais mortas ou mais vivas?”.
As respostas foram unânimes:
Se é possível conhecer a qualidade de uma obra pelos frutos apresentados, não há nenhuma
decadência entre o povo metodista. As sociedades não estão mortas. Estão muito mais
vivas do que antes. Esses falsos relatórios espalhados por toda parte são instrumentos de
Satanás e visam a debilitar as mãos dos obreiros e do povo chamado metodista.

Após ouvir cada um dos participantes, Wesley destaca que ninguém melhor
do que ele estaria apto a fazer uma avaliação gerai. Só ele sabe o que está ocorrendo
com o metodismo em todas as partes: em muitos lugares os metodistas continuam
sendo pobres, desprezados e sofrem muitas inconveniências e reprovações.
Entretanto, continuam crescendo em número c na graça de Deus. O metodismo
é um movimento vibrante e continua em franca ascensão.
Visando, i.alv\_^., a. íuluuí muo amuiu cuue us pregadores, vvestey incluiu,
pela primeira vez. uma novidade na conferência. Ele prepara um memória’ nelos
228
| pregadores que haviam morrido no trabalho durante o ano anterior: “J°hn
t Slocomb, em Clones: um velho trabalhador, gasto no serviço. John Harrison,
C C perto de Lisburn: um jovem promissor, sério, modesto e muito devotado a Deus.
A v.' William Lumley, em Hexham: um jovem abençoado, uma feliz testemunha da
. D total liberdade dos filhos de Deus. E William Minethorp, perto de Dunbar: um
| verdadeiro israelita, em quem não há dolo”.
7 A conferência terminou numa sexta-feira, num clima de muito amor,
■ cordialidade e otimismo. A única nota discordante foi dada por John Helton, um
: J pregador que decidiu separar-se do movimento, argumentando não estar ainda
convencido a respeito do vigor do metodismo. Apesar de muitos companheiros
• 7 terem tentadc- demovê-lo, ele se mostrou irredutível e abandonou o grupo.
• | Oraram por ele e o deixaram ir na paz de Deus.

| 6 de agosto - Um Amigo e Confidente

Alexander Mather foi um grande amigo e confidente de John Wesley.


Convertido em 1754, em Londres, após ouvir um sermão seu, Mather escreveu
sua autobiografia e nela faz uma importante descrição da sua experiência de
perfeição cristã, ocorrida entre 1757 e 1760. Tornou-se, após a morte de John
. Wesley, um dos mais importantes líderes do metodismo.
Na carta que Wesley lhe escreveu em 6 de agosto de 1777, o tema abordado
é a questão da pretensa decadência do metodismo, o mesmo que estava em
discussão na conferência metodista daqueles dias. Mather sabe que além dos
panfletos e artigos anônimos que destilavam calúnias, havia ainda a crise com o
metodismo nos Estados Unidos, já que, com a exceção de Francis Asbury, até
aquele ano de 1777, todos pregadores nomeados por Wesley tinham regressado
à Inglaterra. Mather havia feito alguns questionamentos e Wesley responde-
lhe que o perigo do metodismo se arruinar não está nisso. O problema mais
importante é outro:
Está nos nossos pregadores, pois muitos deles não são espirituais e estão caindo. A
relação que têm com Deus não é uma experiência viva. Eles estão sem forças, débeis,
com medo de que as pessoas pensem mal deles, do trabalho e das dificuldades. Não
têm o espírito que Deus deu aThomas Lee, em Panteley Bridge, ou a você, em Boston.
Essa é a origem prindpal de todos os problemas enfrentados pelo metodismo. O
problema não está fora, não está nas calúnias e acusações, não está nas dificuldades e
provações. O problema está dentro, está nos próprios pastores. Sc pudesse dispor de

229
cem pregadores que nada temessem, a não ser o pecado, e que desejassem somente
a Deus, poderiamos sacudir as portas do inferno e estabelecer o reino dos Céus na
Terra. Não importa se fossem clérigos ou leigos.

Na mesma conferência, Wesley assinalou, a respeito dos pregadores, que


“a maioria deles não é chamada por Deus para pregar”, ou pelo menos “têm
perdido o seu chamado”. Ele sabia que o sucesso do trabalho dependia dos
pregadores, dos líderes.

7 de agosto - Aproveitando Todas as Oportunidades

Na tarde de 7 de agosto de 1760, John Wesley viaja para Kinsale, Irlanda.


No caminho desaba violenta tempestade, fazendo com que todos corressem
para o abrigo mais próximo. Na humilde residência, onde foram gentilmente
acolhidos, estava uma pobre mulher com alguns filhos e uma vizinha. No breve
período que ali passou, Wesley ouviu parte da história da família da mulher e
ofereceu inúmeros conselhos. Para a vizinha que reclamara estar padecendo
necessidades materiais, ofereceu uma pequena quantia em dinheiro para a
compra de alimentos. Assim que terminou a chuva, ele se despediu e recomeçou
sua viagem. As 6 horas da tarde, em Kinsale, Wesley já estava pregando para um
público numeroso.
Assim era o fundador do. movimento metodista. Não perdia nenhuma
ocasião. Em. cada canto que ia levava sempre a Palavra de Deus. Ele se
reconhecia como pastor enviado ao mundo e não estava circunscrito a uma
paróquia ou a um local definido. Seus paroquianos eram todos os que se...
dispusessem a ouvi-lo. Da mesma forma que levou o Evangelho para anuelas
pobres pessoas que o acolheram, protegendo-o da chuva, assim também fez
com o batalhão de soldados de Kinsale que, protegidos no galpão, foram quase
que obrigados a ouvi-lo.
Segundo ele próprio, no dia seguinte, perto das 9 horas da manhã, outra
violenta tormenta pôs fim aos exercícios dos soldados, que regressaram ao forte.
Wesley foi até onde eles estavam e pregou o Evangelho. Todos ficaram atentos e
ouviram a sua pregação. Nessa hora a chuva já havia passado e brilhava um forte
sol sobre a sua cabeça. Ele fez uma oração e apareceu uma nuvem, que cobriu
o sol. Mais tarde um vento forte começou a incomodá-lo e ele faz novo pedido
a Deus, que o atende. Ac testemunhar aqueles pequenos sinais da misericórdia
p-divina, ele se sente comovido. Diz que é bastante possível ver as mãos de Deus
tanto nas coisas pequenas como nas grandes.
Tais eram a sua comunhão com Deus e sua a sensibilidade espiritual que até
mesmo as mudanças climáticas sempre pareciam-lhe ter um propósito divino.
Com muita tranquilidade, John Wesley poderia afirmar junto com o apóstolo que
“todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8.28).

8 de agosto - A Importância da Pregação

John Wesley considerava que o tipo de pregação utilizado pelos pastores era
determinante para o crescimento ou não do trabalho. Na visita à sociedade em
Castle Hill, no início de agosto de 1767, ficou muito triste por encontrá-la bem
j menor do que quando de sua visita anterior. Após conversar com algumas pessoas
que já não estavam mais participando dos trabalhos metodistas, comprovou sua
opinião. O fator responsável pelo fracasso daquela sociedade era o estilo de
pregação então utilizado.
O pregador usava o sermão para reclamar duramente dos fiéis. Destacava
sempre que as pessoas eram frias, não evangelizavam e tinham pouca fé. Essa
era a tônica da sua pregação. Raro era ouvi-lo destacar aspectos positivos da sua
comunidade. Quase nunca dizia algo que pudesse mover a gratidão das pessoas
e animá-las para o trabalho. Dessa forma, a grande maioria dos membros.se viu
desanimada e afugentada. Os poucos que sobraram adotaram as características
negativas destacadas pelo pregador.
Era enorme e constante a preocupação de Wesley com os pregadores
metodistas. Apesar do extremo cuidado e atenção que dedicava a todos
eles, sempre havia alguns que exorbitavam e assumiam uma postura que o
desagradava. Na carta de 28 de julho de 1775, enviada a John King, conhecido
como um pregador de voz retumbante, "Wesley faz diversas sugestões a respeito
da. pregação, recomendando, especialmente, que ele parasse de gritar:
Não grite mais; estará colocando sua alma em perigo. Deus ihe adverte por meio de
mim, a quem colocou sobre você. Fale com veemência, mas não grite. Fale com todo
o coração, mas com voz moderada. Foi dito a respeito de nosso Senhor “não gritará”
(Is 42.2); e é isso o que a palavra significa. Nisso seja. um seguidor meu como eu sou
de Cristo. Eu falo forte com freqüência, sempre com muito entusiasmo, mas nunca
grito, nunca me excedo. Não me atrevo; sei que seria um pecado contra Deus e contra
minha alma.

231
A um outro pregador, Thomas Taylor, em carta de 15 de janeiro de
1778, ele recomenda não pregar constantemente contra determinada
doutrina antibíbiica, blasfema e daninha, que estava sendo espalhada na
região. Ele concorda com a necessidade de se pregar contra tal doutrina, mas
considera ser necessário saber a dosagem certa. Afirma não se poder atacar
determinadas doutrinas de uma maneira cega e obcecada. E importante
lembrar-se que o pastor tem a tarefa de pregar o Evangelho de Jesus
Cristo. Pregações inteiramente voltadas à polêmica podem produzir um
resultado não desejado. Pode ocorrer que, ao invés de se corrigir e educara
comunidade, se crie interesse em torno da heresia. E necessário reconhecer a
dose correta. Nem muito, nem pouco. Deve-se, de vez em quando, expressar
um testemunho forte e completo contra ela. Não é fácil esse equilíbrio.
Ele mesmo não consegue calcular a dosagem perfeita. Acha que falou bem
pouco contra determinados ensinamentos equivocados que proliferavam no
seio das igrejas da Inglaterra.

9 de agosto - Passa e Ajuda-nos

A chegada de John Wesley à Irlanda ocorreu em 9 de agosto de 1747. Sua


viagem foi realizada para atender ao apelo de Thomas Williams, que havia
tomado a iniciativa de criar uma sociedade metodista em Dublin. Williams, que
no passado fora membro da sociedade metodista de Londres (cortado em 1744
e readmitido em 1747), escreveu uma carta aos irmãos Wesley suplicando apoio
ao trabalho reçém-criado. A resposta foi quase que imediata. No seu Journal.\
Wesley registra que no dia 8 de agosto de 1747 encontrou um barco pronto para
zarpar e já na manhã seguinte, um domingo, estava desembarcando.
O quadro religioso em Dublin era muito parecido com de todos os demais
iugares da Grã-Bretanha. Os clérigos do lugar manifestavam o mesmo típico
preconceito contra os pregadores leigos e contra a pregação ao ar livre, elementos
básicos do metodismo. Sabendo que o arcebispo manifestara publicamente a
decisão oe nao admitir irregularidades daQuele üpo em sua uiocese, Jonn \Vesiey,
assim como fez em diversos lugares, marcou uma audiência com ele e, durante
quase três horas, respondeu a todas as objeções apresentadas. A conversa foi
suficiente para esclarecer todas as dúvidas e deixar bem claro que o objetivo dos
mecodisras não era a criacão de uma nova seita,
A estada de John Wesley em Dublin por duas semanas ajudou muito no

f fortalecimento da sociedade metodista organizada por Thcmas Williams. Poucos


t dias depois da sua viagem de volta, seu irmão Charles é quem chega, disposto a
permanecer mais tempo e com uma missão muito mais efetiva. Durante quatro
meses ele percorre Dublin e arredores, examinando as classes, comprando
terras, solicitando subscrições para um novo prédio e enfrentando diversos
grupos desordeiros, que tinham como tarefa atrapalhar a reunião dos metodistas.
A expansão do metodismo na Irlanda seguiu o modelo tradicional. xAiguém
ligado ao movimento metodista mudou-se para o local e começou a organizar
uma sociedade. Assim que o trabalho começou a ganhar forma, foi feita uma
solicitação de apoio. A chegada dos irmãos Wesley ocorreu nesse período e
representou a inserção oficial daquela sociedade local ao movimento metodista.

10 de agosto - Questionando Algumas Regras

Na carta ao bispo de Londres (10/ago./1780), Wesley questiona os métodos


adotados pela Igreja Anglicana no referente à ordenação pastoral:
Permita-me, Senhor, falar com mais liberdade. Talvez seja a última vez que importune
V. Senhoria. Conheço as habilidades de Vossa Reverendíssima e sua extensa
erudição; e creio, o que é mais importante, que Vossa Reverendíssima teme a Deus.
Disseram-me que Vossa Reverendíssima é extremadamente diligente em examinar
os candidatos para as Ordens Sagradas. Sei que Vossa Reverendíssima geralmente
assume esse trabalho. Quais são os temas? Se entendem um pouco de latim ou
grego? Se podem responder algumas perguntas triviais sobre teologia? Que pouca
utilidade tem tudo isso! Vossa Reverendíssima examina se eles servem a Belial ou
a Cristo? Se amam a Deus ou ao mundo? Se alguma vez pensam de forma séria
sobre o céu nu o inferno? Se têm um desejo verdadeiro de salvar suas próprias
almas ou a alma de outras pessoas? Se não é assim, o que tem a ver com as Ordens
Sagradas? O que acontecerá com as almas que serão encomendadas ao seu cuidado?
Meu Senhor, não desprezo sua erudição, conheço muito bem seu valor.
Mas para que serve num ministro cristão que não possua piedade? Como é
uma pessoa que não tem religião? Como uma jóia no focinho de um porco.
Tempos atrás recomendei à Vossa Reverendíssima um homem simples, que
conheci por mais de 20 anos como uma pessoa de piedade profunda e genuína
e de vivência comportamentaí inatacável. Porém, ele não entendia nem latim
nem o grego, e afirmou muitas vezes que cria que seu dever era pregar, esdvesse
ordenado ou não. Assim creio eu também. O que aconteceu depois não sei
dizer. Suponho que ele recebeu ordenação presbiteriana, e não o cuipo por

233
isso. Provavelmente penso que qualquer ordenação é melhor do que nenhuma estritas e espirituais, como regras básicas parâ a vida, 6. compreender inteiramente
Eu não sei se o sr. Hoskins tinha algum favor a pedir à Sociedade. Pediu o fav0r a importância do assunto, sem margem para qualquer mentira diante de Deus.
à Vossa Reverendíssima de que lhe ordenasse para poder ministrar a um pequeno Em segundo, é preciso que haja uma exceíente preparação, possibilitando que
rebanho na América. Vossa Reverendíssima não viu com bons olhos a sua a pessoa compreenda a importância da decisão e do ato. Em terceiro, a pessoa
ordenação. Entretanto, Vossa Reverendíssima viu com bons olhos a ordenação decidida a assumir o pacto precisa confiar na promessa de que Deus vai lhe
de outras pessoas que sabiam algo de grego e de latim, para enviar-lhes à dar graça e poder para conseguir cumprir o voto. Não deve confiar em suas
América, mas que, no referente a salvar almas, sabiam tanto quanto caçar baleias próprias forças, ou no poder de suas próprias resoluções, mas no poder de Deus.
Por isso eu também lamento a situação da pobre América, pelas ovelhas dispersas Em quarto lugar, é imprescindível que haja a decisão de ser fiel ao pacto.
por toda parte. Muitas delas não têm pastor, especialmente as colônias do norte. A A pessoa precisa decidir, baseada no poder de Deus, que não voltará atrás.
situação das demais não é melhor, porque seus próprios pastores não têm compaixão Por fim, após toda essa preparação, a pessoa deve arrumar um tempo conveniente
delas. Não podem ter porque não têm compaixão por eles mesmos. Não pensam e para o ato. De uma forma muito solene, como se o Senhor estivesse de forma visível
nem se preocupam com suas próprias almas. diante de seus olhos, ela deve se postar de joelhos, estender suas mãos aos céus e abrir
'V seu coração ao Senhor.

11 de agosto - O Duplo Pacto com Deus No final, Wesley assinala que não cabe o pacto ser apenas de coração, mas
que é necessário haver palavras escritas apresentadas formalmente diante de
Mil e oitocentas pessoas participaram do culto em Spitalfields, em 11 de ;' Pp Deus, com toda reverência possível, como um testamento. E indica ainda que

agosto de 1755, realizando-se, assim, o primeiro culto formal de Renovação esse documento seja guardado em lugar seguro e conservado como memorial do
do Pacto, idéia nascida no Natal de 1747 a partir do texto Vindictae Pietatis, de . solene acordo selado entre os dois parceiros, Deus e o fiel.
Richard Alleine, um bom amigo e fiel trabalhador na obra do Senhor. Sobre a
extraordinária experiência de ver um grupo como aquele renovando solenemente 12 de agosto - Aparando Arestas
a aliança com Deus, Wesley anotou no seu Journal-. “Com certeza os frutos
permanecerão para sempre”. "? ri A teologia arminiana, a doutrina da perfeição cristã e a lealdade para com a
No seu texto Direções para a renovação de nosso pacto com Deus, John Wesley fala Igreja Anglicana tornavam John Wesley muito diferente dos demais avivalistas
sobre o duplo pacto com Deus. O primeiro, diz ele, ocorre no batismo e dele que então estavam começando a marcar o cenário britânico. Entre todos os
fazem parte todos os batizados. O segundo pode ser dividido em dois aspectos, pontos doutrinários, o mais trabalhoso e polêmico foi, sem dúvida, a disputa
o visível e o formal. O aspecto visível consiste na entrega da vida a Cristo e no. ti com os calvinistas. Entretanto, essa polêmica só não foi mais acentuada porque
comprometimento efetivo com ele. O aspecto formal consiste na nossa solene c seu amigo George Whitefield, calvinista, passou grande parte do seu tempo
união com o Senhor por meio de um voto ou de uma promessa de fidelidade. Esse na América, deixando o caminho livre para que Wesley pudesse consolidar seu
pode ser um ato interno, uma decisão íntima da pessoa, ou externo, expresso em papel de liderança.
palavras ou por alguma cerimônia ou documento escrito. Quanto mais evidente e Desde 1739, Wesley havia proposto a idéia de uma reunião anual para
solene o pacto com Deus, maior a possibilidade de cumpri-lo. debater a polêmica em torno do calvinismo. Foi marcada para agosto de 1743, em
A respeito de como realizar o pacto, Wesley oferece algumas indicações. re a participaçao esperada, pois
Jim primeiro lugar é necessário: 1. designar um tempo determinado Dara estar diante os moravianos e os adeptos da predestinação não estavam lá. Segundo registro
do Senhoiqpara buscar sinceramente sua ajuda especiai; 2. considerar cuidadosamente 4 de Charles Wesley, apenas ele, seu irmão John e John Nelson, de Yorkshire,
todas as condições do pacto; 3. fazer um exame sincero, procurando verificar se já' . participaram dessa reunião na Fundição, “com bons resultados”, no dia 12 de
houve a entrega da vida a Cristo; 4. verificar se há disposição sincera de renunciar a
agosto de 1743.
todos cs pecados, 5. avaliar se há a decisão de considerar as leis de Cristo, tão santas,

234 235
isso. Provavelmente penso que qualquer ordenação é melhor do que nenhuma estritas e espirituais, como regras básicas parâ a vida, 6. compreender inteiramente
Eu não sei se o sr. Hoskins tinha algum favor a pedir à Sociedade. Pediu o fav0r a importância do assunto, sem margem para qualquer mentira diante de Deus.
à Vossa Reverendíssima de que lhe ordenasse para poder ministrar a um pequeno Em segundo, é preciso que haja uma exceíente preparação, possibilitando que
rebanho na América. Vossa Reverendíssima não viu com bons olhos a sua a pessoa compreenda a importância da decisão e do ato. Em terceiro, a pessoa
ordenação. Entretanto, Vossa Reverendíssima viu com bons olhos a ordenação decidida a assumir o pacto precisa confiar na promessa de que Deus vai lhe
de outras pessoas que sabiam algo de grego e de latim, para enviar-lhes à dar graça e poder para conseguir cumprir o voto. Não deve confiar em suas
América, mas que, no referente a salvar almas, sabiam tanto quanto caçar baleias próprias forças, ou no poder de suas próprias resoluções, mas no poder de Deus.
Por isso eu também lamento a situação da pobre América, pelas ovelhas dispersas Em quarto lugar, é imprescindível que haja a decisão de ser fiel ao pacto.
por toda parte. Muitas delas não têm pastor, especialmente as colônias do norte. A A pessoa precisa decidir, baseada no poder de Deus, que não voltará atrás.
situação das demais não é melhor, porque seus próprios pastores não têm compaixão Por fim, após toda essa preparação, a pessoa deve arrumar um tempo conveniente
delas. Não podem ter porque não têm compaixão por eles mesmos. Não pensam e para o ato. De uma forma muito solene, como se o Senhor estivesse de forma visível
nem se preocupam com suas próprias almas. diante de seus olhos, ela deve se postar de joelhos, estender suas mãos aos céus e abrir
'V seu coração ao Senhor.

11 de agosto - O Duplo Pacto com Deus No final, Wesley assinala que não cabe o pacto ser apenas de coração, mas
que é necessário haver palavras escritas apresentadas formalmente diante de
Mil e oitocentas pessoas participaram do culto em Spitalfields, em 11 de ;' Pp Deus, com toda reverência possível, como um testamento. E indica ainda que

agosto de 1755, realizando-se, assim, o primeiro culto formal de Renovação esse documento seja guardado em lugar seguro e conservado como memorial do
do Pacto, idéia nascida no Natal de 1747 a partir do texto Vindictae Pietatis, de . solene acordo selado entre os dois parceiros, Deus e o fiel.
Richard Alleine, um bom amigo e fiel trabalhador na obra do Senhor. Sobre a
extraordinária experiência de ver um grupo como aquele renovando solenemente 12 de agosto - Aparando Arestas
a aliança com Deus, Wesley anotou no seu Journal-. “Com certeza os frutos
permanecerão para sempre”. "? ri A teologia arminiana, a doutrina da perfeição cristã e a lealdade para com a
No seu texto Direções para a renovação de nosso pacto com Deus, John Wesley fala Igreja Anglicana tornavam John Wesley muito diferente dos demais avivalistas
sobre o duplo pacto com Deus. O primeiro, diz ele, ocorre no batismo e dele que então estavam começando a marcar o cenário britânico. Entre todos os
fazem parte todos os batizados. O segundo pode ser dividido em dois aspectos, pontos doutrinários, o mais trabalhoso e polêmico foi, sem dúvida, a disputa
o visível e o formal. O aspecto visível consiste na entrega da vida a Cristo e no. ti com os calvinistas. Entretanto, essa polêmica só não foi mais acentuada porque
comprometimento efetivo com ele. O aspecto formal consiste na nossa solene c seu amigo George Whitefield, calvinista, passou grande parte do seu tempo
união com o Senhor por meio de um voto ou de uma promessa de fidelidade. Esse na América, deixando o caminho livre para que Wesley pudesse consolidar seu
pode ser um ato interno, uma decisão íntima da pessoa, ou externo, expresso em papel de liderança.
palavras ou por alguma cerimônia ou documento escrito. Quanto mais evidente e Desde 1739, Wesley havia proposto a idéia de uma reunião anual para
solene o pacto com Deus, maior a possibilidade de cumpri-lo. debater a polêmica em torno do calvinismo. Foi marcada para agosto de 1743, em
A respeito de como realizar o pacto, Wesley oferece algumas indicações. re a participaçao esperada, pois
Jim primeiro lugar é necessário: 1. designar um tempo determinado Dara estar diante os moravianos e os adeptos da predestinação não estavam lá. Segundo registro
do Senhoiqpara buscar sinceramente sua ajuda especiai; 2. considerar cuidadosamente 4 de Charles Wesley, apenas ele, seu irmão John e John Nelson, de Yorkshire,
todas as condições do pacto; 3. fazer um exame sincero, procurando verificar se já' . participaram dessa reunião na Fundição, “com bons resultados”, no dia 12 de
houve a entrega da vida a Cristo; 4. verificar se há disposição sincera de renunciar a
agosto de 1743.
todos cs pecados, 5. avaliar se há a decisão de considerar as leis de Cristo, tão santas,

234 235
Na semana seguinte, John escreve um memorando, no qual afirma que seu
objetivo era acabar com qualquer disputa desnecessária, e expõe os três pontos
básicos de sua controvérsia com os calvinistas: eleição incondicional.\ graça irresistível
e perseverança final.
Sobre os dois primeiros, afirma:
Creio que Deus, antes da criação do mundo, elegeu incondicionalmente certas
pessoas para fazer certas obras, como Paulo, para pregar o Evangelho; que ele
elegeu incondicionalmente algumas nações a escutar o Evangelho, como Inglaterra
e Escócia agora e muitas outras no passado; que ele elegeu incondicionalmente
algumas pessoas com muitas vantagens peculiares, com relação a coisas temporais
e espirituais. Não posso crer que todos aqueles que não sejam eleitos para a
glória devam perecer eternamente ou que haja uma alma sobre a terra que
não tenha tido e nem venha a ter possibilidade de escapar da maldição eterna.
Quanto à graça irresistível, creio que a graça que traz fé e é, portanto, salvação para
a alma é irresistível naquele momento; que a maioria dos crentes pode recordar
alguma vez quando Deus lhes convenceu irresistivelmente do pecado; que a
maioria dos crentes uma ou outra vez encontra Deus atuando irresistivelmente
sobre suas almas. Não obstante, creio que antes e depois daqueles momentos a
graça de Deus pode ser e tem sido resistida, ou, em linhas gerais, que ela não atua
irresistivelmente.

13 de agosto - Um Chamado Irresistível

Após o culto em Llansanffraid, no dia 13 de agosto de 1746, Wesley e alguns


companheiros deixam o templo e seguem até o local onde estavam hospedados.
Uma mulher, recém-convertida e que durante muito tempo tinha sido oprimida
por Satanás de maneira pouco comum, passou a acompanhá-los chorando,
regozijando-se e louvando a Deus. Dois clérigos anglicanos estavam ao lado de
Wesley e a casa estava cheia de gente. A mulher, muito exaltada e sem se poder
conter, começou a declarar diante de todos tudo o que Deus havia feito por sua
:or OASC5, de «X rofunci;a e alcançavam
XXXC \J X

o coração das pessoas que a escutavam. John Wesley fica impressionado com o
que ocorre. Afirma pouquíssimas vezes ter escutado um pregador com tamanha
capacidade. Todos ao redor dela estavam em lágrimas, pois não havia como
resistir ao Esnírico Santo que avia Dor meio dela.
■1 |: Durante a sua pregação/testemunho, ela relatou alguns fatos que
./Pv antecederam e que deram origem a sua conversão. Contou que, sete anos
v & • antes, na noite após uma briga feia com um dos seus vizinhos, tão logo
ú fr. deitou-se começou uma forte tormenta, com trovões, raios e muita chuva.
. fc No estábulo, o cavalo que sempre permanecia quieto como uma ovelha,
íf; saltava de um lado para o outro e batia as patas de tal forma que ela foi
:i | obrigada a levantar-se e soltá-lo. O vendaval era tão forte que uma grande
r
; | árvore ao lado de sua casa foi arrancada pela raiz. De repente, todo seu
| corpo estremeceu e sentiu que o diabo estava perto. Ficou apavorada, pois
/ era como se a sua carne estivesse sendo queimada em brasas.
§• Desde então, nunca mais teve descanso,-dia e noite. Durante aqueles últimos
I; sete anos ela havia sofrido muito, mas afirmava que fora liberta naquela noite,
pela pregação de Wesley. Estava muito feliz por haver encontrado tranqüilidade
’ j| e paz. Sabia que Deus lhe dera a libertação de corpo e alma.

| 14 de agosto - Encontrando um Novo Lar

. A chegada de John Wesley à Irlanda ocorreu no dia 9 de agosto de 1747.


Cinco dias depois, em Dublin, ele envia uma carta a Ebenezer Blackwell,
dizendo-se bastante impressionado com a nova experiência. Encontrara um lar
naquela terra estranha e que se sentia como se estivesse em sua própria casa,
entusiasmado com a hospitalidade dos irlandeses, pessoas de temperamento
doce e natural. Boa parte da população era de origem inglesa, mas a vida numa
nova terra trouxera-lhe muitos benefícios. Aquelas pessoas tinham deixado para
trás qualquer resquício de aspereza e mau gênio e se tornado corteses, afáveis
e hospitaleiras. Embora as reumões não fossem tão concorridas, como em
determinados lugares da Inglaterra, a grande virtude dos irlandeses é receber a
Palavra de Deus com alegria e disposição.
Mas, para Wesley, tal disponibilidade aparente pode ser enganosa e sempre
há o risco de que as sementes do Evangelho não consigam deitar raízes
profundas ou cair no meio das pedras (Mc 4.5-6), mesmo em Londres ou
em qualquer parte da Inglaterra. Muitas pessoas podem receber a Palavra de
Deus com alegria e entusiasmo, a semente brota rapidamente, mas também
desaparece com a mesma velocidade. Apoiado na parábola do semeador (Mc
4.5-6), ele assinala que o grande perigo no trabalho de evangeiizaçao é o
entusiasmo passageiro, sem raízes profundas. As sementes caem no meio de
pedregais e não conseguem subsistir.
Ao grande amigo e confidente, assinala que a falsa expectativa pode ocorrer
com qualquer um. Nessas ocasiões, é necessário ter consciência de que a obra é
do Senhor. Ele, como bom médico, também restaurará (Dt 32.39).

15 de agosto - A Religião do Amor

John Wesley pregou na praça da pequena Plymouth Doçk, em 15 de agosto de


1773, e à noite, após o culto, mas não conseguiu dormir, Revirou-se na cama até
as 2 horas da madrugada, fato incomum em sua vida. O que estava acontecendo
com ele? Algum fato importante durante o dia o teria incomodado? Repassou os
acontecimentos, lembrou às pessoas com quem conversou e concluiu que não
havia nada de extraordinário.
Um companheiro de missão que o acompanhava na viagem, surpreso,
apontou que a insônia poderia atrapalhar o bom desenvolvimento dos trabalhos
no dia seguinte. Wesley tranqüiiizou-o, afirmando não ser soldado de si mesmo
(ICo 9.7) — na hora certa estaria a postos, pronto para o trabalho. Assim,
acordou no horário costumeiro e, às 7 horas da manhã, já na casa de pregação
do sr. Kinsman, estimulava os participantes a se “esforçarem para entrar
pela porta estreita” (Lc 13.24). Depois do almoço pregou no Tabernáculo de
Plymouth e; à noite na praça, para uma grande multidão, sobre a natureza do
amor, baseado em 1 Coríntios 13.
No texto Um chamado fervoroso, ele aborda esse tema, explicando que a única
religião válida diante de Deus é a do amor. É possível que muitos religiosos,
assíduos frequentadores da Igreja e participantes dos sacramentos não conheçam
a verdadeira religião. Acreditam servir a Deus apenas porque não cometem
pecados grosseiros, dão esmolas esporadicamente e tomam parte da vida da
Igreja. Contudo, estão é servindo ao diabo, na medida em que satisfazem apenas .<
a própria vontade; e não a de Deus.
Uma infinidade de pessoas extremamente zelosas não conhece a verdadeira
religião. E preciso compreender que somente a religião exterior não serve para
nada. E necessária também a religião interior, a fé que atua pelo amor (G1 5.6),
viva e salvífica, de alguém com a “vida escondida com Cristo em Deus” (Cl 3.3),
com paixão para ver, ouvir e sentir a ação divina.

238
16 de agosto - Produzindo um Manual de Medicina

John Wesley deixou Newcastle, em 16 de agosto de 1748, dirigindo-se


a Leeds. Durante a viagem, leu um texto do dr. Hodge sobre a praga que
se alastrava em Londres. Antes mesmo de concluir a leitura, começou a
fazer inúmeros reparos. Ficara extremamente surpreso ao descobrir que o
autor, apesar de sua pesquisa, ainda não havia compreendido que a primeira
região do corpo atacada pela infecção era o estômago. E quanto ao método
terapêutico empregado pelo médico, a obstinação deste em continuar usando
o calor, apesar dos péssimos resultados, estava causando a morte da maioria
dos pacientes.
Como era costume de Wesley, os livros eram lidos durante as viagens.
Desse modo, depois de chegar aos locais de pregação, e de realizar os trabalhos,
retomava a impressão da leitura realizada, escrevia suas cartas e as remeúa. Ao ler
o texto do dr. Hodge, fica ainda mais convencido da importância de continuar o
seu manual sobre remédios caseiros.
Pouco depois do meio dia, pregou perto do mercado em Stockton a uma
congregação grande e rude. Talvez o local estivesse influenciando as pessoas,
pois nos mercados fala-se alto e há muito movimento. Era o que ocorria com
aquele público. Apesar das dificuldades, continuou a pregação, procurando ser
gentil com todos. Não fez nenhuma exortação ou. crítica, porque as pessoas
ali estavam acostumadas com tal comportamento. Não dava para exigir que
mudassem de uma hóra para a outra. Ele sabia que o ideal era pregar dentro do
templo, num púlpito arrumado e confortável. A pregação ao ar livre tinha essas
inconveniências, mas ele estava aprendendo a conviver com elas. Aos poucos,
as pessoas foram se acalmando e, ao concluir o sermão, todos se mostravam
quietos, sérios e circunspectos.
Terminada a pregação, quando se dirigia ao local onde estava hospedado,
um cavalheiro de Yarm convidou-o a pregar à tarde no local. Bastante
cansado por causa da difícil viagem, Wesley respondeu timidamente não ser
possível. Estava muito debilitado e precisava de um descanso. Outras pessoas
insistiram no convite, argumentando que não aceitariam uma negativa.
Assim, embora tivesse percorrido mais de 80 quilômetros naquele dia, e feito
dois sermões, deixou-se conduzir pelos novos amigos. Eles aglutinaram as
pessoas, percorrendo todas as casas do bairro. Por volta das 3 horas da tarde,

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Wesley pregou a uma multidão, atenta à mensagem de salvação. Mais tarde,
pregou uma vez mais. Ele adora a sabedoria divina e sabe que os caminhos
do Senhor são maravilhosos.

17 de agosto - 0 Objetivo é Consolar

No dia 17 de agosto de 1776, em Cubert, John Wesley encontrou Joseph


Kosken, um conhecido seu, já bastante idoso e enfermo. A noite, fez um sermão
sobre 2 Coríntios 5.1-4, bastante apropriado à ocasião, repetindo as palavras
confortadoras do apóstolo Paulo: “Sabemos que, quando a parte terrestre desse
nosso tabernáculo se desfizer, teremos da parte de Deus um edifício, não feito
por mãos, eterno, nos céus”. Wesley sabia que aquele era provavelmente o
último sermão ouvido pelo irmão. Por isso, em vez de evangelizar ou instruir os
ouvintes sobre alguma doutrina bíblica importante, preferiu consolar aquele que
tanto tinha contribuído com o metodismo no local.
Após o culto, em conversa com membros da sociedade metodista, procurou
averiguar se existia algum resquício do famoso escândalo de Cornwall, ocorrido
em maio daquele ano, quando um barco naufragou na costa sul e os mineiros
roubaram-lhe toda a mercadoria, além de destruir completamente uma carruagem
nova encontrada a bordo. Wesley foi informado que o caso continuava em
discussão e com grandes repercussões. Muitas pessoas tinham efetuado o roubo,
mas não havia nenhum metodista entre elas.
Refletindo sobre aquele incidente e sobre muitos outros ocorridos em
toda a parte,,indagou-se sobre como prevenir e remediar atos como aqueles.
Havia possibilidade de impedir a repetição de tais crimes; bastava acabar com a
impunidade. Era necessário que os salteadores se sujeitassem à punição severa,
ao cumprimento estrito das leis. Se fossem punidos rigorosamente, não haveria
mais crimes como aquele; na próxima ocasião, num outro naufrágio, não haveria
mais assalto.
Além da observância rigorosa da lei, Wesley sugere outra medida, mais
controvertida. Os patrões deveriam assumir a decisão de despedir qualquer
empregado relacionado com o roubo, publicando o seu nome e orientando que
ninguém mais lhe desse emprego. Com isso, nenhum trabalhador iria desejar
:orrer risco tao grande e acabariam ias maiidadí crimes.

240
18 de agosto - Jovens Admiráveis

Acompanhado do rev. John Hodges, John Wesley visita Neath em 18


de agosto de 1746. No seu Journal, assinala ter encontrado 12 jovens que lhe
despertaram inveja. Viviam juntos numa casa, com o mínimo necessário e
ofereciam aos pobres tudo o que tinham.
Ser generoso com os necessitados era regra básica, que Wesley procurava
exigir não apenas dos metodistas, conforme se percebe também na carta
remetida ao juiz James Lowther, homem muito rico (28/out./1754). Ele inicia o
texto com diversos elogios ao juiz, destacando sua honestidade, o fato de, como
profissional, ter protegido pessoas inocentes, suas generosas ofertas a hospitais
e seu apoio a obras públicas. Em seguida, diz sentir-se obrigado a alertar o juiz
a respeito da caridade.
Discordava da sua posição de que não se deve ajudar os pobres, sob a
alegação de que se acostumam, acabam reclamando da ajuda e não são dignos
de confiança.
Não cabe sair simplesmente à procura de pobres; há outras maneiras de descobrir os
mais necessitados. Mas a insatisfação de alguns não é motivo para deixar de ajudar
os demais. Se, porventura, os ajudados não fa2 em bom uso do valor ofertado, a
responsabilidade é unicamente deles. Há que se ter o mínimo de garantia de que as
ajudas são utilizadas de forma conveniente, porém, não é possível responsabilizar-se
pelo mau uso feito do dinheiro recebido.

No final da carta, Wesley exorta o juiz a considerar que,


Apesar de toda a sua riqueza, você não é dono de nada, nem de um xelin. Mas
simplesmente um mordomo de bens que não são seus. Sua tarefa consiste em distribuí-
los, não de acordo com seus próprios, critérios. Por conta da idade avançada, você está
prestes a partir para a eternidade e a se apresentar a Deus para: a devida prestação de
contas, por isso, precisa urgentemente mudar seus conceitos sobre o assunto.

No sermão 0 bom mordomo, de maio de 1768, baseado em Lucas 16.2, Wesley


explica que,
No grande dia, o Senhor perguntará a todos sobre o que fizeram de sua comida, roupa
e casa. Como foi utilizado o taiento para ganhar dinheiro e se foi gasto para satisfação
de desejos egoístas. Usá-lo em gastos vãos é o mesmo que atirá-lo ao mar; dinheiro
acumulado é igual a dinheiro enterrado. Em primeiro lugar, ele deve ser usado nas
despesas da família e o restante tem de ser devolvido aos pobres, designados por Deus
para receber essa oferta. O ato de devolver deve também ser realizado pela pessoa com
I
muita humildade, reconhecendo-se como um dos pobres, que teve o privilégio de ser
suprido e a bênção de dar em vez de receber.

19 de agosto - Talento Desperdiçado

Samuel, filho de Charles Wesley, nascido em Bristol, em 24 de fevereiro de


1766, a exemplo do pai, tinha extremo talento para a música. Em uma carta
escrita por John, seu tio (19/ago,/1784), há sérias considerações sobre o fato de
ele ter abandonado a Igreja Anglicana, ingressando na Católica. Wesley revela a
sua tristeza pela decisão do sobrinho, cuja justificativa para o fato era ter sido
seduzido pela música gregoriana:
Faz muitos anos que observei que, da mesma forma que agradou a Deus dar-
lhe um talento notável para a música, deu-lhe também uma compreensão rápida
de outras coisas, uma capacidade para progredir nos estudos e um desejo de ser
cristão. Estive triste por você, temendo não ter começado bem o seu caminho.
Não me interessa qualquer opinião, seja protestante seja romanista. Importam a
mim os assuntos mais graves, em que se equivocam tanto os protestantes como os
católicos. Meu temor é que não tenha nascido de novo. A respeito disso a Bíblia
é muito clara: aquele que não nascer de novo não poderá ver o reino de Deus.
Você poderia ter entendido completamente a doutrina bíblica do novo nascimento,
e experimentado-a há tempos, se tivesse aproveitado as muitas oportunidades para
melhorar oferecidas por Deus enquanto seu pai e eu éramos ministros por Ele
enviados. Agora o que é? Não me interessa saber se é dessa ou daquela igreja. Poderá
ser salvo ou condenado em qualquer uma delas. Meu temor é que não seja nascido
de novo. Çreio que nunca ficou convencido dà necessidade dessa grande mudança»
E agora há mais perigo do que nunca de que jamais o fará, que estará desviado de-'
pensar nessa mudança por uma série de idéias, práticas e modos novos de adorar.
Todos esses elementos juntos (desconsiderando se são antibíblicos, supersticiosos
ou idólatras) não chegam sequer a um grão da religião verdadeira, vital e espiritual.
Oh, Sammy, está fora do seu caminho! Fora do. caminho de Deus! Você não ihe
entregou o coração, não encontrou a felicidade em Deus! E os pobres zelotes,
enquanto voçe tiver essa mentalidade, tratarão de confundi-lo a respeito de qual
ivurvj.; . yiatvo
j egos, erss humanos ao aoi JU1U ÚUUJL lUi» iinririí
V aiil WO OOJLUO

Querido Sammy, sua primeira necessidade é arrepender-se e crer no Evangelho.


Reconhecer-se como um pobre pecador, culpado e sem ajuda, conhecer Jesus
Cristo crucificado. Permita ao Espírito de Deus um testemunho de que você é filho
de Deus (Rm 8.16). “E que o amor de Deus seja derramado em seu coração pelo
Espírito Santo que lhe é dado” (Rm 5.5).

242
20 de agosto - A Entrada da Democracia

A conferência de agosto de 1745, envolvendo um grupo de pregadores


metodistas, além de abordar diversos assuntos relevantes, estabeleceu uma
f-- prática que se tornou muito comum na vida do metodismo. As conferências
anuais tornaram-se uma rica oportunidade para o debate de temas relacionados
ao governo e à doutrina do movimento. Apesar de Wesley ser extremamente
centralizador e dirigi-las com pulso forte, elas ficaram marcadas por um tom
democrático.
Esse evento ocorrido em Bristol, com a participação de três clérigos e
seis pregadores leigos, gastou muito tempo discutindo um assunto voltado
essencialmente aos pregadores leigos: o que pregar,; Desde a conferência anterior,
em que decidiu-se permitir aos auxiliares ou assistentes pregar apenas “em caso
II de necessidade’’, havia muita preocupação em torno da qualidade da teologia
I presente nos sermões. Os pregadores leigos estavam enfatizando exageradamente
a ira de Deus e esquecendo a graça e o amor divinos. Para remediar o problema,
nasceu a idéia de organizar um seminário para obreiros.
Alguns expressaram o receio de que talvez estivessem abandonando o
projeto original e mudando suas doutrinas. Wesley argumentou que a situação
atual era diferente da inicial, em que as pregações dirigiam-se quase inteiramente a
k; descrentes, havendo necessidade destacar a justificação, Mas, naquele momento,
podendo-se já contar com pessoas formadas, era preciso abordar temas mais
adequados, por exemplo, a perfeição cristã, que os primeiros metodistas, no
princípio, não entendiam com clareza.
Outros assuntos entraram na pauta da conferência: a perda da fé, a
presença de visões, o problema da perseguição, a relação da fé com a dúvida
e o temor, e a proximidade da verdade do Evangelho com o calvinismo
e o anünomianismo. Com relação aos membros que abandonavam o
metodismo. sugeriu-se que fossem tratados com muito carinho, sem
amarguras e ressentimentos. A orientação final de Wesley foi no sentido de
Gue as necessidades do povo srám mais uo cue sxmplesinente esu-intuais.
Aos pregadores recomendou a leitura de bons livros e a conservação de “um
pequeno estoque de remédios” nas casas de pregação de Londres, Bristol
e Newcastle, sobretudo aqueles prescritos na Collection of receipts {Coleção de
receitas), publicada recentemente por ele.

243
21 de agosto - Padrinhos e Madrinhas

Reflexões sérias sobre padrinhos e madrinhas foi escrito por John Wesley, em
agosto de 1752. Destacamos algumas partes desse texto curto, de apenas
quatro páginas.
Wesley explica que, na Igreja Antiga, durante o batismo, o batizado era
geralmente acompanhado por um ou dois padrinhos (assim chamados por
Tertuliano). Eles eram testemunhas, diante de Deus e da Igreja, do compromisso
solene contraído pela pessoa batizada. Assumiam a responsabilidade de cuidar
dela de maneira especial, educando, repreendendo, exortando e ajudando-a a
crescer na “fé que uma vez foi dada aos santos” (Jd 3). Considerados seus pais
espirituais, quer se tratasse de um adulto quer de uma criança, eles deveriam
proporcionar-lhe toda a ajuda espiritual na ausência dos pais biológicos. Essa
prática foi mantida pela Igreja Cristã e a razão de sua existência tem sido a
mesma. Há também a determinação de o menino batizado ter dois padrinhos e
uma madrinha e a menina batizada ter um padrinho e duas madrinhas.
Ainda segundo Wesley, é absolutamente certo que a figura de padrinhos
e madrinhas não aparece nas Escrituras. Entretanto, pode ser muito útil tanto
' para o batizado quanto para seus pais, por isso a Igreja Anglicana determina
que apenas as pessoas em plena comunhão podem ser padrinhos. E dever deles
ensinar o afilhado, assim que tenha condições de compreender, o voto solene, a
promessa e a profissão de fé feitos no batismo. Como ainda, a ouvir a pregação
da Palavra de Deus, o Credo Apostólico, o Pai-nosso, os Dez Mandamentos e
tudo o que um cristão deve saber e crer para preservar a saúde de sua alma, para
crescer na virtude e poder viver uma vida cristã em santidade.
Se, dando mostras de sabedoria e amor pelos filhos, os pais escolhem como padrinhos
pessoas verdadeiramente tementes e serventes ao Senhor, que dedicadamente
cumprem essa tarefa de amor, que cimento de santidade e felicidade preparam para a
sua descendência! Com toda a justiça, pode-se ter esperança de que não apenas eles e
sua casa, mas também todos os seus filhos servirão ao Senhor (]s 24.15).

oê 3SOSTO —* KJ HíTl OOS pnvIléglOS

Em carta à sra. Elizabeth Hutton (22/ago.l 744), John Wesley afirma não
concordar com as delimitações de espaço de acordo com a classe sociai. Em

244
â quase todas as congregações da Inglaterra havia tais divisórias. Na capela
metodista de Londres havia uma única exceção, o lugar especialmente reservado
para Lady Huntmgdon, discriminação, segundo eie, que não era da sua vontade.
Ele a mantinha por causa da insistência do irmão Charles, que a considerava
necessária. Para Wesley, tratava-se de uma distinção muito grande, contrariando
o espírito do Evangelho. Assim, sugere que o lugar ficasse reservado até a leitura
do Credo. Se até aquele momento ela não chegasse, qualquer pessoa que estivesse
por perto poderia ocupá-lo. Segundo Wesley,
Na Capela da Fundição, não há lugares de dois ou cinco xelins. Nunca houve ou
haverá esse modelo. Se alguém me solicita um lugar no balcão, eu o dou. A única
disdnção feita ali é entre homens e mulheres, cada um ocupando um lado. Centenas
de pessoas tomam lugar nos assentos sem ter de pagar nada. O primeiro a chegar é o
primeiro a ser servido em qualquer momento durante a pregação. E frequentemente
os mais pobres ocupam os melhores lugares, porque chegam primeiro.

Além da compra de lugares especiais no templo, ele trata de outros assuntos.


1. Os sonhos e visões nunca foram considerados por nós sinais seguros, ainda que
supostamente venham de Deus. Esse erro, de quem quer que seja, não é meu;
2. Tampouco nunca admitimos que ataques de histeria (naturais ou sobrenaturais)
sejam um sinal seguro. Cremos, sem dúvida, que o Espírito de Deus, convencendo
dramaticamente a alma de seu pecado, pode causar uma perda de forças do
corpo, com possíveis conseqüências exteriores. Porém, nenhum ser vivente tem
capacidade suficiente para determiná-lo;
3. O poder algumas vezes permitido por Deus ao diabo, sobre o espírito ou o
corpo, é de consideração completamente diferente. Sem dúvida, mesmo nesses
momentos, ele pode obrigar ao pai da mentira falar algumas verdades, se isso
servir para a própria glória de Deus. Porém, deixemos que esses fatos falem por
si. Essas pessoas ainda vivem e nenhuma delas é membro de nossa sociedade;
4. Os ataques de histeria não diminuíram. Agora são frequentes entre recém-
convettidos na Europa e na América. Não patrocino nem impeço esse tipo
de coisa.

23 de agosto - Oração no Lugar da Reunião

CÕllU CJLJLJl Brisíol, na noite de 23 de agosto de 1743, foi uma grande bênção.
Para 'wesley, “A Palavra de Deus foi verdadeiramente rápida e poderosa”. Sua
intenção era reunir-se com homens e mulheres depois do evento, mas não foi
possível, porque não conseguia falar-lhes. “Um espírito de oração foi derramado

245
sobre nós de tal forma que apenas podíamos falar com Deus”, concluiu. Nó
lugar da reunião íicou a oração.
O trabalho naquela cidade começara em Io. de abril de 1739. Em seu Journal;'
ele anota que o dia 20 daquele mês tinha sido marcante. Citando Mc 2.17, disse:
“Não vim chamar justos, mas pecadores”. Entusiasmado, chegou a pensar que
podería repetir a frase do velho Arquimedes: “Dêem-me um ponto de apoio e
eu moverei o mundo”. A partir de então, com o maravilhoso avivamento em
Bristol, ele começou a explicar com mais freqüência o despertamento religioso
realizado por Deus.
Ele afirma ter visto com os próprios olhos muitas pessoas transformarem-se
de um momento para o outro. Antes dominadas pelo temor, horror e desespero,
receberam espírito de amor, alegria e paz. Os desejos pecaminosos foram
eliminados e elas passaram a querer fazer apenas a vontade de Deus.
A autenticidade da conversão não se comprova pelo ato de derramar lágrimas, cair ao
chão ou por outro tipo de manifestação. Pessoas mudaram radicalmente de vida, de
um momento para o outro. Antes malvadas e impiedosas, tornaram-se santas e justas.
Leões foram transformados em cordeiros, o beberrão agora é exemplo de sobriedade,
a prostituta mudou de vida e converteu-se em mulher virtuosa.

Para os céticos e os mais tradicionalistas, que questionavam os acontecimentos


em Bristol, argumentando que os fatos espetaculares podiam ser explicados
racionalmente, Wesley apontava ali os exemplos da ação de Deus, prontos para
serem vistos e compreendidos. Alguns diziam que os desmaios ocorriam por
causa do calor, dos ambientes fechados ou por alguma técnica. Ele retrucava: --
Preguei ao ar livre, durante o dia, a um público superior a 2 mil pessoas, sobre v
“Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus” (SI 46.10). Antes que dissesse qualquer;;-^
coisa, Deus começou a estender seu braço poderoso. Em pouco tempo, sete pessoas -4
estavam regozijando-se e cantando. Com todas as forças, davam graças a Deus por 1
sua salvação. . "Ji

24 de agosto - Novas Fronteiras

No finai do mês de agosto de 1769 John Wesley estava, mais uma vez, no M
norte da Inglaterra, em Gales. As fronteiras de sua paróquia, no início do seu'fu
ministério, limitavam-se ao eixo Londres-Bristol. Atendendo a insistentes apelos
de Howell Harris, ele faz uma primeira visita de cinco dias a Gales, em outubro

246
pde 1739, pregando três vezes diariamente, sempre com o objetivo específico de
fl descrever o caminho da salvação. A propósito da presença metodista em Gales,
|;.é importante destacar que o reavivamento na região começou com seriedade
i em meados da década de 1730, com a conversão de Howell Harris e Daniel
| Rowlands.
Certa ocasião, questionado pelo bispo de Bristol, Joseph Butler, sobre estar
I invadindo paróquias alheias, John Wesley explicou ter recebido uma “comissão
| indeterminada” de pregar a Palavra de Deus por toda a Terra, facultando-lhe
| atuar em todas as paróquias. Deus o tinha chamado para pregar o Evangelho e,
f como jellow de um college, sua ordenação não era para uma paróquia em particular,
| mas para qualquer parte da Igreja da Inglaterra. Seu ministério não estava restrito
I às fronteiras paroquiais — todo o mundo era a sua paróquia.
I Na carta endereçada a James Hervey (20/mar,/1739), assinala: “Considero
i todo o mundo minha paróquia. Em qualquer lugar onde esteja, julgo digno, justo
| e meu dever declarar as boas novas de salvação a todos os que queiram ouvir,
f Essa é a obra para a qual sei que Deus me chamou”.
Em sua nova visita a Gales (ago./1769), ele pregou durante o dia na
! igreja de Caerphilly e, à noite, em Llanbradach, No dia seguinte, em Trevecca,

1 encontrou muitas pessoas reunidas para a celebração do aniversário da condessa


b de Huntingdon e de sua escola, inaugurada um ano antes. A noite, pregou na
| formosa capela da condessa, repleta de ouvintes.
A festa de aniversário fora muito bonita, com sermões em inglês e em gales,
| ministração da Ceia do Senhor, almoço, ministração do ágape, passeios e muita
| música. Wesley conta que, após as atividades da noite, ele e um grupo foram
I visitar um bosque com uma vista encantadora e que tudo tinha sido organizado
| por Howell Harris, transformando sua casa em um pequeno paraíso, rodeada de
f jardins, fontes e bosques.
i
125 de agosto - Q que está Acontecendo?

As 11 horas da manhã de 25 de agosto de 1774, John Wesley iniciou o sermão


| na antiga igreja de Hay. Antes mesmo de começar, percebeu uma coisa muito
f estranha. Nas vezes anteriores em que aii esteve, o público se mostrara muito
f mais atencioso e receptivo; naquele momento havia muita impaciência. Pregou
. do mesmo modo, e com o mesmo entusiasmo de sempre, mas o resultado foi
decepcionante, sem sintonia nenhuma com o público. A pregação séria e repleta
de citações bíblicas não tinha alcançado o mesmo efeito.
“O que está ocorrendo com essa comunidade? O que teria ocorrido para tamanha
mudança em tão pouco tempo?”, peguntou-se preocupado. Depois do culto,
procurando saber a origem do alvoroço, foi informado de que nas redondezas não se
falava de outra coisa a não ser os acontecimentos em Llancrwys, da nova maneira de
evangelizar, saltando, fazendo malabarismos e dançando. A estratégia do novo grupo
era organizar um espetáculo na praça pública e, após atrair a multidão, dirigi-la ao
templo. Dentro dele, todo o grupo se movimentava freneticamente, com saltos, gritos
e cantorias. Eles uivavam e aplaudiam com violência, sacodem a cabeça, distorcem a
fisionomia e estiram os braços, praticando todo tipo de posturas. A agressividade era
tamanha que as pessoas mais próximas se sentiam até aterrorizadas.

Wesley, então, compreendeu a razão da mudança do comportamento do


povo. Antes havia muita tranqüiiidade e quase todos se mostravam receptivos à
mensagem metodista. Aquela equipe de “evangelistas” tinha passado como um
furacão por toda a região e uma das conseqüências mais visíveis era a divisão da
população. Uma parte rejeitava até de forma agressiva enquanto outra defendia
a experiência. Segundo Wesley, uma senhora confessou que depois do incidente
já não era a mesma pessoa e não sabia quando voltaria a se recuperar. Outra
mulher mostrava-se radiante, convencida de que havia recebido o verdadeiro
poder de Deus.

26 de agosto - Os Melhores Poemas

Numa conversa com John Wesley, a condessa de Huntingdon assinalou


ser muito importante para a população da época organizar-se uma coleção de
poemas da língua inglesa, A idéia motivou Wesley e, na carta remetida à condessa,
em agosto de 1744, ele destaca ter feito rigorosa seleção e concluído o projeto.
Há muitos anos, um argumento muito comum tem sido que a poesia, capaz
de apelar aos melhores propósitos, acabou prostituída a ponto de confundir as
distinções entre a virtude e o vício, o bem e o mal. Tanto que, entre os numerosos
poemas existentes em nosso idioma, só uma proporção extremamente pequena
consegue passar por essa rigorosa censura. Portanto, há grande dificuldade para os
que não estão dispostos, por um lado, a privar-se de um entretenimento elegante,
e, por outro, a obtê-lo com o risco de colocar em perigo a inocência e a virtude.
Por isso muita gente íem acreditado como necessidade principal dessa época
uma ccieção casta de poemas em inglês. A sua menção disso, um ou dois

24S
anos atrás, e a expressão do desejo de ver tal coleção levou-me a optar por
não atrasar ainda mais o meu propósito de fazer alguma coisa nesse sentido,
jxevisei, portanto, luuus wo ^uciuíis cm mgles qus toahcçia e seiecioner os que
me pareceram mais valiosos. Somente me vi obrigado a omitir as obras de
Spenser, pois seriam incompreensíveis para a maioria dos leitores modernos.
Ficarei muito feliz se a necessidade por você destacada for, de alguma forma, satisfeita
com o meu trabalho. Nessa coleção, pelo menos, pode-se afirmar que não há nada
que contradiga a virtude, nem que possa ofender os ouvidos mais castos, nem causar
sofrimento aos ternos corações. E, talvez, o que, na realidade, é essencial à teologia
mais sublime, como também à morai mais pura e refinada, poderá encontrar-se nela.
Também não é pura coincidência que os sentimentos mais justos e importantes
estejam aqui representados com a máxima superioridade, com todos os adornos,
tanto de criatividade como de linguagem, e sob a luz mais clara, completa e intensa.
Dedico-lhe esta coleção de poemas, não somente por ter sido a causa pelo qual
apareceu no mundo, mas também porque pode servir de estímulo a que muitos
outros a leiam. Seu nome, supostamente, não pode desculpar um poema de mal
gosto, mas recomendar poemas de bom gosto aos que não conseguem distinguir
um do outro. Estou seguro de que não lhe serão inaceitáveis, uma vez que com essa
intenção foram escolhidos e descrevem como uma pessoa de qualidade deve ser e,
confio, você deseja ser.

27 de agosto - De onde Surgiram os Boatos

Foram inúmeras as oposições enfrentadas por John Wesley. No início do


movimento, quando muitos se assustavam com o entusiasmo e a ousadia dos
metodistas, surgiu em Bristol o boato de que ele era, na verdade, um papista
ou jesuíta. Afirmavam que ele havia nascido e crescido em Roma, e enviado à
Inglaterra para atrapalhar o protestantismo. Muitas pessoas ouviram e deram
crédito a tais informações.
No dia 27 de agosto de 1739. Wesley se viu diante de alguém que acreditava
firmemente nesses boatos: “Por duas horas carreguei minha cruz, discutindo
com um homem fervoroso e lutando para convencê-lo de que eu não era um
inimigo da Igreja da Inglaterra”. Após muitos argumentos, o homem reconheceu
que as doutrinas de Wesley não eram as de um papista; mesmo assim a batalha
verbal não havia terminado. Ele afirmou que não podia perdoar Wesley por
pregar o Evangelho ao ar livre, fora dos templos. Ainda que convertidos àquele
tipo de pregação, os resultados não perdurariam.
Preocupado com os boatos e a possibilidade de que eles atrapalhassem
mais ainda o seu trabalho cvangelístico, Wesley realizou algumas invesdgações
sobre quem eram os seus fomentadores. Descobriu serem fanáticos dissidentes
e ministros da própria Igreja Anglicana. Refletindo sobre as razões de tais
animosidades, concluiu que por trás de tudo aquilo havia muita maldade, pois,
segundo ele, “poucos homens no mundo tiveram oportunidade de declarar seus
princípios tão clara e abertamente como eu tenho feito, por meio de conversas,
pregações e publicação de livros”.
Os conflitos também sempre estiveram presentes no ministério de
Wesley. Em 1759, o bispo George Lavington, de Exeter, um dos prelados
mais importantes e poderosos da época, escreveu um tratado comparando o
entusiasmo dos metodistas e dos papistas, com violentos ataques a Wesley e
ao metodismo, insinuando terem afinidades com o Papa e serem considerados
subversivos. Tanto John Wesley como George Whitefield rebateram as críticas.
A acusação de papista tinha tom político, em vista da ameaça do príncipe
Charles, o Belo, da família Stuart, pretendente ao trono e aliado dos católicos
franceses, de invadir a Inglaterra. Assim, em março de 1744, Wesley escreveu
uma carta ao rei George II, intitulada “Uma humilde mensagem das sociedades
da Inglaterra e Gales, que são chamados metodistas”. Nessa carta, declara que os
metodistas são uma parte fiel, “por humildes que sejam”, da Igreja da Inglaterra,
“detestam e abominam as doutrinas fundamentais da Igreja de Roma e estão
firmemente unidos à pessoa real de Sua Majestade e ilustre casa, prontos para
obedecer Sua Majestade em todas as coisas que concebem como de acordo com
a Palavra de Deus”.

28 de agosto -- Ninguém é de Ferro

Apesar de todo o entusiasmo e a dedicação ao trabalho. de evangehzação,


houve dias em que John Wesley se sentiu indisposto e desmotivado. O dia 28
de agosto de 1759 foi um deles. Antes de iniciar o culto, em Everton, percebeu-
se deprimido, triste, praticamente sem nenhuma expectativa positiva. Apesar
disso, não abandonou o compromisso, mesmo sabendo que não havería muita
inspiração em suas paiavras. A própria escolha do texto de 1 João 5.19 -
“Sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro jaz no maligno” — reveiava
um pouco a sua fragilidade.
§p ' Aquela não era a primeira vez que se sentia de tal modo. Tinha passado
§* por outras experiências semelhantes e sabia como comportar-se diante delas.
H Sua experiência lhe afirmava que não podia desanimar nunca. O pastor
P tinha o compromisso de pregar e ninguém deveria vê-lo cansado e triste.
$ Havia assumido uma responsabilidade, algo imperativo, que não podia ser
| negligenciada; era uma questão ética extremamente relevante. Precisava pregar
É e ia fazê-lo. Sabia também que a indisposição era passageira e logo daria espaço
| para a alegria e a tranqüilidade.
Várias vezes ocorrera esse tipo de sentimento. Apesar da angústia, sabia que
| podia confiar no Pai celeste. Conhecia muito bem a Palavra de Deus, que mostra
| muitos fiéis passando por situações parecidas ou bem mais difíceis que a sua,
| Lembrou as palavras do profeta Habacuque: “Ainda que a figueira não floresça,
|nem haja fruto na vide, o produto da oliveira minta, os campos não produzam
| mantimento, as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco e nos currais não haja gado,
| eu me alegrarei no Senhor, exultarei no Deus da minha salvação” (Hc 3.17-18).
\ Wesley conta que, nem bem começara a pregação, uma pessoa desmaiou,
i Que coisa estranha! Ele tinha apenas dito algumas palavras simples, sem nenhum
? apelo, nem nada de extraordinário. Em seguida, mais pessoas desmaiaram e
outras começaram a clamar em voz alta. Ao reconhecer a ação de Deus, apesar
| da sua fragilidade, a tristeza que antes o dominava deu lugar a uma grande alegria.
: Foi tudo muito rápido e ele agora se dispunha a ficar ali o tempo necessário.
Terminado o sermão, continuou orando com os irmãos e só quando percebem
se completamente afônico é que deixou o local.
Enquanto voltava para a residência onde estava hospedado, foi informado de
que um casal de jovens tinha sido levado à casa de um metodista em violenta agonia
■ de corpo e alma. Chegando lá, reconheceu o sofrimento do casal. Segundo Wesley, as
| convulsões eram incríveis e o arfar do peito, indescritível. Recuperado da voz, orou
por eles. Instantes depois, os dois jovens estavam em pé, louvando a Deus.

29 de agosto - Buscando o Espírito Santo

Nascido em 9 de setembro de 1747, Thomas Coke foi ordenado presbítero da


; Igreja Anglicana em agosto de 1772. Na época da cerimônia de ordenação, repetindo
as palavras do ritual - “Santo Espírito, venha nossas almas inspirar e, com 9 fogo
: divina!, nossa mente iluminar” admitiu ainda não conhecer esse ‘Togo divinai”.
r *1
/L J jL
Coke teve importante conversa com Thomas Maxfield, o pregador leigo
metodista que estava visitando a sua cidade. A partir de então, passou a buscar
com mais insistência a santidade de vida, alterando radicalmente o seu trabalho
pastoral. Sua igreja tornou-se bastante concorrida, faltando espaço para abrigar
todos os ouvintes. Mais tarde, por intermédio de um amigo, tomou contato
com o Journal e alguns sermões de Wesley. A pessoa que mais influenciara a sua
vida religiosa tinha sido, segundo ele, um humilde irmão metodista, que o havia
ajudado nas suas experiências espirituais, Depois do contato com os escritos
de Wesley, ele fez diversas alterações na liturgia do culto, introduzindo o canto
de hinos pela congregação, pregando sem ajuda de anotações e orando sem
o livro de orações. Acabou expulso de sua paróquia, provavelmente porque,
depois de conhecer John Wesley, em 13 de agosto de 1776, transformou-a em
circuito metodista.
Sobre esse fato, Wesley escreveu: “Fui caminhando até Taunton, com Coke,
que, despedido de sua paróquia, deu adeus à fama e resolveu lançar conosco a sua
sorte”. Thomas Coke foi um ótimo auxiliar de Wesley, contribuindo inclusive para
constituir o metodismo como pessoa jurídica regulamentada oficialmente. Foi
ele quem estabeleceu as normas da Magna Carta do Metodismo Britânico, referindo
que todas as propriedades deveriam ser registradas em nome da Conferência
Legal, constituída por cem homens nomeados por Wesley. Em fevereiro de-
1784, foi convidado a assumir a função de superintendente do metodismo na
América do Norte, visto que a revolução havia separado os Estados Unidos da
sua metrópole. Disse-lhe Wesley:
Um apelo nos foi dirigido por parte dos irmãos da América, pela pessoa de Asbury,
insistindo que qualquer forma de governo fosse adotada para satisfazer as novas
exigências. Tenho refletido seriamente sobre o plano que lhe desejo revelar. Tenho
me esforçado, a cada passo, para conservar-me tão fiel à Bíblia quanto possível, e
espero agora agir ainda de acordo com a Palavra de Deus. Notando o procedimento
da igreja primitiva (...), tenho apreciado o modo peio qual ela não permitia a qualquer
bispo intervir na ordenação dos seus bispos. E, quando falecia um deles, ordenava
o sucessor tirando-o do número de seus presbíteros, pela imposição das mãos. (...)
Como presbítero, desejo que o irmão aceite a ordenação e vá para a América nessa
qualidade, de modo a superintender ali as sociedades.

Nomeado superintendente em Io. dc setembro de 1784, Coke embarca


no dia 18 para os Estados Unidos e, no dia o ue novembro, j-a estava em
Nova York.

252
30 de agosto - Gratidão, Chispa Divina

É muito comum encontrar nas cartas escritas por John Wesley, tanto a
pregadores como a leigos, recomendações claras a respeito da gratidão, por
ele chamada de chispa divina. Na carta a Ann Foard, de agosto de 1766, por
exemplo, aconselha a ela ser agradecida por tudo aquilo que é e possui.
No texto Orações para cada dia da semana, no item “sábado à noite”, inicia o
tema da gratidão com algumas perguntas:
Separou algum tempo para dar graças a Deus pelas bênçãos da semana passada?
Considerou deliberada e seriamente, com o fim de ser mais sensível a elas, as
circunstâncias que as acompanharam? Encarou cada uma delas como uma
obrigação de amar mais e, em conseqüência, buscar a santidade mais zelosamente?
Oh, glorioso Deus, grande em poder e maravilhoso em suas obras em favor do gênero
humano.. Aceite minha sincera gratidão e meu louvor por minha criação, preservação
e todas as demais bênçãos que, na riqueza de sua misericórdia, derrama de tempos
em tempos sobre mim. “Desde o princípio, fundou a Terra e os céus são obras das
suas mãos” (SI 102,25). Criou o sol e a lua, o dia e a noite, e faz a mudança da manhã
em noite modvo de seu louvor. Formou o ser humano do pó da terra e pôs nele o
sopro da vida, fazendo-o à sua imagem, capaz de conhecê-lo e amá-lo eternamente.
Sua natureza era perfeita, sua vontade, lei e a bendita presença, sua porção.
Nem depois de ele deixar o seu primeiro estado, retirou sua misericórdia, mas
em cada sucessiva geração o salvou, o livrou, o ajudou e o protegeu. Tem nos
instruído por meio de suas leis, iluminado segundo seus estatutos, redimido pelo
sangue de seu Filho e santificado pela graça do Espírito Santo. Por essas e por
outras muitas misericórdias, como poderei amá-lo suficientemente ou magnificar
dignamente o seu grande e glorioso nome? Todos os poderes de minha alma são
muito pouco para conceder-me a honra de comparecer à sua frente, Porém, declara
que aceitará o sacrifício de ação de graças em resposta a todas as suas bondades.
Portanto, o bendirei eternamente, adorarei o seu poder e magnificarei a sua
bondade. Minha língua falará da sua justiça e de seu louvor todo o dia (SI 35,28).
Eu o darei graças eternamente e louvarei a-meu Deus enquanto viver. Oh, que eu
tivesse o coração dos serafins, pudesse me inflamar de amor como eles. Enquanto
estiver sobre a Terra, louvarei ao Rei dos reis o melhor que puder. Ainda que débil,
criatura mortal, unirei meu canto ao daqueles que excedem em poder, com as hostes
dos eternos anjos e arcanjos, tronos, domínios e pocestades, enquanto eles louvam e
magnificam seu glorioso nome e cantam incessantemente o seu louvor. Santo, santo,
santo Deus aos exércitos. Toda a Terra está cheia da sua glória. Glória o seja, Senhor,
altíssimo. Amém, Aleluia. Aceite, Pai misericordioso, minhas mais humildes graças
por ter cuidado de mim neste dia.

253
31 de agosto - Superação de Conflitos

“Até que ponto podemos nos unir uns com os outros?” Esse foi o tema de uma
conferência especial, realizada em agosto de 1748, com os irmãos Wesley, Whitefield
e Howell Harris. Embora todos estivessem muito bem-intencionados, muito pouco
foi conseguido, Alcançaram algum entendimento sobre justificação, predestinação e
perfeição, comprometendo-se a não pregar litigiosamente a favor ou contra a eleição
absoluta, a graça irresistível, a perseverança final e a perfeição. Harris e Whitefield
receavam o estilo ditatorial de John Wesley. O primeiro achava que, numa união mais
efetiva, Wesley se consideraria o cabeça de todos e o segundo apontava que Wesley
monopolizaria o nome metodista. Mesmo a conferência tendo sido um fracasso,
segundo Wesley, um “acordo inútil”, seus participantes continuaram mantendo um
relacionamento amigável, seguindo a regra de que “Se possível, quanto depender de
vocês, tenham paz com todos os homens” (Rm 12.18),
O testemunho de Charles Wesley, de outubro de 1748, com relação a ele mesmo,
0 irmão e Whitefield serem “uma corda de três fios que jamais se romperá” não
resistiu às pressões. A amizade continuou até o fim de suas vidas, mas nunca mais
eles trabalharam juntos. Em Uma breve história do metodismo, John Wesley assinala
que Whitefield “se separou çompletamente” por não concordar com os decretos. .
Surgiu assim a primeira brecha. Os crentes na redenção universal não tinham desejo
nenhum de separar-se, mas os que sustentavam a teoria da redenção particular não
queriam escutar proposta alguma e insistiam em que não houvesse relação com
pessoas que perseveravam em tão perigosos erros. Formaram-se, segundo Wesley, v
duas categorias de metodistas: os da redenção particular e os da redenção geral.
Na carta endereçada a Whitefield, em maio de 1753, Wesley refere-se a algumas
reclamações de um grupo de pregadores metodistas, afirmando estar Whitefield JA
semeando confusão com comentários maldosos e “falando com frivolidade de nossa 5'
disciplina, das sociedades, das classes, das bandas e das regras”. Outra queixa
dizia respeito aos pregadores de Whitefield, que falavam mal e inventavam boatos |§
escandalosos sobre os irmãos Wesley.
Mais adiante na carta, assinala que dois ou três irmãos haviam solicitado que ele A
exortasse Whitefield com respeito à sua conversação. Disseram ter percebido que os
assuntos abordados por Whitefield não eram tão úteis, não tinham nada a ver com JÍS
as coisas de Deus, misturavam as conversas com risadas desnecessárias e afirmavam 'f
que eles, por causa da seriedade, eram escravos ou fracos na fé.
Setembro

Tal caso nunca antes conhecí, nunca li nada


igual: uma pessoa convencida do pecado,
convertida a Deus e renovada
em amor em 12 horas.

John Wesley, sobre a maravilhosa experiência


religiosa obtida por Grace Faddy
12 de setembro - Reconciliação entre Linhas Paralelas

O relacionamento entre John Wesley e sua esposa quase sempre foi bastante .
tumultuado, como se pode perceber pela carta escrita por ele em Io. de setembro de 1
Querida minha. Sinceramente desejo uma reconciliação contigo, se pudéssemos fazê-
la sob certas condições. Do contrário, não daria certo e o último erro poderia ser pior
que o primeiro. Mas quais são essas condições que permitem que tenhamos êxito? Para
conhecê-las, devemos falar çlaramente, o que farei da forma mais resumida possível,
deixando de lado todas as circunstâncias desnecessárias. Alguns anos atrás, sem meu
consentimento e sem que eu soubesse, me deixaste e mudaste para Newcastle. Eu
te recebi de volta sem nenhuma condição, sem nenhum reconhecimento de que
tiveste agido mal. Há dois anos me deixaste outra vez sem meu consentimento e .
sem aviso. Depois de uns dias, nos encontramos e, para minha surpresa, parecias
disposta a regressar. Estive disposto a receber-te sob as seguintes condições: 1.
que devolvesses meus papéis e 2. prometesses que nunca mais te apoderarias deles.
Mas, pensando bem, vejo que agi precipitadamente, visto que tu já havias dado
cópias de meus papéis, e não era possível recuperá-los. Além disso, tinhas falado
todo tipo de mal contra mim, especialmente para meus inimigos e para os inimigos
da causa que eu defendo. Desse modo, muitas pessoas más têm triunfado e foram
confirmadas em seus maus caminhos; e muitas pessoas boas, porém débeis, têm
tropeçado, e muitas têm sido levadas à perdição. Uma espada foi colocada nas mãos
dos inimigos de Deus, e os filhos de Deus foram se armando uns contra os outros.
Estando as coisas, desse modo, se eu te recebesse agora sem nenhum reconhecimento
ou reparação desses erros, qualquer pessoa sensata entendería como confirmação e
veracidade tudo o que você disse. Pergunto-lhe o seguinte: que reparação tu podes
e estás disposta a fazer? Eu não sei se estás disposta a fazer alguma. Se estás, que
reparações podes fazer? Na verdade, muito poucas, porque a água já foi derramada e
não pode ser recolhida outra vez. Tudo o que podes fazer agora, se estiveres disposta,
é corrigir o que tu disseste. Por exemplo, tu disseste uma e outra vez que eu vM em
adultério nesses últimos vinte anos? Tu acreditas nisso ou não? Se tu acreditas, como
podes pensar em viver com tal monstro? Se não crês, deixes por escrito. Não é o
mínimo que podes fazer?

?Kr5! Escuro OÔOí FnyHílGf

Em 2 de setembro de 1748, Wesley passa algum tempo com T; Prosser,


místico muito conhecido na época. Ficou extremamente frustrado e deduziu J
que havia muita propaganda enganosa a respeito de Prossí :r. Disse que pessoas
I comuns consideravam aquele homem torpe e místico muito mais profundo do
que na realidade era. Considera ser natural a existência de personagens como
Prosser: “Quando se olha para dentro de um poço escuro, a primeira impressão
v que se tem é que ele é profundo. A obscuridade faz parecê-lo assim. Mas, basta
iluminá-lo para logo se descobrir sua verdadeira fundura”.
Muitos outros místicos sedutores apareceram naquela época e continuam
aparecendo. Suas doutrinas e práticas extravagantes chegam a contagiar
multidões. Para Wesley, o maior risco que tais líderes oferecem é apresentar um
novo evangelho, uma religião ajustada aos modismos da sociedade.
No seu décimo primeiro sermão, baseado no Sermão do Monte, John
Wesley se utiliza de Mateus 7.13-14 e fala sobre os perigos enfrentados pelos
cristãos e as possibilidades de serem enganados. Afirma serem poucos os que
se contentam em permanecer no caminho estreito, e numerosos os que querem
andar por caminhos mais fáceis e atraentes. Há o risco do mal exemplo nos
arrastar com a força de uma correnteza. Ainda mais se tal exemplo conseguir
causar em nós forte impressão, se estiver ajustado com a nossa natureza e com
as nossas inclinações. Os inúmeros exemplos, continuamente diante de nossos
olhos, todos eles conspirando contra nós, querem nos levar com a corrente!
Continuando, Wesley assinala que a dificuldade fica bem maior quando .
se descobre que as pessoas que procuram nos seduzir não são ignorantes e
torpes, mas amáveis, bem-educadas, distintas, sábias, conhecedores do mundo,
entendidas nos profundos e variados ramos do saber, racionais e eloquentes.
Diante de pessoas assim, como é possível resistir? São tão hábeis que podem
fazer-nos crer que o pior é o melhor. Conhecem muito bem a arte da persuasão
e são capazes de provar com facilidade que o caminho largo, precisamente por
ser largo, é o caminho correto. Dizem ser necessário seguir a maioria e que
aqueles que não seguem por esse caminho estão equivocados. Argumentam
que o caminho estreito, seguido por poucos, é o caminho errado, pois é bem
mais fácil confiar no bom senso da. multidão do que acreditar nos poucos que
transitam por um caminho difícil.
Entre muitas outras questões abordadas, Wesley assinala que, além de serem
poucos os que assumem trilhar pelo caminho estreito, eles não são sábios, nem
estudiosos, muito menos eloqüentes. São pessoas simples que não conseguem
argumentar de forma contundente e nem estão preparadas para polêmicas ou
para explicar dc modo convincente as suas crenças. E preciso tomar muito
cuidado e lembrar sempre que o caminho de Cristo é estreito e são poucos os
que andam por ele.

3 de setembro - Modismos que Contaminam

O ambiente religioso da Inglaterra no século XVIII era efervescente,


com espaço para o surgimento de inúmeras manifestações espirituais. As
sociedades metodistas, que, em sua maioria, não contavam com a supervisão
direta e integral de um pastor, mostravam-se vulneráveis e etam contaminadas
por modismos.
No dia 3 de setembro de 1742, John Wesley fez um sermão áos membros
da sociedade metodista em Londres, denunciando como equivocada a ênfase
aos acontecimentos extraordinários produzidos pelo Espírito Santo. Ele
defendia que o Espírito de Deus podia e realizava atos extraordinários, mas
a sua ação mais importante era a transformação do caráter do cristão. Fazia-
se necessário também que as ações atribuídas ao Espírito Santo fossem
confirmadas pela Palavra de Deus, portanto, manifestações fanáticas e ..
malucas não deveriam ser admitidas.
O resultado do sermão não foi satisfatório. Ele mesmo reconheceu que
muitas pessoas se sentiram ofendidas, “especialmente aquelas supostamente
mais fortes na fé”. Decidiu, então, examinar o assunto com mais cuidado,
chamando as pessoas envolvidas para uma avaliação. Reuniu M.C., M.F., E.H.,
A.G., entre outros, e os colocou ao lado de Sarah C., Jane J. e Ann P., disposto
a ouvir atenciosamente o felato de suas experiências. Pediu mais explicações V;
sobre aspectos que não conseguira compreender e, no final, aprovou todas as
experiências em conformidade com a Palavra de Deus e expressivas de que o Vi
Espírito Santo de Deus produzia paz, alegria e amor.
Outros relatos de pessoas sobre, por exemplo, a sensação do sangue
de Cristo correndo pelos braços, garganta, peito e coração, não podiam ser
confirmados pelas Escrituras, como afirmou Wesley. Poderíam ser de Deus,
desde que Ele estivesse agindo de maneira pouco convencionai, mas não
deveriam ser admitidas pelos metodistas, pois não eram essenciais à justificação q
ou à santificação. Ainda outras experiências mencionadas foram imediatamente ";f|J
descartadas, frutos de sonhos e imaginações criativas. •
4 de setembro - Seu Dia de Pentecostes ainda nãc Chegou

Diante do desenvolvimento vertiginoso do trabalho de evangelização e


g- dos muitos sinais de Deus em regiões da Grã-Bretanha, Wesley lembrou que o
irmão Charles frequentemente lhe dizia que seu “dia de Pentecostes ainda não
havia chegado completamente. Mas não duvido que chegue. Ouvirá, então, .
com tanta freqüência de pessoas santificadas como ocorre agora com pessoas
justificadas5’. Em setembro de 1762, John acreditava que a expectativa do irmão
já havia se tornado realidade, pois recebia, cada vez mais freqüentemente,
informações sobre o despertamento religioso. Muitas pessoas estavam sendo
santificadas tanto em Londres como em outras regiões da Inglaterra, Dublim
e demais áreas da Irlanda.
Breve história do povo chamado metodista traz um comentário seu a respeito da
grande obra realizada por Deus:
Assim começou essa gloriosa obra de santificação, estacionada por 20 anos. De tempos
em tempos, ela foi se estendendo: primeiro, em várias partes de Yorkshire, depois, em
Londres e, em seguida, na maior parte da Inglaterra. Alcançou Dublin, Limerick e todo
o sul e o oeste da Irlanda. Onde a tarefa de santificação aumentava, a totalidade da obra
de Deus se estendia em todas as suas ramificações. Muitos se convenceram de seus
pecados, muitos foram justificados, muitos reincidentes foram curados. Assim sucedeu
particularmente em Londres: em fevereiro de 1761, havia cerca de 320 membros, ao passo
que, dois anos depois, esse número ultrapassava 800.

5 de setembro - Viajar Menos e Escrever Mais

No início de setembro de 1756, John Wesley faz um balanço de sua atividade


I de escritor. Tinha começado a escrever e publicar livros havia mais ou menos
18 anos. Até Io.de março de 1756, as contas de suas atividades como escritor e
editor apontavam uma dívida de 1.236 libras.
Sempre reconhecera a importância, para o movimento metodista, da
p publicação de livros. Na conferência de 1745, indagou se podería “viajar menos,
| afim de escrever mais”. Apesar de a resposta não ter sido a desejada, continuou
encontrando tempo para publicar uma média de 12 títulos por ano. No sermão
O perigo das riquezas, redigido por volta de 1780, revela: “Há 42 anos, desejoso de.
i: prover os pobres com livros mais baratos, curtos e simples do que os conhecidos

259
até então, escreví muitos pequenos tratados, em geral ao preço de um penny cadái
e, logo depois, vários textos maiores. Alguns dveram uma venda bem maior da
que eu imaginara”.
A entrada de Wesley no mundo das publicações ocorreu no final de 1733,
bem antes de sua experiência religiosa. Na ocasião ele publicou Colleciion of Forms
of Prayers for Every D ay in the Week (Coleção de Formas de Oração para Cada Dia da
Semana), material recolhido entre os membros do Clube Santo. John Clayton,
filho de um livreiro de Manchester, ajudou-o a estreitar o relacionamento com
editores e livreiros em Londres e Oxford, além de incentivá-lo a reunir as orações
para a publicação daquela coleção.
O programa de formação continuada para pregadores metodistas,
organizado por Wesley, foi a grande mola propulsora à divulgação de uma série
de publicações. Sua Biblioteca Cristã foi completada em 1755 e, dois anos depois,
a relação das publicações alcançava o total de 153 títulos, Ele editou centenas de
panfletos e, em janeiro de 1782, iniciou a Tract Society (Sociedade para Panfletos) para
imprimir e distribuir literatura grátis. Os que apoiavam o projeto compravam
panfletos e publicações wesleyanas a um penny cada e que eram distribuídos aos
pobres. Com o objetivo de enfrentar a doutrina calvinista, passou a produzir
mensalmente, em 1777, a Arminian Magasfne (Revista Arminiand).
A crescente demanda do programa de publicações wesleyanas começou a
exigir maior especialização. Dois pregadores passaram a assessorar Wesley na
área: Thomas Olivers era o revisor de textos , da conexão metodista até 1776,
quando foi nomeado para acompanhar Wesley em Londres, passando a editor
em tempo integral; John Atlay, indicado para escriturário, logo se tornou o
responsável pelo empreendimento editorial e pela venda dos livros.

6 de setembro* Saber Enfrentar Provações

Em virtude da enorme influência sobre muitas pessoas, John Wesley era


constantemente convidado a visitar enfermos, que solicitavam a sua presença,
roi também o responsável pelo oficio tunebre de uma dessas pessoas, iüizaDetíi
Marsh, metodista com um admirável testemunho. Em seu Journal (ó/set/1744),
constam algumas informações sobre ela:
Encomendei à terra os restos de Elizabeth Marsh, jovem mulher que havia recebido
o conhecimento cio 2 mor oerhoAcior de Deus qu3.íxo & nos íirites, não o 2 .h>2 n.cioíiíinoo
nunca. A duras penas, gozou de saúde e tranqüilidade desde aquele momento. Sem
dúvida,, nunca se queixou de nada. Eu a vi muitas vezes depois de prostrada na cama
c sempre a encontrei calma, tranqüiia e alegre, louvando a Deus nas dificuldades,
“tendo desejos de pardr e estar com Cristo” (Fp 1.23). Nunca soube de sua mente
ter passado por confusão. Desde o início da enfermidade, ela sempre se manteve
bastante lúcida e serena. Mas poucos dias antes da morte, confessou-me: “Estou
preocupada, porque hoje disse uma palavra sem pensar. Alguém me falou que eu iria
me recuperar em dez dias e respondi que não o desejava.

O Journal assinala ainda a ocasião em que Wesley, pela última vez, prestou
socorro espiritual a Elizabeth Marsh. Ela pediu que o chamassem e, quando ele
chegou, a jovem já não conseguia mais falar. Wesley orou, leu sobre a Palavra
de Deus e encomendou sua alma a Deus. Enquanto fazia orações, percebeu que
o seu olhar sereno tudo acompanhava com gratidão. Com os olhos, repetia a
mesma afirmação do apóstolo Paulo, “Morrer é lucro”. Outras palavras estavam
também presentes no seu balbuciar, as do Salmo 23,4: “Ainda que eu ande pelo
vale da sombra da morte, não temerei mal algum”.
No cemitério, fez uma última cerimônia, regressando em seguida à Fundição,
onde pregou o Apocalipse 7.13-14. Naquele momento, a ação de Deus foi
maravilhosa, manifestando sua palavra como chama de fogo.

7 de setembro - Fatos Estranhos

Na Inglaterra do século XVIII havia muita superstição. Era bastante comum


pessoas afirmarem ter visto coisas espetaculares. Algumas dessas experiências
eram repassadas para toda a sociedade, pelos jornais, revistas e folhetos avulsos.
Os jornais de Penzance publicaram uma carta estranha de duas pessoas dizendo
ter visto, nos céus, um impressionante desfile de imagens.
A repercussão foi grande, extrapolando os limites da região. O próprio John
wesley tomou conhecimento e certamente ficou impressionado. Tanto que, no
início de setembro de 1755, quase um ano depois, passando pelo local, decidiu
averiguar a veracidade dos fatos. Teve uma conversa minuciosa com James
Tregear e Thomas Sackerly, as duas pessoas que haviam relacionado o fato.
De acordo com o seu Journal, os dois homens eram simples e não pertenciam ao
movimento metodista. Falou inicialmente com Tregear, por mais de duas horas, e
todas as suas perguntas foram respondidas. Repetiu-as a Sackerly e reconheceu que
os dois homens falavam as mesmas coisas, não havendo diferença nas respostas.
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Em julho, há um ano, segundo os dois, enquanto caminhavam da igreja de St. Just até
Sancreed, Thomas, ao olhar para o alto, exclamou: “James, veja! Que é aquilo no céu?”.
A primeira aparição, conforme relatou James, eram três largas colunas de homens a
cavalo, arremetendo com rapidez, como se esdvessem numa disputa, do sudoeste
ao noroeste, com uma grande faixa de céu entre cada uma das colunas. As vezes, as
colunas pareciam correr juntas; em outros momentos, estavam bem separadas entre
si. Depois veio uma grande frota. Isso continuou por mais de 15 minutos. Logo tudo
desapareceu e eles continuaram seu caminho.

Wesley sempre demonstrou muita curiosidade sobre esse tipo de coisa.


Gostava de ouvir os relatos, mas era cético e reconhecia que a maior parte era
pura fantasia e ilusão. De alguns ele não duvidava, utilizando o seu método usual
para confirmar-lhes a veracidade. Dizia não saber se o significado da experiência
era real e verdadeiro; não fazia nenhum julgamento. Achava que apenas o tempo
poderia confirmá-los ou não.

8 de setembro - Pregar com Convicção

John Wesley pregava o Evangelho de Jesus Cristo com bastante convicção,


pois acreditava firmemente na possibilidade de todas as pessoas serem alcançadas
pela graça divina. Ficava muito feliz com a conversão delas e chegou até mesmo
a acompanhar-lhes o desenvolvimento espiritual.
Uma história extraordinária, que chamou muito a sua atenção, foi a de Grace
Paddy, jovem mulher, sensata e bem-criada. Como a questão era muito séria,
relacionada com uma das suas principais ênfases doutrinárias, a da santificação,
quis ouvir da própria boca dela a confirmação dos fatos. Em Redruth, no dia 8-
de setembro de 1765, Grace Paddy contou-lhe o seguinte:
Eu era inofensiva, bastante despreocupada com as coisas da religião, até que, perto
do Natal, meu irmão me falou: “Deus me deu tudo o que quero; sou tão feliz quanto
posso viver”. Isso sucedeu às 10 horas da manhã. Aquelas palavras entraram como
flechas no meu coração e pensei: “Por que não posso ter o mesmo? Porque não-
estou convencida do meu pecado”. Clamei com veemência: “Senhor, coloque no
meu coração tanta convicção quanto meu corpo possa resistir”. Imediatamente me
vi em meio a uma luz e me pus a gritar. A empregada correu a me socorrer e eu lhe
disse: “Chame meu irmão!”. Ele veio e se regozijou comigo: “Cristo está pronto ;
para recebê-la. Creia somente” e foi orar. Em pouco tempo, todo o meu problema
havia desaparecido e cri que todos os meus pecados haviam sido purificados.
Porém, à noite, nquei compieramente convencida da necessidade de uma mudança
mais profunda. Senria os restos do pecado em meu coração e queria limpeza
completa. Ansiava ser salva de todo pecado-e limpa de toda injustiça. No momento
em que Thomas Rankin estava pregando, o desejo aumentou muito. Depois me reuní
com a sociedade. Na última oração, senti-me sobrecarregada com o poder de Deus.
Percebi uma mudança inexplicável no mais profundo do meu coração. Desde aquele
momento, não mais senti cólera, orgulho, mau-caratismo de nenhuma classe, nada
contrário ao amor puro de Deus, que sinto continuamente. Não desejo outra coisa
senão a Cristo e o tenho sempre reinando no meu coração. Não desejo nada. Ele é
tudo o que necessito no presente e para a eternidade.

Após ouvir o depoimento, Wesley anotou: “Tal caso nunca antes conheci,
nunca li nada igual: uma pessoa convencida do pecado, convertida a Deus e
renovada em amor em 12 horas. Mas de maneira nenhuma isso é incrível, uma
vez que, para o Senhor, um dia é como mil anos”.

9 de setembro - Apoio da Comunidade


I
John Wesley fez um pedido especial a um grupo de metodistas, em 9 de
setembro de 1755: concentrar o dia seguinte (uma quarta-feira) na oração e no
jejum em favor do sr. K. Todos os presentes conheciam bem aquela pessoa .e
sabiam que enfrentava uma grande batalha, precisando muito do apoio espiritual
da comunidade.
Na breve conversa com o grupo, Wesley explicou que o processo de
conversão ocorre de forma diferente em cada pessoa. Alguns passam pela
primeira fase com mais facilidade, ao passo que outros são confrontados com
grandes desafios. Via de regra, numa verdadeira conversão, essa fase é sempre
marcante. Afinal, como disse Jesus, não é nada fácil colocar a mão no arado e
deixar de olhar para trás.
Jovem advogado, o sr. K. estava participando das pregações metodistas e
mostrava o desejo sincero de se integrar totalmente à vida daquela comunidade.
Na época, Wesley foi visitá-lo em casa, encontrando-o visivelmente alterado
e enfurecido. Estava cantando músicas estranhas, em voz muito alta. Depois
começou a gritar, jurar e blasfemar, de forma desordenada e maluca, como que
possuído por uma legião de demônios (Mc 5.9). Passado um tempo, convidou
Wesley a sentar-se ao seu lado, falou compulsivamente e desatou a chorar.
Wesley fez uma oração tranqüila, pedindo a Deus que confortasse o coração
do jovem e lhe desse paz. Logo o rapaz se pôs a orar: “Senhor, até quando

253
esconderá o seu rosto? Todos os meus ossos estão quebrados. Sua ira está sobre -p
mim. Estou no mais profundo abismo e escuridão. Mas o Senhor me ouvirá e
repreenderá o espirito imundo. O Senhor me livrará das suas mãos”.
Na conversa com o grupo metodista, Wesley explicou que o conflito do
sr. K. precisava terminar, necessitando muito do seu apoio. Todos deveriam
reservar o dia seguinte para a oração e o jejum. O momento importante exigia
que o grupo comprovasse estar disposto a apoiar o irmão espiritualmente.
Assim é a vida na comunidade metodista. Os mais fortes levam as cargas
dos mais fracos.

10 de setembro - Nossos Irmãos da América

Na carta escrita aos “nossos irmãos da América” (10/set./1784), John Wesley


assinala que a independência dos Estados Unidos exige a tomada de decisões,
relativas à questão religiosa. Por conta da nova situação, tinha abandonado
alguns escrúpulos, ordenado pastores e enviado alguns deles aos Estados Unidos.
Estava convencido de que tanto o bispo como o presbítero são partes de uma só
ordem, com os mesmos direitos no tocante à ordenação pastoral. Até então, só
não ordenara pastores porque desejava manter a paz e decidira violar o menos
possível as regras da Igreja Anglicana.
Justifica a sua decisão, afirmando que
Na Inglaterra, os bispos possuem jurisdição nacional, havendo ura bom número de
pastores para atender a população. Na América, o caso é bem diferente. Ao redor de.
uma, área de 160 quilômetros não se encontra um pastor que possa dar atendimento
espiritual aos metodistas, batizar ou oferecer a Santa Ceia.

Desse modo, Wesley deixava de lado os escrúpulos, sentindo-se em completa


liberdade para ordenar e enviar obreiros à colheita na América. Preocupado com
a'repercussão e o desdobramento de sua decisão, salienta que, s.e alguém lhe
mostrasse uma forma- mais racional e bíblica para alimentar e guiar as pobres
ovelhas da América, ele as adotaria com muito gosto.
Tomei tais medidas pois não encontrei método melhor. Foi proposto solicitar aos
bispos anglicanos que ordenassem os pastores metodistas a serem enviados à América.
Opus-me a isso, porque, na prática, não funciona. Anteriormente solicitei, em vão, ao
bispo de Londres que ordenasse um pregador metodista de sua inteira confiança. Por
outro lado, mesmo que eles aceitassem fazer a ordenação, haveria muita demora e não

2d4
se podería aguardar indefinidamente. Aiém disso, o maior inconveniente seria que, no
caso de fazer a ordenação, o bispo se julgaria no direito de controlar a atuação dos
pastores, acarretando uma serie de problemas. Como os nossos irmãos americanos
estão completamente separados tanto do Estado como da hierarquia inglesa, é melhor
não se meterem em dificuldades com um ou outro. Dispõem de completa liberdade
para seguir as Escrituras e imitar a igreja primitiva, devendo manter-se firmes nessa,
situação na qual Deus, de maneira tão extraordinária, os deixou livres.

Ao escrever tal carta, John Wesley já tinha ordenado Tomas Coke


superintendente das Sociedades Metodistas da América. Para a nova Igreja,
preparou uma versão abreviada da liturgia e dos Trinta e Nove Artigos de Religião,
da Igreja Anglicana, indicando a forma de governo a ser adotada.

11 de setembro - Eu e a Minha Casa Serviremos ao Senhor

John Wesley conta que, em 11 de setembro de 1746, viajou para Comborne


ao lado de uma mulher metodista chamada E.T. Durante a viagem, ela lhe
falou que alguns familiares seus mantinham-se firmes na fé cristã, mas WT.,
o irmão, infelizmente era uma pessoa pervertida e sem nenhum interesse pelo
Evangelho. Certa ocasião, fora até Sithney, onde ele morava, com o firme
propósito de fazê-lo entender a necessidade da conversão ao Senhor Jesus
Cristo, porém, o seu esforço mostrara-se inútil. Nada do dissera conseguiu
demovê-lo da firme decisão de viver no pecado. Decidiu, então, reunir a
família e informá-la que nunca mais iria encontrá-lo, nem se interessar pela
vida espiritual deie.
Entretanto, um mês e meio depois, encontrou o irmão em Redruth e, esquecida
da decisão, implorou novamente para ele comparecer ao culto dos metodistas da
cidade: “Irmão, em nome de Deus, siga esses homens”. Comovido com o pedido,
ele quis saber porque ela tinha mudado tanto. A irmã relatou sua experiência:
também difamava os metodistas, até que um dia um homem lhe disse para não
tratá-los assim, pois eram servos de Deus. Ela retrucou que permanecería em
sua igreja e os desafiaria. Ele respondeu-lhe coisas que calaram fundo no seu
coração. Cada palavra atravessava-lhe profundamente. Ela reconheceu naquele
homem uma figura brilhante, cheia de glória e entendeu tratar-se do próprio
Jesus Cristo. Muito feliz, prostrou-se aos seus pés e despertou. Tinha tido um
sonho, um aviso de Deus.
Dias mais tarde, foi a Sithney participar de um culto metodista. Ao final, o
sr. Meyrick, pregador, perguntou aos presentes: “Há alguém que tem fechado as
portas aos mensageiros de Deus? Imaginem, então, se nosso Senhor Jesus fechar
as portas da misericórdia para vocês?”. Ao ouvir o apelo, não resistiu: “Essa
pessoa sou eu. Eu fechei as portas”. Em seguida, caiu ao chão, despertando
minutos depois e acolhida pelos metodistas. A partir desse dia não teve descanso
até ser transformada totalmente por Deus. Passou a ser testemunha da fé que
um dia perseguiu.
Segundo Wesley, pessoas como essa, cheias de amor e comprometidas com
o Evangelho de Jesus Cristo, é que ajudaram a construir o movimento metodista.

12 de setembro - O Santo Metodista

John William Fletcher, uma das mais importantes figuras do metodismo


inglês do século XVIII, nasceu em Nyon (Suíça), cidade próxima a Genebra,
em 12 de setembro de 1729. Em carta dirigida a John Wesley, ele conta alguns
detalhes de sua vida.
Desde que senti o amor de Deus no coração, aos sete anos de idade, resolvi entregar-
me a Ele e ao serviço da Igreja, mas a corrupção no mundo e também no meu coração
concorreu para enfraquecer tal convicção. Contudo, segui os meus estudos com
o intuito de ser ordenado pastor. Mais tarde, sentindo-me indigno e com o espírito
não suficientemente forte para tanta responsabilidade, além de desgostoso por ter de
aceitar a doutrina da predestinação, cedi à vontade de amigos e entrei para o exército.
Como meus pais não concordaram com esse plano, fui a Lisboa e juntei-me a algumas
pessoas que se apresentaram ao rei para servir num navio de guerra prestes a viajar -
para o Brasil. Estava decidido, mesmo com a recusa de meus pais em oferecer-me uma
quantia financeira que eu pretendia empregar no novo país. O projeto não deu certo.
Deixei Portugal, vivi um breve período na Holanda e depois dirigi-me à Inglaterra, onde
fui consagrado pastor anglicano, em 6 de março de 1757.

John Wesley relata o seu primeiro contato com Fletcher em Breve história do
povo chamado metodista:
Estando em Snowfields, no dia 13 de março de 1757, senti-me muito cansado e pedi
ao Senhor que me enviasse um companheiro, aiguém que me ajudasse nos cultos.
E Deus respondeu à minha oração. Ao fim de uma pregação, percebendo que eu
estava sozinho diante de tanta gente, o sr. Fletcher correu a ajudar-me. Percebendo
a resposta tão imediata ao meu pedido, lembrei como são maravilhosos os caminhos
do Senhor! Quando minha força física estava faltando, e nenhum clérigo na Inglaterra
podia ou queria me ajudar, o Senhor me ajudou desde as montanhas da Suíça! E que
ajudante e companheiro em todos os sentidos enviou-me! Onde eu poderia encontrar
outro igual a ele!

Segundo Wesley, o “santo metodista”, como Fletcher era chamado, gastava


grande parte do salário nos fundos de auxílio aos pobres. Era generoso a ponto
de esvaziar a carteira aos necessitados, ficando por vezes sem alimento para nutrir
os famintos e vestindo-se com modéstia para vestir os esfarrapados. Seguiu os
passos de Cristo.

13 de setembro - Como Resolver a Situação

Em setembro de 1789, John Wesley escreve uma carta “ao povo metodista”,
destacando a itinerância pastoral como uma característica histórica do
metodismo, não devendo ser modificada. Nas cidades de Dewsbury e Yorkshire,
as casas de pregação eram consignadas em nome de alguns procuradores, que,
com o tempo, passaram a çontrolar-lhes a vida, chegando até a rechaçar certos
pregadores. Uma réplica da antiga Junta de Ecônomos, só que com maiores
poderes. Para Wesley, havia duas alternativas: entrar na justiça para readquirir o
controle da propriedade ou construir nova capela próxima à antiga. Escolheu a
segunda e já dispunha de 50 libras esterlinas para o projeto.
Em O caso de BirstallHouse, de 1783, ele também abordou essa problemática:
na construção da primeira casa metodista de Bristol, em 1739, desinformado
sobre o assunto, fez o registro de acordo com o estilo presbiteriano, Whitefield
o alertara do risco de os procuradores tomarem conta da propriedade e se
arvorarem na escolha dos pregadores. Isso tinha ocorrido em Birstall, com John
Nelson, que também de acordo o estilo presbiteriano, outorgou a um grupo de
12 ou 13 pessoas o poder quase absoluto sobre as questões administrativas da
congregação.
Para Wesley, essa concessão de amplos poderes aos procuradores, ou Junta
de Econômos, comprometia a itinerância pastoral.
O grupo poderá decidir pela manutenção ou não do pregador. Se gostar dele, fará de
tudo para que fique, se não, poderá expulsá-lo com facilidade. E no caso de mantê-
lo, que autonomia terá esse pregador para anunciar a verdade total e completa? Não
há o risco de o pregador se esforçar apenas para conquistar os que mandam? Que
coragem terá o pregador para expulsar um procurador que estiver atrapalhando a vida-
da comunidade?

Diante da preocupação de que, abordar tal problema, pudesse originar graves


conflitos no seio do metodismo, Wesley argumentou que as lutas, animosidades
e confusões já estavam sendo produzidas pelos procuradores, que insistiam no
direito de nomear e despedir pregadores. Eram eles que dificultavam e destruíam
obstinadamente a obra de Deus. Culpou-os com o sangue de todas as almas
vitimadas pelo conflito.

14 de setembro - Fletcher, uma Pessoa muito Especial

Na carta escrita a Mary Cooke (set./1786), John Wesley informa seu interesse
em continuar escrevendo sobre a vida de John William Fletcher, falecido no ano
anterior, em 14 de agosto de 1785. Seriam necessários mais dois ou três meses
para concluir o trabalho.
Eu çonvivi com ele por 30 anos. Conversei com ele cedo de manhã, ao meio-dia e à
noite, sem nenhuma reserva, durante uma viagem de muitos quilômetros. Durante
esse período não o ouvi empregar nenhuma palavra imprópria, nem cometer nenhum
ato inoportuno. Para concluir: no lapso de 30 anos tenho conhecido muitos homens
distintos, santos na vida e no coração. Mas não um homem que lhe seja igual:
uniforme e profundamente- devotado a Deus. Não tenho encontrado um homem,
quer na Europa quer na América, tão exemplar em sua vida como ele foi. E não .tenho
a esperança de encontrar outro igual a ele antes de chegar ao céu.

Outra carta (24/nov./1756), dessa vez de Fletcher, no início da relação entre


os dois, confirma o papel decisivo de Wesley na sua ordenação pastoral. •
Como o considero meu guia espiritual, e não podendo duvidar de sua
paciência em me ouvir e responder uma questão sugerida por alguém de sua
sociedade, desejo espontaneamente citá-la. Desde que cheguei à Inglaterra,
recebi três convites para aceitar ordenação. Tenho sempre orado a Deus
oara que, se esses convites não fossem de sua aprovação, que acabassem
embaraçados, e sempre alguma coisa tem estorvado os desígnios dos meus
amigos nesse sentido. Nisso tudo admito a bondade de Deus, pois ele tem-
me protegido, evitando precipitações. Dou graças a Deus pela sua bondade,
espedaímente desde que cheguei a conhecer o Evangelho em sua pureza.
Antes tinha medo; agora, porém, tremo em mexer com essas coisas sagradas.
Resolví, pois, revelar a minha salvação em particular, em vez de me entregar
a tal serviço, que requer mais dons e graça do que supunha eu precisar ter.

268
Contudo, de quando em quando, senda desejo ardente de me entregar de
corpo e alma a Deus, se fosse chamado outra vez, crendo que o Senhor poderia
me ajudar e manifestar o seu poder em minha fraqueza. (...) Senhor 'w^esley,
peço o seu auxílio sobre essa questão: devo aceitar a ordenação ou não?
Estou em dúvida: de um ladõ meu coração me diz que experimente, e assim
faia quando eu sinto o amor de Deus; de outro lado, quando me examino
para ver se sou digno disso, reconheço a minha falta de dons, espeçialmente
o dom da alma - o amor —, que deve caracterizar o trabalho ministerial.
Achando-me entre essas duas alternativas, tenho de confessar que não posso
decidir. Guiar-me-ei, pois, pelo seu conselho; julgando que Deus o guiará.
Reconheço que o seu tempo é precioso, portanto, ficarei satisfeito com uma
resposta nesses termos: persista ou se abstenha. Apenas isso me será suficiente.

! 15 de setembro - A Graça Deve ser Repartida

No dia 15 de setembro de 1770, John Wesley escreve à srta. J. C. March


que a graça concedida por Deus precisa ser repartida com os outros. Essa é
a melhor maneira de recebê-la continuamente. Do mesmo modo, o melhor
caminho para se conseguir aumentar a fé é exercitando-a, Com isso, ele quer
dizer que ninguém deve se comportar como se esses dons fossem mercadorias
passíveis de ser acumuladas. Com que objetivo determinada pessoa busca mais
fé, se a fé que ela tem não é utilizada para o serviço do reino de Deus? O
caminho ensinado por Jesus é o do amor, da entrega voluntária e generosa. O
comportamento despojado e solidário de Jesus não combina com a mentalidade
que privilegia a acumulação.
Em outra carta (17/jun./1774), para a mesma pessoa, ele fala sobre a amizade:
A amizade é uma das formas de amor. No seu sentido mais adequado e verdadeiro,
ela é um amor desinteressado e recíproco. As pessoas malvadas, aparentemente,
são incapazes de amizade. Quem não ama a Deus não pode amar um amigo.
Também é certo que todo aqueie que ama a Deus é capaz de amizade. A amizade
requer uma atitude mental especial, sem a qual não se pode existir. As qualidades
da amizade cristã são as do amor, descritas tão formosamente pelo apóstolo Paulo
no capítulo 13 da primeira epístoia aos Coríntios. Ela produz, de acordo com a
ocasião, toda palavra e boa obra. Muitas pessoas têm estabelecido regras peias
quais deve reger-se o amor; mas seu conteúdo não pode expressar-se em poucas
palavras. Uma dessas regras é renunciar a tudo por causa do amigo, menos a uma
boa consciência diante de Deus.

269
16 de setembro - Grupo Fora do Rumo

Um grupo de cristãos de várias tendências religiosas, fugindo das


perseguições da Igreja Católica, encontrou refúgio na propriedade do abastado
conde de Zinzerdorf, nobre alemão. Embora unidos pelo mesmo motivo, as
diferenças teológicas entre esses cristãos eram tão profundas que parecia
impossível reunirem-se. Passaram a noite de 5 de agosto de 1727 em oração e,
como resultado, nasceu o “pacto fraternal”, enfatizando os pontos em comum
e deixando de lado as diferenças entre eles. Com o tempo, aumentou bastante o
número de discípulos do conde de Zinzendorf e também a intolerância.
Em setembro de 1741, John Wesley foi convidado a participar de uma
reunião com o conde. O seu Journal traz, em latim, a conversa sobre a doutrina
da perfeição cristã, não aceita por Zinzendorf.
Q Espírito Santo realiza a perfeição na vida dos verdadeiros cristãos. Trata-se de
uma conquista progressiva, uma caminhada cristã rumo à perfeição. Já Zinzendorf
sustenta que o crente não o é em si mesmo e que a santidade evangélica é a fé; o
crente não é mais santo ao amar mais, ou menos santo ao amar menos; no momento
da justificação, eie também é santificado completamente. Para Zinzendorf, tanto uma
criança recém-nascida como um ancião estão no mesmo nível; o crente não recebe
nem mais e nem menos.

Esse era o ponto central de tal discórdia teológica. O núcleo da teologia de


Wesley está na idéia da possibilidade do crescimento espiritual diário, ao passo
que, de acordo com Zinzendorf, não é possível, crescer no amor de Deus. O .
conde cita o exemplo do ouro: se. um pedaço de ferro for transformado em v
ouro, será ouro no dia em que foi transformado e continuará sendo sempre -çrf
ouro. Ainda que haja renovação, nunca será um ouro melhor do que foi no
primeiro dia. ' A*
Adiante Wesley fala da importância de o cristão negar a si mesmo e morrer
para o mundo. O outro replica: rechaça qualquer idéia de abnegação. Segundo
o pastor, como crente, Zinzendorf faz tudo o que quer e ri da humilhação, pois
considera que nenhuma purificação pode preceder ao amor perfeito. Apesar de ;
discordar inteiramente das idéias dos moravianos, o debate teológico serviu para .
que Wesley aprimorasse a sua doutrina da perfeição cristã. No final da vidà, em AyS
1790, concluiu que “A doutrina da santificação é o grande tesouro que Deus . A
depositou nas mãos do povo chamado metodista”. 9

l i u
5® 17 de setembro - A Primeira Escola Dominical

Convencionou-se atribuir a Robert Raikes o privilégio de organizar


a primeira escola dominical. Organizada em 1780, ela, na verdade, não foi a
primeira. Em 1769, surgira a escola dominical metodista formada por Hannah
Bali e funcionara durante muitos anos.
Hannah Bali nasceu em março de 1733 e mais tarde tornou-se líder da
sociedade metodista de High Wycombe, sua cidade natal. As reuniões com as
crianças faziam parte do seu objetivo de dedicar o restante da vida ao lado de
Deus, no trabalho de amor aos estudantes, instruindo-os na fé, nos princípios
da religião e na importância da salvação. É o que se percebe na sua carta a John
Wesley, de 1770: “Retinimos as crianças duas vezes por semana, nos domingos e
nas segundas-feiras. Elas formam um grupo meio selvagem, mas aparentemente
receptivo à instrução. Trabalhamos com elas com a ânsia de promover, os
interesses de Cristo”.
Até o seu falecimento, em 16 de agosto de 1792, Bali manteve com John
Wesley numerosa correspondência. No dia 28 de janeiro de 1768, ele escreveu-lhe:
Descobri uma afeição muito especial por você desde o momento em que falou com
tanta liberdade sobre esse tópico delicado, especiaimente quando entendi que tinha
tomado a decisão de se sacrificar inteiramente por Cristo e até mesmo arrancar o
olho direito, se fosse necessário (Mt 18.9). Tenha ainda mais liberdade para comigo.
Fale-me, de vez em quando, sobre as coisas que lhe servem como provação e a
atormentam. Certamente terá provações de diversos tipos. Espere-as uma após outra
e conquiste tudo por meió Daquele que a ama. Mantenha firme o seu escudo! Não
abandone a confiança que tem grande prêmio como recompensa! Cristo é seu, sim;
tudo o que tem e o que é tudo seu! E permita que tudo o que você é, alma e corpo,
seja Dele! Não retroceda! Aferre-se a Ele! Confie Nele em todas as coisas. E ame por
causa Dele, minha estimada irmã.
Em outra carta (jui./1772), Wesley explica que eia não devia construir a sua
fé sobre um único texto bíblico.
Você pode aprender uma boa lição com o que lhe sucedeu ultimamente: não construir
sua fé sobre um só texto bíblico, muito menos sobre uma interpretação particular. A
obra de Deus em sua alma é a mesma se você interpretar esse texto de uma maneira
ou de outra. Fortanto, tenha cuidado em imaginar que sua experiência básica não é
genuína, simplesmente porque podia estar equivocada quanto ao significado de um
texto específico. Ore. E observe que Deus pode, e freqüentemente o faz, impactar

271
uma pessoa (para justificar ou para santificar), usando um significado diferente do
sentido direto dessa passagem. Permidndo, então, que a passagem mencionada
diretamente se refira ao céu (Ap 3.12). isso, sem dúvida, não provaria que você tenha
sido enganada quanto à obra de Deus em sua alma, quando a passagem foi aplicada a
você com outro significado.

18 de setembro - Falando Sobre Morte e Salvação

O enterro de Francis Evans, um dos vizinhos da escola metodista de


Kingswood, foi em 18 de setembro de 1770. Como tinha sido uma pessoa
querida, respeitada e admirada por muita gente, a cerimônia fúnebre foi
bastante concorrida,
Após o sepultamento, os alunos voltaram ao colégio e o sr. Hindmarsh
aproveitou a oportunidade para falar-lhes sobre morte e salvação. Depois da-
exortação propícia à ocasião, cantou um hino de Charles Wesley, realçando bem
certas palavras: “Será para morrer que nasci, / para deixar meu corpo adormecido
/ Quando meu espírito já tenha ido / Voando a um mundo desconhecido?”.
Consta de relatório enviado a Wesley:
Todos ficaram muito sensibilizados, permanecendo silenciosos até o momento da
oração, quando Alexander Mather e Richard Noble clamaram por misericórdia. Quase
imediatamente, outro e mais outro, até que todos, exceto dois ou três, modvaram-se
a fazer o mesmo. E enquanto prosseguiu-se com a oração, continuaram chorando
com força e amargura. Uma das serventes, Elizabeth Nutt, estava tão convencida de
seu pecado quanto eles. No final, o sr. Hindmarsh disse: “Aqueles entre vocês que
decidiram servir a Deus podem vir e orar junto conosco”. Quinze pessoas o fizeram
e seguiram lutando com Deus, com gritos fortes e lágrimas, até as 9 horas da noite.

19 de setembro - Generosidade Versus Inteligência

Em seu Journal (19/set./1770), John Wesley anota que na oração da manhã,


em Kingswood, havia um clima muito especial: “Sensibilizadas pela atuação
do Espírito Santo de Deus, as pessoas choravam e se comportavam de forma
bonita, afetuosa e suave umas com as outras”. O movimento metodista havia
realizado uma grande obra naquele lugar, na vida de muitas famílias. Para Wesley,
cansado de conviver com pessoas que só sabiam opinar sobre o cristianismo e
se esqueciam da vida édca e santa, aiém de aborrecido com o que chamava de
“aJimento-espuma”, um ambiente daqueles significava “refrigéric especial”.
JNo sermão Viver sem Deus (jul./1760), assinala a enorme diferença entre
cristianismo e moral.
Não pode haver cristianismo autêntico, senão houver uma vivência em favor da justiça,
da misericórdia e da verdade. Entretanto, o simples fato de valorizar a prática dessas
virtudes morais não significa que a pessoa pode ser considerada cristã. E possível
encontrar valores morais, de justiça, de misericórdia e de verdade fora do cristianismo,
sóqueameradefesadessesvaloresnãosignificanadaecarecedevaloraosolhosdeDeus.
Para os que conhecem Cristo, e são chamados cristãos, há certas normas e valores
morais a serem observados. Todos os que estão subordinados à Lei de Cristo (Rm
3.19), segundo essa mesma Lei, serão julgados. Portanto, para ser cristão, é necessário
passar por uma transformação, ter novos sentidos, idéias e paixões, viver de modo
diferente, ser uma nova criatura. Não basta apenas ser justo, sincero ou misericordioso.
Muitos ateus praticam essas virtudes, mas cont inuam ateus, sem Cristo.
Algumas pessoas bem-intencionadas procuram levar mais ádiante esse raciocínio,
afirmando que, independentemente das mudanças operadas na vida ou no coração
de uma pessoa, ela não pode ser redimida pela morte de'Cristo se não possui uma
visão clara dos aspectos doutrinais mais importantes - a queda do ser humano,
a justificação pela fé e a expiação mediante a morte de Cristo, que nos restitui o
direito de nos apresentarmos diante de Deus. Não concordo, nem creio em tal
afirmação. Acredito que nosso misericordioso Deus tem mais em conta a vida e
a maneira de ser das pessoas do que as. suas idéias. Ele respeita mais um coração
bom que uma mente lúcida. Se o coração de uma pessoa está cheio desse amor
humilde, paciente e afável, que a une a Deus e aos seres humanos, Deus não a
lançará ao “fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” (Mt 25.41), só porque
as idéias dela são confusas. Estou convencido de que “sem santidade, ninguém verá
o Senhor” (Hb 12.14). Mas não me atrevo a admitir que “aquele que não tem idéias
ciaras” não verá o Senhor.

20 de setembro - Cuidado com a Ambição

Preocupado com o ramo áo metodismo nos Estados Unidos, John Wesley


aconselha humildade aos líderes da nova igreja, na carta a Francis Ashurv (20/
set/1788):
Realmen tehá umagrandc diferença entre areiação sua relação com os americanos e minha
relação com todos os metodistas. Você é o irmão maior dos metodistas americanos e eu,
abaixo de Deus, sou o pai de toda -a família. Portanto, t.enho naniraimente um interesse
em todos, que ninguém mais pode ter. Até certo ponto, sou o provedor para todos,
pois as provisões feitas pelo dr. Coke não ocorreríam se não fosse por mim, porque
não somente permito-lhe arrecadar fundos, mas também respaldo tal arrecadação.
Mas num ponto, estimado irmão, creio que tanto o doutor como você
diferem de mim. Estudo para ser pequeno e vocês, para ser grandes. Avanço
timidamente, vocês se pavoneiam. Fundei uma escola, vocês uma universidade
e, ainda mais, colocaram-na o nome de vocês! Tenham cuidado: não procurem
ser grandes! Permitam que eu não seja nada e que Cristo seja tudo em todos.
Como podem vocês, como se atrevem a permitir que lhes chamem bispos?
Estremeço, me assusto ao pensar nisso. As pessoas podem me chamar folgazão ou
tonto, enganador, vilão, e não dou atenção. Mas nunca, com meu consentimento,
me chamarão bispo! Por mim, por Deus, por Cristo, ponham fim nisso! Façam os
presbiterianos o que quiserem, mas entendam os metodistas melhor o seu chamamento.
Assim, estimado Franky, digo-lhe tudo o que sinto em meu coração, Que isso seja,
quando já não estiver por aqui, um testemunho da minha sinceridade.

Em outra carta (31/out./1789), Wesley escreve:


Fiquei surpreso quando recebi algumas cartas do sr. Asbury, afirmando que
ninguém na Europa sabia dirigir os que viviam na América. Pouco depois, rechaçou
categoricamente o sr. Whatcoat para o oficio que eu o enviei. Disse a George Shaford:
“O sr. Wesley e eu somos como César e Pompeu: ele não tolera nenhum igual e eu
não tolero nenhum superior”. Conseqüentemente, permaneceu em silêncio, até que
seus amigos apagaram meu nome das atas americanas. Isso encerrou o. assunto e
mostrou que ele não tem conexão comigo.

21 cje setembro - Forma Correta de Pregar o Evangelho

No dia 21 de setembro de 1751, John Wesley recebeu uma carta com


perguntas sobre a forma correta de pregar o Evangelho. Sua resposta endereçada
a um “leigo evangélico” (20/dez./1751) destaca:
Quando se começa a pregar em qualquer lugar, depois de uma declaração
geral do amor de Deus para com os pecadores, e o desçjo de que sejam
salvos, deve-se pregar a Lei da maneira mais enfática, exata e penetrante
possível, entremeando com o Evangelho somente de vez em quando.
Depois que muitas pessoas tenham se convencido do pecado, pode-se mesclar mais e
mais com o Evangelho. Não é conveniente omitir completamente a Lei, não apenas-
por supor que muitos des ouvintes não estejam convencidos do pecado, mas também
porque há o perigo de muitos estarem curando suas próprias feridas com leviandade.
Se tivéssemos uma congregação inteira já convencida dos pecados, seria necessário

274
pregar somente o Evangelho. Caso contrário, para uma congregação recém-
justificada, seria necessário pregar a Lei. De todos os modos, mesmo quando há
crescimento na graça e no conhecimento de Cristo, o edificador sábio prega a Lei
outra vez, cuidando somente de colocar cada parte dela à luz do Evangelho, não
apenas como um mandamento, e sim como privilégio. Pregar a Lei é uma maneira de
ensinar a andar na fé. O mandamento é alimento tanto quanto a promessa, igualmente
saudável, substancial. Aplicado devidamente, além de dirigir, nutre e fortalece a alma.
Não aconselho pregar a Lei sem o Evangelho, tampouco o Evangelho sem a Lei.
E preciso pregar ambos, juntos ou separados. Recomendo ao pregador pregar
continuamente a Lei enxertada, temperada e animada pelo espírito do Evangelho.
Aconselho que declare, explique e faça cumprir cada mandamento de Deus. Ele deve
declarar em cada sermão (e quanto mais expLícito, melhor) que o primeiro e grande
mandamento para o cristão é “Creia no Senhor Jesus Cristo” (At 16.11) e que Cristo
é tudo em todos, “nossa sabedoria, justificação, santificação e redenção” (ICo 1.30).
Toda a vida, o amor e a força vêm somente Dele, que nos dá livremente pela- fé. A Lei
pregada desse modo tanto ilumina como fortalece a alma, tanto nutre como ensina.
Ela guia, alimenta, cura e sustenta a alma daquele que crê.

| 22 de setembro - A Preparação dos Pregadores

John Wesley sempre foi muito cuidadoso na admissão de pregadores


Wymetodistas. Exigia deles uma preparação mínima e cuidava para que continuassem
I sempre estudando e se preparando. Quanto menos preparados fossem, mais
sujeitos a influências religiosas prejudiciais ao metodismo.
Na correspondência endereçada a um “leigo evangélico” (20/dez./1751),
John Wesley destaca a influência perniciosa de um modelo de pregação que
procurava enfatizar apenas as promessas de Deus, deixando completamente de
lado a obediência aos mandamentos.
Essa pregação, extremamente atraente e. sedutora, produziu muitos prejuízos, tanto
aos pregadores, que se deixaram influenciar e passaram a segui-la, como aos ouvintes,
que se acostumaram às mensagens festivas e desenvolveram preconceito contra
os pregadores tradicionais. Á influência desses “pregadores modernos” tem sido
avassaladora. Muitos que antes valorizavam a minha pregação e a de John Nelson,
excelente e prestigiado pregador metodista, já não mais nos aceitam. A pregação
centrada em promessas e bênçãos corrompeu os ouvintes, contaminou seus gostos
e os fez acostumados com doces e licores, e incapazes de saborear a doutrina sadia.
O resultado pode ser observado tanto na Inglaterra como na Irlanda. Por toda a
parte, esses pregadores disseminaram o novo modelo. No início tudo é festa, mas
I
na medida em que o fervor inicial se apaga, desaparecem a vida, o poder, a força e
o vigor da alma. A recuperação também se torna extremamente difícil, nois
se continua clamando e exigindo licores doces e não sentindo o gosto da
comida saudável.
Segundo Wesley, em visita ao norte da Inglaterra, com vistas a supervisionar
as sociedades, encontrou uma triste realidade. A maioria das sociedades reduzia-
se a menos da metade e algumas estavam completamente destruídas. Entre as
que tinham sobrevivido, seus membros ficaram frios, cansados e desacorçoados.
Por outro lado, as sociedades de Yorkshire, dirigidas por John Nelson segundo
o modelo antigo, continuavam fortes e vigorosas. Antes havia 1.800 ou 1.900
membros e agora eles passavam dos 3 mil.
John Nelson assinala que o método antigo destaca a necessidade de equilíbrio
entre Lei e Evangelho:
Deus ama você: logo, ame-o e obedeça-o. Cristo morreu por você: logo, morra ao
pecado. Cristo se levantou: logo, levante-se segundo a imagem de Deus. Cristo vive para
sempre: logo, viva para Deus até que possa viver com Ele na glória. E desse modo que
pregamos, essa é a via bíblica, a via metodista, a via verdadeira. Deus nos conceda a
graça de que nunca nos apartemos nem para a direita nem para a esquerda!

23 de setembro - Os Fjlhos no Evangelho Devem ser Corrigidos

Na tarde de 23 de setembro de 1779, John Wesley pregava em Fishponds. No


seu Journal, ele conta que o local passava, por uma transformação maravilhosa..
Durante muitos anos, as pessoas haviam estado indiferentes, apáticas e
desinteressadas pelo Evangelho de Jesus Cristo. A mudança, de acordo com
Wesley, começou quando a santa de Deus, Bathsheba Hall, e seu esposo
decidiram morar ali. Desde então, acendeu-se uma chama que foi contagiando
todo o mundo. Impressionado com o acontecimento, ele conta que as pessoas
se agrupavam como tropas sedentas das promessas de Deus.
Reconhecia ser muito provável a ocorrência de equívocos na avaliação
do trabalho metodista em determinado lugar. Décadas antes, em 1748,
mencionou a impropriedade de fazer esse julgamento com base somente no
crescimento numérico. Na ocasião, lembrou ter ocorrido uma transformação
substancial na vicia dos cmaciaos, nas que não repercutiu no rol dos men
da sociedade local.

275
Entre 1771 e 1773, muitos circuitos metodistas passaram por grave crise.
V;ários diminuíram drasticamente, a exemplo • do de Dublin, que perdeu um
quarto dos membros. Para Wesley, deu-se em Dublin, em 1771, uma “fraqueza
geral” que acabou se espalhando. No seu Journal (31/mar./1771), registra ter
/ lido aos líderes um documento anunciando que o metodismo organizava-se de
acordo com um plano global hierárquico e que a inversão desse plano acarretaria
inevitavelmente problemas e dificuldades.
Na disciplina metodista, a engrenagem normalmente obedece à seguinte ordem: o
assistente, os pregadores, os ecônomos, os líderes, o povo. Mas aqui os líderes, que
são o segundo elo mais baixo, estão totalmente fora de seus lugares, Conseguiram
colocar-se acima de todos, acima mesmo dos ecônomos, dos pregadores, acima até
do próprio assistente. Considero essa a principal razão da decadência gradual do
trabalho de Deus em Dublin.

Com relação ainda à crise de crescimento, Elizabeth Marriott, esposa de


/ um negociante metodista de Londres, sugeriu a Wesley realizar um trabalho
f- especial com os pregadores, pois nem todos estavam “vivos para Deus” e
“engajados de coração no trabalho”. A melhor forma de corrigir o problema
í seria por meio de encontros com pregadores, em grupos pequenos de três ou
quatro. Neles, se fariam repreensões enérgicas e aconselhamentos com clareza
e objetividade. Esse método seria muito produtivo, podendo multiplicar sua
7 influência no grupo de pregadores, já que uma hora com eles representaria
| mais do que uma semana escrevendo ou pregando, Marriott diz ainda que
fc Wesley era, “na verdade, o Pai desse povo” e os pregadores, “seus filhos no
jp Evangelho”, com direito à atenção especial.

!r 24 de setembro - Essência do Cristianismo

Em diversos textos, John Wesley procura mostrar que, longe de ser uma
invenção recente, o metodismo é um movimento com o objetivo de resgatar a
essência do cristianismo. Sua singularidade está centrada na ênfase à doutrina da
santinçaçao, "o grande tesouro depositado por Deus nas mãos do povo chamado
metodista”, como escreveu a Robert C. Brackenbury, em setembro de 1790.
No sermão O caminho da salvação, explica que o processo de santificação
começa na vida do cristão no momento exato em que é justificado. Ele nasce de
novo e inicia a renovação interior realizada por Deus, expulsando do convertido

277
o amor ao mundo, ao prazer, ao dinheiro, à ociosidade, à preocupação com
honrarias, ao orgulho, à ira, ao egocentrismo e a todos os demais tipos de defeito.
Em A respeito das riquezas, fala dos inúmeros obstáculos à santidade cristã:
Se entendemos a fé em sua acepção geral como a “evidência das coisas que não se vêem”
(Hb 11.1), do mundo invisível e eterno, de Deus e das coisas de Deus, as riquezas possuem
a tendência natural de obscurecer essa evidência e impedem a atenção em Deus, nas
coisas de Deus e nas coisas invisíveis e eternas! Mas se encaramos a fé em outro sentido,
como confiança em Deus, as riquezas tendem a destruir essa confiança, fazendo com
que a pessoa confie, para sua felicidade e proteção, nas riquezas, e não no Deus vivo. E
se consideramos a fé no senrido especificamente cristão, como uma confiança num Deus
que perdoa, as riquezas também se transformam num obstáculo mortal, quase insuperável.
As riquezas são obstáculos para o primeiro fruto da fé, que é o amor a Deus! Como é possível
para uma pessoa não amar o mundo que a rodeia com todos os seus bens? Como é possível
escutar a voz aprazível e suave dizendo-lhe: “Filho meu, dê-me o seu coração” (Pv 23.26)?
As riquezas são também um obstáculo para amar ao nosso próximo como a nós mesmos,
ou seja, amar toda humanidade como Cristo nos amou. O rico pode muito bem amar
os que pertencem ao seu grupo ou os que são de sua opinião. Pode amar aqueles que ò
amam, e não ter uma boa vontade desinteressada em relação a todos os homens. Tal coisá
só pode brotar do amor de Deus, que as grandes riquezas arrancaram de sua alma.

No final do sermão, adverte:


Busquem a felicidade Nele e só Nele. Cuidem-se de não se apegar ao pó. Essa terra
não é o destino de vocês, Usem esse mundo sem abusar: usem-no e alegrem-se em
Deus. Sintam-se tão livres das coisas aqui de baixo como se fossem pobres mendigos.
Sejam bons administradores dos multiformes dons de Deus (IPe 4.10) para que,
quando forem prestar contas, possam ouvir: “Muito bem, servo fiel. Entre no gozo
do seu Senhor” (Mt 25.21). ..

25 de setembro - Um Sonho que não deu Certo

Com o passar do tempo, John Wesiey mudou sua opinião sobre o casamento.
Estava apaixonado por Grace Murray, viúva, a “mulher mais serviçàl do reino, ei
melhor utilizada por Deus em toda a história da Igreja, desde a morte de nosso'
Senhor até o dia de hoje”. )
Em longa carta escrita ac- irmão Charles, em 25 de setembro de 1749, faz generosos
elogios à candidata. Diz que, como dona de casa, ela tinha todas as qualificações:
Entende tudo o que quero, é admiravelmente limpa em seu corpo e sua roupa,
amavelmente sóbria, tem bom senso e resolve tudo muito bem. Como enfermeira, é
extremamente cuidadosa, paciente, terna, rápida, hábil e entende minha constituição
bem melhor que muitos médicos. Como companheira, tem senddo de humor, bom
conhecimento de livros e de seres humanos, personalidade simpática e temperamento
suave e alegre. Como amiga, é fiel, veia sobre o meu bem-estar, entende todas as
minhas fraquezas, ajuda-me em tudo, nunca tem medo e está capacitada para proteger-
me e apoiar o meu trabalho. Como colega de trabalho no Evangelho de Cristo, possui
em grande medida o que nunca encontrei em nenhuma outra mulher. Possui a graça
do Senhor, está crucificada ao mundo e morta aos desejos da carne, dos olhos e à
vaidade da vida, é éxemplarmente casta, modesta, moderada e eduçável, e aberta à
correção, gentil e compassiva. Chora com os que choram, carrega tanto minhas cargas
como as dos outros pregadores e outras pessoas, zelosa das boas obras, esperando ser
utilizada para a glória de Deus e para o bem dos homens. Possui dons espirituais, tem
entendimento claro e profundo conhecimento das coisas de Deus. Está inteirada do
modelo metodista de guiar as almas, expressa-se muito bem, possui um jeito natural
de convencer as pessoas e é amada por todos os que a conhecem e também por
aqueles quç a encontram pela primeira vez. Quanto aos frutos do seu trabalho, não
existe nenhuma outra mulher mais dedicada a Deus. Muitas pessoas se convenceram
de seus pecados após conversar particularmente com ela, e muitas outras receberam
o perdão de seus pecados em suas classes e por meio de suas orações!

Afirmando não estar disposto a correr o risco de casar com alguém que
atrapalhe o seu ministério, Wesley mostra-se convicto de ‘‘haver encontrado a
pessoa ideal”, Ela passou a acompanhá-lo em suas viagens missionárias e foi
de grande utilidade, avivando sua torpe falta de afeto, adoçando seu espírito
áspero, ajudando-o no trabalho de organização de novas classes e sociedades,
instruindo, confortando, repreendendo, despertando almas, trazendo-as à fé e
ajudando-as a crescer espiritualmente. Ele estava seguro de que devia casar-se e
que Grace Murray era a pessoa certa.
Mas não foi dessa, vez que John Wesley se casou. Seu irmão Charles
conseguiu que Grace Murray se aproximasse de John Bennet, outro
pretendente, e, na ausência do irmão, em 3 de outubro de 1749, celebrou o
casamento dos dois.

25 de setembro - É Proibido Julgar

Jesus recomenda que não se deve julgar para não ser julgado e indaga: “Por
que você vê o argueiro no olho de seu irmão, mas não repara na trave que está
; no seu próprio?” (Mt 7.1,3).

279
Na carta endereçada a James Barry (26/set./1787), John Wesley reconhece ser
bastante indulgente com as pessoas fora da Igreja, que não conhecem o Evangelho,
e muito rígido com os que já o conhecem, especialmente com os metodistas.
Ao pregador metodista, ele aconselha muita prudência ao conversar com
pessoas que não conhecem o Evangelho. Afirma que Barry tinha interpretado
mal o diálogo entre um papista e um protestante, em Lisboa. Segundo Wesley, o
papista perguntara: “Você afirma que não posso ser salvo em minha religião?”. E a
resposta do protestante: “Não posso garantir isso. Acredito que você possivelmente
seja salvo nessa sua religião, mas não eu”. Barry compreendera errado o diálogo,
bastante instrutivo, sendo correta a posição do protestante. Quando alguém lhe
pergunta ser possível salvar-se, mesmo participando de bailes e jogando baralho, a
resposta é muito parecida com a do protestante: “Possivelmente você poderá ser
salvo, apesar de dançar e jogar baralho, mas eu não poderei”.
A posição de Wesley se baseia basicamente no conteúdo do sermão do
Monte, no que diz respeito à proibição de qualquer tipo de julgamento. Afirmar
que o outro será condenado já é um tipo de julgamento, que ninguém tem
condições de fazer. Pode-se chegar até determinado limite. Além da proibição
de se fazer qualquer tipo de julgamento, outra questão importante para Wesley
é o fato de a pessoa não estar preparada para ouvir certas afirmações. Como
ilustração dessa questão, ele aproveita a alegoria de um pastor de Londres: “Se
você tira o chocalho, que serve de brinquedo para uma criança, ela ficará zangada
com você e poderá até agredi-lo. Porém, se, antes de lhe tirar o brinquedo, você
oferece algo melhor, ela inevitavelmente abandona o chocalho”. O trabalho de
evangelização não deve iniciar retirando das pessoas aquilo que elas prezam.
A posição de Wesley é que tanto a dança como o jogo de cartas não são
brincadeiras inocentes. Recomenda aos metodistas não admitir esses costumes
e submeter-se rigorosamente às doutrinas aprovadas. No entanto, não devem
Impingir tais regras aos demais. Concluindo a Carta, destaca que James Barry,
o pregador metodista, ainda não compreendeu bem o papeí, as marcas
fundamentais e as especificidades do metodismo.

2L. / « C !: u: ; 3 iSíwtS s «a V s r:£!!ÍC

O que fazer para evitar que os metodistals contammcm-se por doutrinas


incorretas e ate perigosas? Essa era uma das grandes preocupações de fohn
Wesley. Muitas de suas cartas enviadas a pregadores e líderes das sociedades
tinham por objetivo alertá-los a respeito dessa questão. E praticamente todos os
escritos de Wesley demonstram diretamente essa função. Sua atenção ao assunto
sempre foi doutrinária: a interpretação correta das Escrituras.
Em Oraçõespara cada dia da semana, na de sexta-feira, ele suplica: “Entrego-lhe meu
entendimento. Que minha única preocupação seja conhecê-lo: sua perfeição, suas obras
e sua vontade. Que tudo o mais se apresente a mim como esterco ou escória, para
alcançar a excelência desse conhecimento. Permita-me evitar toda reflexão contrária a
qualquer çoisa que me ensine”. E na carta a William Black (set./1787), alerta:
Você tem grande razão para louvar a Deus pelas muitas coisas que Ele fez. E
deveria esperar, todavia, coisas ainda maiores. Sua grande dificuldade agora será
proteger o rebanho desse consumado sedütor. Quando você mencionou que
uma pessoa viria da Escócia, concluí tratar-se de um calvinista. Porém, a situação
é muito pior. Creio que um sociniano é pior que um crente na predestinação
e alguém pode identificá-lo como tal escutando o seu sermão miserável. Sem
dúvida, aconselho a você e a todos os nossos pregadores nunca opor-se a ele
abertamente. Fazê-lo só dará ao mundo não despertado uma vantagem sobre vocês.
Aconselho ainda mais: nunca falem severamente, muito menos desrespeitosamente,
quando estiverem em companhia de pessoas não crentes. Não usem nenhuma
outra arma para se opor, a não ser a verdade e o amor, Sejam sábios em: 1. inculcar
fortemente as doutrinas negadas por ele, porém, sem mencioná-lo e sem dar a
impressão de conhecer alguém que as negue; 2. aconselhar a todos os nossos irmãos
(mas não em público) que nunca lhe escutem, de modo a não colocar em perigo suas
almas; 3. investigar minuciosamente se alguém foi afetado e corrigi-lo tão depressa
quanto possível. Dessa forma, com a bênção de Deus, mesmo “o que manqueja não
se desviará inteiramente do caminho” (Hb 12.13).

28 de setembro - Os Negros são Nossos Irmãos

Em Reflexões sobre a escravidão (1774), John 'wesley expõe sua posição


frontalmente contrária ao uso do trabalho escravo. São 30 páginas magistrais
fincando a posição metodista sobre o assunto, que, em resumo, tratam o seguinte:
Os mercadores europeus iniciam o execrável sistema de comércio de escravos.
Estimulam, de todos os modos imagináveis, os próprios africanos a vender
seus irmãos. Todo mercador de escravos e todos os que os compram situam-
se no mesmo nível de um ladrão. E o dinheiro do comprador do escravo que
coloca em movimento todo o terrível processo. Sem o comprador finai, não seria

281
I
dado nenhum passo, de modo que o sangue dos infelizes africanos que morrem
antes do tempo cairá sobre a cabeça dos que se utilizam do serviço escravo.
Alega-se que a escravidão está autorizada por lei. Pode uma lei humana transformar
as trevas em luz, ou o mal em bem? De maneira nenhuma. Não importam 10 mil leis:
o justo é justo e o injusto continua sendo injusto. Onde está a justiça quando se aplicam
severos castigos a pessoas que nenhum mal cometeram? Quando pessoas humanas são
arrancadas de suas terras, de suas famílias, e privadas da liberdade? Quando milhares e até
milhões de pessoas inocentes e inofensivas são escravizadas e assassinadas? A posse de
escravos é completamente incompatível com a misericórdia. Não aceito o argumento de
tratar-se de uma necessidade. Nego a necessidade de tal vilania. E impossível que jamais
seja preciso para qualquer criatura razoável violar todas as leis da justiça, da misericórdia
e da verdade. Dizem que a escravidão é fundamental para o comércio, a riqueza e a glória
de nossa nação. Está errado! Essenciais para a glória de uma nação são a sabedoria, a
virtude, a justiça, a misericórdia, a generosidade, o bem-estar público e o amor ao país,
É melhor não possuir riquezas do que ganhá-las a custa da virtude. E melhor a pobreza,
honesta que todas as riquezas compradas com as lágrimas, o suor e o sangue do próximo.
Oh! Deus de amor, que ama a todo ser humano e é rico em misericórdia para com ele.
Tenha compaixão dessa gente sofredora, humanos considerados estercos sobre a tem!
Ajude os infelizes que não dispõem db ninguém para ajudá-los, infelizes cujo sangue é
derramado como água sobre a terra. São seus filhos, comprados pelo sangue precioso
de Jesus. Liberte-os do cativeiro, ouça as suas queixas. Quebre todas as correntes,
especialmente as do pecado. Oh! Salvador de todos, liberte-os para que sejam livres
de verdade!

29 de setembro - Alguns Conselhos Sobre Saúde


:Por que tantos dos nossos pregadores têm problemas nervosos?” Essa
pergunta, formulada durante a conferência metodista de 1778, recebeu a seguinte
resposta: ‘Torque não observam suficientemente as regras do dr. Codogan, de
evitar a indolência e a intemperança”.
Os seis breves conselhos de Wesley, visando à promoção da saúde por
meio de exercícios e da temperança, refletem a sua prática: não utilizar bebida -QL
alcoólica, chá, tabaco ou rapé; fazer um jantar leve ou descartá-lo; no desjejum

levantar antes das 6 da manhã; fazer diariamente o máximo de exercícios; ou. / J;


matar-se aos poucos. • T?
Wesley sempre demonstrou grande interesse pela saúde dos metodistas. Na 7
carta a jown Downes (10/dez,/1751), faz as seguintes recomendações:

232
Gostaria que você se regularizasse pouco a pouco, como permite a sua saúde. Prc teja-
se cuidadosamente de qualquer irregularidade em relação à alimentação, ao sono e
ao trabalho. Sua água não pode ser muito quente (pelo risco de relaxar o estômago)
nem muito fria. De todas as carnes, a de carneiro é a melhor para você; de todas
as verduras, prefira nabos, batatas e maçãs (assadas, fervidas e no forno), se puder
tolerá-las.

Em outra carta (5/jul./1765), desta vez a Lady Maxwell, aconselha:


l Permita-me, querida amiga, dizer uma palavra relacionada com sua saúde corporal.
Você deve dispor de todo ar fresco e exercício que possa. E ainda que o costume
de anos torne difícil, se esse for o caso, deite-se o mais cedo possível, nunca depois
— das 10 da noite, de modo a levantar-se tão cedo quanto sua saúde o permita, Ter
um bom estado de ânimo, cõmo dizem, ou o contrário, depende muitíssimo disso.
Creio que os remédios lhe servirão muito pouco: restrinja-se a uma dieta apropriada,
regularidade exata e exercício constante, com a bênção de Deus.

No sermão O uso do dinheiro, baseado em Lucas 16.9, ele aborda outro


aspecto da saúde, além do cigarro e do álcool. Era preciso evitar trabalhos e
profissões prejudiciais à constituição física, que privassem do tempo necessário
ao alimento e ao sono. Certos trabalhos revelavam-se total e absolutamente
insalubres, por exemplo, os que exigiam a manipulação de arsênico e de outros
minerais igualmente perigosos, ou a inalação de ar viciado de vapores de cobre,
capazes de destruir a constituição física mais robusta. Para Wesley, devia-se ter
cuidado com trabalhos que requeriam muitas horas escrevendo sentado, em
posição incômoda.

130 de setembro - Corrigindo Rumos

Durante a vida toda, Wesley conseguiu controlar o movimento metodista,


) estabelecendo diretrizes que julgava propícias ao seu bom funcionamento.
; Entretanto, sua supervisão só foi respeitada na Grã-Bretanha. Nos Estados
r Unidos, desde o início, houve mostras de certa independência. Üma das
: inovações feitas nesse país foi quanto à itinerância pastoral. Na carta escrita a
' Francis Asbury (30/sei./1785), propõe algumas alterações no modelo metodista
l da ex-colônia:
Na próxima conferência, vaieria a pena considerar profundamente se algum pregador
deve permanecer em um só lugar por três anos consecutivos. Isso me alarma. E uma
alternativa drástica da disciplina metodista. Não temos esse costume na Inglaterra, ria

233
Escócia ou na Irlanda. Não permitimos a ninguém, exceto ao assistente, permanecer
um segundo ano no mesmo local. Talvez eu tenha mais capacidade sobre o que pregar
do que muitos dos nossos pregadores, entretanto, indubitavelmente, estou seguro de
que, se chegasse a pregar três anos consecutivos num único lugar, tanto as pessoas
como eu mesmo estaríamos mortos como as pedras. Mais ainda, essa prática é
contrária a toda economia do metodismo. Deus sempre trabalhou entre nós por meio
dessa mudança constante de pregadores.

No sermão A vinha do Senhor; baseado em Isaías 5.4, ele relaciona o sistema


da itinerância entre as ajudas espirituais concedidas prodigamente por Deus aó
movimento metodista. “Para conseguir a união dos pregadores e a edificação
de todos, nasceu a itinerância, o traslado constante de pastores. A norma é que
nenhum pregador permaneça no mesmo circuito mais de dois anos consecutivos;
alguns, não mais de um ano.”
Esse modelo foi observado com precisão e rigor por John Wesley e alcançou
bons resultados. Contudo, nem todos concordavam com a sua aplicação.
Invariavelmente, ocorria uma identificação mais profunda entre a comunidade
e o pregador, fa2endo surgir o questionamento do modelo. Apesar de todas as
críticas, Wesley sempre se manteve inflexível. Para aqueles que sugeriam que o
sistema representava um obstáculo ao crescimento do movimento, retrucava que
a experiência nos mais diferentes lugares provava o contrário, demonstrando ser
muito mais positivo e benéfico ao povo metodista de determinada comunidade
poder contar com diferentes pregadores.
Outubro

Quero que os metodistas sejam exemplo


permanente de sabedoria e modelo
em todas as coisas, grandes e pequenas.

John Wesley, em Recomendações ao povo chamado


metodista a respeito da sua maneira de vestir
12 de outubro - Adoro a Sabedoria de Deus

No século XVIII, as estradas da Inglaterra nem sempre eram boas e, em


algumas épocas do ano, tornavam-se praticamente intransitáveis. Numa das
viagens de Wesley à Kingswood, em outubro de 1741, antes de chegar a Lawrence
Hill, seu cavalo tropeçou, derrubou-o ao chão e caiu sobre ele. Episódios como
esse foram muito comuns em seu ministério. A maior parte dos acidentes dessa
natureza não trazia maiores consequências. Ele sempre conseguia dar um jeito
na situação e prosseguir a viagem.
Nessa oportunidade, a conseqüência do acidente foi inusitada. Duas
moradoras do local que. viram a cena correram a socorrê-lo, conduzindo-o
a uma casa vizinha, de modo a cuidar dos seus ferimentos. Como não
eram sérios a ponto de exigir maior atenção, em poucos minutos Wesley
estava plenamente restabelecido. Apresentou-se, então, aos moradores e foi
informado de que havia na casa três pessoas que iniciaram qs caminhos do
Senhor, mas interromperam a jornada por causa dos estorvos provocados
por Satanás. Aproveitando a oportunidade, citou vários trechos bíblicos
encorajando-as a continuar na fé.
No momento em que se viu conduzido por aquelas pessoas tão simples,
generosas e com tantas dificuldades para continuar na fé, Wesley levantou
os olhos aos céus e proclamou jubilosamente sua gratidão pelos cuidados
divinos; “Adoro a sabedoria de Deus”. Com tal frase, manifestava, uma vez
mais, sua fé inabalável na Providência Divina, que havia permitido a ele
sofrer um acidente e interromper a viagem para cuidar de algumas vidas
necessitadas de auxilio.
Em (seu Journal.' anota que todas aqueias pessoas decidiram retornar ao
caminho de Cristo. Tempos depois, relata que a decisão tomada na época fora
tão firme que nenhuma delas tinha voltado atrás até então.

2 de outubro - Faltou um Amigo

John Wesley nutria profunda admiração por Martinho Lutero. Considerava-o .7


um homem privilegiado, um bendito instrumento nas mãos de Deus. Acreditava
que o único inconveniente na vida de Lutero foi não ter tido um bom e fiei
amigo que acompanhasse de perto os seus passos.
286
Quase dois séculos separam os dois reformadores, mas, se fosse possível
ao ex-monge eremita agostiniano tecer alguns comentários sobre Wesley,
é provável que fizesse observações elogiosas a respeito do seu trabalho
e da sua teologia, como também reparos quanto à sua vida sentimental e
amorosa. Talvez, hipoteticamente, o feliz marido da ex-freira Catarina von
Bora e pai de quatro filhos destacasse que o maior inconveniente na vida do
metodista tenha sido não ter encontrado uma companheira para auxiliá-lo no
ministério pastoral.
A experiência matrimonial de John Wesley foi um fracasso. A carta
enviada por Wesley à esposa, em 23 de outubro de 1759, revela a profunda
incompatibilidade entre os dois. Nela, Wesley relaciona diversas questões
que o desagradam:
1. Desgosta-me que mostre para as pessoas minhas cartas e papéis pessoais
sem a minha permissão; 2. desagrada-me não ter o controle de minha própria
casa, não ter liberdade de convidar sequer minha família mais próxima para
tomar uma xícara de chá, sem que você se sinta ofendida; 3. descontenta-me
ser um prisioneiro na minha própria casa, ficando você de guarda na porta
do meu quarto, continuamente, para que ninguém entre ou saia sem a sua
permissão; 4. aborrece-me ser um prisioneiro fora de casa, mesmo quando
vou ao estrangeiro, pois você se põe muito desgostosa se eu não lhe faço um
relatório detalhado de todos os locais onde estive e de todas as pessoas com
quem conversei; 6. desagrada-me a forma com que trata os empregados, com
tanto desdém, severidade, acidez, mal gênio e má vontade; 7. e que fale mal de
mim às minhas costas, todos os dias e quase todas as horas do dia; 8. e que me
calunie, acusando-me de coisas que você sabe serem falsas; 9, descontenta-me
o seu costume de mentir; 10. e a sua amargura extrema e sem medida contra
todos os que procuram defender meu caráter.
Em seguida, lista alguns conselhos:
1. Não mostrar, ler ou tocar as minhas cartas; 2. deixar-me controlar a minha
própria casa, com liberdade para convidar quem quiser; 3. dar-me liberdade
para receber qualquer pessoa que queira me ver, sem colocar obstáculo; 4.
deixar-me ir aonde queira, sem precisar prestar contas a ninguém; 5. prometer
que não pegará mais meus papéis, nem nada do que é meu, sem minha
permissão; ó. tratar bem a todos os empregados, goste deles ou não, com
cortesia e humanidade; 7. não faiar mal de mim às minhas costas; 8. não
açusar-me falsamente; 9. ter extremo cuidado de não falar nada que não seja
estritamente a verdade, tanto no que diz quanto na forma com que diz; 10.
evitar toda amargura de expressão até que possa desviar-se ce toda amargura
de espírito.

2S7
3 de outubro - A Doutrina deve ser Obedecida

De Bristol, no dia 3 de outubro de 1783, John Wesley envia uma carta aos
pregadores metodistas na América, recomendando-lhes o seguinte:
1. Que todos vocês estejam decididos a cumprir a doutrina e a disciplina metodista
publicada nos quatro volumes de Sermões e nas Notas sobre o Novo Testamento, junto
com as minutas extensas da conferência;
2. Tenham cuidado com os pregadores vindos da Grã-Bretanha ou Irlanda sem
recomendação completa da minha parte. Três dos nossos pregadores itinerantes
têm desejado ansiosamente ir à América; porém, sob nenhuma hipótese posso
aprovar isso, pois não creio estarem completamente de acordo com nossa doutrina.
Acredito que eles diferem de nosso critério, portanto, se eles ou qualquer outro
chegarem sem minha recomendação, fiquem atentos;
3. Tampouco devem receber qualquer pregador, não importa quanto seja
recomendado, que não esteja subordinado à conferência americana e aceite de
boa vontade as atas dessa conferência e também da inglesa;
4. Não quero que nossos irmãos americanos recebam ninguém que não aceite
Francis Asbury como assistente geral. Indubitavelmente, o maior perigo da obra
de Deus na América surgirá de pregadores oriundos da Europa ou dos surgidos
entre vocês mesmos, que introdirzam novas e falsas doutrinas, pardçularmente
o calvinismo. Guardem-nos de todos esses perigos, porque é muito mais fácil
manter-se distante do que serem expulsos mais tarde, quando já estiverem
admitidos no metodismo.
Encomendo a todos a graça de Deus.

4 de outubro - Divisões no Seio da Igreja

Fato comum em nossos dias é a proliferação de novas igrejas, ou seja, o


surgimento vertiginoso de novos grupos denominacionais. O mais surpreendente
é que boa parte desses novos empreendimentos religiosos nasce como fruto de
divisão. Um líder ou um grupo integrante de determinada igreja se indispõe e
não mais aceita as suas regras, acha que não há nela espaço suficiente para o
exercício da fé e acaba por formar um novo agrupamento religioso.
John Wesley também conviveu com esse tioo ds ocorrência. Diversas
dissensões se deram no seio do movimento e, de certo modo, a própria criação
do metodismo representou a observância desse quadro, Na carta endereçada a
um amigo, ele relembra a divisão mais marcante no seio do metodismo e que
i~n Tr~\
o n
CíXiX cuvo ao Londres. Os
2SS
v: '
[\ £ ' ■

' i f tristes ocorreram em outubro de 1762: como resultado da postura personalista


do pregador Tbomas Maxfield, alguns metodistas desenvolveram uma atitude
. v m u i t o arrogante, intolerante e com críticas abertas às práticas metodistas usuais,
7 especialmente à itinerância pastoral. Maxfield conseguiu incutir na cabeça de
1 muitos não se submeter mais ao ensino de qualquer pregador, sobretudo dos que
não possuíam o mesmo grau espiritual deles.
Na visita à sociedade metodista em Londres, Wesley verificou muito
alvoroço e confusão. O nível de intolerância era tão profundo que os amigos
mais íntimos de Maxfield reuniam-se separadamente dos demais. Havia orgulho,
desamor e arrogância espiritual neles, que acreditavam possuir mais graça que os
outros. Todo o seu esforço em remediar a situação e fa2er a sociedade despertar
do estado beligerante foi inútil. Eles não admitiram a repreensão. Segundo Wesley,
a sra. Coventry gritou-lhe: “Vocês já não nos obrigarão a nada. As máscaras
foram arrancadas”. Devolvendo o ticket de classe, seu e de toda a sua família,
declarou: “Nada mais temos com você. De agora em diante, o sr. Maxfield é o
nosso mestre”, Consumara-se a divisão. Com ela, distanciaram-se muitas outras
pessoas, inclusive George Bell, um dos maiores protagonistas da revolta e que
arrogantemente conclui: “O cego John não é capaz^le nos ensinar. Seguiremos
com o sr. Maxfield”.
No final dessa carta, Wesley conta que, daquele dia em diante,
Maxfield cuidou de caluniá-lo sistematicamente, apresentando a seguinte
1 versão irreal da separação: “Um dia John Wesley me falou: Tommy, direi
: ao povo que você é o maior pregador do Evangelho de toda a Inglaterra,

1 e você, que sou eu o maior de todos’. Como recusei aceitar tal proposta,
| ele separou-se de mim”.

| 5 de outubro - Realizando a Obra de Deus

John Wesley passou em Oxford parte da primeira semana de outubro de


| 1739. Na quarta-feira, dispondo de tempo livre, visitou as prisões da cidade,
SN 1 que sabia . estarem numa situação
J desastrosa. Tanto os orisioneiros do castelo
Ü como os da prisão da cidade estavam abandonados, sem nenhuma pessoa para
|: lhes oferecer consolo, conselho, instrução e edificação no amor de Jesus Cristo,
jp Ninguém visitava os centros de trabalho. Também a pequena escola, que reunia
jpv: cerca de 20 criancas Dobres, estava praticamente largada, sem nenhum cuidado.
Wesley lastima que a maior parte deles, que antigamente se reunia e fortalecia
uns aos outros, agora estava separada.
Com o propósito de fazer despertar a disposição de retomar as atividades antes
desenvolvidas, Wesley convidou algumas pessoas para, uma reunião de oração.
Quando começaram a orar, quase imediatamente Deus forneceu uma prova. “Uma
pessoa que por muito tempo vivera a mais profunda depressão, amargura, cólera
e inveja de um antigo grande amigo seu, mostrou a mudança que Deus estava
lhe realizando. Banhada em lágrimas, dirigiu-se a ele, pediu-lhe perdão e o beijou
com alegria”, resume Wesley. Após dar as devidas instruções ao grupo novamente
desperto para Deus, ele seguiu viagem, confiante de que aquela semente cresceria,
viraria uma árvore e produzida bons frutos (2Rs 19.30).
O interesse pela visitação aos presos nasceu com William Morgan, membro
do Clube Santo de Oxford, que, em agosto de 1730, sugeriu uma visita à prisão
do castelo. Morgan já desenvolvia ampla gama de atividades beneficentes, entre
elas, o ensino de crianças órfas, o cuidado dos pobres e idosos e as visitas às
prisões. Os irmãos Wesley acompanharam Morgan à velha fortaleza do castelo,
na tarde de 24 de agosto de 1730, e ficaram tão satisfeitos com a experiência com
os prisioneiros que concordaram em voltar pelo menos uma vez por semana. Foi
feita uma escala para tais visitas. Responsável por esse trabalho nos sábados à
tarde, Wesley reconhecia a sua importância e se esforçava no cuidado espiritual
aos detentos.

6 de outubro - Recomendações sobre o uso de Roupas

O texto Recomendações ao povo chamado metodista a respeito da sua maneira de vestir,Q


de John Wesley, traz em 15 páginas basicamente o seguinte:
Cada uma das denominações cristãs conserva uma porção da verdade cristã, seja no
referente aos costumes seja com respeito à doutrina. Uns sustentam certos aspectos,
outros enfatizam outras partes. O que devem fazer os desejosos de'guardar toda a
Palavra de Deus? Precisam recolher todos os pedaços, todos os aspectos positivos, (,..)rr
A roupa deve ser econômica (não cara), sóbria (não vistosa ou chamativa) e que não
siga a moda. Não se deve usar ouro, pérolas ou pedras preciosas, nem penteados
elaborados ou extravagantes, nem trajes custosos, ainda que sóbrios. Tampouco
comprar supérfluos que sirvam apenas de adorno, mesmo que estejam na moda-. '’
Não vestir roupas de cores vivas ou vistosas, brilhantes ou chamativas, nada
que seja o último grito da moda ou que possa atrair os olhares das pessoas. (...)

290
Aconselho às mulheres não usar anéis, colares ou pulseiras. Aos homens, a não
usar blusas coloridas, meias de cores estridentes, botões brilhantes e caros, ou
essas modernas e caras perucas. O uso de coisas desse ripo não nasce do sincero
interesse de agradar a Deus e atenta, de modo imediato, direto e inevitável, contra
as boas obras, tornando-nos insensíveis ao clamor dos pobres e necessitados. (...)
Há duas maneiras de gastar determinada soma de dinheiro. Pode-se comprar uma roupa
cara ou comprar roupa para um próximo necessitado. Se opto pela primeira, a compra
servirá para gratificar-me ou agradar a outros; se pela segunda, agradarei a Deus.
Suponhamos agoraqueasduasopçõessãoigualmenteinofensivas,quenãohánadademal
em nenhuma delas. Será que as duas fazem o mesmo bem? São igualmente sábias? Com
a primeira-, ganho o aplauso das pessoas, com a segunda, o reconhecimento de Deus, (...)
Semeperguntaremparaqueserveoouroeas pedras preciosas,nãosabereioqueresponder.
Existem muitas coisas na criação cuja função desconheço. Para que servem os crocodilos,
os tigres, os leões, os escorpiões? Por que há tantos tipos de venenos na criação? (...)
O que fazer com as roupas caras? Queimá-las ou jogá-las no fundo do mar. Se a
consciência não permitir, vendê-las e doar o dinheiro para quem necessita. Seja um
mordomo fiel; depois de prover os de sua casa do necessário para uma vida em
santidade, alimente o faminto, vista o desnudo, atenda o enfermo, ao preso e ao
estrangeiro. Assim, Deus lhe vestirá com glória e honra. (...) Os metodistas devem ser
exemplo permanente de sabedona e modelo em todas as coisas, grandes e pequenas,
com os olhos postos em Deus e na eternidade.

! 7 de outubro - O Último Sermão ao Ar Livre

O último sermão de John Wesley ao ar livre foi em 7 de outubro de 1790,


em Winchelsea. Valeu-se de Mateus 3.2: “O reino de Deus está próximo.
Arrependam-se e creiam no Evangelho”. Estava com 87 anos de idade e sua voz
continuava firme. A sombra de uma grande árvore e cercado por uma multidão
de ouvintes reverentes, pregou a Palavra de Deus e, de acordo com um dos
presentes, “as lágrimas do povo cornam torrencialmente”. O primeiro sermão
seu, por sua vez, acontecera em Io. de abril de 1739, uma tarde de domingo.
Depois daquele 7 de outubro, Wesley continuou pregando em templos e
salões. No dia 20 de novembro seguinte, planejava pregar em Diss, povoado
vizinho a Scoleton, porém, havia aincuidades para encontrar um salão adequado.
O pastor local dispunha-se a permitir a pregação na sua igreja, mas temia
confrontar-se com o bispo da diocese. Indagado sobre tal possibilidade, o bispo
acedeu e uma verdadeira multidão foi ouvir Weslev.

29i
Em seu Journal\ registra que aquela era uma das maiores igrejas do condado
e, certamente, nos últimos cem anos, nunca estivera tão' repleta. Nos dois dias
seguintes, pregou em St. Edmunds Bury, a uma congregação bastante atenta. De
volta a Londres, no domingo, pregou pela manhã, na igreja de Spitalfields, com
base em Efésios 6.11-13 e, à tarde, na Catedral de St. Paul, em Shadwell. Citando
Lucas 10.42, “Só uma coisa é necessária”, revelou o desejo de que muitos ali
tivessem se decidido pela melhor, Jesus Cristo.
Wesley prosseguiu com suas pregações e suas cartas. Em Io. de janeiro de
1790, admitiu: “Agora estou velho, decadente da cabeça aos pés. Meus olhos estão
escurecidos, minha mão direita treme muito, tenho febre quase todos os dias e meus
movimentos são fracos e vagarosos. Entretanto, ainda posso pregar e escrever”.
.Na carta ao rev. Ezekiel Cooper, de Filadélfia, Estados Unidos (1°./
fev./1791), recomenda que os desejosos de lhe escrever não deviam perder
tempo, porque o dele estava chegando ao fim. Agradecia profundamente a
Deus por não ter sentido as enfermidades próprias da velhice até os 86 anos de
idade. Só um ano e meio antes suas forças começaram a fraquejar e a vista ficou
irregular. Entretanto, continuava escrevendo e caminhando devagar. Avaliava
não conseguir fazer aquilo tudo não fossem as orações intercessórias dos irmãos.
Sua penúltima carta (21/fev./1791) foi endereçada a John Ogilvie e esposa,
que tinham perdido um filho pequeno. Confortou o casal e planejou visitá-los
na primavera. Dois dias depois, fez seu último sermão, no salão de júri, em
Leatherhead, sobre o texto “Busque ao Senhor enquanto se pode achar”.

8 de outubro - Uma Nova Barnabé

Em 8 de outubro de 1748, Sarah Peters, cristã que poderia tranquilamente


receber o adjetivo de Barnabé, homem bom e cheio do Espírito Santo e de fé
(At ü.24), pois aprendera a viver com uma só refeição para poder oferecer
mais aos que nada possuíam, dirigiu-se com um acompanhante ao presídio de
Newgatç, a pedido do prisioneiro John Lancaster. Caminhou até a ceia indicada,
contrariando recomendações contrárias, dado o perigo de contrair urna febre
pestilenta epidêmica entre os prisioneiros.
Conversou com John Lancaster, fez algumas exortações e, em seguida,
convidou outros prisioneiros a participar da reunião. Entre eles, seis ou sete
condenados à morte seriam dentro em pouco executados. Sarah ensaiou um hino,

292
^ ; leu um pequeno trecho do Novo Testamento e .orou por todos eles. Antes do
:: final, todos choravam, como vidos pela visita divina. Nunca mais ela parou com
tal trabalho - era o seu ministério e os resultados mostravam-se surpreendentes
;; v e extraordinários.
A Numa das primeiras reuniões, John Lancaster, que já dnha contato com o
} Evangelho por meio do metodismo, testemunhou:
Antes de ir ao trabalho metodista na Fundição, jamais havia pensado em freqüentar
Í um lugar como aquele. Desde então, senti o amor de Deus e pensei nunca mais
cometer outro pecado. Mas, pouco tempo depois, deixei de assistir a pregação
e todos os meus bpns desejos se esfumaram. Caí de novo nas diversões que tinha
deixado de lado e voltei às antigas amizades. Um dia, enquanto jogava cartas com
alguns amigos, um jovem amigo me deu parte do dinheiro recebido pela venda de
objetos roubados. Após constante insistência, forçou-me a me tornar seu sócio.
Continuamos naquele caminho até agosto passado. A caminho da casa de
Bartholomew Fair, veio-me à mente a idéia de roubar os candelabros da Fundição,
a casa de pregação metodista. Trepei pela parede e peguei dois candelabros, Tremia
bastante e fiz tanto barulho que pensei que os seus moradores estivessem mortos,
pois, do contrário, teriam me ouvido. Dias depois roubei uma tela de seda, pela qual
fui preso, julgado e condenado.
Sarah Peters tentou de todos os modos o perdão para Lancaster e para
) alguns outros prisioneiros. Foi infatigável. Apresentou inúmeras petições e foi
j; pessoalmente a Westminster, Kensington e todo lugar que lhe indicassem. Era
| uma cristã boa, cheia do Espírito Santo e de fé.

I 9 de outubro - Uma Obra Maravilhosa


'è.
ripós sua primeira e extraordinária experiência de atendimento aos
encarcerados, Sarah Peters passou a visitar regularmente a prisão de Newgate,
exortando e orando com os prisioneiros e sentindo-se feliz ao perceber que eles
mostravam-se sedentos de Deus. Examinava atenta e minuciosamente o estado
da alma de cada um deles, conversando e fazendo-lhes perguntas a respeito
da Ada espiritual, O primeiro a ser questionado foi John Lancaster, que deu o
seguinte depoimento:
Dou graças a Deus, pois sinto que Ele me perdoou. Quando vocês me visitaram pela
primeira vez, eu estava em grande temor e sofrimento. Mas, hoje de manhã, orava
diligentemente e, justamente quando o relógio da igreja de St. Paui tocou 5 horas, o
Senhor derramou em minha alma uma paz que jamais havia sentido. Desde aquele
momento não senti mais temor pela morte. Agorsusei que estou seguro, que tão logo
minha alma fique livre desse corpo, o Senhor Jesus estará pronto para levá-la à glória.

Chegou, finalmente, o dia da execução. Fugindo às regras e mediante


a intervenção de Sarah Peters, que conversou com a direção do presídio, os
prisioneiros conseguiram a permissão para passar juntos, orando, a última noite
de suas vidas. Por volta das 6 horas da manhã seguinte, Sarah estava lá, pronta
para apoiá-los naquele momento dramático. Ao vê-la, correram na sua direção,
chorando emocionados. Depois de abraçarem-na, revelaram: “Que noite feliz
tivemos! Bendita manhã essa! Quando chegará a hora tão esperada, quando
nossas almas serão postas em liberdade?!”. Quando o carcereiro lembrou-lhes:
“Hoje é o dia de vocês morrerem”, responderam: “Boa notícia, boa notícia!”.
John Lancaster foi o primeiro a se apresentar. Suas palavras confirmaram a
obra maravilhosa de Deus em sua vida: “Bendito seja o dia em que vim para esse
lugar! Oh! que trabalho glorioso fez o Senhor, levando minha alma desde que
cheguei aqui!”. Os demais companheiros de fé, que também seriam executados,
convidou para que se unissem a ele numa oração de louvor e gratidão ao Senhor:
“Oh, que minha língua possa louvar da forma apropriada. Meu coração é como
fogo em recipiente fechado. Se eu pudesse contar-lhes a milésima parte das
alegrias que sinto”. A alguém que lhe perguntou se estava triste com aquela
situação, replicou: “Não a mudaria por dez mil mundos”.

10 de outubro - Procurando Salvar a Alma

Na carta ao rev. John Burton (10/out./1735), John Wesley explica as razões Q


de sua decisão pelo trabalho evangelístico na América:
O motivo principal, ao qual todos os outros estão subordinados, é a esperança
de salvar minha alma. Espero aprender o verdadeiro sentido do Evangelho de
Cristo pregando-o aos pagãos. Eles não possuem comentários que interpretem
erroneamente o texto, nenhuma filosofia vã para corromper-lhes, nem interpretes
luxuosos, sensuais, cobiçosos que suavizem suas duras verdades, que reconciliem ' V
uma mentalidade mundana com a fé, o Espírito de Cristo com o espírito do .. vA
mundo. Não têm partido, não servem a nenhum interesse, e, portanto, mostram- A
se aptos a receber o Evangelho em toda a sua simplicidade. São como crianças 'ri
pequenas, humildes, desejosas de aprender, ansiosas por fazer a vontade de Deus. • J
Conseqüentemente, saberão se cada doutrina que prego é de Deus ou- não. Deles
espero aprender a pureza da fé dada aos santos, o sentido genuíno e o pleno
alcance das leis que ninguém com uma mentalidade mundana pode entender. (...)
Espero aprender o que significa amar meu próximo como a mim mesmo, e sentir o
poder desse segundo morivo para visitar os pagãos, o desejo de compartilhar com eles
o que tenho recebido, o conhecimento salvador do Evangelho de Cristo. Não é dado
a mim, que tenho sido grande pecador desde a minha juventude, e que sigo carregado
de cobiças néscias e daninhas, esperar de Deus a realização de coisas tão grandes pelas
minhas mãos. Mas estou seguro de que se eu mesmo estiver convertido, Ele me usará
para fortalecer meus irmãos e pregar seu nome entre os gentios, para que nos confins
da terra vejam a salvação de nosso Deus.

A opinião ingênua e romântica de Wesley a respeito dos indígenas é parecida


com a de Manoel da Nóbrega, primeiro missionário jesuíta a se instalar no Brasil,
na primeira metade do século XVT, considerando-os tábula rasa, folhas em
branco, prontos a receber qualquer inscrição, e com as idéias que, décadas mais
tarde, seriam proclamadas por Rousseau. Essa primeira impressão de Wesley se
modificou rapidamente. Ainda a bordo do navio Simmonds, depois do primeiro
contato com um grupo indígena, descobriu terem “idéias preconcebidas” e não
serem criancinhas ávidas e prontas a receber o Evangelho. Tomo-chachi, chefe
dos Greeks, cujo pai fora morto pelos espanhóis, pois recusara-se a ser batizado,
demonstrou a Wesley a esperança de ouvir a “Grande Palavra”, mas preveniu
que os comerciantes franceses, espanhóis e ingleses já haviam provocado grandes
escândalos e confusões, fazendo com que muitos se negassem a ouvi-la novamente.

11 de outubro - Debatendo o Assunto Escravidão

Em carta a Granville Sharp (ll/out./1787), líder na luta contra o tráfico de


escravos, John Wesley destaca que, desde a primeira vez que ouviu falar daquele
horrível comércio, sentiu muito ódio, aumentado ainda mais ao ler o texto de
Sharp, com informações detalhadas sobre tal situação,
O mínimo que posso fazer é utilizar minha influência no sentido de ajudar o
desenvolvimento do plano glorioso da sua sociedade. Deve ser ura consolo para
toda pessoa humanitária observar o espírito com o qual você tem trabalhado
até agora. Verdadeiramente, você não pode seguir adiante sem tomar uma
determinação mais. forte que a comum, considerando a oposição com a quai terá
de se enfrentar. Encontrará peia frente toda oposição que possa ser feita por
pessoas sem consciência, honra ou humanidade, apressadas per fasque m uísque-
utilizando todos os meios possíveis para alcançar lucro, sua deusa suprema. A
menos que estejam obcecados, não pouparão dinheiro para promover sua causa.
E você pode estar seguro que essas pessoas se aproveitarão de todos os possíveis
argumentos contra você e os aumentarão. Estou preocupado com a possibilidade
de se queixarem da forma com que você consegue as informações. Contratar
e pagar informantes não é uma boa idéia e podem surgir inumeráveis problemas
contra os quais não poderá se defender. Não vale a pena deixar de usar esse método
e contentar-se çom as informações obtidas por meio de fontes mais honrosas?
Afinal de contas, a decisão será feita na base da seguinte questão: serve o mercado de
escravos aos interesses da nação? E aqui há necessidade de considerar a multidão de
marinheiros que morrem nesse comércio. Que consolo é considerar em todas essas
dificuldades que há um Deus! E que, apesar de os seres humanos não pensarem nisso,
Ele todavia tem todo o poder, tanto no céu como na Terra! Encomendo a Deus a sua
vida e a sua gloriosa causa.

12 de outubro - Regras para Educar Filhos

John Wesley solicitou que sua mãe lhe enviasse as principais regras utilizadas
por ela na educação dos filhos. Em resposta, Susanna Wesley lhe escreve:
As crianças eram sempre colocadas em uma rotina de vida, em tais coisas de que
fossem capazes, como trocar de roupa, mudar a roupa de cama etc. (...) Quando
completavam uni ano (algumas ainda antes), eu lhes ensinava a temer a vara e a chorar
suavemente. Por esse meio, escapavam de muitas correções, que de outra maneira
poderiam ter recebido, e raramente se ouvia na casa o barulho de choro de crianças.
A família vivia em grande silêncio, como se não tivesse nenhuma criança entre nós.
Assim que chegavam a ser suficientemeqte fortes, eu limitava em três refeições diárias.
Durante a refeição, as pequenas mesas e cadeiras eram colocadas ao lado da nossa, num
lugar onde pudessem ser vigiadas. Tão logo conseguiam manejar a colher e o garfo,
sentavam-se em nossa mesa. Nunca lhes permiti escolher alimento diferente dos demais;,
sempre fiz com que comessem a mesma comida destinada ao restante da família. (...)
Às 6 horas da tarde em ponto, tão logo terminavam as orações familiares, os meninos
tinham o seu alimento. Às 7 da noite, a empregada os preparava para dormir e, às
8 horas, todos ia estavam deitados. (...) Em nossa casa não era permitido alguém
ficar ao lado da criança até que adormecesse. As crianças estavam tão acostumadas
a comer e a beber o que lhes era dado que quando qualquer uma delas estava
enferma não era difícil fazer com que tomasse o remédio mais desagradável. (...)
Para formar a criança, primeirameníe deve-se subjugar sua vontade e criar nela
um sentimento de obediência. Desenvolver o intelecto é uma tarefa que leva
tempo e exige proceder de forma lenta e gradual, de acordo çom a capacidade

236
de assimilação. Mas a submissão da vontade é algo a ser feito de imediato -
quanto antes, melhor. Quando há descuido e não se corrige a criança no devido .
tempo, eia fica teimosa e obstinada. O mundo considera bondosos os pais que
não corrigem e indulgentes os pais que eu chamo de cruéis, porque permitem
a seus filhos adquirir hábitos que mais tarde precisarão ser corrigidos. (...)
Insisto sobre a importância de conquistar a vontade da criança desde cedo, pois essa
é a única base forte e racional para uma educação religiosa. Sem ela, os preceitos
e exemplos não terão efeito. Quando feita conscientemente, a criança é capaz de
ser governada pela razão e piedade de seus pais, até que seu próprio entendimento
amadureça e os princípios de religião tenham se arraigado em sua mente. (...)
Vocês foram ensinados mui cedo a distinguir entre o domingo e os outros dias,
antes de poderem andar ou falar bem. Igualmente cedo foram ensinados a ficar
quietos no culto doméstico, a pedir bênção e permissão para ajoelhar-se ou falar.
Fizemo-nos entender logo que não teriam nada pelo que chorassem e os
instruímos a pedir elegantemente o que queriam. Não permitimos que pedissem,
nem mesmo para a mais humilde serva, sem dizer, “Por favor, dê-me tal coisa”.
E a serva era repreendida se os permitisse omitir o “por favor”, Tomar q nome
do Senhor em vão, blasfemar, praguejar, obscenidade, profanidade, xingamentos
- tais coisas nunca se ouviam entre vocês. Nem lhes era permitido chamar-
se um ao outro pelo nome próprio, sem acrescentar “irmão” ou “irmã”.
Ninguém foi ensinado a ler antes dos cinco anos - menos Kezzy, em cujo caso minha
opinião não foi respeitada e eia levou anos para aprender o que os outros filhos o
fizeram em meses. O método de ensino era o seguinte: um dia antes de a criança
começar a aprender, a casa era posta em ordem, cada um com a sua tarefa designada.
Ninguém podia entrar na sala, das 9 às 12 da manhã ou das 2 às 5 da tarde, que,
como sabes, eram nossos horários escolares. (...) O mesmo foi observado com todos
os filhos: tão logo sabiam as letras, eram postos primeiro a soletrar e ler uma linha,
depois um verso, e nunca o abandonavam até lê-lo com perfeição na sua lição, curta ou
longa. (...) Não se admitia falar alto ou brincar durante as seis horas de escola. É quase
incrível o que se pode ensinar a uma criança em um trimestre, por vigorosa aplicação,
se ela tem apenas regular capacidade e boa saúde. (...) Havia diversos regulamentos
observados entre nós que esqueci, do contrário, os teria inserido no seu lugar próprio.
Menciono-os aqui, por julgá-los úteis:
1. A covardia e o temor da punição induzem frequentemente a criança à mentira, até
que se acostume a eia e não possa mais deixá-la. Por isso, criamos uma lei que, se
o acusado de uma falta a confessasse abertamente e prometesse se emendar, não
sena açottacío; ( . . . )
2. Nenhum ato pecaminoso, como mentira, roubo, brincadeira na igreja ou no dia
do Senhor, desobediência, rixa etc. passava impune;
3. Nenhuma criança era repreendida ou açoitada duas vezes pelo mesmo delito e,
caso se emendasse, nunca mais era censurada por causa dele;

297
4. Cada notável ato de obediência, especialmente quando contrariasse suas próprias
inclinações, era sempre elogiado e freqüentemente recompensado, conforme o
mérito da causa;
5. Sempre que uma criança fizesse um ato de obediência ou qualquer coisa com a
intenção de agradar, mesmo que a performance não fosse perfeita, a obediência
e a intenção seriam bondosamente aceitas e a criança, com toda a ternura, seria
instruída a fazer melhor no futuro;
6. A propriedade era preservada e inviolável, e ainda que tivesse o valor apenas de um
ceitil ou alfinete, ninguém a podia tomar do dono sem seu consentimento, muito
menos contra sua vontade. Como essa regra nunca era inculcada na mente das
crianças, e dada a falta de pais ou governantes para fazê-lo, procede a vergonhosa
negligência da justiça observada no mundo.
.7. Promessas eram rigorosamente cumpridas, e um presente, uma vez dado, e assim
passado o direito do doador, não era reassumido, mas deixado à disposição
daquele ao qual fora dado, a não ser que a doação fosse condicional e a condição
da doação não tivesse sido cumprida;
8. Nenhuma filha era ensinada a trabalhar até que lesse bem, e era mantida no
trabalho com a mesma aplicação e pelo mesmo tempo que na leitura. Essa regra
deve ser observada, pois colocar crianças a aprender a costurar antes de poderem
ler perfeitamente é a raxão de tão poucas mulheres poderem ler suficientemente
bem e merecerem ser ouvidas e bem entendidas.

13 de outubro - Parques e Jardins

John Wesley sempre nutriu grande paixão pela natureza. Nos seus poucos
períodos de descanso, ele visitava parques e jardins, sem falar nas contínuas
viagens pelos verdejantes caminhos da Grã-Bretanha.
Após um passeio pelos jardins das cidades de Stourhead e Cobahm,
na Inglaterra, em 13 de outubro de 1779, ele percorre os famosos jardins de
Stowe, embevecido com a beleza do lugar. Em seu Journal, anota ter avistado
primeiramente a formosa corrente de água fluindo pelos jardins na frente da casa
e se impressionado com os penachos das árvores ao redor. Apesar .da impressão
profundamente favorável, comparando os jardins de Stowe, que acabara de
visitar, com os de Cobham, conclui: “1. o rio de Cobham envergonha os de
Stowe; 2. não há nada em Stowe comparável às sendas próximas da roda, que'
correm rio acima, ao lado de um monte alto, grotesco e silvestre; 3. nada nos
jardins de Stowe pode ser comparado ao grande tempio, o antigo pavilhão, a
gruta ou o edifício à ponta do jardim de Cobham”.

293
Anos antes, em janeiro de 1775, durante a visita ao bem cuidado jardim do
sr. Gordon, em Mile End, observou: “E difícil encontrar em toda a Inglaterra,
e ainda na Europa, um jardim como esse”. Um ano depois (12/set./177ó),
passou algumas horas no jardim do sr. Hoare, em Stourton, descrevendo-o da
seguinte maneira:
Vi os jardins mais famosos da Inglaterra, mas esse supera a todos, pois: 1. localiza-se
na ladeira de um pequeno monte semicircular; 2. possui um vasto ribeirão, que cobre
60 acres de terra; 3. há um agradável intercâmbio de bosques com sombra e pântanos
com sol, curiosamente mesclados. Destacam-se sobretudo as belas grutas, duas das
quais superam todas as que já vi: a gruta da fonte, inteiramente de pedra, imitando
admiravelmente bem a natureza, e a gruta do castelo, onde se entra sem perceber,
debaixo de um monte de ruínas. Tudo construído de raízes de árvores formosamente
entretecidas. Ao lado há uma pequena ermida, com uma lâmpada, uma cadeira e uma
mesa onde estão colocados ossos.

14 de outubro - A Grande Viagem

No dia 14 de outubro de 1735, John Wesley, seu irmão Charles e dois


membros do Clube Santo — Benjamim Ingham e Charles Delamotte, filho de
um comerciante de Londres - começam a viagem à Geórgia. Como relata John
Wesley, seu objetivo não era evitar privações ou ganhar riquezas e homenagens,
mas “salvar nossas almas, viver plenamente a glória de Deus”. Dias antes de
partir, admitiu o que esperava encontrar na América: “Meu principal motivo
é a salvação da minha própria alma. Espero aprender o verdadeiro sentido do
Evangelho de Cristo ao pregá-lo aos pagãos. (...) Não posso esperar de alcançar
aqui o grau de santidade. Lá, será possível”.
Duas outras pessoas desejaram em vão realizar a viagem: Westley Hall,
cunhado de Wesley, pouco antes da saída do navio, foi informado de uma
nomeação e acabou desistindo, e Mattew Salmon, amigo dos irmãos Wesley,
desistiu no último minuto, no momento do embarque. A viagem durou
bastante, quase quatro meses, até 5 de fevereiro de 1736, tempo adequado a
sérias reflexões. Durante a viagem, em 3 áe novembro, os quatro missionários
decidiram subscrever um documento norteador do seu trabalho:
Nós, abaixo-assinados - plenamente convencidos da impossibilidade de promover a
obra de Deus entre os pagãos sem que haja a mais completa união entre nós, ou, que
tal umao possa stmoistir sem c;ue cada um ceda o seu juízo inmviGtiax ao na maioria

299
- concordamos,- Deus nos ajudando: 1. que nenhum de nós empreenderá qualquer
coisa importante sem primeiro propô-la aos outros três; 2. que quando os nossos
pareceres discordarem, qualquer um cedera o seu ]ui20 singular a determinação
dos outros; 3. caso haja empate, depois de pedir a direção de Deus, o negócio será
decidido pela sorte.

O retorno à Inglaterra ocorreu em de2embro de 1737. Em seu Journal (J2AI


jan./1738), Wesley resume a experiência: “Fui à América para converter os
índios, mas quem me converterá? Passaram-se dois anos e quatro meses desde
que deixei a minha pátria nativa para ensinar os índios da Geórgia a natureza
do cristianismo. Porém, eu mesmo, o que tenho aprendido? Isso, que eu menos
suspeitava: eu mesmo, indo à América para converter outros,, nunca fora
convertido a Deus”.

15 de outubro - Disciplina Necessária

Na viagem à Geórgia, Wesley inicia o seu Journal. Durante a viagem, ele conta
ser muito comum os quatro amigos se exortarem mutuamente a “despojar-se de
todo peso e a correr com paciência a carreira que tinham pela frente” (Hb 12,1).
O despojamento almejado começou bem cedo, com pequenas coisas.
Deixaram de comer carne e tomar vinho, alimentando-se de verdura, arroz e pão,
e reduziram o número de refeições. Por conta de um incidente corriqueiro, John
Wesley foi obrigado a dormir no assoalho. Após essa experiência, reconheceu que
a cama era supérflua, desnecessária, e que dali em diante poderia ser dispensada.
O seu Journal (21/out./1735) traz o relato da rotina do grupo:
Das 4 às 5 da manhã, cada um se dedicava à oração particular. Das 5 às 7 horas,
líamos a Bíblia juntos, cuidadosamente, comparando-a com os escritos antigos. As
7 horas havia o café da manhã e às 8, orações em público. Das 9 às 12, eu estudava
alemão, o sr. Delamotte grego, Charles escrevia sermões e o sr. Ingham ensinava as
crianças do navio. As 12 nos reuníamos para compartilhar o que havíamos feito desde
a última reunião e fazer planos para a próxima. A 1 da tarde almoçavamos e depois
iíamos para os que quisessem ou faiávamos com bastante rigor, de acordo com o
necessário. As 4 da tarde tínhamos orações vespertinas, explicando a segunda lição ou
catequizando as crianças, instruindo-as na presença da congregação. Das 5 às 6 horas,
voltávamos às orações em particular. Na hora seguinte, eu lia em meu quarto a dois
ou três passageiros e cada um de meus irmãos fazia o mesmo com outros tantos em
seus quartos. Às 7 da noite, unia-me aos alemães em seu culto público, enquanto o
sr. Ingham lia a todos que desejassem escutar. Em seguida, nos'reuníamos outra vez

300
para exortar-nos e Instruir-nos uns aos outros. Entre 9 e 10 da noite, deitávamos, pois
nem o ruido do mar nem o movimento do barco podiam tirar o sono tranqüilo que
Deus nos dava.

16 de outubro - O Caminho do Coração

Para as milhares de pessoas que, por carta, procuravam sua orientação, John
Wesley costumava contar alguma experiência de sua própria jornada. A Mary
Cooke, em outubro de 1785, ele confessa:
Muitos anos atrás, quando alguém descreveu-me o glorioso privilégio de um crente,
exclamei, “Se é assim, eu não tenho fé. Habes fidem, sed exiguani’ (Tenha fé, ainda que
débil). O mesmo digo a você, estimada amiga. Você tem fé, mas é somente como um
grão de mostarda. Conserve a fé que tem, ainda que ela seja do tamanho de um grão
de mostarda. Conserve a que tem e peça o que necessita.
Para alguns, ele deixa de lado o rigor teológico e adota um tom mais familiar,
íntimo e condescendente, por exemplo, no texto endereçado a William Green
(out./1789): “Pregar a salvação pelas obras é um erro, mas ele não significa o
mais terrível do mundo. Duvido que tal erro alguma vez tenha levado uma pessoa
à condenação. Duvido que qualquer pessoa que busca sinceramente obedecer a
Deus morrerá antes que Deus lhe indique o verdadeiro caminho da salvação”.
Essa preocupação de buscar a essência e fugir dos malabarismos teológicos
e doutrinários é uma constante em suas cartas, como na remetida à sra. Bennis
(25/jul./1767):
A parte essencial da santidade cristã é dar q coração completamente a Deus; e
certamente não se pode perder nenhum grau da luz e do amor que a acompanha no
princípio. Se a perdemos é por noosa própria debilidade, não pela vontade do Senhor
sobre nós. Seu negócio presente não é refletir se deveria chamar sua experiência
assim ou assado, mas ir diretamente Aquele que a ama, com todos os seus desejos,
não importando quão grandes ou quantos sejam. Então, todas as coisas estarão
preparadas. A ajuda se dá quando se pede. Somente há como recebê-la mediante uma
fé simples e sincera.

Wesley é lucidamente honesto e de forma alguma procura despertar falsas


ilusões nos fiéis. Faz questão de registrar que ser cristão não significa obter
qualquer tipo de imunidade ou privilégio. Ainda para a sra. Bennis, escreve:
“Continuará, sem dúvida, assediada por enfermidades sem conta, pois. vive

301
I
em uma casa de barro”. Para confortá-la, podería repetir o sermão feito em
31 de janeiro de 1767, sobre Deus nunca abandonar ninguém, a não ser que
abandonado primeiro e, apesar das provações, cada crente poder ser feliz e andar
na luz todos os dias de sua vida.

17 de outubro - A Importância da Disciplina

No sermão A vinha do Senhor (17/out./1787), baseado em Isaías 5.4, John


Wesley destaca a importância da disciplina como uma das ajudas espirituais
derramadas por Deus sobre a sua vinha.
Os metodistas são pessoas privilegiadas, pois dispõem de um modelo de disciplina
extremamente simples e racional, totalmente fundamentado no bom senso e nas
Escrituras. São normas disciplinares que qualquer pessoa disposta e decidida a
salvar sua alma poderá cumprir, sem maiores dificuldades. Tal disposição deve
ser demonstrada de três maneiras; apartar-se de todo pecado, fazer todo o bem
ao seu alcance e cumprir os mandamentos de Deus. Depois da primeira decisão,
a pessoa é integrada a um grupo, com o qual se reunirá semanalmente por
uma hora. Após três meses, se não houver nada a objetar em sua conduta, ela
é admitida como membro da sociedade. A partir dai, poderá continuar, com a
condição de reunir-se com seus irmãos e viver de acordo çom a fé que professa.
As celebrações ocorrem às 5 horas da manhã e às 6 ou 7 da tarde, de modo a
não interferir no horário de trabalho. Só aos domingos começam às 9 ou 10 da
manhã e finalizam compartilhando a Ceia do Senhor. A sociedade se reúne aos
domingos à tarde, tendo o cuidado de terminar cedo para que aqueles que tenham
família disponham de tempo para instruí-la. Uma vez por trimestre, o pregador
encarregado de cada circuito examina cada membro da sociedade. Desse modo,
se há alguém cuja conduta é reprovável, o que é de se esperar num grupo tão
numeroso, são tomadas medidas para livrar a sociedade do pecado ou do pecador.
Nos casos em que se considera necessário expulsar um membro por Gausa de má
conduta, isso se faz com a maior reserva e do modo menos grave. Simplesmente não
se renova sua cédula de membro durante a visita trimestral. Quando a falta cometida
é grande e existe o risco de escândalo público, pode-se achar indispensável o anúncio
na presença dos demais membros: “A.B. já não pertence à nossa sociedade”. Acaso
há aigo mais racional ou bíblico que essa simples disciplina, que pode ser cumprida
do princípio ao fim sem ocasionar problemas, gastos ou demora?

302
18 de outubro - Enfrentando Desafios

John Bennet foi um dos pregadores itinerantes de Wesley. Admitido em 1747,


trabalhou em Derbyshire, Cheshire e Lancashire, permanecendo no metodismo
um curto período, cinco anos, até 1752.
A convite de John Bennet, Wesley viajou a Rochdale, em Lancashire, em
18 de outubro de 1749. A recepção foi a pior possível, como relata Wesley em
seu Journal. As ruas estavam repletas de pessoas que gritavam, amaldiçoavam,
blasfemavam e rangiam os dentes contra eles. Percebendo a imprudência de um
culto ao ar livre, que podería ser entendido como provocação, Wesley se dispôs a
fazer a pregação num amplo salão vazio. Citando Isaías 55.7, “Deixe ao ímpio o
seu caminho e ao iníquo os seus pensamentos”, proclamou a Palavra de Deus e,
na medida em o sermão avançava, mudanças visíveis ocorriam naquelas pessoas.
Segundo Wesley, durante todo o culto a atenção foi total, não havendo qualquer
tipo de interrupção ou oposição. Quando, mais tarde, ele e Bennet atravessaram
a cidade, a mudança de comportamento das pessoas era nítida, sem nenhum
protesto contra eles.
Em seguida, Wesley dirigiu-se a Bolton. Ao chegar à rua principal, por volta
das cinco da tarde, deu-se conta de que os “leões de Rochdale eram ovelhas perto
dos de Bolton”. O furor da massa era maior e mais perigoso. Vendo aquelas
pessoas ensandecidas, percebeu muito ódio, raiva e amargura, como nunca antes
havia visto. Atingindo a residência onde seria hospedado, foi acossado por um
grupo, que gritava com bastante violência, e percebeu manifestantes por todos
os lados, bloqueando todas as suas entradas.
A primeira agressão física foi desferida contra Edward Perronet, que saiu
da casa, imaginando que nada lhe ocorrería. Foi agredido e derrubado. Logo,
Bennet advertiu os revoltosos de que estavam combatendo contra Deus. David
Taylor, outro pregador metodista, dirigiu-se à multidão com palavras tranquilas
e suaves. Wesley foi ate as pessoas, pediu uma cadeira e sentou-se. Ele conta que
o vento havia parado de soprar e tudo estava tranqüiio. Seu coração estava cheio
de amor, seus olhos de lágrimas e a boca de palavras. As pessoas se mostraram
assombradas, envergonhadas e devoravam cada palavra sua. A mudança foi
maravilhosa. Todos os presentes e muitos outros que foram aparecendo ouviram
a Palavra de Deus.

303
19 de outubro - Ajudando a Construir

O modelo conexional sempre foi uma das marcas básicas do metodismo.


Em suas cartas, John Wesley procurava constantemente estimular a
solidariedade entre as diversas sociedades. Em meados de outubro de 1776,
escreve aos membros e amigos das sociedades metodistas, solicitando sua
colaboração financeira:
A sociedade em Londres tem prestado ajuda a seus irmãos em vários lugares
da Inglaterra. Assim tem feito por mais de 30 anos, de forma alegre e generosa.
No primeiro ano da coleta para a dívida geral, recolheram-se 900 libras
esterlinas; no ano seguinte, 300 libras, e um pouco menos nos anos posteriores.
Atualmente, são eles que precisam de ajuda. A Fundição e todas as casas
adjacentes serão derrubadas e a cidade de Londres já ofereceu terreno para
a nova construção, com condição de que tenhamos fundos suficientes para a
obra. Ocorre que, com as casas grandes na frente e a nova capela, o valor da
construção chegaria a mais de 6 mil libras esterlinas, de acordo com estimativa
mínima. Por essa razão, rogo a cooperação de todos oS irmãos. Está na hora
de ajudar a sociedade-mãe, que tem auxiliado a todos com generosidade e boa
vontade por tantos anos. Trata-se de uma gentileza que farão a mim, e será a
minha última solicitação dessa natureza. Reúnam tudo o que puderem até c
» Natal ou o próximo Dia da Anunciação.

O mesmo assunto é tratado em outra carta sua (25/mar./1780) às


sociedades metodistas;
Nos últimos meses, os metodistas têm pregado num salão em Delph, em
Saddleworth, no condado de York (os pregadores itinerantes têm vindo a cada
duas semanas de Manches ter, além dos pregadores locais, ocasionalmente aos
domingos) No verão passado, multidões assistiram as pregações nesse salão,
onde não havia espaço suficiente para todos, além de que a sociedade tem
crescido rapidamente, com grande probabilidade de poder dar-se muito bem
nesse lugar. Portanto, faz-se necessária a construção de uma capela..em Delph
(.,.). O custo, de acordo com o projeto já realizado, será muito maior do que a
sociedade local pode arrecadar e, por isso, eia pede o nosso consentimento para
solicitar às nossas sociedades contribuições dos amigos que voluntariamente
promoveríam a construção. Essa carta certifica a aprovação da medida e
recomenda o mesmo aos amigos cristãos em todos os lugares, com a esperança
de que eles alegremente contribuam.

304
20 de outubro - O Leão Convertido em Carneiro

As perseguições sempre foram bastante comuns no ministério de Wesley.


Na tarde de 20 de outubro de 1743, em Wednesbury, após ter pregado a uma
pequena e atenta congregação pela manhã, ouviu gritos de uma multidão
rodeando a casa e gritando: “Tirem o ministro!”. Decidiu interromper os seus
escritos e conversar com o líder dos arruaceiros.
Poucos minutos depois o leão havia se convertido em cordeiro. Como lá
fora o barulho continuava, Wesley solicitou que dois dos mais exaltados também
fossem introduzidos à casa. Também em dois minutos, “aqueles antes dispostos
a tragar a terra agora estavam tranqüilos”. Notando que os principais líderes
já haviam sido conquistados, começou a expor sua opinião ao grupo, que não
aceitava a sua pregação do Evangelho no local. Ficou acertado que o juiz da
cidade deveria tomar a decisão final.
Wesley registra em seu Journal que um grupo grande, de 200 a 300 pessoas,
o acompanhou à delegacia e uma delas expôs ao juiz Lane o problema: “Essa
gente de Wesley canta salmos o dia inteiro e faz as pessoas levantarem-se às 5 da
manhã. O que nos aconselha o senhor?”. A resposta do magistrado foi lacônica:
“Voltem para casa”.
Mais tarde, outra turma fez idêntica investida contra a residência onde
Wesley se hospedava, mas com violência bem maior. Alguns entram na casa
e o arrastam pelo cabelo. Conseguindo desvencilhar-se, refugiou-se numa
loja. O dono, preocupado em defender a propriedade, pediu que ele saísse.
Wesley compreendeu a dramaticidade da situação e, buscando ajuda em
Deus, começou a orar em voz alta. O chefe do grupo, tocado pela oração,
recobrou-se: “Senhor, lhe darei a minha vida. Siga-me e ninguém mais tocará
num fio de cabelo seu”.
Assim ele foi salvo da multidão enfurecida. Ele avalia a difícil experiência,
concluindo nunca antes ter visto tal cadeia de providências, provas convincentes
de que a mão de Deus sempre está sobre cada pessoa. Apesar da gravidade da
situação, sentiu desde o início a mesma confiança e tranquilidade que possuía
quando estava em seu próprio escritório. Apenas se preocupou ao imaginar
que podería ser atirado ao rio e perderia os papéis em seu bolso. Sabia nadar

305
e poderia atravessar a correnteza com facilidade. O problema seria perder suas
anotações. No final das contas, a perda fora mínima, apenas um pedaço do jaleco
e uma folha de papel que trazia nas mãos.

21 de outubro - Confusões Amorosas

John Wesley relata em seu Journal experiências de todos os tipos. No dia 21


de outubro de 1782, conta a história triste de uma mulher que, abandonada pelo
pretendente, não resistiu à decepção e morreu do coração.
Ele estava em Tunbridge Wells, em sua viagem missionária, quando leu
a respeito do episódio, O sr. H., pouco depois da morte da primeira esposa,
passou a demonstrar interesse pela srta. B., com quem havia tido grande amizade.
A aproximação foi feita com muita insistência, contando com inumeráveis
declarações de afeto. A mulher acabou conquistada pelo dom-juan, que, com
sérias intenções, comprou o anel de noivado e marcou a data do casamento.
Impaciente com a proximidade do enlace, a noiva cuidava da preparação do
enxoval, quando, certo dia, extremamente nervoso, o noivo confessou que não
a amava mais e, portanto, desistia do casamento. Durante uma hora o noivo
plantou-se à sua frente, justificando a decisão.
A noiva, sobrinha de Vincent Perronet, foi consolada por parentes e amigas
e não demonstrava estar sofrendo muito. Entretanto, três dias mais tarde, após
uma violenta dor no peito, faleceu. Um dos ventriculos de seu coração havia
rebentado. Ela literalmente morreu com o coração partido.
Wesley relata que a reação de Vincent Perronet, chamado “arcebispo do
metodismo”, foi muito interessante. Quando soube que sua sobrinha favorita,
esperança de sua velhice, estava morta, irrompeu em louvor e ação de graças a
Deus, que havia “levado desse mundo cruel” outro de seus filhos.
Apesar do clima ruim entre os amigos e parentes da moça, todos se
convenceram de que o noivo não era culpado, de que agira com retidão, evitando
um casamento infeliz. Concluíram que ninguém poderia ter previsto aquele
desfecho dramático, O próprio Wesley, lembrando sua experiência tomai,
poderia, quem sabe, ter evitado os aborrecimentos do seu casamento, se tivesse
possuído o discernimento e a coragem daquele noivo. Certamente teria evitado
muitos aborrecimentos.

306
22 de outubro - Agenda Apertada

A agenda de John Wesley, em Londres, no dia 22 de outubro de 1786, um


domingo, estava bastante apertada. Pregar pela manhã e à tarde na igreja de
West Street e, à noite, na Igreja de Todos os Santos. Com os templos repletos,
os cultos foram extraordinários e os mais abençoados de todas as ocasiões em
que lá estivera.
Na terça-feira seguinte, reunido com as classes em Deptford, surgiu um
tema comum em quase todas as reuniões, a separação da Igreja Anglicana.
Uma pessoa sugeriu que a maioria dos membros daquela sociedade exigia
que o culto passasse a ser realizado no mesmo horário do da Igreja Anglicana.
Wesley ouviu pacientemente e respondeu não aceitar a imposição, pois uma
medida como aquela representaria uma declaração formal de rompimento
com a Igreja Anglicana. Enquanto vivesse, não admitida alterações naquele
sentido. Até então, sempre fora regra entre os metodistas que os cultos
da manhã e da noite, em toda a Inglaterra, se realizassem em horários que
não interferissem nos cultos da Igreja Anglicana. O objetivo era permidr
aos interessados participar de ambos. Qualquer proposta de mudança de
horário provocaria inevitavelmente a separação. A alteração era inoportuna
e totalmente ilegal.
O texto Os profetas e os sacerdotes (maio/1789) explica que o metodismo
significa algo çompletamente novo, preparado por Deus ao mundo, nunca visto
em qualquer comunidade cristã. Na história da Igreja são comuns os grupos
fechados, intransigentes, prontos a admitir ápenas pessoas que compartilhem das
mesmas opiniões e práticas. De acordo com Wesley, o metodismo é diferente,
não se tratando de uma seita ou de um partido:
Continuaremos recebendo como irmão, irmã ou mãe toda pessoa que ame a
Deus, não importando a igreja à qual pertença. Para nos sentir unidos a eias não
é necessário que pensem do mesmo modo que nós, ou adorem a Deus da mesma
maneira que nós, mas, simplesmente, que temam ao Senhor e pratiquem a justiça
(Át 10,35). Essa é a única condição, o único pré-requisito para fazer parte do
movimento metodista: viver no temor do Senhor e ser praticante da justiça. Não
há, em qualquer lugar do mundo, outra comunidade com essa gloriosa característica
do metodismo. Não somos uma seita ou um partido. Recebemos qualquer pessoa
de qualquer grupo que “pratique a justiça, ame a misericórdia e ande humildemente
com Deus” (Mq 6.8).

307
Wesley assegura que uma das razões pelas quais Deus permite o
prolongamento de sua vida é o fato de ele continuar reafirmando o propósito
de não separação.

23 de outubro - Lutando Contra o Inimigo de Deus

Experiências de exorcismo foram comuns no ministério dos irmãos Wesley.


Entre elas, há um relato interessante sobre o ocorrido na noite de 23 de outubro
de 1739, uma terça-feira. Naquela manhã, John pregou sobre “o espírito da
natureza, da escravidão e da adoção” para uma animada multidão de 3 mil
pessoas, em Bearfield. Ao regressar do culto, sentiu muita vontade de visitar
Sally Jones, em Kingswood.
John Wesley faz o relato do acontecimento, destacando que cada pessoa
tem o direito a seu próprio julgamento sobre o assunto. A noite, foi ver a moça
de 19 ou 20 anos de idade e aparentemente analfabeta. Na casa dela havia um
grupo de irmãos e a jovem estava deitada na cama, com duas ou três pessoas
mantendo-a segura e imobilizada. A cena era terrível. No seu rosto pálido e
desfigurado eram visíveis as marcas de angústia, horror e desespero. Apesar da
imobilização forçada, todo o seu corpo se contorcia assustadoramente, indicando
que os cachorros do inferno devoravam o seu coração. Os gritos entremeados
de contorções eram insuportáveis.
Afirmava estar amaldiçoada e perdida para sempre, que não havia chance
de ser ajudada, nem mais nada a fazer, porque agora pertencia ao diabo. Gritava
que tinha se entregado a ele e sua missão era servi-lo. Com ele iria ao inferno e
não havia possibilidade de ser salva. A seguir, começou a orar ao diabo. Naquele
momento, Wesley e o grupo presente começaram a cantar o hino Braço do Senhor,
desperta, desperta, de Charles Wesley. Quase que imediatamente a jovem adormeceu,
assim permanecendo por um curto período de tempo. Quando o grupo se dirigiu
a outro cômodo da casa para continuar a oração, permitindo à jovem descansar,
ela recomeçou com mais violência: “Advirto-os. Rompam-se, pobres corações de
pedra. Não se romperão? Que mais se pode fazer pelos corações de pedra! Vocês
não têm de ser condenados, mas eu tenho”. E fixando os olhos no teto, bradou:
“Ali está ele. Venha, diabo, venha. Leve-me. Disse que esmagaria meu cérebro.
Venha, faça-o rápido. Sou sua. Serei sua. Venha agora mesmo. Leve-me”, Naquela
hora Wesley a interrompeu, clamou a Deus e ela voltou a acaimar-se.

O GO
Outra jovem, Betth Someri, que também estava na casa, começou a gritar tão
forte quanto a outra. A luta continuou até depois das 11 horas da noite, quando
Deus ministrou a paz às duas jovens, que, restabelecidas, cantavam louvores a
Deus, vencedor do inimigo e do vingador (SI 8.2).

24 de outubro - Vida em Perigo

Além das inúmeras quedas de cavalo e de outros acidentes com menores


proporções, John Wesley também correu risco de vida em diversas ocasiões,
Numa delas (24/out./1743), em Ferry, no caminho de Epworth a Grimsby,
fortes chuvas impediam a travessia do rio Trent. Os barqueiros avisaram que
não havia a mínima garantia de o barco chegar com segurança à outra margem.
Wesley sempre foi cuidadoso; longe dele a eventualidade de correr riscos
desnecessários. No entanto, tinha compromissos importantes à sua espera. A
congregação metodista em Grimsby aguardava a sua chegada. Por isso, declarou aos
barqueiros que se eles se dispusessem a fazer a travessia, ele açeitaria encarar o perigo.
Além dos responsáveis pelo manejo do barco, mais algumas pessoas concordaram
com a proposta. Eram seis homens, duas mulheres, além de três cavalos.
Muita gente, preocupada, permaneceu na margem do rio acompanhando os
movimentos do barco valentemente enfrentando a correnteza, os ventos e a forte
chuva. A primeira parte da travessia foi mais tranqüila. Entretanto, bem no meio
do rio, a força das ondas produziu um movimento brusco, adernando o barco
e derrubando pessoas e cavalos, uns sobre os outros. O momento era crítico.
Wesley, esperando que, a qualquer momento, o barco fosse tragado pelas águas,
lembrou-se provavelmente da sua primeira e fatídica viagem marítima, à Geórgia,
quando viveu situação mais dramática ainda. Assustado com a possibilidade de
um desfecho negativo, calculou a distância entre o barco e a margem e percebeu
que teria chance de percorrê-la a nado, em caso de naufrágio.
Ele conta que, além dos passageiros, os barqueiros estavam assustados. Depois
de muita luta, o barco alcançou a outra margem, sem que as pessoas apresentassem
ferimentos mais graves, apenas pequenos arranhões. Todos desembarcaram,
menos Wesley, que não conseguia sair do lugar. Quando o barqueiro foi ajudá-lo
a se levantar, reparou que suas pernas estavam imobilizadas por um pé de cabra.
Ou seja, se tivesse havido a necessidade idí
xv.i.ívvn.V' 'u.tv- ío podería tê-lo feito. Teria
licv

O t r\ A n A r\ nto com
j CLA J (XX \Deu graças a Deus pelo livramento.

3üy
V

25 de outubro - Superando Resistências

A separação da Igreja Anglicana sempre representou um assunto em pauta,


particularmente na década de 1780. John Wesley foi, inúmeras vezes, obrigado
a defender sua posição contrária à separação, como consta na carta a William
Green (25/out./1789),
Para Green, os metodistas não deveriam mais participar dos cultos na
Igreja Anglicana, porque eles eram dirigidos por pastores perversos, que
insultavam e acusavam os metodistas e ensinavam doutrinas falsas. Mesmo
diante de tais argumentos, Wesley manteve-se firme. “Somos membros da
Igreja da Inglaterra, e não uma seita particular ou um partido”, respondeu. Na
correspondência enviada a Henry Brooke (jun./1786), relembra a atitude correta,
do bem-aventurado Philip Henry. Após ouvir o sermão malcriado de um pastor
anglicano, seguido do comentário de um amigo que o acompanhava — “Depois
desse sermão, espero que o senhor não volte mais a essa igreja!” — Philip Henry
retrucou: “Na verdade, voltarei ao culto da tarde. Se o ministro não conhece o
seu dever, dou graças a Deus por conhecer o meu”.
Na resposta a Green, Wesley afirma discordar da posição do colega, que
defendia que o próprio Deus orientava-os a não ouvir aqueles pregadores. Sem
querer justificá-los .ou defendê-los, Wesley ensina que a orientação bíblica é
diferente. Deus realmente aconselha várias vezes que não se deve escutar pessoas
como aquelas. Mas não escutar significa não dar atenção, não atentar para as
suas mentiras, não considerar seus ensinamentos. Tal é o sentido dos textos
bíblicos, de modo que tanto os verdadeiros profetas como todos os outros
israelitas sempre participaram dos cultos públicos, independentemente do líder,
do sacerdote que estivesse na direção. Tf
Jesus adverte seus discípulos para cuidarem-se do fermento dos fariseus, das
doutrinas falsas ensinadas por eles e pelos escribas. Quando fala em doutrinas
falsas, não está querendo dizer que se pode deixar de assistir os serviços A
religiosos. Tanto Jesus como seus apóstolos assistiam os serviços do Templo e
das sinagogas.
Wesley assinala que, durante 50 anos, pregou a mesma mensagem e que nada
mudaria: .'
Primeiro, escutem os ministros que a Providência lhes enviou e façam o que eles
dizem, desde que esteja de acordo com a Palavra de Deus. Porém, não escutem o y

310
que eles dizem, se não estiver de acordo com as Escrituras. Segundo, Deus atua por
intermédio deles para que os que possuem um coração sincero recebam coisas boas
de seus pregadores, especialmente pelas orações e pela Ceia do Senhor. Terceiro, os
senhores Maxfield, Richards, Westall e todos meus ajudantes uniram-se a mim no que
digo. Portanto, renunciar a ir à Igreja é, de fato, abrir mão da conexão comigo. Para
concluir, desafio a qualquer pessoa provar que há qualquer contradição nos textos que
tenho publicado desde 1738 até 1788.

26 de outubro - Doutrina Fundamental

Na carta a William Green (out./1789), John Wesley repete o que se tornou


quase um bordão: “O que tenho dito durante 50 anos, sigo afirmando agora”.
Defendendo-se das acusações de estar muito próximo à justificação pelas obras,
escreve à condessa de Huntángdon (14/ago./1771) que as atas doutrinais da
conferência de 1770 não afirmavam nada diferente do “fundamento ensinado
por 30 ou 40 anos”.
A afirmação de que o seu pensamento continuava inalterável foi sempre
manifestada com muito orgulho. Em Um simples relato da perfeição cristã, referente
ao período 1725-1705, assinala: “Esta era a idéia de religião que eu tinha. (...) Esta
é a idéia que tenho agora, sem nenhuma adição ou subtração. Esta é realmente a
mesma doutrina na qual eu creio e que ensino, nos dias de hoje, sem acrescentar
um ponto”.
Entretanto, da mesma forma que Wesley foi alterando suas concepções a
respeito de temas como pregação ao ar livre, pregação leiga, pregação feminina
e ordenação pastoral, entre outros, é obvio que sua teologia também tenha
sofrido mudanças. Sua explicação a Mary Bosanquet (13/jun./1771) também
pode ser aplicada à sua teologia: “Está clara para mim que toda essa obra de
Deus chamada metodista é uma dispensação extraordinária de sua Providência.
Portanto, não me admira ocorrerem algumas coisas que não cabem dentro das
regras comuns de disciplina”.
No seu Journal (12/abr./1789), repete tal idéia:
Com essa perspectiva, andei sem alternativas durante 50 anos, nunca alternando
de maneira alguma a doutrina da Igreja, fosse por disdpiina fosse por necessidade.
Assim, no transcurso dos anos, a necessidade me exigiu; 1. pregar ao ar livre; 2. orar
de improviso ou de forma extemporânea; 3. organizar sociedades; 4. aceitar a ajuda
de pregadores leigos.

311
Há mudanças claras no pensamento de Wesley com respeito a diversos
temas. Ele mesmo o admite a Thomas Rutherforth, professor de teologia em
Cambridge, que, em 1768, o acusou de sustentar contradições. Admite ter
renunciado a várias de suas antigas posições, até mesmo sem perceber.
Sua carta a James Morgan (3/set./1768), que considerava um dos melhores
pregadores metodistas, traz um exemplo dessa quase humildade intelectual de
John Wesley. Admite ter pensado muito sobre a posição de Morgan na última
conferência, concluindo que ele estava correto. A questão tratada na reunião era
a seguinte: “Todos os que estão sob o favor de Deus têm consciência disso?”.
Morgan sustentou que havia exceções: nem todos sabiam estar sob o favor
de Deus. Wesley reconheceu tratar-se de uma posição contrária ao que sempre
fora ensinado pelo metodismo e que não combinava com os hinos, nem com os
demais escritos metodistas. Para Wesley, sempre foi ensinado “que um penitente
chora e sofre precisamente por isso, por crer que não está sob o favor de Deus.
Daí ensinar algo contrário seria ir contra a Bíblia”. “Ainda entendo, que essa
é a doutrina bíblica, confirmada não apenas por alguns textos isolados, como
também pelo sentido geral das Escrituras, particularmente pela Epístola aos
Romanos”, concluiu.

27 de outubro - A Língua é Fogo

A epístola de Tiago destaca que a língua é o fogo destruidor e aquele capaz


de refreá-la é um cristão de qualidade. Por sua vez, John Wesley destaca um
exemplo típico de maledicência que provocou danos irreparáveis a uma pessoa.
No relato do caso (27/out./1783), revela nunca ter visto coisa semelhante. E o
mais estranho era que ele também havia se envolvido na história e contribuído
para o desdobramento tão infeliz.
A vítima dá maledicência foi M.F., por mais de 30 anos a líder de uma classe
metodista, sempre com excelente trabalho. No início de 1783, foi acusada de
embriaguez e de espalhar o segredo de uma amiga. A história imediatamente
alcançou proporções inusitadas, chegando aos ouvidos de Wesley, que se
sentiu obrigado a tomar providências. Buscou mais informações e concordou
com a acusação, decidindo que uma pessoa assim não poderia continuar no
cargo de dirigente de ciasse. O pregador local acatou a decisão e foi ainda mais
longe, destacando que ela estava incapacitada de continuar como membro da

31?
sociedade.
M.F. tentou se defender das acusações, alegando em vão sua improcedência.
Depois de uma conversa definitiva com o pregador local, inflexível em sua
posição, ela teve de entregar o tickst, o comprovante de membro da sociedade e os
demais documentos de sua classe. Ninguém mais a procurou para uma conversa
ou tentou ajudá-la a superar a fase difícil. Ela foi completamente abandonada
pelos amigos e por todos os que com ela conviveram durante tantos anos. Foi
como se tivesse morrido.
Tempos depois, estranhando que uma pessoa como ela, havia tantos anos
dedicada à educação de muita gente, fosse responsável por ações tão infantis,
Wesley decidiu retomar uma investigação mais completa. Soube, então, que a
sra. N., que tinha acusado M.F. de revelar o seu segredo, já o tinha revelado a
bem mais de 20 pessoas. Se tanta gente sabia da história, pela própria boca da
acusadora, como poderia ela afirmar com segurança quem era a responsável
pela sua disseminação? Wesley acabou concluindo que tal acusação era falsa. E a
denúncia da embriaguez também se revelou enganosa. De modo que uma pessoa
que prestara tão bons serviços ao metodismo havia sido expulsa de maneira
injusta e vergonhosa. Tudo por conta de fofocas. Usando de ironia recheada
de tristeza, termina o relato: “E foi assim que expulsamos um dos líderes mais
valiosos que tínhamos. Por essas razões maravilhosas”.

28 de outubro - Conquistando a Vitória

Nos últimos momentos antes da execução da sua pena de morte, John


Lancaster e seus companheiros de prisão foram conduzidos a uma ampla sala,
onde, mais uma vez, Lancaster protagonizou uma cena emocionante. Era a
confirmação de que a fé plantada pela extraordinária Sarah Peters fazia-se
robusta para enfrentar a ocasião dramática.
Ele exortou os oficiais, seus verdugos, a arrepender-se dos pecados e aceitar
a graça do Senhor Jesus. “Em poucas horas estarei no paraíso, descansando
com segurança no seio de Abraão e vocês também deveríam buscar a mesma fé
que oferta segurança”, sugeriu. Depois, dirigiu-se a um companheiro, também
condenado à morte: “Pela fé eu vejo Jesus Cristo, em pé, à direita de Deus, com
os braços abertos para receber nossas almas”. Um espectador ordenou: “Fiquem
firmes até o finai”, ao que Lancaster respondeu: “Estou firme, com a graça

3i3
de Deus, como a rocha sobre a qual estou edificado. Roguem ao Senhor por
misericórdia. Ninguém deve ficar desesperado. Quando cheguei pela primeira
vez a esse lugar, meu coração estava duro como as paredes da minha cela e negro
como o inferno. Agora fui lavado e estou limpo pelo sangue de Cristo”.
Lançaster animou a cada um que duvidava de suas palavras para não
descansasse até encontrar a paz em Cristo. Em seguida, fez uma exaltada oração
de louvor e ação de graças. Rogou que o verdadeiro Evangelho de Cristo atingisse
todo o mundo, intercedeu pelo trabalho metodista na Fundição, desejando que
todos os membros pudessem satifazer-se do amor e do conhecimento de Deus e
orou particularmente por todos os que haviam cuidado de sua alma moribunda,
sobretudo Sarah Peters. Por último, suplicou pelo sr. Wesley, para que Deus
o abençoasse e o guardasse, de modo que nenhum homem e nem os diabos
pudessem feri-lo.
Quando o último prisioneiro foi conduzido à sala, Lançaster cumprimentou-o:
“Aqui está outro de nosso pequeno rebanho”. Todos abraçaram-se com alegria,
encomendando as almas a Deus. Ele orou novamente por todos os presentes,
para que até mesmo os que não estavam buscando o Senhor pudessem ser
encontrados por ele. Ao ver Sarah Peters no pátio, correu até ela e beijou-a
alegremente: “Hoje vou ao paraíso. Você me seguirá em breve”.
Lançaster e seus companheiros de prisão foram executados em 28 de
outubro de 1748. No dia 13 de novembro seguinte, depois de uma febre de dez
dias, Sarah entregou sua alma a Deus. Foi ao paraíso, como havia anunciado
Lançaster.

29 de outubro - A Bíblia é a Boca de Deus

Em 29 de outubro de 1738, Wesley estava cheio de dúvidas sobre seu próprio


estado espiritual e utilizou o seu método de bibliomancia. Abrindo a Bíblia ao
acaso, deparou-se com Tiago 2.22 descrevendo Abraão: “Veja como a fé opera
juntamente com as suas obras-; com efeito, foi pelas obras que a fé se consumou”.
Em Qsprincípios de um'metodista, melhor explicados, ele aborda melhor esse
tema: “Em determinadas ocasiões, quando minha alma passa por momentos
de grande angústia, ou se encontra numa situação de grande incerteza a
respeito de como me comportar e o que decidir de imediato num caso
Importante, vaiho-rne do artifício de lançar a sorte ou abrir a Bíblia e esperar

314
a sua resposta”. O poema 0 Misíério da Vida, de John Gambold, incluído nos
hinários dos irmãos Wesley, apoiava para tal prática. A sexta estrofe sugere\
“Quando a Soberana Sabedoria ordená-lo, minha alma por um desconhecido
caminho marchará”.
O costume de lançar a sorte foi copiado por Wesley dos moravianos.
Apesar de aconselhado por George Whitefield para não se exceder, ele adotou
definitivamente o costume, concordando com a declaração da Igreja Morávia
ao corpo de teólogos da Universidade de Württemberg: “Temos uma estima
peculiar pela sorte e a utilizamos tanto em público como em particular para
decidir assuntos de importância, quando as razões vertidas por ambas as partes
parecem ter o mesmo peso. E cremos ser a única solução para deixar de lado
nossa própria vontade, absolver-nos de toda a culpa e compreender com clareza
a vontade de Deus”.
Diante do questionamento freqüente a respeito da biblicidade dessa prática,
Wesley argumenta que as Escrituras, embora revelem alguns exemplos, não
ordenam, nem proíbem tal costume. Nunca fora tomada nenhuma decisão
inconseqüente ou preguiçosa. Na sua primeira viagem a Bristol, por exemplo,
quando insistiram para que fosse imediatamente e ele discordava da sugestão,
antes de lançar a sorte, houve um grande debate sobre o assunto. Foram ouvidas
todas as razões, dos dois lados, e, na medida em que não foi- possível tomar uma
decisão consensual, optou-se pela sorte.

30 de outubro - Faltando Espaço

As sociedades metodistas em Bristol cresceram demais e os locais de reunião


já não comportavam todas as pessoas. John Wesley anota em seu Journal (9/
maio/1739) a aquisição de um prédio próximo à igreja de St. James, no terreno
da Feira de Cavalos, com vistas a construir um salão para abrigar as duas maiores
sociedades, as das ruas Niçholas e Baldwin. No sábado, 12 de maio, foi lançada a
pedra fundamental do edifício, com vozes de louvor e ação de graças.
O avanço do movimento metodista, como se vê nessa importante obra
em Bristol, sempre caminhou na base da fé. Não havia dinheiro suficiente para
pagar as despesas de compra de imóvel e construção. Wesley conta que não
tinha recursos financeiros, nem a possibilidade de consegui-los, mas sabia que
de “Deus é a terra e a sua plenitude” e, em nome Dele, iniciou a construção, O
trabalho quase foi paralisado por falta de verba e Wesley assumiu pessoalmente
o pagamento das dívidas. De um momento para o outro, viu-se responsável por
uma dívida de 150 libras. Somando-se as contribuições dos membros das duas
sociedades, não se alcançava nem a quarta parte de tal valor.
“Nosso salão”, como costumava chamá-lo, e mais tarde denominado “salão
novo”, situava-se no lado noroeste de Bristol e guardava recuo da rua, de acordo
com as regras para os lugares de reuniões dos dissidentes. Wesley começou a se
encontrar com as sociedades na construção inacabada do salão novo em junho
de 1739. Um mês depois, segundo Whitefield, as sociedades das ruas Nicholas
e Baldwin estavam unidas. Entretanto, continuou ainda a chamar os grupos
pelos antigos nomes e só passou a usar o termo sociedade unida três meses mais
tarde, com anotação em seu Journal (30/out./1739, dia em que, pela primeira vez,
também se referiu ao prédio como “salão novo”).
Na época da construção dessa primeira casa metodista, foi implantado o
modelo administrativo do movimento. Num primeiro momento, Wesley passou
a administração da propriedade a um grupo de 11 pessoas, que serviriam
de feudatários ou procuradores. Alertado por Whitefield sobre tal modelo
presbiteriano oferecer muitos riscos, por transformar os procuradores em
proprietários do imóvel, Wesley fez as devidas correções.

31 de outubro - A Educação de Filhos

Como educar os filhos? Basta oferecer-lhes uma boa educação para que
sua vidas-Uêem certo? É certa a receita bíblica, em Provérbios 22.6: “Ensina
a criança no caminho em que deve andar, e mesmo quando for velho não se
desviará dele”?
Em Al educação de filhos, baseado nesse texto bíblico, John Wesley explica que
não se trata exatámente de uma receita, da garantia de dar certo, seja qual for o
caso. Não se deve compreender tal frase no seu sentido estrito, crendo que toda
criança instruída no caminho correto jamais se apartará dele. Ela não coincide
de modo algum com a realidade, tanto que é bastante comum o comentário de
que “Os melhores pais têm os piores filhos”.
O que pode acontecer no processo de educação? Segundo Wesley, há
pessoas boas, mas limitadas na capacidade de entendimento. Nesse caso, não
se pode esperar muito da capacidade delas de educar os filhos. Além do mais,

316
existem aqueles que são competentes em muitos aspectos, porém, demasiados
brandos, não conseguindo afastar os filhos do mal. Imitam o comportamento
de Eli, ao tratar os filhos com toda deiicade2a numa situação em que deveria ser
■i mais enérgico: “Não, filhos meus, não escuto coisas boas a respeito de vocês”
:h (ISm 2.24). Ainda assim, casos de pais incapazes de educar não contradizem de
\' fato a afirmação de Provérbios, uma vez que os filhos não foram devidamente
i instruídos.
í Entretanto, há muitos exemplos de filhos educados com toda dedicação
|. e responsabilidade, mas que se apartaram çompletamente dos ensinamentos
\ recebidos. Deve-se entender tais afirmações do livro de Provérbios como
possuindo certa limitação. Elas significam uma promessa de caráter geral,
ainda que não universal, e muitos pais têm tido a alegria de vê-la cumprida.
Considerando ser o método mais eficaz para fazer de nossos filhos fiéis, ele
permite, na maioria dos casos, ainda que nem sempre, alcançar o objetivo
desejado. O Deus. dos pais também está com os filhos e abençoa seus esforços
para que possam ter a satisfação de deixar à sua descendência, além dos bens
materiais, a sua experiência de fé.

317
r

Novembro

Você não pode ter um lugar


no céu sem uma barbai
Portanto , rogo-lhe que deixe
crescer a sua imediatamente!

Exortação feita a John Wesley por um homem


com uma longa barba branca
12 de novembro - Terremoto em Lisboa

A cidade de Lisboa, em Portugal, foi profundamente abalada pelo terremoto


de Io. de novembro de 1755. Na tragédia, que sensibilizou toda a Europa, foram
mortas mais de 60 mil pessoas. Amigos de John Wesley insistiram muito que
ele escrevesse sobre o assunto, partindo de uma perspectiva bíblica. Como
resultado, Graves reflexões motivadas pelo recente terremoto de Lisboa, de 15 páginas,
pode ser assim resumido:
O que podemos afirmar a respeito dos últimos acontecimentos em Portugal, quando
milhares de casas e de pessoas já não existem mais? Quando uma formosa cidade se
transforma num monte de ruínas? Deus estaria julgando o mundo? (...) Por que não
nos convencemos, o mais breve possível, enquanto tal convicção possa ser útil, que
não é o acaso o governador do mundo? Por que não reconhecemos agora a mão do
Todo-Poderoso sustentando a sua causa, antes que Londres acabe como Lisboa?
Muitos acreditam que esses fatos são puramente acidentais, resultado de causas
naturais. Só que não é verdade. Sustentar que tudo é puramente natural, não
providencial, e que Deus nada tem a ver com essas questões é equivocado. Dissertar
extensamente sobre as causas naturais de pragas, ventos, trovões, relâmpagos e
outros fenômenos está longe de ser a verdade e não prova absolutamente nada,
nem que Deus nunca opera nas coisas naturais e por meio delas. Ninguém que
creia na Escritura como obra de Deus pode duvidar que Ele atua dessa ou daquela
maneira. A Bíblia afirma, em termos bastante claros e fortes, que todas as coisas
da natureza são Dele. Assim, deve-se admitir que as causas naturais estão por trás
desses acontecimentos, e que Deus, Senhor de todo o mundo criado, está na direção
de tudo. Não seria a natureza uma maneira de Deus agir no mundo material?
Se as nossas sabedoria e fortaleza não resultam suficientes para defender-nos, não
nos envergonhemos de procurar mais ajuda, Atrevamo-nos inclusive a reconhecer
que acreditamos haver um Deus. Não uma deidade epicureu indolente, sente d?
comodamente acima dos céus, sem se importar com a criação, Mas um Deus que
criou os céus, a terra e todas as forças naturais, que sustenta a todos pelo poder de
sua palavra e não descuida da obra de suas próprias mãos. Ura Deus cujos olhos
penetram a esfera dos seres criados, que conhece o número de estrelas e as chama
por seus nomes. Um Deus cuja sabedoria é o grande abismo, largo e profundo
como a eternidade. Um Deus que ama cada ser humano e sua misericórdia é sobre
todas as suas obras. Façamos desse sábio, poderoso e benévolo Deus nosso amigo.
Então, não temeremos, ainda que a Terra se transtorne e os montes se abalem no
seio dos mares (SI 46.2).

319
2 de novembro - Falando Francamente

De nada adiantaram as exortações feitas por John Wesley, tanto que George
Bell, convertido ao metodismo em 1758, acabou expulso do movimento em
dezembro de 1762, em razão dos constantes anúncios de ressurreição de pessoas
da decretação do fim do mundo.
Tomas Maxfleld, primeiro pregador leigo do metodismo, ordenado
pelo bispo William Barnard, em 1758, foi o grande líder do movimento
que deu origem aos exageros de George Bell. Na carta enviada a ele
por Wesley (2/nov./1762), estão registrados os aspectos favoráveis e
desfavoráveis da situação:
Sem nenhum prefácio ou cerimônia, desnecessários entre nós, direi simplesmente o que
me desagrada em sua doutrina, espírito ou comportamento externo. Quando digo “sua”,
inçluo os irmãos Bell e Qwen, e todos os que estão próximos a eles. (...) Desgosta-me
essa aparência de entusiasmo, superestimando os sentimentos e impressões internas,
confundindo o mero. produto da imaginação com a voz do Espírito; esperando o fim
sem os meios e desvalorizando a razão, o conhecimento e a sabedoria em geral. (...)
Sem dúvida, o que mais me desconsola é a mesquinhez do seu amor pelos seus irmãos
e pela própria sociedade: Falta a união do coração com eles e entranhas de misericórdia,
falta benignidade e mansidão, e sobra impaciência diante da contradição. Você
conta como inimigo qualquer pessoa que lhe repreenda ou admoeste em amor. Seu
fanatismo e estreiteza de espírito o fazem amar somente os que o amam. Sua inclinação
de censurar, sua tendência a pensar duramente de todos os que não concordam
exatamente com você justificam, em uma palavra, o seu espírito de divisão. Na verdade,
não creio que nenhum de voçês haja planejado ou desejado uma separação. (...)
Quanto às reuniões públicas, gosto das orações ferventes e freqüentes suplicando
as bênçãos de Deus. Reconheço que elas têm feito muito bem e farão ainda mais.
Entretanto, desgostam-me diversas coisas: 1. o cantar, falar ou orar de várias pessoas
ao mesmo tempo; 2. a oração somente ao Filho de Deus ou mais que ao Deus Pai; 3.
as expressões impróprias nas orações, muitas vezes demasiado audazes, irreverentes,
pomposas e grandiosas, exaltando a si mesmo, e não a Deus, e dizendo, o que você
é, não o que lhe falta; 4. os hinos pobres, desatinados e sem mensagem; 5. o nunca
ajoelhar-se durante a oração; 6. as posturas e os gestos bastante indecentes; 7. seus
gritos até o ponto de não se poder entender as palavras; 8. a afirmação de que a
pessoa será perdoada ou santificada naquele momento; 9. a afirmação de que as
pessoas são santificadas quando não são; 10. o ordenar que as pessoas digam “creio”;
11. a condenação cortante de todos os que se opõem, chamando-lhes de lobos etc. e
declarando serem hipócritas ou não justificados.

320
3 de novembro - Misticismo Perigoso

O despertamento religioso iniciado com os metodistas contribuiu


para o surgimento de inúmeras pessoas que se diziam dotadas de poderes
místicos. Até mesmo muitos pregadores metodistas contaminaram-se
pela arrogância espiritual, a exemplo de Tomas Maxfield e George Bell,
exortados por John Wesley por superestimar emoções e sentimentos e
desvalorizar a razão e o conhecimento.
Em 3 de novembro de 1742, Wesley foi procurado por dois homens auto-
proclamados profetas. Afirmavam-se enviados de Deus, com uma mensagem
para ele, de que em muito pouco tempo ele deveria nascer de novo. Tratando-
os atenciosamente, Wesley agradeceu pela palavra, mas não se preocupou em
estender o diálogo, percebendo a excentricidade dos “mensageiros”. Um deles
acrescentou que o referido novo nascimento se daria muito brevemente e
solicitou aguardá-lo aü mesmo, a não ser que Wesley lhes expulsasse, O metodista
respondeu, então, que poderíam aguardar no salão de reunião da sociedade
quanto tempo fosse necessário. Em seu Journal,\ anota que os dois profetas
esperaram o dia inteiro, sentados e sem se alimentar, e só à noite retiraram-se,
discreta e caladamente. Da janela, observou as taciturnas figuras esgueirando-se
pela rua deserta na noite fria. Nunca mais teve notícia dos dois.
Outro caso bastante curioso aconteceu em 29 de julho de 1766: na Escócia,
durante o sermão numa igreja em Padiham, Wesley ensinava que a comunhão com
Deus é a única religião que pode trazer benefícios ao crente. Depois do culto, um
homem com uma longa barba branca, visivelmente preocupado, recomendou-
lhe: “Você não pode ter um lugar no céu sem uma barba! Portanto, rogo-lhe
que deixe crescer a sua imediatamente!”. Wesley nada respondeu, apenas anotou
em seu Journal que, pela barba, dava para perceber que a enfermidade daquele
bomeun era rni^a 9 n fiou.

4 de novembro - Uma Cena Teairai

Uma vistosa propaganda espalhada pelas ruas de Newcastie anunciava , que


a Companhia de Comediantes de Edimburgo estaria, no dia 4 de novembro de
1743, apresentando a comédia Os amantes conscientes, à qual se juntará uma farsa
chamada ireia sohrs treta. 0 metodismo. a descoberto. Não havia nada de arte ou de teatro
sério naquele trabalho, mas algo encomendado e patrocinado pelos opositores
do movimento metodista.
Segundo Wesley, no dia da apresentação uma grande multidão de espectadores
reunia-se em Moot Hall. A estimativa era de mais de 1.500 pessoas, centenas
delas ocupando os assentos construídos sobre os cenários.
Pouco depois do início do primeiro ato, de repente, todos os assentos vieram
abaixo, de uma só vez, pois seus suportes romperam como pau podre. As pessoas
caíram umas sobre as outras, mas ninguém ficou ferido. Novamente, na metade do
segundo ato, os assentos racharam e baixaram vários centímetros. Foi muito grande
o barulho e muitos abandonaram o local. Quando as coisas voltaram ao normal o
espetáculo reiniciou, mas no do terceiro ato o cenário inteiro desabou. Os atores
saíram rapidamente e, depois de alguns minutos, retomaram a apresentação. No final
do terceiro ato, outros assentos se desmancharam. Ouviam-se gritos por todos os
lados, dando a impressão de que muitos tinham se ferido com gravidade. Felizmente
isso não aconteceu. Entre 200 e 300 pessoas permaneceram no salão e o sr. Este (que
faria o papel do metodista) afirmou que o espetáculo ia continuar. Enquanto falava, o
restante do cenário desabou e ele precisou sair correndo.

Wesley destaca que, apesar de todos os inconvenientes, o espetáculo foi


reapresentado na semana seguinte e, por incrível que pareça, centenas de pessoas
lá estavam para assistir a farsa.

5 de novembro - Um Assunto Importante

Na primeira semana de novembro de 1784, Tomas Coke, nomeado


superintendente por John Wesley, já se encontrava nos Estados Unidos. Além da
tarefa principal de organização da Igreja, outro tema fundamental de que deveria
se ocupar era a escravidão negra.
As convicções de Wesley foram fundamentais na formação da mentalidade
antiescravagista do metodismo norte-americano. Os primeiros concüios ■
metodistas nos Estados Unidos continuaram refletindo esse compromisso.
No Concilio de Baltimore (1780), com a presença de 17 pastores metodistas,
foi redigida a seguinte declaração: “A escravidão é contrária às leis de Deus, .
do homem e da natureza, e danosa à sociedade, aos ditames da consciência e
da pura religião, uma vez que não devemos fazer aos outros aquilo que não
queremos que nos façam”. Na ocasião, foi aprovada a proibição aos membros da
Igreja Metodista de possuir escravos. Caso os tivessem, deveriam ser alforriados,
. e não vendidos. Os que não cumprissem a decisão seriam expulsos. A pena
seria estendida aos pregadores dos estados de Virgínia, Maryiand, Delaware,
. Pennsylvania e Nova Jersey.
A chegada de Tomas Coke contribuiu para reforçar ainda mais a posição oficial
do metodismo sobre o assunto. Do púlpito ele pregava contra a escravidão. O seu
Joiirnal está repleto de referências à sua luta contra o que considerava “a grande
chaga da nação”. Sob sua influência, a primeira conferência geral metodista,
conhecida como Conferência de Natal de 1784, promulgou um veredicto de
modo a extirpar entre os metodistas a terrível “abominação da escravatura”. Foi
lhes dado o prazo de um ano para acolher a decisão ou abandonar a Igreja. Em
outra conferência metodista, no Condado de Brunswick, na Virgínia, decidiu-se
enviar um abaixo-assinado à Assembléia Geral do estado, exigindo a abolição
da escravidão ou a emancipação gradual dos escravos. Essa reunião também
aprovou que Coke e Asbury, os dois superintendentes, marcassem audiência com
o general Washington para discutir a questão, Tal encontro é relatado por Coke:
O general nos recebeu de forma muito cortês e deu sobejas provas de sua democracia.
E verdadeiramente um cavalheiro. Após o jantar, externamos o motivo de nossa
visita, rogando-lhe assinar nosso ofício, caso sua posição lhe permitisse. Ele declarou-
se de pleno acordo com os dizeres de nossa petição e já havia manifestado seus
sentimentos aos colegas do Estado. Ainda que não achava bom assiná-la, sugeriu que,
s e á Assembléia a tomasse em consideração,, teria muito prazer em exprimir por carta,
perante ela, suas impressões.

6 de novembro - Os Fortes também Adoecem

Na sexta-feira, 6 de novembro de 1741, a enfermidade de John Wesley


agravou-se. Começara dias antes, em Gales, após algumas extravagâncias, como
deitar-se em cama úmida, em St. Bride, e cavalgar durante noites frias e chuvosas.
Embora não estivesse bem, prosseguira a viagem, fazendo visitas e pregando
o Evangelho. Na busca de forças e conforto, repetia continuamente o Salmo
41.1-3: “Bem-aventurado o que acode ao necessitado. O Senhor o livra do dia
Senhor o protege e lhe preserva a vida. O Senhor o assiste no leito da
enfermidade”.
Na carta ao irmão Charles, descreve estar sofrendo muito com o violento
resfriado e obrigara-se a repousar, pela primeira vez, em 35 anos de trabalho.
Depois da varíola, aos seis anos de idade, nunca mais nenhuma enfermidade o
fizera ficar de cama.
No seu Journal., registra que a crise começou entre 10 e 12 horas do dia 6.
Posso apenas fazer uma ligeira descrição do que aconteceu, por falta não de
memória, mas de palavras. Senti no corpo tormentos e tempestades, granizos
e brasas de fogo, mas não recordo de haver experimentado qualquer temor (tal a
misericórdia de Deus), nem murmúrio. A febre invesdu forte como um leão,
pronta para romper meus ossos em pedaços. Meu corpo se debilitava a cada
momento e também a minha alma perdia forças. Nessa hora veio-me à mente o
texto: “Não temas, esteja firme e veja a salvação que Jeová fará hoje com vocês”
(Ex 14.13). De imediato, meu coração se tranquilizou e pude repetir com o
salmista “Minha boca se encherá de riso e minha língua de louvor” (SI 126.2).
Uma pessoa ao meu lado comentou: “Agora ele está delirando”. Respondi que
louvava a Deus e que Ele estava vindo em meu socorro. Glória a Deus nas alturas.
Naquele momento, perçebi por que não recuperei minha saúde antes. Se Ele
tivesse me curado mais cedo, eu teria perdido aquela grande experiência de saber
quão pequenas são as coisas que sucedem ao corpo, enquanto Deus nos leva a
alma às alturas, como que nas asas de uma águia. Uma hora depois, travei outra
luta com o inimigo, que parecia reunir todas as suas forças. Tentei sacudir-me e
louvar a Deus como antes, mas não pude fazê-lo: o poder havia me abandonado.
Estava despojado de minha força e me debilitei como qualquer pessoa. Então
anunciei: “Ainda assim eu me sustento. Entrego-me à tua vontade, Senhor Deus!”.
Imediatamente Ele regressou à minha alma, mostrando o semblante luminoso, e senti
que “Cavalga com facilidade aquele que recebe a graça de Deus” (Tomas Kempis).
Por volta das 5 da tarde, quando pensei que a crise tivesse passado, senti calafrio e
queimação por todo corpo, perda total das forças e desmaiei. A enfermeira, não sei
por que, tirou-me da cama, colocou-me numa cadeira e me deu um purgante que
salvou a minha vida. A partir daquele momento, passei a me sentir melhor e consegui
descansar durante a noite. Deus pôs a mão sobre mim.

7 de novembro - Enterrando Talentos

No início <de novembro de 1790, John Wesiey escreveu à sra. Cock. Mais
que uma carta amistosa, tratava-se de uma exortação. Desde a sua juventude,
sempre fora reconhecida por Wesiey como extremamente inteligente e capaz.
Desde o primeiro contato com eia, Wesiey convenceu-se de que Deus lhe
reservava grandes planos. Para ele, o futuro da moça jamais seria encerrar-se
numa casa, restrita aos afazeres domésticos e dedicada exclusivamente à família.

324
Com certa tristeza, aponta que aquela mulher brilhante estava, enterrando os
seus talentos:
Quão insondáveis sãos os juízos de Deus! Que pouco conhecimento temos dos
Seus caminhos! Quando vi a forma maravilhosa pela qual Ele a tratou desde os
seus primeiros anos, quando falei com você em Jersey, e depois, mais amplamente,
em Guernsey, conclui que Ele a estava preparando para uma obra mais ampla.
Sem dúvida, sua vida não se destinava a restringir-se a tarefas domésticas!
Tinha a esperança de vê-la utilizar todos os dons dados por Ele em outras atividades.
Ainda que não possa negar que você esteja numa esfera mais baixa daquela
originalmente desenhada para a sua vida, espero que goze da comunhão com Deus
Pai e com o Seu filho Jesus Cristo. Que você seja sensível, onde quer que vá, à presença
da sempre bendita trindade e continue gozando dessa bondade melhor que a vida.

No final da carta, percebe-se o carinho e o interesse muito especiais de


Wesiey pela sra. Cock. Ele lhe faz inúmeras perguntas atenciosas — se estava
passando necessidades, precisava de apoio financeiro, era tratada com carinho
pelos irmãos da sociedade metodista e se os pregadores eram-lhe amáveis - e
solicita a ela que fornecesse sempre informações sobre a sua situação.

8 de novembro - Leitura de Bons Livros

Na carta a George Holder (8/nov./l 790), John Wesiey destaca a importância da


leitura de bons livros. Não é possível crescer na graça de Deus sem se dedicar à leitura.
As pessoas que lêem sempre acumulam conhecimentos e as que só falam, e não
lêem, sabem muito pouco. Ele orienta ao pregador metodista sugerir insistentemente
tal prática em sua comunidade, esclarecendo que, rapidamente, aparecerão os frutos.
wesiey, paradoxalmente homem de um só livro, sempre foi um leitor voraz.
Aproveitava todo o tempo possível, sobretudo as viagens, para a leitura. Da de tudo.
No seu Journal’ relata que, nos momentos de folga durante a primeira semana de
fevereiro de 1770, leu, cheio de expectativa, o celebrado livro de Rousseau acerça
da educação. Mas, concluída a leitura, sua sensação foi de total desânimo. Nunca
se sentira tão ludibriado como naquela ocasião. Sua impressão sobre o filósofo
francês foi a pior possível: “Rousseau é muito orgulhoso e cheio de si. Fala como
se estivesse pronunciando um oráculo. Além do mais, muitas de suas verdades’ são
comprovadamente falsas, por exemplo, a de que as crianças nunca amam os velhos”.

325
Sempre ao terminar a leitura de um livro, anotava no seu Journal a sua
avaliação. Na viagem a Bristol, em 8 de agosto de 1773, iendo a dissertação do
sr. surpreendeu-se extremamente com as bobagens escritas pelo autor. Para
ele, a mais grotesca era a de que o inferno tem a idade de 30 mil anos. Além dos
equívocos, desagradou-lhe a arrogância do autor ao afirmar; “Seria perdoável se
esses remendões da Bíblia oferecessem suas hipóteses de forma modesta. Mas
eles não se perdoam quando não apenas impõem seu esquema novelesco com
a maior confiança, como também ridicularizam aquela interpretação escrituraria
que sempre foi e continua sustentada por pessoas de maior conhecimento
e piedade”. Wesley acrescenta que escritores como aquele são, em parte,
responsáveis pelo descrédito da Palavra de Deus: “Eles promovem a infidelidade
com mais efetividade que Hume ou Voltaire”.
Alguns livros chamaram muito a atenção de Wesley e ele os leu repetidas
vezes. Odisséia, de Homero, foi um deles. Em 5 de setembro de 1768, ao reler a
epopéia grega, enquanto cavalgava, comentou: “Sempre imaginei que essa obra
parecia com O Paraíso Perdido, de J. Milton. Mas estava equivocado! Até que ponto
o último poema de Homero toma a supremacia sobre o outro livro!”.

9 de novembro - Observando Regras

Em Natureza, propósitos e normas gerais das sociedades unidas em Londres,


Bristol, Kingswood e Newcastle sobre o Tjne, item 4, Wesley estabelece
algumas regras aos membros das sociedades metodistas. Esperava que
todos evidenciassem seus desejos de salvação, primeiro, não causando
danos a quem quer que fosse, evitando toda forma de mal, sobretudo as
freqüentemente praticadas. Entre,as proibições, constam não profanar o
dia do Senhor, quer realizando tarefas comuns quer comprando e.;vendendo
produtos ou mercadorias. -
No final do texto, destaca que as regras gerais deviam ser estritamente ú
observadas e se, por acaso, houvesse qualquer pessoa que não as observasse
ou habitualmente as descumprisse, os responsáveis por ela deveríam tomar ,
providências, admoestando-a e até expulsando-a do grupo diante do seu não
arrependimento. Tais normas foram publicadas em maio de 1743 e divulgadas
em todas as sociedades metodistas.

326
Por sua vez, o líder metodista Tomas Willis, na carta a John Wesley
(13/nov./1744), afirma a impossibilidade de se cumprir rigorosamente
determinadas regras gerais, muito mais rigorosas que as implantadas por
Jesus Cristo. Embora conseguisse quase perfeitamente cumprir a regra áurea
do Salvador, não se acreditava capaz de acompanhar as recomendações de
Wesley, tampouco fazer com que fossem cumpridas pela comunidade. Ele cita
como exemplo a proibição de se fazer qualquer tipo de comércio no dia do
Senhor, argumentando que havia casos específicos que requeriam tratamento
diferente. Entre eles, o comércio de leite, em que as vacas não podiam passar
o domingo todo sem ordenha, as crianças precisavam de alimento e o leite
estragava do domingo de manhã até a segunda-feira. Em casos como aquele,
não seria necessária uma concessão?
Wesley respondeu simples e objetivamente que Willis estava absolutamente
certo. Assim era Wesley: as regras gerais deveríam ser cumpridas, sem
nenhuma impiedade ou cegueira. Inúmeros relatórios apontam que pessoas
foram expulsas das sociedades por não obedecer às regras gerais. Mas as
expulsões se referem a pessoas negligentes, inteiramente descomprometidas
com a comunidade. No caso dos metodistas referidos por Willis, dedicados ao
comércio leiteiro, descartou-se a exigência de cumprir integralmente o preceito
de guardar o domingo. Podiam fazer o trabalho indispensável e dedicar o
restante do dia ao Senhor.

10 de novembro - Comentando Curiosidades

Na carta enviada de Oxford à sua mãe (Io./nov./1724), John Wesley comenta


sobre o preço barato das maçãs e “a notícia mais importante da ocasião”, que
circulava em todos os círculos: a famosa fuga de Sheppard da prisão de segurança
máxima de Newgate.
Parece que anteriormente ele tinha fugido duas vezes, e mais uma da cela dos
condenados. Quando os guardas de segurança chegaram à cela, havia tirado os
grilhões. Não se importou com o fato de estar na ceia mais segura da prisão. Puseram-
lhe novamente os grilhões, manietaram-no e o amarraram ao chão com uma corrente
presa ao redor da cintura e outra ao redor do pescoço. Apesar de tudo, conseguiu se
livrar. Abriu um buraco no teto, passou por seis portas com ferrolhos e escapou sem
ser descoberto. Tudo ocorreu entre as 6 da tarde e as 11 da noite.
I

Em seguida, relata um episódio estranho:


Em setembro passado, três senhores do colégio caminhavam pelos campos perto de
Oxford, por volta das 6 e meia da tarde, quando um deles, o sr. Barnsley, assustou-se
enormemente, ficando muito pálido. Quando os outros lhe perguntaram se estava
bem, ele respondeu que não era nada. Outra pessoa, ao passar pelo mesmo lugar,
assustou-se mais do que ele e gritou de medo. Afirmou ter visto uma pessoa vestida
de branco cruzar o seu caminho com a velocidade de uma flecha. Escutando aquilo,
o sr. Barsnley revelou ter também visto tal figura e os dois a descreveram como
um homem ou uma mulher, com roupas claras, de uma substância tão fina que era
possível enxergar do outro ládo. Na mesma tarde, ocorreu outro acidente parecido.
Barnsley ficou tão interessado que anotou o dia, o mês e a hora do ocorrido, 26 de
setembro. Na semana passada, recebeu uma carta de seu pai dando-lhe a notícia da
morte da mãe, no mesmo dia 26 de setembro, entre 6 e 7 horas da noite.

Uma experiência dessas era facilmente admitida por Wesley, pois ele estava
acostumado a ouvir histórias fantásticas. A mais estranha de todas deu-se com
sua própria família, entre dezembro de 1716 e abril de 1717. Na ocasião, estudava
na escola de Charterhouse e soube, pelas cartas dos pais e irmãos, notícias
pormenorizadas da ação ruidosa de um espírito ou diabo (apelidado de “velho
Jeffrey” pelas meninas da casa), que, durante seis meses, bateu portas, quebrou
louças, andou pela residência e produziu todo o tipo de ruídos assustadores. *

11 de novembro - Amigos do Peito

No dia 11 de novembro de 1739, John Wesley pregou para uma platéia


numerosa, de mais de 7 mil pessoas. O local do culto, prédio de uma antiga fundição
real de canhões, foi escolhido e negociado por Bali e Watkins, novos conhecidos,
de Wesley. Desse dia em diante, com o grande crescimento da sociedade e,
em conseqüência de um período de fortes tensões com os morávios, os dois
senhores insistiram muito que Wesley providenciasse a compra do prédio para
as reuniões da sociedade metodista. Além disso, tornaram possível a aquisição,
emprestando dinheiro com uma fórmula bastante camarada de reembolso. As
114 libras seriam pagas pelos membros da sociedade, que dariam, cada um, de
quatro a 10 xelins anuais, o que seria suficiente para saldar a dívida e fazer a
reforma das instalações.
O negócio foi realizado e a reconstrução do que Wesley chamava “um vasto
e rude monte de ruínas” custou perto de 700 libras. Concluída a obra, a Fundição

328
passou a proporcionar salas para as reuniões das bandas, uma escola, a moradia
de Wesley, quartos de hóspedes (para a sua mãe e os pregadores visitantes),
um estábulo e um abrigo para coches. Silas Told, um ex-traficante de escravos,
descreveu-a como “um lugar em ruínas, coberto com telhas velhas, umas poucas
tábuas rústicas formando um púlpito provisório e diversas madeiras deterioradas
que compunham a estrutura”.
Em Pensamentos sobre o metodismo (1786), Wesley relembra o início do trabalho
em Londres, dizendo que na Fundição eram realizados dois cultos diários, um às 5
da manhã e outro às 7 da noite. Eles obedeciam sempre uma determinada liturgia:
uma breve oração, um hino, um sermão de mais ou menos 30 minutos, outro hino
e a oração finai. Os sermões, eram fundamentados na doutrina da salvação pela fé
e insistiam na necessidade de arrependimento e de uma vida santa.
O salão era grande, com capacidade para acomodar 1,500 pessoas. Os
bancos eram rústicos, com assentos reservados para homens e mulheres,
separados, como ocorria na Igreja Primitiva. Foi a primeira casa de pregação
metodista em Londres.

12 de novembro - Um Casamento Feliz

John William Fletcher casou-se com Mary Bosanquet em 12 de novembro


de 1781. O casamento teve curta duração, apenas quatro anos, com a morte
prematura do marido. Nesse curto período, o casal foi muito feliz, de acordo
com ela:
Ele sempre se mostrou carinhoso e bondoso comigo. Minha alma, rneu corpo,
minha saúde e meu conforto eram sua preocupação diária. Não tínhamos nenhum
pensamento do passado ou presente que ocultássemos propositalmente um do
outro. Meu progresso espiritual era o seu maior interesse e, constantemente, ele me
lembrava uisso, çonvidando-rne a andar mais perto de Deus: “Oh, minha querida,
peçamos a graça de Deus para nos aiudar na hora da morte, pois estamos aqui por
muito pouco tempo”.

John Wesley escreveu inúmeras cartas a Mary Bosanquet. Numa delas (16/
ago./1767), a orienta a atentar continuamente ao chamado de Deus e realizar
tudo o que Ele quer que seja feito: “Todas as coisas são bênçãos, um meio para
a santidade, sempre e quando você possa dizer ciaramente: ‘Senhor, faz comigo
o que quiser, quando'quiser e como quiser’”.
Quatro anos depois, em 1771, surgiu em Yorkshire uma polêmica envolvendo
íary Bosanquet e Sarah Crosby, que, segundo alguns pregadores metodistas,
stavam realizando pregações. Na verdade, elas organizavam reuniões de oração
eventualmente pregavam. Mas os pregadores argumentaram que não era
íblieo as mulheres falarem na igreja.
A defesa de Mary foi motivada, em parte, pela carta recebida de Wesley,
essaltando que ela deveria estar atenta ao chamado de Deus. Ela escreve a ele
olicitando que fossem dadas às mulheres as mesmas oportunidades de atender
o chamado divino, reconhecendo que o delas era excepcional: “Não creio que
odas as mulheres são chamadas a falar era público, nem que todos os homens a
er pregadores metodistas. Porém, algumas têm um chamado extraordinário, e ai
laquela que não o obedece”.
Wesley aceitou seus argumentos e respondeu-lhes, em 13 de junho de 1771:
Creio que a força de sua causa descansa no seu extraordinário chamado. Estou tão
seguro de que isso é verdade, como também de que cada um dos nossos pregadores
leigos o recebeu. Do contrário, de nenhuma maneira eu poderia aceitar a sua pregação.
Está claro para mim que toda essa obra de Deus chamada metodista é uma dispensação
extraordinária de Sua Providência. Portanto, não me admira se ocorrerem algumas
coisas que não cabem dentro das regras comuns de disciplinar A regra comum de
São Paulo era: “Não permito à mulher falar na congregação” (1 Çor 14,34 e Tt 2,12).
Sem dúvida, em casos extraordinários, ele fez exceções, particularmente em Corinto.

13 de novembro - Incêndios Perigosos

Na Inglaterra do século XVIII eram comuns os incêndios em residências,


pois boa parte das construções era de madeira. É muito lembrado o incêndio
na casa onde morava a família Wesley, no fatídico 9 de fevereiro de 1710,
quando John tinha seis anos de idade e foi salvo milagrosamente como o
“tição tirado do fogo”.
Em seu Journal (13/nov./1774), ele relata a ocorrência de outro episódio,
que poderia ter trazido funestas consequências. Mas Deus o guardou daquele
grave perigo.
Depois de um dia de muito trabalho, deitei-me na hora de costume, 9 e meia
da noite. Disse aos serventes que me levantaria, às 3 da manhã, porque às
4 horas passava o carro para Norwich. Ao ouvir um deles bater na porta,
embora muito cedo, ievantei-me e me vesti. Olhando, em seguida para o

330
relógio, descobri que eram apenas 10 e meia da noite. Enquanto pensava no
que fazer, ouvi muitas vozes, olhei pela janela e'vi que estava claro como o dia.
Muitas línguas de fogo voavam continuamente pela casa, Toda a parte de cima era
de madeira, que estava muito seca. Um grande depósito de madeira, perto dali,
cobria-se de chamas e o vento noroeste as levava até.a Fundição (na época, quartel-
general do movimento metodista em Londres), Não havia possibilidade de ajuda,
pois faltava água. Percebendo que não podia ajudar, tomei meu diário e meus papéis
e me retirei à casa de um amigo. Não tive medo, coloquei o assunto nas mãos de
Deus e sabia que Ele faria o melhor. Imediatamente o vento virou de noroeste
para sudeste. Nossa bomba surtiu efeito com muita água e, em pouco mais de duas
horas, todo o perigo acabou.

14 de novembro - Vida em Comunidade

Para John Wesley, vida cristã é necessariamente vida em comunidade. A


santificação se manifesta não apenas na vida interior e no desenvolvimento do
caráter individual, mas também nas relações com as demais pessoas e a sociedade.
Com essa perspectiva comunitária, ele escreveu textos os mais diversos, desde
uma repreensão aos violadores do domingo até um conselho a determinado
soldado. A uma prostituta, recomenda aceitar Jesus Cristo como Salvador e
abandonar o caminho da prostituição:
Rogo que reflita a respeito dessa simples pergunta: está caminhando em direção ao céu
ou ao inferno? Para onde leva esse seu caminho? Nunca ouviu que os adúlteros e os
fornicários não herdarão o Reino? Não sabe que o seu corpo é, ou deveria ser, templo
do Espírito Santo que está em. você? Pobre e desgraçada mulher! Não é verdade que
você mesma se envergonha da sua conduta? Permita à sua consciência falar na presença
de Deus! Não é verdade que, nesse momento, o seu coração a está condenando? Pelo
menos uma vez, coloque a mão sobre o coração e atreva-se a fazer-se as seguintes
perguntas: o que estou fazendo com a minha vida?, aonde conduz tudo isso?
Quanta infâmia e desprezo tem acumulado sobre seus ombros! Como poderá se
apresentar diante dos familiares e amigos que tanto a amavam? Quanta dor causou-
lhes! Alguns deles choram por você em segredo. Talvez você também chore, vendo
que só tem diante de si pobreza, dor, enfermidade e morte. Salve a sua vida! Se
não pode se preocupar com a sua alma, tenha compaixão do seu corpo. Quer saber
o que deve fazer? Primeiro, não peque mais, aconteça o que acontecer. Prefira a
fome ou a morte ao pecado. Cuide da sua alma mais do que do seu corpo. Não
estou dizendo que descuide do corpo, mas trate primeiro da sua pobre alma.
Você afirma não ter amigo nenhum para aiudá-la. Eu lhe asseguro que, se não

331
tem amigos, há alguém disposto a ajudá-la. Você possui um amigo ;om todo
o poder no céu e na Terra: Jesus Cristo, o Justo. Ele amou os pecadores do seu
tempo e condnua amando até hoje. Accicou que publicanos e prostitutas se
aproximassem. Uma delas lavou seus pés com lágrimas e os secou com seus
cabelos. Rogue a Deus para que possa estar em seu lugar! Diga Amém! Abra seu
coração e isso ocorrerá. Sem demora, ele lhe dirá: “Alegre-se, mulher, que os
seus pecados, ainda que muitos, são perdoados. Vá em paz e não peque mais”.
Você pergunta como conseguirá dinheiro para o pão, a comida e a roupa. Peça ajuda
a Deus. Ele a ouvirá, porque jamais abandonou aqueles que o buscam. Aquele que
alimenta os filhotes dos corvos não permitirá que pereça por falta de alimento. Ele
a proverá de uma maneira que você nunca imaginou, se buscá-lo de todo o coração,
Tema mais o pecado do que a possibilidade de padecer necessidades e do que a morte.
Clame com todas as forças para Aquele que perdoa os seus pecados, até que tenha o
pão que o mundo não conhece, até que receba o alimento dos anjos, o amor de Deus
derramado em seu coração. Clame até que possa dizer: “Agora sei que meu redentor
vive, que me ama e que deu sua vida por mim. E ainda que meu corpo seja destruído,
sei que verei Deus face a face”.

15 de novembro-Visitando Enfermos

No dia 15 de novembro de 1763, sabendo que Joseph Norbury, um velho


e bom soldado de Jesus Cristo, encontrava-se bastante enfermo, com câncer
na garganta, John Wesley foi visitá-lo. Encontrou-o justamente quando estava
próximo de partir ao paraíso, sofrendo muitas dores e não conseguindo articular
nenhuma palavra havia dias. Tamanha foi a emoção de Norbury ao reconhecer
o ilustre visitante, que recuperou a fala e louvou a Deus com todas as forças.
A visita durou pouco, menos de meia hora. Suas alegres e tocantes palavras
de louvor e gratidão a Deus foram as últimas, seu último testemunho ao bom
Mestre. Pouco depois adormeceu.
Três dias depois, Wesley concluiu a visita às classes metodistas. Comparando
os relatórios, constatou que, desde fevereiro passado, ápice da crise provocada
por George Bell e Tomas Maxfieid, 175 pessoas não faziam mais parte do grupo
metodista. Desse total, 106 saíram em razão direta da crise, ao passo que as
restantes o fizeram por outros motivos e apenas algumas regressaram.
Apesar da divisão, o saldo não foi tão negativo como o imaginado. Seduzido
pelo entusiasmo irracional, o grupo ficou orgulhoso, produziu confusão e
abandonou o metodismo. Entretanto, apesar da grande pedra no caminho,

332
a obra de Deus continuou sem interrupção. Os ramos continuavam férteis e
produzindo. De acordo com Wesley, Deus ainda convence, perdoa e santifica. O
grupo dissidente podia ser reconhecido como a escória, o entusiasmo, o prejuízo,
a ofensa. O ouro puro permanece: a fé, que atua pelo amor (G1 5.6) e há razão
para crer que aumenta diariamente.

16 de novembro - É Tempo de Recomeçar

A itinerânçia de Wesley permitia a ele entrar em contato com os mais


diversos tipos de sociedades metodistas. Algumas encontravam-se em ótima
fase, repletas de pessoas ativas e totalmente integradas ao movimento. Outras
viviam situação oposta, diminuindo e, em alguns casos, assistindo uma catástrofe.
Num único dia (16/nov./1774), ele se deparou com as duas realidades. Ao
meio-dia, em Lowestoft, encontrou uma comunidade extraordinariamente viva;
à noite, em Norwich, viu exemplo oposto. Ele avaliava que nunca tinha existido
uma sociedade tão descuidada como aquela. A pregação da manhã estava
praticamente acabando, as bandas se encontravam aos pedaços e não havia o
mínimo cuidado com as classes. As pessoas perderam o costume de participar
e não mais se interessavam pela vida da sociedade metodista.
Preocupadíssimo com tal situação, Wesley passou dois dias convidando
as pessoas para um encontro na sexta-feira, à noite. No início da reunião,
indagou claramente sobre se havia interesse em continuar mantendo a sociedade
ou se a solução era interromper definitivamente os trabalhos. Não pretendia
permitir que continuasse do modo como estava. Ou se teria uma sociedade bem
organizada, funcionando ativamente, ou não haveria nada. Depois de uma séria
exortação, leu as regras gerais, explicou-as objetivamente e indagou se as pessoas
estavam prontas a assumir compromissos. Dispunham-se a obedecer as normas,
sobretudo a participar das classes durante a semana, a não ser que a distância
ou a enfermidade as impedisse (únicas razões admitidas), e estar presentes na a
igreja c no sacramento?
A resposta do grupo foi positiva. Quase todos se mostraram entusiasmados
com a idéia de recomecar. Ele destacou a imDortância de uma sociedade
metodista viva, plenamente possível se cada um desse a sua contribuição. No
interessados voltar na noite seguiní mesmo horanc.
Apenas os realmente interessados. Que stiver decidid
i-n no/-\ /a.
o de1
A-IVZ J.J.CC
ttu*

333
Na noite seguinte, a maioria estava de volta e Wesley repetiu as informações,
o domingo, conversou com cada líder em particular para que avaliasse
excluísse as pessoas que não podia recomendar. Dos 204 membros foram
çcluídos 30. Numa conversa final, ele salientou que o número de membros na
>ciedade não era fundamental, e sim, o respeito às regras, mesmo que numa
>ciedade com apenas 50 pessoas.

7 de novembro - Enfrentando Tempestades

Numa viagem a Wapping, John Wesley foi alcançado por um violento


:mporal, em 17 de novembro de 1755. Tentou prosseguir, mas a chuva estava
io forte que se viu obrigado a buscar refúgio. Quando ela arrefeceu, retomou
caminho e chegou ao povoado de Gravei Lane já à noite. As ruas estavam
miadas pela água, como se fossem um rio, e o vento apagou a sua lamparina,
leio a esmo, vagueou pela água até encontrar o pátio da igreja. Assim que
ntrou, um relâmpago clareou o lado sudoeste e um raio fortíssimo indicou que
tempestade iria continuar.
Segundo o seu relato, a chuva era tão vigorosa que as telhas antigas não
onseguiam resistir e a água invadiu o templo, onde havia um bom grupo de
essoas. Os trovões e relâmpagos tornaram-se mais intenso e assustadores e,
ercebendo o grupo amedrontado, Wesley interrompeu as orações e começou
pregar “Jeová preside no dilúvio e senta como rei para-sempre” (SI 29.10).
1 aquele instante, os relâmpagos, trovões e a chuva cessaram e a noite transcorreu
xtraordinária e calma.
Mais tarde, alguém destacou que, na hora da chuva, um grupo de atores
liciava uma apresentação de Macbeth e o interessante foi que os trovões
omeçaram quase que simultaneamente com o ruído do falso trovão da peça
eatral. No início, a platéia ficara paralisada e assustada. Foi um momento curto
logo começou a encenação.

lS novemoro Atâcsitês ou tnirrisgo

No dia 18 de novembro de 1745, John Wesley visitou Bridget Armsted,


nulher fisicamente fraca, mas muito forte na fé.

334
Ela estava enferma, aguardando a bênção cie Deus sobre sua vida, esperando a cura da
enfermidade. Num certo momento, suas mãos e seus pés começaram a esfriar-se de
tal maneira, que todos chegaram a crer na chegada da morte, que ela seria inevitável.
Naquele momento, Satanás veio com força e a cobriu com profunda escuridão.
Reagindo, a mulher iniciou uma luta tão forte com Deus que, em poucos minutos, a
febre se foi, a temperatura do corpo normalizou e a sua força se restabeleceu. Com
toda a probabilidade, quando o velho assassino revelou a furiosa intenção de destruir-
lhe a alma, ela se apegou fortemente a Deus e saiu vitoriosa na batalha.

Na carta a Hester Ann Roe (17/jan./1782), ele relata um caso parecido: “A


srta. Ritchie fez uma agradável surpresa a todos. Estava gravemente enferma,
quase às portas da morte, mas Deus respondeu às orações em seu favor e a
devolveu à vida por mais um período. (.,.) Oh, Senhor, a fez descer à sepultura e
L'
tornar a subir dela (ISm 2.6), Sábios são todos os seus caminhos!”.
Na mesma carta, sugere que a origem das misteriosas dores ocasionais
sofridas pela destinatária de sua missiva podiam ser sobrenaturais, mas não é
., £ taxativo a esse respeito. Não afirmava tratar-se de algo sobrenatural, e sim que
podia ser: “Talvez sejam causadas por um mensageiro de Satanás a quem foi dada
a permissão de esbofeteá-la”. Procurando tranqüilizá-la, explica que, apesar da
possibilidade, não havia necessidade de preocupar-se: “Mudo está bem, porque
você encontrará nessa situação, e em outras futuras, a convicção de que a graça
de Deus lhe é suficiente”.
M-
No sermão baseado em Mateus 7.21-27, assinala que ninguém deve pensar-
se livre da luta e da tentação. Esjta é maior exatamente para os que crêem, pois
í;4
Satanás não deixa de provar ao máximo aqueles a quem não pode destruir. Mas
todos os que constroem sua casa sobre a rocha não têm o que temer. Quem edifica
por meio da fé e no amor de Cristo não será abatido, “não temerá, ainda que a
terra se transtorne e os montes se abalem no meio dos mares, ainda que as águas
tumultuem e espumejem, e, na sua fúria, os montes se estremeçam” (SI 46.2-3).

19 de novembro — Carregando a Cruz •5 : :;j}


rt
l-Ml
Na tarde de uma segunda-feira (19/nov,/1764) e nas demais daquela
semana, Wesley desenvolveu um trabalho difícil e desgastante. Com certo
constrangimento, “toma a sua cruz” e visita as principais pessoas da sociedade
metodista nos diversos bairros de Londres, de modo a solicitar-lhes que
contribuam para o pagamento da dívida referente à compra de uma propriedade.
33S
Ele encarava aquela atividade porque sabia que ninguém mais a faria. Naqueles
seis dias, ele conseguiu reunir quase 600 libras. No início, o trabalho foi difícil,
mas, aos poucos, passou até a gostar da tarefa, exercendo-a com alegria. O único
inconveniente foi a extrema sovinice de determinado cavalheiro, que ofereceu a
irrisória quantia de 10 xelins como se fossem dez gotas de sangue.
Em 0 perigo das riquezas, baseado em 1 Timóteo 6.9, comenta a avareza:
“Todos nós somos apenas mordomos de Deus e os nossos bens na verdade
não são nossos, mas emprestados por Deus. Da mesma forma que os
recebemos, Ele também coloca em nossas mãos as Escrituras, que especificam
a forma correta de administrá-los. Se os guardamos para nós, estamos
enterrando os talentos que Ele nos confia e somos avarentos”. Aqueles que
ganharam dinheiro de forma correta e economizaram, ele não recomenda
que se comportem como o bom judeu, cumprindo o dízimo, nem que façam
como o bom fariseu, doando um quinto de seus bens, tampouco ofereçam a
metade ou até mesmo três quartos do que acumularam. Sua sugestão é que
ofereçam tudo. Isso mesmo, tudo!
Mais adiante, exalta de forma enfática:
Oh, metodistas, escutem a palavra do Senhor! Tenho uma mensagem de Deus para
toda a humanidade, porém, sobretudo para vocês. As regras oferecidas aos metodistas
desejosos de ser mordomos fiéis e prudentes são: 1. prover as coisas necessárias a si
próprio, como alimento e vestuário, e outras essenciais à preservação da saúde; 2.
prover as mesmas coisas para os membros da família e os empregados; 3. havendo
sobra de bens, procurar cuidar dos membros da família da fé (G1 6.10); 4. se ainda
houver um excedente, buscar o bem de todos (G1 6.10).

Às pessoas parecidas com o cavalheiro que lhe ofereceu os 10 xelins,


assegura: “Amantes do dinheiro, ouçam a Palavra do Senhor! Vocês
imaginam que q dinheiro, mesmo se multiplicando como a areia do mar,
pode trazer a felicidade? Se acreditam que sim, estão entregues a um poder
enganoso, crendo numa mentira (2Ts 2.11) palpável, refutada diariamente
por mil experiências”.

20 dâ novembro — Bu sentido a Unidade

A conferência de novembro de 1749, que reuniu os irmãos Wesley e alguns


pregadores metodistas, teve como tema principal a busca da união de todas as

336
sociedades metodistas. Discutiu-se muito sobre o que fazer para que o povo
metodista se unisse no amor e na devoção.
Uma das primeiras propostas de John Wesley foi estabelecer a sociedade
metodista de Londres como “Igreja Mãe” da conexão, incumbida de coordenar
todas as outras. Naquele ano de 1749, o movimento já precisava de uma
organização mais elaborada. Além dos irmãos Wesley, os novos circuitos da
conexão metodista eram formados por 21 pregadores (oito assistentes e 13
auxiliares) e mais 15 em experiência.
Outra novidade importante dessa reunião foi a elaboração de um ritual solene
para a recepção de novos pregadores auxiliares, projeto aprovado em 1746,
que demorou para ser organizado. No ritual, além da liturgia para a recepção,
também foram colocados os cinco passos que devériam ser observados pelo
candidato: 1. sua recomendação deveria ser feita pelo assistente; 2. ele teria de
ler e concordar com a doutrina e a disciplina registrada na Ata anterior; 3. após
ser aceito como pregador em experiência (probationer), receberia uma cópia da
Ata com a seguinte nota: “Você concorda que é seu dever chamar pecadores
para o arrependimento? Dê uma prova completa de que Deus o chamou para
isso, e estaremos contentes e agiremos de acordo com você”; 4. depois de um
ano de experiência, o pregador auxiliar receberia nova cópia das Atas com a
inscrição: “Enquanto você livremente consentir e sinceramente se esforçar para
andar de acordo com as regras seguintes, estaremos felizes de caminhar de mãos
dadas com você”, e assinada por John Wesley; 5. a aceitação total era renovável
anualmente.
A responsabilidade maior no exame dos pregadores foi confiada a Charles
Wesley, por sinal, bem mais severo que o irmão. Charles julgou Robert
Gillespie como “indigno de pregar o Evangelho”, apesar da aprovação de
John, e o mandou de volta ao antigo trabalho. Em carta a John Bennet, afirma:
“Um amigo nosso (sem o Conselho de Deus) transformou em pregador
um aifaiate. Eu, com o auxílio de Deus, farei dele novamente um alfaiate”.
Tamanha era a severidade de Charles que, numa ocasião, John aconselhou-o
a “não reprovar os jovens sem muita necessidade”. Para Charles, com o
seu zelo extremo, cuidar dos negócios do Senhor era bem mais importante
que tratar dos próprios interesses. Defendia que a Igreja deveria preocupar-
se seriamente com os pregadores. Não era qualquer um que poderia ser
admitido aos quadros metodistas.

337
1 de novembro - Idéias que dão Certo

Em novembro de 1739 nasceu uma prática que se tornou muito importante


ara o movimento metodista. O modelo de organização conexional surgiu
cidentalmente, sem planejamento, quando John Wesley, John Gambold e
ohn Robinson, integrantes do metodismo de Oxford, conversavam sobre
situação do novo movimento. Na ocasião, decidiram fazer uma reunião
nual em Londres, logo após o Pentecostes (em abril ou maio), e avaliaram
possibilidade de realizar encontros trimestrais, se possível, nas segundas
erças-feiras de janeiro, julho e outubro.
Decidiram ainda que, no interregno desse período, deveríam preparar
elatórios mensais sobre as atividades desenvolvidas, de modo que os demais
ornassem conhecimento. Outra medida aprovada nessa primeira reunião foi
)rganizar uma relação com os nomes de pessoas que poderiam ser convidadas a
participar das próximas reuniões. Lembraram de várias que também participaram
lo Clube Santo e abriram espaço para outros “amigos espirituais que fossem
:apazes e quisessem participar do grupo”.
Apesar da idéia da conferência anual ter nascido em 1739, somente a partir de
igosto de 1745 estabeleceu-se definitivamente a sua prática. Ficou acertado que a
reunião seria uma grande oportunidade para Wesley deliberar com seus pregadores
i respeito de assuntos de governo e de doutrina. O grupo de três clérigos e seis
pregadores leigos, reunido em Bristol, em 1745, consumiu boa parte do tempo
discutindo qual deveria ser o conteúdo da pregação metodista. Esse tema tornou-
se relevante, porque os pregadores leigos estavam dando “excessiva ênfase à ira de
Deus e muito pouca ao seu amor”. Nas Atas dessa conferência, consta a seguinte
recomendação aos pregadores: “Vocês não têm nada a fazer, senão salvar almas.
Portanto, gastem e sejam gastos nessa obra. Devem ir sempre não apenas ao
encontro dos que precisam de vocês, mas aos que necessitam mais”.
Na conferência de 1748, o tema dominante foi o estabelecimento das regras
e'o currículo da recém-criada Escola de Kingswood, reaberta em 24 de junho
daquele ano. Na conferência seguinte, realizada em Londres, em novembro do
ano seguinte, a principal preocupação foi “a união gerai das sociedades em toda
a Inglaterra no espírito de amor e devoção”.
já a última conferência anual que contou com a participação de John Wesley
ocorreu em 1790. O método de nomeação dos pregadores foi o mesmo de

338
sempre: eíO sr. Wesley pôs a mão no bolso e tirou uma folha manuscrita, a qual,
acredita-se, ninguém havia visto desde que ele a escrevera em Newcastle, no
caminho à conferência”. Naquele ano, o metodismo da Grã-Bretanha contava
com quase 300 pregadores para dirigir um rebanho de 71.463 membros.

22 de novembro - Evitar Polêmicas

Na carta a um pregador metodista (nov./1747), Wesley o orienta a evitar


qualquer tipo de polêmica durante os sermões:
Na pregação pública, não pronuncie uma só palavra contra opiniões de qualquer tipo.
Não estamos lá para lutar contra idéias, mas contra pecados. De nenhuma maneira
devo, nem uma só vez, aconselhar-lhe abrir os lábios contra a predestinação. Causaria
mais problemas do que você imagina. Concentre-se no nosso único ponto, a salvação
presente e interna pela fé, pela evidência divina dos pecados perdoados.

Ao itinerante Joseph Cownley (set./1746), procura incutir ânimo, lembrando


as palavras de Jesus: ‘Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é
i apto para o reino de Deus” (Lc 9.62) e afirmando que o prêmio para os que não
í desanimassem seria glorioso. Recomenda também a ele evitar qualquer tipo de
l
controvérsia, como se “evitasse o fogo”, e explica que o segredo do ministério
I. é o amor fraternal.
Em outra carta ao pregador metodista (abril/1750), transmite algumas
notícias e dá importantes orientações:
Desconfio que você se encontra em perigo mais por causa da honra do que da desonra.
Sempre acho que há mais perigo navegando em águas tranqüilas. Quando sopram os
ventos e os mares rugemj até mesmo aquele que dorme se levanta e clama ao seu
Deus (Jn 1.6). De Newcastle a Londres e dessa cidade a Btistol, Deus está reavivando
sua obra. Isso ocorre em Dublin, apesar da grande imprudência, Lobos vorazes
ultimamente entraram no nosso meio, não perdoando o rebanho (Hb 20.29). Por
isso, algumas almas foram destruídas completamente e outras, feridas, ainda não se
recuperaram. Os que deveriam estar a postos na brecha não o fizeram (Ez 22.30). (...)
Vejo que você está em perigo e talvez nem se dê conta. Não é verdade ser muito
agradável para mim, e igualmente para você, estar sempre pregando sobre o amor
de Deus? E não há momentos em que nos sentimos estranhamente guiados a fazê-
lo e encontramos nisso uma bênção especial? Assim é, sem dúvida. Porém, seria
um erro grave e contra as Escrituras pregar apenas isso e nada mais. Deixemos
que a Lei prepare sempre o caminho para o Evangelho. Raras vezes falei aqui com
mais força sobre o amor de Deus em Cristo do que na noite passada. Porém, só foi

õ39
depois de romper em pedaços os adormecidos. “Vá e faça o mesmo” (Lc 10.37).
■Só o amor de Deus em Cristo alimenta seus filhos; no entanto, eles têm de ser
guiados da mesma forma que alimentados. À maioria dos que nos escutam precisam
ser purgados, antes de ser alimentados. Se não, estaremos somente alimentando sua
enfermidade. E tome cuidado com uma dieta baseada apenas em mel.

23 de novembro - Cuidando de Enfermos

John Wesley dedicava atenção especial aos enfermos. No dia 24 de novembro


de 1760, visitou tantos enfermos quanto possível. Segundo ele, o fundamental
é estar ao lado dos doentes e dos pobres. Não basta enviar ajuda, ficar distante.
É preciso ir até onde eles estão. Será bom para eles, que reconhecerão o nosso
interesse e o nosso amor, e será de grande benefício para nós, já que suaviza
nossos corações e nos ensina a ocuparmo-nos dos outros com naturalidade.
O interesse de Wesley pelos enfermos era antigo. Na carta escrita ao rev.
George Whitefield e aos metodistas de Oxford (10/set./1736), quando estava
em Savannah, na Geórgia, ele conta que quase todas as vezes que visitava uma
pessoa, saudável ou enferma, ela participava da vida da Igreja por um tempo.
Essa constatação fez com que John Wesley organizasse um plano de não apenas
visitar os enfermos, mas também toda a paróquia, nas próprias casas. Montou o
seu plano e começou o trabalho, mas, por causa do grande número de pessoas
enfermas, não conseguiu tempo para os demais. Restringiu-se aos enfermos. De
segunda a. sábado, da 1 hora até as 5 da tarde, dedicava-se a essa tarefa.
Ao irmão Charles revela, em 21 de abril de 1741, estar desenvolvendo um
método regular de visitação de enfermos. Como o seu número era muito grande
e ele não conseguiria dar conta do trabalho sozinho, decidiu organizar um
ministério, formado por dez voluntários, com a missão específica de levar-lhes
conforto espiritual.
No dia 11 de fevereiro de 1759, dirigiu-se ao hospital St. George pata visitar
Elisabeth Hariand. Muitas pessoas lá tinham preconceito contra ele, mas, com
testemunho de Elisabeth, a recepção acabou sendo positiva. Todos, uns
60 ou 70 homens e mulheres, permaneceram atentos enquanto falou e orou
ao lado da cama da amiga. No dia 23 daquele mês, em visita a outro hospital,
presenciou um espetáculo surpreendente. Uma pessoa tinha sofrido um acidente
e perdido o nariz. Tempos depois, ficou também sem um olho e, mais tarde, o

340
outro, e não demorou para perder o paladar. O mais admirável, como afirma,
era que, ao invés de se queixar, a pessoa reconhecia o amor de Deus e o louvava
condnuamente.
Mais tarde, em carta à srta. J. C. March (dez./1777), revela-se uma pessoa
bastante ocupada, que viajava cerca de 8 mil quilômetros por ano, mas que
encontrava tempo para visitar os enfermos e os pobres. Fazia tal trabalho porque
cria na Bíblia e nas perguntas que o Pastor de Israel faria no grande dia. Visitar
enfermos e pobres é missão de todo cristão e John Wesley realiza esse trabalho,
aproveitando todo o tempo e oportunidade.

24 de novembro - A Morte do Irmão

Samuel, o irmão mais velho dos Wesley, morreu repentinamente, muito cedo,
em 24 de novembro de 1739. John e Charles foram avisados da sua morte do
irmão e dirigiram-se a Tiverton, de modo a dirigir o ofício e consolar a família.
Durante a cerimônia fúnebre, John recebeu de um dos pastores o convite para
pregar em sua igreja. Na manhã seguinte, um domingo, pregou em St. Mary,
citando Romanos 14.17: “O reino de Deus não é bebida, nem comida, mas
justiça, paz e gozo no Espírito Santo”.
Após o sermão, foi informado de que não poderia mais. pregar no culto da
noite, como havia sido acertado. Perguntando qual a razão da mudança, o pastor
lhe respondeu: “Não é que você pregue doutrina falsa. Acho que tudo o que diz é
verdade, é a doutrina da Igreja da Inglaterra. Porém, não é precavida, mas périgosa.
Pode guiar pessoas ao fanatismo e ao desespero”. Wesley já estava familiarizado
àquele tipo de objeção. Antigamente, havia espaço aberto para pregar onde
quisesse, só que ele não tinha uma mensagem de Deus. Agora, que isso acontecia,
as portas dos templos não lhe eram mais franqueadas. Curioso paradoxo.
Depois de refletir por alguns momentos, compreendeu a situação.
Comumente se pensa que religião consiste em três pontos: ser inofensivo, usar os
meios de graça e fazer o bem, ajudando o próximo, sobretudo com esmolas. Por isso,
um homem religioso frequentemente se refere a outro que é honesto, justo e bem-
intencionado era suas atitudes, que assiste regularmente os trabalhos da igreja e ao
sacramento, dá esmolas e faz o bem. Ao explicar as palavras do apóstolo, de que o
reino de Deus (ou a verdadeira religião, a conseqüencia de que Deus vive e reina na
alma) não é comida e nem bebida, fui obrigado a mostrar que a religião não consiste
propriamente em uma ou em todas essas coisas. Ao contrário, uma pessoa pode ser

ó41
I
inofensiva, usar os meios de graça e fazer o bem e, no entanto, não possuir nenhuma
religião verdadeira. Ao expor que o reino de Deus (ou a verdadeira religião) é
justiça, paz e gozo no Espírito Santo, insisti em que cada seguidor de Cristo deve
esperar e orar pela paz de Deus que ultrapassa todo entendimento, deve gloriar-se
na esperança da glória de Deus e que isso dá agora mesmo, nessa vida, um gozo
inefável e glorioso, a convicção de que o amor de Deus foi derramado em nossos
corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.

No final, Wesley afirmou serem bastante comuns as pregações sobre o texto


e Romanos:
As pregações, còm muita freqüência, eliminam a radicalidade da Palavra de Deus.
Explicam esses textos de tal maneira, que eles não significam mais nada, expressando
muito menos da religião interior que os escritos de Platão ou de Heráclito. Qualquer
pessoa precavida com eles (Deus permita que não seja eu), sem dúvida, evitará todo
o perigo de levar gente ao desespero ou guiá-la ao entusiasmo.

5 de novembro - Uma Ação Nova de Deus

No final de novembro de 1759, Wesley retorna a Everton e percebe


iferenças no comportamento dos metodistas. No culto da tarde do domingo,
ia 25, declara a presença de Deus muito mais para consolar do que para
onvencer. Havia extraordinária diferença nas pessoas, em comparação com
outra vez em que ali estivera. Ninguém estava em transe, gritava, desmaiava,
.em entrava em convulsão. Alguns apenas tremiam emocionados e se ouvia
m suave murmúrio entre a congregação. E muitos receberam a paz abundante
lo Senhor Jesus.
Para Wesley, se, por um lado, há perigo na valorização demasiada das
nanifestações extraordinárias, como gritos, convulsões, visões e transes,
orno se elas fossem imprescindíveis, por outro, existe o risco de desvalorizar
ompletamente tais manifestações. No caso de Everton, tinha ocorrido o
eguinte: 1, Deus, de repente e com força, convenceu a muitos de que eram
>ecadores perdidos, consequentemente, houve gritos repentinos e convulsões;
1. para fortalecer e animar os crentes e realizar a obra, Deus favoreceu a muitos
:om sonhos divinos, a outros com transes e visões; 3. em alguns casos, depois de
:erto tempo, a natureza se misturou à graça; 4. visando a desacreditar e atrapalhar
i obra de Deus, Satanás começou a fazer imitações.

342
Wesley acreditava que os extremos são sempre perigosos. Ao mesmo tempo
em que não se deve acreditar que todas as manifestações são obras do Espírito,
também não se pode concordar com aqueles que fecham todas as portas a elas.
Suponhamos que, em alguns poucos casos, houve dissimulação, quando pessoas
anunciaram ver ou sentir o que na verdade não viram nem sentiram, e apenas
imitaram gritos e movimentos. Mesmo que, no meio de um grande movimento,
aconteçam dissimulações, e até com certa frequência, ainda assim não se deve negar
ou desvalorizar a obra real do Espírito. “A sombra não é o menosprezo da substância,
nem a falsificação do verdadeiro diamante.” Devemos ser cuidadosos e nos proteger
contra esse tipo de ocorrência, exortando diligentemente a compreensão de todos de
que, para Deus, o valor está no amor humilde. Não se pode menosprezar ou censurar
essas expressões. Seria um ato irracional e não cristão.

Ele sabia que as experiências ocorridas em Everton e outras localidades seriam


y analisadas com muito preconceito. Muitas pessoas sinceras não acreditavam nos
f seus relatos e ele não podia fazer nada. Esperava apenas que os que pensavam
| diferentemente o suportassem, como ele o fazia e “que aqueles que pensam
■i í; como eu creiam que essa foi a obra mais gloriosa de Deus realizada em nossa
f: memória”.

26 de novembro - Desânimo Passageiro

k Na noite da segunda-feira, 26 de novembro de 1753, John Wesiey estava


doente. Tamanho era o seu desânimo que chegou inclusive a compor o próprio
epitáfio: “Aqui jaz o corpo de John Wesley, um tição, não apenas uma vez,
retirado do fogo. Morreu de tuberculose aos 51 anos de idade, deixando (depois
que seus débitos forem pagos) nem 10 libras atrdc de si e orando ‘Deus tenha
misericórdia de mim, um servo inútil’”.
Sua saúde havia se deteriorado bastante naquele mês, obrigando-o a se
retirar para o campo por várias semanas, com vistas a tratar de sua tuberculose.
Provavelmente, o início da sua enfermidade tenha ocorrido em 12 de novembro,
conforme o registro em seu Journal.
A viagem para Leigh demorou muito tempo, por causa do tempo frio e chuvoso. Às
7 horas da noite, durante a pregação, o frio continuava intenso. O culto foi realizado
em recinto fechado, mas havia uma porta aberta formando uma corrente de ar gelada.
Meus pés pareciam tão frios como se estivessem dentro dc uma bacia de água fria. No
dia seguinte, sentei-me ao lado de uma lareira acesa. Entretanto, o frio era tão intenso

343
que não conseguia me aquecer. Prossegui a viagem e meio ao frio forte e penetrante.
Quando finalmente cheguei em casa, senti uma dor muito forte no lado esquerdo do
|JCI to, tosse violenta e iCure.
a
:
j;—
uiv.
uíüo
j. /wou it/tttui JU1. c|v_i£7 no
domingo, dia 18, estivesse apto a pregar em Spitalfieids e administrar o sacramento da
Ceia a uma grande congregação. Depois disso, meu estado de saúde voltou a piorar
e o dr. Fothergill recomendou-me alguns dias no campo, descansando, tomando leite
de jumenta e cavalgando diariamente.

O período de recuperação durou mais de 40 dias. Depois do Ano Novo,


eslocou-se para Hot Well, perto de Bristol, para tomar águas minerais como
arte da sua convalescença. Nessa ocasião, incapaz de viajar ou pregar, iniciou o
rojeto, em mente havia muito tempo, de escrever um comentário sobre-a Bíblia,
lasceram, então, as Notas explicativas sobre o NovoTestamento.
Sua grave doença tiouxe à tona a questão da sucessão da liderança metodista,
vté então, muito pouco tinha se falado a respeito do assunto. O candidato natural
inquestionável era Charles Wesley, que não aceitou a sugestão e anunciou à
ociedade de Londres, em dezembro de 1753, que não podia nem desejava
ornar o lugar do irmão (se Deus o levasse). Não possuía corpo, mente, talento
»u graça para a função. Além de Charles, outro possível candidato era William
j-rimshaw, pároco em Haworth, citado em algumas escrituras antigas dos
netodistas como o terceiro depois dos Wesley.
No entanto, John Wesley recuperou sua saúde e seu epitáfio foi deixado de lado.

\1 de novembro - Situação Polêmica

No final de" novembro de 1775, John Wesley publicou um artigo no jornal


Joyd’s Evening Post, explicando por que escrevera Uma mensagem severa a nossas
olônias americanas, tratando o conflito entre a Inglaterra e suas colônias na
fmérica. Ele era contra a independência dos Estados Unidos.
Na carta a Waiter Churchev (25/jun./1777), ressalta que sua tarefa como
>astor o obrigava a recordar às pesso-as que deviam submeter-se às autoridades
uperiores. A.firma que a lealdade é um ramo essencial da religião e há uma
ntima relação entre religião e conduta política. A mesma autoridade que lhe
>rienta temer a Deus também lhe aconselha a honrar ao rei.
No artigo do jornal, ele declara o objetivo básico de contribuir com sua
>arte, com o seu grão de areia, para apagar o fogo que se espalhava sobre a

344
Terra. Com dor no coração via muitas pessoas jogando óleo ao fogo e gritando
que os pobres americanos, em luta pela liberdade, eram tratados com injustiça.
Para ele, os habitantes das colônias não eram oprimidos e gozavam de ampla
liberdade, civil e religiosa. Por trás do conflito, estava a decisão de boicotar o
pagamento de impostos.
Agora não há forma possível de apagar esse fogo ou impedir que se faça mais e
mais alto sem mostrar que os americanos não são tratados com crueldade, nem com
injustiça, que não lutam pela liberdade (eles já a possuem em toda a sua extensão,
civil e religiosa), nem por nenhum privilégio legal (pois gozam de tudo isso em suas
cartas constitucionais). Lutam é pelo privilégio ilegal de se ver livres dos impostos
parlamentares. Um privilégio que nunca cédula alguma deu a nenhuma colônia
africana, e nem poderá dar, a não ser confirmado pelo rei, pelos lordes e pelos
comuns, que por certo nossas colônias nunca tiveram, nem reclamaram até o presente
reinado. E provavelmente nunca teriam reclamado, não houvessem sido incitadas a
isso por cartas da Inglaterra. Urna delas foi lida, segundo o desejo do escritor, não
apenas no Congresso Continental, como também em muitas congregações em todas
as províncias. Aconselhava a todos os oficiais do rei a se posicionarem lhes exortava:
“Resistam com valor durante seis meses e, nesse período, haverá tais comoções por
toda a Inglaterra e vocês poderão fazer valer suas condições”. Sendo tal a situação,
sem colocar nenhuma cor ou agravo, que homem imparcial poderia culpar o rei ou
elogiar os americanos?

Com o propósito de apagar o fogo, colocando a responsabilidade onde se


devia, que foi escrito tal artigo.

28 de novembro - Os índios Devem ser Respeitados

John Wesley estava feliz com o trabalho metodista nos Estados Unidos.
Apesar da crise provocada pela independência, ele sempre procurou ajudar os
lideres metodistas na América. Enviou-lhes inúmeras cartas, especialmente a
Coke e Asbury. Na correspondência a esse último (nov./1787), observa como
essencial cuidar melhor dos indígenas, que estavam sendo dizimados e não
contavam com a necessária defesa dos metodistas:
Verdadeiramente, Deus vem realizando durante vários anos uma obra gloriosa na
América. Porém, uma questão me traz muita preocupação: Deus está visitando a
descendência de Jafé (os ingleses), que agora “habitam nas tendas de Sem” (Gn 9.27),
segundo a prorecia de Noé. A descendência de Sem (os índios) parece estar sendo
esquecida. Quão poucos deles têm visto a luz da glória de Deus desde que os ingleses

345
lá se estabeleceram! E agora apenas um entre 50, talvez um em cem, ainda se encontre
vivo! Não está parecendo que Deus, ao invés de planejar a reforma das nações índias,
tenha desejado sua destruição? Quantos milhões de indígenas (na América do Sul e na
do Norte) já morreram nos seus pecados! Será que nem Deus nem o ser humano terão
compaixão desses párias da humanidade? Sem dúvida, se depender do ser humano,
é impossível que eles recebam ajuda. Mas será que isso é difícil para Deus? Oh, se
Ele se levantasse e defendesse sua própria causa! Se Ele inquietasse os corações de
alguns de seus filhos a orar solenemente pela conversão desses pagãos! Então, “A
eterna Providência, que excede todo o pensamento, abrirá um caminho onde não há”,
“Rogue, pois, ao Senhor, que envie trabalhadores para a sua seara” (Mt 9.38). Não
relute em enviar dois irmãos dos cem que possui para ajudar os do norte (isto é, da
Nova Escócia). Considerando os gastos enormes, bastà que enviemos dois obreiros
para cada um dos que vocês enviam. Façamos tudo o que for possível e será suficiente.
E que não surja nenhuma dificuldade nas nossas relações.

>9 de novembro - Uma Posição Política Conservadora

Ao editor do jornal LlaycTs Evening Post, no dia 29 de novembro de 1775,


Vesley explica as razões que o levaram a publicar o texto Uma mensagem severa
i nossas colônias americanas. Não fora para obter dinheiro, fama, promoção, nem
>ara agradar quem quer que fosse. Conhecia bem a humanidade, a ponto de
■aber que aqueles que o amavam por razões políticas, o amavam menos do que
> seu alimento, e os que o odiavam, o faziam mais que ao diabo. Seu objetivo, de
tcordo com ele, era contribuir para extinguir o fogo que cobre todo o país, uma
tez que muitos continuavam atirando óleo combustível ao fogo.
Em matéria de política, ele sempre se manteve conservador, sendo inclusive
zontestado inúmeras vezes pelos próprios metodistas. Houve um episódio muito
nteressante, de 1775, nas docas de Plymouth, quando Wesley exortou alguns
que possuíam “profundos preconceitos contra o rei e os seus ministros’’. Mais
Dela sua autoridade e pela ameaça de “não tolerar que pregue conosco ninguém
que faie mal de autoridades ou profetize o mal contra a nação”, o certo é que ele
:onseguiu demover as idéias de todas aquelas pessoas.
Ainda em 1775, em meados de outubro, na carta ao irmão Charles, recomenda
im prazo para corrigir as opiniões das pessoas, sem permitir que ninguém
desanimasse. Naquele dia 17 de outubro, dedicara várias horas respondendo ao
Americanas’’, pseudônimo de um autor que tinha contestado sua posição. Ele

346
destaca que havia o perigo de se perder o amor pelos miseráveis líderes norte-
americanos, que arrastavam as pobres ovelhas para onde queriam, e considerava
a maioria das pessoas bem-intencionada e apenas seguia a liderança.
Em 1779, havia explicado o decréscimo em alguns circuitos como resultado
“parcialmente de preconceitos contra o rei e o falar mal das autoridades”. Anos
depois, em 1782, escreveu um pequeno artigo, intitulado Até que ponto é dever de um
ministro cristão pregar sobre política?, reconhecendo que, embora sua tarefa principal
fosse “pregar Jesus Cristo e ele crucificado”, os pregadores deveriam certamente
defender o rei e seus conselheiros contra as censuras injustas entre o povo. Aos
seus pregadores na América, na carta de 1.° de março de 1775, aconselha “serem
pacificadores, amorosos e cuidadosos para com todos, mas que não se filiassem
a nenhum partido político”.

30 de novembro - Irmãos Fanáticos

Ao irmão mais velho, Samuel, pastor anglicano, que considerava os dois


irmãos fanáticos, John Wesley escreve uma carta, em 30 de novembro de 1738:
Creio que todo cristão deve'orar para receber o testemunho do Espírito de Deus
afirmando ao seu espírito ser filho de Deus (Rm 8.16). Creio que o Espírito de Deus
dará testemunho de que a pessoa é filha de Deus e que seus pecados foram perdoados.
Esse testemunho é feito por Deus e, creio, necessário para a salvação. Até que ponto
a invencível ignorância poderá escusar a outros eu não sei.

No seu Journal (3/set./l 739), John assinala ter conversado longamente com
a mãe a respeito do assunto. Ela lhe disse que, pouco tempo antes, ouvira pela
primeira vez a menção de ter os pecados perdoados agora ou do Espírito de
Deus testemunhando com o nosso espírito. Nunca tinha imaginado que esse era
um privilégio de todos os crentes em Cristo. Por tal razão, nunca se atrevera a
pedi-lo para eia mesma. Porém, duas ou três semanas antes, enquanto Westley
Hall (o esposo de sua filha Marta), ao entregar-lhe o cálice, pronunciara as
palavras “O sangue de nosso Senhor Jesus Cristo, que foi entregue por nós”,
elas atravessaram o seu. coraçao e eia soube que La eus, por meio Gc v^nsto, navia
perdoado todos os seus pecados.
John perguntou-lhe se seu avô (Samuel Annesley) não teve essa mesma fé
e se ela não o ouviu pregar sobre o assunto. Eia lhe responde que seu pai tinha
essa fé e que, pouco antes de sua morte, declarou que por mais de 40 anos não
tsma gs -

347
:r vivido nas trevas, nem sentido temor ou dúvida de ser aceito pelo Amado
>eus. Entretanto, ela não recordava de ter ouvido, nem uma só ve2, qualquer
regação sua explicitamente sobre o tema. Assim, achava que seu pai acreditasse
ue tal experiência fosse uma bênção para poucas pessoas, e não uma promessa
stendida a todo o povo de Deus.
Samuel Wesley júnior faleceu no dia 6 de novembro de 1739 sem compreender
nova fé dos irmãos. O rigoroso ministro da Igreja Anglicana não teve o tempo
ecessário para perceber que a ação do Espírito Santo não era “ilusória, perigosa,
promotora de visões e sonhos ociosos”, conforme retrucava em suas cartas.

348
Dezembro

melhor de tudo é que Deus está conosco .

John Wesley, na manhã de 2 de março de 1791,


momentos antes de sua morte
.2 de dezembro - Carregando a Cruz

Em carta dirigida a Hannah Bali, de dezembro de 1778, John Wesley assinala


ue as coisas pequenas contrárias à nossa vontade podem proporcionar grandes
■ênçãos. Segundo ele, “necessitamos colocar em prática a norma geral Tome sua
ruz e siga-me? (Mc 8.34), nas milhares de pequenas situações: um quarto cheio
íe fumaça, uma manhã fria, um dia chuvoso, a burrice e a maldade daqueles com
[uem estamos. Essas e inumeráveis pequenas cruzes nos ajudarão a continuar
m direção ao reino de Deus”.
Num outro texto, Wesley afirma que, por mais paradoxal que possam
>arecer, as tentações e provações também podem ser compreendidas a partir de
ima perspectiva positiva. Para ele, o propósito primeiro e mais importante de
Deus ao permitir as tentações que causam aflição a seus filhos é provar sua fé:
As tentações provam a fé da meSma maneira que o ouro é provado pelo fogo. Sabemos
que o ouro se purifica ao passar pela prova do fogo, quando se separa o metal nobre
da escória. O mesmo ocorre com a fé no fogo da tentação: quanto mais se prova,
mais se purifica. Ainda mais: não apenas se purifica, mas também se fortalece, se
afirma, e cresce abundantemente pelas inumeráveis mostras da sabedoria, de poder,
de amor ê de fidelidade de Deus. Aumentar nossa fé é, portanto, um dos fins que
Deus em sua graça persegue ao permitir que atravessemos diversas provas.

Qual é a mais difícil provação? Qual é a cruz mais pesada de todas?


lespondendo a tais perguntas, Wesley diz que o cristão sério, que vive ao lado
le Jesus Cristo, é capaz de superar até com certa tranquilidade todos os tipos de
eveses e dificuldades, desde enfermidades até as situações mais inusitadas.
Entretanto, a cruz mais incômoda, a que mais exige, é reconhecer que há
alta de fé nos seus próprios irmãos. Numa situação dessas, quando a própria
:omunidade deixa de acreditar, a provação se torna mais difícil porque os frutos
lão mais aparecem. Se por um lado essa provação é a mais complicada de todas,
Dor outro nada pode desafiar tanto o verdadeiro cristão do que essa impressão
le estar empregando todas suas energias inutilmente.
Wesley fala da dor promnaa, muito comum, que ocorre quando uma
aessoa muito querida se afasta de nós, se afasta de Deus e passa a viver no
oecado. Entes próximos que passam a trilhar um caminho de morte e que,
doí: mais que falemos e aconselhemos, não aceitam as orientações. Essa dor,
para ele, pode alcançar níveis inimagináveis quando reconhecemos que uma

350
pessoa dessa caminhava tão bem nos caminhos de Cristo, mas que agora está
longe e afastada de Deus.

2 de dezembro - Esforços Inúteis

Charles Wesley permaneceu poucos meses na América. Em 2 de dezembro


de 1738 já estava de volta à Inglaterra. Além de uma experiência frustrada, ele
contraiu uma enfermidade muito séria. Ao receber a visita de Pedro Bõhler,
Charles pediu que o morávio orasse por ele. Bõhler fez uma fervorosa oração e,
em seguida, tomando as suas mãos disse-lhe: “O irmão não morrerá desta vez5?.
Essas palavras trouxeram-lhe muito conforto, pois as dores eram tão fortes que
ele julgava não poder mais suportá-las. A seguir Bõhler perguntou-lhe: “O irmão
tem esperança de ser salvo?”. “Sim”, respondeu Charles. Indagado a respeito da
base da sua esperança, Charles retrucou: “Porque tenho me esforçado para servir
a Deus”. Ao ver Bõhler menear a cabeça em sinal de discórdia, ele argumentou:
“Será que meus esforços não são suficientes para garantir a minha esperança?”.
Aquela conversa com Pedro Bõhler permitiria a Charles Wesley refletir melhor
sobre a sua fé.
Hospedado na casa de seu amigo James Hutton, Charles foi visitado pelo
sr. Bray, um mecânico pobre, muito simples e extremamente fervoroso, que
imprimiu nele uma forte impressão. Em procura da fé salvadora, Charles decidiu
passar algupn tempo na casa do mecânico. Foram dez dias de busca espiritual
e, durante esse período, ele recebeu muitas visitas, inclusive de seu irmão John.
Apesar de todo o esforço empreendido pelo sr. Bray, não foi ele o principal
instrumento na conversão de Charles Wesley. Havia na casa uma empregada,
também muito fervorosa, que, certa ocasião, procurou seu patrão e afirmou estar
sentindo uma vontade muito grande de orar junto com o ministro que estava
hospedado em sua casa. Em lágrimas, ela garantiu sentir um grande impulso
nessa direção, mas que se via impossibilitada por ser uma simples e ignorante
mulher, Como é que ela podería falar das coisas de Deus com o ministro, o
pastor formado em Oxford?
Animada pelo sr. Bray para que “tosse em nome do Senhor”, ela criou
coragem. Na entrada do quarto onde Charles estava doente, ela falou suavemente:
Em nome de Jesus, o Nazareno, levanta-tei lu seras curado de todas as tuas
enfermidades!”.

351
Charles Wesley narra que estava cochilando quando ouviu tais palavras, que
nuiío o emocionaram. Suspirando, pensou consigo mesmo que seria tão bom se
Sristo lhe falasse daquela maneira.
Ao perguntar sobre quem havia dito aquelas palavras, a pobre mulher
;e apresentou e afirmou ter sido ela, mas que as palavras em verdade eram
le Cristo. Disse que foi Cristo quem ordenara que as repetisse a ele. Eia
íavia sido constrangida de tal maneira por Cristo que se viu na obrigação de
rumprir a ordem.
Foi ali, ouvindo aquelas palavras, que ocorreu a grande experiência de Charles
Wesley. Era dia de Pentecostes, 21 de maio de 1738. Ele alcançou a salvação.

3 de dezembro - Morrendo em Batalha

John Wesley recebeu uma carta de John Evans, soldado que estava na frente
ie combate na Batalha de Flandres. e que acabou morrendo, estendido sobre
am canhão (com ambas as pernas estraçalhadas), louvando a Deus e exortando
i todos que o rodeavam. Nessa carta, transcrita no Journal (3/dez./1744), o
soldado conta um pouco da sua história e revela a sua busca espiritual:
Estimado Senhor: eu lhe sou um estranho. Não sei se já o havia lhe visto antes
daquela vez que o vi pregando na praça de Kennington. Na época, eu o odiava,
tanto quanto agora (pela graça de Deus) eu o amo. O Senhor me perseguiu com
convicções desde minha infância e, com freqüência, tomei boas resoluções; porém,
sabia que não poderia cumpri-las (porque foram feitas baseadas na minha própria
força). Finalmente, abandonei todo esforço e luta e me entreguei a todo tipo de
luxútia e profanação. Assim continuei por alguns anos, desde a Batalha de Dettingen.
As balas dos canhões caíam ao meu redor e meus companheiros tombavam por todos
os lados. Sem dúvida, me conservei sem nenhum ferimento. Poucos dias depois
dessa batalha, o Senhor veio me visitar uma segunda vez. As dores do inferno se
apoderaram de mim, as trevas de morte me rodearam. Já não me atrevi a seguir
cometendo nenhum pecado visível e orei ao Senhor para que tivesse misericórdia
de minha alma. Agora estava em busca de livros, mas Deus também cuidou dessa
necessidade. Um dia, quando estava trabalhando, encontrei uma velha Bfolia em
um dos vagões do trem. Para iê-ía, logo fui buscar meus velhos companheiros. (...)
Minha Bíblia era agora minha única companheira, e eu acreditava ser um bom cristão
até que chegamos a nossos quartéis de inverno, onde me encontrei com John Haime.
Logo me aborrecí da sua companhia. Ele roubou meu tesouro; furtou meus deuses ao
dizer que eu e minhas obras iríamos juntos ao inferno. Essa era uma doutrina estranha
para mim, que estava completamente ignorante da justiça de Cristo e só buscando
estabelecer minha própria justiça (...). Quando finalmente o Senhor abriu os meus
olhos e me ensinou que "por graça somos saivos por meio da fé” (Ef 2.8), comecei
| imediatamente a declarar essa mensagem para outras pessoas, ainda que pessoalmente
não tivesse experimentado em minha vida. Mas no dia 23 de outubro, quando William
Clements estava em oração, senti repentinamente uma mudança em minha alma.
Meus olhos se encheram de lágrimas de amor. Soube que estava reconciliado com
Deus por intermédio de Cristo, aquele que encheu minha alma com ferveate amor, a
quem agora via como meu único Salvador. Quão terno é o cuidado de Deus Todo-
Poderoso em educar seus filhos! (...) Estimado senhor, rogo que ore por este que não
é digno de ser porteiro do menor dos servos de meu Mestre.

4 de dezembro - Questionando a Autoridade

Muitos pregadores questionavam a forma centralizadora e ditatorial de John


Wesley dirigir o movimento metodista. Em carta de 4 de dezembro de 1751, ele
solicita ao irmão Charles que o ajude na avaliação dessa questão: “Em que sentido
tu crês ser necessário ‘quebrantar meu poder’ e 'reduzir minha autoridade dentro
de limites aceitáveis’?”. Assinala estar disposto a ceder parte de sua autoridade
ou até mesmo toda ela. Afirma não ser nem nunca ter sido prazenteira a sua
responsabilidade e que somente deseja gastar sua vida na obra que Deus lhe que
encomendou realizar.
Em carta anterior ao irmão, de agosto daquele mesmo ano, ele registra:
“Charles Skelton advoga uma classe de aristocracia, e diz que você e eu não
devemos fazer nada sem o consentimento de todos os pregadores, pois de outra
forma governamos arbitrariamente”.
Apesar do descontentamento de diversos pregadores, não havia
ninguém que questionasse abertamente a autoridade de Wesley. Mesmo na
movimentada conferência de 1763, poucos meses depois do grave problema
produzido por George Bell e seus discípulos, e quando nos bastidores
alguns demonstravam irritação com o rígido controle exercido por Wesley,
foi relativamente fácil debelar a movimentação. Bastou que Howeli Harris,
presente à reunião, reprimisse o movimento com o seguinte comentário: “Se
o sr. Wesley alguma vez abusar de seu poder, quem chorará por ele se seus
próprios filhos não o fizerem?”.
fím todas as demais conferências sempre havia comentários a resoeito do j.

353
comando arbitrário de John Wesley. Em carta ao irmão (9/jul./1766), ele escreve:
“Vou te contar um segredo. Não haverá oposição contra mim na conferência:
porque eu não discutirei. Encontrarei outro trabalho para eles”. E a seguir ele
garante que a presença do irmão será muito importante, “sumamente necessária”.
Em carta anterior (27/jun.), John Wesley já havia intimado o irmão a participar,
especialmente por desejar fazer uma completa reforma dos pregadores.
Durante a conferência, surge a questão do poder por ele exercido sobre
todos os metodistas na Grã-Bretanha e Irlanda. Sua resposta, bastante longa,
procura traçar uma narrativa histórica que tem início em novembro de 1738.
Sustenta que não busca o poder, mas que o povo vem a ele por liderança: “Foi
meramente em obediência à Providência de Deus e para o bem do povo que a
princípio eu aceitei esse poder, que nunca procurei; pelo contrário, centenas de
vezes labutei para atirá-lo longe”. Relembra aos presentes ter sido sua iniciativa
realizar conferências (para aconselhar, e não governar a ele) e que os pregadores
concordaram, desde o início, em servi-lo como “filhos no Evangelho”: “Eles
não me fazem favor algum em serem conduzidos por mim. Atualmente não
ganho nada com isso, a não ser preocupações e cuidados, freqüentemente com
uma carga que mal sei como carregá-la”. Mas observou que os pregadores não
deveriam se sentir embaraçados, embora não tivessem voto na conferência,
“pelo menos enquanto eu viver” concluiu ele. Afinal, “Cada pregador e cada
membro podem me deixar quando quiserem”.

5 de dezembro - Conselhos que Devem ser Ouvidos

John Wesley manteve correspondência com inúmeras pessoas. Para Ann


Bolton, pessoa muito' amiga, ele escreveu inúmeras cartas, sempre procurando
tesponder às suas perguntas e inquietações. Em carta de 5 de dezembro de 1772,
Wesley destaca estar preocupado com a vida espiritual dela, especialmente com
possíveis influências de uma religiosidade marcada pela ênfase em milagres e
revelações, extraordinárias.
Lembrando de sua advertência anterior, na7 época da confusão orovocada
x. i

por George Bell e outros em torno da profecia marcando o fim do mundo para
28 de fevereiro de 1763, ele ressalta ser necessário se tomar muito cuidado com
esse tipo de religiosidade. Diz que tudo sempre começa de uma forma legítima,
séria, envolvendo pessoas dedicadas- e comprometidas com o Evangelho de Jesus

354
Cristo. Fora assim que aconteceu com Bell, William Green, entre vários outros:
estavam cheios de amor e foram favorecidos com revelações extraordinárias
e manifestações realizadas por Deus. Só que essas pessoas acabaram sendo
seduzidas por Satanás e abandonaram a simplicidade, característica básica de
Cristo e do cristianismo. De modo quase imperceptível, foram galgando degraus
cada vez mais altos e levados a valorizar exageradamente os dons extraordinários,
mais do que a graça normal de Deus.
As advertências e os conselhos de Wesley e de algumas outras pessoas em
nada haviam sido suficientes então. Os envolvidos desprezaram qualquer tipo de
exortação. Consideraram-se possuidores de uma espiritualidade melhor que os
demais e não precisavam dar atenção aos que questionavam suas posições.
Pensando nessas tristes experiências, que abalaram profundamente diversas
sociedades metodistas, Wesley assinala que a fé e a esperança são dons gloriosos
e devem ser devidamente valorizados. Entretanto, são apenas meios para se
chegar ao dom maior, que é o amor, o fim de tudo, o dom sublime.
Em carta anterior, ele aconselhara a Ann Bolton não colocar como meta
nada mais alto, nem mais profundo, que a religião descrita amplamente por Jesus
Cristo no Sermão do Monte e resumida brevemente por Paulo no capítulo 13
da primeira Carta aos Coríntios. No final, recomenda a ela que dedique um
determinado tempo, uma hora a cada dois dias, para realizar atos de amor, atos
de ajuda aos necessitados. Mesmo que não pudesse fazer tudo o que achasse
necessário, deveria procurar agir de forma concreta, ser misericordiosa para os
que precisam de apoio.

6 de dezembro - Doutrinas Fundamentais

John Wesley registra que as principais doutrinas metodistas são arrependimento,


fé e santidade. A primeira, o arrependimento, é o portal da religião, a segunda é a
própria porta que lhe dá acesso e a terceira, a santidade, é a essência da religião.
No prefácio, incluído na coleção Espiritualidade e Hinos, Wesley combate
3/ CSDintU":^uC míctiro CP^C 1 ç q í c?mf*f*;FíD f* ThJa n-í-j-p-\~y\o
enquanto Jesus recomenda aos cristãos edificarem-se uns aos outros, os místicos
elogiam a religião solitária. Estes indicam retiros espirituais, não para melhorar a
relação entre as pessoas, mas para um isolamento com a finalidade de purificar a
alma. junquanto jesus e gs apostoios ensinam crue quando estamos unidos com

355
os outros é que somos alimentados por Deus, os místicos falam o contrário;
enquanto Jesus faz questão de destacar que devemos andar sempre juntos, e nos
envia para a missão “de dois em dois”, os místicos buscam o isolamento.
Jesus, num momento muito importante de seu ministério, determinou que
seus discípulos permanecessem juntos e esperassem, aguardando a promessa do
Pai; eles obedeceram, e estavam juntos no mesmo lugar ao receber o Espírito
Santo. Dias mais tarde, quando três mil almas foram acrescentadas ao grupo,
todos os que criam estavam juntos e continuaram firmes, não só na doutrina dos
apóstolos, mas também no companheirismo e no partilhar do pão.
O que o apóstolo Paulo ensina sobre crescimento espiritual é bem diferente
daquilo que afirmam os místicos. Para estes, o que interessa é a contemplação,
o não envolvimento em questões materiais, uma vida voltada apenas para aquilo
que chamam de espiritual.
O Evangelho de Cristo é completamente oposto a esse tipo de religião. Nele
não há religião solitária. “Santos solitários” é uma expressão tão inadequada para
os Evangelhos como “adúlteros santos”. O Evangelho de Cristo não conhece
outra classe de religião que não seja uma religião social; não conhece outra
santidade que não seja social. O mandamento de Cristo é no sentido de que
quem ama a Deus deve também amar o irmão. A melhor maneira de manifestar
o nosso amor cristão é “fazendo o bem a todos os homens, especialmente aos
domésticos da fé”.
Esse é o caminho cristão. Devem caminhar por ele todos os que têm fé em
Jesus Cristo. Não se pode colocar qualquer outro fundamento além do que já
está posto: Jesus Cristo.
Deus nos ensina a respeito da importância de estarmos sempre juntos com os
nossos irmãos, instruindo-nos, aconselhando-nos, exortando-nos, confortando-
nos e edificando-nos uns aos outros. E preciso tomar cuidado para que ninguém
nos engane por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo as tradições dos
bomens, conforme os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo.

7 ds dezerritofõ “ IndlõS dâ Afüéncâ Lãtíílâ

John Wesley sempre se manteve atualizado a respeito dos temas importantes


tomentados no seu tempo. Entretanto, pouco ficou sabendo sobre o trabalho
desenvolvido oelos jesuítas espanhóis nas reduções indígenas <ao idaraguai. A cart

356
que escreve ao Dr. Brown, em 1768, revela que sua primeira informação sobre o
assunco foi obtida por volta de 1744, quando leu um relato traduzido de um autor
francês, que faz apologia da obra jcsuítica. Na obra de Wesley não há nenhuma
indicação de que se ele possa ter, sabido da expulsão dos jesuítas ou ainda da
própria extinção da ordem, ocorrida em 1761. Escreve Wesley em sua carta:
Estou completamente persuadido de que a religião verdadeira e genuína é capaz
de realizar todos aqueles efeitos felizes que se alega se lograram ali — e isso entre
os seres humanos mais ignorantes e selvagens! Eu vi exemplos disso: nenhum
dos índios é mais selvagem do que eram os mineiros de Kingswood; e muitos
deles são agora gente mais humana, hospitaleira e cheia de amor a Deus e aos
demais seres humanos: tranqüilos, diligentes nos negócios, contentes em todas as
circunstâncias, adornando de todas as maneiras o Evangelho de Deus, seu Salvador.
Porém, aqui está a dificuldade. Não estou persuadido de que os missionários romanos
(com poucas exceções) conheçam ou ensinem a religião verdadeira e genuína. E de todos
seus. missionários, falando em termos gerais, os jesuítas são os piores. Não ensinam a
religião verdadeira e genuína de Jesus Cristo. Gastam seus maiores esforços em ensinar
as opiniões e os costumes da sua igreja. Talvez o mais religioso que tenha havido entre
eles seja o “Apóstolo das índias Orientais”, Francisco Xavier. E em suas próprias cartas
(eu tenho quatro volumes) aparece claramente qúe nunca ensinou nem um jota da
religião do coração, mas, escassamente, opiniões e coisas externas. Agora, que virtude,
que felicidade pode possivelmente surgir de uma raiz como essa? Concedendo, então,
que os conversos paraguaios têm paz e abundância, concedendo que têm honestidade
moral, concedendo que têm uma forma externa de religião, não posso crer que tenham
progredido nem um só passo, ou que conheçam o que é a verdadeira religião. Seus
instrutores experimentam o reino de Deus em sua interioridade? (...) E se não, é
possível que possam levar outros a mais adiante, do que eles mesmos progrediram? (...)
E, sem isso, quem pode ser feliz? Quem pode evitar sentir muitas horas de aborrecimento
e tristeza? Que os índios comam, bebam, bailem, joguem: nada disso os levará longe
do que “Jack, o Ambulante e Joana, a Ociosa” em Prior. Que pode levá-los mais longe
senão a religião do coração, a comunhão com o Pai e com o Filho? Oh! qué você e.os
seus sempre experimentem essa parte melhor, que é a única que pode acabar com o
cansaço da vida, que é a única que da aquele goze profundo do coração, aquele gozo
que não termina, a promessa e primícias da vida eterna!

o u6ZS?TluFG — OíISFIÍSçSO diilCêFS

Numa manhã de dezembro de 1770, John Wesley relê a carta que havia
enviado para Lady Huntingdon. Atentamente, ele analisa cada parte da

3b/
arta e conclui que o texto reproduz fielmente o seu pensamento. Escreve
> que acredita e não faz nenhuma concessão com a finalidade de agradar,
^ala a verdade com amor e reconhece ser uma pena que pessoas próximas à
lestinatária procurem suavizar as feridas que ele expôs com tanta franqueza,
isse é um grande problema, pessoas se omitem e dizem apenas o que o outro
;osta de ouvir.
A franqueza é característica de Wesley. Se aos adversários ele expõe
laramente o seu pensamento, sem nenhuma preocupação política, com os
migos e pregadores metodistas ele fala com total transparência. Em carta ao
>regador Joseph Benson, naquele mesmo mês, ele assinala que é uma bênção
>oder conversar livremente com o amigo, sem nenhuma dissimulação ou
eservas. Considera que, enquanto tiverem tal’ liberdade, ambos crescerão em
abedoria e melhorarão a cada dia.
Para a sra. Bennis, em julho de 1767, ele afirmara algo muito parecido:
:Quando você me escreve, somente tem de pensar em voz alta, somente abrir a

mela do seu ser. Quando nos amamos uns aos outros, não há necessidade nem
le disfarce nem de reservas”.
Além da absoluta franqueza, outra marca importante em Wesley é o real
nteresse que sempre demonstrou pela vida física e espiritual dos pregadores
netodistas. Esse interesse transmitia confiança e permitia que muitos deles
.brissem o coração para o líder do movimento, como fez Benson. Em suas
:artas, faz inúmeras perguntas, confessa estar havendo pouco progresso em sua
ornada espiritual e diz não conseguir se livrar do arraigado inimigo que é o
)ecado. Wesley responde-lhe do seguinte modo:
Aconselho que se mantenha firme na-idéia de não deixar que os humanos nem
os demônios o apartem da convicção-de que você é um filho de Deus, que es rí
justificado gratuitamente mediante a redenção que há em Cristo Jesus (Rm 3.24) e
' que seus pecados são perdoados! Não perca essa esperança, visto que tem um grande
prêmio como recompensa. (...) Portanto, você é um crente; você tem fé eçn Cristo e
conhece ao Senhor. Você pode dizer “Senhor meu, e Deus meu!” (Jo 20.28). (...) Para
terminar com tòdas suas dúvidas sobre o assunto, peço que volte a ier com cuidado
os sermões Do pecado aos crentes e O arrependimento dos crentes.

No final da carta, Wesley explica que a perfeição não pode ser chamada de
‘batismo com o Espírito Santo”, como alguns o faziam, porque nesse sentido ela
lão é bíblica nem muito adequada. Para ele, todos “receberam o Espírito Santo"
juando foram justificados. Concluindo, orienta-o a continuar diligentemente
ajudando os irmãos a permanecerem firmes na graça recebida, que é a remissão
dos pecados pela fé no Senhor Jesus, e a esperarem lima segunda mudança, por
meio da qual serão salvos de todo pecado e aperfeiçoados no amor.

9 de dezembro - Evitando Frieza Espiritual

John Wesley sempre enfatizou que os metodistas deveriam prestar mais


atenção na doutrina da perfeição cristã. Repetia que, em todos os lugares onde
essa doutrina não era proclamada e observada, os crentes esfriavam ou até
mesmo morriam na fé. Aos metodistas de Cornwall, no final de 1762, ele explica
que o único modo de prevenir e evitar tal esfriamento espiritual é mantendo
uma expectativa constante em torno da perfeição. Deve haver uma “expectativa
a cada hora”, já que de nada adianta esperar a perfeição cristã na morte ou em
algum momento mais lá na frente.
Muitos seguiam à risca essa “expectativa a cada hora”, como foi o caso da
srta. J. C. March, que escreveu a Wesley contando que não estava obtendo os
progressos espirituais almejados e que se sentia culpada pelo “fracasso”. Em
resposta, de dezembro de 1760, diz Wesley:
Você pode se sentir culpada, mas çu não a culparei por querer que todo temperamento,
pensamento, palavra e obra sejam agradáveis à vontade de Deus. Não a culpo porque
creio que você busca tudo isso pela fé e não sem ela, busca em e por Cristo, e não
sem ele. Continue assim e obterá tudo o que espera, porque Deus é amor. Ele lhe
está mostrando a pequenez de seu entendimento e a insensatez de toda sabedoria
natural. Certamente a paz e o gozo de crer são os grandes meios de santidade;
portanto, ame-os e valorize-os como tal. Por que a lei das obras foi substituída pela
lei do amor? Porque Cristo morreu. Por que não somos condenados quando não
cumprimos aquilo que devemos?’ Porque Ele vive e intercede por nós. Eu creio ser
impossível não ficar aquém do ideal, dada a pequenez inevitável de nosso entendimento.
Sem dúvida, o sangue do pacto está sobre nós e, portanto, não há condenação.
Creio que o alcance da lei do amor está exatamente traçado no capítulo 13 de 1 Coiíntios.
Deixe que a fé encha o seu coração para ele e para todos os seres humanos. Siga essa fé
amorosa da melhor forma que puder, exclamando sempre: “Jesus é tudo para mim!”.

O caso de Mary Yeoman era bastante semelhante ao da srta. J. C. March,


que compartilha com Wesley sua luta e conta não estar encontrando mais alegria
em observar os meios de graça. Em resposta (2/set./1769), John Wesley a
tranquiliza, afirmando que sua situação não era tão peculiar como ela imagina.

359
)iz ter conhecido muitos que passaram pela mesma experiência que ela e haviam
)btido a vitória. O mesmo Deus. ressaita ele, que livrou os demais também
rai socorrê-la: “Aconselho que siga o caminho, não importa se encontre algum

leneficio ou não. Ore como puder, ainda que se sinta fria ou esteja quase morta,
rscute atentamente a pregação e siga participando da sua classe. “O Senhor
:stá perto; Ele perdoará plenamente (Is 55.7)”.

LO de dezembro - Gastar mais Tempo com as Crianças

As atas da conferência metodista de 1766 incluíram no exame dos pregadores


ima questão que procurava comprometê-los com a tarefa de cuidar melhor das
irianças. William Ellis, o primeiro a ser examinado nessa ocasião, respondeu
latisfatoriamente à seguinte pergunta: “Você instruirá diligente e cuidadosamente
is crianças, e as visitará de casa em casa?”.
John Wesley sempre se preocupou em oferecer uma boa educação às
irianças e acreditava que as próprias sociedades metodistas poderiam se
ncumbir bem dessa tarefa, fazendo muito melhor do que algumas escolas
;aras da época. Numa visita à casa de Adam Oldham, ele observa que seus
ilhos, antes bem-educados e que ouviam com atenção suas palavras, depois de
natriculados numa dessas escolas esqueceram toda religião e aprenderam uma
torção de coisas indevidas. Naquela ocasião, abril de 1772, ele concluiu que
As pais metodistas que quiserem enviar seus filhos direito ao inferno, enviem-
ías a um internato da moda!”.
E com freqüência que ele exorta os pregadores a gastarem mais tempo com
is crianças. Ele próprio estipulou uma orientação específica, determinando
:pie, sempre que uma sociedade alcançasse um grupo de dez crianças, os
^regadores deveriam organizar uma banda e reunir-se com elas duas vezes
aorsemana.
Nem todos os pregadores estavam preparados ou compreendiam a
mportância de se realizar esse trabalho especial. As atas da conferência de 1768
revelam que alguns tentaram argumentar, dizendo não ter dom para lidar com
crianças. A resposta enérgica de Wesley foi: “Com dom ou sem ele, você deve
fazer isso, do contrário você não foi chamado para ser um pregador metodista”.
Apesar da rigorosa exigência, Wesley reconhecia que se tratava de um
Lrabalno muito diricil, conrorme se percebe

360
de 1768, a respeito de uma atividade desenvolvida em St. Ives: “Eu reuni
as crianças, trabalho esse que exercitará todos os talentos dos mais hábeis
pregadores da Inglaterra”.
Independente de dom específico para esse trabalho, o certo é que os
pregadores metodistas passaram a organizar as crianças, reunindo-as em
pequenas sociedades, com a finalidade de instruir e exortar. Visando a municiar
esse público com material didático específico, o próprio Wesley cuidou de
preparar e publicar suas Liçõespara as crianças, uma espécie de livreto para estudo,
composto por porções simples e úteis das Escrituras.

11 de dezembro - 0 Papel da Justiça

No texto Um novo Chamado Fervoroso às pessoas razoáveis e religiosas — II, John


Wesley questiona o papel dos advogados, dos juizes e da própria Justiça:
A Justiça está sempre ao lado do mais forte, do mais poderoso, e os
pobres jamais conseguirão ser atendidos. Isso porque os processos são
muito demorados e excessivamente caros. Mesmo que o demandante consiga
vitória numa primeira instância, o rico, que dispõe de bons advogados,
conseguirá procrastinar, fazendo apelações e emperrando o andamento do
processo. A questão da demora é uma coisa monstruosa, especialmente em
casos de herança, quando a pessoa necessita prover a família de alimento
e roupas e fica esperando indefinidamente a decisão final, mês após mês,
ano após ano.
Façamos de conta que há um magistrado, cuja função específica é fazer justiça
à pessoa prejudicada e oprimida. Essa pessoa vai até eie, conta o seu caso,
procura reparação e apresenta inúmeras provas. A resposta que receberá
será: “Um momento! Tens de obedecer a formalidade. Deves contar teu
caso na forma legal ou, do contrário, nada. Deves preencher um formulário
e manter um advogado que pertença a esta corte”. Se a pessoa não tiver
condições financeiras para entrar e participar desse jogo jurídico, nada vai
conseguir. Baterá a porta na cara. Talvez não tenha sequer uma audiência.
Quando for necessário contratar um advogado, será que encontrará alguém
honesto? O mais comuna é encontrar profissionais inescrupuiosos, que promovem
e levam adiante pleitos desnecessários; defendem causas injustas; fazem petições
falsas; prolongam o pleito até arruinar o demandante; cobram preços exorbitantes,
elevando as custas do processo; e despesas inexistentes.

361
2 de dezembro - Sobre o Terremoto

O terremoto que destruiu boa parte da cidade de Lisboa, em Io. de novembro


e 1755, matando mais de 60 mil pessoas, trouxe à tona o tema do juí^o divino.
irrita coisa foi escrita na ocasião. John Wesley recebeu uma carta, em 12 de
ezembro de 1755, segundo ele, “sincera e sensata”, dizendo:
É muito difícil que uma nação passe um século sem conhecer uma importante alteração,
Como podería ser de outra maneira? Como é que podería existir algo perpetuamente
estável, se nela há o ser humano, cheio de instabilidade? E certo, portanto, que a
tranqüilidade de uma nação é ordenada pela sabedoria divina, assim como todas as
confusões e convulsões são permitidas pela justiça divina. Vejamos o estado presente
da Grã-Bretanha sob essa perspectiva, estando seguros de que tudo o que cai sobre nós
tem a intenção de promover nosso bem-estar neste mundo e no mundo que há de vir.
Esta terra está prestes a ser julgada Quão poucos são os que ainda tentam agradar a Deus
em tudo o que fazem! Todos os demais estão sujeitos à ira divina. Porque todos aqueles
que vivem sem nenhuma consideração a respeito de Deus são pecadores declarados
contra Deus e em cada momento estão sujeitos ao golpe de sua ofendida justiça
E que farão estes quando forem visitados pela espada, pela praga, pela fome ou
por outros elementos de furía? Oh, que possam voltar a Deus, por intermédio
do Salvador dos pecadores! Com segurança poderão encdntrar misericórdia!
Sim, e provavelmente verão a salvação de Deus, ainda na terra dos viventes.
Mas o que farão os cristãos em tempos de calamidades públicas? Estarão tranqüilos,
olharão para o alto. e seguirão a Providência Aquiete minha alma, no meio dos
tumultos e da desesperança das nações! Não se conforme com nada, a não ser apenas
com a consciência do amor divino. Escute sua voz e espere quietamente ver a mão
de Deus sobre todas as coisas. Se não está seguro a respeito do que deve fazer, olhe
para o alto e espere a sabedoria de Deus. Se tem medo, busca valentia e fé para atuar
bem em toda ocasião. Se a espada está em sua garganta, busque submissão na sábia e
amável vontade de Deus. Busca o poder de orar sem cessar e em tudo dar graças. Siga
a Providência. Não corra adiante, senão detrás da mão que guia ao simples de coração,
com constante atenção e propósito determinado de fazer o que lhe é agradável.
O que farão os cristãos se a tormenta chegar, se nosso país for verdadeiramente írivadido?
A resposta geral será a mesma: fiquem tranqüilos, olhem para o aito, sigam a Providência.

3 de dezembro - História de Assombração

Na Inglaterra do século XVTII eram comum histórias de assombração. Uma


:ssas histórias se deu com a própria família Wesley, na casa pastoral de Epworíh. Os

362
fatos, relatados em detalhes por todos os seus familiares, ocorreram entre dezembro
de 1716 e abril do seguinte, quando Joim estava estudando na escola de Charteíhouse.
Foi ele quem colecionou todas as narrativas e as publicou na Arminian Magazine.
Durante quase seis meses a família' foi assustada por um ruidoso espírito ou
diabo que batia portas, paredes e assoalho, quebrava louças, arrastava correntes,
andava pela residência e produzia todo tipo de ruídos. Essa assombração foi
apelidada pelas meninas da casa de “Velho Jeffrey”, em homenagem a um célebre
e iníquo juiz, que também atormentava as pessoas.
Uma das cartas narra que à meia-noite, num determinado dia, havia um ruído
fortíssimo num dos cômodos da casa. Corajosamente, o casal, de mãos dadas,
decide enfrentar o “Velho Jeffrey”, já que todos os filhos tremiam apavorados.
Susanna conta que “parecia que alguém havia derramado um grande vaso de
moedas na minha cintura, para correrem retinindo, pela camisola de dormir,
até os pés”. O sr. Wesley, com muita coragem, indagou qual a razão de querer
perturbar os seus filhos e a sua casa e desafiou-o a um encontro, só os dois, no
seu gabinete. Segundo o relato, Samuel caminhou majestosamente em direção ao
seu gabinete e encontrou-o trancado por dentro.
As meninas logo descobriram que se tratava de um “espírito” caprichoso,
que se zangava muito quando diziam que a origem dos ruídos estava em ratos,
gatos ou outros animais. Quando qualquer pessoa da casa fazia esSe tipo de
insinuação, o ‘Velho Jeffrey” se zangava e dava fortes murros nas paredes e no
assoalho. Outra situação que produzia sua ira eram as orações a favor do rei Jorge
I, feitas por Samuel. Possuído por um espírito jacobino, o ‘Velho Jeffrey” dava
pancadas fortíssimas. Nessas ocasiões, para provocar, Samuel Wesley repetia as
orações com voz mais forte.
Certa vez o chefe da família perseguiu a assombração por todos os cantos da
casa. Levando um cachorro, ele procurou enfrentar o espírito. Porém, assim que
o espírito se manifestou o cachorro foi esconder-se sob a cama, covardemente.
Tratando-se de uma assombração britânica, o “Velho Jeffrey” era metódico e
pontual. Suas aparições ocorriam sempre entre 9 horas da manhã e 10 da noite.
Além de pontual, também era um perfeito cavalheiro, abrindo as portas para as
sarem e não atrapalhando nos momentos devocionais, atendendo a
pedido de Susanna Wesley.
Foram feitas inúmeras tentativas de desalojar o ‘Velho Jeffrey” da residência
pastoral, resultando infrutíferas todas elas. Nem mesmo o exorcismo, realizado

S63
pelo pastor de uma paróquia vizinha, conseguiu expulsar a assombração
brincalhona. Com o tempo, após perceberem que o “Velho.Jeffrey” era inofensivo,
a família praticamente sc acostumou. Da mesma forma como apareceu, acabou
saindo de lá.

14 de dezembro - Visitando Parques e Jardins

- . Além de gostar muito de visitar parques e jardins, John Wesley sempre


se mostrou fascinado por castelos. Visitou diversos deles, e o que mais o
impressionou foi o localizado em Colchester. No final de dezembro de 1758,
ele percorreu todas as dependências do famoso castelo que havia sido sede
de antigos reinos, britânicos e romanos, segundo ele ò mais antigo edifício da
Inglaterra, com quase quinze séculos de idade.
Em maio de 1772, ele visita um castelo localizado na ilha de Bass, que
durante parte do reinado de Charles II serviu como prisão para presos políticos.
Descreve o local como formado por uma alta montanha rodeada pelo mar, com
uma circunferência de cerca de quatro quilômetros, a 11 quilômetros de Dunbar
e com um acesso muito difícil. Wesley relata que durante a travessia o forte vento
quase engoliu o bote em que viajavam.
As paredes da montanha eram altas e íngremes, havendo apenas um local de
desembarque, mas que exigiu de todos os visitantes grande esforço para galgar as
instalações do castelo. Sua edificação era completamente inacessível. As paredes
da capela e da casa do governador estão ainda bem completas. (...) Ao redor das
paredes, há grama alimentando 18 ou 20 ovelhas. Mas os verdadeiros nativos da ilha
são os ganos bubias, uma ave do tamanho de um pato, que se reproduz aos milhares,
de geração em geração, nas ladeiras da rocha. É particular nessas aves botar somente
um ovo, sobre o qual não se sentam, mas o guardam debaixo da pata (tal como vimos
com nossos próprios olhos) até se chocar.

Ao percorrer as instalações onde eram antigamente trancafiados os


prisioneiros, Wesley se sente bastante sensibilizado: “Quantas orações ofereceram
os homens santos confinados aqui naquele horrível dia! E quantas orações de
gratidão devemos elevar pela liberdade civil e religiosa que hoje gozamos!”.
Em uma de suas viagens à Escócia, em junho de 1764, ele visitou um castelo
que estava servindo de moradia para o sr. Grant. Fica encantado com o local e
faz o seguinte comentário:
Raras vezes havia visto ura lugar mais aprazível. A casa é um antigo castelo, situado
sobre uma pequena colina, com uma encantadora vista, E o hospitaleiro dono não
deixou nada sem fazer para que fosse amda mais agradável. Mostrou-nos todos os seus
progressos, os que são considerados em cada ramo da agricultura. Em seus jardins
muitas coisas estavam mais adiantadas que em Aberdeen ou em Newcasde. E corno é
que ninguém, senão um- cavalheiro do Altiplano, descobriu que temos uma árvore na
Bretanha que pode crescer como um fresno, a madeira que é tão roxa como a caoba! A
saber, o labnrno. Desafio a qualquer caoba que supere as cadeiras que ele fez recentemente.

15 de dezembro - Sinais que Acompanham o Crente

No sermão Os princípios de um metodista, melhor explicados, John Wesley


assinala que milagres ainda continuam ocorrendo: não estão confinados aos
limites da era apostólica ou da época de Cipriano e dependem totalmente da
vontade soberana de Deus. Entre diversos outros exemplos'de milagres, ele
cita a libertação maravilhosa ocorrida com John Haydon, com a presença de
inúmeras testemunhas, e a sua própria cura, ocorrida em 10 de maio de 1741.
Relata, ter começado a passar mal na sexta-feira, dia 8, e que no domingo
estava de cama, com terrível dor de cabeça e nâs cojgtas, sem conseguir nem
conversar. Ele fez uma oração, recordou as palavras de Jesus,Riizendo: “Estes
sinais acompanharão', os que crêem...”. Clamou emfralta voz pedindo-lhe
que aumentasse a sua fé. Enquanto falava, a dõr« foi desaparecendo e ficou
plenamente restabelecido. •
John Wesley acreditava nesse tipo de milagres e testemunhou a realização de
milhares deles em seu longo ministério. Entretanto, o maior milagre de todos,
segundo ele, a grande e extraordinária obra de Deus, consistia em atrair em
pouco tempo um enorme número de notórios pecadores a experimentarem uma
mudança total em suas vidas. Tal milagre, por ser tão visível e ocorrer em todas
as partes, não pode ser negado.
O sermão escrito em meados de 1746 procura explicar que esses
extraordinários milagres começaram a ocorrer após ele dar uma guinada radicai
na sua pregação. Fazendo uma avaliação rápida, ele registra:
Desde 1725 até 1729 preguei muito, mas não pude ver nenhum fruto do meu
trabalho. Era lógico que assim ocorresse, dado que cu não expunha o fundamento do
arrependimento, nem tampouco enfatizava a necessidade de crer no Evangelho, porque
iinha como certo que todos aqueies que me ouviam eram crentes e que a maioria não

355
asar com determinada pessoa, mas seu pai não aceitou. Casou-se com William
Çright, que contava com a aprovação do pai, e foi profundamente infeliz. John
Vesiey fala sobre o encontro que teve com a irmã, em 5 de março de 175U: “Fiz
■ração ao lado da minha irmã Wright, uma alma graciosa, tenra e tremente; uma
ana quebrada que o Senhor não esmagará. Tive com ela comunhão deliciosa na
apela”. Hetty faleceu poucos dias depois, em 21 de março de 1750;
6. Anne Wesley: nascida em Epworth, em 1702, era conhecida por Nancy.
'oi a única das irmãs a ter um casamento feliz. Seu marido, John Lambert,
luito querido por toda a família Wesley, foi o responsável pela guarda dos
scritos do sogro Samuel. John Wesley e sua irmã Nancy costumavam se
ncontrar com muita freqüência. Numa dessas ocasiões (l°./jan./1742), ela
visita na Fundição e fica impressionada com a agenda sobrecarregada do
mão. Mesmo doente, com febre alta, ele atende centenas de metodistas. A
oite ele convida a todos para que louvem ao Senhor ao seu lado. Ao perguntar
e Nancy não estava ofendida por ele ter recebido tantas pessoas ali em sua
asa, ela responde: “Ofendida! Gostaria muito de estar sempre com todos
ocês. Pensei que estava no céu”. A data de sua morte é desconhecida, mas
ela completa ausência de informações sobre sua situação, pode-se deduzir
ue faleceu naquele ano de 1742;
7. Majrtha Wesley: nascida em 1707, em Epworth, Patty, como era chamada,
ca a filha predileta da mãe. Se Hetty era a mais espirituosa, Martha era a mais
legre de toda a família. Casou-se muito mal, com Westley Hall, e não foi nada
diz. Foi a última dos filhos a falecer, em 12 de julho de 1791, poucos meses
epois do seu irmão John;
8. Kezia Wesley: nasceu em março de 1709 e foi a décima oitava filha,
caçula do casal Samuel e Susanna Wesley. Possuía grande admiração pelo
mão John e escreveu-lhe diversas cartas. Numa delas (20/jan./1731), ela se
;fere a ele como o “irmão mais amado”. Teve uma grande decepção amorosa
d ser cortejada por um companheiro de classe de seu irmão, Westley Hall.
,ste, enamorado por eia, anunciou que lhe fora revelado que tinha de se
asar com eia. O candidato, casamento marcado, deixou-a de lado e passou
se interessar per sua irma íviarta, anrmancLG que a revefaçao era para se
isar com esta outra. Numa última carta ao irmão John, muito abatida, eia
onta alguns detalhes da história. Morreu muito jovem, em março de 1741,
rovaveimente de desgosto.
18 de dezembro - Equilíbrio Necessário

Para Wesley, a justificação e a santificação eram partes igualmente necessárias


e fundamentais da maravilhosa experiência da salvação. Entretanto, ressalta, o
mais comum na história do cristianismo é a ênfase isolada numa dessas duas.
Lutero, por exemplo, foi extraordinário ao abordar o tema justificação e um
completo ignorante a respeito do tema santificação.
No texto Um novo chamado àpessoas razoáveis e religiosas—parte III, concluído em
18 de dezembro de 1745, Wesley assinala que o metodismo não pretende fazer
opção por uma ou por outra, mas que procura buscar o equilíbrio entre atos de
piedade e obras de misericórdia. Não há no metodismo o mínimo interesse em
gastar tempo com disputas sobre a predominância teológica dessa ou daquela
ênfase. O peso de nossa religião, como nós a entendemos, diz ele, “reside na
santidade do coração e da vida”.
Em 1745, Wesley está praticamente iniciando o seu ministério e já se sente
cansado e doente por causa de discussões teológicas dessa natureza. Afirma ter
sua alma aborrecida com tal tipo de alimento, que ele classifica de “pura espuma”.
Wesley busca e valoriza uma religião sólida e substancial; admira “o cristão que ama
humildemente a Deus e aos irmãos, que vive piedosamente e produz bons frutos”.
No seio do metodismo ocorreram inúmeras divisões, sendo a mais famosa
delas o metodismo calvinista, defendido por Whitefield. Entretanto, entre os
que permaneceram ao lado de Wesley, nem todos sempre concordaram com a
sua teologia. Em carta que ele escreveu ao irmão Charles, em março de 1772, ele
reclama que “quase todos os pregadores nos circuitos abandonaram a pregação
da perfeição cristã. Dizem crer, mas nunca pregam sobre ela, sequer uma vez por
trimestre”. Tanto alguns pregadores quanto parte do povo metodista ensinavam
e ouviam apenas aquilo que lhes interessava. Muitos, a exemplo de James
Wheatiey, que incentivou dezenas de outros pregadores metodistas, enfatizavam
as promessas de Deus e deixavam de lado os mandamentos, valorizando a
piedade e negligenciando a misericórdia.
Em suas cartas, Wesley exorta os pregadores e os incentiva a insistirem nas
doutrinas metodistas, como fez a Samuel Bardsley (3/abr./1772): “Nunca se
envergonhe da antiga doutrina metodista. Alente a todos os crentes a seguir até a
perfeição. Insista em todos os lugares que se pode receber a segunda bênção por
meio de uma fé simples, e que isso pode ocorrer num instante e agora mesmo”.

359
A energia vital da herança wesleyana sempre esteve no equilíbrio entre
conhecimento e piedade vital, sacramentalismo e evangelismo, fé e boas obras.,
justificação e santificação, sola fidei e solagratia, piedade e misericórdia, santidade
pessoal e santidade social. O problema é que são poucos os que conseguem ter
essa compreensão abrangente de John Wesley.

19 de dezembro - Estratégia Missionária

No ministério do apóstolo Paulo aparece bem nítida uma estratégia para a


criação de novas comunidades. Ele chega a determinada cidade, dá uma olhada
geral e procura descobrir se há alguma sinagoga judaica. Encontrando uma,
participa de suas reuniões, se apresenta, conta a sua história, a sua conversão
e o encontro que teve com o Messias. Faz convites para que o sigam no novo
caminho. O tempo que ele gasta em cada local é muito variado, dependendo de
cada situação. Em Corinto, por exemplo, foi obrigado a permanecer um período
maior: um ano e meio. Assim que fortalece um pequeno grupo e forma algum
líder que possa assumir a direção do trabalho, ele parte para outro local.
. Em 19 de dezembro de 1758, John Wesley visita a aldeia de Lakenheath, conversa
com algumas pessoas e fica informado a respeito do despertamento religioso ocorrido
naquela localidade. Para ele, foi surpreendente a atuação dá provídêiaa divina sobre
a pequena aldeia. Conta que tudo começou uns 40 anos antes, quando um pobre
homem viveu naquele lugar, caminhou com Deus e conseguiu despertar alguns.
Após certo tempo, surge um outro homem de Deus, Charles Skelton, que, com seu
testemunho e pregação, consegue despertar mais alguns. Mas sua permanência por
ali foi curta e logo os novos convetridos se viram novamente órfãos. Um ano antes
da visita de Wesley, uma determinada pessoa havia entrado em contato com ele, que
naquela ocasião estava pregando em Thetford, e lhe feito o convite para que fosse
pregar ao pequeno grupo de Lakenheath,
John Wesley pregou algumas vezes e percebeu a necessidade de organizar ali
uma sociedade, enviando para lá alguém que pudesse orientar aquelas pessoas.
Falou-lhes que em Thetford vivia Martin Madan, metodista que dava bom
testemunho de sua fé e que poderia ser de muita utilidade. Entusiasmados com
a idéia, organizaram uma comitiva com a missão de fazer os primeiros contatos
e convidá-lo para que lhes desse uma assistência periódica. O convite foi aceito.
Poucos dias depois chega Madan e dá início ao trabalho de edificação espiritual.

370
Convidado para pregar na Igreja Anglicana local, ele também aceita e logo recebe
a nmnosfn He béírnãnécet tior ali rnmr> aindanfe Hn t-eimr Frá H^cc/* mm
tal sucessão de providências extraordinárias, que nasceu o metodismo naquela
pequena aldeia. O povo bom de Lakenheath passou a contar com um servo de
Deus, alguém que prega e vive o Evangelho de Jesus Cristo.

20 de dezembro - Um Relato Extraordinário

Muitas pessoas enviavam cartas a John Wesley, contando as suas experiências


espirituais ou discutindo algum ponto de sua doutrina. No seu Journal (20/
dez./1760), ele anota que recebeu, da Irlanda, um extraordinário relato:
Quando à srta. E. tinha 15 anos de idade, com frequência escutawa a pregação dos
metodistas. E ainda que não dvesse sido muito impressionada, todavia guardou por
eles, desde então, um amor muito grande. Como aos 19 anos fora atacada por uma
prolongada enfermidade, começou a lutar com Deus em oração para que o amor Dele
pudesse ser infundido em seu coração. Naquele momento, ela disse que, com muita
liberdade, poderia se desfazer de todas as coisas que mais queria neste mundo. Desde
então não esperou, nem tampouco desejou recuperar-se. Somente quis estar limpa
do pecadò*éTr a Cristo. Alguns que a visitavam disseram: “Oh, senhorita, não tenha
medo. Sua inocência a levará ao céu”. Ela respondia com .sffi^ecidade: “A não ser que
os méritos de Cristo me defendam e sua naturezãTne seja oferecida, nunca poderia
entrar ali”. E assim incessantemente irrompia com essas expressões: “Oh, que eu saiba
que meus pecados foram perdoados! Oh, que eu nasça de novo! Meu único desejo
é conhecer a Deus e estar com ele eternamente”. Ela possuía um ardente desejo de
encontrar alguns dos metodistas e falou com vários deles para pedir que os metodistas
de Tullamore a visitassem. James Kelly foi enviado até ela. üia disse-lhe: “Estou
muito contente em vê-lo. Creio que o poder de Deus está com você. Se eu tivesse
saúde e força, não haveria sermão ou oração em sua casa no qual eu não estivesse”.
Kelly lhe falou: “Espero que o Espírito do Senhor seja seu presente e eterno
consoiador”. Ao que eia respondeu: “Não posso encontrar consolo em nenhuma
coisa que não seja somente Deus”. Enquanto eia falava, sua alma se enterneceu. O
amor de Deus foi derramado em seu coração. As lágrimas corriam por suas faces
e eia começou a regozijar-se em Deus de forma extraordinária. Sua mãe, ao ver
isso, esteve completamente convencida que ali havia mais que a religião por ela
experimentado, e começou a orar, com muitas lágrimas, para que Deus mostrasse
sua salvação.

371
L de dezembro - Repreensão Necessária

No finai do seu sermão 0 dever de repreender nosso próximo, de 1787, John


esley afirma nunca ter lido ou ouvido a respeito de um reavivamento religioso
importância que não fosse acompanhado de um espírito de repreensão. Diz
e assim também foi em cada lugar da Inglaterra quando este reavivamento
meçou, 50 anos antes. Todos os atores deste reavivamento, todos os assim
amados metodistas, reprovavam as manifestações externas de pecado.
Nesse sermão, ele fala sobre o que deve ser repreendido, quem deve exercer
ãrnção de repreensão e como fazê-lo. Admite não ser nada fácil tal tarefa,
contrando alguns mais facilidades que outros por se mostrarem dispostos a
ilizar essa obra de amor e terem habilidade para tanto. Para estes, a tarefa
o significa uma carga ou uma cruz, e até sentem certa inclinação. Entretanto,
:smo que represente uma cruz, a tarefa deve ser realizada, pois é para ela que
nos chamados.
De que maneira devemos repreender nosso irmão para que nossa correção se torne
mais efetiva? Ém primeiro lugar cabe ter cuidado para que tudo que fizermos seja feito
num espírito de amor, em um espírito de afeto e de boa vontade para com o próximo.
Ao mesmo tempo devemos ter sumo cuidado de que tudo quanto dissermos seja dito
com espírito de humildade. Se a pessoa tiver um alto conceito de si mesma, corre o risco
de desprezar o irmão. Se houver qualquer sentimento de desprezo, por menor que seja,
todo trabalho será inútil. A fim de impedir que o orgulho apareça, será necessário que a
pessoa se proponha explicitamente a deixar de lado qualquer vestígio de superioridade,
ao mesmo tempo em que agradece a Deus pelas coisas boas que há no outro. (...)
A repreensão deve ser feita com espírito de mansidão, sinceridade e seriedade.
Uma correção jocosa não causa grande impressão, é rapidamente esquecida e
pode acontecer que a pessoa se sinta ridicularizada. Entretanto, há alguns casos
excepcionais nos quais, tal como assinala um bom juiz da natureza humana, ridiculum
acri fortiur. uma pequena dose de humor no momento apropriado pode penetrar
mais fundo que uma sólida argumentação. A maneira como corrigimos também
pode sofrer outras variações segundo a ocasião. As vezes podemos crer conveniente
utilizar muitas palavras a fim de ser mais explícitos com relação ao que queremos
transmitir. Em outros casos, provavelmente julgamos mais apropriado ser breves,
bastando talvez uma simples frase. E pode haver também outras situações em que
se torna aconselhável não dizer nada, limitando-se apenas a um gesto, a um olhar.
Se surgir a oportunidade de repreender alguém que provavelmente nunca mais
veremos, devemos aproveitar a ocasião. Porém, com aqueles de contato mais amiúde
Podemos esperar o melhor momento. Aqui cabe o conselho do poeta: ''Podemos

372
falar si validus, .rz laetus erit, si. denique poscet, quando a pessoa está bem, se está de bom
humor ou quando solicita” (Horácio, Epístolas).

22 de dezembro - Cuidando dos Cavalos

As conferências metodistas abordavam todo tipo de assunto. Uma delas,


a de 1765, estabeleceu algumas instruções sobre os cuidados com os cavalos,
determinando que os pregadores fossem misericordiosos com seus animais,
cuidando para que estivessem escovados, alimentados, abrigados para dormir, e
que nunca fossem cavalgados a galope.
Apesar de nunca galopar com seu cavalo, John Wesley sofreu inúmeros
acidentes, alguns até de graves proporções. No seu Journal.' de dezembro de 1765,
ele descreve um desses acidentes:
Estava cavalgando por Borough e a mula em que estava montado caiu sobre minha
perna, ficando eu preso. Um cavalheiro veio, levantou-me e ajudou-me a entrar no seu
estabelecimento. Estava muito mal, mas melhorei um pouco com o uso de amoníaco
e água. Depois de descansar alguns minutos, tomei uma carruagem, mas ao sentir
frio fiquei muito pior. Tinha machucado o braço direito, o peito, o joelho, a perna e
o tornozelo, que estava muito inchado. Apesar disso, conünuei até Shorehan, onde
apliqueTtriaca duas vezes ao dia e a dor desapareceu; recuperei alguma força para
caminhar em terreno plano.

Num outro acidente, ocorrido em 22 de janeiro de 1747, ele acabou


apanhando de um carroceiro, que vinha em sentido contrário e se envolveu com
ele numa trombada.
Alguns metodistas, preocupados com os riscos que John Wesley corria em
suas inúmeras viagens, procuraram ajudá-lo, conseguindo que o fizesse de forma
mais confortável. Em carta escrita ao irmão (9/jul./1766), informa que a srta.
Lewen deu-lhe de presente uma carruagem e um par de cavalos. Numa outra
ocasião (fev/1772), ele conta que se reuniu com alguns amigos preocupados
com o seu último acidente e que haviam iniciado uma coleta para prevenir suas
viagens a cavalo. Para ele, se a coleta conseguir alcançar o resultado esperado,
tudo bem; se não, ele vai continuar do mesmo modo, atendendo as necessidades
do trabalho metodista.
Além dos acidentes, sempre ocorriam imprevistos que atrapalhavam muito
o desenvolvimento do seu trabalho. No seu Journal (15/jun./1752), ele fala

373
cordo com uma carta enviada por Asbury a George Shadford, percebemos que
> remetente era dominado por grande ambição. Escreveu ele: “O sr. Wesley e
u somos como César e Pompeu: ele não tolera ninguém igual e eu não tolero
tenhum superior”.
A recém-criada Igreja Metodista Episcopal, embora tivesse todos os requisitos
igais de uma igreja autônoma, ainda permanecia uma igreja essencialmente
/esleyana. Sua base doutrinária continuou fundamentada nos mesmos princípios
■ritânicos e respeitando a autoridade de John Wesley. A novidade estava em
lgumas características importantes da liberdade americana, que iria contribuir
■ara imprimir o perfil de uma nova denominação.

.5 de dezembro - Liturgia de Natal

John Wesley e o povo chamado metodista da Inglaterra do século XVIII


ão celebravam o Natal do mesmo modo que nós hoje em dia o fazemos. A
;sta mais importante do calendário cristão era, para eles, a Páscoa. Celebravam
Natal de forma, muito mais discreta, conforme se pode constatar em dois
ígistros no seu Journal.
No dia 25 de dezembro de 1770 ele escreve o seguinte: “Hoje foi um dia
heio de trabalho, mas foi um dia abençoado, por isso não foi cansativo. Eu
heguei à Fundição às 4 horas da manhã. O culto na Rua Oeste começou às 9
oras. As 3 da tarde, encontrei as crianças. Preguei às 5 da tarde e depois passei
gradáveis momentos com a sociedade”.
Por ocasião do Natal de 1778, ele assinala:
Nosso culto começou às 4 horas da manhã, como de costume, na nova capela (New
Chapei). Esperei Mr. Richardson para ler as orações na capela da Rua Oeste, mas
ele não veio; então eu mesmo li as orações, preguei e administrei os sacramentos
para centenas de pessoas. A tarde, preguei na Capela Nova (New Chapei), totalmente
lotada e, à noitinha, na igreja do Santo Sepulcro, uma das maiores igrejas de Londres.
A temperatura estava agradável e a igreja, totalmente cheia. Não me senti fraco nem
cansado, pelo contrário, senti-me ainda mais forte após o meu quarto sermão do que
depois de ter pregado o primeiro deles.

Na primeira edição do Sundaj/ Service (1784), uma adaptação feita por John
Zesley do 'Livro de Oração Comum, consta uma liturgia para o dia de Natal, com a
íguinte oração:

376
Deus todo-poderoso, que nos deu seu unigênito Filho, que se tomou um de nós,
nascendo da Virgem. Garantiu que nós, sendo regenerados e feitos seus filhos por
adoção c graça, possamos a cada dia ser renovados peio Santo Rspírito, por intermédio
de nosso Senhor Jesus Cristo que vive e reina com Ele e o mesmo Espírito, único
Deus, eternamente. Amém.

26 de dezembro - Equilíbrio Entre Fé e Obras

No final de dezembro de 1773, Wesley escreve uma carta a Samuel Sparrow


reclamando dos pregadores, que “se esquecem de suas obrigações morais,
desprezam a santidade como se fosse lixo,: ensinam às pessoas esse caminho
fácil para alcançar os céus, a fé sem obras”.
O movimento metodista, desde a sua origem, sempre esteve envolvido
nesse supremo esforço de equilibrar fé e obras. Entretanto, surgiram críticas
de todos os lados. O jornal The Craftsman, em sua edição de 22 de junho de
1745, faz duras críticas, afirmando que “esta injustificável e estranha seita”
enfatiza todo mérito residir na fé e na graça e não nas boas obras. Wesley se
defende, em carta de 8 de julho de 1745, garantindo que a crítica é totalmente
equivocada e que a fé que ele ensina e que os metodistas proclamam é a fé
que atua por meio do amor. E ainda: “Não reconheço como tendo um grão
de fé a pessoa que não faz o bem, que não está disposta a empregar toda
oportunidade que tenha em fazer o bem a todos os homens”.
No final desse mesmo ano, Wesley publica o texto Um novo chamado a pessoas
razoáveis e religiosas - parte III, no qual atesta que “o peso de nossa religião, como
nós a entendemos, reside na santidade do coração e da vida. (...) Não queremos
gastar o tempo com disputas, queremos gastar nosso tempo e nos gastarmos no
anúncio da religião autêntica e prática”.
Se por um lado havia essa critica de que os metodistas ignoravam “o
trabalho industrioso”, por outro, Wesley foi obrigado a se defender da denúncia
calvinista de estar muito próximo à justificação peías obras. Nas Aias Doutrinais
da conferência de 1770 foi reforçada a responsabilidade moral do cristão.
Como resultado, Wesley foi atacado por pessoas de tendência calvinista, que o
acusavam de ter renunciado à doutrina da salvação pela fé. Na carta enviada a
vários pregadores e amigos (i0/jul./1771), explica melhor sua posição e destaca
que “a cada hora agradamos mais a Deus ou agradamos menos, de acordo com

377
r ç-sga

nossas obras, de acordo com a totalidade de nosso comportamento interior eV :-


exterior”.
A posição de John Wesley sobre o assunto já estava presente num de seus
mais extraordinários sermões, 0 caminho bíblico para a salvação, publicado em 1756
e revelador da maturidade da sua teologia. Há diversos outros textos contendo
sua compreensão do tema. Na breve carta escrita à sra. Bennis (lQ,/mar./1774),
Wesley resume claramente a questão. Recomenda a sra. Bennis conversar com
o sr. James Perfect, que prega a salvação da mesma forma que ele, com o irmão
Charles e com o sr. Fletcher, que tratou o assunto de maneira formosa. Citando
um dos seus versículos prediletos, escreve:
Nenhum de nós fala em ser aceito pelas obras; isto é uma calúnia calvimsta. Porém,
todos afirmamos que não somos salvos sem as obras, que as obras são uma condição
da salvação final. E pela fé na justiça e no sangue de Cristo que recebemos o poder
para fazer todas as boas obras; e é por causa disso que todos os que temem a Deus e
atuam de forma justa são aceitos por Ele (At 10.35).

27 de dezembro - Trabalho Cansativo

John Wesley sempre desenvolveu intensa atividade, chegando a ponto de se


sentir estafado, tal o cansaço. No seu Journal (27/dez./1758), ele registra que se
sentia tão esgotado que não sabia como podia ir à igreja.
Enquanto se esforçava no sentido de reunir as forças necessárias, por volta
das 9 horas da manhã lhe informaram que alguns homens intransigentes da
paróquia não queriam consentir que ele pregasse. Ouviu a informação e a
interpretou como a mão de Deus ajudando-lhe, permitindo que tivesse um
tempo maior para descansar e se refazer da fadiga acumulada. A tarde, sua
viagem a Bury foi muito agradável, Entretanto, assim que chega à cidade, sente-
se muito cansado e enfermo, não vislumbrando como conseguir enfrentar o
púlpito. Após descansar durante uma hora, ele reúne forças e prega para um
público numeroso. À noite volta a passar muito mal e, pela manhã, quando
estava novamente pregando, se sente muito bem, sem enfermidade ou queixa
de qualquer natureza.
Exemplos como o ocorrido naquele final de 1758 foram muito comuná''
na vida de Wesley. Além de procurar cumprir rigorosamente todos os seus
compromissos, ele também foi obrigado, inúmeras vezes, a cumprir a agenda dé

378
outros pregadores metodistas. Por exemplo, no domingo, dia 16 de setembro de
1770, o pregador nomeado não chegou a tempo xv^ar diversas
vezes em inúmeros lugares.
Mesmo contando quase 87 anos de idade, Wesley continuou cobrando
muito trabalho de si mesmo e dos demais pregadores. Em 13 de março de
1790, em carta a Jasper Winscom, um pregador da ilha de Wight, ele afirma:
“Nossos circuitos são, na maioria, demasiado pequenos. (...) Não queria ter
circuitos com menos de três pregadores ou que tivessem de viajar mais de 650
quilômetros em quatro semanas. Certamente nenhum circuito será dividido antes
da conferência”. No final, ele dá o alerta: “Se não tomarmos cuidado, vamos nos
converter nuns molengas. Soldados de Cristo, levantem-se”. Desejava que os
pregadores metodistas voltassem ao lombo dos cavalos.
No dia do Ano Novo de 1790, Wesley admite: “Agora sou um homem
velho, decaído da cabeça aos pés”, mas acrescenta: “Entretanto, graças a Deus,
não descuido de meu trabalho. Ainda posso pregar e escrever”. A Thomas
Wride, em carta de 5 de maio de 1790, ele confessa que “quando podia montar
a cavalo não era nada para mim desviar-me uns quantos quilômetros do
caminho. Porém, esse tempo já passou. Tudo o que posso fazer agora é visitar
as sociedades mais importantes”.

28 de dezembro - Fie! Mensageiro das Boas Novas

John Wesley não pôde permanecer muito tempo na Escócia, pois muitas
outras regiões reclamavam a sua presença. Além dos inúmeros cultos que
organiza, sua atividade mais relevante é orientar e animar os seus pregadores.
Ele sabe que o trabalho mais importante, do dia-a-dia, deve ser realizado por
eles. Sem pregadores dedicados, o trabalho não prospera.
Um dos melhores pregadores metodistas na Escócia foi John Manners. Sobre
ele, Wesley afirma ser um simples homem de mediano talento, não eloqüente e
até mesmo muito rude no falar. Incansável no trabalho evangelístico, contraiu
tuberculose e faleceu: .
Manners envia diversas cartas e relatórios a Wesley, relatando os avanços do
trabalho missionário. Numa delas, escreve: “A obra aqui está de uma tal maneira
como nunca esperei vê-la. Alguns são perdoados e santificados quase todos os
dias”. Em outra ocasião: “'Deus ainda me usa como mensageiro das boas novas.

27Q
,ua obra continua. Nossa reunião cia noite foi extraordinária pela presença e
ioder de Deus, enquanto vários relatavam as Suas realizações”. No mês seguinte,
iforma que já “havia três lugares na cidade onde se reúnem dia e noite todos os
[ue têm a oportunidade de fazê-lo para verter suas almas diante de Deus para a
ontinuidade e engrandecimento de Sua obra”.
No final do mês de maio de 1762, Manners informa que a oposição ao
rabalho metodista estava aumentando bastante: “Há oposição de todas as
iartes. Alguns dizem que somos fanáticos; outros são mais duros e falam que
omos enganadores e orgulhosos. Há muitos que procuram invalidar nosso
rabalho, afirmando que o que ocorre no nosso meio é uma coisa nova, que não
ncontra respaldo na Bíblia e que não deve ser admitida”. Sem se abater com a
■posição, informa que “o Senhor aumenta Sua obra na proporção da oposição
[ue encontra”.
Entre as inúmeras informações sobre o avanço do trabalho metodista,
om muitos relatos sobre experiências ocorridas com pessoas adultas, Manners
lestaca que tem dedicado grande atenção às crianças. Assinala ter enorme
eceio por elas, pensando na possibilidade de não poder alcançá-las de maneira
onveniente. Apesar da preocupação, acredita que alcançará bom resultado
e continuar firme, sem desanimar. A seguir, ele conta a história de Margaret
Loper, uma criança de oito anos de idade, que teve uma experiência religiosa
mpressionante: •.
Numa reunião familiar ela começou a chorar e soluçar, falando que era uma grande
pecadora e que não se atrevia a orar. Seus pais pediram que fosse se deitar. Antes de
chegar ao quarto, passou a chorar e bater palmas com muita força. Foi assim que
Deus tomou seu coração contrito. Dizia que se sentia muito bem e que agora podia
amar a Deus e que estava disposta a louvar a Deus a noite inteira.

19 ds dezembro - É Fácil Destruir uma Comunidade

Em 29 de dezembro de 1758 John Wesley está em Colehester, visitando a


ociedade metodista local. Ele sabe que por ali passaram magníficos pregadores,
xcelentes oradores. O normal seria que houvesse uma comunidade forte, bem
licerçada na Palavra de Deus e eficiente na produção de frutos para o reino
ie Deus. Essa seria a expectativa normal, considerando o fato de que diversos
■regadores inteligentes, que manejavam muito fc-cm a arte da pregaçao, tivessem

380
■W.
■ y.

se sucedido naquela sociedade. Mas não foi nada disso o que se deu. A sociedade
estava reduzida e frágil. Com a saída de Lawrence Coughlan. o pregador locai,
muitos abandonaram o metodismo.
A visita deixou Wesley perplexo:
R tão difícil construir uma sociedade e, entretanto, em pouco tempo, ela pode ser
destruída. Qual o segredo para manter uma igreja local sólida? Será que depende
basicamente de um grande pregador? Quais os outros fatores importantes. Refletindo
sobre o assunto, a partir de visitas que faz aos membros que haviam abandonado
o grupo, ele reconhece que o mesmo processo continua se repeündo em diversos
locais. Ter um grande pregador não é suficiente. As inúmeras experiências ocorridas
entre as sociedades metodistas têm confirmado que, ainda que alguém pregue como
um anjo, não conseguirá manter uma sociedade bem organizada se não realizar o
difícil trabalho de visitação de casa em casa. Foi isso o que ocorreu em Colchester.
Essa foi a fragilidade dos excelentes pregadores que passaram por ali. Eram capazes
de pregar um bom sermão, de aglutinar pessoas, mas não conseguiram criar uma
comunidade. O trabalho de visitação é estafante, difícil de ser efetivado, mas produz
ótimos resultados. E o modo comprovadamente mais eficiente que existe porque
permite ao pastor entrar em contato direto com os membros da sua comunidade.
E por meio da visita, de um contato mais aprofundado, que se conhece melhor as
necessidades e potencialidades de cada pessoa.
Ele visita diversas famílias que haviam abandonado o metodismo. Ora com
essas pessoas e aconselha que voltem a fazer parte da comunidade. Ao próximo
pastor, recomenda que leve em conta o trabalho de visitação. Diz-lhe que o povo
de Colchester é um povo bom, simples, que não está precisando de um loquaz
orador. O que eles desejam é um pastor que cuide com carinho das ovelhas, que
acompanhe de perto suas vidas, que participe de suas lutas, de suas pequenas
alegrias. Eles querem um verdadeiro pastor.

30 de dezembro - uuvindo um Concerto Musicai

John Wesley passou uma hora muito agradável ouvindo o concerto musical
ministrado pelos sobrinhos, filhos do seu irmão Charles. Apesar de gostar
daquele tipo de música, ainda mais pela presença dos seus familiares, ele não
esteve à vontade. No seu Journal’ no início de 1781, ele assinala que se sentiu
fora do seu ambiente, no meio da nobreza. Diz preferir a música simples e a
gente simples.

381
A recomendação dada por ele à srta. J. C. March, “Vá e veja o pobre
e doente em suas pobres choupanas”, era uma norma que ele seguia com
muita dedicação e amor. No seu texto Um informe claro sobre o povo chamado
metodista, Wesley fala sobre as Casas dos Pobres, um trabalho desenvolvido
pelos metodistas e do qual ele gostava muito, mas que, infelizmente, havia
acabado em 1755 por falta de recursos financeiros. No Informe ele descreve o
surgimento dessa frente de atuação:
Eu havia observado durante vários anos que muitas pessoas, ainda que não fossem
enfermas, não estavam em condições de se sustentarem e nem tinham qualquer pessoa
preocupada em ajudá-los. Eram, em sua maioria,, mulheres viúvas, já idosas e fracas..
Consultei os mordomos das sociedades para ver como poderiamos aliviá-las. Todos
concordaram que se pudéssemos ajuntá-las todas numa só casa, não só significaria um
gasto muito menor, mas também para elas seria muito mais confortável. Evidentemente
que não tínhamos dinheiro nem para começar, porém, críamos que a provisão viria
do “defensor da causa das viúvas” (SI 68.5). Assim, alugámos duas casas pequenas,
perto da Fundição. Nós as acondicáonamos para que estivessem limpas e confortáveis.
Acolhemos tantas viúvas como nos foi possível, de acordo com o espaço que tínhamos, e
providenciamos todo o necessário para seus corpos. Para esse fim, no prindpio utilizamos
as contribuições semanais das bandas e, mais adiante, tivemos de usar as coletas da
Santa Ceia. E verdade que isso não é suficiente, em-virtude de que temos ainda uma
dívida considerável; porém estamos persuadidps que nem sempre será assim, “porque
do Senhor é a terra e sua plenitude” (SI 24.1). Nessa comumente chamada “Casa dos
Pobres” temos atualmente nove viúvas, uma mulher cega, duas crianças poha^s, dois
serventes, um homem e uma empregada doméstica. Podería agregar quatro ou cinco
pregadores. Porque eu mesmo, como também os outros pregadores que estão na cidade,
participamos da mesma dieta dos pobres, comendo a mesma comida na mesma mesa e
nisso nos alegramos como se fosse um sinal de compartilhar o pão no reino de nosso Pai.
Tenho agradecido a Deus por essa casa desde o princípio, porém ultimamente ainda mais.
Tenho um alto conceito dessas viúvas, porque na verdade elas o são. De maneira que
não é em vão que, sem ser essa a pretensão, temos copiado outra das instituições da era
apostólica. Agora posso dizer a todo mundo: “Venham ver como se amam estes cristãos”.

31 -ds dezembro — üma Carts Providencia!

Pedro Bõhler, que teve papel muito importante na conversão de John Wesley,
nasceu em Frankfurt, em 31 de dezembro de 1712. De origem luterana, ele foi
atraído ao pietismc por intermédio do conde Zinzerdorf. Morreu em 27 de abril
QC 1775. em Londres.
Bõhler enviou uma carta para John Wesley, numa fase em que este se
encontrava em grande crise:
Com grande amor e pensando muito em você durante minha viagem, com meus
melhores desejos e orações para que as misericórdias de Jesus Cristo, o crucificado,
possam ser manifestadas em sua alma. Que possa provar e depois ver com que
plenitude o Filho de Deus o tem amado, e segue amando, de tal maneira que pode
continuar confiando Nele e sentir Sua vida na sua. Cuide-se do pecado da incredulidade
e, se ainda não o venceu, procure conquistá-lo neste mesmo dia, por meio do sangue
de Jesus Cristo. Não demore. Suplico que creia em Jesus Cristo e tenha em mente
suas promessas aos pobres pecadores, que Ele não deixará de fazer por você o que
fez por muitos outros. Oh, quão grande, quão indizível, quão inesgotável é o seu
amor! Com toda certeza, Ele está pronto para ajudar e. nada o ofendería a não ser
nossa incredulidade. Que Deus o abençoe! Perdure na fé, no amor, no ensinamento,
na comunhão dos santos e, em resumo, em tudo o que temos no Novo Testamento.

No texto Princípios de um metodista, John Wesley escreveu que, no início de 1738,


í ao chegar a Londres, ficou muito surpreso ao descobrir que a pregação de Pedro
Bõhler representava um “novo evangelho”. Bõhler afirmava ter a verdadeira fé
\ em Cristo (que é uma só) dois frutos inseparáveis que a caracterizavam: domínio
j 1 sobre o pecado e uma constante paz proveniente do sentimento do perdão. Se
fosse assim, estava claro que ele, Wesley, não tinha fé, Entretanto, como não
: estaya disposto a aceitar aquela “nova. doutrina”, disç.Ujfiu BCuaJVftiílita ênfase,
■ procurando provar que poderia haver fé onde ír^o existissem as duas condiçoes,
| especialmente onde não existisse esse sentimento de perdão.
Ao se convencer a respeito da natureza e dos frutos da fé justificadora,
I faltava-lhe compreender o significado de uma “experiência instantânea”. Ele
1 não conseguia entender como uma pessoa poderia converter-se repentinamente,
■. passando da escuridão para a luz, do pecado e da miséria para a retidão e a
l alegria no Espírito Santo. Examinando as Escrituras, em particular os Atos dos
Apóstolos, foi com grande surpresa que descobriu que esta era regra. Quase não
[ há experiência de conversão demorada como a de Paulo, que sofreu durante três
| dias as dores do novo nascimento. Foi no domingo (22/maio/1738), quando
| diversas pessoas testemunharam que haviam tido uma experiência instantânea
| com Deus, que Wesley ficou plenamente convencido. Parou de questionar e
;■ clamou: “Senhor, ajuda-me na minha incredulidade”. Pedro Bõhler foi muito
: importante na vida de John Wesley.

&
3S3
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