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ESTUDO DIRIGIDO 1
Trabalho elaborado para a Disciplina de Direito Constitucional – Prof. Dr. Raoni Bielshowsky
Uberlândia-MG
Maio de 2023
1. Constituição é um conceito complexo e polissêmico, o que significa isso? Também
nesse sentido, o que é e para que serve uma Constituição? No que isso se articula
com aquilo que a Teoria da Constituição brasileira chama de sentidos de
constituição? Explique e justifique de forma fundamentada.
A constituição com os conceitos que conhecemos hoje derivava-se do racionalismo do
século XVIII. Conceituar a constituição se torna difícil, pois existem múltiplos sentidos,
significados e expressões possíveis. A palavra constituição pode ser empregada com
vários sentidos e significados conforme cita o autor José Afonso Silva:
3. Quanto à estabilidade;
a) Constituição rígida: É o texto que exige procedimentos mais difíceis para sua
alteração, exemplo:
Para a reforma de uma lei complementar é exigido um quorum de maioria absoluta, na Câmara
dos Deputados e no Senado, em um turno de votação; para se modificar a Constituição brasileira
é necessário uma emenda que obtenha 3/5 dos votos, em cada uma das Casas, em dois turnos de
votação. (AGRA, Walber.)
Essa exigência se dá com o objetivo de atingir uma maior eficácia nas normas.
b) Constituição flexível: A Constituição não é apontada como primordial no
ordenamento jurídico. Desse modo, isso a torna fácil de ser modificada. Esses
textos não tem supremacia jurídica.
c) Constituição semirrígida: É quando uma parte do texto pode ser modificada por
um procedimento rígido e outra parte por um procedimento flexível.
d) Constituição imutável: Não é possível sofrer reforma, sendo assim, não pode ser
alterada. Assim, ela tem como objetivo perpetuar no tempo.
e) Constituição fixa: É a Constituição que só pode ser alterada por um novo poder
constituinte. Não há formulação para mecanismos de reforma e revisão. Existem
várias restrições nesse tipo de texto, pois quando um novo governo inicia,
começa-se uma nova Constituição.
4. Quanto à forma;
a) Constituição costumeira: Baseia-se em costumes, as normas não vem de um
processo legislativo, mas de condutas constantes que tem convicção de
obrigatoriedade. Esse modelo é adotado pelo common law. As Constituições
costumeiras são flexíveis.
b) Constituição escrita: Essa Constituição é um documento escrito. A ideia é que
esses textos ofereceram mais segurança para a sua sociedade, eles sendo
normalmente feitas pelo Legislativo. Esses textos tem o propósito de resguardar
o princípio da legalidade.
Por serem solidificadas em textos jurídicos, sofrem maiores efeitos com o
tempo.
5. Quanto à extensão;
a) Constituição sintética: Esse texto uniformiza a estruturação de poderes e declara
os direitos fundamentais.
Deve o estatuto supremo condensar princípios e normas asseguradoras do progresso, da liberdade
e da ordem, e precisa evitar a casuística minuciosidade, a fim de se não tornar demasiado rígido,
de permanecer dúctil, flexível, adaptável a épocas e circunstâncias diversas, destinado, como é,
a longevidade excepcional. Quanto mais resumida é uma lei, mais geral deve ser a sua linguagem
e maior, portanto, a necessidade, e também a dificuldade, de interpretação do respectivo texto.
(MAXIMILIANO, Carlos)
b) Constituição analítica: Esse texto deixa normatizado aspectos da vida social,
como a economia, vida familiar, a seguridade social, o meio ambiente e outros.
São comuns em países de instabilidade social. O objetivo é substituir a
instabilidade social, política e econômica por estabilidade jurídica.
6. Quanto à finalidade;
a) Constituição Nominais: Não apresentam efetividade na aplicação das suas
disposições, apesar disso são juridicamente válidas. Um exemplo desse tipo de
Constituição é a Constituição Federal Brasileira de 1988, pois passadas duas
décadas os governantes ainda não conseguiram garantir a sociedade a aplicação
desses direitos presentes no texto constitucional.
b) Constituição Normativas: São aquelas que dominam o processo político e o
poder se submete aos limites desse processo, havendo uma mistura entre
Constituição e comunidade.
Existe também as constituições em sentido formal e material. A Constituição formal é à
regulamentação dos fatos, concebidas com finalidades e respeitando limitações
anteriores. O conteúdo do texto constitucional formal pode conversar com qualquer matéria.
O que não for materialmente constitucional será automaticamente constitucional.
O sentido clássico de Constituição formal é de dispositivos que ajustam as estruturas de
poder de uma sociedade, se exaurindo de direitos fundamentais de primeira dimensão.
A base filosófica da constituição formal é o positivismo jurídico. Segundo Paulo Bonavides,
dentro desta concepção, há uma redução da Constituição a uma visão legalista, fixada
unicamente para sua utilização como técnica de organização de poder e exteriorização formal
dos direitos fundamentais. (AGRA, Walber. Curso de direito constitucional.)
Já a Constituição em sentido material trata particularmente de divisão do poder, direitos
fundamentais e distribuição de competências. Esse texto constitucional busca tratar das
normas constitucionais mais importantes, essas normas representam essência do
ordenamento jurídico.
A constituição formal está na esfera do “dever ser” e corresponde a percepção jurídica, sem
considerar fatores sociais. A constituição material discorre da interação entre as interações
do mundo jurídico e do mundo fático, em que um influencia o outro. A fonte formal é a
Constituição propriamente dita, ou seja, as normas que compõem o texto constitucional,
sendo o estudo da norma.
A fonte material são os fatos sociais que deram a autonomia de criação da constituição.
A Constituição material se diferencia da formal por seu conteúdo, enquanto esta se diferencia
das demais normas jurídicas por ser oriunda do Poder Constituinte e pelos procedimentos
necessários para sua reforma. Não se pode reduzir sua amplitude de elementos a uma concepção
positivista, arrimada em normas jurídicas, se a extensão engloba substâncias várias, tanto
encontradas no mundo jurídico como, principalmente, no mundo extrajurídico. (AGRA,
Walber)
4. Segundo Canotilho:
“O movimento constitucional gerador da constituição em sentido moderno tem várias
raízes localizadas em horizontes temporais diacrónicos e em espaços históricos geográficos
e culturais diferenciados. Em termos rigorosos, não há um constitucionalismo mas vários
constitucionalismo (o constitucionalismo inglês, o constitucionalismo americano, o
constitucionalismo francês). Será preferível dizer que existem diversos movimentos
constitucionais com corações nacionais mas também com alguns momentos de
aproximação entre si, fornecendo uma complexa tessitura histórico-cultural. E dizemos ser
mais rigoroso falar de vários constitucionalismo porque isso permite recortar desde já uma
noção básica de constitucionalismo. Constitucionalismo é uma teoria (ou ideologia) que
ergue o princípio do governo limitado indispensável à garantia dos direitos em dimensão
estruturante da organização de uma comunidade. Neste sentido, o constitucionalismo
moderno representará uma técnica específica de limitação do poder com fins garantísticos.
O conceito de constitucionalismo transporta, assim, um claro juízo de valor. É, no fundo,
uma teoria normativa da política, tal como a teoria da democracia ou do liberalismo’’.
O texto foi eficaz, tanto em termos de restrição de poderes, como nesta quanto em outras áreas,
apesar de apresentar um baixo nível de legitimidade teórica e que não estava conformidade com
as crenças democráticas e representativas do século da revolução, que defendia os direitos do
homem e a integridade constitucional da separação de poderes.
A linha originalíssima das nossas nascentes constitucionais se enraíza em fatos históricos que,
de início, acompanham os dois povos, decidem-lhe o destino e fazem depois ambos perseverarem
na busca de um denominador comum das aspirações nacionais que é o Estado de Direito em toda
a sua amplitude e solidez; um objetivo no caso brasileiro ainda por alcançar, decorridos já cerca
de 200 anos de malogros institucionais, por obra de uma crise constituinte, instaurada ao começo
da nacionalidade e recorrente em distintas ocasiões históricas, fazendo assim instável a base do
regime político e jurídico, à míngua de elementos valorativos e espirituais suscetíveis de
consolidar a ordem normativa da Constituição. (BONAVIDES, Paulo; PAES DE ANDRADE,
Antônio. História constitucional do Brasil. 3 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991. )
Em todo o continente americano, nenhum país testemunhou um ato de poder semelhante, lá as
constituintes fundaram repúblicas; aqui, no Brasil, a constituinte não pôde cumprir sua tarefa,
dissolvida que foi pelo Golpe de Estado de 1823:
Durou 39 anos e passou por uma única reforma que aliás veio demasiado tardia, não podendo
conjurar o seu colapso na sucessão do presidente Washington Luís, em 1930. Mas a evidência
histórica de uma estabilidade que acabamos de referir era de teor apenas aparente, não
disfarçando a república constitucional deveras violenta. Com efeito, a violência se instalou com
a ditadura de Floriano, quando a república correu o risco de soçobrar e prosseguiu dissimulada
nas comoções políticas ligadas à sucessão dos governos presidenciais. (BONAVIDES, Paulo;
PAES DE ANDRADE, Antônio. História constitucional do Brasil. 3 ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1991. )
Encerrado o interregno ditatório ditatorial de quatro anos na Era Vargas, a Segunda República
iniciou com a promulgação da Constituição de 1934. No entanto, sua existência foi breve e
vulnerável, uma vez que surgiu em um contexto político caracterizado por exclusões, crises,
dificuldades, suspeitas, incertezas, contestações e ressentimento;
As forças políticas situacionistas, por sua vez, elegeram presidente da República, por via indireta,
o ex-ditador e chefe revolucionário do movimento de outubro de 30, um homem cujo apetite
pelo poder o levou, três anos, depois a desferir o golpe de Estado de 10 de novembro de 1937.
(BONAVIDES, Paulo; PAES DE ANDRADE, Antônio. História constitucional do Brasil. 3 ed.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991. )
Durante sua gestão, Vargas governou o Brasil sem seguir a Carta que ele próprio outorgou, a
famosa “polaca” criada pelo jurista Francisco Campos. O regime de exceção só chegou ao fim
devido a um golpe militar inspirado no sentimento de redemocratização que se enraizara na
consciência nacional após a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial, quando os
soldados da Força Expedicionária Brasileira batalharam na Itália contra as forças totalitárias do
fascismo e do nacional socialismo.
Devido às comoções políticas de origem social, o país acabou por entrar na segunda ditadura
do século, que se caracterizou pela corrupção do regime presidencial e pela manutenção de um
Congresso manipulado sob uma Constituição de fachada, enquanto reprimia a formação de
novas lideranças através da censura da imprensa e a formação do debate livre. Esse sombrio
período, que durou duas décadas, ocorreu em 1964 e é considerado a ditadura militar mais
obscura da história do brasileira.
Por fim, chega- se a Constituição de 1988, a que perpetua até hoje no país.
A Constituição de 1988, ao revés do que dizem os seus inimigos, foi a melhor das Constituições
brasileiras de todas as nossas épocas constitucionais. Onde ela mais avança é onde o Governo
mais intenta retrogradá-la. Como constituição dos direitos fundamentais e da proteção jurídica
da sociedade, combinando assim defesa do corpo social e tutela dos direitos subjetivos, ela fez
nesse prisma judicial do regime significativo avanço. (BONAVIDES, Paulo; PAES DE
ANDRADE, Antônio. História constitucional do Brasil. 3 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991.)
Desse modo, conclui-se que a Constituição de 1988 representa um grandes avanços em relação
às constituições anteriores, as quais, muitas vezes eram limitadas em estabelecer a organização
do poder político, sem fazer a garantia dos direitos fundamentais.
BIBLIOGRAFIA
AGRA, Walber. Curso de direito constitucional. 8 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014.
LEAL, Ana Paula de lemos; AZEVEDO, Plauto Faraco de. Magna Carta: de 1215 e os
Direitos Fundamentais: Importância histórica e principais disposições. (orient) ULBRA.
MORAES, Alexandre. Direito Constitucional, 5a ed., São Paulo, Atlas, 1998, p. 35-38.
SILVA, José Afonso da. Curso de direito Constitucional positivo. Malheiros Editores, 2012.