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Aula 4 – A Constituição Federal como fonte primária de interpretação da

lei e princípios constitucionais.


Prof. Marco Antonio Frabetti

A origem do Direito se lastreia na vontade social, sendo a sociedade o centro de relações de vida,
como sede de acontecimentos que envolvem o homem, fornecendo ao legislador (criador das leis)
os elementos necessários à formação do Direito.
A criação do Direito se fundamenta na vontade social, pois a sociedade é o centro de relações de
vida, como sede de acontecimentos que envolvem as pessoas, fornecendo ao legislador (elaborador
das normas) os elementos necessários à formação do Direito. Importante destacar que o Direito
não é um produto arbitrário da vontade do legislador, mas apenas decorre dos anseios da
sociedade. O Direito é o meio para a realização ou obtenção de um fim, que é a Justiça. O homem,
por natureza, é um ser gregário. Vive em conjunto com os demais, necessitando de regras para
regular essa situação. O Direito é fruto da convivência humana.
Em conclusão: Sem sociedade, não há Direito, pois, a razão de ser do Direito é o de regular as
condutas sociais, relações de vida, além de organizar a sociedade como um todo. O Direito possui o
que chamamos de força coercitiva, ou força de coação, isto é, o Direito tem o poder de se fazer valer
através das sanções que ele pode impor ao indivíduo por sua ação ou omissão.
Fontes do Direito: Quando utilizamos a expressão “Fontes do Direito” estamos nos referindo ao
nascer do Direito, às formas em que se faz presente em nossa sociedade, materializando-se na vida
social. De maneira metafórica, podemos equiparar o termo fonte do direito com sentido próprio de
fonte que é o de nascente, de onde brota corrente de água. A partir disso, utilizamos esta expressão
fonte do direito para designar a origem primária de interpretação do Direito, podendo ser
classificadas como:
- Autônomas: São normas estabelecidas pelos próprios interessados como o regulamento da
empresa quando elaborado pelos próprios interessados, acordo e convenções coletivo, costume.
- Heterônomas: São aquelas impostas pelo Estado, como a Constituição Federal; as leis, os
decretos, as sentenças do proferidas pelo Poder Judiciário, o regulamento da empresa quando
imposto unilateralmente, etc.
Pode-se afirmar, para justificar as fontes do Direito, que as normas de maior hierarquia servem de
fundamento para as de hierarquia inferior.
Ao interpretar uma situação, o Poder Judiciário poderá se utilizar a seu critério das fontes diretas,
indiretas e de integração, a saber:
- Diretas: a lei e o costume jurídico;
- Indiretas: a jurisprudência e a doutrina
- De integração: analogia, e princípios de Direito.
Fontes do direito em espécie: abaixo explicaremos de forma sucinta cada uma das fontes de
interpretação do Direito:
A Constituição: as normas jurídicas possuem hierarquias diversas, entretanto compõem um
todo que se inicia com a Constituição Federal. Que é conhecida também, como Lei Maior, Carta
Magna, Carta da República, etc. Como já estudado na aula anterior, a Constituição atual é a sétima
e é considerada como Constituição cidadã por conta se seu caráter liberal e garantias que oferece.
No mundo existem constituição escritas e costumeiras ou consuetudinárias (costumeiras)

Todas as demais leis em posição inferior no plano hierárquico devem estar em conformidade com
o texto constitucional sob pena de invalidade. O relevante papel da Constituição Federal como fonte
do Direito se deve ao seu texto, sendo um importante marco na democracia brasileira,
apresentando grandes avanços sociais, além de possuir diversos princípios, direitos e garantias
fundamentais para se ter uma vida digna, atendendo a todos da sociedade indiscriminadamente.
Portanto, a Constituição Federal representa a lei mais forte do ordenamento jurídico e, qualquer lei
ou ato que esteja em desacordo com ela não será válido e poderá ser declaro declarado
“inconstitucional”, pelo Poder Judiciário. A Constituição é organizada através de princípios, a saber:
- Princípio da igualdade trata inclusive de um princípio constitucional, conforme o seu artigo
5°. Segundo este princípio, todos somos iguais perante a lei, sem qualquer tipo de distinção, quer
seja de raça, credo, posição social, cor da pele, profissão, sexo, orientação sexual etc.
- Princípio da legalidade está disposto no art. 5º, II, da Constituição Federal e estabelece que
todos os atos jurídicos devem ser fundamentados na lei e temos a liberdade de tudo o que a nei
NÃO proíbe.
- Princípio da liberdade: estabelecido no art. 5º da Constituição Federal e o conceito de
liberdade possui um sentido amplo como a liberdade de ir vir, de contratar, de exercer uma
atividade profissional, expressão, etc.
- O princípio do contraditório, no qual todos podem responder a todas as acusações que são
feitas pela outra parte. O princípio do contraditório nos remete à palavra contradizer, ou seja, dizer
contra e discordar utilizando todos os argumentos possíveis. Na Tecnologia da Informação pode
acontecer de existirem processos tramitando em segredo de justiça, ou seja, processos que
envolvam o código-fonte de determinado programa de computador, como estabelecido no art. 14,
§ 4° da lei 9.609/981, conhecida como Lei de Software:
§ 4º Na hipótese de serem apresentadas, em juízo, para a defesa dos interesses de
qualquer das partes, informações que se caracterizem como confidenciais, deverá o juiz
determinar que o processo prossiga em segredo de justiça, vedado o uso de tais
informações também à outra parte para outras finalidades.
Fontes do Direito: representam o complexo de fatores que servem de instrumento para a solução
das controvérsias que são levadas ao conhecimento do Poder Judiciário, são elas:
- A lei: na Declaração dos Direitos Universais do Homem, de 1.791, a “lei é a expressão da vontade
geral”. A lei é estabelecida genericamente para regular condutas e não tem a pretensão de atender
a certa e específica questão, mas si de regular condutas e obrigar a todos igualmente. Em sentido
formal, quando elaborada pelo Estado, tem caráter obrigatório e ninguém poderá descumpri-la com
o argumento que a desconhece, além disso, o art. 4º da Lei de Introdução as Normas do Direito
Brasileiro dispõe que “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os
costumes e os princípios gerais de direito”. O Direito possui inúmeras regras, algumas delas são
escritas em códigos, como o Código Civil, o Código Tributário Nacional (CTN), o Código Comercial, o
Código de Processo Civil (CPC), além de inúmeras leis esparsas, em que também podemos citar a Lei
de Software (Lei n° 9.609/1998), a Lei de Direitos Autorais (Lei n° 9.610/1998) e o Código de Defesa
do Consumidor (Lei n° 8.078/1990).
Lei inconstitucional: é a classificação que toda e qualquer lei recebe, quando é incompatível com a
Constituição Federal. Como explicado acima, a Constituição federal direciona quais são as garantias
e direitos que todos têm. As leis, portanto, materializam, especificam e regula esses apontamentos
constitucionais
Caso as Leis não obedeçam a esses apontamentos, devem ser declaradas de Poder Judiciário
como “inconstitucionais” e não terão qualquer validade no nosso Direito, pois não respeitaram os
pré-requisitos determinados pela Constituição Federal. Essa informação é importante para o
engenheiro uma vez que existem diversos políticos sem qualquer bom senso, que acabam
prometendo leis que são totalmente inconstitucionais em nosso ordenamento jurídico, como por
exemplo a pena de morte, trabalhos forçados, prisão perpétua etc.
- O contrato: Os contratos são considerados como lei entre as partes e fixam regras de conduta
entre as partes que devem ser seguidas. As partes ao celebrarem o contrato poderão fixar até
mesmo multas pelo descumprimento de determinada condição.
- O costume jurídico: Antes de mais nada é preciso diferenciar o costume do costume jurídico.
Costume são práticas de uma sociedade que, apesar de serem seguidos não são obrigatórios, como
por exemplo a fila. De outro lado, o costume jurídico são práticas estabelecidas pela sociedade que
resvalam no Direito e que, por conta disso passa ser aceito como regra de interpretação em
determinadas situações, como por exemplo o percentual de comissão de corretagem a qual o
profissional possui direito pela intermediação de um negócio. Da prática reiterada de um costume

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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9609.htm
jurídico é possível se originar uma lei. O costume jurídico se diferencia da lei por conta de que apesar
de ser aceito, não é escrito.
- A jurisprudência: A jurisprudência é representada pelo conjunto de decisões dos Tribunais
acerca de um determinado assunto e não cria o direito, mas sim o interpreta. Alguns Tribunais
editam Súmulas que representam o resumo dos tópicos principais das decisões predominantes
estas decisões não são obrigatórias, porem são seguidas. Vale dizes que o Supremo Tribunal Federal,
mediante decisão de 2/3 de seus membros, após reiteradas decisões sobre a determinado assunto
poderá editar uma súmula vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário, bem como
promover sua revisão ou cancelamento e o seu cumprimento será obrigatório enquanto válida.
- A doutrina: na realidade, doutrina, de fato, não pode ser utilizada como uma fonte do direito
a ser aplicada nos tribunais, os juízes não são obrigados a levar em conta a opinião dos
doutrinadores, pois os textos doutrinários não possuem força jurídica. No entanto, é inegável o
relevante papel que a doutrina exerce no meio jurídico uma vez que é uma fonte humanística que
estuda o direito.
- A analogia: Consiste em um método de interpretação jurídica que é utilizado quando, diante
da ausência de previsão específica em lei, aplica-se uma disposição legal que regula casos idênticos,
semelhantes, ao da controvérsia. A fundamento da aplicação da analogia é o princípio da igualdade,
segundo o qual, a lei deve tratar igualmente os iguais, na exata medida de sua desigualdade2.
- Os princípios de direito: São regras fundamentais que orientam as ciências. No Direito eles
representam uma proposição diretora para a compreensão da realidade diante de determinada lei.
Eles não são regras absolutas e imutáveis, ou seja, a realidade acabar modificando determinados
conceitos e padrões anteriormente verificados, formando novos princípios, adaptando os já
existentes e assim por diante. Os princípios cumprem o papel de assegurar a unidade do Sistema
Jurídico, como um conjunto de valores e de partes ordenadas entre si. Os princípios são encontrados
nas leis e podemos citar como exemplos o princípio legalidade que está disposto no artigo 5º, II da
Constituição Federal que dispões que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer algo senão
em virtude de lei, princípio da boa-fé e da probidade disposto no Código Civil e estabelece que nas
relações contratuais as partes são obrigadas a agir com lealdade e honestidade, etc.
Formas de interpretação do Direito: O Direito é considerado como linguagem e, por conta disso,
precisa ser interpretado. No Brasil, a interpretação do Direito deverá ser realizada através do
sistema chamado Civil Law, entretanto, noutros países é utilizado o Common Law. Abaixo segue a
explicação de cada um deles:
- O Common Law: Este sistema de interpretação do Direito é derivado do direito anglo-saxão,
cuja origem se deu na Inglaterra durante a idade média, no século XII. A principal característica do
common law é não ser codificado e, por conta disso, não existe um Código Civil ou Código Penal, a
sua aplicação é mais objetiva e as regras vão se desenvolvendo conforme avançam as complexas
relações na sociedade. Por esses motivos, há um forte protagonismo na figura dos juízes. É difícil
encontrar características do common law no Brasil, devido à forte tradição baseada na lei escrita.
Existem no país: Constituição Federal, Códigos, Estatutos, Leis Ordinárias, Decretos, Portarias,
Estatutos de Condomínio, etc. Tudo isso é uma herança baseada no sistema civil law. Apesar disso,

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https://www.conjur.com.br/2018-jun-19/stj-garante-direito-visita-animal-estimacao-separacao
nas últimas décadas o Poder Judiciário tem tido um certo protagonismo na sociedade em razão de
algumas decisões polêmicas.
Outro exemplo que pode basear no sistema de precedentes é a súmula vinculante, que foi criada
com a após a inserção do Art. 103-A na Constituição Federal de 1988, a saber:
“Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante
decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria
constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito
vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta
e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou
cancelamento, na forma estabelecida em lei.
§ 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas
determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre
esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante
multiplicação de processos sobre questão idêntica.
§ 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou
cancelamento de súmula poderá ser provocada por aqueles que podem propor a ação direta
de inconstitucionalidade.
§ 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que
indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a
procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e
determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso.”
No entanto, tais características não se tratam de uma inserção do common law no Direito Brasileiro,
mas apenas a evolução natural do sistema jurídico nacional dentro do civil law. A súmula vinculante
foi criada principalmente para tentar diminuir o excesso de processos no Poder Judiciário do que
criar uma cultura casuística (no sistema de estudos de caso de decisões jurídicas) no país.
O Civil Law: Por influência do Direito Romano-Germânico, diga-se Direito Italiano e
Alemão, o Brasil aderiu ao sistema Civil Law, que se constrói a partir de leis genéricas e abstratas,
que visam regular de forma hipotética todas as relações sociais relevantes para a sociedade. Como
já explicado acima, as leis são a principal fonte do Direito no Brasil, sendo o ato do Poder Legislativo
(deputados, senadores, vereadores) que estabelece normas de acordo com os interesses sociais. É
indispensável que o conteúdo das Leis expresse o bem comum, já que sua razão.
de ser se encontra na necessidade de regular o bom convívio social, trazendo equilíbrio e paz nas
relações sociais a sociedade oferece.
A questão da segurança jurídica: representa o princípio segundo o qual o Estado deve agir como
garantidor dos direitos fundamentais dos cidadãos. Isso significa que o Estado, por meio de um
ordenamento jurídico sólido, garante a previsibilidade e estabilidade das relações. Evidente que, ao
dizer que a lei deve permitir previsibilidade, não significa que não deve haver possibilidade de
mudança ou de interpretação. Mas a segurança jurídica reside no fato de que a legislação é estável,
e que mesmo mudanças repentinas na lei não podem prejudicar decisões anteriores.
Essa concepção acerca da segurança jurídica tem um efeito prático bastante evidente na sociedade,
pois uma nova lei não poderá prejudicar o direito adquirido, a coisa julgada e o ato jurídico perfeito,
ou seja, não poderá contrariar uma situação já consolidada.
A segurança jurídica no âmbito empresarial: Embora seja um princípio constitucional que rege
todas as relações jurídicas, a segurança jurídica tem uma aplicação especialmente importante no
âmbito empresarial, por conta da previsibilidade e estabilidade das leis, que são a base da segurança
jurídica, contribuem diretamente para o exercício de atividades econômicas e para a regulação dos
ambientes de negócios. Através da segurança jurídica as empresas podem prever as consequências
e efeitos legais de cada decisão e têm a garantia de que as mudanças de ordenamento não afetaram
retroativamente suas atividades. Listamos abaixo alguns aspectos que podem ser influenciados pela
inobservância da segurança jurídica:
- Gestão de riscos;
- Gestão e manutenção dos contratos em geral;
- Questões societárias;
- Gestão em contratos de trabalho;
- Questões tributárias;
Em conclusão: a segurança jurídica, presente na Constituição, serve para nortear todas as relações
jurídicas e quando bem observada tem potencial para pacificar a sociedade e promover o
desenvolvimento econômico e social.
Bibliografia:

- MARTINS, Sergio Pinto. Instituições de direito público e privado. 13. ed. São Paulo, SP: Atlas, 2013.
474 p. ISBN 9788522475292. (Capítulo 3, 4 e 5)

- Constituição Federal (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm)

- Lei do Software (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9609.htm )

- Arts. 104/114 - Código Civil (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm)

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