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Noções de Direito Constitucional

Fabrício Sarmanho / Eduardo Muniz Machado Cavalcanti

INTRODUÇÃO AO DIREITO tendo sido, desde o final do século XX, o berço natural
da positivação dos direitos humanos.
CONSTITUCIONAL
Ainda segundo o autor, o Direito Constitucional, visto sob
Direito Constitucional: Natureza; Conceito e uma ótica pragmática “identifica-se como a análise de um
Objeto; Perspectiva Sociológica; Perspectiva conjunto normativo: a Constituição do Estado”.
Política; Perspectiva Jurídica; Fontes Formais; É possível perceber alguns pontos de convergência em
Concepção Positiva relação aos conceitos de Direito Constitucional dispostos:
• ramo do Direito Público;
Natureza • tem por objeto a Constituição do Estado;
• define normas de funcionamento estatal;
O Direito pode ser dividido dicotomicamente em Direito • estabelece limites à atuação do Estado.
Público e Direito Privado.
Objeto
O primeiro grupo tem como foco a relação estatal, tanto
entre dois entes estatais quanto entre um ente estatal e um
O objeto do estudo do Direito Constitucional é a norma
ente privado, desde que, no último caso, a relação seja enca- fundamental de organização estatal, que define aspectos
rada dentro de uma ótica publicista, levando em conta que o estruturais, como o funcionamento do Estado, a organização
Estado, ao defender interesses públicos, possui supremacia. dos Poderes, a  estrutura política e os direitos e garantias
Enquadram-se nessa classificação: Direito Administrativo, fundamentais.
Tributário, Penal, Processual, Financeiro, Econômico etc. Segundo José Afonso da Silva (2008, p. 34), o  Direito
O segundo preocupa-se com as relações entre particula- Constitucional, encarado como ciência, estabelece uma
res, sem envolver, portanto, a figura do Estado, que aparece forma de conhecimento sistematizado sobre as normas
como mero mediador em certos casos, a fim de resguardar fundamentais da organização do Estado, ou seja, sobre as
os interesses privados indisponíveis. São considerados ramos normas relacionadas à:
do Direito Privado o Direito Civil e o Direito Comercial.
O Direito Constitucional é, por excelência, um ramo do estrutura do Estado, forma de governo, modo de
Direito Público, já que rege a própria estruturação do Esta- aquisição e exercício do poder, estabelecimento
do, definindo normas de organização e limites de atuação de seus órgãos, limites de atuação, direitos funda-
desse ente. mentais do homem e respectivas garantias e regras
É muito comum identificar o Direito Constitucional como básicas da ordem econômica e social.
o principal ramo do Direito Público, do qual emanariam os
demais ramos, que nele encontram apoio. Nesse sentido, por Ainda segundo o autor, esse estudo não deverá ter cará-
exemplo, há o entendimento de José Afonso da Silva (2008, ter meramente expositivo, mas compreender uma investiga-
p. 34), que chega a referir-se ao Direito Constitucional como ção valorativa, que leva em conta a dinâmica sociocultural
um Direito Público fundamental. envolvida na aplicação da norma constitucional instituída.
Apesar de ser clássica a divisão acima exposta, pode-se
ver que, em verdade, sob uma concepção mais moderna, Perspectivas
o Direito é uno, indivisível, sendo a sua divisão justificada
tão somente por finalidade didática (LENZA, 2008, p. 1). O Direito Constitucional pode ser concebido sob diversas
perspectivas. Sob o ponto de vista sociológico, é encarado
Conceito como um instrumento submetido à vontade da sociedade,
que o fundamenta e estrutura. Sob a ótica política, é visto
Como referencial, consideraremos o Direito Constitu- como ferramenta política, colocada sob o arbítrio estatal.
cional como o ramo do Direito Público que estuda o fenô- Segundo a perspectiva jurídica, é considerado um conjunto
meno do constitucionalismo, encarado como a tendência de normas e princípios que regulamentam as atividades
de formulação, em um texto constitucional ou por regras fundamentais do Es­tado.
costumeiras, das bases de funcionamento e dos limites da
atuação do Estado. Fontes Formais
Segundo José Afonso da Silva (2008, p. 34), o  Direito
Noções de Direito Constitucional

Constitucional pode ser definido como São fontes do Direito tradicionalmente conhecidas:
• Lei: é uma norma dotada de generalidade, abstração
[...] o ramo do Direito Público que expõe, interpreta e coercitividade.
As constituições, para que sejam consideradas a fonte
e sistematiza os princípios e normas fundamentais
formal do direito constitucional, devem emanar de
do Estado. Como esses princípios e normas funda-
um poder constituinte democraticamente legitimado,
mentais do Estado compõem o conteúdo das cons- cuja vontade de criar ato compreendido em sua esfera
tituições (Direito Constitucional Objetivo), pode-se seja intencionalmente manifestada, e seja observado
afirmar, como o faz Pinto Ferreira, que o Direito o procedimento específico.1
Constitucional é a ciência positiva das constituições. • Doutrina: é formada por obras escritas por estudiosos
do Direito.
Para André Ramos Tavares (2008, p. 18), • Jurisprudência: é o conjunto de decisões reiteradas
o Direito Constitucional, ramo do Direito Público, vo- dos tribunais.
caciona-se à estruturação do Poder, fornecendo-lhe • Costumes: conjunto de práticas reiteradas.
os contornos de atuação e limites de sua atividade, 1
Cespe/TJ-RO/Técnico Judiciário/2012.

Este eBook foi adquirido por MAURILIO FERNANDES - CPF: 045.074.685-23. 3


A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
• Princípios gerais do Direito: preceitos que orientam e constituição sob o aspecto formal como mera “constituição
servem de base à formação das regras jurídicas. de papel”, que não poderia prevalecer sobre a vontade da
sociedade.
É fonte direta ou imediata a lei, considerada em sua
concepção ampla, ou seja, abrangendo a Constituição, as leis Elementos
e as normas infralegais. São fontes indiretas ou mediatas
a doutrina, a  jurisprudência, os  costumes e os princípios
Segundo José Afonso da Silva (1998), uma constituição
gerais do Direito.
contém cinco tipos de elementos:
Concepção Positiva • Elementos orgânicos: definem a estrutura do Estado
(ex.: arts. 2º e 101 da CF).
O Direito Constitucional é considerado um ramo das • Elementos limitativos3: limitam a atuação do Estado,
ciências jurídicas. restringindo sua capacidade de intervenção na esfera
Sob a ótica científica, o Direito Constitucional pode ser privada (ex.: art. 5º da CF).
subdividido em três disciplinas: Direito Constitucional Positivo • Elementos socioideológicos: opções de ordem social,
ou Particular, que diz respeito ao estudo de um determinado econômica etc. (ex.: arts. 6º e 7º da CF).
sistema constitucional, de um determinado país; Direito Cons- • Elementos de estabilização constitucional: garantem
titucional Comparado, relacionado ao estudo comparativo a estabilidade da constituição (ex.: art. 60, § 4º, e art.
realizado entre diferentes ordens constitucionais, de Estados 102, I, a, da CF).
diferentes; e Direito Constitucional Geral, que aborda as
• Elementos formais de aplicabilidade: são verdadeiros
questões constitucionais comuns a todos os sistemas adotados
pelos vários Estados (SILVA, 2008, p. 35-36). “manuais de instrução” para a aplicação da constitui-
ção. Definem, portanto, como a carta política deve ser
interpretada e aplicada (ex.: art. 5º, § 1º, da CF).
Conceito e Objeto de Constituição
Constituição é a Lei Maior, a reunião de todos os valores Estado
supremos de um Estado, instituída para regular a atuação
governamental, as relações jurídicas existentes na sociedade,
Soberania: capacidade de decidir em
bem como proteger os indivíduos de abusos do Poder Público. última instância, sem influências externas.
Para Alexandre de Moraes (2006, p. 2),
Povo: é o conjunto de pessoas que possui a
deve ser entendida como a lei fundamental e supre- nacionalidade de um determinado estado.
ma de um Estado, que contém normas referentes É composto, portanto, segundo critérios
Elementos
à estruturação do Estado, à formação dos Poderes de nacionalidade. Não deve ser confundi-
que compõem
públicos, à forma de governo e à aquisição do poder do com a ideia de população, que segue
o Estado
critério demográfico, bem como com a
de governar, à distribuição de competências, direitos,
ideia de cidadão, que é determinada por
garantias e deveres dos cidadãos.
critério político.
Segundo José Afonso da Silva (2008, p. 37-38), Território: é o espaço físico no qual o
Estado exerce a soberania.
a constituição do Estado, considerada a sua lei
fundamental, seria, então, a  organização dos seus Classificação do Estado
elementos essenciais: um sistema de normas jurídi-
cas, escritas ou costumeiras, que regula a forma do Forma de Estado
Estado, a forma de seu governo, o modo de aquisição Federação: Estado em que há uma descentralização
e o exercício do poder, o estabelecimento de seus ór- política, compondo‑se de entes dotados de autonomia.
gãos, os limites de sua ação, os direitos fundamentais Unitário: Estado em que não se verifica divisão em entes
do homem e as respectivas garantias. Em síntese, autônomos.
a constituição é o conjunto de normas que organiza A confederação se distingue da federação porque nela,
os elementos constitutivos do Estado. os entes que se reúnem possuem soberania, possuindo o
poder de secessão, podendo, assim, sair da confederação
Podemos identificar, nos conceitos citados anterior- quando bem entenderem.
mente, três objetos da Constituição: organização do Estado, Cabe lembrar que soberania não se confunde com au-
estrutura política e direitos e garantias fundamentais.
Noções de Direito Constitucional

tonomia. A República Federativa do Brasil possui soberania,


enquanto a União, os Estados, o Distrito Federal e os Muni-
Concepção de Constituição cípios possuem autonomia.
O Brasil é uma federação.
Existem três principais concepções:
1ª Concepção (Jurídica): a Constituição é a lei maior do Forma de Governo
Estado. Concepção influenciada pelas ideias de Hans Kelsen. República: forma de governo caracterizada pela eleti-
2ª Concepção (Política): a Constituição é vista como um vidade, temporariedade dos cargos e responsabilidade do
conjunto de opções políticas do Estado. Ideia baseada na governante.
corrente decisionista de Carlos Schmitt. Monarquia: é caracterizada pela hereditariedade, vitali-
3ª Concepção (Sociológica): a Constituição é encarada ciedade e irresponsabilidade do governante.
como o conjunto de fatores reais de poder2. Esta concepção O Brasil é uma república.
é baseada na obra de Ferdinand Lassalle, que entendia a

Assunto cobrado na prova do Cespe/PRF/Agente Administrativo/Classe A/


2
Sobre o papel restritivo desses elementos, vide a aplicabilidade das normas
3

Padrão I/2012. constitucionais, em especial no que tange aos direitos de primeira geração.

4 Este eBook foi adquirido por MAURILIO FERNANDES - CPF: 045.074.685-23.


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