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Pós-graduação – Faculdade

LEGALE

DIREITO CONSTITUCIONAL
APLICADO

Prof. Ricardo A. Andreucci

Janeide Guedes Mella - 09048433436


O que é Direito Const. Aplicado?
 É uma nova abordagem do Direito
Constitucional na visão dos outros
ramos do Direito.

É o estudo do Direito Civil, do Direito


Penal, do Direito Tributário, do
Direito do Trabalho, do Direito
Previdenciário, do Direito Processual
Penal etc sob uma ótica
constitucional.
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Constitucionalismo Aplicado
 É voltado para uma nova categoria
de profissionais do Direito,
comprometidos com a prevalência
dos postulados constitucionais em
consonância com a base
principiológica que permeia todos os
ramos do Direito.

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Constitucionalismo Aplicado
Visa conferir uma formação jurídica
complementar diferenciada.

Rompe com o paradigma tradicional


dos cursos de pós-graduação.
A cada aula é analisado um tema novo
e instigante.
Fomenta a discussão e o aprofundamento das questões mais
atuais que estão sendo discutidas nos Tribunais Superiores.

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Constitucionalismo Aplicado
 Exemplos de alguns temas que serão
analisados nas nossas aulas:
 Teoria geral dos Direitos Fundamentais.
Princípios e regras. Interpretação,
eficácia, conteúdo essencial e restrições.
Possibilidade de renúncia.
 Ativismo Judicial. Judicialização da
política. Politização do judiciário. Mínimo
existencial. Reserva do possível e
orçamento.

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Constitucionalismo Aplicado
 Direito Civil Constitucional. Reflexão
sobre a interação entre o Direito Civil
e o Direito Constitucional e a forma de
incidência das normas constitucionais
nas relações jurídicas de Direito
Privado, com o estudo da eficácia
horizontal dos Direitos Fundamentais.

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Constitucionalismo Aplicado
 Relação entre Tratados e a
Constituição de 1988. Conflitos entre
a CRFB e os tratados internacionais.
Sistema monista e dualista. Decisões
do STF.
 Direitos fundamentais aplicados ao
Biodireito. Bioética e Dignidade
Humana.Engenharia genética e
pesquisa em seres humanos.
Biodireito.

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Constitucionalismo Aplicado
 Constitucionalismo e crimes de
intolerância. Racismo. Discriminação e
preconceito da legislação brasileira.
 Remédios constitucionais aplicados ao
processo do trabalho individual e coletivo.
Aplicabilidade e resguardo. Utilização nas
relações sindicais.
 Princípios constitucionais do processo
penal.

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Constitucionalismo - noção
 Ordenamento de uma sociedade
política mediante uma Constituição
escrita, cuja supremacia significa a
subordinação a suas disposições de
todos os atos emanados dos poderes
constituídos que formam o governo.

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Constitucionalismo
 O marco histórico do novo direito
constitucional, na Europa continental, foi
o constitucionalismo do pós-guerra,
especialmente na Alemanha e na Itália.

No Brasil, foi a Constituição de 1988 e o


processo de redemocratização que ela
ajudou a protagonizar.

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Constitucionalismo -
características
 É um fenômeno antigo.
 Tem seu apogeo no liberalismo do final
do século XVIII, propagando o
movimento jurídico, social, político e
ideológico, em que se almejava
assegurar direitos e garantias
fundamentais,bem como a separação
dos poderes em oposição ao
absolutismo reinante no Antigo
Regime.

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Constitucionalismo medieval
 Na Idade Média, o direito constitucional
ocupa-se em delimitar o poder estatal,
em virtude, originariamente, da difusão
de idéias jusnaturalistas.

Tal período foi de grande relevância


para a consagração de liberdades
públicas e direitos e garantias
fundamentais, mormente quando,
em1215, a Inglaterra elabora sua
Magna Charta Libertatum.
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Constitucionalismo
 A Carta Magna, outorgada por João
Sem Terra, é tida como o primeiro
instrumento solene que previu direitos
incorporados até os dias atuais às
constituições de todo o mundo, tais
como: direito de petição, instituição do
Tribunal do Júri, direito ao devido
processo legal, habeas corpus, direito
ao acesso à Justiça, liberdade de
religião, dentre outros.

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Magna Charta Libertatum
 Rei João da Inglaterra – “João sem
terra”.
 Filho de Henrique II – Rei da Inglaterra.
 Herda o trono, com a morte de seu
irmão “Ricardo Coração de Leão”.
 Sucessivos fracassos e problemas com
a Igreja.
 Os barões ingleses invadem Londres.

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Magna Charta Libertatum
 Barões ingleses – impõe uma carta de
direitos – Magna Charta Libertatum.
 Em 1215 a Carta é assinada por João
e pelos barões ingleses.
 Pouco tempo depois, com a
desocupação de Londres, João
resolve não aceitar a Carta, iniciando-
se uma verdadeira guerra civil na
Inglaterra.

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Magna Charta Libertatum
 Em 1216, João morre.
 Seu filho, Henrique III, reedita a Carta,
embora com a supressão de alguns
artigos.
 Até hoje a Magna Charta inspira
constituições da maioria dos países,
sendo um importante diploma
precursor dos Direitos Humanos.

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Magna Charta Libertatum

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Magna Charta Libertatum

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João, Rei da Inglaterra

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Due process of Law

“Clause 39”: “no free man shall be


imprisoned or deprived of his lands
except by judgement of his peers or
by the law of the land”.

Art. 5º, LIV - ninguém será privado


da liberdade ou de seus bens sem
o devido processo legal;
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Constitucionalismo
 O constitucionalismo moderno ganha vulto
no fim do século XVIII, com o advento das
constituições – agora escritas e rígidas –
dos Estados Unidos da América em 1787 e
da França em 1791.
 Tais documentos assinalam,
derradeiramente, a separação de poderes.
 Nesta fase, começa a surgir o movimento
pós-positivista, pautado, principalmente,
nos princípios jurídicos, em detrimento da
análise fria do normativismo.

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Pós-positivismo
 O marco filosófico do novo direito
constitucional é o pós-positivismo.
 O debate acerca de sua
caracterização situa-se na confluência
das duas grandes correntes de
pensamento que oferecem
paradigmas opostos para o Direito: o
jusnaturalismo e o positivismo.

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Pós-positivismo
Jusnaturalismo pode ser definido como o
Direito Natural, ou seja, todos os
princípios, normas e direitos que se têm
como idéia universal e imutável de
justiça e independente da vontade
humana.
Já o positivismo, no Direito, pugnava a
necessidade de codificação, de se
estabelecer regras pré-definidas, para uma
maior segurança da sociedade.

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Pós-positivismo
O pós-positivismo busca ir além da
legalidade estrita, mas não despreza o
direito posto; procura empreender uma
leitura moral do Direito, mas sem recorrer a
categorias metafísicas.

A interpretação e aplicação do ordenamento


jurídico hão de ser inspiradas por uma teoria
de justiça, mas não podem comportar
voluntarismos ou personalismos, sobretudo
os judiciais.
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Direito e Moral

O pós-positivismo é uma opção teórica


que considera que o direito depende
da moral, tanto no momento de
reconhecimento de sua validade como
no momento de sua aplicação.

Janeide Guedes Mella - 09048433436


Direito e Moral
Nessa visão, os princípios
constitucionais, tais como a dignidade
humana, o bem-estar de todos ou a
igualdade, influenciariam a aplicação
das leis e demais normas concretas.

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Direito e Moral
 Essa visão do direito é inspirada em
obras de filósofos do direito como
Robert Alexy e Ronald Dworkin.
 Alguns preferem denominar essa
visão de direito "moralismo" ou
neoconstitucionalismo.

Janeide Guedes Mella - 09048433436


Neoconstitucionalismo
 Surge como o conjunto de mudanças que
incluem a força normativa da Constituição,
a expansão da jurisdição constitucional e o
desenvolvimento de uma nova dogmática
da interpretação constitucional.
 Desse conjunto de fenômenos resultou um
processo extenso e profundo de
constitucionalização do Direito.

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Neoconstitucionalismo
 Em outras palavras, o
neoconstitucionalismo seria uma
gama de fenômenos no âmbito do
Direito Constitucional, que, em
conjunto, acabaram por gerar uma
constitucionalização do Direito como
um todo.

Janeide Guedes Mella - 09048433436


Neoconstitucionalismo
 No neoconstitucionalismo, há
uma hierarquia entre normas não
apenas formais, mas axiológicas,
que objetivam, mormente, a
concretização dos direitos
fundamentais.
 Buscam-se os verdadeiros
valores que definem o direito
justo.
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Críticas
O ativismo judicial nocivo e violador da
tripartição dos poderes.

Ativismo judicial que fere o ideal de


Estado Democrático e abre precedentes
para condutas arbitrárias e ilegais.

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Críticas
 A criação de um estado jurisdicional,
em que o Poder Judiciário limitaria o
poder do povo em se autogovernar;

A possibilidade de deturpação de um
sistema jurídico pautado por conceitos
abertos e indeterminados.

Janeide Guedes Mella - 09048433436 F


BEM JURÍDICO-PENAL,
CONSTITUIÇÃO E DIREITOS
FUNDAMENTAIS

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Importância do tema
Quais os critérios que devem nortear o
legislador penal na criação de novos
delitos e na abolição de delitos
existentes?

Poderia o STF, em verdadeiro ativismo


judicial, criminalizar uma conduta, a
pretexto de adequação da realidade a
uma escala axiológica constitucional?

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Homofobia - criminalização

ADO MI 4733/DF, rel. Min. Edson Fachin, julgamento
em 13.6.2019. (MI-4733)
Em conclusão de julgamento, o Plenário, por maioria,
julgou procedentes os pedidos formulados em ação
direta de inconstitucionalidade por omissão (ADO) e em
mandado de injunção (MI) para reconhecer a mora do
Congresso Nacional em editar lei que criminalize os
atos de homofobia e transfobia. Determinou, também,
até que seja colmatada essa lacuna legislativa, a
aplicação da Lei 7.716/1989 (que define
os crimes resultantes de preconceito de raça ou de
cor) às condutas de discriminação por orientação
sexual ou identidade de gênero, com efeitos
prospectivos e mediante subsunção.

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Homofobia - criminalização
 “1. Até que sobrevenha lei emanada do
Congresso Nacional destinada a implementar
os mandados de criminalização definidos nos
incisos XLI e XLII do art. 5º da Constituição
da República, as condutas homofóbicas e
transfóbicas, reais ou supostas, que
envolvem aversão odiosa à orientação
sexual ou à identidade de gênero de alguém,
por traduzirem expressões de racismo,
compreendido este em sua dimensão social,
ajustam-se, por identidade de razão e
mediante adequação típica, aos preceitos
primários de incriminação definidos na Lei nº
7.716, de 08.01.1989”

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Aborto - Anencéfalo

ADPF - 54
“O Plenário, por maioria, julgou procedente
pedido formulado em arguição de
descumprimento de preceito fundamental
ajuizada, pela Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Saúde - CNTS, a fim de
declarar a inconstitucionalidade da
interpretação segundo a qual a interrupção
da gravidez de feto anencéfalo seria conduta
tipificada nos artigos 124, 126 e 128, I e II, do
CP. Prevaleceu o voto do Min. Marco Aurélio,
relator. ”

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Aborto - Anencéfalo
 “Ressurtiu que a tipificação penal da
interrupção da gravidez de feto
anencéfalo não se coadunaria com a
Constituição, notadamente com os
preceitos que garantiriam o Estado
laico, a dignidade da pessoa humana,
o direito à vida e a proteção da
autonomia, da liberdade, da
privacidade e da saúde.”

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Bases da ciência penal
 A moderna ciência penal não pode
prescindir de uma base empírica nem
de um vínculo com a realidade que
lhe propicie legitimidade.
 Também não pode renunciar a um dos
poucos conceitos que lhe permitem a
crítica ao Direito Penal Positivo.

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Seleção dos bens jurídicos
 Maiorproblema: fixar
concretamente os critérios
pelos quais se deve proceder
à seleção dos bens e valores
fundamentais da sociedade.

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Principais desafios
 Somente os bens jurídicos
fundamentais devem ser objeto de
atenção do legislador penal.
 Quais são os bens jurídicos
fundamentais?
 Como devem ser escolhidos ou
selecionados?
 E o problema da hipercriminalização?

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Principais desafios
 Como enfrentar a dimensão
política na escolha do bem
jurídico?
 E os interesses do Estado?
 Poderiam os interesses do
Estado estar em conflito com os
interesses da sociedade?
 Qual interesse deve prevalecer?
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Escolha dos valores
 Os valores a serem escolhidos
variam segundo o modelo de
sociedade, sendo um reflexo
necessário de sua estrutura.
O Direito Penal deve ser
instrumento do Estado
Democrático e Social de Direito.
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Posição de Hassemer
 HASSEMER - “o bem jurídico
penal é o orifício da agulha pelo
qual têm que passar os valores
da ação: nenhuma reforma do
Direito Penal pode ser aceitável
se não se dirige à proteção de
algum bem jurídico, por mais que
esteja orientada aos valores da
ação.”
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Valoração do bem jurídico
A valoração do bem
jurídico condensa
aspectos sociológicos,
axiológicos, ideológicos e
normativos, que integram
a sua unidade conceitual.
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Contextualização
 O bem jurídico é contextualizado na
história da criminalização no direito
penal brasileiro e nas suas origens, para
que se possa atingir um diagnóstico
seguro dos câmbios estruturais e
valorativos que reorganizam o
sistema punitivo, em face, exatamente,
da valoração do bem jurídico, como
núcleo atrativo dos valores vigentes na
sociedade.
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Crime - pena
Com a eleição do bem
juridicamente tutelado é
definida a conduta que
deverá ser criminalizada
e a proporção da pena.

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Fundamento constitucional
 Todos esses pontos atingem o maior grau
de condensação na Constituição Federal,
que reúne, hodiernamente e na categoria
de direitos fundamentais, um elenco
significativo de bens jurídicos que devem
ser tutelados pelo direito penal,
estabelecendo, inclusive, entre eles, uma
graduação axiológica, que pode ser medida
pelo conteúdo da norma constitucional, que
em determinados casos atinge elevado
nível de cogência e imperatividade.

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O bem jurídico no Brasil
 O bem jurídico e os princípios básicos
do Direito Penal.
 Princípio da Ofensividade.
 Princípio da Alteridade.
 Princípio da Adequação Social.
 Princípio da Intervenção Mínima e da
Fragmentariedade.
 Princípio da Insignificância.

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Exemplos
 Descriminalização do adultério (art.
240,CP);
 Descriminalização das drogas (está
na pauta do STF);
 Descriminalização do aborto (está na
pauta do STF);
 Novos crimes sexuais: importunação
sexual, pedofilia (?) etc

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Objeto material e objeto
jurídico
 Não se deve confundir o OBJETO
MATERIAL (objeto da conduta) com o
OBJETO JURÍDICO (bem jurídico
tutelado) do delito.
 O objeto da conduta se exaure no
plano estrutural do tipo penal; o bem
jurídico se evidencia no plano
axiológico (valor).

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Objeto material e objeto
jurídico

O objeto material é o objeto real


atingido diretamente pelo atuar
do agente.
 Esse objeto pode ser corpóreo
(ex.: pessoa ou coisa) ou pode
ser incorpóreo (ex.: honra).

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Bem jurídico
 Já o objeto jurídico é considerado um
ente (dado ou valor social) material ou
imaterial haurido no contexto social, de
titularidade individual ou
metaindividual reputado como
essencial para a coexistência e o
desenvolvimento do homem em
sociedade e, por isso, jurídico-
penalmente protegido.

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Bem jurídico e Constituição
O bem jurídico deve estar
SEMPRE em compasso com
o quadro axiológico (valores)
vazado na Constituição
Federal e com o princípio do
Estado Democrático e Social
de Direito.

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Valores constitucionais
Portanto: a ordem dos
valores
constitucionalmente
relevantes constitui o
paradigma do legislador
penal infraconstitucional.
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Funções do bem jurídico
1) Função de garantia ou função de
limitar o direito de punir do Estado.
 Nullun crimen sine injuria.
 O legislador não pode tipificar senão
as condutas graves, que lesionem
ou coloquem em perigo autênticos
bens jurídicos (pautados pela
Constituição Federal).

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Funções do bem jurídico
2) Função teleológica ou
interpretativa.
 Na interpretação do tipo penal
deve-se considerar seu sentido e
alcance de acordo com a finalidade
de proteção ao bem jurídico.
 Os elementos objetivos e subjetivos
do tipo giram em torno do bem
jurídico.

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Funções do bem jurídico
3) Função individualizadora:
 O bem jurídico funciona como critério
de medição da pena, no momento
concreto de sua fixação, levando-se
em conta a gravidade da lesão ao
bem jurídico.
 Relação entre bem jurídico e
culpabilidade (como juízo de
reprovação social).
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Funções do bem jurídico
4) Função sistemática:
 O bem jurídico serve como critério
para a sistematização dos tipos
penais em grupos.
 Ex.: crimes contra a vida, crimes
contra o patrimônio, crimes contra a
honra, crimes contra a dignidade
sexual etc.

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CONCLUSÃO
 EM CONCLUSÃO: nenhuma norma
infraconstitucional deve ignorar o quadro
axiológico (valores) pautado pela
Constituição Federal, servindo os valores
constitucionais como lastro para a
criminalização de novas condutas e para a
descriminalização daquelas que não
guardam consonância com o Estado
Democrático e Social de Direito.

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Referências bibliográficas
 Referências bibliográfica :
- “Bem jurídico Penal e Constituição”,
de Luiz Regis Prado, 3ª ed., Ed. RT.
- “Manual de Direito Penal”, de Ricardo
Antonio Andreucci, 14ª ed., Saraiva.
- “Legislação Penal Especial”, de
Ricardo Antonio Andreucci, 14ª ed.,
Saraiva.

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CONSTITUCIONALISMO,
GLOBALIZAÇÃO
E
CRIME

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Globalização
 Globalização é um processo
pelo qual ocorre a integração
entre as economias e
sociedades de vários países,
sendo que esta permite a
transnacionalização de
mercadorias, serviços e
informações.
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Globalização e Crime

Globalização

Integração

Crime
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Conceitos
ultrapassados
 A sociedade moderna exige um
repensar sobre conceitos
existentes, tais como Soberania,
Jurisdição e Competência,
intrinsecamente ligados à
questão do território, que se
tornaram ultrapassados frente ao
advento do ciberespaço.
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Novo paradigma

Globalização

novo
paradigma

Crime
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Novo paradigma
 O ponto nevrálgico que se apresenta
no mundo globalizado, portanto, é o
da atuação dos Estados em sistemas
globais ou regionais, que os obriga a
reverem sua autonomia política, bem
como sua soberania, tendo em vista
que esta pode desprender-se da idéia
de fronteiras e territórios fixos.

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Mundo globalizado
Globalização + Integração +
Crime

Há a necessidade de uma ampliação


da colaboração jurídica, econômica, e
política dentro de um mundo
globalizado

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Criminalidade globalizada
 A realidade tem demonstrado
que fronteiras nacionais não
constituem mais obstáculo
significativo para a
criminalidade globalizada.

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Criminalidade globalizada
 Portanto, a globalização trouxe consigo a
necessidade de aprimoramento de
mecanismos de combate à criminalidade
de natureza transnacional e,
consequentemente, de repensar a Ciência
Criminal, bem como, despertou uma
consciência mundial para a necessidade de
estabelecimento de mecanismos de justiça
supranacional.

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Direito Internacional Penal

Surge o Direito
Internacional
Penal

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Disciplinas diferentes

Direito Penal
Internacional

Direito
Internacional
Penal

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Direito Penal Internacional
 Quando tratamos de aplicação da lei
penal no espaço, na realidade,
estamos adentrando a seara do
Direito Penal Internacional.
 O Direito Penal Internacional trata de
questão interna, posto que vinculado
ao Direito nacional de cada Estado.

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Direito Penal Internacional
O Direito Penal Internacional
compreende um conjunto de
princípios e normas que
disciplinam conflitos de leis no
espaço, isto é, trata das hipóteses
de um crime lesar bens jurídicos
de dois ou mais países.

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Direito Internacional Penal
O Direito Internacional Penal trata
da justiça penal em caráter
supranacional, para o combate
aos crimes que atingem bens
considerados da humanidade ou
universais, tais como: genocídio,
crimes de guerra, tráfico de
mulheres etc.

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Internacionalização do crime
 Em 1999 o vírus denominado I
love you, que partiu de um
computador localizado nas
Filipinas causou danos
consideráveis em máquinas de
todo o mundo, desde Europa até
América, passando pela Ásia.

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Internacionalização do crime

 A existênciade múltiplas
redes de difusão de
pornografia infantil em toda
a Internet

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Pedofilia na rede
 Em 2007 cerca de mil novos sites de
pedofilia foram criados todos os
meses no Brasil.
 Destes, 52% tratam de crimes contra
crianças de 9 a 13 anos, e 12% dos
sites de pedofilia expõem crimes
contra bebês de zero a três meses de
idade, com fotografias.

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Pedofilia na rede
O levantamento sobre
a pedofilia revela
ainda que 76% dos
pedófilos do mundo
estão no Brasil.
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Territorialidade no Brasil
 Território nacional: espaço terrestre,
espaço marítimo, espaço aéreo,
espaço fluvial, espaço cósmico.
 Território por equiparação: art. 5º, §§
1º e 2º.
 Brasil: Princípio da Territorialidade
Temperada – art. 5º, caput.
 Extraterritorialidade – art. 7º do CP.

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Território virtual ou ciberespaço
 Com o advento da Internet e, com
ela, do ciberespaço, a concepção
clássica de território transfigurou-se,
posto que esta possibilitou o tráfego
rápido e eficiente de informações,
bem como uma interação num
espaço que desconhece os limites
impostos por fronteiras.

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Ciberespaço
 O ciberespaço não dispõe de
fronteiras territoriais, mas de normas
ou técnicas, que regulam sistemas de
acesso e que não pertencem ao
mundo jurídico.
 Assim, não vigora o conceito de
soberania e nem de competência
territorial.

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Ciberespaço
 Dessa forma, um agente pode estar no Chile e
invadir o sistema informático de uma empresa
sediada no Canadá, através de um provedor
brasileiro, sendo que os prejuízos provocados pela
invasão ocorrerão no Japão.
 Como fica a questão do local do crime? Qual será
o Estado competente para processar e julgar o
sujeito?
 Se um país não pune certa atividade cibernética
danosa, um país atingido deve usar o poder
coercitivo de seu ordenamento jurídico para deter
um individuo que está fora dos limites de sua
soberania?

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Ponto para discussão
 A visão clássica de soberania, como poder
do Estado de aplicar suas leis dentro dos
limites de seu território, solucionando as
lides que lhe são submetidas,
modernamente sofreu uma relativização,
diante da necessidade de criação de
instrumentos internacionais para atuarem
subsidiariamente, quando o conflito de
interesses extrapolar os limites internos de
um país, ganhando contorno internacional.

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DIDH
 Internacionalmente, há um
consenso: a necessidade
de criação de um Direito
Internacional dos Direitos
Humanos.

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DIDH
 Direito Internacional dos Direitos
Humanos: sistema de normas
internacionais, procedimentos e
instituições desenvolvidas para
implementar esta concepção e
promover o respeito aos direitos
humanos em todos os países, no
âmbito mundial.

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DIDH
Mas é preciso lembrar:
os delitos que a
consciência universal
reprova já são objeto de
tratados e convenções
entre muitos países.
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Tribunal Penal Internacional
Surge, então, a
necessidade de uma
Corte Penal
Internacional, na qual
seria aplicado o Princípio
da Justiça Penal
Universal.
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Tribunal Penal Internacional
Mas, para isso, é
necessário que a
sujeição jurisdicional a
uma corte estrangeira
não caracterize forma de
renúncia ao direito
interno.
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Tribunal Penal Internacional
 DECRETO Nº 4.388, DE 25 DE
SETEMBRO DE 2002
 Promulga o Estatuto de Roma do
Tribunal Penal Internacional
 Congresso Nacional aprovou o texto
do Estatuto de Roma do Tribunal
Penal Internacional, por meio do
Decreto Legislativo nº 112, de 6 de
junho de 2002;
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Crimes da competência do
Tribunal
 Art. 5º. 1. A competência do Tribunal
restringir-se-á aos crimes mais graves, que
afetam a comunidade internacional no seu
conjunto. Nos termos do presente Estatuto,
o Tribunal terá competência para julgar os
seguintes crimes:
a) O crime de genocídio;
b) Crimes contra a humanidade;
c) Crimes de guerra;
d) O crime de agressão.

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Genocídio
 Art.6º. Para os efeitos do
presente Estatuto, entende-se por
"genocídio", qualquer um dos
atos que a seguir se enumeram,
praticado com intenção de
destruir, no todo ou em parte, um
grupo nacional, étnico, racial ou
religioso, enquanto tal:

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Genocídio
a) Homicídio de membros do grupo;
b) Ofensas graves à integridade física ou mental
de membros do grupo;
c) Sujeição intencional do grupo a condições de
vida com vista a provocar a sua destruição
física, total ou parcial;
d) Imposição de medidas destinadas a impedir
nascimentos no seio do grupo;
e) Transferência, à força, de crianças do grupo
para outro grupo.

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Crimes contra a Humanidade
 Art. 7º. 1. Para os efeitos do presente
Estatuto, entende-se por "crime contra
a humanidade", qualquer um dos atos
seguintes, quando cometido no
quadro de um ataque, generalizado
ou sistemático, contra qualquer
população civil, havendo
conhecimento desse ataque:

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Crimes contra a Humanidade
a) Homicídio;
b) Extermínio;
c) Escravidão;
d) Deportação ou transferência forçada de
uma população;
e) Prisão ou outra forma de privação da
liberdade física grave, em violação das
normas fundamentais de direito
internacional;

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Crimes contra a Humanidade
f) Tortura;
g) Agressão sexual, escravatura
sexual, prostituição forçada,
gravidez forçada, esterilização
forçada ou qualquer outra forma
de violência no campo sexual de
gravidade comparável;

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Crimes contra a Humanidade
 h) Perseguição de um grupo ou
coletividade que possa ser identificado, por
motivos políticos, raciais, nacionais,
étnicos, culturais, religiosos ou de gênero,
tal como definido no parágrafo 3o, ou em
função de outros critérios universalmente
reconhecidos como inaceitáveis no direito
internacional, relacionados com qualquer
ato referido neste parágrafo ou com
qualquer crime da competência do Tribunal;

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Crimes contra a Humanidade
i) Desaparecimento forçado de
pessoas;
j) Crime de apartheid;
k) Outros atos desumanos de caráter
semelhante, que causem
intencionalmente grande sofrimento,
ou afetem gravemente a integridade
física ou a saúde física ou mental.

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Crimes de guerra
 Art.
8º. 1. O Tribunal terá
competência para julgar os
crimes de guerra, em particular
quando cometidos como parte
integrante de um plano ou de
uma política ou como parte de
uma prática em larga escala
desse tipo de crimes.

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Exercício da
jurisdição
 Art.12.1. O Estado que se
torne Parte no presente
Estatuto, aceitará a
jurisdição do Tribunal
relativamente aos crimes a
que se refere o artigo 5°.

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Denúncia por um Estado Parte
 Art. 14. 1. Qualquer Estado Parte poderá
denunciar ao Procurador uma situação em que
haja indícios de ter ocorrido a prática de um ou
vários crimes da competência do Tribunal e
solicitar ao Procurador que a investigue, com vista
a determinar se uma ou mais pessoas
identificadas deverão ser acusadas da prática
desses crimes.
 2. O Estado que proceder à denúncia deverá, tanto
quanto possível, especificar as circunstâncias
relevantes do caso e anexar toda a documentação
de que disponha.

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Direito aplicável
 Art. 21. 1. O Tribunal
aplicará:
 a) Em primeiro lugar, o
presente Estatuto, os
Elementos Constitutivos do
Crime e o Regulamento
Processual;
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Direito aplicável
 b)Em segundo lugar, se for o
caso, os tratados e os
princípios e normas de direito
internacional aplicáveis,
incluindo os princípios
estabelecidos no direito
internacional dos conflitos
armados;
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Direito aplicável
 c) Na falta destes, os princípios gerais do
direito que o Tribunal retire do direito
interno dos diferentes sistemas jurídicos
existentes, incluindo, se for o caso, o direito
interno dos Estados que exerceriam
normalmente a sua jurisdição relativamente
ao crime, sempre que esses princípios não
sejam incompatíveis com o presente
Estatuto, com o direito internacional, nem
com as normas e padrões
internacionalmente reconhecidos.
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Direito aplicável
2. O Tribunal poderá
aplicar princípios e
normas de direito tal
como já tenham sido por
si interpretados em
decisões anteriores.
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Direito aplicável
 3. A aplicação e interpretação do direito,
nos termos do presente artigo, deverá ser
compatível com os direitos humanos
internacionalmente reconhecidos, sem
discriminação alguma baseada em motivos
tais como o gênero, definido no parágrafo
3° do artigo 7°, a idade, a raça, a cor, a
religião ou o credo, a opinião política ou
outra, a origem nacional, étnica ou social, a
situação econômica, o nascimento ou outra
condição.
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