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Apontamentos Tópicos 7 e 8

Introdução ao Direito (Universidade Aberta)

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Apontamentos do livro 3 (tópicos 7 e 8)

PARTE VI

Epistemologia especial: Ramos de Direito e Disciplinas afins. As Ciências Jurídicas Humanísticas

Capítulo I: Ramos de Direito, Ciências intrajurídicas ou Ciências Jurídicas materiais

1. O Mito da total unidade do Direito

Devido ao desconhecimento generalizado, é de senso comum pensar-se que um advogado consegue auxiliar
um particular em qualquer problema de índole jurídica, seja ela a nível profissional, de divórcio, de acidente
de viação, fiscal. Embora antigamente houvesse uma maior facilidade para um advogado conseguir versar
sobre variadas matérias, hoje essa generalidade é impossível devido à imensa vastidão das matérias jurídicas.

O Direito tem-se desenvolvido pelas mais diversas áreas e linhas de investigação. Como tal, devido à sua
especialização, por exemplo, um criminalista e o constitucionalista, embora tenham estudado as mesmas
matérias na Faculdade, especializaram-se em temas diferentes. Este caminho de especialização, devido à
vastidão das matérias, também traz um problema que se centra no quase esquecimento da necessidade da
continuidade de uma perspetiva de conjunto, algo que não se deve descurar.

Todo este progresso tem vindo a trilhar caminho para o afloramento de dois grandes grupos de advogados,
sendo eles os generalistas, capazes não só de auxiliar em causas simples mas também de fazer uma triagem
para diversas especialidades, e os especialistas das diversas áreas do Direito. Por seu turno, os tribunais
também tendem a seguir este mesmo caminho da especialização.

2. Ramos de Direito: uma nova metáfora

Ora, as especialidades acima referidas são precisamente os ramos do Direito que, seguidamente, irei
mencionar.

Capítulo II: A "Magna divisio" Direito Público/Direito Privado

1. Para uma pré-compreensão distintiva

Embora mais atenuada, permanece aos dias de hoje uma distinção entre o Direito Público e o Direito
Privado.

A respeito do Direito Público, um jurista de pendor juspublicístico tende a dedicar-se mais ao macroscópico
da ciência jurídica, a ser mais siciólogo, filósofo, político, econonomista, a atentar ao Estado, à Justiça e ao
Poder.

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Quanto ao Direito Privado, um jurista de pendor jusprivatístico tende a aplicar-se mais ao microspópico da
ciência jurídica, a ser mais técnico, social (na medida em que debruça especialmente nas relações familiares,
pessoais e de empresas privadas), a observar requisitos, vícios dos negócios jurídicos.

2. A teoria (ou critério) dos interesses

Segundo a teoria dos interesses, se a finalidade da norma fosse de interesse público, de interesse da
coletividade seria Direito Público, mas se o fim da norma fosse a tutela de interesses particulares seria então
de Direito Privado.

Ora, esta teoria (ou critério) não se justifica por vários motivos, não só porque o Direito visa proteger
interesses quer públicos quer privados, mas também porque existem normas de Direito Privado que visam o
interesse público e normas de Direito Público que visam o interesse privado.

3. A teoria (ou critério) da posição relativa dos sujeitos

Para a teoria da posição relativa dos sujeitos o Direito Público regulamentaria as situações de supra-
ordenação em contraposição às situações de infra-ordenação onde um sujeito prevaleceria sobre outro, ao
passo que o Direito Privado regularia casos entre sujeitos similares.

Este critério também não se justifica pois, por um lado, entre Estados ou Municípios, no domínio do Direito
Público, as situações podem ser páritas e, por outro, sucedem-se desigualdades jurídicas em Direito Privado,
tal como acontece no poder paternal.

4. Posição adotada: a teoria (ou critério) da qualidade dos sujeitos

É, de facto, a teoria da qualidade dos sujeitos a mais adequada. Para este critério é Direito Privado quando
uma dada norma regula relações jurídicas entre particulares, ou entre o Estado ou outras entidades públicas
e particulares desde que não exerçam o seu poder soberano do jus imperii (ou imperium) (por exemplo,
quando o Estado compra folhas de papel). Caso ajam dotados do seu poder soberano já será do domínio do
Direito Público (por exemplo, quando o Estado cobra impostos).

5. A crescente preponderância do Estado e do Direito Público

O aumento da intervenção do Estado no domínio privado, quer na vida das pessoas quer em negócios,
dificulta cada vez mais a distinção entre Direito Público e Direito Privado. Por um lado, há quem, baseado em
ideologias coletivistas, defenda que apenas existe Direito Público. Por outro lado, há quem, baseado em
ideologias liberais, considere falsa a distinção entre Direito Público e Direito Privado. Na verdade, pese
embora a imensidão do Direito Público no Direito positivo, nem tudo é Direito Público.

De facto, embora o liberalismo tenha influenciado grandemente a nossa separação entre o que é de Direito
Público e o que é de Direito Privado, a verdade é que já existia uma certa divisão no Direito Romano.

Em relação a uma suposta submissão de tudo ao poder soberano do Estado, esta ideologia é partilhada por
muitos que acreditam numa tendência crescente para um certo totalitarismo legal. Enquanto que,
antigamente, o Estado se fazia sentir em assuntos de propriedade, hoje em dia em diversos países, dedica-se
a questões mais culturais e sociais.

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Em boa verdade o neoliberalismo não tem dado grande resultado na desburocratização e na diminuição do
poder do Estado. Tem antes levando ao empobrecimento de equipamentos públicos de interesse geral, tal
como o Serviço Nacional de Saúde, devido à diminuição do pendor social do Estado, à alienação de bens
estatais e à aceitação de compromissos de certo modo onerosos para o Estado (tais como certas Parcerias
Público-Privadas).

6. Ramos mais recentes e híbridos

Existem, de facto, ramos de ambos os domínios público e privado, tais como o Direito da Segurança Social, o
Direito do Trabalho, o Direito Económico.

Quanto ao Direito do Trabalho, por exemplo, este deixou de regular somente contratos de trabalho,
passando a empenhar-se na tentativa de uma certa paridade entre o empregador e o trabalhador. Ainda hoje
em dia, o favorecimento do trabalhador (favor laboratoris) é defendido por muitos, dada a sua característica
de discriminação positiva. Já outros consideram que nenhum Direito deverá apoiar qualquer discriminação,
seja em razão do género, da raça, da ideologia, da religião ou de se ser trabalhador por conta de outrem.
Outros ainda entendem o privilégio dados aos trabalhadores aquando do surgimento do Direito laboral, dada
a situação desfavorável na qual se encontravam.

Efetivamente não se trata de facto de um privilégio. Trata-se, sim, da reposição da Justiça material, pois deve-
se tratar o igual igualmente e o desigual na medida da sua desigualdade.

Capítulo III: Ramos do Direito Público

1. Direito Constitucional ou Político

A função do Direito Constitucional ou Político é a normação fundamental do Estado, através da organização


do próprio Estado, dos poderes dos órgãos de soberania, dos princípios fundamentais de base jurídica e
política da comunidade (começando logo pela competência e formas de produção normativa), dos direitos,
liberdades e garantias das pessoas.

No período liberal clássico as constituições eram praticamente políticas no sentido de que somente
regulavam a política no Estado. Hoje em dia, as constituições são de índole tendencialmente social, pois
englobam variados aspetos da vida em sociedade.

Atualmente, o ramo de Direito Constitucional ou Político tem como sua principal matriz a Constituição e as
leis constitucionais extravagantes. De notar que a Constituição, enquanto ordenação política e jurídica, pode
ou não ser escrita (por exemplo, o Reino Unido, embora não tendo um “código” de Direito Constitucional, em
a sua Constituição).

Para além da Constituição formal, positivada, existe outra que lhe está acima e que é decorrente de relações
naturais: a Constituição material.

Hoje em dia, o Direito Constitucional prolonga-se por várias cadeiras tais como os Direitos Humanos, os
Direitos Fundamentais ou o Direito Eleitoral. Em relação ao Direito Internacional, há o Direito Constitucional
Internacional e o Direito Internacional Constitucional.

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2. Direito Administrativo e ramos dele derivados

Na organização do Direito Administrativo apoia-se todo o Direito Constitucional.

O Direito Administrativo regula a estrutura e a atividade da Administração Pública, quer a função executiva
do Governo, quer a dos seus diretamente subordinados e quer os órgãos das autarquias regionais e locais.

O Direito Administrativo começou com a organização e atividade da polícia, exército e finanças, tendo-se
depois expandido a outros domínios de índole social.

Dentro do Direito Administrativo salientaram-se, o Direito Económico (regulando este a atividade económica
do Estado), o Direito Fiscal (incidindo este nas normas que fixam a matéria coletável, os impostos e as taxas),
o Direito do Ambiente e o Direito Urbanístico.

3. Direitos Processuais

Sendo os Direitos Processuais ramos de direito adjetivo, estes contrapõem-se aos ramos de direito
substantivo. Explanando a proteção coativa, a tutela de direitos e obrigações, regulam assim as ações e os
pressupostos necessários até ao julgamento final da causa.

Nos Direitos Processuais encontram-se positivados princípios fundamentais de Direito (tais como o do
contraditório, de idoneidade probatória, de audição das partes, entre outros) sobejamente importantes.

Os Direitos Processuais são de tal modo importantes que variadíssimas vezes ganham-se ou perdem-se
causas não por razões de Direito, mas sim por matéria processual.

Com função igualmente adjetiva (especialmente de consolidação e probatória) e próximos dos Direitos
Processuais o Direito dos Registos e do Notariado.

4. Direito Penal ou Criminal

O Direito Penal ou Criminal é o ramo jurídico que estabelece quais as condutas consideradas crimes e as
penas que lhes correspondem. Embora Oliveira Ascenção inclua o Direito Penal ou Criminal no ramo do
Direito Privado, a maioria integra-o no domínio do Direito Público.

Quanto ao seu conceito legal, um crime é uma conduta tipificada num quadro legal e, portanto, considerada
pelo legislador penal. Como tal, é crime somente o que se encontra nesse quadro legal e em legislação penal
dispersa.

A doutrina penal, a sua constitucionalidade e as respetivas garantias penais são imperativos de um Estado de
Direito.

5. Direito Internacional Público

A função do Direito Internacional Público é regular as relações entre Estados e outros sujeitos do Direito
Internacional, tais como a Ordem Soberana de Malta, a Santa Sé, organizações internacionais, e inclusive, em
alguns casos, indivíduos agindo na ordem internacional.

As suas fontes são supra-estaduais, nomeadamente as fontes convencionais (tratados), o costume


internacional, e os "princípios gerais de direito comuns às nações civilizadas" (art.º 38.º do ETIJ).

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Neste ponto, também outras doutrinas se têm apresentado. Alguns defendem como fonte superior o jus
cogens (normas imperativas perentórias do Direito Internacional, inderrogáveis pela vontade das partes).
Certos Estados tendem a negar o Direito Internacional, alguns até fundando as relações internacionais
somente na força o que, logicamente, se traduz numa ameaça à paz e ao progresso mundiais.

No entanto, hoje em dia o Direito tem permeabilizado a ordem internacional, cuja criação de tribunais
internacionais, ad hoc e permanentes, tem para tal muito colaborado.

De facto, o Direito Internacional Público atua na ordem jurídica interna. No caso de Portugal, têm valor as
normas e os princípios de direito internacional geral ou comum (art.º 8.º, n.º 1 CRP), integrando, assim, o
nosso direito interno. As normas constantes de convenções internacionais (art.º 8.°, n.º 2 CRP) vigoram
internamente enquanto vincularem o nosso Estado e desde que ratificadas ou aprovadas e publicadas no
jornal oficial. Vigoram igualmente as normas de organizações internacionais das quais façamos parte, se tal
estiver estabelecido nos tratados que as criaram (art.º 8.°, n.º 3 CRP). Por fim, o Direito da União Europeia
(art.º 8.°, n.º 4 CRP), considerado supranacional para os estados membros, onde foi cuidadosamente
acautelada a condição de que o respeito pelas normas europeias passe obrigatoriamente pelo respeito pelos
“princípios fundamentais do Estado de Direito democrático” no sentido de proteger os Estados Membros
contra algum possível rumo antidemocrático.

Existem muitos outros ramos Direito Internacional Público tais como o Direito Internacional Económico, o
Direito do Mar e o Direito Diplomático e Consular.

Capítulo IV: Ramos do Direito Privado

1. O Direito Civil como Direito Privado Comum

No Direito Privado predomina o Direito Civil, tendo sido este o primeiro ramo do Direito a ganhar
consistência, tanto teórica quanto técnica, durante o período romano clássico. Sendo o Direito Cível um
direito-base, é este o Direito Privado Comum. Os outros ramos do Direito Privado são direitos especiais,
alterações do Direito Civil feitas de acordo com realidades específicas. Assim, o Direito Civil é direito
subsidiário, na medida em que se aplica sempre que a lei especial não tenha solução para um determinado
caso.

O Código Civil contém uma complexidade de disposições gerais, comuns a todo o Direito (e não só ao Direito
Privado), que vão desde as fontes de Direito, à Hermenêutica (Interpretação e Integração da lei), às relações
jurídicas, entre outras. No entanto, estas matérias não são, realmente, de Direito Civil. São, sim, de Direito
Constitucional, pois fazem parte da Constituição material (embora estejam fora do texto da Constituição
formal).

O Direito Civil comporta igualmente sub-ramos que são o Direito das Obrigações (ou de Crédito) (mais
dinâmico, é regulador da circulação de bens e serviços, das prestações, e da reparação dos danos
(especialmente responsabilidade civil). A sua regra principal, que é um negócio jurídico, é o contrato,
provindo este da autonomia privada), os Direitos Reais ou das Coisas (mais estático, os seus direitos são
tipificados, ou seja, apenas existem os prescritos na lei e contêm essencialmente o Direito de Propriedade e
o instituto da Posse), o Direito da Família (referente a relações jurídicas constitutivas, modificativas e
extintivas da família, desde o casamento, a filiação e a adoção à separação judicial de bens ou de pessoas e
bens e ao divórcio, como também as relações jurídicas intrafamiliares tais como o poder paternal) e o Direito
das Sucessões (regula a entrada de outrem nos bens do de cujus, através de títulos de vocação sucessória

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tais como a testamentária (por negócio unilateral, testamento, e dentro do limite da quota disponível), a
legitimária (forçosa, independente e podendo até ser contra a vontade do de cujus) e a legítima (aplicável
supletivamente, ou seja, caso o autor da sucessão não ter manifestado a sua vontade de disposição através
de testamento).

Ainda enquanto sub-ramo do Direito Civil (embora com codificação à parte) temos os Direitos de Autor, que
regulam os direitos patrimoniais e morais dos criadores sobre as suas obras intelectuais, literárias ou
artísticas.

2. Direito Comercial

O Direito Comercial também é Direito Privado, provindo este inicialmente da necessidade não só de maior
celeridade em trocas comerciais mas também de maior proteção dos credores mercantis. Mais tarde
estendeu-se igualmente a relações não mercantis.

Do Direito Comercial advêm outros ramos tais como o Direito Bancário, o Direito Cooperativo, o Direito dos
Seguros e o Direito da Propriedade Industrial (objeto do Código da Propriedade Industrial).

O Direito Comercial regula a atividade dos comerciantes e da indústria. Regula, assim, os atos e os contratos
comerciais, os títulos de crédito, as sociedades comerciais, entre outros.

3. Direito Internacional Privado

No tocante ao Direito Internacional Privado, este está envolvido nalguma polémica. Havendo quem afirme
que o Direito Internacional Público não é de facto um Direito, há também quem alegue que o Direito
internacional não é internacional. Será, antes, normas de direito interno de cada País, que resolvem conflitos
de competência espacial das diversas ordens jurídicas. Na verdade, estas críticas não estão de todo erradas,
pois a expressão “internacional” não é para as fontes do direito, mas sim para o tipo social de relações de
índole privada.

Este ramo jurídico regula situações em que haja uma forte conexão (tal como a nacionalidade ou o domicílio
dos sujeitos, o local da ocorrência do facto, a localização do objeto) com mais de uma ordem jurídica
estadual.

Do Direito Internacional Privado surgiu o Direito do Comércio Internacional ou mesmo uma parte do próprio
Direito Económico Internacional.

PARTE VII

Geografia: Pluralidade de Ordens Jurídicas e Comparação de Direitos

1. Critérios e famílias do "Direito Comparado"

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O Direito Comparado estuda as parecenças e diferenças entre as diversas ordens jurídicas, entre as famílias
de Direito. Também há quem o apelide de Geografia Jurídica, embora não seja usual.

Embora todos eles falíveis, os principais critérios das atuais famílias jurídicas (sistemas jurídicos) são a língua,
a ideologia, a raça (conceito hoje em dia cada vez mais desacreditado), a origem histórica, a religião, as
“civilizações” (conceito este que, de certo modo, integra todos os outros).

A grande divisão centra-se entre direitos “primitivos” e direitos civilizados, sendo que os primeiros englobam
os direitos tradicionais, em especial os consuetudinários. Quanto aos direitos civilizados, tanto o sistema de
direito chinês, quer o hindu aparentam ter interesse meramente histórico graças à sua desagregação
causada, no caso da China pelo regime comunista e, no caso da India pelo colonialismo britânico e da
modernidade.

Até há tempo atrás, haviam três grandes famílias: a Ocidental, a Muçulmana e a Soviética. O direito estadual
dos novos países africanos, contrariamente ao direito que normalmente vigorava nos períodos coloniais (que
era dualista, na medida em que mantinha o direito autóctone e o ocidental), passou a ser tendencialmente
monista e baseado nos regimes ocidental ou soviético, consoante os países.

Com o fim do COMECON e com a perestroika a família soviética desagregou-se, ao ponto de certos países de
Leste unirem-se à União Europeia.

Sendo normal que alguns vestígios do Direito soviético tenham permanecido de algum modo no direito
desses países, o perigo centra-se na tendência autoritarista. Ora, é disto exemplo sanções da União Europeia
à Hungria.

2. As Famílias Jurídicas

O pressuposto da Família Jurídica Ocidental é o Homem, a sua liberdade e dignidade e autonomia. A sua
base é a civilização ocidental, com tradição grega, romana e judaico-cristã e com preocupações sociais. O seu
Direito, bastante complexo, não visa objetivos políticos, religiosos ou ideológicos. Antes pelo contrário: é
laico.

Já a Família Jurídica Soviética, assentando em pressupostos bem mais recentes, baseia-se na ideologia
marxista-leninista. A autonomia e a especificidade do Direito dissipam-se, passando este a ser um
instrumento técnico do Estado, visando a construção do Comunismo ou sociedade sem classes. É um Direito
estritamente legalista.

Quanto à Família Jurídica Muçulmana, esta baseia-se no primado do religioso. O Alcorão regras jurídicas e é
de acordo com ele que, em última instância, se faz uma interpretação jurídica.

3. Subsistemas Romano-Germânico e da Commom Law

Dentro da Família Jurídica Ocidental existem duas subfamílias que são a romano-germânica (romanística ou
continental) e a da “Common Law" (anglo-saxónica ou anglo-americana). Embora partilhem dos mesmos
princípios civilizacionais, divergem na sua metodologia jurídica. Existem ainda ordens jurídicas mistas, com
características tanto continentais quanto da Common Law, tais como a Escócia, África do Sul, Israel ou o
Quebeque.

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Em sentido histórico, a grande fonte do sub-sistema romanístico é o Direito Romano, tendo recebido
posteriormente alguma influência germânica.

A lei detém o primado nas fontes de Direito, mas o costume também está presente. Tando a jurisprudência
quanto a doutrina são fontes mediatas de Direito.

A “Common Law” é uma lei criada jurisdicionalmente com base em direitos costumeiros. Surgiu numa
tentativa de entendimento entre Anglos e Saxões que até então tinham direitos diferentes. Este sistema
assenta na jurisprudência, em que Direito é essencialmente o que é declarado pelos Tribunais. De modo a
existir certeza jurídica, o precedente é vinculativo, ou seja, quando os tribunais superiores fixam um
precedente, este torna-se imperativo para os inferiores. De notar que esse precedente tem igualmente
origem consuetudinária, ou seja, advém do costume.

Relativamente aos anglo-saxónicos, a sua jurisprudência e doutrina são essencialmente viradas para o
concreto, e não para o abstrato e dogmático. A lei tem uma função acessória, pois o estudo do Direito é feito
com base na jurisprudência, no estudo de casos, e não pelo recurso a teorias gerais, códigos ou tratados. As
fontes, no seu sentido instrumental, são, praticamente infindas.

PARTE VIII

Sociologia: O Direito e a sua Circunstância: História, Ordens Sociais Normativas, Política, Estado

Pág 283 a 295 do manual 03

LIVRO III

TEORIA GERAL DA NORMA JURÍDICA E HERMENÊUTICA

PARTE I

A Norma e o Direito

Capítulo I: O Direito e as Normas

1. O Direito para além da Norma

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O Direito não se compõe exclusivamente por normas jurídicas. De facto, nem todas as normas são jurídicas.
O Direito também se baseia em regulamentações, decisões, atos e teorias provindos de “operadores
jurídicos”.

Sendo Direito os Atos Administrativos, as sentenças ditadas pelos Tribunais e a doutrina elaborada pelos
jurisconsultos, contudo não são normas. A teoria tridimensional do Direito refere outras realidades além da
norma que são os factos e os valores. Para além disso, o texto assume grande importância enquanto
realidade de suporte do Direito.

Ademais, a restrição teórica do Direito às normas reduz o mesmo a puro normativismo, o que leva a um
minguamento da juridicidade em técnica da coação, ao serviço do capricho de quem tem poder para mandar.
Justamente, o Direito foi criado para evitar a essa dependência do justo e do injusto da classe política.

O Direito quer-se isento de ideais políticos, partidários ou ideológicos que o subjugue ou controle.

Portanto, o Direito está para além da norma. No entanto, devido ao atual crescimento das ameaças à
legalidade e violações do Direito devemos compreender que a base do Estado de Direito é o respeito pelas
leis, é o estado de legalidade. Ora, se os cidadãos não as respeitarem (nem as autoridades jurídicas e
públicas forem disso exemplo) dá-se o perigo de entrarmos numa selvageria.

2. Importância e sentido da Norma e da sua Teoria Geral (da norma jurídica)

As normas não podem ser de todo descuradas na medida em que têm uma função reguladora primordial.

3. Estrutura das normas jurídicas

Antes de mais, importa referir que as proposições legais têm uma estrutura muito idêntica, em que fazendo
corresponder um facto a outro dá-se uma consequência jurídica.

A hipótese (facti species) e a estatuição (efeito jurídico) são factos. Portanto, se há hipótese, esta gera
estatuição ou haverá estatuição se houver hipótese. Por outro lado, pela negativa, se não há hipótese então
haverá estatuição ou haverá estatuição se não houver hipótese.

4. Características da norma jurídica

As características das normas jurídicas são os elementos fundamentais do Direito pelo que se dividem em
dois planos distintos, sendo eles o plano externo (o mais referido na doutrina e é relativo à forma e ao valor
externo das normas) e o plano interno (o de maior relevo, pois é o elemento efetivamente caracterizador do
Direito enquanto tal).

5. Elementos das normas jurídicas — Plano externo

São eles:

- Imperatividade - A norma jurídica profere uma ordem, uma diretiva com base em juízos de valor e não em
juízos de realidade, ou de existência. Mesmo que a norma permita, está na realidade a impor essa
permissão.

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- Generalidade - A norma não se dirige a uma pessoa concreta. Dirige-se, sim, a todas as pessoas que possam
praticar atos ou estar numa situação a que corresponda determinado efeito jurídico (estatuição).

- Abstração - muito ligada à última característica, a abstração é a qualidade da norma se não prender ao caso
concreto, à situação especial (ou à pessoa em causa), tratando por igual o leque de casos subsumíveis na sua
previsão (hipótese). Dada a situação R, então Z.

- Coercibilidade - A norma é suscetível de tutela e a sua violação acarreta uma sanção jurídica.

- Violabilidade – A norma é suscetível de ser violada, pois uma pessoa, embora sujeitando-se a uma sanção,
pode não a cumprir.

6. Elementos das normas jurídicas. Plano interno: os Juris praecepta (preceitos de Direito)

São eles:

Proibição do abuso do direito - Não abusar dos seus poderes (honeste vívere).

Limitação do uso do direito - não prejudicar ninguém (alterum non laedere).

Imposição do respeito pelos direitos dos outros - atribuir a cada um o que é seu (suum cuique tribuere).

Todos os preceitos se fundem na Justiça. O plano interno é dominado pelo Direito Natural, através dos juris
praecepta (preceitos de Direito) e da ideia de Justiça.

Por um lado, as características internas das normas jurídicas são negadas pelos juristas de pendor positivista.
Por outro, as características externas contém em si inúmeras exceções. Todas elas já foram postas em causa
através de novas teorizações que universalizam essas exceções retirando a importância devida à regra.

Pese embora essa contestação e também a sua desadaptação, esta estruturação dos elementos da norma
jurídica continua sendo considerada uma bússola orientadora.

PARTE II

Classificação das Normas Jurídicas

Capítulo I: Classificação de normas: dificuldades e precauções

1. Normas (propriamente) jurídicas e normas exteriormente jurídicas

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Primeiramente há que distinguir se se está perante uma verdadeira norma jurídica. Para além dos elementos
externos, o próprio conteúdo da norma deverá demonstrar um claro significado jurídico, de Justiça.

Portanto, existem normas que, embora sejam imperativas, gerais, abstratas, coativas e violáveis e adequadas
de acordo com os trâmites legais, na realidade não têm uma base justa no hic et nunc para poderem vigorar.
Ora, estas normas são somente aparentemente jurídicas, são normas dotadas de simples juridicidade
externa e, portanto, normas exteriormente jurídicas. A norma (ou lei) injusta não é norma (ou lei) (Santo
Agostinho e São Tomás de Aquino).

2. Carácter não substancial das classificações

No que respeita somente às normas totalmente jurídicas (tanto interna quanto externamente), deve-se saber
quais as que realmente interessam. Em primeiro lugar encontra-se o fim, a razão, o texto da norma.
Seguidamente, trabalha-se a sua catalogação no sentido de se aproximar as normas de acordo com
semelhanças e diferenças. Por fim, é classificada com base em propósitos doutrinários.

3. Critério ou focalização predominante

Toda a norma jurídica é suscetível de ser classificada segundo critérios que valorizem certas características, o
que comprova novamente o carácter não substancial das referidas classificações na medida em que uma
dada norma pode (e deve) ser alvo de diversas qualificações.

4. Norma única ou várias normas?

Ainda quanto à classificação de normas, há que ter em atenção que o facto de se individualizar um artigo de
um diploma legal (ou somente um parágrafo, número ou alínea) não faz com que estejamos perante uma
única norma jurídica.

Para ser possível classificar-se uma norma jurídica primeiramente deve-se ver se ela o é e, depois, verificar se
se trata de uma única norma através do critério da estrutura da norma jurídica.

5. Norma completa ou incompleta (hoc sensu)

No entanto, nem sempre estes elementos estruturais da norma jurídica obtêm forma expressa, pelo que será
necessária uma boa interpretação.

Outro elemento basilar, diferente da classificação, trata-se das características (atributos) das normas
jurídicas.

Capítulo II: Classificações segundo as características

1. Sentido da enfatização teórica desta relação

As classificações visam o grau e o tipo de fidelidade de cada norma aos paradigmas estabelecidos pelas
características que as definem.

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No âmbito das características das normas jurídicas seguem-se algumas possíveis classificações.

2. Esquema Geral da Relação Características/Critérios

I - Características ligadas ao lado externo das normas jurídicas:

1. Características de generalidade e abstração:

a) critérios do âmbito espacial de vigência

b) critérios dos interesses predominantemente tutelados

c) critérios do âmbito de frequência e normalidade

2. Características de imperatividade

d) critérios da força vinculativa (autónoma ou heterónoma) no conjunto da ordem jurídica

3. Características de coercibilidade e violabilidade

e) critérios quanto às consequências da violação

II - Características relacionadas com o lado interno das normas jurídicas:

f) critérios quanto à fonte de Direito causante (que pode ser plúrima e não exclusivamente legal)

g) critérios quanto à eticidade ou juridicidade imediata das normas (sem integrar nas normas a norma
injusta, mas fazendo apelo apenas a normas prima facie não éticas, v.g. os sentidos do trânsito; distinguindo
as prescrições materiais das jurídicas).

h) critérios quanto à inovação trazida pelas normas

III - Características relacionadas com a completude (presença simultânea da totalidade das características
jurídicas numa norma) das normas:

i) critérios quanto à importância e causação das normas entre si

j) critérios quanto à autonomia, completude ou transferência normativas.

3. Designações mais frequentes

Identificação de cada grupo de critérios com algumas das designações-base:

a) Âmbito espacial de vigência:

normas universais, gerais e locais

b) Interesses predominantemente tutelados: normas de interesse (e ordem) pública ou privada

c) Âmbito de frequência e normalidade no conjunto da ordem jurídica:

normas gerais, especiais e excecionais

d) Força vinculativa:

normas imperativas (ou injuntivas) e

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normas facultativas (ou dispositivas hoc sensu)

e) Consequências da violação:

normas plus quam perfectae, perfectae, minus quam perfectae, imperfectae.

f) Fonte de Direito causante:

normas consuetudinárias, jurisprudenciais, "doutrinárias (ou científicas)", legais e negociais.

g) Eticidade ou juridicidade imediata:

normas éticas e normas técnicas; normas de estatuição material e normas de estatuição jurídica.

h) Inovação

normas inovadoras e normas interpretativas

i) Importância e causação relativas: normas principais e normas derivadas (ou primárias e secundárias)

j) Autonomia, completude ou transferência: normas autónomas e não autónomas, normas completas e


incompletas,

normas diretas e indiretas (v.g. as remissivas)

4. O perigo conceptualista, relatividade e falibilidade classificatória

Importa referir que quanto mais pormenorizadamente se avaliar a estrutura classificatória, maior será o
perigo de distanciamento do real.

Por variadas vezes as categorias não conseguem abarcar todas as situações, mas também pode acontecer
aparecerem múltiplas classificações.

Capítulo III: Categorias

Fim

Descarregado por Teresa de Seabra (teresadeseabra@gmail.com)

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