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CC1 Sebenta Introdução AO Direito

Introdução ao Direito (Universidade Aberta)

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Comiss‹o de Curso 1¼ ano | FDUP | 23/24

NOTA INTRODUTîRIA:

A presente sebenta, disponibilizada pela Comiss‹o de Curso dos alunos do 1¼ ano da


licenciatura em Direito para o mandato de 2023/2024, foi elaborada pelos estudantes
Vit—ria Ferreira, Sofia Aleixo e Leonor Barbosa e revista pela aluna Jœlia Fran•a tendo
por base as aulas lecionadas pela docente Mariana Fontes da Costa, bem como as
obras bibliografias O Direito de Oliveira Ascens‹o, Introdu•‹o ao Direito e ao Discurso
Legitimador de Batista Machado, Manual de Introdu•‹o ao Direito de Freitas do
Amaral, Introdu•‹o ao Estudo do Direito de Santos Justo, Teoria Geral do Direito Civil
de Mota Pinto, Introdu•‹o ao Estudo do Direito de Marques Silva, entre outras obras
e artigos de importante relev‰ncia.

Para alŽm disso, tambŽm foram utilizadas como refer•ncia sebentas da cadeira de
anos anteriores e os sum‡rios da docente.

Esta sebenta constitui somente um complemento de estudo, n‹o dispensando, por


isso, a leitura das obras obrigat—rias e a frequ•ncia ˆs aulas te—ricas e pr‡ticas.

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Comiss‹o de Curso 1¼ ano | FDUP | 23/24

Introdu•‹o ao Direito
Faculdade de Direito da Universidade do Porto
2023/24

I. No•‹o e Sentido do Direito


1 - O Ser Humano, a sociedade e o Direito
2 Ð O Direito como ordem normativa e como sistema institucional: confronto com
outras ordens normativas
3 - Direito em sentido objetivo e direito(s) em sentido subjetivo
4 - O Direito, a autoridade e o poder: a problem‡tica da coa•‹o
5 - A rela•‹o entre Direito, justi•a e seguran•a
6 - O problema do Direito Natural

BIBLIOGRAFIA: Oliveira Ascens‹o (13-50, 56-64, 80-89, 96-103, 191-223); Batista


Machado (31-49, 55-59); Freitas do Amaral (165-211)

II. Os ramos do Direito


7 - A summa divisio estrutural: Direito Pœblico e Direito Privado
8 - Principais ramos do Direito

BIBLIOGRAFIA: Oliveira Ascens‹o (P. 333-361); Freitas do Amaral (P.213-340)

III. A norma jur’dica


9 - O conceito de norma jur’dica: elementos deÞnidores e estrutura da norma
10 Ð O facto jur’dico, o ato jur’dico, a situa•‹o jur’dica e a rela•‹o jur’dica
11 - ClassiÞca•‹o das normas jur’dicas

BIBLIOGRAFIA: Oliveira Ascens‹o (P. 493-496, 505-510); Batista Machado (P. 79-98);
Santos Justo, Introdu•‹o ao Estudo do Direito (P. 25-50)

IV. A cria•‹o normativa estadual


12 - A codiÞca•‹o
13 Ð TŽcnicas legislativas principais

BIBLIOGRAFIA: Oliveira Ascens‹o (P. 363-379); Batista Machado (P. 99-123)

V. A tutela do Direito e dos direitos


14 - Meios de tutela jur’dica
15 - Modalidades de tutela quanto aos Þns
16 - Modalidades de tutela quanto aos entes

BIBLIOGRAFIA: Oliveira Ascens‹o (P. 64-80, 89-96); Batista Machado (P. 125-134);
Mota Pinto, Teoria Geral do Direito Civil (P. 615-627, 632-644); Marques da Silva,
Introdu•‹o ao Estudo do Direito (sigarra)

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No•‹o e Sentido do Direito

1 - O Ser Humano, a sociedade e o Direito

DeÞnir direito n‹o s— no sentido cient’Þco e tŽcnico, mas como arte e ‡rea de
interven•‹o humana Ž dif’cil, parece gerar conßito na doutrina, dado que n‹o existe
uma no•‹o œnica e globalmente aceite. Assim sendo, considera-se ÒDireitoÓ uma
palavra polissŽmica.
Contudo, na opini‹o de Oliveira Ascens‹o, o Direito apresenta dois pontos
de partida seguros: ÒO direito Ž um fen—meno humano e socialÓ.
- Fen—meno humano: n‹o h‡ direito sem pessoas; Ž um fen—meno feito por
seres humanos para seres humanos, assim sendo, o destinat‡rio (da norma) Ž
sempre o ser humano.
- Fen—meno social: Ž um fen—meno social, na medida em que o direito se
dirige ao Homem em rela•‹o com os outros Homens (vida em sociedade) e nunca
ao Homem isolado, porque se assim fosse n‹o seria necess‡rio existir o Direito. Òh‡
uma liga•‹o necess‡ria e constante entre Direito e sociedadeÓ.

Deste modo, podemos dizer que o Direito funciona sempre numa l—gica de
alteridade, isto Ž, regulando a rela•‹o com o outro:
- Òubi homo ibi societasÓ Ð ÒOnde existe homem, existe sociedadeÓ
- Òubi societas ibi iusÓ Ð ÒOnde existe sociedade, existe direitoÓ
- Òubi ius ibi societasÓ - ÒOnde existe direito, existe sociedadeÓ

O Homem Ž um animal social, um ser ontogeneticamente inacabado,


incompleto. O Homem vive em sociedade visto que necessita e depende da
sociedade, alŽm disso, para viver em sociedade, Ž necess‡rio haver um conjunto de
regras/normas que regulem e assegurem a paz em comunidade. Visto que o Direito
s— se veriÞca em contexto de sociedade, o fen—meno social surge como
condicionante do fen—meno jur’dico.

ÒA sociabilidade veriÞca-se qualquer que seja o estado civilizacional que se atravesse:


nomeadamente, n‹o depende da evolu•‹o da tŽcnica. E porque se trata de uma
determinante da sua natureza se diz que o homem Ž um animal social.Ó - Oliveira de
Ascens‹o

Por Þm, a Þnalidade do Direito Ž regular a conduta e a sociedade de modo a


potenciar o funcionamento pac’Þco da vida em sociedade.

2 Ð O Direito como ordem normativa e como sistema institucional: confronto


com outras ordens normativas

→ A vida em sociedade Ž regulada, por ordens, por normas, por regras; Òsem
ordem sociedade nenhuma lograria subsistirÓ Ð Oliveira Ascens‹o

Assim sendo, existem dois conjuntos de normas que regulam a sociedade:

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- Ordem natural: Caracteriza-se por ser uma ordem de necessidade, ou seja,


composta por regras de necessidade e estas s‹o inalter‡veis e inviol‡veis. ƒ uma
ordem que rege os fen—menos da natureza. Pertence ˆ ordem do dever ser. N‹o se
considera que estas normas s‹o violadas, mas sim desmentidas. (ex.: quando
apareceu o Heliocentrismo viu-se que a teoria geoc•ntrica estava errada e
consequentemente foi substitu’da).
- Ordem social: ƒ uma ordem de liberdade que pressup›e a vontade do
Homem (n‹o pertence ao ser, mas sim ao dever ser). JustiÞca-se pela sua
racionalidade, mas n‹o se imp›em inelutavelmente, sendo que a violabilidade das
suas normas faz parte da sua ess•ncia. Pode ser desrespeitada sem por isso perder
validade. Posto isto, s‹o regras viol‡veis e alter‡veis, mas isso n‹o lhes tira validade.
ƒ uma ordem de cultura. (ex.: atravessar fora da passadeira, comprar um DVD pirata,
homic’dio).

A ordem social divide-se em duas componentes:


- Componente F‡ctica: Existe na sociedade elementos f‡cticos que, apesar
de contribu’rem para a ordem social, n‹o t•m car‡cter normativo. ƒ constitu’da por
elementos que n‹o pretendem orientar a conduta humana, mas apenas descrev•-la.
Exemplos: ‡rea da sociologia, economia, antropologia. DESCREVEM, MAS NÌO
REGULAM
- Componente Normativa: ƒ composta por regras de conduta, pertence ˆ
ordem do Ôdever serÕ e visa orientar diretamente o comportamento do Homem em
sociedade. ƒ uma ordem composta por normas viol‡veis, mas a viola•‹o por causas
individuais n‹o afeta a validade destas normas. O Homem pode adequar ou n‹o a
ela a sua conduta. NORMAS QUE SERVEM PARA REGULAR Ð orientam a conduta
humana
O direito corresponde, portanto, a um fen—meno humano e social
inserido na ordem social de componente normativa.

Institui•›es: realidades objetivas e supra-individuais, pois perduram no


tempo, independentemente de mudarem as pessoas, mas n‹o t•m exist•ncia
pr—pria, ou seja, Òvivem enquanto essas signiÞca•›es objetivas encarnam nos
indiv’duos que s‹o matŽria da sociedade atravŽs da sua ades‹o as mant•m em vidaÓ.
As institui•›es surgem de padr›es de conduta socialmente sancionados que cada
cultura destaca da multiplicidade poss’vel de modos de conduta humana, elevando-
os a padr›es vinculantes para todos os membros do grupo. S— s‹o elevados a
institui•›es setores da vida social com valor estratŽgico para a sociedade. As
institui•›es sofrem um processo de juridiÞca•‹o, isto Ž, s‹o absorvidas pelo direito.
- Fun•›es das Institui•›es:
o Estabilidade normativa: assegurar que os valores de uma
determinada institui•‹o s‹o apreendidos e aceites pelos membros de
essa mesma institui•‹o;
o Integra•‹o: as institui•›es tambŽm nos permitem entender qual Ž o
nosso papel na sociedade, a nossa fun•‹o.
Import‰ncia das Institui•‹o na ordem normativa:

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ÒCarecido de um equipamento instintivo que determine e dirija certeiramente


a sua conduta, desfavorecido neste aspeto relativamente aos outros seres vivos, o
homem necessita de criar institui•›es, de instituir coordenadas que lhe permitam
encontrar um rumo de a•‹o e encontrar uma deÞni•‹o de si pr—prio face ao caos dos
seus impulsos sumamente inespec’Þcos e sem dire•‹o.Ó Ð Jorge Miranda
ÒO homem necessita de criar institui•›es, de instituir coordenadas que lhe
permitam encontrar um rumo de a•‹o e encontrar uma deÞni•‹o de si pr—prio face
ao caos dos seus impulsos sumamente inespec’Þcos e sem dire•‹o. SigniÞca isto,
aÞnal, que o organismo humano carece de meios biol—gicos necess‡rios para
proporcionar estabilidade ˆ sua condutaÓ Ð Batista Machado
O Homem Ž um ser iminentemente social, precisa de socializar, Ž
ontogeneticamente inacabado e aberto, Ž na sociedade que se vai desenvolver.
Deste modo, as institui•›es desempenham um papel crucial na vida do Homem.
Assim, dizemos que o Direito tambŽm precisa das institui•›es porque o direito rege
e regula a vida em sociedade e se n‹o houvesse sociedade, o Direito n‹o saberia o
que haveria de regular.

Corpus
Animus
(prá%ca COSTUME
(convicção da
generalizada do
obrigatoriedade)
comportamento)

Os empiristas do sŽculo XX e os realistas do sŽculo XXI entendem que o


Direito resulta de um encadeamento de factos, regulados por uma rela•‹o causa-
efeito, em que as rela•›es sociais seriam a causa das rela•›es jur’dicas e a ci•ncia do
Direito limitar-se-ia a apurar a express‹o desta resultante.

Problema da for•a normativa dos factos

Esta teoria Ž apresentada para tentar responder ˆ quest‹o: Os factos criam ou n‹o
normas? Todo o Direito deriva diretamente das condutas socialmente
generalizadas?
¥ Nesta quest‹o os empiristas entendem que: Uma conduta que se generaliza
numa determinada sociedade torna-se por isso numa norma. Portanto,
sempre que surgisse um novo facto social, iria surgir uma nova norma. Assim
sendo, todo o Direito resulta de padr›es sociais factos de conduta que se
identiÞcam pela vivencia na sociedade. Posto isto, estudar direito Ž
estudar os factos sociais.
¥ No entanto, existem autores que n‹o concordam com esta teoria e defendem
que: apesar de existirem exemplos na hist—ria de como uma conduta aceite
universalmente por uma grande parte dos membros de uma sociedade

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acaba por se impor como uma norma v‡lida, a verdade Ž que: o que
efetivamente se veriÞca Ž que uma conduta social que se afasta da
norma vigente s— adquire car‡ter normativo quando se generaliza a
convic•‹o de que Ž justa e correta, ou seja, quando se aÞrma como
leg’tima e vinculante. AlŽm disso, para estes autores o Direito situa-se no
ÒDeve serÓ e n‹o no ÒserÓ. Por isso, em muitas matŽrias, o Direito
desempenha um papel de orienta•‹o de condutas sociais, impondo
condutas que ainda n‹o gozam de aceita•‹o social (papel pedag—gico de
evolu•‹o social).
¥ Conclus‹o: A maior diferen•a entre as duas perspetivas Ž que, para os
que n‹o concordam com os empiristas, o Direito n‹o se limita os factos
sociais.

Realismo Jur’dico

O Realismo jur’dico apresenta duas vertentes: O Realismo Jur’dico


escandinavo e o Realismo Jur’dico Norte-Americano, no entanto, s— vamos abordar
este œltimo.

O Realismo Jur’dico Norte-Americano- A l—gica do realismo americano Ž


que todo o Direito Ž facto, contudo, n‹o Ž um facto social, como consideram os
empiristas, mas sim decis‹o judicial, no sentido em que o Direito apenas existe
quando aplicado ao caso. Todo os Direito nasce nos Tribunais. Assim, tendo em
conta a regra do precedente, os ju’zes n‹o podem tomar decis›es opostas ˆs dos
pa’ses da Common Law, onde a jurisprud•ncia Ž a principal fonte de Direito.

Este Realismo Jur’dico Norte-Americano Ž alvo de cr’ticas:

1. Cr’tica principal: Qual Ž o critŽrio que est‡ por detr‡s das decis›es do
tribunal e que impede o juiz a decidir de dada forma?
2. A norma Ž prŽvia, o verdadeiro Direito Ž aquele que efetivamente intervŽm
na sociedade, isto Ž, o que nasce dos tribunais. E como tal, abre
oportunidade a decis›es arbitr‡rias e ˆ subjetividade. Assim, contribui para o
aumento da inseguran•a jur’dica.
3. Se negarmos a exist•ncia de normas jur’dicas anteriores ˆ decis‹o do juiz,
ent‹o as decis›es judiciais ser‹o necessariamente arbitr‡rias e baseadas em
convic•›es pessoais.
4. Se negarmos a exist•ncia de normas jur’dicas anteriores ˆ decis‹o do juiz,
onde Ž que se fundamenta a autoridade de decis‹o do tribunal?
5. Se a decis‹o do juiz Ž o œnico Direito reconhecido, o que Ž que justifica os
recursos em tribunal?

Conjuntos de normas que regulam a nossa vida em sociedade:

Ordem Religiosa- normas religiosas


Ordem de Trato social- normas de trato social

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Ordem Moral- normas morais


Ordem Jur’dica- normas jur’dicas

Ordens religiosas

1. Assentam num sentido de transcend•ncia e ordenam as condutas dos


crentes, tendo em vista a sua rela•‹o com Deus.
2. S‹o normas instrumentais porque tem como objetivo preparar o que n‹o
pertence ao mundo terreno (p—s-morte).
3. ƒ uma ordem intra-individual porque se destinam na sua ess•ncia ao
’ntimo do Homem na sua rela•‹o com Deus, o que n‹o significa que n‹o
estabele•am condutas sociais relevantes.
4. A relev‰ncia das normas religiosas no mundo atual varia de pa’s para pa’s.
Na nossa realidade cultural, os estados s‹o sobretudo laicos (ÒDar a CŽsar
o que Ž de CŽsar, a Deus o que Ž de DeusÓ), ainda que haja Estados onde as
normas religiosas se sobreponham ˆs normas jur’dicas.

Notas:
- Um Estado de Direito n‹o tem de ser laico.
- N‹o confundir normas religiosas com normas jur’dicas de ordens religiosas. (ex.: O
direito can—nico Ð normas jur’dicas- tem uma base estadual que Ž o Vaticano)

Ordem de trato social

1- Regras de etiqueta e cortesia, usos ou convencionalismos sociais que se


destinam a tornar a conviv•ncia mais agrad‡vel, mas n‹o s‹o necess‡rios ˆ
conserva•‹o e progresso socias.
2- A viola•‹o destas normas provoca reprova•‹o social e pode conduzir ˆ
segrega•‹o do elemento que as desrespeitou.
3- Elas distinguem-se das normas jur’dicas pelo car‡ter inorganizado da sua
gŽnese1 e pela aus•ncia de coercibilidade organizada, o que significa que a
san•‹o ˆ viola•‹o das normas de trato social Ž a reprova•‹o social.

ÒN‹o se observando estas regras a conviv•ncia torna-se mais dif’cil, mas a


comunidade n‹o fica em perigo.Ó Ð Oliveira Ascens‹o.

ÒA ordem do trato social tem o mesmo sentido objetivo dum Òser devidoÓ e por isso Ž
verdadeiramente uma ordem normativaÓ Ð Oliveira Ascens‹o.

Ordem Moral

1. Correspondem a uma Òordem de conduta que visa o aperfei•oamento da


pessoa, dirigindo-a para o Bem (valor) - Oliveira Ascens‹o. A moral tem
como valor supremo o Bem.

1
origem

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2. Partilham com as normas religiosas o facto de em grande medida serem


Intra individuais pois dirigem-se ˆ consci•ncia de cada um, ao
aperfei•oamento de cada um. No entanto, elas exercem uma forte
influ•ncia sobre o comportamento social porque este aperfei•oamento
individual realiza-se em rela•‹o com os outros.

Existe uma tendencial sobreposi•‹o das normas jur’dicas e morais, mas nem
todas as normas jur’dicas s‹o morais, j‡ que h‡ normas jur’dicas que n‹o t•m
qualquer tipo de elemento moral. Exemplo: regras de tr‰nsito.

Distin•‹o entre Direito e Moral

® Todo o direito Ž moral, mas nem toda a moral Ž direito

1- CritŽrio do m’nimo Žtico

Este critŽrio, em rigor, n‹o Ž um critŽrio verdadeiro para a distin•‹o entre Direito
e Moral visto que Ž um critŽrio de assimila•‹o: todas as normas jur’dicas derivam de
normas morais que, por a sua import‰ncia, merecem prote•‹o acrescida. De acordo
com este critŽrio tudo o que Ž jur’dico Ž moral; mas nem tudo o que Ž moral Ž
jur’dico.

Cr’ticas sobre o critŽrio:

- H‡ um conjunto de normas jur’dicas que s‹o tŽcnicas, que s‹o amorais; ex.:
c—digo da estrada, uniformes...
- H‡ normas jur’dicas cujo a aplica•‹o ao caso concreto pode revelar-se imoral.
- De facto, a moral tem uma certa dimens‹o individual, mas n‹o podemos negar que
h‡ uma moral geral na sociedade.
- H‡ normas jur’dicas cujo conteœdo pode ser encarado como imorais.

ÒSe as regras jur’dicas n‹o t•m pois necessariamente conteœdo moral, Ž escusada
qualquer considera•‹o ulterior sobre uma teoria que concebe o Direito como uma
ordem da mesma natureza que a moral Ð como um m’nimo ŽticoÓ - Oliveira de
Ascens‹o

2- CritŽrio da heteronomia

O Direito Ž uma cria•‹o exterior ao sujeito enquanto a moral Ž uma cria•‹o do


pr—prio sujeito.

Cr’tica:

Se a ordem jur’dica Ž de facto heter—nima (que Ž), Ž exterior a cada sujeito, j‡


n‹o Ž verdade que a moral seja uma cria•‹o aut—noma, assente numa
autoimposi•‹o do sujeito aos ditames da sua consci•ncia. As normas morais

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extravasam a consci•ncia de cada um. Existe uma Moral dominante de cria•‹o


exterior ao sujeito, isto Ž, que surge naturalmente da sociedade.

3 Ð CritŽrio de coercibilidade

Este critŽrio diz que as normas jur’dicas se caracterizam por gozarem de


coercibilidade, isto Ž, da possibilidade de impor algo atravŽs da for•a. Em
contrapartida, as normas morais n‹o gozam dessa coercibilidade.

Cr’ticas:

A regra moral Ž, de facto, incoerc’vel dado que nenhum poder exterior pode
impor que os homens sejam melhores. Contudo: H‡ normas jur’dicas que n‹o
gozam de coercibilidade: prazos dos ju’zes, por exemplo.

4 Ð CritŽrio da exterioridade da conduta

Este critŽrio (em termos radicais) defende que as normas morais incidem
sobre a interioridade dos atos, em contraste com as normas jur’dicas, que incidem
sobre o ato exteriormente manifestado. Ou seja, novamente, a Moral atenderia ˆ
consci•ncia, e o Direito preocupar-se-ia com a conduta, n‹o existindo a invas‹o do
f—rum ’ntimo de cada um.

- Moral atenderia ao foro ’ntimo de cada um Ð a sua consci•ncia, o que


pretende, o que pensa.
- Jur’dico atenderia ao ato propriamente dito. Exemplo concreto:

1) A esfaqueou B

2) A Ž mŽdico e B est‡ numa mesa para operar um ap•ndice.

Conclus‹o/cr’tica: O ato Ž o mesmo, mas a inten•‹o e o objetivo n‹o. Para o


Direito, estas situa•›es s‹o vistas e tratadas como distintas, assim, conclu’mos que a
inten•‹o tambŽm Ž relevante para o Direito. Portanto, o critŽrio, em termos radicais,
Ž falso.

Contudo, este critŽrio Ž o mais œtil e verdadeiro se afastarmos o radical,


ou seja, se n‹o o assumirmos como critŽrio absoluto, usando-o como ponto de
partida.

Ou seja, o critŽrio torna-se verdadeiro quando afirmamos: O Direito tem


como ponto de partida o lado extremo da exist•ncia (ou seja, a conduta), o que
significa que para o Direito, uma inten•‹o de que n‹o se traduza num ato, n‹o
sendo projetada no exterior, n‹o Ž relevante. A Moral assenta na ordem espiritual
do sujeito, sendo os aspetos exteriores reflexos da dimens‹o interior/intima.

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Embora nenhum dos critŽrios seja absoluto, todos eles t•m pontos
verdadeiros, sendo a sua conjuga•‹o a forma mais correta de distinguir normas
jur’dicas de normas morais.

Problema das normas jur’dicas e das normais morais:

Princ’pio da n‹o beliger‰ncia/n‹o litig‰ncia - o Direito pode permitir um ato dito


imoral, mas n‹o deve tendencialmente imp™-lo. Pode atŽ permiti-los, mas deve
sempre evitar atos contradit—rios ˆ moral.

Existem duas manifesta•›es deste princ’pio no ordenamento jur’dico portugu•s,


sendo eles:

Art. 128¼ do c—digo civil ÐDever ˆ obedi•ncia


Art. 41¼, n¼6 CRP Ð Direito ˆ obje•‹o de consci•ncia

¥ Art.128¼ do CC: O dever da obedi•ncia: de acordo com uma moral dominante e


com representatividade social, se a ordem dada pelos pais for considerada il’cita e
imoral, o menor pode recusar-se a obedecer. O menor pode recusar-se invocando o
artigo 128¼ do c—digo civil.

Obje•‹o de Consci•ncia

ÒA obje•‹o de consci•ncia Ž uma posi•‹o subjetiva protegida


constitucionalmente que se traduz no n‹o cumprimento de obriga•›es e no n‹o
praticar de atos legalmente impostos em virtude de as pr—prias convic•›es do
sujeito o impedirem de as cumprir. Sendo que estes atos e incumprimentos est‹o
isentos de quaisquer san•›es.Ó

S‹o 6 os elementos de direito ˆ obje•‹o de consci•ncias:

¥ Incumprimento de uma norma jur’dica impositiva para o objetor, ou


seja, o objetor de consci•ncia n‹o adota uma conduta que est‡ obrigado
ou adota uma conduta a que est‡ proibido, em desrespeito a uma norma
jur’dica;
¥ Motivado por raz›es de consci•ncia - sejam pol’ticas, ideol—gicas,
religiosas, morais, human’sticas;
¥ Com carater individual̀ o que significa que n‹o pode ser exercido por
um grupo;
¥ Revestindo de um carater pacifico;
¥ O seu exerc’cio n‹o pode prejudicar gravemente terceiros;
¥ Esse comportamento de incumprimento Ž tolerado pela ordem
jur’dica, isentando o sujeito de qualquer san•‹o. A lei regula o direito
ˆ obje•‹o de consci•ncia. Relativamente a este ponto, tem se entendido
que para haver direito ˆ obje•‹o de consci•ncia, Ž necess‡rio haver uma
lei que determine exatamente se aquela situa•‹o Ž ou n‹o pass’vel de
obje•‹o de consci•ncia. Essa lei Ž definida pelo legislador ordin‡rio (o

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legislador que cria as leis que est‹o abaixo da constitui•‹o, isto Ž,


assembleia e governo).

Fundamento do direito ˆ obje•‹o de consci•ncia: A dignidade da consci•ncia de


cada um, ou seja, o respeito pelas convic•›es profundas de cada um, sobretudo em
quest›es fraturantes (que chocam).

Ordem jur’dica

N‹o existe uma defini•‹o un’voca da ordem jur’dica.

Para os normativistas, a ordem jur’dica Ž o aglomerado de normas jur’dicas que


existem numa dada sociedade, num dado momento hist—rico. Deste modo, todo o
direito se concentraria nas normas jur’dicas. Contudo, existe uma unidade de
sentido que vai para alŽm do mero somat—rio de regras e o estudo do Direito deve
refletir isso.

Portanto, segundo Oliveira Ascens‹o: a ordem jur’dica Ž uma Òno•‹o englobante


em que se inscrevem as institui•›es, os —rg‹os, as fontes do direto, a vida jur’dica ou
atividade jur’dica e situa•›es jur’dicas.Ó Oliveira Ascens‹o n‹o inclui as regras
jur’dicas visto que Òas regras, ou o complexo normativo, n‹o s‹o a ordem jur’dica,
mas express‹o destaÓ

Para Cabral de Moncada a ordem jur’dica Ž um Òconjunto de normas princ’pios,


institui•›es e institutos jur’dicos (Direito Positivo) trabalhados pela especula•‹o
cient’fica (ci•ncia jur’dica)Ó.

Para Miguel Reale Òo ordenamento Ž o sistema de normas jur’dicas in acto,


compreendendo as fontes do Direito e todos os seus conteœdos e proje•›esÓ

Para o Doutor Castanheira Neves Ž uma Institucionaliza•‹o hist—rica do Direito

Por fim, o entendimento que aborda a maior parte da doutrina Ž: A ordem jur’dica,
para a maioria dos autores, corresponde a um conjunto relativamente est‡vel
de normas, princ’pios, institui•›es e institutos jur’dicos, correlacionados e
harm—nicos entre si.

Caracter’sticas da ordem jur’dica:


- Necessidade;
- Imperatividade;
- Estatalidade;
- Coercibilidade.

Necessidade
O Direito Ž imprescind’vel em todos os tipos de sociedade. N‹o Ž poss’vel manter
a sociedade sem Direito. Se n‹o houvesse direito s— restava 2 hip—teses:

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despotismo em estado puro (que n‹o existe); ou anarquia (n‹o Ž um estado que se
consiga manter) - n‹o s‹o suscet’veis de perpetua•‹o.

Despotismo: Em abstrato refere-se ao Òmodo de o homem, aglutinado pela


tend•ncia denominada affectio societatis, subsistir sem ordem jur’dica. Toda a
sociedade estaria dependente da vontade perpetuamente vari‡vel de um s—.Ó Ð
Oliveira de Ascens‹o - Caso n‹o fosse moment‰neo, o seu resultado seria a
desagrega•‹o da comunidade.

Anarquia: no sentido puro Ž total aus•ncia de regras. Per’odos de anarquia surgem


por vezes na vida de uma sociedade, porŽm um estado puro de anarquia aponta
tambŽm para a extin•‹o da sociedade em causa. A suposta anarquia limita-se ao
vazio do poder ÒA pretensa anarquia limita-se ao vazio do poder pol’ticoÓ Ð Oliveira
de Ascens‹o

Oliveira Ascens‹o diz que a ordem jur’dica Ž necess‡ria quer seja uma sociedade
simples ou numa sociedade industrial muito complexa dado que o lugar de cada um
tem de ser demarcado para que se alcance o objetivo comum. ÒA regra da vida
social Ž justamente o Direito.Ó Acrescenta que mesmo que os homens fossem
perfeitos a ordem jur’dica era necess‡ria para regular v‡rias atividades como a
distribui•‹o das habita•›es, os hor‡rios de trabalho, as regras de circula•‹o de
abastecimento dos mercados. Desta forma, o Direito Penal poderia desaparecer,
caso os homens fossem perfeitos, mas a ordem jur’dica seria sempre necess‡ria.

Imperatividade
Caracter’stica comum ˆs normas religiosas e morais. Exprime um Òdever serÓ
que constitui uma exig•ncia categ—rica de aplica•‹o. Associado ˆ ordem jur’dica
n‹o est‡ uma escolha individual, est‡ uma imposi•‹o. ƒ falso que todas as normas
jur’dicas s‹o imperativas, mas a imperatividade Ž uma caracter’stica que identiÞca a
ordem jur’dica como um todo. O n‹o cumprimento da ordem jur’dica implica uma
san•‹o, ou seja, uma consequ•ncia desfavor‡vel associada ao desrespeito de
normas jur’dicas. A ess•ncia do Direito implica que ele n‹o seja deixado ˆ escolha
dos destinat‡rios. Associado ‡ san•‹o existe um ju’zo de reprova•‹o e censura que
parece afastar a conce•‹o de livre escolha.
Existem normas jur’dicas facultativas (quest‹o do aborto, permite, mas n‹o
imp›e) ou normas jur’dicas supletivas (que se aplicam na aus•ncia de um acordo
prŽvio art. 772¼ CC) ou qualquer outra norma em que o seu incumprimento n‹o
implique qualquer san•‹o.

Estatalidade
ƒ muito comum identiÞcar a norma jur’dica como uma cria•‹o do estado
aplicada por —rg‹os que se integram o mesmo, e Ž verdade que n‹o se pode negar
que a maior parte de normas jur’dicas s‹o de cria•‹o estadual. Contudo, nem todas
as normas jur’dicas s‹o cria•‹o do estado. Exemplo: normas que resultam da ONU,
do Direito Internacional Pœblico.

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Nem todo o Direito tem origem estadual (ali‡s, antes da exist•ncia do Estado j‡
havia Direito). Existem normas infraestaduais que emanam de sociedades infra-
estaduais, isto Ž, autarquias locais, pessoas coletivas intra-estatais e pessoas
coletivas privadas. AlŽm disso, existem tambŽm as normas supraestaduais, criadas
por sociedades supra-estatais, como a ONU, a UE, entre outras. Um grande exemplo
de normas supraestaduais Ž o Direito Internacional Pœblico que n‹o deixa de ser
Direito pelo facto de n‹o ser reconhecido por algum Estado.
A grande vantagem da estatalidade: alerta para o facto de na ordem
jur’dica internacional coexistirem v‡rias ordens jur’dicas nacionais delimitadas pelas
fronteiras do estado e que coexistem entre si em pŽ́ de igualdade.
Em suma, apesar de nem todo o Direito ter fonte estadual, a maior parte das
normas jur’dicas tem, de facto, origem no Estado e o seu ‰mbito de aplica•‹o est‡
delimitado por esse Estado. Podemos dizer, portanto, que a estabilidade n‹o Ž uma
caracter’stica absoluta, mas tendencial.

Coercibilidade
DeÞne-se, normalmente, como a suscetibilidade de aplica•‹o pela
for•a da san•‹o associada ˆ viola•‹o da norma jur’dica. Existe, mesmo que n‹o
exista uma san•‹o associada a uma determinada norma. Outras normas tambŽm
t•m san•›es, mas apenas nestas s‹o aplicadas pela for•a. Aos juristas Ž conÞada a
responsabilidade de gerir a imposi•‹o das san•›es pela for•a.

A coercibilidade Ž uma caracter’stica exclusiva do direito, da ordem


jur’dica, da norma jur’dica. No entanto, apesar de tendencialmente a coercibilidade
vir sempre associada ˆ norma jur’dica, de facto, h‡ normas jur’dicas que n‹o gozam
de coercibilidade ou t•m essa coercibilidade muito mitigada, assim sendo, essas
normas s‹o designadas como normas n‹o estaduais, como Ž o caso de
organiza•›es culturais.

¥ Normas jur’dicas de ‰mbito infra estadual: como Ž o caso de


organiza•›es culturais cujas normas (n‹o estaduais) n‹o gozam de coercibilidade.
Na verdade, a viola•‹o dessas normas, muitas vezes, confronta-se com a
incapacidade destas entidades aplicarem pela for•a a san•‹o associada ˆ viola•‹o
dessas normas (ex.: atraso no pagamento das cotas). Quando isto acontece, Ž
necess‡rio recorrer ˆ coercibilidade de normas jur’dicas (estaduais), isto Ž,
essas entidades recorrem ˆ for•a externa para poderem aplicar a coercibilidade
das suas normas.
¥ Normas jur’dicas de ‰mbito supraestadual: tendo por exemplos
fundamentais o direito can—nico e o direito internacional publico, o
problema/fragilidade, alŽm da indeÞni•‹o dos meios e do mau funcionamento das
institui•›es, consiste na aplicabilidade das san•›es, porque n‹o existe um corpo
aut—nomo de aplica•‹o das san•›es pela for•a. Assim, no caso das normas jur’dica
supraestaduais, o poder coativo depende da op•‹o pol’tica dos estados, isto Ž,
os Estados s— emprestam a sua for•a para o que for do seu interesse.

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No entanto, mesmo na ordem jur’dica estadual, h‡ normas sem san•‹o e


normas cuja san•‹o n‹o pode ser coativamente imposta, como Ž poss’vel
observar nos seguintes casos:

1. Se o Estado, principal criador de normas jur’dicas, violar uma norma, ou


seja, quando Ž o Estado o agressor da norma jur’dica, n‹o h‡ possibilidade
de imposi•‹o de uma san•‹o pela for•a, pois, de acordo com o Doutor
Oliveira Ascens‹o, Ž o pr—prio Estado que detŽm o ÔÕmonop—lio da
coa•‹oÕÕ;
2. Prazos de decis‹o dos ju’zes: caso os ju’zes ultrapassem os prazos, n‹o t•m
qualquer san•‹o;
3. Obriga•›es familiares: h‡ normas que, pela sua natureza, n‹o justiÞcam a
interven•‹o do Estado na vida privada. No artigo 1672¼ do C—digo Civil,
estabelecem-se as responsabilidades mœtuas dos c™njuges, mas, apesar de
estes aspetos serem ess•ncias para a norma jur’dica, a san•‹o de eventuais
viola•›es Ž praticamente inexistente, s— se aplicando apenas em casos
extremos.
4. As obriga•›es naturais est‹o previstas no art¼402 do c—digo civil: s‹o
obriga•›es naturais em que o credor n‹o pode exigir coativamente o
cumprimento, mas se o devedor cumprir voluntariamente, o credor tem o
direito de reter a presta•‹o a t’tulo de pagamento, n‹o tendo de a devolver.
¥ Dividas prescritas art.¼ 304, n¼2 c. civil;
¥ Dividas que resultem de jogo e aposta n‹o autorizado
legalmente art.¼ 1245 C—digo civil - Proibida organiza•‹o
proÞssional;
¥ Presta•‹o de alimentos em benef’cio de pessoas que n‹o t•m
legalmente direito a exigi-la art 495¼, n¼ 3 do C—digo Civil;
¥ Compensa•‹o que os pais devem aos Þlhos pela presta•‹o de
trabalhos em determinadas circunst‰ncias. Art 1895.¼, n¼ 2 do
C—digo Civil;

3 - Direito em sentido objetivo e direito(s) em sentido subjetivo

Sentidos da palavra direito:


- Ci•ncia jur’dica- Ci•ncia que estuda a ordem normativa segundo um mŽtodo
pr—prio. Ex.: Vou ter aulas de Direito do Trabalho.
- Direito objetivo (law) Conjunto relativamente est‡vel de normas, princ’pios,
institui•›es e institutos jur’dicos correlacionados e harm—nicos entre si. Ex.: Direito ˆ
saœde enquanto sistema de normas jur’dicas
- Direito subjetivo (right) Poder ou faculdade de que se encontra investido um
determinado sujeito num determinado momento. Ex.: O direito da Fl‡via ˆ saœde. O
direito que tenho sobre o meu casaco.

4 - O Direito, a autoridade e o poder: a problem‡tica da coa•‹o

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A coa•‹o pertence ˆ ess•ncia do direito? ƒ o que lhe confere identidade?


Porque Ž que o direito pode usar a for•a e mais nenhuma ordem pode?
A doutrina divide-se entre Weber (soci—logo) e Larenz (jurista):
Weber Ð Òexiste direito quando a validade da ordem Ž garantida
exteriormente pela probabilidade de uma coa•‹o (f’sica ou ps’quica) que, aplicada
por uma inst‰ncia humana especialmente institu’da para esse efeito, force ao
respeito e puna a viola•‹o daquela ordemÓ. Para Weber o conteœdo da norma n‹o Ž
parte da sua qualiÞca•‹o jur’dica, o conteœdo Ž irrelevante (posi•‹o formalista). O
soci—logo aÞrma que n‹o h‡ direito sem coa•‹o, a coa•‹o Ž parte essencial do
Direito. ƒ o elemento que distingue a ordem jur’dica das outras ordens sociais.
Assim sendo, as normas jur’dicas s‹o aquelas que s‹o suscet’veis de aplica•‹o
institucional pela for•a.
Larenz (posi•‹o axiologicamente comprometida) - ÒO Direito Ž uma ordem
de conviv•ncia humana orientada pela ideia de uma ordem justa, ideia essa a que,
pelo seu pr—prio sentido, tal ordem vai referida.Ó Segundo Larenz, a coercibilidade
n‹o faz parte da ess•ncia do Direito, mas a coercibilidade Ž uma condi•‹o de
eÞc‡cia das normas jur’dicas, atŽ porque existem normas jur’dicas que n‹o gozam
de coa•‹o.
Assim, o Direito Ž uma ordem de justi•a e nessa medida, o que o caracteriza
e distingue das outras ordens normativas Ž a promo•‹o de justi•a, mas numa
sociedade de seres imperfeitos, a coercibilidade Ž essencial ˆ eÞc‡cia das normas. O
uso da for•a no Direito (coercibilidade das normas jur’dicas) Ž legitimado por
esta essencialidade do Direito ˆ vida e por esta ideia de justi•a de que as
normas se encontram inclu’das. A coercibilidade n‹o pertence ˆ ess•ncia do
Direito, mas sim ˆ sua eÞc‡cia.

Batista Machado partilha da mesma opini‹o, dizendo que ÔÕa coa•‹o ou a


coercibilidade n‹o especiÞca o Direito no plano do ser, n‹o o determina no seu
conteœdo e, portanto, n‹o faz parte da sua ess•nciaÕÕ.

Problemas que a coa•‹o no Direito suscita:


a) Quest‹o da legitimidade da coa•‹o
O Direito n‹o se deÞne pela coercibilidade, mas esta Ž uma caracter’stica ou
qualidade que resulta da pr—pria natureza do DireitoÓ Ð Batista Machado.
O que pertence ao Direto Ž caracterizado pela sua obrigatoriedade, mesmo
contra a vontade dos destinat‡rios da norma ÒO que Ž Òde DireitoÓ Ž obrigat—rioÓ -
B.M
Aqui, portanto, est‡ presente:
- Heteron’mia - Ž correto aÞrmar que a ordem jur’dica Ž heter—noma dado que n‹o
Ž uma cria•‹o do sujeito, sendo exterior a ele. Segundo Batista Machado, a
heteronomia Ž a condi•‹o da exist•ncia da autonomia ou liberdade da pessoa
humana.
- Exterioridade - o direito tem como ponto de partida o lado externo da exist•ncia,
ou seja, o ato Ð a mera inten•‹o n‹o tem relev‰ncia jur’dica.
b) Quest‹o da necessidade da coa•‹o

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Apesar de o Direito n‹o se deÞnir pela coercibilidade, esta Ž uma


caracter’stica resultante da pr—pria natureza do Direito e, por isso, o autor aÞrma que
num mundo de homens imperfeitos, a coercibilidade Ž essencial para assegurar, n‹o
a ess•ncia, mas a vig•ncia do Direito e essa coercibilidade. Deste modo, Ž
necess‡rio que estejam propensas san•›es e institu’dos meios da sua efetiva
aplica•‹o ˆqueles que violem as normas. ƒ tambŽm necess‡rio, que por detr‡s do
Direito esteja um poder social organizado capaz de impor pela for•a, na
eventualidade de ser necess‡rio.
c) Quest‹o do valor especiÞcante da coa•‹o
Uma norma profundamente injusta n‹o Ž direito.

5 - A rela•‹o entre Direito, justi•a e seguran•a

Justi•a
Segundo Ulpiano, a Justi•a Ž a vontade perpŽtua e constante de atribuir
a cada um o que Ž seu. Para este autor, existem 3 preceitos do direito: honeste
vivere, neminem laedere, suum cuique tribuere (viver honestamente, n‹o lesar os
outros e dar a cada um o que Ž seu).
A justi•a Ž uma virtude social culturalmente enraizada, manifesta de
modo diferente em diferentes Žpocas hist—ricas e em diferentes zonas
geogr‡Þcas.
Os nossos padr›es de justi•a s‹o muito inßuenciados por uma matriz
principalmente jur’dico-crist‹ assente claramente numa l—gica greco-romana. Do
per’odo greco-romano sobressai a ClassiÞca•‹o de Arist—teles retomada por
Tom‡s de Aquino. Estes fazem uma divis‹o da justi•a em 3 dimens›es:
Justi•a distributiva- rege a reparti•‹o dos bens comuns pelos membros da
sociedade, usando um critŽrio de igualdade proporcional que atende ˆ Þnalidade
da distribui•‹o e ˆ situa•‹o dos sujeitos, ou seja, aos seus mŽritos e ˆs suas
necessidades. ƒ a justi•a pr—pria das rela•›es de subordina•‹o, que
tradicionalmente associada ao direito pœblico. Exemplo: rendimento social de
inser•‹o.
Justi•a Comutativa - rege o intercambio entre pessoas que se encontram no
mesmo plano visando corrigir os desequil’brios que ocorrem no seio de rela•›es
contratuais e por for•a da pr‡tica de atos il’citos. Esta justi•a Ž a que est‡ ligada ˆ
equival•ncia de presta•›es. Por exemplo: ÒEu pago X porque recebo um livro.Ó
Portanto, est‡ ligada ˆs indeminiza•›es- valor da indeminiza•‹o associada
aos danos.
ExempliÞcando: Num contrato cabe as duas partes deÞnir a equival•ncia entre
presta•›es. Assim, para o meu marido aquilo que eu gasto nos sapatos n‹o equivale
ao valor dos sapatos, para mim j‡́ n‹o Ž o mesmo.
Justi•a Geral ou legal - rege a participa•‹o dos membros da sociedade nos
encargos comuns segundo um critŽrio de igualdade proporcional. ƒ aqui que se
enquadram os impostos.
Problema das fronteiras entre a justi•a comutativa e distributiva:

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Quando um contrato Ž afetado no seu equil’brio prestacional, por causa da


pandemia, deve se fazer atuar a justi•a distributiva corrigindo o desequil’brio por a
pandemia ser uma situa•‹o excecional.

Seguran•a
A seguran•a Ž essencial, porque para promover a conviv•ncia pac’Þca Ž
necess‡rio que cada um saiba qual o papel que lhe cabe e qual a conduta que deve
adotar em cada momento e a seguran•a gera esta previsibilidade e conÞan•a.

Manifesta•›es da Seguran•a no Direito:

¥ Positiva•‹o do direito legislado pelas autoridades competentes e em


obedi•ncia a procedimentos devidamente regulamentados;
¥ Precisa formula•‹o das regras jur’dicas legisladas;
¥ Generalidade e abstra•‹o destas regras Ð a todas as pessoas na mesma
situa•‹o s‹o aplicadas as mesmas normas;
¥ Garantia conferida ao Direito pelo funcionamento do aparelho judicial e pelo
poder coativo do Estado
¥ Estabilidade da vida social

De que forma a seguran•a se manifesta na nossa ordem jur’dica:

¥ Princ’pio da n‹o retroatividade- tendencialmente, as leis s—́ se aplicam para


situa•›es futuras.
¥ Generalidade e abstra•‹o das regras- no fundo as regras s‹o gerias e
abstratas- s‹o aplicadas a todas as pessoas e a todas as situa•›es em que se
encontram preenchida a previs‹o da norma
¥ Positiva•‹o do direito que Ž legislado pelas autoridades competentes-
diplomas normativos que s‹o publicados no di‡rio da repœblica. (Positiva•‹o
Ž ao mesmo tempo dar transpar•ncia, dar publicidade, dar conhecimento,
dar forma declarativa)
¥ Formula•‹o de leis em termos precisos e claros Ð o Direito Ž ius strictum,
isto Ž, sem deixar grande margem a ambiguidades de interpreta•‹o.
Exemplo: Lei que Þxa a maioridade aos 18 anos - art.122o do C—digo Civil.
¥ Art. 8¼ do C—digo Civil- proibi•‹o do non liquet- Juiz n‹o pode recusar-se a
julgar um caso por falta de lei - este art. tem de ser conjugado com os art. 10¼
e 11¼
¥ Possibilidade de recurso ˆ for•a pelo aparelho coativo para aplicar a san•‹o
de viola•‹o da norma

Potencial ocorr•ncia de tens‹o entre a justi•a e da seguran•a - ÒJusti•a e


seguran•a acham-se numa rela•‹o de tens‹o dialŽticaÓ Ð Batista Machado. H‡́
situa•›es em que a aplica•‹o em que uma norma geral e abstrata a um determinado
caso gera injusti•a.

Qual deve prevalecer?

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Apesar da justi•a representar um ideal de hierarquia superior e, portanto, no


limite ela Ž o padr‹o m‡ximo de legitimidade, em regra a praticabilidade do direito
imp›em que a seguran•a prevale•a casuisticamente, mesmo quando conduzem a
solu•›es que n‹o s‹o as mais justas para o caso concreto. A seguran•a est‡ ao
servi•o da justi•a e legitima-se por for•a da justi•a, contudo, n‹o h‡́ justi•a sem
seguran•a, isto Ž, n‹o h‡́ justi•a sem certeza e sem previsibilidade.

Uma justi•a sem seguran•a Ž vazia de eÞc‡cia n‹o passa de uma piedosa
inten•‹o. J‡ uma seguran•a sem justi•a representa uma situa•‹o de pura for•a. Em
caso de situa•‹o de tens‹o entre a justi•a e a seguran•a prevalece a seguran•a. No
entanto em alguns casos segue-se a f—rmula de Radbruch.

F—rmula de Radbruch Ð Òsempre que a injusti•a do direito positivo atinja um


t‹o alto grau que a seguran•a jur’dica deixa de representar algo de positivo em
confronto com esse grau de viola•‹o de justi•a, nesse caso n‹o poder‡́ duvidar-se
de que o direito positivo injusto dever‡ ceder perante a justi•a.Ó

Assim sendo, o direito positivo deve ter como prioridade a seguran•a em


detrimento da justi•a. O contr‡rio s—́ acontece em casos cujas consequ•ncias de
atingir a justi•a s‹o claramente melhores do que as consequ•ncias de atingir a
seguran•a (ex.: julgamento dos guardas que tentaram matar uma fam’lia que tentou
saltar o muro de Berlim).

Exemplos de institutos jur’dicos que assentam na seguran•a:

- Maioridade aos 18 anos, Òsem curar de saber se Ð diz Baptista Machado Ð no caso
concreto, o individuo, atŽ ali menor, atingiu ou n‹o maturidade suficiente para reger
a sua pr—pria pessoa e administrar os seus bens.Ó

- Princ’pio da n‹o retroatividade- N‹o retroatividade da lei- em regra a lei n‹o se


aplica em situa•›es passadas e s—́ se aplica para o futuro

- Normas que exigem determinadas formas para celebra•‹o de determinados


contratos- art¼ 875 do C—digo Civil

- Instituto do caso julgado- pro’bem-se recursos ordin‡rios em decis›es transitadas


em julgado visando essencialmente p™r um ponto final nos lit’gios e assegurar a paz
jur’dica. - Senten•a transita em julgado.

- Normas que fixam prazos de caducidade e prescri•‹o Ð impossibilidade de


exercer direitos ao fim de determinado tempo.

Institutos que s‹o predominantemente manifesta•›es de preocupa•›es de


justi•a:

- Clausula geral da Boa FŽ́ - art. 227¼ e 762¼ do C—digo civil- ex. num contrato as
partes devem concordar em boa fŽ́ - Ex. Dois vizinhos tinham uma rela•‹o bastante

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amig‡vel. O vizinho A comprou tijolos ao vizinho B. E ficou combinado que B


deixaria os tijolos no terreno de A. Zangaram-se. B, no dia acordado, ˆ hora
acordada deixou os tijolos no Po•o do terreno de A - Cumpriu, mas de forma
contr‡ria ˆ boa fŽ;

¥ Abuso de direito art. 334¼- venire contra factum proprium


¥ Bons Costumes- art. 280¼
¥ Ordem publica art. 228¼
¥ Altera•‹o superveniente das circunst‰ncias art. 437¼
¥ Bom pai de fam’lia art.487 no 2- cidad‹o respons‡vel, medianamente
diligente e respons‡vel- padr‹o de culpa

Este tipo de institutos s‹o: ius aequum Ð institutos de justi•a (conceitos


indeterminados) Ð para que o julgador possa ter em considera•‹o o ambiente
envolvente; permite uma maior maleabilidade do caso. S‹o clausulas gerais e
abertas. Cl‡usulas gerais - surgiram a partir do c—digo civil de 1966. Batista
Machado, ˆ luz do ius aequum diz que Òa certeza do direito Ž sacrificada ˆ equidade
e ˆ maleabilidade da decis‹o, conforme as circunst‰ncias do caso e as modifica•›es
trazidas pela evolu•‹o social.Ó

Os institutos que s‹o predominantemente manifesta•›es de seguran•a: ius


strictum.

6 - O problema do Direito Natural

Existem 2 correntes derivadas do confronto entre o Direito Positivo e o Direito


Natural: Jus naturalismo e Jus positivismo:
Jus positivismo Ð para o Jus positivismo, n‹o h‡́ outro direito para alŽm do
direito positivo. Direito posto em vigor pelas autoridades oÞciais ou pela vontade
coletiva da comunidade, ou seja, o direito positivo s‹o as normas que s‹o emanadas
pelo povo soberano ou pelos seus representados. Para os jus positivistas todo o
direito surge daqui. A comunidade em cada momento determina quais as normas
que a regulam e s—́ existem essas normas.
Jus naturalismo - para alŽm das normas de direito positivo, existe um
conjunto de normas (um outro direito, chamado direito natural), que s‹o normas
que se sobrep›em ao direito positivo e que funcionam como padr‹o de validade do
direito positivo, legitimando o direito positivo. Para os jusnaturalistas, onde n‹o h‡́
justi•a, n‹o h‡́ direito. O direito natural decorre da pr—pria ess•ncia e pr—pria
natureza humana. ƒ claro que ao longo da hist—ria isto foi variando. Foi durante
muito tempo baseado na religi‹o. Para os iluministas Ð jusracionalismo - tudo
assentava na raz‹o (sŽc. XVII). O sŽculo XIX foi um sŽculo predominantemente
positivista Ð chegou a esta corrente porque atravŽs da raz‹o acreditava-se que se
conseguia positivar tudo. Foi tudo posto em causa na 2» Guerra Mundial e com as
atrocidades cometidas durante a mesma. Voltou o debate da legitimidade do direito
e o renascer do jus naturalismo.

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Problema do Direito natural: Ser‡ que acima deste direito positivo existe
um conjunto de normas anteriores e superiores a ele, onde o direito positivo retira a
sua legitimidade e validade?
Direito positivo- direito posto em vigor pelas autoridades oÞciais ou pela
vontade coletiva da comunidade, ou seja, s‹o as normas emanadas do povo
soberano ou pelos seus representantes. Todas as normas jur’dicas s‹o normas
emanadas da comunidade.

Dr. Freitas do Amaral, tr•s fatores que justiÞcam a exist•ncia do direito


natural:

1 - Deve caber ao Direito fazer o controlo da lei justa e da lei injusta, o que s—́ Ž
poss’vel com a exist•ncia do Direito Natural.
2 - Os valores promovidos pelo direito natural s‹o valores jur’dicos e NÌO pol’ticos:
- Justi•a
- Seguran•a
- Dignidade da pessoa humana
3 - S—́ o direito natural permite fundamentar juridicamente uma Revolu•‹o. O Direito
Natural valida e legitima as revolu•›es.

Natureza imut‡vel e universal do direito natural


Durante muito tempo defendeu-se que o direito natural tinha uma natureza universal
e imut‡vel. Atualmente n‹o. O direito natural integra-se na realidade cultural a que
pertence o direito e, portanto, varia em fun•‹o do tempo e da cultura. Reconhece-se,
no entanto, um nœcleo imut‡vel situado na dignidade da pessoa Humana.
Ao longo do sŽculo XX tem havido uma crescente positiva•‹o de preceitos e valores
que eram apontados ao direito natural, tal como a Declara•‹o Universal dos Direitos
Humanos. Tem vindo a haver uma aproxima•‹o das normas do direito positivo com
o direito natural.

II. Os ramos do Direito

7 - A summa divisio estrutural: Direito Pœblico e Direito Privado

A imensid‹o de normas jur’dicas torna imposs’vel o seu conhecimento. De


maneira a facilitar a ci•ncia pol’tica e organiza•‹o do pensamento por parte de
quem trabalha no direito, essa imensid‹o de normas Ž agrupada em conjuntos que
gozam de uma especial aÞnidade entre si seja pelos destinat‡rios a que se aplicam
sejam dos sujeitos a quem elas se destinam, seja pelas suas Þnalidades.
Estes conjuntos gozam ainda de um agrupamento em duas categorias, a
summa divisio, ou seja, a divis‹o entre o Direito Pœblico e o Direito Privado.

Existem 3 critŽrios que fazem esta distin•‹o:


1) CritŽrio de interesse Ð o direito pœblico visa a satisfa•‹o do interesse pœblico
e o direito privado visa a satisfa•‹o do interesse privado. Contudo, Oliveira
Ascens‹o considera este critŽrio insustent‡vel pois as normas n‹o satisfazem

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apenas o interesse pœblico ou o interesse privado. A satisfa•‹o do interesse


pœblico promove muitas vezes a satisfa•‹o dos interesses privados. Isto levou
a uma corre•‹o deste critŽrio, passando a falar-se de interesse
predominantemente pœblico ou predominantemente privado. Ainda assim,
este Ž um critŽrio indici‡rio, mas n‹o suÞciente.
2) CritŽrio da qualidade dos sujeitos Ð o direito pœblico seria o direito em que
intervŽm o estado ou em geral qualquer ente pœblico e no direito privado
interv•m os particulares. Contudo, muitas vezes o estado surge em igualdade
com os particulares.
3) CritŽrio da posi•‹o dos sujeitos Ð o direito publico constitui e organiza o
estado e outros entes pœblicos e regula a sua atividade quando eles
atuam dotados de ius imperi (posi•‹o de desigualdade exercendo um
poder de soberania sobre o particular Ð ex. direito Þscal e penal). O direito
privado regula as rela•›es entre particulares e as rela•›es entre
particulares e entes pœblicos quando estes atuam despojados de ius
imperi.

Oliveira Ascens‹o: Ž uma distin•‹o que parte do papel do Estado, portanto


considera que o direito infra ou supraestadual deve ser considerado ˆ parte e n‹o
pœblico ou privado: direito internacional pœblico, direito da Uni‹o Europeia e direito
dos organismos intermŽdios. J‡ os restantes autores consideram na generalidade
estes direito pœblico.

8 - Principais ramos do Direito (Segundo Freitas do Amaral)

Direito Internacional Pœblico: ÒO DIP Ž o ramo do direito constitu’do pelo sistema


de normas jur’dicas que se aplicam a todos os membros da comunidade
internacional para regular os assuntos espec’Þcos desta aÞm de garantir os Þns
pr—prios da referida comunidade nas matŽrias da sua compet•ncia.Ó Estas normas
surgem dos tratados e do costume.
Direito da Uni‹o Europeia: ÒSistema de normas jur’dicas que regulam a organiza•‹o
e o funcionamento da Uni‹o Europeia bem como os direitos fundamentais do
Cidad‹os europeus aÞm de prosseguir a gradual integra•‹o pol’tica, econ—mica e
monet‡ria dos seus pa’ses membros, os quais convencionam para o efeito o exerc’cio
em comum dos poderes necess‡rios ˆ constru•‹o da unidade europeia.Ó Fontes do
direito: direito origin‡rio (tratados: - Roma -1957; Bruxelas - 1965; Ato œnico Europeu
- 1986; Maastricht - 1992; Amesterd‹o - 1996; Nice - 2000; Lisboa Ð 2007) e o direito
derivado (diretivas e regulamentos Ð normas jur’dicas produzidas pelos —rg‹os da
Uni‹o europeia no ‰mbito do seu poder normativo; o regulamento tem aplicabilidade
direta j‡ a diretiva tem de ser transposta por lei nacional, assim os Estados t•m uma
margem de como v‹o alcan•ar as Þnalidades)

Direito dos organismos intermŽdios ou Direito Corporativo: Ramo do direito que


congrega as normas jur’dicas infra estaduais criadas por ordens institucionais
menores que tenham uma vida jur’dica aut—noma em rela•‹o ˆ vida do Estado.

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Normas criadas por entidades n‹o estaduais, ou seja, excluem-se munic’pios, ... Ex.
Ordem dos mŽdicos, ordem dos advogados... Ð Art¼ 1 n¼2 CC

De acordo com Oliveira de Ascens‹o ÒDireito corporativoÓ Ž uma express‹o amb’gua


Òporque serviu para designar o direito pr—prio de antigas estruturas corporativas
formais, que formam abolidas.Ó Efetivamente, perante este artigo surge a seguinte
quest‹o: Com o Þm do Estado Novo e desaparecidas as corpora•›es, a men•‹o ˆs
normas corporativas do Art¼ 1/n¼2 deve considerar-se extinta por caducidade?
A deÞni•‹o de norma corporativa presente no art.1¼/n¼2 do C—digo Civil n‹o
foi caducada com o Þm do Estado Novo. Portanto, as corpora•›es do Estado novo j‡́
n‹o existem, contudo mudaram a interpreta•‹o- interpreta•‹o atual’stica.
Assim, aproveita-se a letra do artigo num sentido que se ajusta ˆ atualidade.
Entende-se atualmente o conceito de Òcorpora•›esÓ ou Ònormas corporativasÓ, de
acordo com Oliveira Ascens‹o como as normas que s‹o criadas por Òorganismos
representativos das diferentes categorias morais, culturais, econ—micas ou
proÞssionaisÓ que ainda hoje existem. O direito corporativo abrange as normas
que regulam a Constitui•‹o e funcionamento destes organismos, bem como as
normas criadas por eles no ‰mbito do seu poder normativo.

Ramos do Direito Pœblico:

Direito Constitucional: ocupa o lugar central nos ramos de Direito sendo que
caracterizando o Estado como detentor do poder soberano. Regula:
¥ Organiza•‹o e funcionamento dos poderes do Estado;
¥ Assegura a prote•‹o dos direitos fundamentais dos cidad‹os;
¥ DeÞne as tarefas ess•ncias do Estado, bem como os principais
objetivos da governa•‹o pœblica

ÒŽ composto pelo sistema de normas jur’dicas que regulam a organiza•‹o e o


funcionamento dos poderes do Estado, asseguram a prote•‹o efetiva da
constitucionalidade das leis e dos Direitos Fundamentais dos cidad‹os e deÞnem as
tarefas ess•ncias do Estado bem como os grandes objetivos da governa•‹o pœblica.Ó Ð
Freitas do Amaral

Direito Administrativo: regula a organiza•‹o e atividade dos —rg‹os da


administra•‹o pœblica enquanto tais na prossecu•‹o dos interesses coletivos. Regula
tambŽm a atividade de outros entes pœblicos igualmente incumbidos da
prossecu•‹o de interesses coletivos.

Òƒ o ramo do direito Òconstitu’do pelo sistema de normas jur’dicas que regulam a


organiza•‹o e o funcionamento dos —rg‹os de poder executivo do Estado bem como dos
entes pœblicos menores, e que asseguram a prote•‹o dos direitos dos particulares face ˆ
administra•‹o publica e desta perante aqueles {particulares}Ó Ð Freitas do Amaral

Direito Tribut‡rio e Direito Fiscal:

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¥ Direito Tribut‡rio regula a obten•‹o coativa de receitas pœblicas pelo


Estado atravŽs de taxas e imposto;
¥ Direito Þscal Ž um sub ramo do Direito que regula apenas a parte
relativa a impostos.

Direito Penal: regula as condutas qualiÞcadas como crimes (il’citos que para a
sociedade t•m maior gravidade).

Òƒ o Ramo do Direito constitu’do pelo sistema de normas jur’dicas que qualiÞcam os


factos il’citos de maior gravidade social como crimes e estabelecem para eles as penas e
medidas de seguran•a2 tidas como adequadasÓ Ð Freitas do Amaral; Finalidades do
Direito Penal: a) preven•‹o geral da criminalidade pela demonstra•‹o de que o crime
n‹o compensa; b) a promo•‹o da reinser•‹o social dos condenados.

Partes de um julgamento Penal: Arguido e MinistŽrio Publico. A v’tima, como


assistente, s—́ se integra como parte no processo se ainda entender que Ž capaz de
obter algo que remete ao direito privado, como por exemplo, uma indemniza•‹o.
Procurador Ð representante do ministŽrio pœblico - representa o Estado,
representa a comunidade como um todo porque os crimes s‹o factos t‹o graves
que Ž considerado que afeta toda a comunidade. O que est‡ em causa Ž a
salvaguarda da seguran•a de toda a sociedade.
nullum crimen sine lege, nulla poena sine previa lege - N‹o h‡ pena sem lei
(legalidade) e N‹o h‡ crime sem lei (tipicidade).
Oliveira Ascens‹o Ž o œnico autor em Portugal que defende que o Direito Penal Ž
um ramo do Direito Privado, justiÞcando que os deveres penais s‹o deveres dos
indiv’duos e a aplica•‹o das penas em termos judiciais n‹o implica que o Direito
Penal regule a atividade do Estado. - ÒOs deveres penais s‹o deveres dos indiv’duos
e o facto de as penas serem aplicadas judicialmente n‹o implica que o direito penal
regule a atividade do EstadoÓ.
Mas este n‹o pode ser um ramo do direito privado, quando um processo penal
tem a representa•‹o do Estado dotado do seu poder de impŽrio. Este regula o
comportamento do sujeito perante a comunidade como um todo e o estado Ž
dotado do poder de o regular. (O ministŽrio pœblico defende o bem de toda a
comunidade).
As san•›es em direito penal s‹o de dois tipos: penas (pris‹o e multa) e
medidas de seguran•a (aplic‡veis aos impot‡veis, ˆs pessoas que por algum motivo
n‹o s‹o pass’veis de um ju’zo de culpa, seja porque, n‹o conseguem avaliar a
ilicitude da sua conduta, seja porque, mesmo conseguindo n‹o s‹o capazes de se
comportar conforme essa conduta Ð por exemplo devido a uma compuls‹o).

Direito de mera ordena•‹o social - Regula certos atos il’citos de menor gravidade
por compara•‹o com o direito penal. Il’citos de mera ordena•‹o social-
contraordena•›es. A san•‹o pecuni‡ria que lhe est‡ associado n‹o Ž a multa, mas
sim as coimas. (Ž uma espŽcie de Þlho do Direito penal).

2
Funcionam como penas para pessoas que n‹o podem ter culpa

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Direito Processual Ð disciplina a atividade dos ju’zes na solu•‹o dos casos que lhes
s‹o apresentados, est‡ em causa direito dito adjetivo (diz-se direito adjetivo pois Ž
instrumental para os outros ramos do Direito). Deste modo, Direito processual Ž um
Òcomplexo de normas que regulam o processo, ou seja, o conjunto de atos
realizados pelos tribunais e pelos particulares que perante eles atuam ou litigam
durante o exerc’cio da a•‹o jurisdicional.Ó Ð Batista Machado.

Òos direitos processuais s‹o os ramos do direito constitu’dos pelos sistemas de


normas jur’dicas que regulam os procedimentos jur’dicos a seguir em tribunal, nos
processos que visem obter do poder judicial a administra•‹o da justi•aÓ A cada ramo
de direito substantivo corresponde um ramo de direito adjetivo.

De grosso modo a cada ramo do Direito substantivo corresponde um ramo do


direito processual. Contudo, de entre todos os existentes sobressaem dois:
¥ Direito Processual Civil - abrange o processo relativo a todos os ramos do
Direito Privado que n‹o foram autonomizados, Ž caracterizado, ainda que
cada vez menos, por ser um processo dispositivo, ou seja, est‡ na
disponibilidade das partes. As partes no processo civil: rŽu (a quem Ž
interposta a a•‹o) e o autor (o que interp›e a a•‹o). Segundo Batista
Machado Ž o Direito que Òregula a proposi•‹o e o desenvolvimento das
a•›es c’veisÓ. (quando a senten•a n‹o admite mais recursos faz caso julgado).
Dentro do processo civil distingue-se:
o processo declarativo - visa essencialmente tornar certo o direito. No Þm o
juiz declara na senten•a qual Ž o direito das partes. Ð Dizer o que pertence
a quem
o processo executivo Ð visa dar realiza•‹o efetiva ao Direito declarado. Para
haver processo executivo, o autor tem de ser titular de um t’tulo
executivo. Ð Aplicado geralmente atravŽs de penhoras

Òƒ o ramo do direito constitu’dos pelo sistema de normas jur’dicas que regulam as


rela•›es individuais de trabalho subordinado, bem como, os fen—menos coletivos
com elas relacionadosÓ Ð Freitas do Amaral, o Direito do Trabalho adapta as regras do
direito privado comum em especial do direito das obriga•›es ˆ sua realidade
concreta. Apesar da grande maioria classiÞcar o Direito do Trabalho como um Direito
Privado, para alguns autores ÒŽ um direito misto, na medida em que subjaz ˆs suas
normas um relevante interesse pœblico de prote•‹o dos trabalhadoresÓ. Ð Freitas do
Amaral

¥ Direito Processual Penal - Abrange o processo quer relativo ao direito penal


quer relativo ao direito contraordenacional. Em regra, est‡ afastado do
Direito Penal o princ’pio do dispositivo, pelo contr‡rio vigora o princ’pio da
legalidade estrita. A a•‹o cabe tendencialmente ao ministŽrio pœblico, que
atua em representa•‹o dos interesses da comunidade. Se desejar, a v’tima
pode constituir- se assistente no processo, contudo, o assistente atua numa
posi•‹o subordinada face ao ministŽrio pœblico. O princ’pio fundamental em
matŽria de direito penal Ž o princ’pio do contradit—rio.

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o O princ’pio do contradit—rio por for•a do qual s‹o conferidos ao


arguido (rŽu) os mesmos poderes processuais que ˆ acusa•‹o. Toda
prova tem de ser produzida e debatida em julgamento. A prova que foi
produzida antes do julgamento n‹o conta visto que n‹o Ž justo que o
arguido n‹o possa contradizer o que Ž dito (h‡ exce•›es).
o H‡ 3 tipos de crimes:
-Publico- n‹o dependem nem de queixa nem de acusa•‹o
-Semipœblico- s—́ dependem de queixa
-Particular- dependem de queixa e acusa•‹o do particular

Ramos do Direito Privado:

Direito Civil - Disciplina a vida dos particulares, Òdas pessoas comuns, abstraindo de
qualiÞca•›es especiaisÓ. (Oliveira Ascens‹o) Considerado o tronco do Direito
Privado, Ž designado habitualmente como o Direito Privado comum, por regular os
setores de que todos participam.
Provavelmente Ž o mais antigo ramo do direito, sendo, por isso, o que foi
mais cultivado, trabalhado e constru’do.
Como diz Freitas do Amaral, Òo Direito Civil cobre com o seu manto regulador
toda a vida privada dos indiv’duos, desde o ber•o atŽ ao tœmuloÓ, alŽm de regular,
tambŽm, as diferentes maneiras de organiza•‹o coletiva de grupos de indiv’duos.
A sua principal codiÞca•‹o no ordenamento jur’dico portugu•s Ž o C—digo
Civil. Quase todas suas normas constam nesta codiÞca•‹o, mas tambŽm h‡ normas
avulsas que regulam matŽria civil.

Òƒ constitu’do pelo sistema de normas jur’dicas que regulam a generalidade


dos atos e atividades em que se desenvolve a vida privada dos particulares, tanto na
sua esfera pessoal como patrimonial (e ainda as rela•›es do estado e dos entes
pœblicos menores com os particulares, nos casos em que os primeiros atuem
despidos dos seus poderes de autoridade, como se particulares fossem tambŽm).Ó Ð
Freitas do Amaral; tambŽm conhecido como Direito Privado Comum. ƒ subsidi‡rio no
sentido em que se existirem caos omissos noutros ramos, aplicam-se casos de direito
civil. ÒO direito civil n‹o regula apenas a vida privada dos indiv’duos enquanto
pessoas isoladas: tambŽm regula as diferentes formas jur’dicas de organiza•‹o
coletiva de grupos de indiv’duos que se juntam para prosseguir Þns altru’stas
(associa•›es) ou Þns lucrativos (sociedades) bem como os casos de indiv’duos que
afetam patrim—nio valioso aos servi•os de Þns de interesse social (funda•›es)Ó. Ð F. do
Amaral.

Tendo por base a classiÞca•‹o germ‰nica (Savigny), Ž constitu’do por 5 livros


Ð Parte geral; Direito das obriga•›es; Direito das coisas; Direito da fam’lia; Direito
das sucess›es.

® Direito das obriga•›es


Segundo Oliveira Ascens‹o, regula as situa•›es pelas quais uma pessoa Þca
vinculada para com outra ˆ realiza•‹o de uma presta•‹o, ou seja, a adotar um

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comportamento para satisfa•‹o de um interesse de outrem. As obriga•›es t•m um


car‡ter din‰mico (est‹o mais ligadas ˆs transfer•ncias de bens e ˆ presta•‹o de
servi•os) em oposi•‹o a um car‡ter est‡tico (poder sobre as coisas)
Batista Machado apresenta, por sua vez, a seguinte deÞni•‹o: direito que
Òregula o tr‡Þco de bens e servi•os e a repara•‹o dos danos e t•m por institui•‹o
fundamental o contrato como forma por excel•ncia de express‹o da autonomia
privadaÓ
Devedor- adstrito ˆ a•‹o do comportamento (comportamento que pode ser
positivo ou negativo).
Credor- aquele que tem direito ao comportamento.
Aqui quando falamos de presta•‹o estamos a falar de comportamento, por
exemplo, as presta•›es de um contrato de compra e venda s‹o o pagamento do
pre•o e a entrega do artigo.

® Direito das coisas ou direitos reais- Ramo do direito que regula a atribui•‹o
das coisas de tal modo que uma pessoa Þca com um direito opon’vel a
terceiros, direito esse que lhe outorga a possibilidade de tirar vantagem da
coisa. O Direito real por excel•ncia Ž o direito de propriedade (usucapi‹o).
Exemplos de outros direitos reais: usufruto - direito real menor. Caso em
concreto: em Lisboa Ž muito comum em vez de comprar a casa usufruir do
usufruto - Ž um direito; ao contr‡rio das obriga•›es que tem car‡ter
din‰mico, o direito das coisas tem car‡ter est‡tico.

® Direito da fam’lia Ð Regula a constitui•‹o da fam’lia e as rela•›es que se


estabelecem no seio desta. Este tem uma parte pessoal e uma patrimonial.
® Direito das sucess›es Ð Regula a sucess‹o por morte, pode ser realizada de
tr•s modos:
¥ Testamento/Testament‡ria Ð Deferida por testamento
¥ Legitim‡ria Ð Sucess‹o que Ž obrigat—ria Ð Ž deferida quando h‡
descendentes, ascendentes e conjugues se n‹o for afastado por conven•‹o
antenupcial- art. 2156¼ e seg. (os herdeiros legitim‡rios s‹o aqueles que n‹o
podem ser afastados da heran•a, mesmo que essa seja a vontade do autor
da sucess‹o Ð ex.: um Þlho, em Portugal, n‹o pode ser afastado da heran•a);
¥ Leg’tima- aplica-se quando n‹o h‡ testamento em rela•‹o aos bens que n‹o
s‹o abrangidos pela sucess‹o legitimaria; deferida a familiares, quando n‹o
h‡ herdeiros legitim‡rios nem testamento ou quando o autor da sucess‹o
n‹o tenha manifestado por testamento outra vontade.

Direito Comercial - Ramo do direito privado especial que se autonomizou muito


mais tarde.
De acordo com Freitas do Amaral, Ž o Òsistema de normas jur’dicas que regulam o
estatuto dos comerciantes e o regime dos atos e atividades de comŽrcioÓ.
Portanto, regula o ajustamento das regras do direito civil ˆ realidade especiÞca da
atividade comercial:

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¥ Celeridade na atividade econ—mica


Boa fŽ- existe em todos os ramos do direito- no direito comercial h‡ uma
maior
¥ conÞan•a no comportamento das partes permitindo uma certa
desformaliza•‹o
¥ dos atos
¥ Desformaliza•‹o
¥ Refor•o do crŽdito vs Finalidade lucrativa

O direito comercial tem se centrado, cada vez mais, na no•‹o e l—gica de empresa.
No fundo o seu objetivo Ž dar ßuidez ˆs rela•›es econ—micas. Regula o comŽrcio
em sentido econ—mico, a indœstria, as pescas, algumas atividades de presta•‹o de
servi•os (banca, servi•os diversos, transportes de pessoas e bens) e atos e
documentos de formaliza•‹o tanto de opera•›es comerciais como de neg—cios
jur’dicos civis (letras, livran•as, cheques, etc.).

Direito do trabalho - O direito do trabalho especializa, ˆ semelhan•a do direito


comercial, princ’pios gerais do direito civil, aos campos das rela•›es de trabalho
subordinado. No direito do trabalho, as partes n‹o est‹o em igual n’vel. N‹o h‡
igualdade entre as partes na rela•‹o laboral (o trabalhador est‡ em desvantagem
face ao empregador).
H‡ autores que dizem que pela discrep‰ncia de poder entre as partes, este ramo do
Direito n‹o seria exatamente direito privado, mas sim um regime misto. No entanto,
a verdade Ž que este contrato se realiza entre dois particulares, portanto Ž direito
privado.

Òƒ o ramo do direito constitu’dos pelo sistema de normas jur’dicas que regulam as


rela•›es individuais de trabalho subordinado, bem como, os fen—menos coletivos
com elas relacionadosÓ Ð Freitas do Amaral, o Direito do Trabalho adapta as regras do
direito privado comum em especial do direito das obriga•›es ˆ sua realidade
concreta. Apesar da grande maioria classiÞcar o Direito do Trabalho como um Direito
Privado, para alguns autores ÒŽ um direito misto, na medida em que subjaz ˆs suas
normas um relevante interesse pœblico de prote•‹o dos trabalhadoresÓ. Ð Freitas do
Amaral

O direito do trabalho compreende 2 grandes zonas:


¥ Direito individual do trabalho Ð Regulam-se as normas do contrato de
trabalho propriamente dito.
¥ Direito coletivo do trabalho - As normas regulam os fen—menos laborais de
massa como greves, conven•›es coletivas de trabalho, associativismo
sindical e patronal, a resolu•‹o negocial de conßitos.

Direito Internacional Privado Ð ƒ um sistema de normas jur’dicas que no ‰mbito


das rela•›es privadas internacionais ou de forma mais rigorosa transfronteiri•as
designa quais as leis competentes para regular essas mesmas rela•›es. As suas

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fun•›es s‹o determinar qual a ordem jur’dica que regula uma determinada matŽria.
As normas caracter’sticas do DIP s‹o normas de conßitos estas n‹o d‹o a solu•‹o
para o caso, mas diz-nos qual o ordenamento jur’dico que ir‡ regular essas
situa•›es. (ex.: art.¼ 50.¼ CC)

Ramos do Direito que se est‹o a autonomizar:


¥ direito do ambiente;
¥ direito banc‡rio;
¥ direito dos seguros;
¥ direito do consumo;
¥ direito de concorr•ncia;
¥ direito dos valores mobili‡rios;
¥ direito da prote•‹o de dados.

III. A norma jur’dica


9 - O conceito de norma jur’dica: elementos deÞnidores e estrutura da norma

Segundo Oliveira Ascens‹o a norma jur’dica Ž um ÒCritŽrio de qualiÞca•‹o e decis‹o


de casos concretosÓ e opera como mediadora na aplica•‹o do direito nas situa•›es
concretas da vida.

Silogismo Judici‡rio:
Premissa maior = norma (Homic’dio Ž proibido e tem senten•a de X anos)
Premissa menor = situa•‹o f‡ctica (A matou)
Conclus‹o = aplica•‹o da norma ˆ situa•‹o de facto (A Ž preso por homic’dio por X
anos)

ÒA premissa maior Ž representada pela norma, a premissa menor pela situa•‹o


concreta Òsubsum’velÓ ˆ previs‹o ou hip—tese da norma e a conclus‹o pela
consequ•ncia jur’dica prescrita na estatui•‹o da norma.Ó Ð Batista Machado

Cr’tica a este pensamento: a norma n‹o pode ser o ponto de partida da atua•‹o
do jurista, mas sim partir da situa•‹o concreta e interpret‡-la. Segundo Oliveira
Ascens‹o Òa regra jur’dica surge-nos como ponto de chegada e n‹o como ponto de
partidaÓ. O mŽtodo jur’dico parte da situa•‹o da vida concreta, exige interpretar a
sua situa•‹o em todas as suas nuances, com base nas normas jur’dicas, procura-se
dentro de todas elas, qual Ž a melhor que d‡ resposta aquela situa•‹o especiÞca.

A diÞculdade Ž partir do caso identiÞcar os factos relevantes de forma a procurar


dentro do ordenamento jur’dico as normas cuja teleologia melhor se enquadra na
situa•‹o concreta.

Frequentemente a norma jur’dica constitui um critŽrio de conduta, mas nem sempre


Ž assim, h‡ normas jur’dicas que n‹o s‹o regras de conduta, s‹o por exemplo
meramente qualiÞcativas, o que signiÞca que elas delimitam e qualiÞcam os

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elementos com que a ordem jur’dica trabalha (ex.: art.¼ 66.¼ CC), tambŽm n‹o s‹o
normas de conduta as normas sobre normas (ex.: normas revogat—rias).

ÒNo modelo l—gico de uma norma jur’dica podemos distinguir um antecedente e


um consequente, ou seja, uma previs‹o e uma estatui•‹oÓ. Ð Batista Machado Ð
exemplo: o art.¼ 483 do CC permite-nos formular a seguinte norma: Todo aquele
que il’cita e culposamente causar danos a outrem (previs‹o) Þca obrigado a
indemnizar o lesado (estatui•‹o).

As normas jur’dicas s‹o compostas por dois elementos: previs‹o e estatui•‹o

A estatui•‹o Ž a Þxa•‹o do efeito ou consequ•ncia jur’dica a que se associa a


veriÞca•‹o da previs‹o.

A previs‹o Ž a situa•‹o t’pica da vida cuja veriÞca•‹o em concreto desencadeia a


consequ•ncia jur’dica que vem prevista na estatui•‹o. Ë previs‹o tambŽm se d‡ o
nome de facti-species (hipotese legal). Frequentemente a previs‹o recorre a
conceitos jur’dicos para descrever os factos a que se aplica. As normas jur’dicas t•m
de ser lidas ˆ luz da realidade jur’dica e n‹o do conceito natural’stico. A norma
jur’dica, refere-se a factos e, segundo Batista Machado Òprocura dar uma imagem,
visualiza•‹o ou modelo daquele facto ... que produz a consequ•nciaÓ.

10 Ð O facto jur’dico, o ato jur’dico, a situa•‹o jur’dica e a rela•‹o jur’dica

Facto jur’dico - todo o acontecimento natural ou humano suscet’vel de produzir


efeitos jur’dicos, estes efeitos traduzem-se na constitui•‹o, modiÞca•‹o ou extin•‹o
de situa•›es jur’dicas. N‹o constituem factos jur’dicos os acontecimentos naturais ou
humanos que s‹o indiferentes para o direito, por exemplo, vestir uma saia ou umas
cal•as.

A situa•‹o jur’dica Ž a posi•‹o em que o sujeito jur’dico se encontra perante o


Direito

A rela•‹o jur’dica corresponde ‡ rela•‹o social disciplinada pelo Direito, sendo


constitu’da pelo v’nculo que une um poder a uma vincula•‹o. Existe uma rela•‹o
jur’dica quando ao direito de uma parte corresponde o dever de outra parte. Muitas
vezes da ocorr•ncia de factos jur’dicos nascem rela•›es jur’dicas, mas nem sempre,
por vezes da ocorr•ncia de factos jur’dicos nascem apenas situa•›es jur’dicas n‹o
relacionais, por exemplo, a aquisi•‹o de personalidade jur’dica.

ClassiÞca•‹o dos factos jur’dicos:

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Puro facto jur’dico Ð acontecimento natural ou humano produtor de efeitos


jur’dicos estranho a qualquer processo volitivo (signiÞca que n‹o deriva de qualquer
processo volitivo, a vontade Ž lhe irrelevante) seja porque a vontade n‹o existe, seja
porque existindo a vontade n‹o tem qualquer relev‰ncia jur’dica. (ex.: morte,
vizinhan•a, decurso do tempo, destrui•‹o de um objeto numa tempestade, etc.)

Atos jur’dicos Ð resultam da vontade como elemento juridicamente relevante, s‹o


tratados pelo direito como manifesta•›es de vontade.

O critŽrio de distin•‹o entre os simples atos jur’dicos e os neg—cios jur’dicos


est‡ relacionado com a rela•‹o que se estabelece entre a vontade das partes
dirigida a um determinado resultado e o efeito jur’dico produzido.

® Os simples atos jur’dicos s‹o factos volunt‡rios, mas os efeitos jur’dicos que
produzem s‹o produzidos independentemente de terem sido queridos ou
desejados pelas partes. Os efeitos jur’dicos s‹o produzidos por for•a da lei
(Òex legeÓ) e n‹o por for•a de vontade (n‹o por Òex voluntateÓ). Por exemplo:
escrevo um poema 8ato de vontade) estou imediatamente protegida pelos
direitos autores.

De entre os simples atos jur’dicos distinguem-se os quase neg—cios jur’dicos (ou


atos jur’dicos quase negociais) e os atos reais (ou opera•‹o jur’dica):

¥ Atos reais Ð traduzem-se realiza•‹o ou efetiva•‹o de um resultado


material ou factual a que a lei associa determinados efeitos jur’dicos. (ex.:
crio uma obra (resultado material) estou protegida por direitos de autor)

¥ Quase neg—cios jur’dicos Ð traduzem-se na manifesta•‹o exterior de


uma vontade a que a lei associa determinados efeitos jur’dicos. (ex:

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resolver um neg—cio (inten•‹o de vontade) por incumprimento do


devedor).

® Neg—cios Jur’dicos Ð factos volunt‡rios cujo nœcleo essencial Ž integrado


por uma ou mais declara•›es de vontade a que o ordenamento jur’dico
associa a produ•‹o de efeitos jur’dicos coincidentes com o teor das vontades
manifestadas. Os efeitos jur’dicos do neg—cio jur’dico produzem-se porque
as partes assim o desejam Ð ex voluntate (derivam da vontade).

O neg—cio jur’dico Ž das mais amplas manifesta•›es de autodetermina•‹o porque


reconhece ao sujeito o poder de pela sua vontade produzir efeitos jur’dicos por ele
desejados aos quais o ordenamento jur’dico confere prote•‹o, nomeadamente, com
recurso ao aparelho coercitivo estatal. (exemplo: testamento, procura•‹o, etc).

O principal neg—cio jur’dico Ž o contrato. Este Ž protegido pelo ordenamento


jur’dico que aplica for•a vinculativa e coerc’vel Ð pacta sunt servanda (depois de
celebrados os contratos s‹o para cumprir ponto por ponto).

Os neg—cios jur’dicos podem ser unilaterais e bilaterais, a distin•‹o prende-se pelo


nœmero e o modo de articula•‹o das vontades:
¥ Unilaterais Ð compostos por uma s— declara•‹o de vontade, ou v‡rias
declara•›es de vontade, mas no mesmo sentido, formando uma unidade
(ex.: testamento, procura•‹o, ...)
¥ Bilaterais ou Contratos Ð compostos por duas ou mais declara•›es de
vontade, tendencialmente de sentido oposto, mas convergente visando a
produ•‹o de efeitos jur’dicos unit‡rios coincidentes com o teor das
vontades manifestadas. Os contratos s‹o compostos por uma proposta e
uma aceita•‹o que se conjugam no consenso.
- A distin•‹o entre contratos unilaterais e bilaterais est‡ relacionada com o
nœmero de obriga•›es que nascem para as partes daquele contrato:
o Os contratos unilaterais s— geram obriga•›es para uma das
partes;
o Os contratos bilaterais geram obriga•›es para ambas as partes,
obriga•›es estas que em regra se encontram ligadas por um nexo
de correspetividade, tambŽm chamado de nexo de
sinalagmaticidade. Cada uma das obriga•›es existe em fun•‹o e
por causa da outra.

Estatui•‹o
Corresponde ‡ Þxa•‹o do efeito ou consequ•ncia jur’dica a que se associa a
veriÞca•‹o da previs‹o. Efeitos:
¥ Imposi•‹o de um dever jur’dico
¥ Atribui•‹o de uma qualidade, compet•ncia o faculdade jur’dica
¥ Atribui•‹o de um direito.
Isto signiÞca que as normas jur’dicas podem obrigar, facultar ou conferir direitos
subjetivos.

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Direito subjetivo: corresponde a um poder atribu’do a determinada pessoa para


satisfa•‹o de um interesse pr—prio ou alheio acompanhado da faculdade de dispor
dos meios coercitivos que protegem esse poder. Ao poder do sujeito ativo
contrap›e-se o dever ou obriga•‹o imposto a outra ou outras pessoas.

ÒO direito subjetivo Ž a faculdade ou o poder, reconhecido pela ordem jur’dica de


uma pessoa, de exigir ou pretender de outra um determinado comportamento
positivo (facere) ou negativo (non facere) ou de, por ato da sua livre vontade, s— de
per si ou integrado por um ato a autoridade pœblica produzir determinados efeitos
jur’dicos que inevitavelmente se imp›e a outra pessoaÓ.

1. Direito subjetivo em sentido estrito Ð poder exigir ou pretender de outrem


uma certa conduta positiva ou negativa para satisfa•‹o de interesses pr—prios
ou alheios.

O dever jur’dico Ž a adstri•‹o a adotar o comportamento imposto pelo exerc’cio do


direito subjetivo no interesse do titular desse mesmo direito.

1.1. Direito subjetivo absoluto Ð Ž o direito que Ž eÞcaz perante todos os


membros da comunidade, ou seja, Ž um direito que pode ser invocado
pelo seu titular contra qualquer outro sujeito jur’dico. Obriga todas as
pessoas tendo uma eÞc‡cia erga omnes (contra todos). Quando o sujeito
ativo tem um direito subjetivo absoluto, o sujeito passivo tem obriga•‹o
passiva universal e um dever geral de absten•‹o.
Exemplo: Direito ˆ vida; direito de propriedade; ...
1.2. Direito subjetivo relativo Ð possuem uma eÞc‡cia circunscrita a um
dado nœmero de pessoas, s— podendo ser invocadas face a elas. T•m

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uma eÞc‡cia inter partes. Do lado passivo est‡ um dever jur’dico em


sentido estrito.
Exemplo: A aluga uma casa a B. B paga os primeiros 3 meses de aluguer, mas n‹o
paga o quarto e o quinto m•s. A pede as presta•›es em falta a C, pai de B. Quid
iuris? Ð N‹o poder‡ pedir ao pai, porque tem uma eÞc‡cia inter-partes e o pai n‹o faz
parte.

2. Direito potestativo Ð poder de atravŽs de simples declara•‹o de vontade


integrada ou n‹o por uma decis‹o judicial produzir efeitos jur’dicos na esfera do
sujeito passivo sem que este nada possa fazer para o evitar. Quando o sujeito
ativo tem um direito potestativo, o sujeito passivo est‡ em estado de sujei•‹o,
pois tem de suportar as consequ•ncias que adv•m do direito potestativo.
Exemplo: A pertence a uma religi‹o que condena o div—rcio, mas Ž casado com B
que pretende divorciar-se. A est‡ sujeito ˆ vontade de B de se divorciar, n‹o podendo
fazer nada em contr‡rio.
Os Direitos potestativos podem ser:
- Constitutivos: quando cria rela•›es jur’dicas; (exemplo: direito potestativo
do propriet‡rio do prŽdio encravado exigir a constitui•‹o de uma servid‹o de
passagem)
- ModiÞcativos: alteram os contornos de uma rela•‹o jur’dica prŽ-existente,
por exemplo, a separa•‹o de bens do casamento.
- Extintivos: a resolu•‹o (modo de extin•‹o unilateral fundamentado do
contrato) de um contrato por incumprimento de uma parte Ð por exemplo: o
div—rcio

3. Direitos de dire•‹o, poder-dever e poderes funcionais - o titular destes


direitos n‹o Ž livre de exercer as inerentes faculdades ou poderes sendo
tambŽm obrigado a atuar, pois est‹o em causa interesses que n‹o s‹o s— seus.
S‹o direitos ligados ao exerc’cio de uma fun•‹o e devem ser exercidos tendo
em considera•‹o os interesses e as Þnalidades dessa fun•‹o e n‹o os interesses
subjetivos do titular do direito. Exemplo: responsabilidades parentais; direito de
dire•‹o dos gerentes e administradores de sociedades comerciais.

Figuras aÞns dos deveres jur’dicos e dos direitos subjetivos


¥ înus jur’dico Ð consiste na observ‰ncia de um determinado comportamento
que Ž prescrito por lei como condi•‹o para a obten•‹o de uma certa
vantagem para o agente ou como pressuposto da manuten•‹o de uma certa
vantagem que j‡ est‡ a usufruir ou para evitar uma desvantagem.
O —nus jur’dico distingue-se do dever jur’dico, pois a viola•‹o do —nus jur’dico n‹o
implica uma san•‹o, mas sim uma desvantagem ou a perda de uma vantagem.
Exemplo: —nus da contesta•‹o Ð o autor apresenta uma peti•‹o inicial ˆ qual o rŽu
dever‡ apresentar uma contesta•‹o, caso n‹o o fa•a estar‡ a dar como provados os
factos que o autor apresenta na peti•‹o inicial (isto acontece no Direito Privado).
¥ Meros interesses jur’dicos Ð s‹o interesses tutelados pela ordem jur’dica a
que n‹o correspondem direitos subjetivos, n‹o Ž atribu’da ao titular do
interesse o poder de exigir ou pretender de outrem que adote os

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comportamentos adequados ˆ salvaguarda do seu interesse. Exemplo: um


automobilista tem interesse na conserva•‹o das estradas, mas n‹o tem um
direito subjetivo a ela.
¥ Faculdades em sentido estrito Ð possibilidades de agir que a ordem jur’dica
admite e garante sem, todavia, constitu’rem direitos subjetivos. Podem
traduzir-se em meros poderes naturais (como a faculdade de passear num
jardim ou de viajar) ou na possibilidade de fazer neg—cios jur’dicos
(faculdade de casar, de vender, ...). Destas faculdades prim‡rias me sentido
estrito distinguem-se as faculdades secund‡rias que derivam da atribui•‹o
ao sujeito de um direito subjetivo e que se traduzem no conteœdo desse
direito subjetivo.
¥ Direitos reßexos Ð s‹o posi•›es jur’dicas que s‹o tuteladas por efeito de
especiais obriga•›es que oneram outros. Exemplo: a posi•‹o em que se
encontram os Þlhos perante as responsabilidades parentais dos pais.
¥ Expectativa jur’dica Ð S‹o situa•›es em que se encontra uma pessoa que
ainda n‹o tem um direito subjetivo, mas conta razoavelmente vir a ter.
Exemplo: Expectativa jur’dica de um Þlho a herdar do pai. S‹o nulos os atos
simulados praticados pelo pai com inten•‹o de prejudicar a heran•a dos
Þlhos. TambŽm s‹o nulas as disposi•›es testamentais a favor de mŽdico ou
sacerdote que tratou do de cuiœs (aquele que veio a falecer) se a disposi•‹o
foi feita durante a doen•a da qual veio a falecer; Muitas vezes fala-se tambŽm
desta quest‹o na oposi•‹o ao aborto sendo referido como uma expectativa
jur’dica do direito ˆ vida.
Nas palavras do Dr. Orlando Carvalho n‹o se trata de uma simples esperan•a
long’nqua e furtuita, mas sim Òde uma situa•‹o intermŽdia mais ou menos
consistente da esperan•a que o Direito protege de uma pessoa a favor de quem se
est‡ a aÞrmar progressivamente um direito subjetivo, apenas faltando uma condi•‹o
para que exista um ius perfectumÓ.

Norma jur’dica (regra de conduta geral e abstrata)

Caracter’sticas da norma jur’dica:

- Imperatividade: as normas jur’dicas como um todo gozam desta caracter’stica,


mas n‹o Ž correto aÞrmar que a imperatividade seja uma caracter’stica presenta em
cada norma jur’dica, pois h‡ normas jur’dicas que n‹o constituem normas de
conduta, h‡ normas jur’dicas que se limitam a facultar
As normas jur’dicas n‹o se confundem com comandos individuais e concretos, estes
ainda que representem imperativos tutelados por medidas coercitivas eles n‹o
criam direito objetivo, limitando-se a ser uma aplica•‹o ˆ realidade destes
comandos. Para estarmos perante uma norma jur’dica, ela tem de ser geral (por
oposi•‹o individual) e abstrata (por oposi•‹o a comando concreto). S— a normas
jur’dicas Ž que criam direito objetivo. A norma jur’dica dirige-se a uma generalidade
mais ou menos ampla de destinat‡rios, ou seja, n‹o tem destinat‡rios determinados

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- Generalidade: a norma jur’dica dirige-se a uma generalidade mais ou menos


ampla de destinat‡rios, ou seja, n‹o tem destinat‡rios determinados. Generalidade
n‹o Ž sin—nimo de pluralidade, o preceito pode ter uma pluralidade e destinat‡rios
e n‹o ser geral. E o mesmo Ž verdade para o contr‡rio, o preceito pode ser
destinado a uma œnica categoria e ser geral (ex.: a norma jur’dica que regula o
presidente da repœblica Ž geral no sentido que se destina a qualquer pessoa que
ocupe aquele cargo e n‹o a uma pessoa em espec’Þco) Ð ÒO que interessa para a
generalidade Ž que a lei Þxe uma categoria e n‹o uma entidade individualizadaÓ -
Oliveira Ascens‹o

- Abstra•‹o: diz-se abstrato o preceito que disciplina ou regula o nœmero


indeterminado de casos, ou seja, uma categoria mais ou menos amplas de situa•›es
e n‹o casos concretos ou a hip—teses determinadas. O facto da norma se aplicar a
situa•›es j‡ ocorridas n‹o afasta por si s— abstra•‹o desde que ela se aplique a um
conjunto indeterminado ou a uma categoria de casos e n‹o a casos individualizados.
Da’ que Batista Machado entende que a pr—pria abstra•‹o de reconduz ˆ
generalidade, Òtoda a norma deve ser geral no sentido de se destinar a regular toda
uma categoria de situa•›es ou se factos futuros ou presentes, desde que a deÞni•‹o
dessa categoria obede•a a critŽrios gerais e objetivamente justiÞcadasÓ (ex.:
senten•a tribunal Ð comando; ordem de pol’cia sinaleiro Ð comando individual e
concreto; cl‡usulas introduzidas nos contratos Ð comando individual e concreto;
nomea•‹o de um secret‡rio de Estado que Ž publicitada em Di‡rio da Repœblica
segunda sŽrie Ð comando individual e concreto Ð nem tudo o que Ž publicado em
Di‡rio de Repœblica s‹o normas jur’dicas)

11 - ClassiÞca•‹o das normas jur’dicas

Op›e as normas imperativas ou injuntivas das normas dispositivas:

Normas imperativas:
- Normas precetivas: ordenam a ado•‹o de uma determinada conduta (ex.:
obriga•‹o de pagar impostos)
- Normas proibitivas: pro’bem a ado•‹o de determinada conduta (ex.: puni•‹o de
furto)

Normas dispositivas:
- Normas permissivas ou facultativas ou de autoriza•‹o ou concessivas: concedem
poderes ou faculdade deixando ao titular a liberdade do seu exerc’cio (ex.: art. 802¼
do CC, 1055¼ do CC)
- Normas interpretativas: neste contexto respondem aquelas disposi•›es legais cuja
fun•‹o Ž determinar o alcance e sentido imput‡veis a certas express›es ou a certas
condutas declarativas ou atos das partes em caso de dœvida (ex.: art. 840 do CC, art.
2025¼ do CC). Esclarecem uma vontade que n‹o estava bem manifestada
- Normas supletivas: s— se aplicam se n‹o tiver havido manifesta•‹o de vontade das
partes em sentido contr‡rio. Visam suprir a falta de manifesta•‹o de vontade das
partes sobre determinados pontos do neg—cio merecedores de regulamenta•‹o.

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Dito de outra forma, estas normas podem ser afastadas por vontade das partes em
sentido contr‡rio Ð por norma est‡ explicito na norma do seguinte modo Òsalvo
acordo em contr‡rioÓ, nada resultante do texto da norma em principio Ž imperativa,
sendo que a sua natureza supletiva ou imperativa depende de um exerc’cio de
interpreta•‹o que tem por base a pr—pria norma e o instituto jur’dico em que esta se
integra, nomeadamente, saber se a norma Ž ou n‹o Ž essencial ˆ Þsionomia daquele
instituto jur’dico e ao equil’brio de interesses que o legislador quis promover.

ClassiÞca•‹o tendo por base o ‰mbito territorial das normas:


- Normas universais: aplicam-se a todo o territ—rio do Estado
- Normas regionais: aplicam-se numa dada regi‹o aut—noma Ð madeira ou a•ores
- Norma locais: aplicam-se apenas no territ—rio de uma autarquia local, estas podem
ser emanas de um —rg‹o local ou de —rg‹os centrais. Uma norma que emana de um
—rg‹o local s— pode ser aplicada nessa circunscri•‹o geogr‡Þca, uma norma local
que emana de um —rg‹o central pode ser usada para integrar lacunas de outras leis
sejam elas, centrais ou locais.

- Normas gerais: constituem o direito regra, ou seja, estabelecem o regime regra do


setor de rela•›es que regulam.
- Normas excecionais: correspondem ˆquilo que se designa como ius singulare,
signiÞca que elas estabelecem para uma parte restrita daquele setor de rela•›es ou
factos um regime diametralmente oposto ao regime regra. (art.¼ 219.¼ e art.¼ 875.¼
CC). A norma excecional prevalece ˆ norma geral. Nos termos do art.¼ 11.¼ do CC as
normas excecionais n‹o comportam aplica•‹o anal—gica3.
- Normas especiais: n‹o consagram uma disciplina diretamente oposta ao regime
regra, mas consagram uma disciplina nova ou diferente para c’rculos mais restritos
de pessoas, coisas ou rela•›es em fun•‹o da sua especiÞcidade. A norma especial
prevalece sobre a norma geral. Enquanto as normas excecionais n‹o admitem
aplica•‹o anal—gica, as normas especiais admitem. (art.¼1094.¼ e art.¼1026.¼ CC)

- Normas n‹o aut—nomas: s‹o aquelas que por si s— n‹o t•m um sentido completo
faltando-lhes toda ou parte da hip—tese, ou toda ou parte da estatui•‹o, s— obtendo
por remi•‹o para outras normas. Ex: normas remissivas e normas que ampliam ou
restringem o ‰mbito de aplica•‹o de outras normas
- Preposi•›es Jur’dicas Incompletas: N‹o chegam a ser verdadeiras normas jur’dicas
Ž o caso das deÞni•›es e classiÞca•›es legais; s‹o disposi•›es que se destinam a
integrar as hip—teses globais de outras normas ou a deÞnir os conceitos normativos
por estas utilizados.

3
Quando existe uma lacuna na norma procura-se a norma mais pr—xima para se resolver a quest‹o em
causa, contudo, n‹o se poder‡ aplicar no caso das normas excecionais pela sua natureza contr‡ria ao
regime regra o seu ‰mbito de atua•‹o dever‡ ser restrito.

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IV. A cria•‹o normativa estadual

12 - A codiÞca•‹o

ÒO c—digo n‹o Ž regra, nem conjunto de regras, Ž fonte do Direito. Mas dentro das
fontes do direito n‹o ocupa lugar pr—prio, antes se integra na modalidade lei.Ó Ð
Oliveira Ascens‹o

ÒEm primeiro lugar, um c—digo Ž uma lei em sentido material. Na hierarquia das leis
tem a for•a pr—pria da lei que o aprova ou na qual est‡ contido. Formalmente, esta
lei tanto pode ser uma lei da Assembleia da Repœblica como um Decreto-Lei do
Governo ou qualquer outro diploma.
Mas n‹o Ž uma lei como qualquer outra: Ž uma lei que contŽm a disciplina
fundamental de certa matŽria ou ramo de direito, disciplina essa elaborada por uma
forma cientiÞco-sistem‡tica e unit‡ria. Distingue-se, assim, duma simples compila•‹o
de leis feita segundo critŽrios mais ou menos emp’ricos e contendo matŽrias de
diversa ’ndole, pertencentes a diversos ramos do direito, como acontecia com as
antigas ordena•›es do reino.
Um c—digo pressup›e, portanto, um plano sistem‡tico longamente elaborado pela
ci•ncia jur’dica, ao mesmo tempo que por seu turno, facilita a constru•‹o cient’Þca
do Direito ao p™r em evidencia os princ’pios comuns, as grandes orienta•›es
legislativas, os grandes nexos construtivos e funcionais, assim como a articula•‹o
precisa entre os diversos institutos e Þguras jur’dicas.Ó Ð Batista Machado

SimpliÞcando, sendo o c—digo civil aprovado por Decreto-lei tem o mesmo valor
que o Decreto-lei que o aprovou. O que caracteriza um c—digo Ž facto de ser uma lei
que contŽm a disciplina fundamental de uma dada matŽria ou ramo do Direito
elaborada de uma forma cientiÞco-sistem‡tica e unit‡ria. CientiÞco-sistem‡tica
porque facilita a constru•‹o cient’Þca do direito pondo em evid•ncia os princ’pios
comuns, as grandes orienta•›es legislativas, as rela•›es entre os institutos e a
articula•‹o do mesmos. Elabora•‹o unit‡ria porque regula de modo sistem‡tico e
unit‡rio um setor relativamente importante ou vasto da vida social.

¥ Estatutos Ð leis que regulam de forma unit‡ria e sistem‡tica uma dada


matŽria que n‹o goza de amplitude, dignidade ou estabilidade suÞcientes
para justiÞcar a designa•‹o de c—digo. Segundo Batista Machado designam-
se por estatutos as leis que regulam de forma sistem‡tica e unit‡ria uma
determinada atividade, carreira ou proÞss‹o (ex.: estatutos da ordem dos
advogados)
¥ Leis org‰nicas - Regulam de forma unit‡ria e sistem‡tica o funcionamento de
um servi•o (ex.: a lei org‰nica do ministŽrio publico)
¥ Leis avulsas ou extravagantes Ð lei que introduzem altera•›es a matŽrias
que constam de c—digos n‹o sendo neles integradas.

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A codiÞca•‹o surgiu essencialmente no sŽculo dezanove, inclusive Napole‹o


aÞrmava: Òa minha maior conquista foi o C—digo CivilÓ uma vez que exportar
legisla•‹o Ž tambŽm exportar cultura. E Ž muito mais simples exportar um c—digo do
que leis soltas ou jurisprud•ncia.

De acordo com Oliveira Ascens‹o a codiÞca•‹o apresenta 3 grandes vantagens:


1. Òo c—digo permite um conhecimento f‡cil do direito. Se o direito Ž regra da
vida deve ser conhecido; e quanto poss’vel conhecido diretamente por
aqueles cuja vida rege e n‹o s— pelos juristas.Ó Ð r‡pido conhecimento
2. ÒTrazendo uma disciplina unit‡ria evita incongru•ncias entre as v‡rias fontes,
e faz avultar os grandes princ’pios que disciplinam aquele setor da vida
socialÓ. Ð Coer•ncia das normas
3. ÒPela sistematiza•‹o cient’Þca que traz, d‡ ao intŽrprete um mapa onde situar
facilmente cada novo casoÓ e Ò...pode ser utilizado como ponto de partida
para a integra•‹o de lacunasÓ. Esta concentra•‹o sistematizada Òfacilita a
busca, mesmo para quem n‹o for tŽcnico do direitoÓ uma vez que Òmuitas
orienta•›es gerais, que s— penosamente se poderiam detetar atravŽs de uma
seria•‹o de leis, tornam-se facilmente apreens’veisÓ. Ð Organiza•‹o
sistem‡tica

Aponta ainda como desvantagem, Òpara alŽm de desvantagens que podemos


apontar a qualquer leiÓ, a rigidez como inconveniente espec’Þco do c—digo. ÒO
c—digo representa um grande esfor•o para quem o elabora, e quanto maior Ž esse
esfor•o mais respeito imp›e ap—s realizado. As altera•›es a um c—digo devem ser
meditadas. Por isso intimidam.Ó De qualquer modo, na realidade o c—digo Ž t‹o
simples de ser alterado como qualquer outra lei e, por norma, as matŽrias que estes
regulam gozam de elevada estabilidade. Podemos assim compreender que a rigidez
do c—digo se trata quase de uma rigidez persuasiva do que de uma rigidez jur’dica.
EnÞm, apesar das desvantagens que lhe poder‹o estar associadas, Òa tend•ncia Ž
atŽ a da extens‹o da codiÞca•‹o a novos dom’niosÓ.

13 Ð TŽcnicas legislativas principais

Quando um legislador elabora normas ele faz uso de um conjunto de tŽcnicas de


organiza•‹o e de reda•‹o dessas mesmas normas a que se d‡ o nome de tŽcnicas
legislativas. Estas s‹o mais vis’veis na legisla•‹o codiÞcada, mas s‹o utilizadas em
todos os tipos de legisla•‹o.

1) Partes gerais

Esta tŽcnica Ž muito usada pelo c—digo civil e tem como objetivo evitar repeti•›es
Þxando os princ’pios gerais e as disposi•›es normativas que se n‹o fossem
autonomizadas dessa forma teriam de ser repetidas em termos praticamente iguais
a prop—sito de inœmeros pontos. IdentiÞca as disposi•›es comuns a v‡rias matŽrias,

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agrega-as num œnico ponto e depois remete em todas as matŽrias em que s‹o
relevantes para esse ponto. (ex.: o artigo 1143¼ remete-nos para o art.¼ 219.¼).

Nas palavras de Batista Machado, Òa exist•ncia destas Òpartes geraisÓ resulta


obviamente de uma exig•ncia de tŽcnica jur’dica: trata-se de evitar repeti•›es, de
Þxar desde logo aqueles princ’pios gerais e aquelas disposi•›es normativas que, de
outro modo, teriam de ser repetidas em f—rmulas essencialmente id•nticas em
diferentes pontos da lei, de dar resposta antecipada a um cat‡logo de quest›es
preliminares cuja solu•‹o afeta e Ž extens’vel a todas as regulamenta•›es
particulares que a lei vai estabelecer.Ó

2) Remiss›es
Batista Machado aÞrma que Òa remiss‹o Ž outro expediente tŽcnico-legislativo de
que o legislador se serve com frequ•ncia para evitar a repeti•‹o de normas. S‹o
normas remissivas, de uma maneira geral, aqueles em que o legislador, em vez de
regular diretamente a quest‹o de direito em causa, lhe manda aplicar outras normas
do seu sistema jur’dico, contidas no mesmo ou noutro diploma legalÓ.

A remiss‹o ou a norma remissiva tem tambŽm como objetivo evitar repeti•›es. S‹o
normas em que o legislador em vez de regular diretamente a quest‹o de Direito em
causa manda aplicar a essa quest‹o outras normas do sistema jur’dico que podem
estar no mesmo diploma ou noutro diploma. Quando se utilizam normas do mesmo
sistema dizemos tratar-se de uma remiss‹o intersistem‡tica, quando se trata de um
outro sistema jur’dico falamos de remiss‹o extrasistem‡tica (ex.: art.¼ 8.¼ n¼1 CRP).
Ainda que em regra a remiss‹o seja feita n‹o para a previs‹o da norma, mas para a
estatui•‹o, por vezes a remiss‹o Ž feita para a previs‹o Ð art.¼ 974.¼ (faz remiss‹o para
o 2034 e seguintes)

Em alguns casos a lei faz uma remiss‹o muito ampla para outro regime ou sistema
jur’dico - art.¼ 3.¼ C—digo Comercial (manda aplicar subsidiariamente as regras do
C—digo Civil quando as quest›es n‹o poderem ser resolvidas nem pelo texto nem
pelo esp’rito do c—digo comercial, nem por analogia).
Acontece ainda por vezes situa•›es em que o legislador, atravŽs da norma, ordena
uma extens‹o do regime a outras Þguras pr—ximas. Por exemplo, o art.¼ 939.¼ em
que sendo uma remiss‹o geral se aplicam as normas de compra e venda aos demais
contratos onerosos.
ƒ muito comum nas normas remissivas o legislador escrever:
¥ Òsalvo as necess‡rias adapta•›esÓ Ð necessidade de ju’zo de interpreta•›es;
¥ Òsem preju’zo do disposto em...Ó Ð prevalece a norma anterior
¥ Òn‹o obstante o disposto em...Ó Ð prevalece a norma que seguir a express‹o

3) Fic•›es legais

Assim como descreve Batista Machado, funcionam, em œltima an‡lise, em regra,


como remiss›es impl’citas, em vez de expressamente remeterem para normas
determinadas que regulam um determinado facto ou situa•‹o, o legislador

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estabelece que o facto ou situa•‹o a regular Ž ou se considera igual a um facto ou


situa•‹o que j‡ se encontra regulado na lei.
N‹o remete para outra norma, mas Þcciona que o facto que ele quer regular
daquela norma Ž ou se considera igual a um outro facto para o qual previamente
estabeleceu um determinado regime jur’dico. A Þc•‹o corresponde assim a uma
Òassimila•‹o Þct’cia de realidades factuais diferentes para efeitos de as sujeitar ao
mesmo regime jur’dico.Ó (Batista Machado)
Exemplo: art.¼ 275.¼ n¼2 em que o legislador Þcciona que uma situa•‹o impedida
contra a boa-fŽ se veriÞcou. Ð Para efeitos jur’dicos equipara uma realidade a outra

4) Presun•›es legais

A presun•‹o vem regulado no art.¼ 349.¼ CC Òas presun•›es s‹o as ila•›es que a lei
ou julgador tira de um facto conhecido para Þrmar um facto desconhecidoÓ.
VeriÞcando-se um facto presume-se que outro tambŽm se tenha veriÞcado. Ë luz do
art.¼ 350.¼ CC quem tem a seu favor uma presun•‹o legal n‹o necessita de provar o
facto a que ela conduz. Ou seja, estas t•m impacto direto no —nus da prova (encargo
de provar o facto que est‡ a invocar em tribunal Ð art.¼ 342.¼ CC). Havendo uma
presun•‹o legal ˆ lugar ‡ invers‹o do —nus da prova, cabendo ˆ parte contr‡ria
provar que a presun•‹o n‹o ocorreu.
H‡ dois tipos de presun•‹o: a judicial e a legal.
¥ As presun•›es judiciais s‹o tambŽm chamadas de presun•›es naturais,
simples, de facto ou de experi•ncia, estas s— s‹o admitidas nos casos e
termos em que Ž admitida a prova testemunhal e podem ser afastadas por
simples contraprova, ou seja, prova que abale a convic•‹o do juiz e crie neste
um estado de dœvida ˆ cerca dos factos que Ž necess‡rio provar.
¥ As presun•›es legais s‹o as que v•m estabelecidas na lei, estas podem ser
ilid’veis (iuris tantum) ou inilid’veis (iuris et de iure).
o Presun•›es inilid’veis (iuris et de iure) Ð s‹o a exce•‹o. Elas s‹o
absolutas e irrefut‡veis n‹o admitindo prova em contr‡rio. As
presun•›es s— s‹o inilid’veis quando isso resulta diretamente da
norma que as consagra. Ð art.¼ 243.¼ n¼3 CC.
ÒAs duas Þguras s‹o conceitualmente distintas, na Þc•‹o a lei atribui a um facto as
consequ•ncias jur’dicas de outro, enquanto na presun•‹o inilid’vel o legislador
sup›e de modo irrefut‡vel que o facto presumido acompanha sempre o facto que
serve de base ˆ presun•‹oÓ Ð Batista Machado
o Presun•›es ilid’veis (iuris tantum) Ð s‹o a regra e podem ser afastadas
por prova em contr‡rio Ð art.¼ 441.¼ CC

5) DeÞni•›es Legais

O legislador delimita e identiÞca o signiÞcado de um determinado conceito. As


deÞni•›es legais s‹o encaradas pela doutrina com alguma reserva, Òtoda a deÞni•‹o
Ž perigosaÓ, existe este receio, no sentido em que n‹o caber‡ ao legislador fazer
constru•›es conceituais, essa tarefa cabe ˆ doutrina. N‹o obstante, o legislador
portugu•s tem uma certa tend•ncia para as deÞni•›es legais (art.¼ 202.¼ e 762.¼ CC).

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O nosso C—digo Civil est‡ recheado de deÞni•›es legais. Basta referir alguns
exemplos ao acaso: arts., 202.¼ a 212.¼ (no•‹o e classiÞca•›es de coisa), 216.¼ (no•‹o
e classiÞca•‹o de benfeitorias), art.¼ 543.¼, 1 (obriga•‹o alternativa), art. ¼612.¼ 2 (m‡-
fŽ para efeitos de impugna•‹o pauliana), 762.¼, 1 (cumprimento), 804.¼, 2 (mora do
devedor), art.¼ 813.¼ (mora do credor), 1577.¼ (casamento), etc.

Batista Machado diz-nos que Òh‡ quem aÞrma que as deÞni•›es legais s‹o inœteis e
quem entenda, pelo contr‡rio, que elas representam verdadeiras disposi•›es com
valor prescritivoÓ, este considera que Òa deÞni•‹o legal faz parte das normas onde
esse conceito Ž utilizado e nessa medida elas n‹o s‹o puras constru•›es doutrinais
tendo verdadeiro car‡ter prescritivo, ou seja, obrigam o interprete.Ó

6) Conceitos indeterminados e clausulas gerais

Ambos constituem tŽcnicas de ius aequum, ou seja, normas tendencialmente


abertas e ßex’veis.
T•m como objetivos: permitir a adapta•‹o da norma ˆ complexidade da matŽria a
regular, ˆs particularidades do caso ou ˆ mudan•a das situa•›es e facilitar a osmose
entre as m‡ximas Žtico-sociais e o direito, ou ainda permitir levar em conta os usos
do tr‡Þco, ou enÞm, permitir uma Òindividualiza•‹oÓ da solu•‹o.

Nas palavras de Batista Machado Òpodemos distinguir no ordenamento jur’dico, por


um lado, conceitos ÒdeterminadosÓ que formam por assim dizer as estruturas
arquitet—nicas consolidadas da ordem jur’dica, as quais permitem a constru•‹o de
um sistema cient’Þco e caucionam a certeza e seguran•a do direito. Por outro lado,
conceitos indeterminados e clausulas gerais que constituem por assim dizer a parte
movedi•a e absorvente do mesmo ordenamento, enquanto servem para ajustar e
fazer evoluir a lei no sentido de a levar ao encontro das mudan•as e das
particularidades das situa•›es da vida.Ó

Os conceitos indeterminados (ex.: boa-fŽ) s‹o conceitos que necessitam de


preenchimento valorativo pelo intŽrprete na sua aplica•‹o ao caso concreto,
contrap›em-se aquilo a que Batista Machado designa por conceitos determinados
(ex.: personalidade jur’dica, obriga•‹o, ...), os quais formam Òas estruturas
arquitet—nicas consolidadas da ordem jur’dica que permitem a constru•‹o de um
sistema cient’Þco e promovem a certeza e seguran•a do DireitoÓ.

Por sua vez as clausulas gerais s‹o tŽcnicas legislativas que se op›em ˆ
regulamenta•‹o casu’stica que identiÞca exaustivamente todas as hip—teses a que
se aplica a norma. Enquanto a norma casu’stica prev• e regula grupos de casos
especiÞcados tipiÞcando os pressupostos da consequ•ncia jur’dicas, a clausula geral
n‹o contem uma hip—tese dotada de conota•›es precisas deixando bastante
indeÞnidos os casos a que se ir‡ aplicar. ƒ comum as clausulas gerais exprimirem-se
atravŽs de conceitos indeterminados, mas nada impede o uso de conceitos
indeterminados em clausulas casu’sticas. O objetivo das clausulas gerais Ž evitar

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dois tipos de lacunas, as lacunas de regulamenta•‹o (quando a norma n‹o prev• nas
suas hip—teses todas as situa•›es da vida que merecem o mesmo tratamento
jur’dico) e as lacunas de exce•‹o (quando a norma prev• inadvertidamente nas suas
hip—teses situa•›es que mereceriam pela sua natureza um tratamento diferenciado).
Ð art.¼ 1781.¼

7) Atribui•‹o de poder discricion‡rio

Em regra, o legislador vincula os agentes do estado a um princ’pio de legalidade.


Ou seja, os atos e as decis›es devem conformar-se estritamente ˆ lei. No entanto,
existem alguns casos, previstos na lei, o legislador confere a estes agentes do Estado
um poder discricion‡rio assente num princ’pio de oportunidade. Ou seja, para
permitir uma adapta•‹o oportuna da decis‹o das particularidades do caso concreto
o legislador autoriza o —rg‹o ou agente a adotar determinados condutas, a
conceder determinadas autoriza•›es ou atŽ mesmo a prevaricar interven•›es,
indicando apenas as Þnalidades da decis‹o a adotar, mas sem vincular o —rg‹o ou
agente a uma obriga•‹o determinada.
Neste caso a lei estabelece uma hip—tese e os seus pressupostos deixando a Þxa•‹o
da consequ•ncia jur’dica ao —rg‹o ou agente a quem atribui o poder discricion‡rio,
o qual far‡ um ju’zo de oportunidade ou conveni•ncia na tomada da decis‹o.
ƒ exemplo, o artigo 24¼ g) do regulamento de avalia•‹o de conhecimentos da
faculdade.
® Aten•‹o que discricionariedade n‹o Ž sin—nimo de arbitrariedade, o agente
n‹o Ž livre de decidir como quiser, tem liberdade de conformar a decis‹o,
mas essa conforma•‹o est‡ vinculada aos princ’pios e aos prop—sitos
tra•ados nesse contexto pelas solu•›es legislativas.

V. A tutela do Direito e dos direitos

14 - Meios de tutela jur’dica


A coercibilidade Ž a caracter’stica exclusiva das ordens jur’dicas. A coercibilidade
assegura-se atravŽs da imposi•‹o de san•›es atravŽs do aparelho de coer•‹o
estadual. Este tem como objetivo impor e tutelar o direito objetivo e garantir
juridicamente os direitos subjetivos.
A coercibilidade corresponde ˆ suscetibilidade da aplica•‹o de san•›es pela for•a.
E as san•›es s‹o a consequ•ncia desfavor‡vel que atinge aquele que violou a
norma. Embora a grande maioria dos meios de tutela correspondam a san•›es que
derivam do n‹o cumprimento de normas jur’dicas, nem sempre assim Ž, ou seja, h‡
meios de tutela que atuam sem estar subjacente uma viola•‹o de direito objetivo ou
de direito subjetivo. Um caso paradigm‡tico Ž o estado de necessidade em que n‹o
h‡ viola•‹o de nenhuma norma jur’dica, mas
Os meios de tutela podem distinguir-se quanto aos Þns e quanto aos entes.

ƒ poss’vel que uma s— conduta desencadeie mais do que um meio de tutela.

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Exemplo: A vizinho de B que Ž pai de C de 10 anos mata B ˆ machadada na


sequ•ncia de uma discuss‹o sobre ‡gua do po•o. Ð Tutela punitiva e tutela
reconstitutiva

15 - Modalidades de tutela quanto aos Þns

1) Tutela compuls—ria ou compulsiva


ÒDestinam-se a atuar sobre o infrator da norma, por forma a constrang•-lo a adotar o
comportamento devido que atŽ ali omitiuÓ4 ÒN‹o deixa de ter havido infra•‹o, mas
procura-se chegar ˆ situa•‹o que resultaria da devida observ‰ncia da regra (se
abstrairmos o fator tempo) atravŽs do pr—prio comportamento do infrator.Ó 5
Exemplos:
¥ Pris‹o por viola•‹o da obriga•‹o de alimentos (art.¼ 250 CP), a natureza
compuls—ria deriva do facto do tribunal poder dispensar da pena ou declarar
extinta no todo ou em parte a pena ainda n‹o cumprida logo que a pens‹o
aliment’cia seja paga. Daqui deriva que esta pris‹o mais do que castigar o
infrator pretende sobretudo for•‡-lo ao cumprimento (Þnalidade
compuls—ria).
¥ San•‹o pecuni‡ria compuls—ria (art.¼ 829.¼A do CC) aplica-se nas
presta•›es de facto infung’veis6 em que n‹o estejam em causa especiais
qualidades cient’Þcas ou art’sticas do obrigado e consiste em condenar o
devedor que n‹o cumpre ao pagamento de uma quantia pecuni‡ria por cada
dia de atraso no cumprimento ou por cada infra•‹o.
¥ Direito de reten•‹o Ð Òem certos casos...quem n‹o Ž dono pode reter para
compelir o dono a pagarÓ4 (art.¼ 754¼ CC). Ð por exemplo, B diz a A que n‹o
tem como pagar o arranjo do carro, mas que precisa do carro urgentemente.
A diz que enquanto n‹o receber o pagamento n‹o ir‡ devolver o carro. Deste
modo, A invoca o direito de reten•‹o uma vez que B n‹o pagou uma
despesa associada ao ve’culo.
¥ Exce•‹o de n‹o cumprimento Ð por exemplo, A vendeu o CC a B por 10€.
Ficou combinado que A o entregaria na quinta-feira depois da aula de ID e B
pagaria o valor. Na quinta-feira, B desculpa-se e n‹o paga. A invoca o
princ’pio da exce•‹o de n‹o cumprimento recusando-se a entregar o CC.

2) Tutela reconstitutiva
Abrange as medidas que se destinam a reconstituir a situa•‹o que existiria caso n‹o
tivesse ocorrido a inobserv‰ncia da norma ou da conduta juridicamente devida.
¥ Reconstitui•‹o natural ou em espŽcie (art.¼ 566.¼ CC) Ð Ž o modo regra de
tutela reconstitutiva, aplica-se sempre que poss’vel e adequada ˆ repara•‹o

4
Batista Machado, Introdu•‹o ao Direito e ao Discurso Legitimador
5
Oliveira Ascens‹o, O Direito
6
Falar em presta•‹o Ž o mesmo que falar em comportamento. As presta•›es podem ser de facto ou de
coisa, s‹o de coisa quando envolvem a entrega de uma coisa, s‹o de facto quando se esgotam no
pr—prio comportamento. As presta•›es podem ser fung’veis ou infung’veis, s‹o fung’veis quando
podem ser cumpridas por outra pessoa que n‹o o devedor sem que isso traga preju’zo para o credor, a
presta•‹o Ž infung’vel quando a substitui•‹o da pessoa do devedor acarreta preju’zo para o credor.

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dos danos desde que n‹o seja excessivamente onerosa para o devedor.
Neste tipo de reconstitui•‹o a parte lesada Ž colocada materialmente na
situa•‹o em que estaria se n‹o tivesse ocorrido a inobserv‰ncia da norma.
Exemplo: A ocupa ilegalmente o prŽdio de B, A Ž expulso do prŽdio de B
Em matŽria de contratos/obriga•›es a reconstitui•‹o natural processa-se
atravŽs de uma Þgura que se chama execu•‹o especiÞca, esta consiste na imposi•‹o
judicial de realiza•‹o pelo devedor ou por terceiro da presta•‹o que Ž devida ao
credor. (art.¼ 827, 828, 829 e 830 do CC)
o Artigo 827¼ CC Ð entrega de coisa determinada - se a presta•‹o
consistir na entrega de coisa determinada que se encontra e poder do
devedor, o credor pode requerer em tribunal que a coisa lhe seja
entregue;
o Artigo 828¼ CC Ð presta•‹o de facto positivo fung’vel Ð o devedor
pode ser substitu’do na ado•‹o do comportamento sem preju’zo para
o credor. Nestes casos, o devedor, n‹o cumprindo o credor, te direito
de requerer que a presta•‹o seja realizada por um terceiro a custo do
devedor, se necess‡rio, penhorando e vendendo os bens do devedor
Ž proceder ao pagamento (ex: h‡ um problema no prŽdio, o
empreiteiro Ž chamado, mas n‹o vai, o condom’nio abre a•‹o em
tribunal e pede que outro empreiteiro v‡ fazer o servi•o e o primeiro
empreiteiro lho pague).
o Artigo 829¼ CC Ð presta•‹o de facto negativo Ð alguŽm se obrigou a
fazer uma coisa e n‹o fez. Se a presta•‹o consiste em n‹o fazer uma
determinada obra e o devedor a realizar, sendo poss’vel desfaz•-la, a
obra ser‡ desfeita pelo devedor ou ˆ custa dele, exceto se o preju’zo
da’ derivado for consideravelmente superior ao preju’zo sofrido pelo
credor (ex: o devedor obriga-se a n‹o plantar m cedro que tape o sol
ao vizinho, mas plantou, ent‹o a ‡rvore ter‡ de ser mandada abaixo).
o Artigo 830¼ CC Ð obriga•‹o de contratar Ð no caso de
incumprimento de um contrato de promessa (partes obrigam-se no
futuro a celebrar outro contrato Ð contrato deÞnitivo) e veriÞcados
determinados requisitos, Ž poss’vel o credor solicitar ao tribunal que
se substitua ao contraente faltoso emitindo a declara•‹o negocial em
falta, e assim Ž considerado celebrado o contrato prometido, mesmo
sem interven•‹o do devedor.
¥ Reintegra•‹o por equival•ncia Ð usa-se quando a reconstitui•‹o natural n‹o
Ž poss’vel, n‹o Ž adequada ou Ž excessivamente onerosa. N‹o se procura
reconstituir a situa•‹o material que existiria se n‹o tivesse havido a viola•‹o
da norma, procura-se reconstituir a reconstru•‹o patrimonial se n‹o tivesse
havido viola•‹o da norma. O que est‡ em causa Ž a indemniza•‹o atravŽs da
entrega de uma quantia pecuni‡ria que tem como objetivo colocar o credor
na situa•‹o patrimonial em que estaria se n‹o tivesse havido viola•‹o. O valor
da indemniza•‹o Ž calculado por teoria da diferen•a: calcula-se entre a
situa•‹o patrimonial do lesado e a situa•‹o patrimonial que ele teria se n‹o
tivesse sido lesado. Isto cobre os danos emergentes e os lucros cessantes. ƒ

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poss’vel que a mesma situa•‹o desencadeie reconstitui•‹o natural e


reintegra•‹o por equivalente.
Exemplo: A deve entregar a B um determinado objeto, a reconstitui•‹o natural
seria o tribunal apreender a A a coisa e entregar a B. Contudo, tal pode n‹o
ser poss’vel, por exemplo, se A destruiu a coisa, nesse caso o tribunal
condena a A o pagamento de uma indemniza•‹o em dinheiro capaz de
colocar B na posi•‹o patrimonial em que se acharia se a obriga•‹o tivesse
sido exata e pontualmente cumprida.
¥ Compensa•‹o Ð Corresponde ˆ atribui•‹o ao lesado de uma soma
pecuni‡ria a t’tulo de repara•‹o de danos morais. A l—gica da compensa•‹o
Ž de que o lesado possa usar esse dinheiro para fazer coisas que lhe d‹o
gosto e assim, de algum modo, o distrair do sofrimento provocado.

3) Tutela preventiva
Nas palavras de Batista Machado abrange as medidas destinadas a Òimpedir a
viola•‹o da ordem jur’dica, a prevenir ou a evitar a inobserv‰ncia das normasÓ. Em
causa est‹o as medidas da administra•‹o pœblica para Þscalizar, limitar, condicionar
ou sujeitar a autoriza•›es prŽvias o exerc’cio de certas atividades para evitar os
danos sociais que delas poderiam resultar, por exemplo, licen•as de constru•‹o.
Abrange, tambŽm, as medidas de seguran•a do direito penal que s‹o aplicadas
para evitar a pr‡tica de crimes futuros quando o agente revela uma especial
tend•ncia para delinquir, Ž o caso das medidas que pro’bem a pr‡tica de certas
proÞss›es quando as pessoas cometeram determinado crime. Um outro exemplo
encontra-se no artigo 781¼ do CC que diz que, nas dividas a presta•›es, a falta de
pagamento de uma s— presta•‹o implica o vencimento das restantes (exemplo: A
emprestou a B 5000€, a pagar em 5 presta•›es mensais de 1000€ cada uma. B paga
a primeira, mas n‹o a segunda. Assim, quando B pagar n‹o deve 1000€, mas sim
4000€). O artigo 934¼ do CC Ž uma norma especial face ao artigo 781¼ do CC.

4) Tutela punitiva
ÒN‹o interessa reconstituir a situa•‹o que existiria se o facto se n‹o tivesse
veriÞcado, mas aplicar o castigo previsto ao violadorÓ.4Assim, abrange as medidas
que visam inßigir um castigo ao infrator que desrespeitou a norma jur’dica. Implicam
simultaneamente a priva•‹o de um bem, que pode ser a liberdade ou valor
patrimoniais, e a reprova•‹o da conduta. O direito penal Ž o ramo por excel•ncia da
tutela punitiva, mas existe tutela punitiva noutros ramos do direito (exemplo, no
direito civil artigo 2034¼ que regula a incapacidade sucess—ria por indignidade).
Exemplos:
1- A com o Þm de beneÞciar da sucess‹o de B engana o autor da sucess‹o e
mediante esse engano o leva a fazer, revogar ou modiÞcar um testamento.
Morto o autor da sucess‹o, aparentemente Ž A quem deve ser chamado a
receber, mas segundo o artigo 2034¼ e seguintes do CC aquele que praticou
aqueles factos Ž indigno e como tal ser‡ afastado daquela sucess‹o.
2- A ataca B causando-lhe les›es corporais, ser‡ condenado n‹o s— a reparar os
danos causados a B (responsabilidade civil) como ainda a cumprir uma pena
pelo crime de ofensas corporais.

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5) Recusa de efeitos jur’dicos


Traduz-se no n‹o reconhecimento da situa•‹o gerada pela inobserv‰ncia da norma
ou da conduta de vida, recusando-lhe a produ•‹o de efeitos jur’dicos. Ou seja,
assegura-se a frustra•‹o dos des’gnios daquele que pretende obter determinados
resultados jur’dicos, sem respeitar os pressupostos ou os requisitos que para isso a
lei exige. Quando um ato n‹o produz efeitos jur’dicos diz-se que Ž ineÞcaz, Ž ineÞcaz
quando Ž inadequado para produzir os efeitos que o seu autor tenha em vista. H‡ 3
tipos de ineÞc‡cia por ordem decrescente de gravidade:
¥ Inexist•ncia Ð corresponde aos casos em que pode dizer que para o Direito
n‹o h‡ nada, n‹o h‡ reconhecimento de uma base que permita aÞrmar a
exist•ncia de um ato (por exemplo, inexist•ncia de um casamento em que
n‹o haja manifesta•‹o de vontade de um dos c™njuges consagrada no artigo
1628¼ do CC). N‹o h‡ nenhum aproveitamento jur’dico de um ato tido como
inexistente.
¥ Invalidade Ð Òquando a lei considera o pr—prio ato, que deveria ser fonte de
efeitos, sem valorÓ.4 Abrange os casos em que a produ•‹o de efeitos deve-se
a uma falta ou irregularidade dos elementos internos essenciais do neg—cio.
Pode revestir duas modalidades consoante a gravidade relativa do v’cio ou
defeito do ato:
® Nulidade Ð Segundo Mota Pinto um ato nulo Òn‹o produz, desde o
in’cio (ab initio), por for•a da falta ou v’cio de um elemento interno o
formativo, os efeitos a que tendiaÓ.
® Regime das nulidades (de acordo com Mota Pinto):
a) operam ipso iure, ou seja, n‹o Ž Ònecess‡rio intentar uma a•‹o
ou emitir uma declara•‹o nesse sentido, nem sequer uma
senten•a judicial prŽvia, e podem ser declaradas ex ofÞcio
pelo tribunalÓ (art.¼ 286¼)
b) Òs‹o invoc‡veis por qualquer pessoa interessada, isto Ž, pelo
sujeito de qualquer rela•‹o jur’dica afetada ... pelos efeitos a
que o neg—cio jur’dico se dirigiaÓ (art.¼ 286¼)
c) ÒS‹o invoc‡veis a todo o tempoÓ, contudo, a possibilidade da
sua invoca•‹o perpŽtua pode ser impedida na pr‡tica pela
veriÞca•‹o da usucapi‹o
d) ÒS‹o insan‡veis mediante conÞrma•‹oÓ (neg—cio unilateral),
podendo, todavia, ter lugar uma renova•‹o ou reitera•‹o
(novo contrato) do neg—cio nulo.
® Exemplos:
a) V’cios de forma (art.¼ 220.¼) Ð Òa declara•‹o negocial que
care•a da forma legalmente prescrita Ž nula, quando outra n‹o
seja a san•‹o especialmente prevista na leiÓ
b) V’cios de objeto (art.¼ 280¼)
c) Falta de vontade (art.¼ 245¼)

® Anulabilidade Ð Nas palavras de Mota Pinto Òo neg—cio anul‡vel, n‹o


obstante a falta ou o v’cio de um elemento interno ou formativo,

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produz os seus efeitos e Ž tratado como v‡lido, enquanto n‹o for


julgada procedente uma a•‹o de anula•‹o; exercido, mediante esta
a•‹o o direito potestativo de anular pertencente a uma das partesÓ.
ÒSe n‹o for anulado, no prazo legal e pelas pessoas com legitimidade,
passa a ser deÞnitivamente v‡lido. Se for anulado, no tempo e forma
devidos, considera-se que os efeitos visados n‹o se produziram
desde o in’cio, como nunca tendo tido lugarÓ. H‡ situa•›es em que a
lei consagra invalidades mistas, a lei utiliza os dois regimes em fun•‹o
dos interesses em causa (exemplo: artigo 410¼ n¼3 CC).
® Regime da anulabilidade
a) N‹o pode ser declarada ex ofÞcio pelo tribunal, a anulabilidade s—
pode ser invocada pelas pessoas no interesse de quem a lei a
estabeleceu (277¼ n¼1) Ð exemplo: incapacidade acidental Ð art.¼
257¼
b) A anula•‹o do neg—cio Ž feita pro senten•a do tribunal
c) A anulabilidade Ž san‡vel pelo decurso do tempo Ð se n‹o for
invocada dentro do prazo legal (um ano a contra da cessa•‹o do
v’cio que est‡ na origem da anulabilidade), o neg—cio Ž tido como
v‡lido. Ð Exemplo: realizando um contrato tendo menoridade, o
contrato s— Ž tido como v‡lido ap—s os 19 anos
d) Pode sempre ser exigida a anulabilidade enquanto o neg—cio n‹o
estiver inteiramente cumprido
e) A anulabilidade ao contr‡rio da nulidade Ž san‡vel mediante
conÞrma•‹o. A conÞrma•‹o Ž um neg—cio jur’dico unilateral pelo
qual a pessoa com legitimidade para arguir a anulabilidade
declara aprovar o ato viciado. Esta conÞrma•‹o tem de ser feita
depois da cessa•‹o do v’cio e se o conÞrmante ˆ data da
conÞrma•‹o tiver conhecimento do v’cio e do direito ˆ anula•‹o
(artigo 288¼) pode ser tacita e n‹o depende de forma especial.

® Efeitos da anulabilidade e nulidade (art.¼ 289¼)


Quer a declara•‹o de nulidade quer a declara•‹o de anulabilidade operam
retroativamente (os efeitos do neg—cio s‹o destru’dos desde a sua origem, a
situa•‹o patrimonial Ž reposta como se o neg—cio nunca tivesse sido celebrado). Se
a restitui•‹o em espŽcie n‹o for poss’vel h‡ o pagamento do valor correspondente.
Existe, em matŽrias de neg—cios jur’dicos, um princ’pio de aproveitamento de
neg—cios. ƒ nesse seguimento que surgem dois institutos relacionados com os
neg—cios nulos e anul‡veis:
o Redu•‹o (292¼) Ð aplica-se quando a invalidade do neg—cio Ž parcial
(quando o v’cio apenas afeta parte do neg—cio), por exemplo, apenas uma
das clausulas Ž nula. Nesse caso, a invalidade apenas afeta as clausulas
afetadas pelo vicio que se t•, por n‹o escritas permanecendo o neg—cio
v‡lido quanto ao restante. S— assim n‹o Ž se se provar que as partes n‹o
teriam celebrado aquele neg—cio sem a parte viciada. Ou seja, o —nus da
prova na redu•‹o reca’ sobre aquele que n‹o quer a redu•‹o do neg—cio,
mesmo realizada essa prova ˆ lugar na mesma ˆ redu•‹o em duas

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circunst‰ncias: quando a invalidade parcial resultar da infra•‹o de uma


norma destinada a proteger uma parte contra a outra ou quando assim
imponha a outra. Ð Havendo invalidade parcial a regra Ž haver redu•‹o
o Convers‹o (293¼) Ð aplica-se a neg—cios totalmente inv‡lidos, nesse caso
sendo poss’vel convert•-lo num novo neg—cio jur’dico, se o novo neg—cio
jur’dico tiver todos os requisitos de forma e subst‰ncia necess‡rios para o
qual se converte. O —nus da prova reca’ sobre quem quer converter o
neg—cio, ou seja, o neg—cio s— Ž convertido se a parte que o deseja, provar
que as partes o teriam celebrado se soubessem do v’cio do outro. A
convers‹o deve manter-se dentro das Þnalidades jur’dico-econ—micas do
neg—cio jur’dico invalidade. A convers‹o ocorre mesmo contra a vontade das
partes, nos casos em que Ž imposta pela boa-fŽ. H‡ casos em que a lei imp›e
a convers‹o do neg—cio (art¼ 946¼ n¼2) Ð Havendo invalidade total a regra Ž
n‹o haver convers‹o
¥ IneÞc‡cia em sentido estrito Ð abrange os casos de ineÞc‡cia em que a n‹o
produ•‹o de efeitos se deve a uma circunst‰ncia extr’nseca, pode ser
ineÞc‡cia absoluta ‰mbito de atua•‹o erga omnes, o que signiÞca que o
neg—cio n‹o produz efeitos perante ninguŽm e pode ser invocada por
qualquer interessado, por exemplo, a condi•‹o suspensiva (acontecimento
futuro e incerto em que Þca dependente a produ•‹o de efeitos) ou ineÞc‡cia
relativa, o negocio n‹o produz efeitos perante determinadas pessoas, por
exemplo, um neg—cio sujeito a registo n‹o Ž invoc‡vel perante terceiros
enquanto n‹o for registado. A ineÞc‡cia pode ser total se o neg—cio n‹o
produz efeito nenhum ou parcial se o v’cio s— afeta a produ•‹o de parte dos
efeitos negociais. Nas palavras de Oliveira Ascens‹o, Òda invalidade se
distingue a ineÞc‡cia em sentido estrito. Muitas vezes a lei n‹o considera
inv‡lido o ato que n‹o observou os requisitos legais, mas impede que ele
produza todas ou parte das consequ•ncias que se destinava a produzir. H‡
ent‹o uma mera ineÞc‡cia, total ou parcialÓ.

16 - Modalidades de tutela quanto aos entes

Quanto aos entes podemos ter:

A. Heterotutela (ou tutela pœblica)

ÒA heterotutela abrange a tutela preventiva, a compulsiva, a reconstitutiva, a punitiva


e a que se traduz na recusa de efeitos jur’dicos aos atos jur’dicos praticados sem
obedi•ncia aos requisitos exigidos por lei ou ˆs clausulas contr‡rias ˆ lei.
Por aqui se pode ver que a tutela jur’dica a que nos referimos n‹o consiste sempre
na pr‡tica de atos materiais de execu•‹o for•ada: apreens‹o de bens, aplica•‹o da
pena de pris‹o, despejo efetuado por mandato da autoridade judicial ou
administrativa. Muitas vezes as san•›es traduzem-se na cria•‹o de situa•›es jur’dicas
desfavor‡veis (por exemplo, a constitui•‹o do autor do facto il’cito danoso na
obriga•‹o de indemnizar) ou na n‹o produ•‹o de efeitos de direito pretendidos
pelas partes (invalidade do ato jur’dico).Ó Ð Batista Machado

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B. Autotutela (ou tutela particular)

Nas palavras de Batista Machado Òcabe em princ’pio a entidades pœblicas a


realiza•‹o dos atos de coer•‹o destinados a prevenir ou a sancionar os atos il’citosÓ.
Conforme estabelece art.¼ 1.¼ do C—digo do Processo Civil a ninguŽm Ž l’cito o
recurso ˆ for•a com o Þm de realizar ou assegurar o pr—prio Direito salvo nos casos e
dentro dos limites declarados na lei.
Entre os casos declarados na lei em que a a•‹o dos particulares pode funcionar
como meio de tutela dos direitos, ou como meio de prevenir a sua viola•‹o. Assim
h‡ 3 mecanismos de autotutela preventiva que se caracterizam por terem um car‡ter
subsidi‡rio (s— se pode correr a elas quando Ž imposs’vel o recurso ˆ autoridade
pœblica), s‹o o Estado de necessidade, a a•‹o direta e a leg’tima defesa.

1) Estado de necessidade (artigo 339.¼ do CC e 34.¼ do CP):

Nas palavras de Marques da Silva, ÒŽ um meio de tutela de direitos, mas


diferentemente da a•‹o direta e da legitima defesa n‹o se dirige contra atos de
terceiros, visa a prote•‹o de direitos colocados em perigo por for•as da natureza
ou por terceiros que n‹o aqueles contra quem a a•‹o necessitada se dirigeÓ.
Por isso, embora a lei admita o sacrif’cio do interesse de terceiro inocente, quando
se trate de proteger interesses de valor igual ou superior, a lei obriga a indemnizar o
lesado quando o perigo for causado por culpa exclusiva do agente e em qualquer
caso o tribunal pode Þxar sempre uma indemniza•‹o equitativa ao lesado e
condenar nela n‹o s— o agente, como aqueles que tiraram proveito do ato ou
contribu’ram para o estado de necessidade.7

SimpliÞcando, o Estado de necessidade permite destruir ou daniÞcar coisa alheia


para afastar um perigo atual humano do agente ou de terceiro. O dano gerado em
Estado de necessidade tem de ser indemnizado, esse dano Ž dividido entre o
agente e as pessoas envolvidas.

Exemplo: Para evitar um atropelamento de uma crian•a, A desvia bruscamente a


viatura e destr—i uma montra. O preju’zo pode ser indemnizado pelos pais (terceiros).

2) A•‹o direta (artigo 336.¼ do CC):

De acordo com Marques da Silva, consiste no Òrecurso ˆ for•a com Þm de realizar ou


assegurar o pr—prio direito, quando esse meio for indispens‡vel, pela
impossibilidade de recorrer em tempo œtil aos meios coercivos normais para evitar a
inutiliza•‹o pr‡tica desse direitoÓ.

Pode consistir: na apropria•‹o, destrui•‹o ou deteriora•‹o de uma coisa, na


elimina•‹o da resist•ncia irregularmente oposta ao exerc’cio do direito, ou noutro

7
Germano Marques da Silva

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ato an‡logo. N‹o sendo l’cita, quando sacriÞque interesses superiores aos que o
agente visa realizar ou assegurar.

Requisitos:
1) Indispensabilidade da conduta para evitar a inutiliza•‹o pr‡tica do direito.
2) Impossibilidade de recorrer em tempo œtil aos meios coercivos normais.
3) Racionalidade dos meios empregues ˆ (padr‹o Ž o bom pai de fam’lia)

A a•‹o direta distingue-se da leg’tima defesa e do estado de necessidade, Òporque


estes t•m natureza defensiva, visam evitar que uma agress‹o ou um perigo atuais se
efetivem ou prossigamÓ. J‡ a a•‹o direta Ž ativa, Òesta visa remover uma a•‹o de
facto j‡ consumada ou antecipa-se a garantir ou satisfazer um direitoÓ. Ð Marques da
Silva

3) Leg’tima defesa (artigo 337.¼ do CC e 32.¼ do CP):

Corresponde a uma rea•‹o contra uma agress‹o alheia, atual ou iminente.


Nas palavras de Marques da Silva Òa legitima defesa constitui um direito individual
de defesa de bens ou interesses individuais amea•ados por ato il’cito de terceiro,
mas atravŽs da prote•‹o dos direitos individuais defende tambŽm a ordem jur’dica.

¥ ÒConsidera-se justiÞcado o ato destinado a afastar qualquer agress‹o atual e


contr‡ria ˆ lei contra a pessoa ou patrim—nio do agente ou de terceiro, desde
que n‹o seja poss’vel faz•-lo pelos meios normais e o preju’zo causado pelo
ato n‹o seja manifestamente superior ao que pode resultar da agress‹o.Ó Ð
n¼1 do 337.¼ do CC
¥ ÒO ato considera-se igualmente justiÞcado, ainda que haja excesso de
leg’tima defesa, se o excesso for devido a perturba•‹o ou medo n‹o culposo
do agente.Ó Ð n. ¼2 do 337.o do CC

Requisitos:
1. Evitar uma agress‹o ilegal ou il’cita.
2. A agress‹o deve estar em execu•‹o ou ser iminente, ou seja, esta n‹o pode estar
terminada.
3. Deve a agress‹o ser contra a pessoa ou patrim—nio do agente ou de terceiro,
podendo ser pessoal ou patrimonial e tambŽm pr—pria ou alheia.
4. S— Ž justiÞcada em casos onde Ž imposs’vel em tempo œtil o recurso ˆ for•a
pœblica
5. Tem de haver necessidade ou racionalidade na defesa, ou seja, Òo preju’zo
causado pelo ato n‹o deve ser manifestamente superior ao que resulta da agress‹oÓ
(Oliveira Ascens‹o). Estamos perante um ju’zo casu’stico que n‹o se exige uma
equival•ncia material absoluta entre o ato praticado pelo agressor e o ato praticado
pelo defensor Ð exige proporcionalidade e razoabilidade

O Direito de Resist•ncia, consagrado no artigo 21.¼ da CRP, Ž uma manifesta•‹o da


leg’tima defesa. Pois permite ao cidad‹o desobedecer ˆ autoridade legitimamente

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institu’da, quando estejam em causa ordens que violem Direitos Liberdades e


Garantias.

Outros exemplos:
¥ Direito de reten•‹o - artigo 754.¼ do CC
o permite ao sujeito que est‡ obrigado a entregar uma coisa alheia a
sua reten•‹o para ressarcimento do crŽdito que Ž titular em
consequ•ncia de despesas feitas por causa da coisa ou de danos por
ela causados
¥ Exce•‹o de n‹o cumprimento - 428.¼ do CC
o aplica-se nos contratos sinalagm‡ticos e permite ao sujeito recusar a
sua presta•‹o enquanto a contraparte n‹o se dispuser a cumprir a sua
exceto se aquele estava obrigado a cumprir primeiro
¥ Direito de resolu•‹o por incumprimento - 432.¼ ao 436.¼ do CC
o Mecanismos de extin•‹o/cessa•‹o unilateral de um contrato com
fundamento no incumprimento da outra parte, sendo suÞciente um
incumprimento grave e/ou reiterado. Este direito Ž um direito
potestativo extintivo.

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