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IED - Sebenta
1º ANO / 1º Semestre
2020/2021
Mariana Marques
Índice
Parte I – O Direito: Caracterização Geral
1. A necessidade do Direito………………………………………………………………………3
2. Valores fundamentais do Direito: Justiça e Segurança…………………………..3
3. Um primeiro conceito de Direito…………………………………………………………..5
4. O Direito entre as ordens normativas: Religião, Cortesia e Ética…………….6
5. Direito e Realidades Afins: Estado, Sociedade e Economia…………………….8
6. Definição dos Conceitos de “Direito Positivo”, “Direito Vigente” e
“Direito Natural”…………………………………………………………………………………19
Parte II – A Norma Jurídica: Problemas Fundamentais
1. A norma jurídica…………………………………………………………………………………20
2. Modos de criação das normas jurídicas……………………………………………….27
3. As fontes de Direito: lei, jurisprudência, doutrina e costume……………….27
4. Interpretação da lei…………………………………………………………………………….43
5. Integração da lei: preenchimento de lacunas………………………………………49
6. O problema da aplicação da lei no tempo……………………………………………53
Parte III – Da Sistematicidade do Direito
1. O sistema jurídico……………………………………………………………………………….61
2. Características……………………………………………………………………………………61
3. Divisões: Direito Público e Direito Privado…………………………………………..62
4. Ramos: Direito Público e Direito Privado…………………………………………….64
5. Novo ramo de Direito: Direito Comunitário…………………………………………69
A violação destas normas implica apenas uma sanção social inorgânica, que consiste
essencialmente num sentimento de reprovação por parte da comunidade, levando
muitas vezes à marginalização do infrator.
DIREITO E ÉTICA
Visa o aperfeiçoamento do individuo, dirigindo-o para o bem.
É um conjunto de imperativos impostos ao Homem pela sua própria consciência ética,
sendo o seu incumprimento punido, principalmente, pelo arrependimento ou remorso,
mas também pela rejeição ou marginalização do grupo em que o indivíduo se insere.
Será, assim, uma ordem intra subjetiva, dado que relaciona a pessoa consigo mesma.
Distingue-se do Direito por via de quatro critérios:
o Coercibilidade
O Direito e a Moral distinguem-se pelo tipo de coação e de sanções que se aplicam
a quem não cumprir as normas.
As normas jurídicas são físicas e organicamente suscetíveis de aplicação coerciva,
enquanto que as morais não.
M – Coercibilidade psíquica: arrependimento.
D – Coercibilidade material: se necessário impõe-se pela força.
o Exterioridade
O Direito e a Moral têm pontos de partida diferentes.
A ordem jurídica é exterior ao indivíduo, regulando a sua conduta externa.
A ordem moral, por outro lado, irá depender dos valores do próprio indivíduo: por
exemplo, pensar em roubar poderá ser moralmente condenável, mas será um ato
indiferente perante o Direito.
M - é intra subjetiva, relaciona a pessoa consigo mesma.
D – é intersubjetivo, procura evitar conflitos e promover a cooperação.
o Finalidade
M – visa dirigir a pessoa para o bem, visa o aperfeiçoamento individual.
D – visa assegurar o desenvolvimento do Homem pelo estabelecimento de regras.
o Consciencialização Subjetiva
M – o crivo da consciência do sujeito.
D – para ser aplicado dispensa a consciência individual.
Norma Jurídica, Ordem Jurídica e Ordenamento Jurídico
• Norma Jurídica – regra de conduta social, assistida de proteção coativa.
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A teoria dos poderes tripartidos do Estado surgiu no século XVII e foi formulada pelo
filósofo inglês John Locke.
Posteriormente, Montesquieu alegava que a liberdade só seria possível caso ocorresse
a separação dos três poderes fundamentais do Estado:
• Poder legislativo – poder de legislar
• Poder executivo – poder de executar as resoluções do poder público
• Poder judicial – poder de julgar e condenar por violação de normas jurídicas
Os grandes fins e objetivos a atingir pelo Estado serão, também, três:
• Segurança
O cidadão necessita de ter a certeza de que o Estado lhe reconhece direitos e
deveres, e que estes o protegem de eventuais atos que o possam perturbar. A esta
ideia estarão inerentes os conceitos de estabilidade e previsibilidade nas relações
jurídicas.
Mas a segurança individual não deverá ser o único fim do Estado – a segurança
coletiva, a proteção do povo face a ameaça exteriores, será também um fim do
Estado.
• Justiça
Ao Estado compete igualmente assegurar a Justiça.
Obrigação de garantir que os conflitos sociais são pacificamente solucionados por
um conjunto de regras que corrijam os desequilíbrios gerados. Uma sociedade
organizada sob a égide da Segurança, mas sem Justiça será uma sociedade
totalitária.
Assim, a ordem justa será aquela em que a Segurança, ao serviço da Justiça,
permite a realização plena do Homem.
• Bem-estar económico e social
Implica a promoção das condições de vida dos cidadãos, o acesso a bens e serviços
considerados como essenciais para a coletividade, tais como a Educação, a Saúde,
a Segurança Social, etc.
Atualmente ganham relevâncias as funções de preservação do ambiente e do
património cultural.
O seu fim derradeiro será assegurar a Justiça, torná-la compatível com a Segurança
e ao serviço do bem-estar económico e social.
Art. 9º CRP – tarefas fundamentais do Estado – os três fins do Estado são, portanto,
interdependentes e complementares.
Funções do Estado
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Art. 1º do Código do Processo Civil – “A ninguém é lícito o recurso à força com o fim
de realizar ou assegurar o próprio Direito...”
O Direito institui órgãos imparciais e independentes a quem comete a função de
“administrar a justiça”.
Os tribunais
Arts. 202º e ss da CRP – estes órgãos decidem em termos definitivos (caso julgado), e
“obrigatórios para todas as entidades públicas e privadas”, “nos termos previstos na
lei” os litígios submetidos à sua apreciação.
DIREITO E ECONOMIA
Relação do tipo circular ou ambivalente: a economia reage sobre o direito e o direito
sobre a economia, num processo de recíprocas influências (ação-reação) pautado por
critérios de raiz social (utilidade, eficácia, justiça, etc.).
Nas palavras de Teixeira Martins: “… qualquer sistema económico exige um dado
regime jurídico que o assegure normativamente como sistema. Um regime jurídico que,
desde logo, normativize as suas relações típicas de produção, e bem assim de troca, de
consumo, etc., e que, além disso, sirva as necessidades do seu funcionamento,
garantindo os institutos e quadros jurídicos dentro dos quais as suas leis económicas
possam desenvolver-se.”
Contudo, o Direto não é “servo” da Economia. Não institui necessariamente uma
disciplina integralmente ancorada a interesses da vida económica.
O Direito está em condições de reagir sobre a economia, impondo o seu próprio ponto
de vista, soluções suscetíveis de reforçar, desviar, corrigir ou bloquear tendências
espontâneas do sistema económico.
• Cabe ao Direito definir o regime da propriedade dos bens económicos
• Presta os instrumentos necessários à circulação dos bens e serviço
A categoria jurídica do contrato é um meio indispensável ao funcionamento do
sistema económico – é através do contrato que o trabalhador fornece a sua força
do trabalho ao empregador, etc. Os termos em que esses contratos são redigidos
pesarão fortemente sobre a atividade económica.
• O Direito intervém com uma intenção corretiva sobre a economia
Procura em nome dos princípios de justiça social, atenuar desequilíbrios e
desigualdades que o processo económico, por si, facilmente produziria.
Cumpre ao Direito atuar, caucionar os valores sociais prevalentes, de modo a
esbater as diferenças económicas dos cidadãos.
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Ora a conduta imposta pode ser positiva ou negativa: pode consistir numa ação
ou omissão. Daí a divisão das normas imperativas em precetivas e proibitivas.
▪ Norma percetiva – as normas que impõem uma conduta ou
comportamento positivo.
Por exemplo:
⎯ A norma que manda pagar a contribuição predial
⎯ A norma que manda reduzir a escrito a escritura pública dos
arrendamentos para o comércio, indústria ou profissão liberal
⎯ A norma que manda pagar a renda ao senhorio
⎯ A norma que manda prestar alimentos aos filhos…
▪ Norma proibitiva – as normas que impõem um comportamento negativo.
Por exemplo:
⎯ As normas que proíbem a prática de crimes
⎯ A norma que proíbe os pais e avós a venderem a filhos ou netos, se os
outros filhos ou netos não consentirem com a venda (art. 877º CC)
o Normas permissivas (ou facultativas) – são aquelas que, regulamentando
embora certas situações, não se impõem obrigatoriamente, limitando-se a
conceder certas faculdades ou contendo um comando que os particulares
podem livremente afastar.
Umas vezes essas faculdades concernem à prática de atos materiais (art. 1353º:
direito de demarcação; 1356º: direito de tapagem; 1356º: perecimento natural
de árvores e arbustos – CC) e outras vezes, ao exercício de atividades jurídicas
(art. 405º CC: “as partes têm a faculdade de fixar livremente o conteúdo dos
contratos).
As normas facultativas comportam ainda uma subclassificação, pelo que se
torna necessário distinguir entre:
▪ Normas dispositivas – são as que se limitam a conceder certos poderes ou
faculdades, deixando ao arbítrio do indivíduo praticar ou não praticar
certos atos.
Exemplos:
⎯ Art. 950º CC – permite receber doações a todos os que não estejam
inibidos de as aceitar por disposição da lei
⎯ Art. 1698º CC – permite fixar o regime de bens do casamento em
convenção antenupcial
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Tanto as normas excecionais como as normas especiais vêm regular casos que,
na falta delas, seriam disciplinados pelas normas gerais. Mas enquanto que as
primeiras consagram uma regulamentação contrária à das normas gerais, as
segundas completam-nas, adaptando-se à particular natureza de certos grupos
de relações.
Nota: estas relações de especialidade não se estabelecem apenas entre
normas singulares, podendo também constituir-se entre sectores (ramos de
direito).
Ex: O Direito comercial constitui um ramos especial face ao Direito Civil.
• Normas perfeitas, imperfeitas e mais ou menos que perfeitas – distinção que tem
por base as consequências possíveis da violação das normas imperativas.
o Normas perfeitas – normas que determinam apenas a nulidade dos atos que
lhes são contraídos.
Ex.: os contratos de compra e venda não celebrados por escritura pública, são
nulos (art. 875º CC).
o Normas imperfeitas – normas que não estabelecem sanção para a sua violação,
que podem ser impunemente desrespeitadas.
Por exemplo: Se o Governo, no exercício da sua ação política, não cumprir
orientações como as marcadas no art. 64º, 65º e 66º CRP, é difícil vislumbrar
qualquer reação jurídica contra tais infrações.
É no entanto duvidoso que estas normas sejam verdadeiras normas jurídicas.
o Normas mais que perfeitas – normas que determinam a nulidade dos atos que
as violam e ainda a aplicação de uma pena aos respetivos autores.
o Normas menos que perfeitas – normas que estabelecem como sanção para a
sua violação, uma sanção diferente da nulidade.
Ex: menor contrai casamento sem autorização do seu representante legal (art.
1649º CC).
• Normas remissivas, ficções legais e presunções legais
o Normas remissivas – pertencem à categoria das normas indiretas ou não
autónomas.
O legislador não regulamenta direta e autonomamente a questão jurídica
concreta, recorrendo sim a outras normas que regem questões diferentes.
Por exemplo: o art. 974º CC (revogação da doação por ingratidão do donatário),
remete para os art. 2034º e 2166º CC, para sabermos em que casos há
ingratidão do donatário.
As remissões que as normas operam podem ser materiais ou formais:
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impõem o cumprimento das sanções que aplicam pelo desrespeito das normas,
ainda que seja pelo uso da força.
A ordem jurídica exprime-se através das Normas Jurídicas que são um comando geral,
abstrato e coercível emanado por uma entidade superior.
As Fontes do Direito são de facto a origem deste, ou seja, são os processos ou modos
de criação e revelação das normas jurídicas que disciplinam o homem nas suas relações
sociais.
A expressão Fontes do Direito tem sido utilizada pelos diversos autores em vários
sentidos:
• Sentido sociológico-material
São Fontes do Direito todos os circunstancialismos sociais que estiveram na origem
de determinada norma jurídica.
Por exemplo: o aumento do parque automóvel nacional e a consequente
multiplicação de acidentes de viação deram origem ao Código da Estrada; a seca
deu origem à tomada de medidas compensatórias.
• Sentido histórico-instrumental
São Fontes do Direito os diplomas, ou monumentos legislativos, os instrumentos
que contêm normas jurídicas; incluem-se todos os documentos desde Lei das 12
Tábuas até às atuais constituições.
• Sentido político-orgânico
São Fontes do Direito os órgãos políticos que, em cada sociedade, estão
incumbidos de emanar ou aprovar normas jurídicas: a AR, o Governo, as
Assembleias Regionais, Municipais e de Freguesia.
• Sentido técnico-jurídico
As Fontes do Direito são os modos de formação e revelação das normas jurídicas;
evidencia a forma como é criada e se manifesta socialmente a norma jurídica.
São considerados a lei, o costume, a jurisprudência e a doutrina.
Saliente-se, no entanto, que alguns autores dizem que só a jurisprudência de
conteúdo normativo cria Direito e outros consideram que nem a jurisprudência
nem a doutrina são criadoras do Direito.
A posição destes últimos baseia-se numa distinção tradicional entre:
o Fontes imediatas do Direito – fontes que têm força vinculativa própria, pelo
que são consideradas os verdadeiros modos de produção de Direito. As Fontes
do Direito imediatas são as normas corporativas e a lei, assim como o costume,
caso a lei o determine.
No nosso ordenamento jurídico apenas se considera a Lei.
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em que atribui aos tribunais competência para fixar doutrina com força obrigatória
geral…” – esta decisão pôs termos a este instituto.
Equidade
A Equidade é considerada a justiça do caso concreto.
As normas jurídicas são gerais e abstratas, sendo-lhes impossível prever todos os casos
singulares, extremamente variáveis. Assim, podem preceituar soluções que não se
mostrem as mais adequadas e justas na sua aplicação a determinados casos concretos,
consideradas as circunstâncias particulares que os acompanham.
Seria então segundo a Equidade que se resolveriam esses casos, permitindo ao juiz
afastar-se da norma, para que, atendendo às particularidades de cada caso,
encontrasse a solução mais justa, ou seja, a equidade adapta-se melhor ao caso
concreto do que a solução estabelecida na lei, da qual se afasta.
Porém, o recurso à equidade, porque dá lugar a um largo campo de atuação do
julgador, poderia implicar sérios riscos de incerteza e insegurança; daí que os
legisladores limitem a sua aplicação, pois o Direito, para além da justiça, tem como fim
a segurança jurídica.
Por tudo isto, a Ordem Jurídica portuguesa é muito restritiva na admissão da equidade
(o art. 4º do CC estabelece as condições para a resolução com recurso à equidade).
Art. 1º do CC
O nº 1 afirma expressamente que a lei é fonte imediata do Direito.
O nº 2 considera leis “todas as disposições genéricas provindas dos órgãos estaduais
competentes”.
Esta noção de lei compreende:
• As normas jurídicas emanadas da Assembleia da República (leis propriamente);
• As normas que procedem de outros órgãos estaduais com competência para as
elaborar (decretos-leis, decretos regulamentares, decretos, portarias, despachos
normativos) ou das autoridades locais, como por exemplo decretos das regiões
autónomas e regulamentos das autarquias locais.
Mas o que é a lei?
A palavra lei pode assumir diversos significados:
• Pode significar Ordenamento Jurídico (art. 13º da CRP);
• O ato normativo da Assembleia da República (art. 18º, nº 2 da CRP);
• Qualquer ato normativo (arts. 103º, nº 3 e 205º, nº 1 da CRP).
Segundo Kelsen são três, os pressupostos da lei:
• Autoridade competente;
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• Revogação – de uma lei pressupõe a entrada em vigor de uma nova lei que
substitua a já existente: as leis novas revogam as leis antigas.
Quanto à sua extensão a revogação pode ser total ou parcial:
o Revogação total (ab-rogação) – a nova lei substitui totalmente a anterior;
o Revogação parcial (derrogação) – a nova lei só altera alguns normativos da
anterior.
Quanto à forma, a revogação pode ser expressa, tácita e de sistema:
o Revogação expressa – a nova lei diz que a lei existente está revogada;
o Revogação tácita – quando resulta, não de uma declaração expressa e formal
do legislador, mas da incompatibilidade entre o disposto na lei antiga e o que
a lei nova vem regular;
o Revogação de sistema – ocorre sempre que o legislador, através do novo ato
legislativo, revela a intenção de regulamentador total e esgotantemente
determinada matéria jurídica.
O art. 7, nº 2 refere-se precisamente a estas três formas de revogação: “a
revogação pode resultar de declaração expressa (revogação expressa), da
incompatibilidade entre as novas disposições e as regras precedentes (revogação
tácita) ou de circunstancias de uma nova lei regular toda a matéria da lei anterior
(revogação de sistema)”.
Importa ainda frisar aqui, os limites da revogação tácita: (art. 7 nº3 do CC):
o A lei geral não revoga a lei especial, exceto se for essa a intenção inequívoca
do legislador;
o A contrario, a lei especial posterior revoga a lei geral anterior, mas apenas no
âmbito restrito da sua aplicação.
Para finalizar, o nº 4 desse mesmo artigo define que: “a revogação da lei
revogatória não importa o nascimento da lei que esta revogara”.
Isso só acontecerá se o legislador o declarar expressamente através de uma
declaração repristinatória.
Hierarquia das Leis
• Constituição da República Portuguesa
• Convenções Internacionais
• Leis e Decretos-Lei
• Decretos-Regionais
• Decretos-Regulamentares
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▪ Leis que carecem de aprovação por maioria de dois terços (art. 168 nº 6
CRP)
⎯ A lei que regula o exercício do direito de voto dos cidadãos portugueses
residentes no estrangeiro (art. 121 nº 2 CRP)
⎯ Lei que regula as restrições ao exercício de direitos por militares e
agentes militarizados dos quadros permanentes em serviço efetivo,
bem como por agentes do serviços e forças de segurança (art. 164º al.
o).
▪ Leis que por força da Constituição, sejam pressuposto normativo
necessário de outras leis ou que por outras devam ser respeitadas
⎯ Leis estatuárias (aprovam e incorporam os estatutos das Regiões
autónomas) – art. 161º e 226º CRP
⎯ Leis de autorização (autorizam o Governo a legislar sobre matérias da
competência de reserva relativa da AR – art. 112º nº 2 e 165º CRP
⎯ Leis de enquadramento (disciplinam as regras estruturantes de
determinados setores jurídicos – art. 106º nº 1 CRP
⎯ Leis de bases (estabelecem as bases gerais dos regimes jurídicos – arts.
112º nº 2, 164º alínea i), 165º nº1 alínea f)
RESUMINDO
Leis ou Normas Ordinárias Reforçadas:
▪ Encontram-se imediatamente abaixo das leis constitucionais
▪ Estas provêm de órgãos com competência legislativa, AR (leis), Governo
(decretos-lei) e Assembleias Legislativas Regionais (decretos legislativos
regionais)
▪ As leis e decretos-lei têm o mesmo valor e a mesma força obrigatória
o Leis ou normas comuns
Estão subordinadas às leis ordinárias reforçadas e encontram num nível
hierárquico abaixo destas; é o caso: dos decretos-regionais e dos decretos-
regulamentares.
É a Assembleia da República que compete, por excelência, o primeiro papel
legislativo e dela provêm as leis, moções e resoluções. (Porém só as leis
estabelecem verdadeiras regras jurídicas). Tem nomeadamente a competência
para elaborar alterações à Constituição, em matérias mais importantes possui
mesmo reserva absoluta para legislar, e sobre outras matérias (reserva relativa)
pode autorizar o Governo a legislar.
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São estes:
▪ Os Precedentes Normativos – constituídos pelas normas que vigoram em
períodos anteriores e que são objeto da História do Direito, como pelas
normas de Direito estrangeiro que tiveram influência na formação da lei.
▪ Os Trabalhos Preparatórios – estudos prévios, os anteprojetos e projetos
de lei, as respostas a críticas feitas aos projetos, as atas das comissões
encarregadas da elaboração do projeto ou da sua discussão, que precedem
a lei e documentam o processo da sua elaboração.
▪ Occasio Legis – conjunto de circunstâncias (políticas, sociais, económicas,
morais, etc.) que envolveram e influenciaram o aparecimento da lei – as
circunstâncias em que a lei foi elaborada.
o Elemento sistemático
Quando se recorre a este elemento, o intérprete deve situar a norma a
interpretar no ordenamento jurídico, atendendo ao espírito e unidade que lhe
são próprios, e ponderar as relações que essa norma tem com as restantes
normas.
Assim, considera-se aquilo que se chama o contexto da lei (ponderam-se as
relações que a norma a interpretar tem com o conjunto de disposições a que
ela pertence e que regulam a mesma matérias ou instituto), e os lugares
paralelos (consideram-se as relações que a norma a interpretar tem com outras
disposições legais que, embora distanciadas, regulam problemas normativos
paralelos ou afins).
o Elemento teleológico/racional
Consiste na razão de ser da lei, no fim ou objetivo que o legislador teve em vista
ao elaborar a norma (ratio legis), devendo ser acompanhada do conhecimento
das circunstâncias ou condições históricas em que ela foi elaborada (occasio
legis).
De facto, é a interpretação teleológica que nos revela os interesses que com a
providência legislativa se quiseram acautelar, qual a sua importância relativa,
que interesses se sacrificaram, numa palavra, se apreende a racionalidade
intrínseca da lei.
A existência de uma crise laboral ou habitacional, a constatação de abusos, são
circunstâncias que, se situadas na origem da publicação da lei, podem tomar
uma importância decisiva no processo da sua interpretação.
Resultados da interpretação
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Quando a letra do texto fica aquém do espírito da lei (a fórmula adotada diz menos
do que aquilo que se pretendia dizer), o intérprete alarga ou estende o texto,
dando-lhe um alcance conforme ao pensamento legislativo e faz corresponder a
“letra” ao “espírito” da lei.
Não se trata de uma lacuna da lei, pois os casos não diretamente abrangidos pela
“letra” são inequivocamente abrangidos pelo “espírito” da lei.
A interpretação extensiva assume normalmente a forma de “extensão teleológica”:
quando a própria “ratio legis” postula a aplicação a casos que não são diretamente
abrangidos pela letra da lei, mas são abrangidos pela finalidade da mesma.
• Interpretação restritiva
Quando o intérprete conclui que o legislador adotou um texto que atraiçoa o seu
pensamento, na medida em que se diz mais do que o que se pretendia dizer (maius
dixit quam voluit) – a significação das palavras é mais ampla do que aquilo que ele
pretendia.
Por exemplo: quando o legislador menciona os descendentes com o sentido de
filhos, ou se refere a filhos querendo apenas abranger os filhos do casamento, ou
quando refere genericamente o homem para abranger apenas os homens casados.
Em todas estas situações, o intérprete deve então restringir o texto, isto é, encurtar
o significado das palavras utilizadas pela lei, de modo a harmonizá-las com o
pensamento legislativo.
• Interpretação enunciativa
É aquela pela qual o intérprete deduz de uma norma um preceito que nela apenas
está virtualmente contido (denominado sentido oculto), utilizando para tal certas
técnicas lógico-jurídicas que assentam nos seguintes argumentos:
o Argumento de maioria de razão ou a fortiori (“a maiori ad minus” e “a minori
ad maius”)
A lei que permite o mais também permite o menos (se é autorizada a alienação
de certos bens deve logicamente admitir-se que também é autorizada a sua
oneração).
A lei que proíbe o menos também proíbe o mais (proibindo-se a oneração,
logicamente se proíbe também a alienação).
o Argumento “a contrario” ou “a contrario sensu”
Deduz-se da disciplina “excecional” estabelecida para certo caso, um princípio-
regra de sentido contrário para os casos não abrangidos pela norma excecional.
Assim, seria fácil deduzir do disposto no art. 1143º CC o princípio de que a
validade formal dos contratos de mútuo não abrangidos na respetiva hipótese
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Na falta de caso análogo, regulado por lei, o julgador tem que: elaborar e formular uma
norma “ad hoc” (uma norma cuja validade está circunscrita à resolução do caso omisso)
que contemple o tipo de casos em que se integra o caso omisso, dentro do espírito do
sistema (art. 10º nº 3 CC), capaz de fazer o sistema concluso na direção do caso
concreto, em função das particularidades da situação em análise.
Verificando-se uma lacuna da lei, e na falta de caso análogo, deve o intérprete criar a
norma que, sem violar os princípios fundamentais do ordenamento jurídico
estabelecido, julgue melhor e mais razoável para o tipo de casos em que a situação
omissa se integra, aplicando-se seguidamente ao caso concreto.
Porém, isto não significa que seja legítimo ao julgador o recurso à equidade, à justiça
do caso concreto, tendo em vista as particularidades da situação omissa e
disciplinando-a atendendo predominantemente a essas mesmas particularidades.
Isto é, o julgador não poderá fundamentar a sua decisão na livre apreciação das
circunstâncias do caso decidendo, resolvendo-o do modo que pessoalmente
considerar mais justo ou conveniente.
Pelo contrário, terá antes de isolar, dentro do caso decidendo, aqueles elementos que
são tipicamente dotados de relevância jurídica, criando para eles a normas que o
legislador, na hipótese de haver previsto a situação lacunosa, muito provavelmente
determinaria.
Deve, pois, elaborar (idealmente) a norma mais adequada não para o caso omisso em
si mesmo mas para o género de casos em que ele se integra, completando assim “o
sistema legal onde se mostra que o legislador o deixou por acabar”.
Há-de pois o julgador atuar, como dizia o Professor Doutor Manuel de Andrade, com
“a ideia de ter de manter-se o estilo do sistema, a sua traça geral, a sua fisionomia
típica”.
A norma que o juiz cria será dotada, apenas, de validade singular, vinculando apenas o
caso omisso, sem que de modo algum adquira força decisória para futuros casos do
mesmo tipo ou para outros julgadores.
O problema da aplicação da lei no tempo
Cabem ao Direito duas funções tendencialmente antinómicas:
• Função estabilizadora
Ser capaz de garantir a continuidade da vida social, os direitos e as expectativas
legítimas das pessoas.
• Função dinamizadora e modeladora
Ser capaz de ajustar a ordem jurídica estabelecida à evolução social, e de promover
a sua evolução num determinado sentido.
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Sabemos já que quando uma lei é posta em vigor numa certa coletividade tal facto não
significa que a sua vigência se mantenha indefinidamente no tempo, sendo sempre
possível revogá-la por meio de outra lei posterior.
Ora se uma lei nova, revogando outra anterior, estabelece uma disciplina diferente
para a mesma espécie de situações, poderá levantar-se o problema de saber por qual
das leis devem ser reguladas aquelas relações constituídas no domínio da lei antiga que
se mantenham depois da entrada em vigor da lei nova ou que, na vigência desta,
venham a ser apreciadas.
O problema de aplicação das leis no tempo surge quando se realizam cumulativamente,
as seguintes condições:
• Duas ou mais leis sucedem-se no tempo, regulamentando de forma diferente a
mesma questão jurídica
• Uma situação jurídica entra em contacto “temporal” com essas leis
Questão:
• Averiguação da lei temporalmente competente.
• Aplicamos a lei que vigorava no momento em que a situação jurídica se constitui
(lei antiga) ou será antes a que vigora no momento presente (lei nova)?
Por exemplo:
• Determinada lei vem instituir o divórcio num país, cuja legislação até aí o não
admitia. Será a nova lei aplicável apenas aos casamentos celebrados após a sua
entrada em vigor ou será de aplicar também aos celebrados anteriormente?
• A e B celebram um contrato de compra e venda dum imóvel num momento em
que a legislação em vigor o considerava perfeito independentemente de qualquer
formalidade externa. Tempos depois é publicada uma lei nova exigindo escritura
pública para a validade de tais contratos.
Se o contrato celebrado entre A e B for apreciado em tribunal no domínio da lei
nova, deve ou não ser considerado válido?
• A lei em vigor no momento de celebração do casamento fixava em 14 anos a idade
nupcial; uma lei posterior elevou para 16 anos essa idade.
Poderá o casamento ser anulado, agora, sob o pretexto que um dos nubentes tinha
15 anos à data da realização do matrimónio (lei nova)?
Questão: qual a lei temporalmente competente?
Hipóteses:
A) A lei que vigorava no momento em que a situação jurídica se constituiu (lei antiga)
B) A lei que vigora no presente (lei nova)
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O Estado para realizar os fins públicos, tem de fazer despesas e, para custear as
despesas, carece de obter receitas. A atividade de realização de despesas e
obtenção de receitas constitui a atividade do Estado.
Ao conjunto complexo de normas jurídicas que regulam a recolha, a gestão e a
aplicação dos recursos financeiros do Estado (normas disciplinadoras da ação
financeira do Estado) dá-se a designação de Direito Financeiro.
• Direito Fiscal
É o sistema de normas que disciplinam as relações de impostos, e definem os meios
e processos pelos quais se realizam os direitos emergentes destas relações. O
Direito Fiscal é constituído por normas de soberania fiscal, normas de incidência,
normas de lançamento, normas de liquidação e normas de cobrança.
• Direito Penal ou Criminal
A sociedade constitui-se sobre um núcleo de valores cujo respeito é necessário à
sua própria existência e desenvolvimento.
Por isso, torna-se imperativo a organização de formas particularmente eficazes de
tutela dos valores essenciais da vida comunitária, sujeitando aqueles que os violam
a reações jurídicas severas.
Para alcançar tal desiderato, o direito serve-se de duas categorias jurídicas
estreitamente correlacionadas: o crime e a pena.
o Crime – todo o comportamento que viola as regras de convivência social
criminalmente protegidas.
o Pena – reação jurídica que a lei liga à prática do crime. Só é aplicável a
delinquentes imputáveis. Aos inimputáveis perigosos são aplicadas medidas de
segurança.
Face a estes conceitos, podemos definir o Direito Penal ou Criminal como conjunto
de normas que têm uma estrutura que, normalmente, faz corresponder uma
situação (crime), a uma sanção (pena).
• Direito Processual (civil, penal, administrativo, de trabalho, fiscal)
São ramos adjetivos, que se contrapõem aos respetivos ramos de Direito
substantivo. Ou seja, não curam propriamente do Direito que confere direitos e
obrigações independentemente da intervenção judiciária, antes curam do modo
como esta se deve processar.
Referem-se, portanto, à proteção coativa, à tutela de tais direitos e obrigações.
Regulam as ações e a sua transmissão, desde os seus pressupostos, requisitos, até
ao julgamento final da causa.
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• Parlamento Europeu
É o órgão de representação dos cidadãos europeus, fruto da vivência democrática
de todos os Estados-membros, é composto por 626 deputados, eleitos de cinco em
cinco anos por sufrágio universal e directo pelos cidadãos de toda a Comunidade.
É um órgão comunitário essencialmente consultivo, cabendo-lhe pronunciar-se
sobre a maioria das propostas submetidas ao Conselho. Aprova ainda o Orçamento
da Comunidade e exerce um controlo político que pode ir até à censura da
Comissão.
Desempenha um papel essencial no processo de elaboração, modificação e adoção
da legislatura europeia e formula propostas de natureza política para o reforço da
União Europeia.
Incumbe-lhe, no âmbito das novas competências:
o Aprovar a composição da Comissão da UE
o Aprovar os acordos internacionais mais importantes, que tenham
consequências para a situação financeira e para a legislação da Comunidade…
• Tribunal de Justiça
Assegura o respeito pela legislação comunitária. Resolve os litígios entre os
Estados-membros e as instituições comunitárias, bem como os litígios entre as
entidades privadas e as instituições comunitárias. Assegura o respeito pela unidade
de interpretação do Direito Comunitário.
• Tribunal de Contas
A sua principal atividade é a do controlo do orçamento comunitário. Examina as
contas de todos os órgãos comunitários e consubstancia a sua atuação no relatório
anual que é publicado no Jornal Oficial das Comunidades. Adquiriu com o Tratado
da UE o estatuto de instituição comunitária. Assume uma maior importância no
quadro da assistência que é chamado a prestar ao Parlamento Europeu e ao
Conselho no controlo da execução do orçamento comunitário.
• Comité Económico e Social
É o órgão consultivo por excelência de todos os órgãos comunitários. Assiste a
Comissão e o Conselho na elaboração da legislação comunitária.
• Comité das Regiões
Foi criado como órgão consultivo pelo Tratado da União Europeia e surge como
um importante guardião do princípio da subsidiariedade.
• Banco Europeu de Investimento
Foi criado pelo Tratado de Roma para apoiar o desenvolvimento harmonioso da
Comunidade. É composto por um Conselho de Governadores, um Conselho de
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