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“O que é o Direito?

” – Existem centenas de respostas A Justiça constitui, a principal finalidade do Direito: o


a esta questão., devido a todas as tentativas de Direito não existe sem Justiça, ou sem a tentativa de
definição de Direito serem incompletas. Para alcançar a Justiça. A Justiça é anterior e superior ao
subsistirem, as sociedades humanas necessitam de Direito, devendo orientar a criação do Direito,
regras que definam o que cada um deve ou não fazer. A permitindo aos cidadãos criticá-las e, eventualmente,
ideia de sociedade implica a de ordem e esta a de regra. desobedecê-las: as leis, as decisões administrativas. As
Por isso, a relação entre Direito e sociedade é sentenças devem ser justas, sob pena de poderem ser
insolúvel. O Direito é um fenómeno humano e social, postas em causa através de determinados meios que o
criado pelo e para o Homem para regular as suas próprio Direito reconhece, cria e regula.
relações interpessoais. Regulando, assim, a A justiça não é o único fim do Direito: com ela é
convivência social, o Direito tem como fim atribuir a preciso combinar os imperativos de Segurança: a
cada um o que é seu, ou seja, alcançar a Justiça. A segurança internacional, segurança pública interna, a
Justiça surge, assim, como principal finalidade do segurança individual, a segurança económico-social, e
Direito (embora não seja a única e por vezes seja a segurança jurídica
sacrificada em nome de outros valores, como os da A Justiça e a Segurança não causa problemas: a justa
segurança): o Direito não existe sem Justiça, ou sem a punição de um homicida com uma adequada pena de
tentativa de alcançar a Justiça. prisão é, ao mesmo tempo, um ato de justiça e uma
A forma de vida em sociedade é uma forma de vida garantia de segurança. Mas, por vezes, elas entram em
necessária por natureza ao Homem, essencial à conflito. ex.: a prisão preventiva de um suspeito da
constituição da humanidade do Homem. Esta tendência prática de um crime, imposta por razões de segurança
natural do Homem em viver em sociedade tem várias (impedir a continuação da actividade criminosa,
causas. a necessidade vital e psicológica, necessidade impedir a fuga do suspeito, ou impedir a destruição da
de segurança, necessidade económica, necessidade prova ainda não recolhida pela polícia), pode vir a
política para isso tende em agrupar-se em revelar-se injusta se o arguido for, no final do
comunidades, comunidade familiar, comunidade local, julgamento, absolvido em tribunal
comunidade estadual nas quais a autoridade social, a A protecção dos direitos humanos também pode
qual tem um poder directivo estabelece regras (poder conflituar com a segurança, (como aconteceu, nos EUA
normativo ) tomam decisões (poder decisório), e e no mundo, na sequência dos atentados terroristas de
aplicam sanções (poder sancionatório) a quem 11 de Setembro de 2001), imediatamente os
desobedecer. governantes propõem, os parlamentos aprovam e as
O surgimento do Direito em sociedade é, pois, antes de opiniões públicas aceitam algumas restrições às
tudo, uma questão de coesão social, de segurança liberdades individuais para garantir maiores condições
jurídica e de garantia de direitos. de segurança.
Em sentido objectivo pode dizer-se que o Direito
consiste no conjunto das regras de conduta social A divisão do direito nacional: a summa divisio
aplicáveis aos indivíduos em cada sociedade humana. Direito Público e Direito Privado
Em sentido subjectivo (ou direito subjectivo), encontra- Direito Público e Direito Privado assentam em
se o direito individual de cada um. (ex.: direito à vida, princípios fundamentais diferentes, que influenciam a
à integridade física, à liberdade, à propriedade, direito interpretação e a aplicação das suas normas. Ate a
de voto). “escolha” do tribunais esta dependente desta divisão.
O direito apresenta um carácter sistemático, tem Contudo, ainda hoje não existe consenso quanto ao
diversos fins e apresenta um caracter obrigatório. critério de distinção que serve de base a esta summa
Em suma o direito pode definir-se como sistema de divisio, revelando-se os critérios existentes imperfeitos,
regras de conduta social, obrigatórias para todos os insuficientes.
membros de uma certa comunidade, a fim de garantir A fronteira entre Direito Público e Privado é difusa,
no seu seio a Justiça, a Segurança e os Direitos sendo nalguns casos difícil determinar se uma norma se
Humanos, sob a ameaça das sanções estabelecidas para enquadra no âmbito do Direito Público ou Privado,
quem violar tais regras. havendo ramos do Direito que ficam na fronteira entre
ambos.
Os fins do direito São de Direito Público as normas que visam a
Os fins do direito são a Justiça, a Segurança e tutela/proteção de interesses públicos (Ex.: a norma que
protecção dos Direitos Humanos. proíbe que alguém se aproprie de um bem alheio não
cuida apenas do interesse da vítima, mas, do interesse avançadas e melhores do ponto de vista de protecção
social, sendo, por isso, de Direito Público/Penal). ambiental “MTD”(artigo 2º RLA)
E de Direito Privado as normas que visam a
tutela/proteção de interesses privados. De que forma se encontra caracterizado na lei o
(Ex contrato de compra e venda entre particulares é principio da participação consagrado no art. 66 º
regulado pelas normas do direito privado). nº2 da CRP? (para o que devem socorrer-se do
Em outros termos: se o interesse considerado é um regime jurídico da informação ambiental , do
interesse público, do Estado ou de um ente público RJAIA e do RLA)
menor, é de qualificar como de Direito Público; O principio da participação está consagrado no art 66 º,
Se o interesse considerado é um interesse privado, de nº2 da CRP na medida em que o estado está
indivíduos ou entidades particulares, é de qualificar a responsabilizado pela criação de meios e medidas
norma como de Direito Privado. (desde o controlo da poluição e os seus efeitos nocivos,
Apesar do critério de intresse ser correcto, não serve desenvolvimento de parques e reservas naturais e até
todos os casos, existem exemplos de normas de Direito mesmo um ensinamento para um melhor
Público que visam a proteção de interesses privados e aproveitamento dos recursos naturais, isto como
vice-versa. exemplo) que asseguram um desenvolvimento
Um outro critério é o critério dos sujeitos: assim, são sustentável, através de organismos próprios e com a
normas de Direito Público as que regulam relações participação e envolvimento da população e,
jurídicas em que ambos os sujeitos, ou pelo menos um consequentemente com os diferentes organismos que
deles, são sujeitos públicos e de Direito Privado as compõem a própria unidade do Estado, dado que todos
normas em que ambos os sujeitos da relação jurídica têm dever de cuidar e preservar o meio ambiente. Para
são sujeitos privados. tal, o cidadão comum deve estar devidamente
Finalmente, o critério da qualidade dos sujeitos sendo informado, para isso foi criada uma lei de acesso à
que o Direito Público é o sistema de normas jurídicas informação ambiental (LAIA) onde são enunciadas as
que, tendo em vista a prossecução de um interesse formas como devem ser presente aos cidadãos os
colectivo, conferem para esse efeito a um dos sujeitos organismos responsáveis pela divulgação da
da relação jurídica poderes de autoridade sobre o outro. informação ambiental , tal como auxiliar o público
E Direito Privado é o sistema de normas jurídicas que, desse direito .
visando regular a vida privada das pessoas, não É através da criação destas leis /artigos que é possível
conferem a nenhuma delas poderes de autoridade sobre a participação ativa do publico nos procedimentos de
as outras, mesmo quando pretendem proteger um avaliação de impacto ambiental e licenciamento
interesse público considerado relevante. ambiental.
A fórmula que parece mais adequada a estabelecer a Nestes dois procedimentos a participação publica
distinção entre Direito Público e Direito Privado é a da encontra-se presente nos artigos 14º e 15º do RJAIA e
combinação do critério do interesse e o critério da artigo 15º do RLA.
qualidade dos sujeitos. Aí constam os deveres das autoridades responsáveis
assim como os prazos de consulta pública e
Em que consiste RLA .De que forma concretiza o posteriormente o registo da opinião de cada
principio da prevenção? participante.
A licença ambiental é uma autorização necessária que O relatório de consulta publica é um elemento que
uma entidade pública/privada terá que possuir antes de poderá ajudar na fase decisória.
iniciar qualquer atividade de caracter poluente ou
perigosa para o meio ambiente . Em caracterização do Quais são as fases do procedimento RJAIA?
principio de prevenção o RLA atua de duas formas , a O procedimento de RJAIA inicia-se com a
curto e longo prazo. A curto prazo o RLA emite a apresentação do estudo de impacto ambiental pelo
licença prévia ambiental onde fixa as condições iniciais proponente á Entidade licenciadora ou competente para
do projeto e as condicionantes. Contudo existe a a autorização (art. 12 ; nº1 ) RJAIA.
possibilidade a longo prazo de alterar as condições No lugar de entregar o EIA completo, segundo o art.
iniciais da exploração da atividade pelas entidades 11, o proponente pode apresentar preliminarmente uma
competentes introduzindo novos deveres . Esta situação proposta de definição do âmbito do EIA.
acontece sempre que o meio ambiente exija ou se De seguida a entidade licenciadora encaminha o EIA
verifique a introdução no mercado de tecnologias mais e toda a documentação relevante para a AIA art. 13º,
nº1 RJAIA. Após receber toda a documentação a em causa. Só assim será possível apurar e avaliar, de
autoridade AIA, nomeia a comissão de avaliação a qual forma completa, a totalidade dos interesses envolvidos,
fará a apreciação técnica do EIA (art.3, nº3) RJAIA. públicos e privados, assim como ponderar a
Esta comissão deverá no prazo máximo de 30 dias a diversidade de soluções possíveis.
contam da sua receção deverá dar a sua decisão Sendo que os recursos naturais não podem ser
relativamente á conformidade do EIA (art. 13º, nº 4 agredidos ou usados para além de certos limites
RJAIA). (princípio do aproveitamento racional de recursos,
Caso exista desconformidade no EIA, esta terá que ser artigo 66º, nº2, b) da CRP), já que esses danos podem
fundamentada e assim termina o procedimento AIA ser irreversíveis, a AIA tem um papel importante, pois
(art. 13º , nº 8 RJAIA). Dada a conformidade de EIA , este procedimento destina-se a verificar as
este é enviado para a entidade coordenadora e apoio consequências ecológicas de um determinado projeto
técnico (APA ou CCDR conforme o tipo de projeto) (avaliando as vantagens e desvantagens para o meio
dando-se assim o inicio e consulta pública: O periodo ambiente a curto, médio e longo prazo).
de consulta publicamente é fixado pela autoridade de Este é um procedimento avaliativo que visa concretizar
AIA e segundo o art.14º,nº2 este varia conforme o tipo o princípio da prevenção (artgs 66º, nº 2 da CRP e artg
de projecto. O publico interessado é então titular do 3º, a) da LBA). Os objetivos deste procedimento estão
direito de participação art 14º nº3 RJAIA. Aqui o descritos no artigo 4º do RJAIA, que diz
manifesto será registado em ata (art. 15º , RJAIA ) , essencialmente, que antes de colocar em prática
num relatório de consulta publica (artº 16º RJAIA ) e qualquer projeto, devem ser avaliados os possíveis
na própria DIA (art. 17º-1c) Após o termo de consulta danos sobre o meio ambiente, tal como, admitindo a
publica o envio do relatório de consulta publica a AIA impossibilidade de evitar a totalidade dos danos, deve-
tem o prazo de 15 dias para o envio do relatório de se pensar antecipadamente quais as medidas a pôr em
consulta publica ao presidente da comissão de prática para minimizar ou compensar tais impactes
avaliação (art. 14 º ,-5). negativos.
Por fim temos a fase decisória que está dividida em 3 O mesmo artigo, na sua alínea c) fala que deve ser
momentos . No 1º momento a comissão de avaliação garantida a participação pública e a consulta dos
tem o prazo de 25 dias a contar da recepção do interessados na formação de uma decisão (artg 14º e
relatório de consulta publica para emitir o parecer final 15º RJAIA, explicar), de forma a haver um consenso
do procedimento de AIA á cautoridade de DIA (art. 16º de ambas as partes permitindo chegar também a uma
-1). decisão justa.
No 2º momento a autoridade AIA deve remeter a
proposta DIA (art16º -2 )ao ministro responsável pela Refira-se aos princípios do Direito do Ambiente e à
área do Ambiente (MAMAOT), no prazo previsto no importância que assumem neste domínio.
art.16º n 1 . Os princípios do Direito do Ambiente, são de facto
No 3º momento o ministro responsável deve no prazo muito importantes para esta matéria pois conduzem a
de 15 dias a contar da data de receção da proposta da um desenvolvimento sustentável, criando um equilíbrio
autoridade AIA proferir a DIA final(art 18º 1 ) . entre o desenvolvimento económico e a preservação do
Finalmente a DIA é notificada de imediato quer ao meio ambiente de forma a evitar um desenfreado
proponente quer á entidade licenciadora. crescimento económico que provoque a degradação da
natureza (principio do equilíbrio art.3º, b) LBA).
Em que consiste a AIA? De que forma concretiza o O primeiro princípio do Direito do Ambiente são os
princípio da prevenção? princípios gerais da atividade administrativa que se
Antes de tudo pode-se dizer que a AIA se trata de um encontram nos artgs 266º, 267º e 268º da CRP. Estes
estudo, de um procedimento decisório, ou seja, uma podem ser diferenciados em princípios gerais da
sequência juridicamente ordenada de atos e atividade administrativa, onde se destacam a nível
formalidades tendentes à preparação da prática de um ambiental o principio da igualdade, da
ato administrativo. proporcionalidade, justiça, da participação dos
O procedimento surge como um método decisório interessados (artg 267º, nº5 da CRP) e o principio do
comum a todas as formas de atuação administrativa direito à informação procedimental; a outra parte são os
(sejam eles atos, contratos, regulamentos, atuações princípios orientadores da organização administrativa,
técnicas ou materiais) devendo ser organizado quanto onde se destacam o princípio da desburocratização, da
maior o nº de sujeitos ou mais complexa for a matéria
aproximação dos serviços públicos das populações, da ambientais, intercedendo para uma gestão racional dos
descentralização e da desconcentração. recursos naturais tentando encontrar um equilíbrio
Quanto aos dois primeiros princípios, toda a atividade entre a necessidade de continuar a utilizar o recurso e a
administrativa deve funcionar de modo igualitário face necessidade da sua prevenção.
a todas as situações com que se depara não podendo Quando os princípios anteriores cujo principal objetivo
assim existir entre diversas situações idênticas principal é a prevenção falham e os danos no meio
resultados completamente dispares, por conseguinte, o ambiente acontecem surgem os princípios do poluidor
aspecto do ambiente não é exceção a este princípio no pagador e o da responsabilização por dano ecológico.
qual a atividade administrativa se rege, quanto à Estes princípios ditam que os poluidores devem
proporcionalidade, aludindo ao conceito deste responsabilizar-se pelos seus atos. No caso do princípio
princípio, tanto como a decisão e as medidas aplicadas do poluidor pagador (art.66º h) CRP) e art.3º a) LBA) o
não devem ser desproporcionais ao caso, assim a poluidor é obrigado a corrigir ou a recuperar o
administração não poderá ir além nem ficar aquém ambiente, suportando os encargos e custos e daí
quanto à resposta do facto em concreto. resultam.
Quanto ao princípio da justiça, aqui é permitido à O princípio da responsabilização por dano ecológico,
administração invalidar actos que não caibam nas está consagrado no art.3º, h) LBA, no art. 48º nº1, LBA
determinadas condicionantes jurídicas da sua atividade, e no art. 52º nº3, CRP, visa recompor/reconstruir a
apesar de se considerar tal feito uma afronta aos situação tal como estaria se nunca tivesse ocorrido
valores elementares da ordem jurídica. qualquer dano ecológico.
Relativamente à imparcialidade e boa fé, dois
princípios fulcrais em que a própria administração terá
de tomar as suas decisões com base de critérios
próprios e que não sejam modificáveis em função de
outros elementos e que impedem comportamentos
desleais e incorretos no relacionamento entre a
administração e particulares.
Entre os princípios fundamentais do ambiente, pode-se
destacar o princípio da prevenção (art.66º, d) CRP) e
art.3º, a)LBA), sendo este talvez o mais importante,
pois o seu objetivo é antecipar e evitar lesões no meio
ambiente, corrigindo situações potencialmente
perigosas ou minimizando qualquer dano que possa
colocar em causa a estabilidade ecológica e a sua
capacidade de regeneração.
Outro princípio é o do desenvolvimento sustentável.
Este implica a preservação da qualidade do ambiente
possuindo por critério e limite a possibilidade de
utilização duradoura pelo Homem, que permita a auto-
regeneração ou, pelo menos, a máxima delação
possível da sua exaustão.
A sustentabilidade do desenvolvimento pode ser
analisada segundo 2 perspectivas, a perspectiva
sincrónica e a perspectiva diacrónica. Na sincrónica, ou
seja, quando uma aplicação é considerada no tempo
atual, este princípio traduz a ideia de justiça espacial; já
a diacrónica considera uma aplicação ao longo do
tempo, ou seja, é um princípio de justiça
intergeracional, isto é, de responsabilidade das
gerações actuais em relação às gerações futuras.
Outro dos princípios é o do aproveitamento racional
dos recursos (art. 66º d) CRP). Este principio chama à
atenção para a fragilidade, escassez e finitude dos bens

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