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Bom estudo!
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PROGRAMA (disponível no Sigarra):
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Bibliografia do ponto 1:
- Oliveira Ascensão – páginas 13 a 50; 56 a 64; 80 a 89; 96 a 103; 193 a 223
- Batista Machado – 31 a 49; 55 a 59
- Freitas do Amaral – 165 a 211
- Objeção de consciência – artigos disponíveis no Sigarra
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Há 2 conjuntos de regras que organizam a vida em sociedade:
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ordem existente, são as instituições que lhe são próprias”. Isto porque uma
sociedade não pode ser vista como uma mera justaposição de pessoas. O que
caracteriza e distingue cada sociedade são as ligações estabelecidas entre os seus
membros.
Isto justifica-se pelo facto de o Homem não possuir um instinto e serem-lhe
apresentadas múltiplas opções no que diz respeito à sua ação, o que dificulta o
estabelecimento de relações entre nós. Por isso, o ser humano precisa de padrões
de conduta socialmente sancionados que cada cultura destaca da multiplicidade
possível de modos de conduta humana, elevando-os a padrões vinculantes para
todos os membros do grupo.
É neste contexto que nascem as instituições. São realidades objetivas e
supra-individuais, pois perduram no tempo, independentemente de mudarem as
pessoas, mas não têm existência própria, ou seja, “vivem enquanto essas
significações objetivas encarnam nos indivíduos que são a matéria da sociedade e
através da sua adesão as mantêm em vida” (Oliveira Ascensão).
● Variam de povo para povo e surgem nos fatores mais estratégicos da vida
em sociedade;
● São criações sociais e culturais, mas tendem para a juridificação, ou seja, a
serem absorvidas pelas normas jurídicas.
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No entanto, o que efetivamente se verifica é que uma conduta social que se
afasta de uma norma vigente só adquire caráter normativo quando se generaliza a
convicção de que é justa e correta, ou seja, quando se afirma como legítima e
vinculante.
Batista Machado ainda acrescenta que “muitas vezes acontece que a
conduta de facto mais frequente diverge da conduta normativamente imposta como
desejável e correta sem que por isso a norma seja destruída por revogação”.
Exemplo: o facto de muita gente violar a norma que proíbe o aborto não quer
dizer que essa norma seja substituída por outra.
Posto isto, Batista Machado aponta 3 reservas a esta teoria:
1. “Uma conduta de facto generalizada só conduz a uma modificação normativa
quando é acompanhada da convicção da correção e validade da máxima que
preside a essa conduta”.
2. Não é função do Direito limitar-se a assumir como seu o conteúdo de condutas
socialmente praticadas. O Direito pertence à ordem do “dever ser” e tem uma
dimensão orientadora da conduta social.
Nota:
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● Encontramo-nos perante uma crescente aceitação desta corrente.
● O sistema jurídico português é romano-germânico (influência do Direito
romano e alemão).
● Em Portugal, a principal fonte de Direito é a lei, logo a regra do precedente
não se aplica.
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íntimo, assenta na relação do crente perante Deus, mas repercute-se também na
ordem social, ordenando condutas exteriores de membros da sociedade. As normas
religiosas apresentam uma dimensão instrumental, porque se destinam a tornar
possível o que não pertence ao mundo terreno.
- Ordem de trato social – são as normas de etiqueta e cortesia. Destinam-se a
tornar a convivência em sociedade mais fluída e agradável, mas não são essenciais
à conservação e progresso sociais. É expressa pelos usos e convencionalismos
sociais. As normas de trato social caracterizam-se por um caráter inorganizado da
sua génese e pela ausência de coercibilidade organizada, o que significa que a
sanção à violação das normas de trato social é a reprovação social (ex: rompimento
do casamento).
Nota: Oliveira Ascensão distingue entre ordens normativas éticas e não éticas,
afirmando que a ordem de trato social não goza de imperatividade, porque se basta
com a conformidade exterior e, por isso, não tem a componente valorativa que está
implícita na qualificação de uma ordem como ética.
- Ordem jurídica – dada a sua importância, será aprofundada mais à frente, mas,
como diz Oliveira Ascensão, “esta pauta os aspetos mais importantes da
convivência social e exprime-se através de regras jurídicas”.
Todas elas influenciam a nossa conduta em sociedade.
Há uma tendencial sobreposição das normas jurídicas e morais, mas nem
todas as normas jurídicas são morais, porque há normas jurídicas que não têm
qualquer tipo de elemento moral (ex: normas de trânsito; prazo para pedir recurso
no tribunal, etc).
Críticas:
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● Há regras do Direito que não têm qualquer conteúdo moral.
Exemplos: abertura das câmaras legislativas ou uniformes dos militares.
● Há normas jurídicas que, na sua aplicação ao caso concreto, podem implicar
consequências tidas pela moral dominante como imorais.
Teoria dos círculos secantes → Há uma parte das normas jurídicas e das normas
morais cujo conteúdo se sobrepõe, ou seja, é comum (sobretudo no domínio penal).
No entanto, há normas morais que não são jurídicas e há normas jurídicas que não
são morais.
Críticas:
Críticas:
● Como vamos ver mais à frente, há normas jurídicas que não gozam de
coercibilidade e não deixam, por isso, de ser normas jurídicas.
Exemplo: Direito Internacional Público
Crítica:
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● Oliveira Ascensão afirma que é falso que a intenção seja irrelevante para o
Direito e que a conduta seja irrelevante para a Moral (“é falsa a demarcação
de compartimentos estanques e a caracterização operada, quer do Direito,
quer da Moral”).
Exemplo: Legítima defesa, uma vez que, se o lado externo fosse suficiente para a
atuação jurídica, a pessoa que mata outra em legítima defesa iria ser julgada pelo
ato de matar outrem. No entanto, o facto de a conduta adotada ter sido em legítima
defesa (lado interno) faz com que a consequência jurídica seja completamente
diferente. Deste modo, o lado interno interessa e muito ao Direito.
Nota: Sem comportamento (ou seja, sem ato/conduta), o Direito não atua, ou seja, a
mera vontade, se não for traduzida em atos, carece de relevância jurídica.
Exemplo: Um funcionário público que queira fugir ao fisco não consegue, pois o
dinheiro fica automaticamente retido mal o salário lhe cai na conta. Tem intenção,
mas não o faz e, por isso, o Direito não intervém.
Relação entre normas jurídicas e normas morais
O princípio que regula a relação entre as normas jurídicas e as normas
morais é um princípio a que se dá o nome de princípio da não-litigância /
princípio da não-beligerância.
Segundo este princípio, o Direito pode permitir um ato tido como imoral, mas,
por princípio, não deve impor um ato tido como imoral.
Duas manifestações deste princípio:
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1. Incumprimento de uma norma jurídica que é impositiva para o objetor,
ou seja, existe uma norma jurídica que obriga a pessoa a adotar uma
determinada conduta e a pessoa desrespeita esse comando jurídico/lei.
2. Esse incumprimento é motivado por razões de consciência (religiosas,
morais, familiares, político-ideológicas, filosóficas, etc).
3. Tem de ser exercida com caráter individual, ou seja, não pode ser
exercida por grupos nem por pessoas coletivas.
4. Reveste um caráter pacífico, ou seja, não pode haver recurso à violência.
5. Não pode gerar prejuízo grave para terceiros. Uma objeção de
consciência alargada põe em causa a segurança.
6. Esse comportamento de incumprimento é tolerado pela ordem jurídica,
isentando o sujeito de qualquer sanção.
● Está prevista no artigo 41º nº6 da CRP, inserindo-se na parte dos DLG;
● É uma norma precetiva (que se dirige diretamente aos cidadãos) e não
pragmática (que se dirige ao Estado – ex: direito à habitação);
● No entanto, é uma norma de eficácia indireta, ou seja, a sua aplicação aos
casos concretos depende da lei ordinária – é preciso uma lei que concretize,
para cada caso, o modo de execução da objeção de consciência.
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A Ordem Jurídica
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suceder». O Direito das Sucessões é uma realidade objetiva: está-se mais perto da
ideia de uma ordenação da vida social. Pelo contrário, o direito de suceder é uma
realidade subjetiva: refere-se necessariamente a um sujeito dado para significar que
ele goza de uma certa posição favorável”.
Nota: Torna-se mais fácil perguntarmos qual o ponto de vista de um sujeito perante
aquelas realidades: pode-se dizer que o Joaquim tem direito de suceder a Jerónimo,
mas não que Joaquim tem o Direito das Sucessões. (Oliveira Ascensão).
O autor afirma que o Direito objetivo tem prioridade sobre o Direito subjetivo,
isto porque existe o direito subjetivo deriva do direito objetivo (ex: “Se o Joaquim
tem o direito de suceder é porque, de harmonia com o Direito das Sucessões, tal
prerrogativa lhe é conferida”).
Nota: Partindo desta distinção, o autor conclui que ordem jurídica e Direito não são
a mesma coisa, pelo que a primeira é mais ampla, porque inclui também os direitos
subjetivos.
Características da ordem jurídica
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aos destinatários das normas decidirem se elas se lhes aplicam ou não (as normas
jurídicas são aquelas que proíbem ou obrigam a uma determinada conduta).
Oliveira Ascensão caracteriza-as, dizendo que “não é uma mera descrição dum
processo desencadeado por um ato humano ou facto da natureza, não é também
uma espécie de conselho – intenciona em absoluto realizar-se”.
No entanto, dizer que a norma jurídica é imperativa, não é o mesmo que dizer
que todas as normas jurídicas são imperativas.
Exemplos: normas permissivas (autorizam mas não obrigam) e normas supletivas
(normas que podem ser afastadas por vontade das partes).
A consequência da imperatividade é que a violação da norma jurídica gera
uma sanção. Segundo Oliveira Ascensão, uma sanção consiste numa
“consequência desfavorável normativamente prevista para o caso de violação de
uma regra, e pela qual se reforça a imperatividade desta”.
Nota: Dizer que opto por não cumprir a norma e prefiro sujeitar-me à sanção é falso,
porque a sanção não é uma escolha, mas sim uma repreensão/punição. Nas
palavras de Oliveira Ascensão, “a ordem jurídica não se cifra num catálogo de
condutas que se apresentam à disposição dos destinatários, de tal modo que estes,
pesando as consequências, escolham indiferentemente o que mais vantajoso se
lhes apresente. Implica antes uma pretensão de aplicação incondicional”.
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- *Heteronomia → Segundo Oliveira Ascensão, a aceitação desta característica
depende da maneira como a entendemos. É correto afirmar que o Direito é uma
ordem heterónoma, no sentido em que não é uma criação do sujeito, mas sim
exterior a ele. No entanto, não podemos esquecer a importância da sociedade e da
coletividade na criação do Direito. Estabelecendo uma comparação entre a ordem
jurídica e a ordem moral, o autor afirma que “se se pretender que a moral é
autónoma porque a sua manifestação passa através da consciência do sujeito, e o
Direito não, a caracterização pode ser aceite para a moral e é também verdadeira
no direito”.
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de facto, há normas jurídicas que não gozam de coercibilidade ou têm essa
coercibilidade muito mitigada, como:
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intervenção do Estado na vida privada. No artigo 1672º do Código Civil,
estabelecem-se as responsabilidades mútuas dos cônjuges mas, apesar de
estes aspetos serem essenciais para a ordem jurídica, a sanção de eventuais
violações é praticamente inexistente, só se aplicando apenas em casos
extremos.
- Obrigações naturais (artigo 403º do CC) – são obrigações cujo
cumprimento o credor não pode exigir coativamente, mas, se o devedor
cumprir voluntariamente, o credor pode reter a prestação, não estando
obrigado a devolvê-la. Vejamos os seguintes exemplos:
Exemplos:
- Trabalho prestado pelos filhos em auxílio dos pais;
- Dívidas de jogo (tolerado) e aposta que não sejam reconhecidas juridicamente
(como um jogo de cartas em recinto familiar);
- Prescrição (quando passou um determinado período de tempo e a dívida deixa de
ser exigível em tribunal).
IMPORTA DESTACAR QUE TUDO ISTO SÃO EXCEÇÕES – A GRANDE
MAIORIA DAS NORMAS JURÍDICAS GOZAM DE COERCIBILIDADE!
Como já vimos, a coercibilidade corresponde à possibilidade de aplicação da
sanção pela força, ou seja, possibilidade de aplicação coativa de uma sanção.
Qual o papel da coação no Direito?
De uma maneira geral, o Direito é visto por todos os sociólogos como um
instrumento de controlo social particularmente eficaz, uma vez que consiste num
conjunto de normas assistidas de uma sanção socialmente organizada. É
exatamente esta característica (coercibilidade), como vimos anteriormente, que
distingue a ordem jurídica das restantes ordens sociais.
Destacam-se 2 correntes doutrinárias:
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de o Direito não se definir pela coercibilidade, esta é uma característica
resultante da própria natureza do Direito e, por isso, o autor afirma que “num
mundo de homens imperfeitos, a coercibilidade é essencial para assegurar,
não a essência, mas a vigência do Direito e essa coercibilidade é legitimada
pela justiça, procurada pela ordem jurídica”. Daí que o recurso a meios de
coação para repor a justiça seja, na sua opinião, legítimo e exigível.
● Viver honestamente
● Não prejudicar ninguém
● Atribuir a cada um aquilo que é seu
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Oliveira Ascensão aponta ainda para o facto de que não se pode identificar
o Direito e a justiça, uma vez que “o Direito ultrapassa muito o domínio do justo”.
Isto porque, se assim fosse, poucas ordens jurídicas subsistiam, uma vez que “a
ordem internacional é injusta; e injusta é a maioria das ordens nacionais”.
Nota: A justiça portuguesa tem origem nas civilizações grega e romana, tem
influência judaico-cristã e da Revolução Francesa (liberdade, igualdade,
fraternidade).
Elementos lógicos da justiça:
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comunidade” gera desigualdades, pois não se tem em conta o mérito de cada
pessoa.
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lhe compete é que é possível exigir que se comporte dessa forma (“sem segurança
a ordem não existe ou é imperfeita” – Oliveira Ascensão). Podemos dizer, portanto,
que é uma das exigências feitas ao Direito. A segurança promove a estabilidade, a
previsibilidade, a confiança no tráfego negocial e isso é essencial à convivência
pacífica.
A segurança associada à previsibilidade do comportamento é essencial ao
Direito. Não se pode promover a convivência pacífica em sociedade se as pessoas
não sabem como se comportar ou o que esperar dos outros.
Manifestações da segurança no ordenamento jurídico:
(Como é que o Direito promove a segurança?)
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Para Batista Machado…
Apesar de o valor mais importante ser a justiça, há casos em que a própria
praticabilidade do Direito exige que o valor da segurança prevaleça sobre o valor da
justiça, no sentido de promover essa mesma justiça. O autor diz que “as realidades
ou valores de escalão inferior na estrutura ôntica do mundo têm um maior peso que
as realidades ou valores de escalão superior, por serem aqueles o necessário
suporte deles”. Pôr em causa esta operacionalização, em último grau, afeta a
própria justiça.
Assim, “uma justiça sem segurança seria vazia de eficácia e, portanto, não
passaria de piedosa intenção. Já uma segurança sem justiça representaria uma
situação de pura força”.
Institutos jurídicos onde prevalecem preocupações de segurança:
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Ius strictum – técnica de redação que usa conceitos específicos com um sentido
relativamente fechado, de mais fácil apreensão. Normas com um conteúdo mais
claro, preciso e fechado → PREDOMÍNIO DA SEGURANÇA
PREDOMÍNIO DA JUSTIÇA
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segurança é assegurada, sobretudo, pela possibilidade de recurso a um “poder
neutro” (o poder judicial) para defesa dos direitos, liberdades e garantias próprios
dos cidadãos.
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um funeral. E foi por isso que Antígona não aceita o ato desumano do tio,
desobedecendo-lhe e, assim, sepultando o irmão. Creonte acaba por descobrir e
Antígona é levada à sua presença, confessando, mesmo sendo condenada à morte,
que ousou desobedecer à lei, porque:
“Não são essas as leis que eles (os deuses) determinaram para sempre aos homens; e eu nunca
pensei que as tuas proibições fossem tão poderosas que pudessem permitir a um simples mortal
violar outras leis, as leis não escritas e invioláveis dos deuses”.
Roma
- Na Roma clássica, ainda antes de Cristo, o Direito Natural é proclamado, descrito
e explicado em palavras de forte vigor intelectual por Cícero:
“Existe, pois, uma lei verdadeira, que é a reta razão, conforme à Natureza, presente
em todos os homens, constante e sempre eterna”.
Surge, assim, a conceção clássica do Direito Natural:
Existe uma ordem natural, que foi criada por Deus. Essa é descoberta pela
razão humana e dela resulta o Direito Natural, que impõe direitos e deveres aos
homens aos quais estes devem obediência, sob pena de desrespeitarem a própria
natureza humana. As suas normas são universais, eternos e imutáveis e, deste
modo, o Direito positivo não as pode alterar.
Nota: Nesta época, surge também a figura de Ulpiano que diz: o Direito Natural é
“aquele que a natureza ensina a todos os animais. Na verdade, este direito não é
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próprio do género humano, mas comum a todos os animais que vivem na terra e no
mar, incluídas as aves”.
Idade Média
- O Cristianismo vem dar ainda mais força à ideia de Direito Natural, porque
apresenta o seu Deus, único e verdadeiro, como criador do universo e proclamou a
superioridade da lei divina face à lei humana.
- Entre vários autores, destaca-se S. Tomás de Aquino, para o qual o mundo e o
homem foram criados por Deus, mas a atuação divina não se esgotou nesse
primeiro momento: continua todos os dias a exercer-se. No entanto, não intervém
caso a caso, atua sim “por causas segundas”, isto é, estabelece as leis gerais do
universo e deixa que os acontecimentos decorram entretanto.
- Existe uma grande diferença para com a conceção greco-romana. Isto porque S.
Tomás de Aquino reduz consideravelmente o conteúdo do Direito Natural,
aumentando na mesma proporção a função e a importância do direito positivo.
Renascimento e o racionalismo
- Em meados do século XV dá-se o Renascimento.
- As transformações dadas no Renascimento refletiram-se naturalmente na ordem
jurídica: não negaram o jusnaturalismo, mas dividiram-no em jusnaturalismo
religioso (de base divina) e o jusnaturalismo racionalista (de base humana). A figura
principal desta época é Hugo Grócio.
- Para este autor, “o direito natural é imutável, mesmo para Deus, e sempre existiria,
mesmo que Deus não existisse”. Deste modo, o Direito Natural é um produto da
razão humana e não da vontade divina.
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● O Direito Natural não é direito, pois Deus não existe (origem divina) e nem
pode ser aceite como uma dedução racional de cada indivíduo, porque,
assim sendo, qualquer pessoa poderia inventar a sua maneira de Direito
Natural;
● O Direito Natural não é direito, dado que não é promulgado pelas autoridades
sociais legitimadas para o fazer;
● O Direito Natural não é direito, uma vez que não há qualquer consenso sobre
o seu conteúdo;
● O Direito Natural não é direito, visto que a violação das suas normas não
gera nenhuma sanção.
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extraindo daí a legitimidade da sua desobediência. Já Hart não acredita no Direito
Natural, considerando juridicamente válida qualquer norma produzida de acordo
com as regras estipuladas para se elaborar leis, independentemente do seu
conteúdo, sendo, portanto, obrigatória a sua obediência. Coloca, assim, a tónica,
não em termos jurídicos, mas em termos políticos, ou seja, o combate às leis
imorais e injustas deve ser feito politicamente e não juridicamente.
Em suma, a legitimidade do Direito natural foi modificando ao longo do tempo:
1. “Uma boa parte dos valores humanos supralegais que permitem aferir da
legitimidade ou ilegitimidade do Direito positivo são valores jurídicos” e, por
isso, esse juízo de legitimidade deve caber ao Direito e não à política. Ora,
rejeitando o Direito natural, teria necessariamente que se fazer esse juízo
com recurso à política, porque nada mais haveria dentro do Direito. Não deve
ser a política a dizer o que é lícito ou não para o Direito, mas sim o
próprio Direito. Para o Doutor Freitas do Amaral, os três valores
fundamentais do Direito, que dão corpo ao Direito natural, são a justiça, a
segurança e a dignidade da pessoa humana (proteção dos direitos
humanos).
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comunidade, foi-lhe imposto) e, além disso, a comunidade podia ter aderido ao
regime que foi derrubado pela revolução.
Dr. Freitas do Amaral define esse núcleo essencial como sendo constituído por
“todos os valores, normas e princípios que tenham a ver com o respeito devido à
dignidade da pessoa humana, na sua tripla dimensão política, económica e social”.
Nota: A metáfora normalmente utilizada é a lógica de pêndulo – há princípios
fundamentais comuns a todos os tempos e locais (têm um ponto fixo comum), que é
proteção da dignidade da pessoa humana, mas as suas concretizações vão
variando em função da cultura.
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II. Ramos do Direito
Bibliografia do ponto 2:
- Oliveira Ascensão – páginas 333 a 361
- Freitas do Amaral – páginas 213 a 340
Introdução
A ordem jurídica é una, mas o seu estudo impõe demarcações de setores –
ramos do Direito. Freitas do Amaral concebe o Direito objetivo como uma árvore,
que representa o conjunto da ordem jurídica; o tronco é constituído pelos valores
jurídicos superiores e pelos princípios gerais comuns a todos os ramos do Direito;
os ramos são, por sua vez, as várias partes ou divisões do direito objetivo,
diferenciadas em função da matéria regulada pelas normas jurídicas.
A divisão em ramos de Direito é uma divisão que vem da ciência jurídica, foi
criada por quem faz doutrina jurídica (ou seja, Direito enquanto ciência jurídica), não
para separar o Direito em compartimentos estanques, sem ligação uns com os
outros, mas sim para ser mais fácil estudar. Isto porque é impossível uma pessoa
conhecer a totalidade das normas jurídicas. O que se fez foi criar divisões que
permitissem agrupar as normas jurídicas com base em critérios de afinidade entre
elas, assim tornando mais acessível a compreensão do sistema jurídico como um
todo. Esta necessidade cedo se fez sentir, com a divisão, em Roma, de toda a
ordem jurídica em Direito Público e Direito Privado.
No entanto, importa apontar que, na prática, os problemas jurídicos aparecem
como problemas da vida real, cuja solução passa inevitavelmente pela combinação
de vários ramos do Direito.
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entidades particulares). Relativamente a este critério, e pelas razões de
seguida mencionadas, Oliveira Ascensão considera este critério
insustentável, ao passo que Freitas do Amaral considera que continua a ser
adequado na maioria dos casos, mas há exceções. Ambos tecem uma crítica
ao mesmo:
Crítica: Não existe uma divisão rígida entre o que é interesse público e privado. O
interesse público promove interesses privados de cada cidadão e o interesse
privado é protegido porque existe um interesse público nesse sentido. Há normas de
direito público que protegem a realização dos interesses particulares, bem como
normas há que visam proteger, na esfera da vida privada dos particulares, certos
interesses públicos.
Para tentar salvar este critério introduziu-se uma correção: o Direito público
promove predominantemente interesses públicos e o Direito privado promove
predominantemente interesses privados. Mas, como diz Oliveira Ascensão,
introduzir um juízo de predominância num critério que tem como objetivo facilitar a
realidade, cria insegurança e incerteza. Portanto, não serve, é insuficiente. E, por
isso, avança-se para um segundo critério.
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despojados do seu poder de autoridade (como lhe chama Freitas do
Amaral) ou poder de império (relação de paridade entre as partes em termos
de poder).
Exemplo: Expropriação de um terreno – Direito Público
Compra de um terreno – Direito Privado
A partir daqui, Freitas do Amaral define estes dois ramos do Direito da seguinte
maneira:
Direito Público – “sistema de normas jurídicas que, tendo em vista a prossecução
de um interesse coletivo, conferem, para esse efeito, a um dos sujeitos da relação
jurídica poderes de autoridade sobre o outro”.
Direito Privado – “sistema de normas jurídicas que, visando regular a vida privada
das pessoas, não conferem a nenhuma delas poderes de autoridade sobre as
outras, mesmo quando pretendem proteger um interesse público considerado
relevante”.
Nota: Freitas do Amaral – Tem havido dois movimentos de sentido contrário que
aproximam, e até sobrepõem, os dois ramos: a publicização do direito privado e a
privatização do direito público. Esta aproximação entre eles faz com que, por vezes,
uma mesma situação seja simultaneamente regulada por normas de direito público
e de direito privado.
Segundo Oliveira Ascensão:
Ramos do Direito: setores da ordem jurídica compostos por conjuntos de normas
delimitadas segundo o seu conteúdo. O conteúdo de cada ramo do Direito é
estruturado por intermédio de princípios gerais próprios que lhe conferem
identidade.
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Isto porque há normas que têm por objeto direto as condutas dos indivíduos (ex:
criminosos de guerra OU o próprio recurso a tribunais internacionais pelos sujeitos
individuais).
Oliveira Ascensão entende que DIP não pode ser considerado nem Direito
Público, nem Direito Privado, uma vez que esta divisão centra-se no âmbito interno
dos Estados. As relações regidas por ele não são de subordinação, mas de
coordenação, pois os sujeitos regulados por ele são entidades soberanas.
Direito da União Europeia – segundo Freitas do Amaral, é o “sistema de normas
jurídicas que regulam a organização e o funcionamento da União Europeia, bem
como os direitos fundamentais dos cidadãos europeus, a fim de prosseguir a
gradual integração política, económica e monetária dos seus países membros, os
quais convencionam para o efeito o exercício em comum dos poderes necessários à
construção da unidade europeia”.
Dentro das fontes de Direito da UE, existem 2 tipos:
- Direito originário – constituído pelos tratados da União Europeia, o segmento do
DIP (Roma, Maastricht, etc).
- Direito derivado – normas jurídicas produzidas pelos órgãos da União Europeia.
São Direito interno da UE, sendo supranacional face aos países (ex: regulamentos e
diretivas).
Direito dos organismos intermédios (segundo Oliveira Ascensão) / Direito
corporativo (segundo outros autores) – ramo do Direito que congrega as normas
jurídicas infraestaduais criadas por ordens institucionais menores, que têm uma vida
jurídica autónoma em relação à vida do Estado (porque não estão em causa normas
infraestaduais com origem na administração pública, como os municípios, mas sim
normas criadas por organismos que representam diferentes categorias morais,
culturais, económicas ou profissionais – artigo 1º nº2 do Código Civil). É um poder
originário (não deriva do Estado) e abrange as normas que regulam a constituição,
estrutura e funcionamento dos organismos corporativos, sejam elas de origem
infraestadual ou estadual, bem como as normas criadas por esses organismos ao
abrigo do seu poder jurisgénico (poder de criar Direito).
Exemplo: Ordem dos advogados; Ordem dos médicos; Direito do desporto é um
dos maiores exemplos.
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Direito Constitucional – segundo Freitas do Amaral, é o sistema de normas
jurídicas que regulam a organização e o funcionamento dos poderes do Estado,
asseguram a proteção da constitucionalidade das leis e dos direitos fundamentais,
definem as tarefas essenciais do Estado e os principais objetivos da governação
pública. Ocupa o lugar central, pois é ele que caracteriza o Estado como detentor do
poder soberano. No entanto, apesar de a maioria das normas constitucionais
estarem presentes na Constituição, há normas constitucionais que não estão lá
previstas, mas sim dispersas por leis avulsas (ex: lei do Tribunal Constitucional, lei
da nacionalidade, o regimento da Assembleia da República, etc).
Direito Administrativo – segundo Oliveira Ascensão, é o sistema que regula a
organização e atividade dos órgãos da administração pública enquanto tais na
prossecução de interesses coletivos, bem como a atividade de outros entes públicos
também na prossecução de interesses coletivos. A doutrina costuma discutir muito a
questão de saber distinguir o Direito Administrativo do Direito Constitucional.
Direito Tributário – segundo Freitas do Amaral, é um sistema de normas que
regulam a administração das receitas públicas (conseguidas através de taxas e
impostos), estabelecendo os direitos e garantias das entidades públicas e os direitos
dos particulares no que concerne a irregularidades cometidas nessa atividade.
O autor aponta-o como sub-ramo do Direito Administrativo, pois é constituído por
normas que estabelecem poderes de autoridade do Estado e dos entes públicos
menores sobre os particulares, bem como deveres, encargos e sujeições dos
últimos perante os primeiros, assim como é também constituído por normas que
impõem limitações, restrições e encargos de direito público aos entes públicos. No
entanto, este ramo autonomizou-se.
Direito Fiscal – segundo Freitas do Amaral, é um sistema de normas jurídicas que
definem impostos e o seu montante a pagar pelos cidadãos e pelas empresas ao
Estado e aos entes públicos menores. Além disso, protege/salvaguarda os direitos
dos contribuintes perante a administração tributária e vice-versa. É um sub-ramo do
Direito Tributário.
Direito Penal – segundo Freitas do Amaral, é o conjunto das normas jurídicas que
qualificam os factos ilícitos de maior gravidade social como crimes e estabelecem
para eles as penas e medidas de segurança tidas como adequadas. É um ramo
particularmente sensível ao modelo político que vigora no país e aos respetivos
princípios constitucionais. Nos Estados democráticos, em caso de dúvida, adota a
regra de que “mais vale não condenar um culpado do que condenar um inocente” (in
dubio pro reo). Não é o arguido que tem de provar em tribunal a sua inocência, mas
a acusação pública tem que mostrar que ele é culpado.
Nota: Oliveira Ascensão é o único autor em Portugal que defende que o Direito
Penal é um ramo do Direito Privado, justificando que os deveres penais são deveres
dos indivíduos e a aplicação das penas em termos judiciais não implica que o Direito
Penal regule a atividade do Estado.
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Maioria da doutrina: o que está em causa é a conduta do sujeito para com a
sociedade como um todo, que é representada pelo Estado, através do Ministério
Público.
Por causa do peso do Direito Penal, ele obedece a um princípio estrito de
tipicidade ou legalidade, o que significa que só há crimes se houver previsão legal
anterior nesse sentido e a aplicação da pena também depende de uma previsão
legal anterior. Isto porque, como a consequência do Direito Penal é tão grave, tem
de haver sempre uma norma a prevê-la para que possa ser aplicada. E por esta
razão, é absolutamente proibida a analogia de normas penais incriminadoras.
As sanções criminais são penas e medidas de segurança. Existem 2 tipos
de penas principais – a prisão e a multa. As medidas de segurança aplicam-se
quando o agente é considerado inimputável, ou seja, alguém que não consegue
avaliar a ilicitude da conduta ou não consegue agir de acordo com essa avaliação.
Nota: A multa é uma sanção exclusiva do Direito Penal. Relaciona-se com a
privação do património, ou seja, elementos do património são confiscados (no caso
da multa, é o dinheiro).
Direito de Mera Ordenação Social – segundo Freitas do Amaral, regula os atos
ilícitos de menor gravidade social por comparação com o Direito Penal, qualificando-
os como “contraordenações”, e estabelece sanções pecuniárias designadas por
coimas. Há, na doutrina, quem defenda que o Direito de Mera Ordenação Social é
um sub-ramo especial do Direito Penal, mas Freitas do Amaral não concorda,
advogando que este segundo é caracterizado pelo binómio crime-pena, aplicada por
um tribunal, para os factos ilícitos de elevada gravidade social e, no primeiro, não há
nem crimes, nem penas, nem factos ilícitos de forte gravidade social, sendo que as
coimas são aplicadas por um órgão administrativo.
Nota: Multa ≠ Coima: São ambas em dinheiro, mas a multa é uma sanção penal,
enquanto a coima é uma sanção contraordenacional.
Direito Processual – segundo Oliveira Ascensão, disciplina a atividade dos juízes
na solução dos casos que lhe são apresentados. Diz-se que é direito adjetivo,
porque é instrumental face aos restantes ramos do direito que se designam por
substantivos (diz qual é a tramitação a seguir para resolver as situações, mas não
dá soluções para problemas jurídicos concretos). É muitas vezes ajustado ao ramo
do direito substantivo, sendo que, em princípio, a cada ramo de direito substantivo
corresponde um ramo adjetivo que lhe dá realização. Até agora, este
desenvolvimento já foi consolidado nos 2 seguintes sub-ramos:
35
disponibilidade das partes (é o autor que decide se intenta a ação ou não e o
réu se contesta ou não a ação; as partes definem que provas apresentam, o
que alegam, se chegam ou não a acordo, etc). No entanto, o juiz não está
numa posição passiva, cabendo-lhe assegurar que o processo chegue
efetivamente à descoberta da verdade.
Nota: Ónus da contestação – se um réu ignorar uma petição inicial e não contestar
dentro do prazo, os dados elencados na petição inicial são dados como aceites por
acordo.
Sentença – proferida por apenas 1 juiz.
Acórdão – proferido por 3 ou mais juízes.
Dentro do processo civil, é possível distinguir:
36
Ramos do Direito Privado
Nota inicial: Todos os ramos do Direito de seguida enunciados constituem os
principais a saber, mas cada vez são mais as ramificações da árvore definida por
Freitas do Amaral daquela que é a ordem jurídica portuguesa.
Direito Civil – considerado o tronco do Direito Privado, é designado habitualmente
como o Direito Privado comum, por regular os setores de que todos participam.
Segundo Oliveira Ascensão, disciplina a vida das pessoas comuns, abstraindo de
qualificações especiais. Provavelmente é o mais antigo ramo do direito, sendo, por
isso, o que foi mais cultivado, trabalhado e construído. Como diz Freitas do
Amaral, “o Direito Civil cobre com o seu manto regulador toda a vida privada dos
indivíduos, desde o berço até ao túmulo”, além de regular, também, as diferentes
maneiras de organização coletiva de grupos de indivíduos. A sua principal
codificação no ordenamento jurídico português é o Código Civil. Quase todas suas
normas constam nesta codificação, mas também há normas avulsas que regulam
matéria civil.
Tendo por base a classificação germânica, é constituído por 5 livros – Parte
geral; Direito das obrigações; Direito das coisas; Direito da família; Direito das
sucessões.
Nota: a usucapião surge nos direitos reais, porque gera um direito real de
propriedade por aquisição originária.
37
Nota: A 3 factos correspondem 4 vínculos, porque o casamento gera afinidade e
parentesco.
38
trabalhador às ordens do empregador e por causa da especial proteção do
trabalhador que caracteriza este ramo do Direito, muitos autores entendem que o
direito do trabalho não é um ramo do Direito Privado, mas sim do Direito Misto
(abrange uma dimensão do Direito Privado e uma dimensão do Direito Público),
porque se assume que não há igualdade entre as partes na relação laboral (o
trabalhador está em desvantagem face ao empregador).
Há duas grandes dimensões no direito do trabalho:
39
Existe uma tendência na atualidade de autonomizar outros ramos do Direito,
como, por exemplo:
40
dinamizador da ordem jurídica, porque altera as situações existentes, provocando
efeitos de Direito.”
Estes efeitos traduzem-se na constituição, modificação ou extinção de situações
jurídicas. Não são factos jurídicos os acontecimentos naturais ou humanos
indiferentes para o Direito (ex: convidar alguém para passear ou usar um vestido de
determinada cor). Portanto, todos os factos que não produzam efeitos de Direito não
são factos jurídicos. No entanto, mesmo um facto natural ascende à categoria de
facto jurídico se produzir efeitos de Direito como, por exemplo, uma tempestade que
fez naufragar um navio.
Nos factos jurídicos temos duas possíveis categorias: os puros factos jurídicos e os
atos jurídicos:
41
resultado jurídico. O que está em causa é saber se existe ou não
coincidência entre a vontade das partes dirigida a um determinado
resultado e o resultado jurídico efetivamente produzido.
42
Os negócios jurídicos bilaterais são chamados de contrato. São atos
jurídicos compostos por duas ou mais declarações de vontade, de
sentido oposto mas convergente, visando a produção de um resultado
jurídico unitário, coincidente com as vontades manifestadas. Ex:
compra e venda, arrendamento, empreitada.
Dentro dos negócios jurídicos bilaterais, é possível distinguir negócios
jurídicos bilaterais unilaterais (contrato unilateral ou não sinalagmático)
de negócios jurídicos bilaterais bilaterais (contrato bilateral ou
sinalagmático). O critério que pressupõe a distinção entre os contratos
unilaterais e os contratos bilaterais está relacionado com o número de
obrigações geradas pelo contrato e a sua titularidade.
Por isso é que se diz que a norma jurídica ou obriga, ou faculta ou confere um
direito subjetivo.
Mas o que é um direito subjetivo?
Corresponde a um poder atribuído a uma determinada pessoa para satisfação de
um interesse próprio ou alheio, acompanhado da faculdade de dispor dos meios
coercitivos que protegem esse poder. Ao poder do sujeito ativo corresponde o
dever/obrigação do sujeito passivo.
Segundo Santos Justo, “o direito subjetivo é a faculdade ou poder, reconhecido pela
ordem jurídica a uma pessoa, de exigir ou pretender de outra um determinado
comportamento positivo (facere) ou negativo (non facere) ou de, por ato da sua livre
vontade, só de per si ou integrado por um ato da autoridade pública (decisão
judicial), produzir determinados efeitos jurídicos que inevitavelmente se impõem a
outra pessoa (adversário ou contraparte).”
43
1. A primeira categoria de direitos subjetivos é a que opõe os direitos subjetivos
em sentido estrito aos deveres jurídicos. Nesta categoria:
44
jurídica pré existente) e podem ser extintivos de relações jurídicas (ex: o
divórcio litigioso, ou seja, mesmo que o outro cônjuge não se queira divorciar,
o sujeito ativo tem o direito de colocar o outro em situação de divorciado).
Figuras próximas de direitos subjetivos e deveres jurídicos, mas que não são nem
uma coisa nem outra, apenas se aproximam deles:
⇨ Mero Interesse Jurídico - Interesse tutelado pela ordem jurídica, a que não
corresponde um direito subjetivo, ou seja, o titular do interesse não tem o
poder de exigir ou pretender de outrem que adote os comportamentos
adequados à salvaguarda do seu interesse. Ex: a questão da vacinação
(tenho interesse que toda a gente seja vacinada, mas não posso obrigar
ninguém a sê-lo), boa conservação das estradas, entre outros. Segundo
Santos Justo, “falta-nos a faculdade ou o poder de exigir ou pretender esses
comportamentos que definem os direitos subjetivos.” O art. 483º do CC
abrange direitos absolutos e interesses legalmente protegidos, deixando de
fora os direitos relativos.
45
⇨ Faculdades em sentido estrito - São possibilidades de agir que a ordem
jurídica admite e garante sem, todavia, constituírem direitos subjetivos.
Podem traduzir-se em meros poderes naturais (ex: passear num jardim) ou
na possibilidade de fazer negócios jurídicos (ex: casar). A estas faculdades
dá-se o nome de faculdades primárias, por oposição às faculdades
secundárias, que são as que compõem o conteúdo de um direito subjetivo.
⇨ Direitos Reflexos - São posições jurídicas que são tuteladas por efeito de
especiais obrigações que oneram outras. Ex: posição dos filhos perante as
responsabilidades parentais dos pais.
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tenha apenas um destinatário e seja geral. Portanto, o que está em causa
nas normas jurídicas não é a pluralidade, é a indeterminação. Os
destinatários são identificados com recurso a uma dada categoria abstrata ou
uma dada função.
Depois temos a abstração. É abstrato o preceito que disciplina ou regula um
número indeterminado de casos, ou seja, uma categoria mais ou menos
ampla de situações. Como assinala o Dr. Oliveira Ascensão, abstração não
significa que se refira apenas ao futuro. Uma norma jurídica pode aplicar-se a
situações já ocorridas. O que está em causa na abstração é ser uma
categoria de casos e não casos individualizados. Daí que o Dr. Batista
Machado diga que, na verdade, a abstração se reconduz também à
generalidade. No fundo, a abstração também está relacionada com a
generalidade. Ou seja, toda a norma deve ser geral no sentido de se destinar
a regular toda uma categoria de situações ou factos futuros e/ou presentes,
desde que a definição dessa categoria obedeça a critérios gerais e
objetivamente justificáveis. Ex: os sinais do polícia sinaleiro não são norma
jurídica, porque lhes falta generalidade e abstração, assim como uma
sentença de um tribunal e um contrato, pois apenas vinculam as partes.
47
de bens supletivos em Portugal, ou seja, é aquele que se aplica se as partes
não disserem algo diferente.
Mas como é que eu sei se uma norma é imperativa ou supletiva? Aquela norma é
obrigatória ou podem-na afastar se não a quiserem?
Muitas vezes, a própria norma dá a resposta. É muito frequente as normas
supletivas identificarem essa mesma supletividade, por exemplo, começando por
“salvo convenção em contrário” ou “salvo acordo em contrário”. Há casos, porém,
em que a norma nada diz. Nesse caso, identificar a natureza imperativa ou supletiva
da norma depende de um juízo de interpretação, tendo por base a própria norma e a
sua integração no sistema jurídico. O intérprete tem de avaliar se a norma é ou não
essencial à fisionomia daquele instituto e se pode ou não ser posta de parte sem
romper o equilíbrio de interesse fixado pelo legislador.
48
- Normas não autónomas: são aquelas que, por si só, não têm um sentido
completo, faltando-lhes toda ou parte da hipótese ou toda ou parte da
estatuição, só o obtendo por remissão para outras normas. É o caso das
normas remissivas e o caso das normas que ampliam ou restringem o campo
de aplicação de normas anteriores.
- Proposições jurídicas incompletas: não chegam a ser verdadeiras normas
jurídicas. É o caso das classificações e das definições legais. São
disposições que se destinam a integrar as hipóteses globais de outras
normas ou a definir os conceitos normativos por estas utilizados.
Codificação
Uma outra designação que se distingue de código é a lei orgânica. A lei orgânica
regula de modo sistemático e unitário o funcionamento de um serviço (ex: lei
orgânica do Ministério Público).
49
Há também uma outra figura, a que se dá o nome de lei avulsa, também chamada
lei extravagante. São leis que introduzem alterações a matérias constantes de
códigos, não sendo neles integradas (ex: lei de defesa do consumidor).
● Vantagens:
● Desvantagens:
50
- Parte geral → A técnicas de recurso a partes gerais é usada em códigos e,
muito particularmente, no Código Civil. O objetivo da parte geral é evitar
repetições, fixando desde logo princípios gerais e disposições normativas que
51
de compra e venda a todos os contratos onerosos que impliquem
transferência de propriedade). As normas remissivas iniciam-se geralmente
com “com as necessárias adaptações”, porque neste processo de aplicação
de um regime de um instituto ou outro, o intérprete tem sempre que ter em
atenção a especificidade do instituto. Em quase todas as normas remissivas,
o legislador salvaguarda as necessárias adaptações, não é uma aplicação
cega do regime de um instituto ou outro. O intérprete tem que atender às
especificidades de cada um dos institutos e aplicar a remissão na medida em
que essa afinidade o justifique. Muitas vezes, em remissões, o legislador
remete para outra norma, não para mandar aplicar essa norma, mas para
traçar relações de prevalência ou de subsidiariedade. Quando o legislador
começa por “sem prejuízo do disposto em”, esta norma para a qual se remete
tem prevalência/primazia, e quando diz “não obstante o disposto em”,
significa, em regra, que a norma que se vai enunciar estabelece um regime
especial ou excecional, face ao regime contido na norma para a qual se
remete.
Nos termos do princípio geral do ónus da prova, quem invoca um direito tem
de provar os factos constitutivos do direito invocado. Quem alega factos
desses factos. Por força do art. 344 do CC, se houver uma presunção legal,
há uma inversão do ónus da prova, cabendo à outra parte provar, nos casos
52
em que é permitido, que essa presunção não corresponde à realidade. Há
dois tipos de presunções: as presunções legais e as presunções judiciais. A
presunção judicial, também chamada de presunção natural/simples/de
facto/de experiência: resulta da normal decorrência das coisas. Só são
admitidas nos mesmos termos em que é admitida a prova testemunhal e
podem ser afastadas por simples contraprova, ou seja, por provas que criem
no espírito do juiz uma incerteza quanto à ocorrência do facto a provar.
As presunções que nos interessam são as presunções legais, as que
resultam de normas jurídicas.
A presunção legal pode ser de dois tipos:
➤ Iuris et de iure: presunções inilidíveis, não podem ser afastadas por prova
em contrário, são absolutas e irrefutáveis (mesmo que se prove que aquilo
não aconteceu, é irrelevante, a presunção aplica-se na mesma). Estas
presunções são a exceção, o que significa que a presunção só é inilidível
quando isso resulta da norma que a consagra (se nada consagrar, a
presunção é iuris tantum). Ex: art. 243 nº3 do CC.
➤ Iuris Tantum: são presunções ilidíveis, podem ser afastadas por prova em
contrário. São a regra, o que significa que, se nada resultar da norma, a
presunção é iuris tantum.
Na prática, é difícil distinguir ficção legal de presunção iuris et de iuri. Mas,
como diz Batista Machado, as duas figuras são conceitualmente distintas. Na
ficção legal, a lei atribui a um facto as consequências jurídicas de outro; Na
presunção inilidível/iuris et de iure, o facto presumido acompanha sempre o
facto que serve de base à presunção.
porque pode ser excessivamente lata ou restrita. Mas a verdade é que, não
obstante as definições serem tidas como perigosas, o legislador português
recorre com frequência a elas (ex: art. 202 e 762 do CC). A pergunta que se
53
coloca é: qual a força normativa de uma definição legal? Obriga o intérprete
ou não obriga? Tem força obrigatória ou é meramente indicativa? A doutrina
divide-se. O Dr. Batista Machado diz que as verdadeiras definições legais
54
o legislador fez uma enumeração casuística, e na alínea d estabeleceu
uma cláusula geral (isto é um exemplo de uma enumeração mista).
As cláusulas gerais opõe-se à regulamentação casuística que
identifica exaustivamente todas as hipóteses a que se aplica a norma.
A norma casuística prevê e regula grupos de casos especificados,
enquanto a cláusula geral não regula tipos de casos especialmente
determinados, deixando indefinidos os casos a que virá a aplicar-se. O
seu objetivo é evitar os dois riscos: não abranger da sua hipótese
todas as jurídicas que merecem o mesmo tratamento jurídico,
abranger inadvertidamente situações que mereceriam pela sua
natureza tratamento diferente, a isto dá-se o nome de lacuna de
exceção.
55
diretor de decidir se a falta foi suficientemente forte para considerar a falta
justificada.
Equidade
● Aqueles que consideram que a equidade é fonte de Direito têm uma razão: o
caso resolve-se pela equidade, pois ela revela-nos o direito aplicável àquele
caso, além de ser modo de revelação do Direito, embora com referência a
casos singulares.
● Aqueles que não consideram a equidade como fonte de Direito, entre eles
Oliveira Ascensão, que diz: se fontes de Direito são os modos de formação
e revelação de regras jurídicas, a equidade, como critério formal de decisão,
está fora desta noção. Isto porque, não só não se determinam, através dela,
regras, como a própria solução do caso não se faz através da mediação de
uma regra, elaborada pelo intérprete de modo a abranger a categoria em que
o caso se enquadra.
56
A decisão segundo a equidade não assenta em normas jurídicas, mas sim
num juízo de justiça individual feito pelo julgador, tendo por base as especificidades
do caso concreto.
Enquanto a norma jurídica se pauta por uma natureza geral e abstrata e
consegue essa natureza identificando, na previsão, os elementos de que faz
depender a aplicação da norma e mandando aplicar essa norma quando esses
elementos se verificam, ignorando os restantes elementos que compõem a
identidade do caso concreto, quando o juiz decide segundo a equidade, ele tem em
atenção tudo acerca da situação, analisando todas as especificidades do caso na
procura do equilíbrio. Daí que Oliveira Ascensão diga que, na equidade, a decisão
atende a circunstâncias que a norma despreza, como a força ou a fraqueza das
partes ou a incidência sobre o seu estado de fortuna para encontrar a solução que
melhor se adapta à justiça daquela situação concreta.
De acordo com o artigo 4º, os tribunais/o julgador só podem resolver os casos
segundo a equidade:
57
Pergunta: Deste modo, atendendo que a equidade é a justiça do caso concreto e
que o objetivo do Direito é a promoção da justiça, porquê que não se decide sempre
segundo a equidade?
Resposta: O problema da equidade é que é uma solução restrita que acaba com a
previsibilidade das decisões, o que afeta a segurança jurídica. Em relações
indisponíveis (ex: estado das pessoas ou núcleo dos direitos de personalidade) – as
partes não podem, nem por acordo, mandar aplicar a equidade, precisamente por
causa da falta de critérios (de previsibilidade).
Reflexão feita pelo professor Meneses Cordeiro
A equidade deixou de ser necessária, porque a flexibilização do sistema
jurídico decorrente das normas de ius aequum e o próprio aperfeiçoamento da
metodologia jurídica que se concentra agora mais no fundamento axiológico das
normas substitui, de forma suficiente, as necessidades de individualização e de
adequação ao caso concreto que antes eram respondidas pela equidade. A justiça
do caso concreto agora consegue-se dentro do sistema jurídico e já não é
preciso procura-la fora (na equidade).
Ora, é inegável que a equidade perdeu pelo menos parte da premência. O
sistema jurídico atual tem mecanismos de flexibilização que permitem achar a
justiça dentro do ordenamento jurídico.
Pergunta: Mas ela tornou-se dispensável/desnecessária?
Meneses Cordeiro – Sim, pelo referido acima.
Carneiro da Frada – Não. Ela pode ser menos premente (urgente/essencial), mas
continua a ser útil. Não se negando o aperfeiçoamento da metodologia jurídica, não
se negando que a abertura axiológica do sistema tem um impacto significativo na
procura da justiça perante as soluções concretas, as decisões assentes no sistema
jurídico estão sempre limitadas pela generalidade e abstração e comprometidas
com a norma. Já as decisões segundo a equidade são extra-sistemáticas (fora do
ordenamento jurídico, quer nacional, quer internacional), ou seja, não estão
limitadas por princípios históricos e culturais vigentes na promoção da justiça.
Segundo Carneiro da Frada, a equidade corresponde a uma “forma superior de
justiça”, acima da lei e do Direito constituído. A decisão segundo a equidade
convoca um “modo de decidir” em que a substância, a forma, a matéria e o
processo se fundem. Porém, a equidade não é estranha ao Direito, antes procura a
concordância entre a sabedoria e a realização de valores no Direito, assinalando a
amplificação e a perfeição a que o Direito tende, em ordem à justiça.
58
regulam as relações humanas. Tende a dar mais valor aos sentimentos, aos afetos
pessoais e às emoções das partes. É, por isso, a “justiça do coração”. A equidade
relaciona-se com a sabedoria, representa uma sublimação da justiça. A equidade,
como decisão extra-sistemática, postula um não aprisionamento da justiça pelo
conjunto articulado de normas e princípios historicamente vigentes.
Não se negando o aperfeiçoamento da metodologia jurídica nem o facto de a
abertura axiológica do sistema ter um impacto significativo na procura da justiça
perante as soluções concretas, as decisões assentes no sistema jurídico estão
sempre limitadas pela generalidade e abstração, assim como estão comprometidas
com a norma. Já as decisões segundo a equidade são extra-sistemáticas, ou seja,
não estão limitadas por princípios históricos e culturais vigentes na promoção da
justiça.
Os critérios do “razoável”, do “bom senso”, do “naturalmente justo” ou da “ordem
natural das coisas” assumem um papel importante na equidade, na seleção dos
argumentos, sendo que nenhum é excluído à priori. Tem-se em conta a pertinência
da decisão e as suas consequências.
A equidade não remete para o simples entendimento pessoal do juiz ou para a sua
íntima convicção, reclama sempre uma fundamentação intersubjetiva; está em
causa uma apreciação racional e objetivável.
59
próprio direito da União Europeia, desde que respeitados os princípios do
Estado de Direito democrático).
60
direito porque é de âmbito individual e concreto, para ser fonte de direito tinha que ser
geral e abstrata.
Fontes nacionais:
Doutrina: é a opinião dos jurisconsultos quanto a temáticas jurídicas. Os
jurisconsultos são as pessoas que se dedicam ao estudo do Direito. A doutrina não é
fonte de direito, mas já foi. Atualmente, tem uma importância persuasiva, um peso de
influência que não deve ser ignorado. O valor da doutrina está associado ao valor
intrínseco das posições que são defendidas.
Costume: é prática social reiterada acompanhada da convicção da sua
obrigatoriedade. Corpos corresponde ao usos, prática social reiterada, decorre de
uma mera observação de facto; o animus é a convicção de obrigatoriedade, ou seja,
“opinio juris vel necessitatis”: no meio social onde aquela prática é adotada, existe a
consciência de que ela não deriva apenas de uma rotina ou de cortesia, mas é
obrigatória. Só quando existe esta convicção de obrigatoriedade é que se pode
afirmar que existe costume.
Relação do costume com a legem:
- secundum legem (o conteúdo do costume coincide com o conteúdo da lei,
“uma única norma jurídica, dois títulos”, segundo Oliveira Ascensão);
- praeter legem (costume que não contraria a lei, vai para além da lei, tem por
objeto matéria que a lei não regula);
- costume contra legem (costume contrário à lei, contraria o conteúdo de uma
lei).
Figura que pode ser confundida com costume contra legem: o desuso (não se
confunde com o costume). Enquanto o desuso traduz uma mera não aplicação da lei,
o costume traduz isso, mas associada a uma convicção que essa desobediência da
lei é obrigatória. Um exemplo de desuso de uma lei em Portugal, foi o aborto.
O desuso é causa de cessação de vigência da lei? Uma lei deixa de vigorar por não
se aplicada por uma sociedade em geral? Depende. Não é causa de
extinção/cessação de lei. A mera não aplicação da lei, não gera a sua cessação. É o
caso da violação dos limites de velocidade.
Problema diferente é saber se o costume contra legem terá o poder de fazer cessar
uma lei anterior. Aqueles que defenderem que o costume é fonte de direito, se
admitirmos que existe um costume que cria uma regra diferente daquela que consta
na lei, num momento posterior à entrada em vigor dessa lei, então, neste caso, o
costume contra legem tem o poder de revogar uma lei anterior, segundo a regra de
que a norma posterior pode revogar norma anterior.
61
Em conclusão, o que distingue o desuso, do costume contra legem, é a convicção
de obrigatoriedade, isto é, o animus.
Exemplo: uma associação dos direitos dos animais vem invocar que são proibidos os
touros de morte. Em Barrancos, segundo a sua população, essa lei não se aplica,
porque existe um costume ancestral que revoga essa lei. Há uma convicção de que
há uma obrigatoriedade nesse costume, baseada em questões culturais ou, talvez, a
proximidade com a Espanha. É uma exceção.
A principal consequência que se pode retirar desta situação é, então, o impacto que
o costume tem na vigência na lei – se for posterior, revoga a lei no sentido contrário.
A grande questão do costume é que as fronteiras não são definidas territorialmente,
mas por comunidades culturais. No caso de Barrancos, coincide até com aquela
freguesia. Admitindo que o costume é fonte de direito, o que é que a comunidade de
Barrancos tem de provar, para que não seja considerada em incumprimento à lei?
Provar que é um costume reiterado e com convicção de obrigatoriedade.
Primeiramente, é necessário comprovar o corpus, através, por exemplo, de vídeos da
festa, testemunhos das pessoas, entre outros aspetos, depois da entrada em vigor da
lei. Mesmo depois da entrada em vigor da lei, essa prática manteve-se. De seguida,
é necessário provar o animus, que já é mais difícil de vincular.
Contudo, é muito difícil encontrar uma comunidade cultural que admite convictamente
não estar vinculada com uma lei.
62
fonte de direito. Assim, muitos autores, com base no silêncio da lei, consideram que
o legislador não considera a existência do costume.
Outro argumento é o artigo 7.º, nº1, do Código Civil, que rejeita a revogação da lei por
um costume contra legem.
Será de admitir que cabe ao Estado determinar em que termos e em que medida
é que os seus órgãos devem ou não aplicar Direito
Consuetudinário/costumeiro.
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USOS
Uso – costume sem animus. Prática social reiterada, mas destituída de uma
convicção de obrigatoriedade.
Art.3º nº1 CC – “Os usos que não forem contrários aos princípios da boa fé são
juridicamente atendíveis quando a lei o determine”
O Uso é uma FONTE MEDIATA de direito, o seu poder normativo deriva da
intermediação da lei. É a lei que confere a um determinado uso pré-existente, força
normativa - a lei não cria usos, atribui-lhes poder normativo.
A fonte do conteúdo é o uso, mas a fonte da vinculatividade dessa conduta é a lei, o
uso só é fonte de direito quando a lei disser que é.
Quando existe uma remissão legal, quando existe uma lei que atribui força normativa
ao uso, o conteúdo desse uso adquire vinculatividade jurídica, mas na sua essência
essa legitimidade vem da lei.
Quando não existe remissão legal - o uso não tem força normativa e não é fonte de
direito.
JURISPRUDÊNCIA
Conjunto das decisões dos tribunais.
Sistema de “Common law”/Sistema anglo-saxónico - Precedente judiciário –
decisão de um tribunal superior, que vários elementos entre eles, a “ratio decidendi”.
Esta passa a vincular as decisões dos restantes tribunais em casos análogos, sendo
elevada a norma jurídica.
A razão de ser da decisão que esteve na origem de um acórdão de um tribunal
superior é elevada a norma jurídica e, portanto, torna-se obrigatória para todos os
tribunais que, após essa decisão, tenham de julgar casos onde a razão de ser seja
aquela. Ou seja, a máxima de decisão daquele acórdão concreto passa a ser
obrigatória para todas as decisões posteriores dos tribunais.
Assim, sem sombra de dúvida que a Jurisprudência é a principal fonte de direito
nos sistemas de Commom law.
64
independência face aos restantes - PRINCÍPIO DA INDEPENDÊNCIA JUDICIAL - 4
consequências:
65
Quando foram extintos os assentos, o Código de Processo Civil foi criando figuras
para permitir ao STJ assumir um papel de uniformizador de jurisprudência quando
assim se justifique.
A estas figuras dá-se o nome de ACÓRDÃOS UNIFORMIZADORES DE
JURISPRUDÊNCIA. Estes são tomados em Plenário das Secções Cíveis (de civil).
A principal situação em que existem é quando existem decisões distintas na mesma
matéria.
Os acórdãos uniformizadores de jurisprudência não são assentos, não tem força
obrigatória e geral, têm apenas um valor reforçado. Esta força acrescida vem de 2
dimensões:
- De emanarem do Plenário;
- Se não forem acatados por um tribunal de 1ª instância ou Tribunal da Relação, isso
constitui motivo para uma admissibilidade especial de recurso (art.629º nº2 c) –
Código processo Civil)
NÃO SÃO FONTE DE DIREITO – um outro juiz pode ir contra este acórdão, não está
vinculado a respeitá-lo.
LEI
A Lei é a principal fonte de direito em Portugal.
Noção de lei:
- art.1º nº2 CC – “Consideram-se leis todas as disposições genéricas providas dos
órgãos estaduais competentes...”
66
- Cabral de Moncada – “A lei é a forma que reveste a norma jurídica quando
estabelecida e decretada, de uma maneira oficial e solene, pela autoridade dum órgão
expressamente competente para esse efeito, por ser órgão legislativo”.
67
No entanto, coloca-se um problema: estes diplomas não provêm de órgãos estaduais
e, portanto, não cabem no art.1º nº2 do CC.
68
LEIS COMUNS DE ÂMBITO NACIONAL: OS REGULAMENTOS (art.199º)
No âmbito da criação de regulamentos (poder administrativo e não legislativo), o GV
tem um dever de obediência às leis existentes, o que quer dizer que os regulamentos
se encontram no final da pirâmide normativa.
O objetivo dos regulamentos é dar executoriedade às leis.
Não obstante a maioria dos regulamentos vir associada a uma lei específica, é
possível haver regulamentos autónomos, aqueles que não dão executoriedade a
nenhuma lei específica, mas que se subordinam à ordem jurídica no seu todo.
Em regra, o poder de inovação e definição de condutas dentro da ordem jurídica deve
caber à lei em sentido formal e não aos regulamentos. O papel da lei comum é o de
concretizar esses princípios.
TIPOS DE REGULAMENTOS
- DECRETO – praticado pelo chefe do poder executivo; exige a intervenção
obrigatória do PR e a referenda do GV.
- PORTARIA – (dos regulamentos mais comuns) duvidosa base constitucional porque
não vem previsto na CRP, no entanto já existe um verdadeiro costume de aceitação
das mesmas quanto à sua existência e aplicação.
- DESPACHO NORMATIVO - Só pode ser usado quando a lei autorizar essa forma;
é publicado na 1ª serie do DR.
PUBLICAÇÃO DA LEI
Objetivo da publicação – dar a conhecer a lei a todos os seus destinatários; tornar
possível o seu conhecimento.
Diz o ART.5º Nº1 CC que “A lei só se torna obrigatória depois de publicada no jornal
oficial”, no entanto no ART.119º Nº1 CRP é possível verificar que nem todas as leis
comuns estão sujeitas a publicação no DR, mas sim todas estão sujeitas a algum tipo
69
de publicidade, remetendo para lei ordinária (nos nos 2 e 3) a fixação dos modos
dessa publicidade, com exceção dos diplomas que obrigatoriamente são publicados
em DR.
Ora, como conjugamos estes 2 artigos? O art.5º nº1 deve ser interpretado de uma
forma restritiva (interpretação restritiva), prevalecendo o art.119º CRP. Devemos ler
o art.5º da seguinte forma - a lei que deva ser publicada no jornal oficial, só se torna
obrigatória com essa publicação.
Temos uma RETIFICAÇÃO quando o texto que é publicado não corresponde
exatamente ao texto original da lei, seja por um lapso na impressão, seja por uma
anomalia no processo legislativo.
LEI 74/98, ART.5º Nº2 – “As declarações de retificação devem ser publicadas até 60
dias após a publicação do texto retificando”.
Que efeitos reconhecer ao texto inicialmente publicado e que depois veio a ser
retificado? A verdade é que esse texto não deriva de nenhuma lei, há uma
desconformidade com o texto normativo, e portanto, não há uma verdadeira
revogação do texto original pelo diploma retificativo, o que há é uma cessação
automática dos efeitos do texto com o erro.
E se entre o momento da entrada em vigor do texto original com erro e a declaração
de retificação foi praticada uma determinada conduta com base nesse erro? Tem-se
defendido a solução de acautelar os efeitos produzidos pelo texto original. Tem de se
confiar no jornal oficial/DR - especial força probatória do jornal nacional.
70
Pode o legislador suprimir, de todo, o período de vacatio leges, fixando o início da
vigência da lei no dia em que é publicada? O legislador não pode, nunca, fixar o início
da vigência no próprio dia da publicação (art.2º nº1 Lei 74/98), dado que tem de
acautelar a proteção das expetativas dos particulares.
Contudo, há situações de exceção em que faz sentido derrogar esta regra. Oliveira
Ascensão considera 3 situações:
- Normas que estabelecem efeitos jurídicos automáticos - não exigem adaptação
da conduta dos particulares, pelo que não haverá, à partida, nenhum obstáculo à
vigência automática;
- Normas de conduta dirigidas aos órgãos públicos – considera-se que sendo
órgãos da própria administração pública, do próprio Estado, caber-lhes-á a resolução
das dificuldades.
- Normas de conduta dirigidas aos particulares - só de facto em situações de
urgência é que se compreende/justifica que a lei entre em vigor no próprio dia. No
fundo o que está em causa são as situações em que o decurso de um período de
vacatio leges ainda que de 24h, poria em causa o efeito útil da lei.
Não levanta problemas a lei que entra em vigor no dia a seguir à sua publicação, o
problema é a lei que entra em vigor no próprio dia.
71
própria lei prevê um facto que conduz à cessação da sua vigência (ex: há uma seca
muito forte num determinado ano e o governo emite uma lei para atenuar as
consequências dessa seca. Quando é que essa lei cessa? Quando a seca acabar. O
caso típico de caducidade são leis com prazo). Uma segunda hipótese de caducidade
é quando desaparecem os pressupostos de aplicação da lei (ex: lei que visa a
proteção de uma espécie protegida que entra em extinção, desaparecendo os
pressupostos de aplicação da lei)
Revogação: é o meio mais comum da vigência da lei. Revogação é a cessação da
vigência de uma lei por força da publicação de uma outra lei. A regra fundamental em
matéria de revogação é que lei posterior revoga lei anterior. Isto significa que, se
ambas as leis estiverem no mesmo patamar hierárquico, a lei nova revoga a lei antiga
se for com ela incompatível. A lei posterior só revoga a lei anterior se o disser
expressamente ou se houver alguma incompatibilidade. Qual é a data que se
considera para saber se uma lei é posterior ou anterior? A data da publicação no DR,
não é a entrada em vigor.
72
Ascensão, a lei não é muito correta quando diz “toda a matéria da lei anterior”, porque
no novo regime pode haver aspetos que estavam regulados em leis anteriores que
não estão regulados agora no novo regime, mas mesmo assim eles são revogados.
Mesmo que houvesse matérias consagradas em leis anteriores, que agora ficam sem
regulamentação, elas consideram-se igualmente revogadas (ex: entrada em vigor do
novo Código Civil, que revogou completamente o anterior). A revogação global é
exceção.
Individualizada: tudo o que não é global. Em regra, a revogação é individualizada e
não global.
Total: ocorre quando o diploma é substituído no seu conjunto, quanto todo o diploma
é revogado. À revogação total dá-se o nome de ab-rogação.
Parcial: apenas alguns preceitos/artigos da lei antiga são revogados pela lei nova. O
diploma não é todo revogado, apenas alguns preceitos. À revogação parcial dá-se o
nome de derrogação.
Regras de revogação:
Lei posterior revoga lei anterior.
Duas exceções: 1) lei inferior não revoga lei superior;
2) lei geral não revoga lei especial, salvo se outra for a vontade inequívoca do
legislador (artigo 7º, nº3 do CC).
Vimos já que uma lei posterior revoga uma lei anterior que seja com ela compatível,
no entanto, uma lei inferior não tem o poder de revogar uma lei superior.
Mas porque é que uma lei geral não revoga uma lei especial? Qual é o fundamento
do legislador para estabelecer esta regra?
Ainda que o regime geral tenha mudado, à partida ele continua sem acautelar as
especificidade que justificou a lei especial. E, portanto, ela merece manter-se em vigor
precisamente porque acautela uma especificidade que o regime geral anterior e o
novo não acautelam.
Há uma ressalva: se houver compatibilidade entre a lei geral nova e a lei especial
antiga, não se coloca o problema da revogação. O problema da revogação só se
coloca quando há incompatibilidade entre os regimes, quando a lei geral mais recente
contraria o regime da lei especial antiga.
Então porque é que o legislador estabelece que a lei geral não revoga a lei especial
salvo se outra for vontade inequívoca do legislador?
Precisamente porque a lei especial foi pensada para a situação particular a que se
aplica. E, à partida, o regime geral novo não terá tomado em consideração essas
73
circunstâncias especiais que justificaram a emissão da lei especial. A lei especial é
pensada para situações particulares e atende às características dessas situações. O
regime geral posterior em princípio não terá em conta essas especificidades e,
portanto, não se sobreporá à lei especial que existia. Daí que a alteração ou criação
de um regime geral não afetará a vigência de um regime especial anterior que seja
com ele incompatível. Mas temos que ter atenção à parte final do artigo 7º nº3, pois
isto não é impreterível. É possível que a própria lei geral posterior revogue
expressamente a lei especial anterior, e aí não há dúvidas, e ainda é possível que
resulte da interpretação da lei geral que o legislador pretendia aplicá-lo à situação
regulada pela lei especial. Neste caso, é revogada tacitamente.
Ou seja, há duas formas de uma lei geral revogar uma lei especial:
1) através de revogação expressa;
2) quando resulte com especial certeza da lei geral nova que ela se pretende aplicar
à situação que era regulada pela lei especial anterior.
O artigo 7º nº2 estabelece a relação entre uma lei geral posterior e uma lei especial
anterior. E se for ao contrário? Se for uma lei especial posterior incompatível com uma
lei geral anterior? A lei especial anterior revoga parcialmente a lei geral anterior. Faz
com que a lei geral se deixe de aplicar à situação especial que é abrangida pela lei
especial na medida dessa incompatibilidade. Se a lei especial for revogada sem ser
substituída por outra lei, aplica-se o regime geral. Porque esse regime geral já está
em vigor.
74
Ex: o legislador diz que em matéria de atualização do valor das rendas remete para
o índice de preço do consumidor, e esse índice foi revogado, substituído por outro.
Não se entende que à repristinação da lei que regula o índice de preço do consumidor,
entende-se é que a determinação desse índice que constava da lei que foi revogada
passa a integrar a lei nova.
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- Portarias
- Despacho normativo
- Posturas, regulamentos e regimentos dos órgãos das autarquias locais.
O PAPEL DAS INSTRUÇÕES
Circulares, ordens de serviço, instruções propriamente ditas, despachos, proferidos
no seio de uma determinada hierarquia.
O que caracteriza as instruções é que elas vinculam apenas no seio de uma
determinada hierarquia. São atos genéricos, mas internos, dirigem-se só aos
inferiores hierárquicos dentro daquela estrutura, não vinculam pessoas fora daquela
hierarquia. Têm caráter administrativo e não têm de força obrigatória geral.
NORMAS CORPORATIVAS
Segundo o art.1º nº1 do CC, as normas corporativas são fonte imediata de direito.
São normas intraestaduais criadas por ordens institucionais menores, que tem uma
vida jurídica autónoma em relação à vida do estado (ex.: ordem dos advogados).
Atualmente, falamos de normas criadas por organismos representativos das
diferentes categorias morais, culturais, económicas ou profissionais que ainda hoje
existem. Não podem contrariar leis de caráter imperativo, mas prevalecem sobre os
usos (art.3º nº2).
76
É para evitar sensibilidades que o legislador e a doutrina desenvolveram uma doutrina
forte, que encontra cabimento no artigo 9º, ao nível da interpretação da lei. Porque
temos que ter cânones de interpretação que nos permitam chegar a soluções
coerentes. Caso contrário, a incerteza seria enorme, porque cada juiz interpretaria a
lei da forma que entendesse mais justa ao caso concreto sem qualquer
previsibilidade.
O que vamos analisar é quais são os cânones/orientações que nos são dadas para
tirar um conteúdo de um texto legislativo.
77
A discussão na 1ª é saber se devo procurar a vontade real do legislador ou aquilo que
resulta da lei, a chamada vontade da lei. Na 2ª, a discussão é: o sentido da lei é
rigidificado no momento em que ela entra em vigor ou evolui com a evolução da vida?
Quando interpreto uma lei devo interpretá-la com o sentido que ela foi publicada,
naquele momento histórico, e ela vale sempre com esse sentido, ou essa
interpretação deve ser feita no contexto histórico em que ela vai ser aplicada?
Querela entre a corrente subjetivista e a corrente objetivista: a discussão
associada a esta querela é analisar se o intérprete deve procurar a vontade ou
intenção do legislador (corrente subjetivista) ou a vontade ou a intenção da lei
(corrente objetivista). Para os subjetivistas, o intérprete deve procurar a vontade
efetiva do legislador real, o que é que ele quer quando publica a lei. E, portanto, dá
menos peso à objetivação linguística dessa vontade no texto da lei. Ou seja, de entre
as várias acessões que o texto da lei comporta, deve selecionar-se aquela que
corresponde à vontade historicamente real do legislador.
Argumentos a favor da corrente subjetivista: 1º) o dever de obediência ao legislador
ou ao poder legítimo que ele detém exige que se faça prevalecer a sua vontade
histórica, isto está associado à questão da representatividade, à separação de
poderes. 2º) esta interpretação conforme a vontade do legislador promove a certeza
jurídica, porque a vontade do legislador é só uma.
Argumentos contra a corrente subjetivista: 1º) não é possível determinar a vontade
histórica do legislador porque, em regra, ele é um órgão colegial e, portanto, cada um
dos seus membros pode ter atribuído à fórmula da lei um sentido diferente. Os
subjetivistas dizem que isto ainda reforça mais a posição deles porque, como o órgão
é colegial, há debate, discussões, atas e aproximações de ideias. 2º) como é que o
destinatário da norma da lei tem acesso à vontade real do legislador? Daquilo a que
nós temos acesso, é o texto, a objetivação linguística dessa vontade. O destinatário
corrente da norma não tem acesso à vontade real do legislador, só à norma. Para
uma posição subjetivista moderada, exige-se que a vontade do legislador se reflita de
alguma forma no texto. A isto, o Dr. Batista Machado chama Teoria da Alusão.
Para os objetivistas, o intérprete deve procurar a descoberta do sentido da fórmula
normativa que foi objetivada no texto, autonomizando-a da vontade psicológica que
esteve na sua origem.
Argumentos a favor da corrente objetivista: 1º) sendo a lei um enunciado linguístico
destinado a comunicar um sentido, ele desprende-se do seu autor, sendo a partir
desse texto que deve o intérprete apreender o sentido que lhe está iminente, ou seja,
o ponto de partida do intérprete e do destinatário da norma é o enunciado linguístico,
desprendido do seu autor. 2º) não é possível identificar a vontade do legislador real
porque o legislador é maioritariamente coletivo. 3º) o ponto de vista objetivista
favorece mais a retidão e a justeza do direito porque permite escolher de entre os
sentido possíveis do enunciado linguístico o mais razoável, não fica preso à vontade
do legislador.
78
Argumentos contra a corrente objetivista: 1º) o objetivismo desrespeita o princípio
fundamental da separação de poderes, nomeadamente entre os órgãos legislativos e
os órgãos judiciais, entre os tribunais e o legislador. 2º) o objetivismo, na modalidade
atualista, fomenta a disparidade de julgados, afeta a certeza e a segurança jurídicas.
Será esta discrepância doutrinária assim tão importante? Será a clivagem entre as
duas posições assim tão acentuada? O que vem dizer o Dr. Manuel de Andrade é
que, na prática, a divergência entre a escola objetivista e a escola subjetivista não é
assim tão grande, esta querela centra-se apenas na importância que é conferida aos
trabalhos preparatórios da lei (projetos, anteprojetos, relatórios oficiais, pareceres,
atas das comissões, debates, etc). São estes trabalhos preparatórios que nos podem
elucidar quanto à vontade real do legislador e, na falta de elementos para chegar a
esta vontade real, os próprios subjetivistas reconhecem que tem de se partir do texto
da lei. Portanto, esta querela só é determinante nos casos extremos em que existem
elementos concretos que revelam a vontade real do legislador e esta vontade colide
com o sentido que resulta do texto da lei
79
Elementos de interpretação: quais são os elementos a que um intérprete recorre
para retirar o sentido correto da norma, portanto temos um texto linguístico, a norma
é-nos apresentada sob uma fórmula normativa e é preciso retirar dela o sentido
correto, que depois será utilizado na aplicação da norma na realidade da vida
concreta. Para isso, em cada tarefa de interpretação, devemos recorrer à conjugação
de dois grandes elementos, sendo que o segundo elemento se subdivide em 3, e
sempre que estamos no exercício de uma tarefa interpretativa deve recorrer-se a
estes elementos:
● Elemento gramatical, que corresponde à letra da lei
● Elemento lógico, que abrange 3 subelementos:
- Elemento racional ou teleológico
- Elemento sistemático
- Elemento histórico
É dos resultados que surgirem da conjugação destes quatro elementos que nasce a
tarefa de interpretação.
80
fim visado ao elaborar a norma, com que finalidade legislativa é que a norma foi
elaborada.
Um dos principais elementos para identificação da ratio leges é a occasio leges, que
corresponde às circunstâncias políticas, sociais, económicas, morais, etc em que a
lei foi elaborada. Ou seja, a conjuntura político-económico-social que motivou a
elaboração da lei.
Na identificação da ratio leges é muito importante identificar quais são os interesses
que estão em causa na norma, que muitas vezes são conflituosos.
Ex: uma das primeiras medidas legislativas do governo no período de confinamento
foi uma norma que prevê a renovação automática de todos os contratos de
arrendamento habitacional que cessem nos próximos três meses. A occasio leges é
a situação de pandemia, a conjuntura político-económico-social, no caso habitacional,
é não deixar ninguém sem casa neste momento. Os interesses que estão em causa
são evitar a propagação do vírus, o interesse do arrendatário à sua proteção e a
manter a sua casa e o interesse do senhorio. O legislador, nestas matérias
excecionais, adotou posições de salvaguarda de proteção das pessoas mais frágeis,
neste caso o arrendatário. O elemento teleológico é um elemento muito fácil de
manipular, enquanto os outros são mais objetivos. Quando analisamos o elemento
teleológico temos que ter a preocupação de ser neutros e abrangentes na análise,
não nos podemos esquecer da occasio leges, temos que perceber quais as
circunstâncias que estão por trás da lei, analisar quais os interesses que estão em
jogo, que são afetados por aquela norma e procurar identificar a qual desses
interesses é que o legislador atribuiu prevalência e em que medida é que o fez.
81
de aplicar todos os elementos de interpretação e a relação desse sentido com o
elemento gramatical. Avaliamos qual é o resultado de interpretação daquela norma
em função da consonância ou dissonância entre o sentido que o intérprete retirou da
norma e o elemento gramatical. Resultados da interpretação:
82
1. O argumento da identidade da razão, chamado argumento a pari (onde a razão de
decidir seja a mesma, a decisão também deve ser a mesma. Se a razão de proibir a
compra e venda de pais a filhos ou avós a netos sem autorização dos restantes filhos
ou netos é igual à razão que justificaria proibir a compra e venda de bisavós a
bisnetos, então a solução também deve ser a mesma);
2. O argumento da maioria da razão, chamado argumento a fortiori (se a lei
explicitamente contempla certas situações para que estabelece um determinado
regime, forçosamente há de também pretender abranger outra ou outras situações
que com ainda mais fortes motivos exigem ou justificam o mesmo regime.
83
contexto dos resultados de interpretação mas esclarece exatamente o que é que se
passa, é que na interpretação enunciativa, o intérprete retira de uma norma um
preceito que está apenas virtualmente contido nela, ou seja, ele utiliza um conjunto
de inferências lógico-jurídicas de argumentos para retirar de uma norma uma outra
norma que ele considera que está nela contida. O argumento “a maiori ad minus” (a
lei que permite o mais, também permite o menos, ex: se a lei me permite vender o
meu anel, também me permite penhorá-lo), o argumento “a minori ad maius” (a lei
que proíbe o menos, também proíbe o mais) e o argumento “a contrario” (se existe
uma norma excecional para um determinado caso, os casos não abrangidos pela
norma excecional obedecem a um princípio regra de sentido oposto, um exemplo é o
artigo 1143º, sendo este artigo uma norma excecional, o que podemos dizer é que a
contrario, os de valor inferior a 2500 euros, obedecem ao princípio da liberdade de
forma do artigo 219º, mas isto não é interpretação enunciativa, embora muitas vezes
se use o termo a contrario nestes contextos, o que temos aqui é que a partir de uma
norma excecional se deduz a contrario que os casos que ela não abrange seguem
um regime oposto que será o regime regra. Para podermos usar o argumento a
contrario é preciso demonstrar que aquela consequência jurídica que está
consagrada na norma excecional, só se produz quando se verifique a hipótese
prevista nessa norma e não qualquer outra hipótese. A hipótese mais segura é
quando o legislador faz uma enumeração taxativa.
O artigo 9º do CC: é um exemplo de norma sobre normas, que valem para todo o
direito, independentemente do ramo do direito em causa, não apenas ao direito civil.
O objetivo do artigo 9º é prescrever/determinar o modo de determinação do conteúdo
significativo de todas as outras normas do sistema jurídico.
É no artigo 9º que encontramos os critérios que devemos utilizar para determinar qual
o sentido de todas as restantes normas do sistema jurídico.
Daí que o Dr. Batista Machado diga que todas as normas trazem associadas a si o
artigo 9º. Encontramos, no artigo 9º, inúmeras respostas, por exemplo, em matéria de
controvérsia entre subjetivismo e objetivismo e em matéria de controvérsia entre
atualismo e historicismo.
Vimos já que não cabe ao legislador tomar posições em termos de matérias
doutrinais, e o nosso legislador procurou fazê-lo no artigo 9º quando, em vez de se
referir ao à vontade do legislador ou à vontade da lei, ele aponta como objetivo da
atividade interpretativa a descoberta do pensamento legislativo.
Não obstante, não podemos esquecer que o artigo 9º nº3 aponta para algumas
características objetivistas. Ainda que o legislador não tome ostensivamente posição
quanto à querela subjetivista e objetivista, utilizando o termo neutro do pensamento
legislativo, a verdade é que no artigo 9º nº3 ele deixa claro que o intérprete deve
84
procurar ter em mente um legislador ideal que se soube exprimir corretamente e não
a vontade do legislador concreto. Este é um indício objetivista do artigo 9º.
A parte final do artigo 9º nº1 é a adoção da posição atualista. O intérprete deve ter em
atenção as condições específicas do tempo em que a lei é aplicada. O elemento
gramatical vem logo no início do artigo, a função negativa do elemento gramatical
está consagrada no artigo 9º nº2 e a função positiva do elemento gramatical está no
nº3. O artigo 9º nº1 fala ainda ostensivamente no elemento sistemático quando fala
da unidade do sistema jurídico e refere-se ainda, logo de seguida, às circunstâncias
em que a lei foi elaborada, sendo uma menção à occasio leges, para a identificação
que ela tem para a ratio leges.
Integração de lacunas
Bibliografia: Oliveira Ascensão, pág. 381-389 e 433-472.
Temos uma lacuna quando há uma situação da vida merecedora de tutela jurídica
mas que não se encontra regulada em nenhuma norma jurídica. É uma situação que
merecia ser regulamentada, mas não foi.
Um exemplo de lacuna que se suscitou foi quando começou a vulgarizar-se o
transporte aéreo, pois era um novo modelo de transporte com características muito
específicas, as normas de circulação terrestre e marítima não respondiam
devidamente e o que aconteceu, foi que passámos a ter uma situação que merecia
tutela jurídica e que não tinha. Na atualidade, há vários temas que estão a ser
debatidos, exemplo disso é a inteligência artificial. Como diz o Dr. Oliveira Ascensão,
as lacunas são inevitáveis.
Quais são as razões subjacentes à existência de lacunas?
1) A deficiência de previsão: a situação já existia, mas o legislador esqueceu-se, são
situações que o legislador se esqueceu de prever;
2) A intenção consciente do legislador de não regular a matéria, quando se trata de
matérias novas, que ainda estão em evolução, situações em que o legislador opta por
não regular uma situação que ele sabe que merece tutela e fá-lo por uma de 3
situações: porque a matéria ainda é muito recente e, portanto, muito fluída e ele
prefere aguardar até que esteja mais estabilizada; porque prefere deixar essa questão
aos órgãos de aplicação do direito ou porque os próprios órgãos legiferantes não têm
a capacidade para encontrar a solução adequada ou chegar a acordo e, portanto,
preferem deixar a situação por regular;
3) Circunstâncias novas que surgem de maneira imprevisível, quando essa
circunstância surge, não existe regulação para ela. A questão do HIV levantou muitos
problemas de proteção de dados pessoais, nomeadamente de direito à privacidade,
85
que nunca tinham sido suscitados antes porque nunca tinha havido nenhuma situação
que o motivasse
86
não está especificamente regulado. É através da interpretação que é possível
identificar uma lacuna. Perante um caso da vida, o intérprete vai interpretar todos os
preceitos vigentes, chegando à conclusão que nenhum deles regula o caso em
questão. Identificar uma lacuna pressupõe interpretação de todos os preceitos
vigentes e a conclusão de que nenhum deles se aplica àquele caso.
Outro elemento da relação de complementaridade: qual é o mecanismo da integração
de lacunas? Nos termos do artigo 10º, a analogia. Como é que aplicamos a analogia?
Através da aplicação de outras normas do ordenamento. E, portanto, no momento do
preenchimento da lacuna, o recurso à analogia pressupõe a interpretação da norma
para aferir dessa semelhança. Ou seja, é por interpretação que identificamos a lacuna
e é por interpretação que colmatamos a lacuna por analogia.
Uma terceira manifestação, ainda dentro da complementaridade, é que é através da
interpretação que se detetam as lacunas ocultas. Numa lacuna oculta, temos uma ou
mais normas que aparentemente regulam a situação da vida comum que está em
causa. No entanto, por interpretação restritiva ou por interpretação ab rogante da
norma, é revelada que afinal aquela norma não regula aquela situação concreta,
surgindo uma lacuna.
87
O Dr. Oliveira Ascensão fala na questão dos tipos contratuais, que são uma
modalidade de contrato que goza de determinadas características que lhe dão uma
especificidade.
Para quem admite o costume como fonte de direito, se uma matéria é regulada por
costume, então não há lacuna. Para haver lacuna, é necessário que não haja em todo
o sistema jurídico, uma norma jurídica que regule aquela situação.
88
As normas excepcionais, artigo 11º, proibição de aplicação analógica de normas
excecionais. A lógica subjacente ao artigo 11 é se a norma excepcional é uma norma
contrária ao regime regra, se há uma lacuna, deve-se aplicar o regime regra, por
analogia, e não a exceção.
O Dr. Oliveira Ascensão e o Dr. Teixeira de Sousa distinguem, nas normas
excecionais, aquelas que gozam apenas de excepcionalidade formal e aquelas que
se caracterizam por uma excepcionalidade substancial.
A excecionalidade substancial está associada a um conceito que já vem do direito
romano chamado ius singulare. O ius singulare são normas que, porque têm em vista
uma utilidade especial, contrariam o princípio fundamental de direito. Isto significa que
na excepcionalidade substancial não está em causa só uma oposição a um regime
que está consagrado noutra norma, mas está também em causa uma oposição aos
princípios gerais que inspiram aquele instituto ou o regime jurídico.
O Dr. Oliveira Ascensão e o Dr. Teixeira de Sousa defendem que a proibição do artigo
11º só se aplica às normas excecionais que gozam de excepcionalidade substancial.
Se a excepcionalidade é formal, já não se aplica a proibição. Esta proibição não só
não se aplica à interpretação extensiva, como também não se aplica à interpretação
enunciativa.
89
O artigo 10º nº3 só se aplica nos casos em que a analogia não é possível ou não é
adequada. Fala-se, a este propósito, de lacunas rebeldes à analogia. As lacunas
rebeldes à analogia são aquelas para as quais não é possível encontrar nenhuma
norma nem nenhum princípio que assente na mesma razão fundamental de decidir
que possa ser aplicável ao caso omisso. Só nestes casos é que recorremos ao artigo
10º, nº3. E, de acordo com este artigo, a situação deve ser resolvida segundo a norma
que o intérprete criaria se tivesse de legislar dentro do espírito do sistema. Quando o
legislador fala em norma, o que está a fazer é a atribuir uma intenção generalizadora
à solução, isto é reforçado pela referência ao espírito do sistema jurídico. No fundo, o
que o artigo 10º nº3 está a dizer é, segundo o Dr. Oliveira Ascensão, que “na falta de
caso análogo, a situação deve ser resolvida segundo a norma que corresponder aos
espírito do sistema”.
O método jurídico
O aplicador do direito deve começar pelo caso. O caso concreto é o primeiro elemento
a atender, quer na tarefa de interpretação, quer na tarefa de integração. Não se pode
começar pela norma, mas sim pelo caso.
90
O Dr. Castanheira Neves diz que, com esta nova revolução metodológica, deixou de
se centrar a atenção na norma para se começar a localizar no prios metódico, o
primeiro momento metódico, no caso concreto da vida, sobre cuja validade jurídica
haverá de pronunciar-se. A factualidade relevante identifica-se agora como conteúdo
jurídico-material de um caso concreto e, por isso, é que a interpretação não mais é
encarada como um fim em si mesma, mas como um momento normativa e
metodologicamente subordinado ao serviço da aplicação do direito.
Ou seja, neste novo quadro metodológico, a interpretação e a integração esbatem
fronteiras, porque são ambas constituintes do desenvolvimento do direito. Neste
quadro, o juiz ocupa um papel central.
As leis sucedem-se no tempo e isso não gera conflitos, pois existem regras que
resolvem o problema de conflitos de leis:
O problema é: que lei aplicar a uma situação jurídica que nasce ao abrigo de
uma determinada lei, mas que se prolonga no tempo, continuando a existir mesmo
depois dessa lei ser substituída por outra.
91
Este problema surgiu no século XVIII com um novo interesse, estreitamente
relacionado com a proteção dos direitos fundamentais do cidadão e da segurança
jurídica destes contra o poder.
Além disso, como diz Batista Machado, “nada corrói mais a função social do
Direito (tema abordado no 1º semestre) do que a perda de confiança nas suas normas, em
consequência da frustração de expectativas legítimas fundadas nas mesmas
normas”.
Mas esta regra não é absoluta, ou seja, há situações de aplicação retroativa da lei.
Nota:
- Sentença arbitral homologada – sentenças do tribunal arbitral que são confirmadas
pelo juiz.
92
- Transação homologada – acordo das partes numa ação judicial, que é confirmada
pelo juiz.
Casos que o legislador ordinário não pode atribuir a uma lei eficácia retroativa:
Exemplo: Uma lei que venha declarar nulas e de nenhum efeito as alienações do
domínio público marítimo feitas nos últimos 50 anos viola o direito de propriedade
constitucionalmente reconhecido, pois corresponderia a uma expropriação
desacompanhada da indemnização devida.
93
Uma questão que se pode problematizar neste ponto tem a ver com a
retroatividade de grau máximo: pode e deve questionar-se se essa retroatividade de
grau máximo não viola o artigo 111º da CRP relativo ao princípio da separação de
poderes, uma vez que desrespeita o próprio caso julgado anterior.
Nota: Ou seja, se o artigo 282º nº3 da CRP salvaguarda os efeitos produzidos por
normas inconstitucionais e já salvaguardados em caso julgado, por maioria de
razão, terá de se salvaguardar os efeitos, produzidos por normas que não foram
consideradas inconstitucionais, já salvaguardados por decisão transitada em
julgado.
● Em matéria de lei penal incriminadora, lei penal que venha criar novas
penas ou medidas de segurança e lei penal que agrave penas ou
medidas de segurança anteriores é constitucionalmente proibida a
retroatividade (artigo 29º nºs 1, 3 e 4 da CRP).
94
a execução e os seus efeitos penais logo que a parte da pena que se encontrar
cumprida atinja o limite máximo da pena prevista na lei posterior.
● Direito Fiscal – tem-se entendido que a lei fiscal que venha reduzir um prazo
de prescrição de um imposto aplica-se imediatamente a todos os prazos em
curso, contando-se todo o tempo que decorreu ao abrigo da lei anterior. Aqui
também se entende que existe uma retroatividade in mitius. Esta
retroatividade in mitius aplica-se, não só a questões de prazo, mas na
generalidade do Direito Fiscal, aplicando-se sempre a lei mais favorável ao
indivíduo (ex: aplica-se também quanto ao aumento/diminuição do valor do
imposto).
O que o legislador faz é criar um regime substantivo novo que não equivale nem
à lei antiga nem à lei nova e que determina quais são as normas a aplicar a
determinadas situações que se encontram na fronteira entre as duas leis.
2. Na maior parte das vezes, o legislador nada diz e, por isso, temos que
aplicar as regras de Direito transitório (artigos 12º, 13º e 297º do CC).
Artigo 12º nº1 – vigora o princípio geral de não retroatividade da lei. Considera-se
retroativa a lei que se aplica a factos que ocorreram antes do início da sua vigência.
● 1ª regra – Quando não lhe seja atribuída eficácia retroativa expressa pelo
legislador, a lei só dispõe para o futuro.
95
● 2ª regra – Mesmo nos casos em que o legislador admite a aplicação da lei a
factos passados antes do início da sua vigência, presumem-se ressalvados
os efeitos já produzidos pelos factos que a lei se destina a regular
(retroatividade de grau mínimo).
Nota importante: O nº1, 2ª regra diz que, quando há retroatividade, ela é de grau
mínimo. Há retroatividade nas situações do nº2, segunda parte, e nas disposições
transitórias (ou seja, quando o legislador assim o expresse).
Logo, aplica-se a lei antiga a todos os factos jurídicos que tenham sido constituídos
no passado, mesmo que tenham gerado situações jurídicas que ainda estejam em
curso à data da entrada em vigor da lei nova, uma vez que esta apenas se aplica a
factos jurídicos ocorridos após a sua entrada em vigor.
Logo, aplica-se a lei nova aos efeitos da situação jurídica ocorridos após o início da
sua vigência (retroatividade de grau mínimo), ou seja, neste caso, a lei nova, além
de se aplicar às situações jurídicas constituídas após a sua entrada em vigor, aplica-
se também às situações jurídicas constituídas no passado e que ainda estão em
curso à data da sua entrada em vigor, mas apenas a partir dessa data, não incidindo
sobre os efeitos produzidos por essa situação jurídica antes da entrada em vigor da
lei nova.
Nota: Por isso é que há autores que chamam a esta situação retroconexão e não
retroatividade, porque entendem que se aplica a factos presentes e futuros de
situações jurídicas passadas.
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Uma lei que venha alterar o regime das relações pessoais dos cônjuges ou o
regime de administração dos bens do casal, ou que venha alterar o conteúdo do
direito de propriedade, aplica-se, respetivamente, aos casamentos já celebrados
antes da sua entrada em vigor ou aos direitos de propriedade constituídos ou
adquiridos antes dessa mesma data.
No caso específico dos contratos, no fundo, o que se passa com uma norma
supletiva, em sede de Direito dos contratos, é como se as partes as integrassem
conteúdo do contrato (lex transit in contractum – a lei transita para o contrato), pelo
que uma alteração dessa lei em vigor não abstrai do facto que é a celebração do
contrato e, por isso, não se aplica.
No entanto, sempre que a lei nova seja uma norma imperativa que consagra
matérias que tenham por base normas em matéria de estatuto das pessoas, bens,
princípios estruturadores da ordem social ou económica, prevalecem as
disposições da lei nova, pois é nas normas imperativas que as partes encontram a
limitação à sua liberdade contratual.
Exemplo:
- A lei que regula os impedimentos matrimoniais aplica-se à data da celebração
do casamento; não à data em que o impedimento surgiu. E, portanto, a lei que
regula os impedimentos matrimoniais pode ter reflexos sobre situações de
impedimentos que aconteceram antes. Isto não é aplicação retroativa, porque o
facto constitutivo da situação jurídica é o casamento.
97
O artigo 2166º do CC diz que é causa de deserdação ter sido o sucessível condenado por
denúncia caluniosa ou falso testemunho contra o autor da sucessão. Imaginemos que, quando o
herdeiro foi condenado por denúncia caluniosa, não existia este artigo e, por isso, isto não era causa
de deserdação. Mas, quando o autor da sucessão morreu, já existia o artigo 2166º do CC. Aplica-se
esta norma ou não? O que diz Batista Machado é que este facto de ele ter sido condenado é um
facto pressuposto do facto que desencadeia efetivamente a situação jurídica, que é a morte. E,
portanto, a lei aplicável é determinada com base na morte e não no momento em que o herdeiro foi
condenado.
Sempre que está em causa uma lei que contém um prazo e esse prazo é
alterado, as regras para a sua aplicação no tempo constam do artigo 297º do CC.
Nº1: Aplica-se quando a lei nova tem um prazo mais curto que o da lei antiga.
Se a lei nova encurtar o prazo da lei antiga, aplica-se de imediato aos prazos
em curso, mas o prazo da lei nova só se começa a contar a partir do seu início de
vigência, exceto se, segundo a lei antiga, faltar menos tempo para o prazo se
completar.
Exemplo: Lei antiga de 2015 que fixa um prazo em 5 anos. Esse prazo começou a
ser contado a 1 de maio de 2017. Depois, temos uma lei nova que diz que o prazo
já não é de 5 anos, mas de 3. E essa lei nova entrou em vigor a 1 de maio de 2020.
Qual se aplica?
Nota: Se a lei nova vem estabelecer um prazo de metade do tempo que a lei antiga
estabelecia e entrar em vigor a metade do tempo, aplica-se a lei nova, porque a lei
antiga só se aplicará se faltar menos tempo para o seu prazo se completar.
Exemplo: Lei antiga estabelece o prazo de 10 anos; lei nova estabelece o prazo de
5 anos e entra em vigor no decorrer do 5º ano do prazo. Ambas terminam no
mesmo ano, mas aplica-se na mesma a lei nova.
Nº2: Aplica-se quando a lei nova tem um prazo mais longo que o da lei antiga.
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Se a lei nova alarga o prazo previsto na lei antiga, ela aplica-se de imediato
aos prazos em curso, mas conta-se, porém, todo o prazo decorrido desde o
momento inicial.
Nº3: Estas soluções também se aplicam se a lei nova modifica o momento a partir
do qual o prazo se começa a contar:
A regra do artigo 297º do CC não se aplica aos prazos que dizem respeito ao
decurso de um dado período de tempo como fundamento de uma presunção
legal.
Nos termos do artigo 13º do CC, assume-se que a lei interpretativa se integra
na lei interpretada e, deste modo, não se colocam, a propósito das leis
interpretativas, os problemas de retroatividade que se colocam quanto às outras
leis. No entanto, salvaguardam-se os efeitos já produzidos, seja pelo cumprimento
das obrigações, seja por sentença transitada em julgado, por transação ainda
que não homologada (acordo que ainda não foi confirmado pelo juiz), ou outras de
natureza análoga.
Nos termos do artigo 13º nº2, podem ser revogadas pelo desistente ou
confitente (o que confessou) a quem a lei interpretativa for favorável a desistência
ou a confissão não homologadas pelo tribunal.
RESPOSTA: A lei interpretativa vem fixar uma das interpretações possíveis que já
se retirava da lei interpretada. E, portanto, não há violação de expectativas seguras
dos destinatários.
99
Se não houver uma norma superior que proíba a retroatividade, o que se faz é
considerar-se que o que o legislador quis foi aplicar àquela norma inovadora o
regime do artigo 13º do CC.
Portanto, para que uma LN possa ser realmente interpretativa, são necessários 2
requisitos:
2. Que a solução definida pela nova lei se situe dentro dos quadros da
controvérsia, sendo que o julgador ou o intérprete poderiam chegar a ela sem
ultrapassar os limites da interpretação da lei.
Nota:
- Não é interpretativa uma lei cuja solução fixada para resolver o ponto controvertido
seja tal que um intérprete não poderia chegar a ela pelas vias normais da
hermenêutica jurídica.
Problema: É possível invalidar um ato que, à data da sua prática, não respeitou
uma formalidade exigida pela lei em vigor, sendo que a lei nova veio eliminar a
exigência dessa formalidade, pelo que, se avaliado à luz da lei nova, o ato seria
válido?
Deve considerar-se que a alteração pela lei nova em nada afeta o vício de que
padece o ato (regra), mas, no entanto, Batista Machado defende que, se a lei nova
for mais favorável ao particular, não afetando interesses da contraparte ou de
terceiros, faz sentido aplicar aqui uma espécie de retroatividade in mitius,
semelhante à do Direito Penal (exceção).
100
VIII. A tutela do Direito e dos direitos
Bibliografia do ponto 8:
Sanção – uma consequência desfavorável que atinge aquele que violou a norma
jurídica. É o principal meio de tutela das normas jurídicas (daí que OA não fale em tutela,
mas sim em sanções).
101
Exemplo prático: a minha casa está a arder e o meu cão está fechado dentro de
casa. Eu sei que o meu vizinho tem um extintor, mas não está em casa. Eu parto o
vidro e entro na casa dele para ir buscar o extintor. O meu vizinho não violou
nenhuma norma jurídica, mas foi afetado pelo meu ato.
Daí que desde sempre se assista a uma procura de intervir por parte dos
órgãos públicos. Esta evolução passou por várias fases, culminando atualmente
com o Estado a tender para a universalização da justiça pública e eliminando a
insegurança da justiça privada. No entanto, não se pode dizer que esta se extinguiu,
uma vez que ainda existem formas de justiça privada/autotutela.
Exemplo:
102
Sanção pecuniária compulsória (artigo 829º-A do CC). Esta sanção aplica-
se nas prestações de facto infungíveis* em que não estejam em causa
especiais qualidades científicas ou artísticas do obrigado. Consiste em
condenar o devedor inadimplente (em incumprimento) ao pagamento de uma
quantia pecuniária por cada dia de atraso no cumprimento ou por cada
infração.
Em ambos os casos, o devedor tem licitude para não adotar a conduta. Elas
confundem-se quando se fala da entrega de uma coisa.
103
Há 3 tipos de reconstituição:
Reconstituição natural/in natura/em espécie (artigo 566º do CC) – é o
modo de reconstituição-regra e aplica-se sempre que possível e adequada à
reparação dos danos, desde que não seja excessivamente onerosa para o
devedor. Neste tipo de reconstituição, a parte lesada é colocada
materialmente na situação em que estaria se não tivesse havido a violação
da norma ou da conduta devida.
104
mesmo sem intervenção e contra a vontade do devedor. Num contrato-promessa,
as partes obrigam-se a, no futuro, celebrar outro contrato (isto acontece, por
exemplo, se a pessoa ainda precisar de dinheiro para pagar algo que queira
adquirir). O efeito jurídico de um contrato-promessa é a obrigação de contratar. O
contrato-promessa goza de execução específica, ou seja, o juiz substitui-se ao
devedor e celebra o contrato de compra e venda como se fosse o devedor.
105
atividades, para evitar os danos sociais que delas poderiam vir a resultar.
Exemplo: autorização de uma manifestação; licenças camarárias em sede
de urbanismo.
Medidas de segurança que são aplicadas para evitar a prática de
contraordenações e/ou crimes futuros quando o sujeito revela uma especial
tendência para delinquir.
Exemplo: apreensão da carta de condução; internamento de um inimputável
– não é passível de juízo de culpa por um crime praticado dadas as suas
características, daí que lhe seja atribuída uma medida de segurança privativa
da liberdade; impedir adeptos praticantes de violência nas claques de
frequentar os estádios; insolvência dolosa (levar de propósito a empresa à
falência) – a consequência é que durante algum tempo o sujeito fica impedido
de realizar qualquer atividade comercial.
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Exemplo: O artigo 875º do CC exige que a compra e venda de imóveis seja
feita por escritura pública ou documento particular autenticado. As partes, em
desrespeito por esta norma, decidem celebrar um contrato de compra e
venda de um apartamento por WhatsApp. Este contrato é nulo, ou seja, a lei
retira os efeitos jurídicos a esse contrato.
Inexistência jurídica – casos mais graves em que se pode dizer que para o
Direito não há nada, ou seja, não se reconhece sequer a existência de uma
base que permita afirmar que existe um ato. Há autores que rejeitam esta
categoria, porque ela não goza de enquadramento geral na lei, mas parece
de admitir que há casos em que o vício é tão grave que não se deve
reconhecer sequer a possibilidade de redução ou conversão e a usucapião
que existem nos negócios nulos. Segundo Oliveira Ascensão, a inexistência
jurídica corresponde a um “nada jurídico”.
Exemplo: artigo 1628º do CC
Nota: Esta figura foi invocada pela doutrina francesa no campo do Direito
matrimonial, na medida em que não se podia, na altura, considerar válido o
casamento entre pessoas do mesmo sexo ou cujo consentimento não foi prestado
perante um funcionário do registo civil. Ora, tais hipóteses não eram incluídas pela
lei entre os casos de nulidade, pelo que a doutrina desenvolveu esta figura: nesses
casos, a lei não previa a nulidade, porque o negócio era inexistente, e só o que
existe pode ser nulo.
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● Absoluta: quando tem eficácia erga omnes, ou seja, pode ser invocada
por todos os interessados, afetando todas as pessoas.
Exemplo: negócio sujeito a condição suspensiva, se a condição não
se verificar.
Nota: A morte não é uma condição, uma vez que não é incerta – é um termo.
Nota global: Os dois últimos tipos de ineficácia existem e vêm previstos em artigos.
O primeiro apenas vem previsto quanto ao casamento, mas tem-se entendido que
há atos de tal maneira graves que justificam a sua inexistência.
DIFERENÇAS:
● O ato nulo não produz desde o início os efeitos a que tendia, ou seja, a
lei não lhe reconhece o poder de produzir efeitos. O ato anulável produz os
seus efeitos e é tratado como válido até ser judicialmente declarado
anulado. Se o ato anulável vier a ser anulado, os seus efeitos são destruídos
retroativamente.
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● Se o ato anulável não for declarado anulado dentro do prazo legal para o
efeito, ele passa a ser definitivamente válido. O direito de anulação de um
ato anulável é um direito potestativo das pessoas com legitimidade para
requerer a anulação. Perante um ato nulo não há escolha, mas perante um
ato anulável há – a escolha de quem tem legitimidade para o anular de o
poder anular, destruindo-se retroativamente os seus efeitos, ou não e,
passando o prazo, ele torna-se válido como se nunca tivesse tido um defeito.
Regime da nulidade
➔ Opera ipso iure, ou seja, não é necessário intentar uma ação ou emitir uma
declaração para que o ato seja nulo, ele simplesmente é nulo por força do
Direito.
➔ A nulidade é invocável por qualquer pessoa interessada.
➔ A nulidade pode ser invocada oficiosamente pelo tribunal, ou seja, por
iniciativa do tribunal, ainda que ninguém o tenha solicitado, recusando os
efeitos do ato (artigo 286º do CC).
➔ A nulidade é insanável pelo decurso do tempo (não há prazo para a invocar),
exceto quando dá origem a uma prescrição aquisitiva por usucapião (a
nulidade do ato não impede a aquisição por usucapião – o ato não se torna
válido, mas a nulidade não impede o exercício por usucapião).
Regime da anulabilidade
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➔ É sanável pelo decurso do tempo, ou seja, se não for intentada ação em
tribunal dentro do prazo legalmente fixado para invocar a anulabilidade, o ato
torna-se definitivamente válido.
Nota importante:
- O ato nulo não produz efeitos; o ato anulável produz todos os seus efeitos até ser
anulado e, se anulado, esses efeitos são destruídos retroativamente.
1. Operam retroativamente;
110
Estes institutos têm como objetivo aproveitar, dentro do possível, as
manifestações de vontade que estão na origem de um ato nulo ou anulável.
Nota:
Requisitos:
111
3. A conversão tem de manter a finalidade jurídico-económica do negócio para
o qual se converte.
5. Há casos em que a lei obriga à conversão (ex: artigo 946º nº2 do CC).
Ação direta (artigo 336º do CC) – consiste num recurso à força com o fim de
realizar/assegurar o próprio direito, quando esse meio for indispensável, pela
impossibilidade de recorrer, em tempo útil, aos meios coercivos normais, para evitar
a inutilização prática desse direito.
Pode consistir na apropriação, destruição ou deterioração de uma coisa; eliminação
da resistência irregularmente oposta ao exercício do direito; ou, noutro ato análogo,
não sendo lícita quando sacrifique interesses superiores aos que o agente visa
assegurar/realizar.
Três requisitos da ação direta:
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Esta distingue-se dos outros dois, porque eles têm natureza defensiva, ou seja,
pretendem evitar que uma agressão ou perigo se efetivem ou prossigam. Já a ação
direta é ativa, ou seja, pretende remover uma situação de facto já consumada ou
antecipa-se a garantir ou satisfazer a realização de um direito. Além disso, tem uma
amplitude muito maior que os outros dois meios de autotutela.
Legítima defesa (artigo 337º do CC e 32º do CP) – reação contra uma agressão
alheia, atual ou iminente.
Cinco requisitos para a legítima defesa:
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caso o tribunal pode fixar sempre uma indemnização equitativa ao lesado e
condenar nela não só o agente, mas também aqueles que tiraram proveito do ato ou
contribuíram para o estado de necessidade (artigo 339º nº2 do CC).
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