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Organização Judiciária

Organização judiciária (Universidade Lusíada de Lisboa)

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ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA
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INTRODUÇÃO

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O cerne da disciplina é o conjunto de órgãos ou entidades a quem cabe, nos termos da


Constituição, administrar a justiça. A Justiça é administrada em nome do povo.

I - FUNÇÃO JURISDICIONAL

A função jurisdicional concretiza-se no poder de aplicar/dizer o Direito, ou seja, é a


atividade de aplicar o Direito. Esta função pertence aos tribunais (poder judicial) - os tribunais são
órgãos de soberania e têm poderes de autoridade (dotados de jus imperii) - art. 202º CRP.
Importa notar que os tribunais não devem ser vistos, no seu conjunto, como um único órgão
de soberania, os tribunais não constituem um órgão de soberania “coletivo ou múltiplo”. Cada
tribunal constitui um órgão de soberania.
A competência é a parte do poder jurisdicional que compete a cada tribunal. O poder
jurisdicional pertence a cada tribunal, não resulta da atribuição ou transferência de poderes de
outra entidade; não é um poder delegado. Esta reserva de jurisdição, note-se, deve ser entendida
como uma reserva estabelecida a favor dos juízes e não, igualmente, a outros agentes ainda que de
intervenção essencial nos tribunais.
Finalidades:
• Defender os direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos;
• Dirimir os conflitos de interesses públicos e privados;
• Reprimir a violação da legalidade democrática.
Finalidade de cariz mais objetiva: quando, imediatamente direcionada à tutela dos
interesses coletivos - assume aqui especial relevância o Direito Processual Penal (assente no
inquisitório)
Finalidade de cariz mais subjetiva: quando, mais direcionada à tutela dos interesses e
direitos individuais - assume aqui especial relevância o Direito Processual Civil no âmbito da
jurisdição contenciosa - é prosseguida uma finalidade essencialmente subjetiva, as partes dispõem
da instância.

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II - PRINCÍPIOS GERAIS DA FUNÇÃO JURISDICIONAL

PRINCÍPIO DA INDEPENDÊNCIA DOS TRIBUNAIS

O Estado encontra-se repartido por vários poderes e os tribunais, no exercício da função


jurisdicional, devem encontrar-se exclusivamente subordinados ao Direito, ou seja, o poder
executivo não deve interferir no poder jurisdicional. O Estado só é Estado de Direito, se o poder de
julgar não estiver dependente do poder executivo, ou seja, não devem subordinar-se ao poder
executivo. A independência é a garantia de que a sentença judicial pode valer como emanação do
direito e não simplesmente como ato decisionista do Estado.
Este princípio encontra várias concretizações:
• Independência Funcional - significa que no exercício da função jurisdicional, os
juízes apenas devem obediência às diferentes fontes de Direito;
• Independência Coletiva - significa que os juízes dos tribunais judiciais regem-se
por um só estatuto. Os juízes magistrados judiciais têm um estatuto próprio que
regula a sua função de forma a concretizar esta independência. Têm como órgão
superior de gestão o Conselho Superior da Magistratura. Este órgão, por
exemplo, decide as sanções a aplicar aos juízes e as suas movimentações. É um
órgão maioritariamente composto por juízes.
• Independência Pessoal - além dos juízes formarem um corpo único e esse corpo ser
independente, também o próprio juiz deve ser independente. Significa que deve
atuar apenas e só de acordo com a sua consciência quanto à aplicação racional
do Direito, ou seja, não pode ser influenciado por fatores externos à lei. Nota: por
exemplo, o Tribunal de Segunda Instância está num plano superior ao Tribunal de
Primeira Instância, mas os juízes deste último não devem obediência aos juízes do
Tribunal de Segunda Instância.

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PRINCÍPIO DA IMPARCIALIDADE DOS JUÍZES

A imparcialidade é a consequência necessária da independência dos juízes e da sua


exclusiva subordinação ao Direito. Significa que um juiz deve manter-se equidistante
relativamente às partes; deve atuar com isenção e objetivamente; as questões subjetivas não
devem vir ao de cima.
Este princípio justifica várias concretizações:
• O dever legal de os juízes se declararem impedidos;
• A faculdade de os juízes pedirem escusa ou dispensa;
• O poder atribuído às partes de suscitarem incidentes de suspeição e recusa do juiz,
ou de requerer a sua declaração de impedimento.
A lei cria garantias de imparcialidade:
• Impedimentos - situações que podem criar um elevado risco de parcialidade e
portanto constituem o juiz de dever abster-se, por sua própria iniciativa, de intervir
no processo.
• Suspeições - casos de menor risco, mas que ainda assim são suscetíveis de colocar
em causa a imparcialidade. Neste caso, o juiz tem o direito de pedir dispensa ou
escusa.

PRINCÍPIO DA IRRESPONSABILIDADE DOS JUÍZES

Este princípio tem consagração expressa na Constituição no artigo 216º, nº2. Este princípio,
em primeiro lugar, procura que os juízes se mantenham independentes e imparciais e que não
possam existir quaisquer circunstâncias que possam implicar ou o medo ou receio de um castigo,
mas também que não impliquem a expectativa de receber um prémio. Pretende-se que quando os
juízes estão a exercer a sua função de administrar a justiça em nome do povo o façam de “cabeça
limpa”, apenas de acordo com a sua mais intima convicção à cerca dos factos que se passaram ali à
sua frente.

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Isto não quer dizer que seja um princípio absoluto porque, de facto, há situações - situações
de maior gravidade, de maior censurabilidade - em que os juizes podem ser obrigados a responder
pelas consequências negativas da sua conduta.
Situações de responsabilidade dos juízes:
• Responsabilidade Civil (significa que alguém é chamado a responder pelos seus
atos, e se esses atos causarem danos é obrigado a repará-los) por erro judiciário,
regulada na Lei 67/2007 (alterada pela leia nº 31/2008, de 17/07), artigos 12º a 14º.
O Estado (titular da função jurisdicional) pode ser civilmente responsabilizado, pelos
danos decorrentes de decisões jurisdicionais manifestamente inconstitucionais ou
ilegais ou injustificadas por erro grosseiro na apreciação dos respetivos
pressupostos de facto. “Fora dos casos em que a falta constitua crime, a
responsabilidade civil apenas pode ser efetivada mediante ação de regresso do
Estado contra o respetivo magistrado, com fundamento em dolo (intenção de causar
dano) ou culpa grave, ou seja, se o Estado for condenado a pagar pode depois ir
exigir essa indemnização ao juiz.
• Responsabilidade Penal: criminalização de certas condutas como denegação de
Justiça (negar-se a julgar) e prevaricação - 369º C.Penal. Atuação conscientemente
contra Direito.
• Responsabilidade Disciplinar: só pode ser exercida pelo Conselho Superior da
Magistratura - art. 217º, nº2 da CRP. Constituem infração disciplinar os factos, ainda
que meramente culposos, praticados pelos magistrados judiciais com violação dos
deveres profissionais e os atos ou omissões da sua vida pública ou que nela se
repercutam incompatíveis com a dignidade indispensável ao exercício das suas
funções.

PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE DE FUNDAMENTAÇÃO

“As decisões dos tribunais que não sejam de mero expediente são fundamentadas na forma
prevista na lei” - art.205º, nº 2 da Constituição. Também está consagrado no art.154º CPC. Decisões
de “mero expediente”, aquelas que se destinam a assegurar a normal tramitação da causa (o
andamento regular do processo - 152.º nº 4 CPC).
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Razões que justificam este princípio:


• Controlo da administração da justiça;
• Exclusão do carácter voluntarístico e subjetivo do exercício da atividade
jurisdicional e abertura do conhecimento da racionalidade e coerência
argumentativa;
• Melhor estruturação dos eventuais recursos, permitindo às partes um recorte mais
preciso dos vícios das decisões judiciais.
• Atribuir às decisões um caráter persuasivo.

À obrigatoriedade em causa está, igualmente, inerente a força persuasiva que as decisões


devem ter. Aos juízes cabe desenvolver um esforço sério e rigoroso no sentido de demonstrarem o
acerto e correção das suas decisões. Uma decisão não fundamentada ou deficientemente
fundamentada é, por natureza, uma decisão que convida à impugnação.

PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE DAS DECISÕES

Este princípio está consagrado no artigo 205º, nº2 da Constituição e diz que as decisões dos
tribunais são obrigatórias e prevalecem sobre as de quaisquer outras autoridades.
Mas quando olhamos para este princípio e quando lemos o que diz a Constituição podemo-
nos perguntar: mas o que é que eu tenho haver com aquela decisão? Se há uma sentença que resolve
um litígio entre o Abel e o Bento, o que é que o Carlos tem haver com aquela decisão, se ele nem se
quer participou naquele processo?
Primeira nota: não significa que as decisões produzem efeitos para todos (erga omnes)
significa apenas que todos temos de respeitar os efeitos daquela sentença; ou seja, todos devem
respeitar a eficácia das decisões, ainda que não estejam abrangidos por esses mesmos efeitos.
Assim, por exemplo: se há uma sentença que resolveu um litígio entre o Abel e o Bento,
dizendo que o Bento é que é o proprietário, ao Carlos, aquela sentença não lhe diz nada, mas não
pode atuar como se o proprietário fosse o Abel e não o Bento, porque se a sentença diz que o Bento
é o proprietário, então ele tem que respeitar o efeito dessa sentença. O efeito dessa sentença foi o de
declarar que o Bento é que era o proprietário e, portanto, o Carlos não pode perguntar ao Abel se
este lhe quer vender aquele bem. O Carlos não pode atuar assim porque se o fizer está a comprar um
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bem alheio. Embora a sentença, ao Carlos, não lhe diga respeito, ele tem de respeitar os efeitos dela
decorrentes. Significa que, embora as decisões sejam obrigatórias, tal não implica que elas
produzam efeitos para todos, mas apenas que todos devem respeitar a sua eficácia, os seus
efeitos.

Exemplo: o Abel intenta uma ação contra o Bento, pedindo o reconhecimento de que é
titular do direito de propriedade do prédio X, porquanto havia comprado o mesmo ao Carlos, e a
condenação de Bento a proceder à sua entrega.
Vamos supor que a sentença julgou procedente, ou seja, deu razão ao Abel. Julgar
procedente é conhecer o pedido de forma favorável a quem pede, e quem pede, neste caso, é o
Abel.
Julgou procedente o pedido e agora aparece-nos aqui o Carlos, que não tem nada haver com
o processo, a dizer que ele é que é o proprietário do prédio X. O Abel acaba por dizer que o Carlos
não tem razão nenhuma porque ele tem uma sentença, que lhe deu razão, e também há um princípio
na Constituição que diz que as decisões dos tribunais são obrigatórias. O Abel tem razão? Sim e
não.
É claro que o Carlos tem de respeitar a sentença, ou seja, tem que admitir que há uma
sentença que considerou o Abel como proprietário e que condenou o Bento a entregar-lhe. Mas o
Carlos como não está incluido, ou seja, não está abrangido pelos efeitos da sentença, embora tenha
que os respeitar, não está impedido de intentar uma ação contra o Abel dizendo que ele é que é o
proprietário, pedindo, desta forma, que o tribunal declare que ele é que é o proprietário e que
condene o Abel a entregar-lhe o prédio X.
Autoridade da sentença: Qualidade da sentença que resulta do facto de ser um ato
emanado de um órgão de soberania, que se traduz na obrigatoriedade da sua aceitação enquanto
definição de uma situação jurídica vinculativa para os sujeitos abrangidos pela sua eficácia.
O Carlos não pode por em causa que existiu uma sentença que julgou estes pedidos
procedentes, não pode por em causa a autoridade desta sentença, mas ele, embora tenha de respeitar
os efeitos, não está por eles abrangido porque não foi parte neste processo e porque o caso julgado
só produz efeitos, só é eficaz quanto às partes.

Convém também distinguir quais são os efeitos da sentença (eficácia que pode resultar das
sentenças) . Podemos dizer que a sentença pode ter dois efeitos, duas grandes familias de efeitos: o
efeito declarativo e o efeito constitutivo.
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O efeito declarativo, ou seja, significa que a sentença declara, diz de forma vinculativa, de
forma imperativa, qual o direito aplicável aos factos, mas a sentença não altera o conteúdo da
situação, ela limita-se a declarar de forma vinculativa, de forma imperativa qual o Direito, portanto,
torna certa ou mais certa uma realidade jurídica já existente, ou seja, neste caso, não foi a
sentença que constituiu o Abel como proprietário, ele já era proprietário porque comprou, o tribunal
vai é declarar de forma imperativa que ele é que é o proprietário.
Outro exemplo: a sentença reconhece que o Abel é o pai de Bento. Não é a sentença que
constitui o Abel como pai do Bento, o Abel há-de ter sido pai do Bento de alguma maneira, ela
apenas limita-se a declarar que o Abel é pai do Bento.
Outro exemplo: A vende um imóvel a B verbalmente. Este negócio é inválido. Que tipo de
invalidade? Nulo. Alguma vez o negócio produziu efeitos? Não. Quem é que continuou a ser
sempre o proprietário? O A. A sentença que vier a declarar a nulidade não constitui, não destrói,
limita-se a declarar uma situação existente.
Mas ao contrário, as sentenças também podem modificar, também podem alterar a ordem
jurídica existente, constituindo, modificando ou extinguindo situações jurídicas (efeito
constitutivo). Por exemplo, numa ação de divórcio os conjugues entram no tribunal casados, mas se
a sentença decretar o divórcio eles saem de lá divorciados - a sentença alterou uma situação
jurídica existente.
Outro exemplo: A, com 14 anos, vende um imóvel que tinha herdado do seu avô a Bento. O
A pode fazer isto? Não, porque é menor, mas vendeu. As pessoas que exercem as responsabilidades
parentais do menor podem requerer a anulabilidade. Se o tribunal decretar a anulabilidade o
contrato extingue-se, ou seja, a sentença tem um efeito constitutivo - foi a sentença que extinguiu
uma situação jurídica existente.

As sentenças, por sua vez, a partir de uma determinada altura tornam-se imodificáveis
porque deixa de ser possível a sua modificação. Isto acontece porque as sentenças são
insuscetíveis de recurso ordinário ou de reclamação - a isto se chama trânsito em julgado (art.
628º - CPC).
Uma vez transitado em julgado, a sentença adquire uma qualidade, a qualidade de caso
julgado; significa que ela torna-se imodificavel e produz um efeito preclusivo (eficácia do caso
julgado) - a extinção do poder jurídico de obter uma decisão jurisdicional suscetível de declarar
vinculativamente uma situação jurídica incompatível com uma situação anteriormente declarada
(perdeu-se a possibilidade de alterar a decisão). O prazo para o caso julgado é de 30 dias.
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Exemplo: se uma sentença transitar em julgado porque já não é suscetível de recurso


ordinário nem de reclamação, adquirindo assim a qualidade de caso julgado, o B fica
impossibilitado de obter uma sentença numa ação contra o A, ou seja, de obter uma sentença que
seja incompatível com esta que declarou o A proprietário. É isto que significa a extinção do poder
jurídico de obter uma decisão suscetível de vir declarar uma situação que é incompatível com uma
anterior.
Vamos supor que agora o C vem dizer que ele é que é o dono do prédio X. Será que aquela
sentença o abrange? Não, porque o C não foi parte naquela ação e portanto ele pode demonstrar em
tribunal que ele é que é o verdadeiro proprietário. Ele não está impedido de obter uma sentença que
retire eficácia à primeira. Embora não se possa por em causa (autoridade da sentença) que existiu
uma sentença que declarou que o A é que era o proprietário. O que acontece é que o C não está
vinculado à eficácia da sentença, não é abrangido por ela, mas tem de respeitar a sua autoridade;
tem de respeitar os efeitos que aquela sentença produziu entre o A e o B.

O caso julgado pode assumir duas modalidades: o caso julgado formal (art. 620º - CPC) e o
caso julgado material (art. 619º - CPC).

(Para que possa haver uma ação têm que estar reunidos vários pressupostos que iremos
estudar mais à frente)
O A intentou uma ação contra o B, pedindo a anulabilidade do contrato, alegando que este
lhe vendeu um automóvel por 25 mil euros e que o carro estava estragado, e o B vem dizer que é
parte ilegítima, ou seja, que não tinha que estar no processo. Vamos supor que o tribunal considera
que o B é realmente parte ilegítima, ou seja, não está preenchido um dos pressupostos para que haja
ação. O que é que o tribunal vai fazer? O tribunal quando declara que o B é parte ilegítima já não
vai conhecer do pedido, acaba logo ali o processo e vai absolver o réu. Mas vai absolver o réu de
quê? Da instância. O tribunal ao deparar-se com a falta de um pressuposto nem se quer se vai
debruçar sobre o assunto. Exceção dilatória (art. 577.º, al. i) - CPC) - o juiz fica impedido de
apreciar o mérito da causa, dando lugar à absolvição do réu da instância (art. 576.º n.º 2 - CPC).

Nas situações normais estão reunidos todos os requisitos e a sentença conhece do pedido.
Se julgar o pedido procedente dá razão ao autor e condena o réu, neste caso, decreta a
anulabilidade. Mas o tribunal também pode dizer que o A não fez prova que o carro estava naquelas
condições e então absolve o réu do pedido, ou seja, o tribunal conhece o pedido, julga-o
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improcedente e absolve o réu do pedido. Há dois tipos de absolvição: da instância quando o


juiz não conhece o pedido ou então absolvição do pedido quando o juiz conhece o pedido.

Quando haja uma absolvição da instância, estamos perante uma decisão que foi
proferida sobre a relação processual, ou seja, quando o juiz entende que o B é parte iletigima está
a debruçar-se sobre uma questão meramente processual. Quando assim seja, quando essa decisão
transitar em julgado, diz-se que o caso julgado é formal porque essa decisão apenas tem força no
próprio processo em que a decisão é proferida - significa que naquele processo o juiz já não pode
voltar a dizer que o B é parte legitima, já disse que é ilegítimo, transitou em julgado, já não pode
voltar com a palavra atrás naquele próprio processo. O A, se for teimoso, não fica impedido de
propor nova ação contra o B porque o caso julgado apenas produziu efeitos dentro do processo em
que a decisão foi proferida, o que acontece é que vai levar com outra decisão igual e assim
sucessivamente.
Quando o juiz conhece o pedido diz-se que ele conhece sobre o mérito da causa, e
quando conhece o mérito da causa o caso julgado que se forma é o caso julgado material. Tem
força, produz efeitos dentro e fora do processo. Por isso é que numa outra ação, se estiverem em
causa os mesmos factos e o mesmo pedido a outra parte pode dizer que isso ja constituiu caso
julgado (art. 619º - CPC).

Decidir o mérito da causa é conhecer o pedido, julgando-o procedente ou


improcedente. Quando é que a decisão conhece unicamente sobre a relação processual?
Quando o juiz profere certas decisões que nada tem haver com o conhecimento do mérito, que
nada têm haver com o conhecimento do pedido.

RESUMO: Quando vos disser que o réu foi absolvido da instância, o juiz não conheceu do
pedido; conheceu unicamente uma questão relativa ao processo. E qual é o caso julgado que daqui
se forma? O caso julgado formal. Ele produz efeitos dentro do processo. Isto significa que o autor
fica impedido de propor nova ação com os mesmos sujeitos, com os mesmos factos? Não, porque o
caso julgado só produziu efeitos dentro daquele processo.
E se o juiz conhecer do pedido? Se a sentença transitou em julgado, se constitui caso julgado
material, significa que a decisão produz efeitos dentro e fora do processo e, então, se vem uma outra
ação com vista a obter alguma coisa que já foi decidida e que, portanto, é incompatível com aquilo
que já foi decidido e é imodificavel, dentro dos limites dos artigos 580º e 581º, não pode ser.
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Identidade dos sujeitos (releva a qualidade jurídica: a mesma posição jurídica), identidade
do pedido (pretende-se obter o mesmo efeito jurídico) e identidade de causa de pedir (o mesmo
facto ou substrato factual) - artigos 580º e 581º.

A palavra “instância” tem vários significados: tem o significado de as perguntas que se


fazem às testemunhas; relação jurídico-processual que se estabelece entre o autor, o tribunal e o réu;
e se e não estão reunidos alguns dos pressupostos processuais, o juiz não conhece do mérito e
absolve o réu da instância.

Podemos dizer que o caso julgado tem uma função negativa e uma função positiva.
A função negativa é a mais corrente, que é aquela que está prevista no artigo 580º do CPC.
Não nos podemos esquecer que os tribunais exercem uma função que é a de exercer a justiça em
nome do povo, e, portanto, o tribunal não pode, não deve ser colocado na alternativa, de ter que
contradizer ou colocar em causa ou até de repetir uma decisão anterior. Esta função serve para
evitar que o tribunal seja colocado naquela posição, naquela alternativa. É esta função que dá lugar
à excessão do caso julgado. Ou seja, se o A intenta uma ação contra o B, o tribunal conhece do
mérito do pedido e vamos supor que absolveu o B do pedido, a decisão transitou em julgado,
constitui caso julgado e agora o A, teimoso, vem tentar nova ação contra o B com os mesmos factos
e com o mesmo pedido para tentar que outro juiz lhe dê razão. Não vai poder fazer isso porque o B
vai poder dizer que já tentou isso uma vez e que já não pode vir novamente com o mesmo pedido e
com a mesma causa de pedido porque isso já constituiu caso julgado material. O juiz diz que o B
tem razão e absolve-o desta instancia nesta ação.

A função positiva, embora semelhante, não tem a mesma finalidade. Pretende-se impor
autoridade do caso julgado. No exemplo que nós começámos a ver, entre o A e o B havia uma
sentença que constituiu caso julgado e que dizia que o B é que era o proprietário. O C não está
impedido de tentar uma ação contra o A para que o tribunal diga que ele é que é o proprietário. O A
não pode dizer ao C isto porque os sujeitos não são os mesmos. Não se verifica a exceção do casos
julgado nos termos do artigo 580º. Aqui, quando C intenta ação contra o A, o A não pode invocar a
exceção do caso julgado. Mas o tribunal que vai apreciar agora este litígio entre o A e o C, tem que
respeitar que há uma sentença que diz que no confronto entre A e B, o A é que era o proprietário. A
sentença que vier a ser proferida entre o processo A e C não pode contrariar a sentença que foi
proferida entre A e B.
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No processo entre A e C, embora possa vir a ser proferida uma sentença que diga que o C é
que é o proprietário, nesta sentença não se pode por em causa que houve um processo anterior em
que foi proferida uma sentença que dizia que, no confronto entre A e B, o proprietário era o A. Este
tribunal tem que respeitar esta sentença. Não pode por em causa. Não pode dizer que naquela
sentença o tribunal já errou quando disse que o A era o proprietário e que afinal o A não era o
proprietário - quem era o proprietário era o B. O C tem que encontrar uma causa de pedido que lhe
permita fazer prova de que ele é o proprietário, mas respeitando o caso julgado nesta sentença. O
juiz deve julgar o mérito da causa entre A e C, impondo às partes uma sentença anterior.

O caso julgado tem limites: a regra é a da eficácia relativa do caso julgado. Significa que,
regra geral, o caso julgado apenas produz efeitos para as partes (que são os intervenientes
daquele processo).
Terceiros juridicamente indiferentes: “Eficácia reflexa” do caso julgado - Melhor se diria:
“autoridade da sentença”
Terceiros juridicamente interessados:
• Relações Jurídicas: correntes, paralelas e dependentes - é possível a “extensão” se
favorável a terceiros e em (outros) casos expressamente previstos.
• Relações Jurídicas: independentes e incompatíveis - Não é possível a “extensão”
do caso julgado a terceiros.

Existem limites subjetivos e objetivos.

Limites subjetivos: eficácia relativamente a terceiros.


• Transmissão por ato entre vivos da coisa ou direito litigioso (art. 263º, nº3);
• Nas questões relativas ao estado das pessoas (art. 622º);
• Nas situações de chamamento de terceiros (arts. 320º; 323º, nº4; 340º);
• Nas ações populares (art. 19º, nº1 da Lei nº 83/95, de 31 de Agosto).
- Caso Julgado secundum eventum litis:
- Obrigações solidárias (art. 522º e 531º CC);
- Obrigações Indivisíveis (art. 538º, nº2 CC);
- Fiança e Hipoteca constituída por terceiro (art. 635º, nº1 e 717º, nº2).

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Limites objetivos: os limites são fixados pelos artigos 619º, 580º e 581º.

I - Aspetos gerais, parte dispositiva da sentença.


O caso julgado compreende, a resposta expressa à pretensão do demandante;
E ainda o que se encontra implícito, mas necessariamente negado pelo acolhimento na parte
dispositiva, bem como o que se encontra implícito mas necessariamente e incindivelmente acolhido
pela negação que aquela possa conter.
Se a sentença se pronúncia sobre uma pretensão limitada a uma parte do bem
jurídico…: A decisão sobre o “menos” pode não valer sobre “o mais”; a decisão sobre o “mais”
pode produzir caso julgado sobre “o menos”.

II - Caso Julgado e fundamentos da decisão.


• Teoria Amplexiva: A força do caso julgado cobre a decisão e também a sua
fundamentação - favorece a harmonia dos julgados, mas à mesma contrapõe-se o
princípio dispositivo. São as partes que definem e limitam o objeto do processo. A
sentença não deve ir para além da intenção das partes, nem ter consequências das
quais as partes pelo decurso do processo se não aperceberam.
• Teoria Restritiva: Por regra, o caso julgado cobre apenas a decisão propriamente
dita - O caso julgado pode estender-se à resolução das questões preliminares que
sejam “antecedente lógico indispensável à emissão da parte dispositiva” da
sentença.
• A decisão não pode dissociar-se da causa de pedir. A causa de pedir
individualiza o pedido e assim a resposta dada pela sentença.

Exemplos:
• A pede a condenação de B no pagamento de 1000 euros, invocando como causa de
pedir, a venda de X. A ação procede. - B está impedido de demandar A pedindo a
anulação do contrato e uma indemnização por danos.
• C pede a condenação de D no pagamento de 100 euros. D invoca, com êxito, a
nulidade do contrato e é absolvido daquele pedido:
- C está impedido de com base no mesmo contrato pedir a condenação de D no
pagamento de 50 euros, ou na entrega de X (outra obrigação pretensamente
decorrente daquele).
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- D não pode pedir contra C, invocando caso julgado quanto à declaração de


invalidade, uma indemnização por danos decorrente da nulidade (declarada).

III - Limites Temporais (objetivos)


Coberto pelo caso julgado está uma questão concreta por referência a um
determinado momento (art. 611º).
• A preclusão (o caso julgado) abrange a invocação de fatos pretéritos que
contrariem a decisão já transitada.
- No âmbito da mesma causa de pedir, o autor fica impedido de invocar
“novos” factos.
- O réu fica impedido de invocar “novos” fundamentos de oposição.
• A preclusão não cobre “as vicissitudes ulteriores próprias da relação tal como foi
definida”.
- Assim, desde logo, nas situações previstas no art. 621º.

PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE DAS AUDIÊNCIAS

Pelo artigo 206º da Constituição as “audiências dos tribunais são públicas, salvo quando
o próprio tribunal decidir o contrário, em despacho fundamentado, para salvaguarda da
dignidade das pessoas e da moral pública ou para garantir o seu normal funcionamento”.
A administração da justiça deve ser efectuada em nome do povo, no interesse geral da
coletividade e, como vimos, deve ser desenvolvida em condições de independência e
imparcialidade. Se assim é, importa que as audiências realizadas em tribunal, sobretudo as
audiências de julgamento sejam públicas, ou seja, suscetíveis de serem acompanhadas por todas as
pessoas. É fundamental que os destinatários da administração acreditem e tenham confiança nos
tribunais. Só assim se pode afastar o risco do recurso à Justiça Privada, à força de cada um.
Este princípio assenta em duas razões fundamentais:
• A necessária transparência da administração da justiça tendo em vista a confiança
dos seus destinatários;
• Garantir a possibilidade de controlo de atos de maior relevância na administração da
justiça.
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A publicidade das audiências não pode ser absoluta. O tribunal pode, fundadamente,
restringir a publicidade das audiências como modo de salvaguardar a dignidade das pessoas e da
moral pública, bem como para garantir o normal funcionamento os atos a praticar. O tribunal há-de
necessariamente ponderar o conflito de interesses que nesta matéria se pode suscitar e decidir em
conformidade.

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TRIBUNAIS DE EXISTÊNCIA OBRIGATÓRIA

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I - TRIBUNAL CONSTITUCIONAL

O Tribunal Constitucional é o tribunal ao qual compete especificamente administrar a justiça


em matérias de natureza jurídico-constitucional - art. 221º CRP. Entre outras competências,
elencadas no artigo 223º, cabe ao Tribunal Constitucional apreciar a inconstitucionalidade e a
ilegalidade das normas. O âmbito da fiscalização a cargo do tribunal encontra-se definido nos
artigos 277º e seguintes.

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II - TRIBUNAIS JUDICIAIS

Os Tribunais Judiciais são os tribunais comuns em matéria cível e criminal. Estes


tribunais têm competência residual - julgam tudo, apreciam tudo, têm poderes jurisdicionais sobre
tudo aquilo que não compita a outras ordens judiciais (art. 211º, nº1 - CRP).
Os Tribunais Judiciais são comuns. Dentro dos Tribunais Judiciais há hierarquia pela
existência de recursos.
(1) Supremo Tribunal de Justiça - julga matéria de Direito (interpretação e
aplicação das normas - aplica aos factos). Os seus juízes são denominados de
conselheiros. As decisões deste tribunal chamam-se de acórdãos. Tem
jurisdição sobre todo o território português.
(2) Tribunais de 2ª Instância (relação) - julga matéria de facto (factos da vida).
Os seus juízes são denominados de desembargadores. As decisões deste
tribunal chamam-se de acórdãos
(3) Tribunais de 1º Instância (comarca) - julga matéria de facto (factos da vida).
Os seus juízes são denominados de juízes de Direito. As decisões deste tribunal
chamam-se de sentenças. Todas as ações começam neste tribunal.

Recursos
• Valor de Ação.
• Alçada - valor até ao qual um tribunal julga sem possibilidade de recurso, ou seja,
só a partir deste valor é que se pode pedir recurso. (art. 44º - LOJ)
- 1ª Instância: 5 000, 00€.
- 2ª Instância: 30 000,00€.
- Supremo: não tem alçada.

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TRIBUNAIS DE PRIMEIRA INSTÂNCIA

Na ordem jurídica interna, a competência reparte-se pelos tribunais judiciais segundo a


matéria, o valor, a hierarquia e o território.
Os Tribunais Judiciais de Primeira Instância incluem:
• Tribunais de competência territorial alargada;
• Tribunais de Comarca.

Esta divisão tem haver com as matérias. As matérias atribuídas aos Tribunais de
competência territorial alargada são matérias muito especializadas, que não constituem a
generalidade, e territorialmente exercem jurisdição sobre mais de uma comarca. A competência
destes tribunais está presente no artigo 111º e seguintes da LOJ.
Se a matéria não couber nos Tribunais de competência territorial alargada esta vai cair nos
Tribunais de Comarca - os Tribunais de Comarca relativamente aos Tribunais de competência
territorial alargada têm uma competência residual.
Os Tribunais de Comarca desdobram-se consoante as matérias, ou seja, desdobram-se em
vários juízos: em juízos de competência especializada, genérica e de proximidade - prevalece a
especialidade sobre a genérica.
Dentro dos juízos de competência especializada há igualmente uma divisão. As matérias que
mais litígios trazem aos tribunais são as matérias cíveis; dentro dos juízos cíveis, consoante o valor,
existem dois tipos de juízos: centrais cíveis (matérias cíveis de valor superior a 50 mil euros) e
locais cíveis (matérias cíveis de valor igual ou inferior a 50 mil euros) - art. 117º e 130º LOJ. No
entanto, a área cível é tão vasta que também se especializa - art.80º LOJ - nos restos dos casos o
valor não importa, só conta a matéria
Há certas comarcas que, pela sua dimensão populacional, pela dimensão dos litígios, não
justificam a existência destes juízos todos, então o legislador cria juízos de competência genérica.
Ainda há certas zonas do país que nem se justifica ter um juízo de competência genérica,
mas às vezes é preciso as pessoas deslocarem-se, por exemplo, para ir buscar uma certidão, para
serem ouvidas em tribunal, e em vez de terem que percorrer muitos quilómetros, devido à zona
onde residem, cria-se um juízo de proximidade que possa facultar às pessoas documentos de
processos, certidões, por exemplo.

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Quanto à competência em razão do território, as regras estão presentes do artigo 70º ao


artigo 80º do CPC.
Artigo 70º, nº1 - se a hipótese tratar de algumas destas matérias que aqui estão, o tribunal
territorialmente competente é o tribunal do lugar onde se situam os bens. Só aplicamos o artigo 80º
se não for possível aplicar nenhum dos outros artigos (arts. 70º-79º).

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III - SUPREMO TRIBUNAL ADMINISTRATIVO E OS DEMAIS TRIBUNAIS


ADMINISTRATIVOS E FISCAIS

Aos Tribunais Administrativos e Fiscais compete o julgamento de litígios emergentes de


relações jurídicas administrativas e fiscais.
Existem os seguintes Tribunais Administrativos e Fiscais:
1. Supremo Tribunal Administrativo;
2. Tribunais Centrais Administrativos - Tribunal Central Administrativo
Norte e Tribunal Central Administrativo Sul;
3. Tribunais Administrativos de Círculo - tratam de questões administrativas;
4. Tribunais Tributários - tratam de questões fiscais.

Estes tribunais funcionam como Tribunais de Primeira Instância e assumem uma função
semelhante aos Tribunais de Segunda Instância. O Supremo Tribunal Administrativo assume, em
matérias administrativas e fiscais, uma função semelhante ao Supremo Tribunal de Justiça.

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IV - TRIBUNAL DE CONTAS

O Tribunal de Contas é o órgão supremo de fiscalização da legalidade das despesas


públicas e de julgamento das contas que a lei mandar submeter-lhe.

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TRIBUNAIS DE EXISTÊNCIA FACULTATIVA

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I - TRIBUNAIS MARÍTIMOS

Tribunal Judicial de competência especializada - art. 78º, al. f) da Lei nº3/99; art. 123º da
Lei 52/2008.

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II - TRIBUNAIS ARBITRAIS

Os Tribunais Arbitrais integram aquilo a que se convencionou chamar meios alternativos


de resolução de conflitos (conjunto de procedimentos de resolução de conflitos alternativos aos
meios judiciais) e embora o Estado reserve para si o monopólio do exercício da função
jurisdicional, o facto é que o próprio artigo 209º da Constituição permite a existência destes
tribunais.
Estes tribunais não sendo órgãos estaduais exercem, igualmente, uma função jurisdicional.
Ainda que se entenda (e bem) que os tribunais arbitrais não constituem verdadeiros órgãos de
soberania, cabe reconhecer que os mesmos não podem deixar de ser qualificados como
verdadeiros tribunais, bem que o “juiz-árbitro” desenvolve uma função pela qual declara o
direito, uma função jurisdicional. Como o Tribunal Constitucional já destacou não existe uma
imposição constitucional no sentido de a jurisdictio dever ser necessariamente exercida pelos
órgãos do Estado (Acórdão 52/92).
Como o próprio nome indica, os Tribunais Arbitrais estão inseridos na chamada
arbitragem. A lei atribui aos particulares o poder de escolherem quem são as pessoas que vão
dirimir o litígio já existe ou meramente futuro. A arbitragem é a faculdade atribuída aos
particulares de escolherem terceiros que vão dirimir um litígio existente ou meramente eventual.
Por exemplo, suponham que num determinado contrato que vocês celebrem há uma cláusula desse
contrato que diz que “em caso de litígio o mesmo será resolvido de acordo com a arbitragem e a
decisão que esses árbitros tomarem tem a mesma força que a sentença de um Tribunal Judicial de
Primeira Instância” - ver art.1º da Lei nº63/2011 de 14 de Dezembro. Esta arbitragem é a chamada
arbitragem voluntária porque depende da vontade dos particulares.
Os árbitros são designados pelas partes ou escolhidos pelo modo que elas tiverem
determinado, devendo ser em número ímpar; na falta de tal estipulação e se as partes nada
acordarem, cada uma indicará um árbitro e os dois assim designados escolherão um terceiro,
cabendo ao presidente do tribunal estadual competente fazer a nomeação do árbitro ou árbitros que
não forem designados, no prazo de 30 dias, de acordo com essas regras.
Quando é o Estado a impôr a arbitragem fala-se em arbitragem necessária. Exemplo de
uma lei em que o Estado impõem que as partes recorram à arbitragem - lei nº63/2019 de 16 de
Agosto - “sujeita os conflitos de consumo de reduzido valor económico por opção do consumidor à

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arbitragem necessária”, por isso, se o consumidor optar por recorrer a este modo de resolução de
lítio a outra aparte não se pode opor porque é a lei que impõe.
Importa saber que a arbitragem embora seja um meio alternativo de resolução de litígios tem
uma natureza jurisdicional porque os árbitros aplicam o Direito - ver arts. 39º e seguintes da lei
nº63/2011 de 14 de Dezembro. Nestes artigos fala-se em sentença que é a parte do processo em que
o tribunal diz qual é o Direito.
Se no Tribunal Arbitral a parte que perder o processo não concordar com a decisão pode
recorrer para o Tribunal da Relação.

Outros meios alternativos de resolução de litígios são a Mediação e Conciliação. Diferem


dos Tribunais Arbitrais porque não têm natureza jurisdicional.
A Mediação caracteriza-se, essencialmente, por ser um meio alternativo onde cabe às
partes encontrar a solução do conflito. Trata-se de um processo “ não adversarial de resolução de
litígios” em que as partes procuram – auxiliadas por um terceiro imparcial – chegar a um acordo.
Este tenta aproximar as partes, estabelecer pontos de diálogo, mas não propõe uma solução. Em
Portugal a mediação foi introduzida, nos Tribunais, com os Julgados de Paz, em 2001.
Na Conciliação são as partes que decidem pôr termo ao seu litígio por acordo. Porém,
neste caso, o conciliador além de aproximar as partes também propõe soluções para a resolução do
litígio. A lei processual prevê a conciliação nos tribunais judiciais, como alternativa ao julgamento.
No âmbito dos poderes de disposição das partes, em qualquer estado do processo, pode haver lugar
a uma tentativa de conciliação. A tentativa pode ter lugar desde que as partes em conjunto o
requeiram, ou sempre que o juiz a considere oportuna. No procedimento dos Julgados de Paz há,
igualmente, lugar à tentativa de conciliação no início da audiência de julgamento.

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III - JULGADOS DE PAZ

Os Julgados de Paz são também um tipo de tribunal e estão previstos no art. 209º da
Constituição e assim como os Tribunais Arbitrais tem uma natureza jurisdicional. São tribunais
incomuns embora sejam verdadeiros tribunais.
Segundo o artigo nº2 da Lei nº 78/2001 de 13 de Julho, os Julgados de Paz, existem para
numa primeira finalidade serem as próprias partes, por acordo, a resolverem o seu litígio, ou seja,
têm uma existência vocacionada para permitir a participação cívica dos interessados e para
estimular a justa composição dos litígios por acordo das partes.
Outros princípios destes tribunais são a simplicidade, a adequação, a informalidade, a
oralidade, a absoluta economia processual e a rapidez. Se as partes não resolverem o seu litígio
por acordo então o juiz de paz é chamado a decidir e a sua decisão tem uma força igual à da
sentença de um Tribunal Judicial de Primeira Instância. Só que o legislador passa um atestado de
menoridade ao Julgados de Paz, ou seja, o legislador incentiva que os litígios sejam resolvidos no
Julgados de Paz, de acordo com estes princípios, mas depois passa um atestado de menoridade;
depois de dizer que a sentença tem a mesma força de um Tribunal de Primeira Instância, a parte que
perder o processo tem de recorrer para um Tribunal de Primeira Instância (este é o atestado de
menoridade).
Os Julgados de Paz só têm competência para apreciar e decidir ações declarativas cíveis,
com exceção das que envolvam matérias de direito da família, direito das sucessões e direito do
trabalho, cujo valor não ultrapassasse os 15.000€.

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IV - TRIBUNAL DE CONFLITOS

O seu regime está na Lei nº91/2019 de 4 de Setembro.


A sua constituição pode ser ad hoc e a sua competência pode ser atribuída a um tribunal já
existente.
Foi criado pelo Decreto 19.243, de 16.01.1931, sendo composto por juízes conselheiros do
Supremo Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Administrativo. Sempre que se verifique
conflito de jurisdição entre o Tribunal de Contas e o Supremo Tribunal Administrativo, compete ao
Tribunal dos Conflitos, presidido pelo Presidente do Supremo Tribunal de Justiça e constituído por
dois juízes de cada um dos tribunais, dirimir o respectivo conflito.
É um tribunal não permanente, ou seja, é constituído para cada processo, com
competência para dirimir conflitos suscitados entre Tribunais Judiciais e Tribunais
Administrativos e Fiscais, bem como os conflitos suscitados entre autoridades que exercem a
função administrativa (câmaras municipais) e tribunais administrativos ou entre aquelas e os
tribunais judiciais.
Não sendo da competência do Tribunal dos Conflitos, a resolução dos conflitos de jurisdição
pertence ao Presidente do Supremo Tribunal de Justiça (art.º 110º, nº 1 - CPC).

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V - TRIBUNAIS MILITARES

Só existem em circunstâncias excecionais; na situação em que seja declarada situação de


guerra no país, com competência para o julgamento de crimes de natureza militar - art. 213º CRP.

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COMPETÊNCIA
(PRESSUPOSTO PROCESSUAL)

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I - Noção

A competência é a parcela do poder jurisdicional atribuído a cada tribunal. Assim, um


tribunal diz-se competente, quando uma ação cabe dentro da fração do poder jurisdicional
conferida, ou seja, apenas o tribunal com competência para determinada questão pode
conhecer do mérito da mesma.
Não se pode confundir competência com jurisdição. Enquanto que a competência traduz-se
no poder de julgar atribuído a cada um dos tribunais, a jurisdição consiste no poder de julgar,
genericamente atribuído aos tribunais no seu conjunto.

II - CONFLITOS DE COMPETÊNCIA E DE JURISDIÇÃO

A lei distingue dois tipos de conflitos (art. 109º - CPC):

• Conflitos de Jurisdição: acontecem quando dois ou mais tribunais integrados em


ordens jurisdicionais diferentes se arrogam (acham-se com poder de julgar aquela
situação) ou declinam de conhecer certa questão, em decisões transitadas em
julgado. No primeiro caso o conflito diz-se positivo, no segundo diz-se negativo.
Exemplo: se o Tribunal Judicial se achar no poder de julgar determinada ação e se o
Tribunal Administrativo também se achar no poder de julgar aquela ação, temos um
conflito de jurisdição, porque temos dois tribunais pertencentes a ordens
jurisdicionais diferentes.
• Conflitos de Competência: acontecem quando dois ou mais tribunais integrados
na mesma ordem jurisdicional se arrogam (conflito positivo) ou declinam
(conflito negativo) (tendo as decisões transitado em julgado) de conhecer a mesma
questão. Exemplo: se um juízo central cível e um juízo de família se acharem,
ambos, no poder de julgar determinada ação.

Não há conflito enquanto as decisões proferidas sobre a competência forem suscetíveis de


recurso (art. 109º, nº3 - CPC).
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RESOLUÇÃO DE CONFLITOS

A lei de 91/2019 de 4 de Setembro só resolve os conflitos entre os Tribunais Judiciais e os


Tribunais Administrativos e Fiscais - Tribunal dos Conflitos. A lei estabelece a composição, a
competência e o funcionamento, bem como o processo perante o Tribunal de Conflitos. Este
tribunal passa a ter uma composição fixa de três membros (um presidente e dois juízes): é presidido
pelo Presidente do Supremo Tribunal de Justiça ou pelo Presidente do Supremo Tribunal
Administrativo; os dois juizes são, nomeadamente, o vice-presidente do Supremo Tribunal de
Justiça e o vice-presidente do Supremo Tribunal Administrativo. (art. 2º - Lei 91/2019).
Compete ao Tribunal dos Conflitos conhecer os pedidos de resolução de conflitos de
jurisdição, que sejam feitos nos termos dos artigos 9º e 10º da lei. Se houver um conflito entre um
Tribunal Judicial e um Tribunal Administrativo e Fiscal, um deles tem que pedir a resolução do
conflito; se for o do Tribunal Judicial a pedir, o presidente é o presidente do Supremo Tribunal de
Justiça, se for o do Tribunal Administrativo e Fiscal a pedir, o presidente será o presidente do
Supremo Tribunal Administrativo.
Também pode acontecer que, mesmo ainda não havendo conflito, se queira prevenir um
futuro conflito. Para isso pode-se fazer um pedido de consulta prejudicial (no sentido de pré-
judicial), ou seja, prevê-se que possa haver um pedido de consulta ao Tribunal dos Conflitos (art.
15º da lei).
O Tribunal dos Conflitos também julga/conhece dos recursos previstos no nº2 do artigo
101º do CPC.

Quanto aos conflitos de competência, estes são resolvidos pelo presidente do tribunal de
menor categoria que exerça jurisdição entre as autoridades em conflito. E qual é que é o
tribunal que exerce jurisdição (de menor categoria), por exemplo, por um Tribunal Judicial de
Primeira Instância? É o Tribunal da Relação e, portanto, será esse. Mas, os Tribunais da Relação
só têm jurisdição sobre os Tribunais Judiciais de 1ª Instancia que estejam na sua
circunscrição territorial. Um Tribunal Judicial da Comarca do Porto não está dentro da jurisdição
do Tribunal da Relação de Lisboa, isto porque não está na sua circunscrição territorial. Isto só pode
ser resolvido pelo tribunal de menor categoria que exerça jurisdição sobre os tribunais em conflito
quando estamos dentro do mesmo distrito judicial. Quando pertencerem a distritos judiciais
diferentes o conflito terá que ser solucionado pelo presidente do Supremo Tribunal de Justiça.
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Portanto, se houver um conflito entre um tribunal de família e menores da Comarca do Porto e um


juízo local cível de Lisboa, ambos se acham competentes, ou seja, há um conflito de competência,
mas como pertencem a conflitos judiciais diferentes este vai ser decidido pelo presidente do
Supremo Tribunal de Justiça. Se ambos os tribunais pertencessem ao mesmo distrito judicial ia ser
resolvido pelo presidente do Tribunal da Relação respetivo.

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III - COMPETÊNCIA INTERNACIONAL

A primeira divisão a estabelecer (entre os diversos critérios) é a que distingue a


competência internacional da competência interna.
A competência internacional é a fração do poder jurisdicional atribuída aos tribunais
portugueses no seu conjunto, para julgar as ações que tenham algum elemento de conexão com
ordens jurídicas estrangeiras (relações plurilocalizadas).
Os tribunais portuguesas são internacionalmente competentes quando assim resulte do
Direito Internacional aplicável (art. 59º), de algum dos elementos de conexão elencados nos
artigos 62º e 63º, ou ainda por força de um pacto atributivo de jurisdição, onde as partes, por
acordo, atribuem competência internacional aos tribunais portugueses (art. 94º). Já um pacto
privativo priva os tribunais portugueses de competência internacional.

REGRAS DO DIREITO INTERNACIONAL

Aos tribunais portugueses é atribuída competência para julgar ações com elementos de
conexão com outras ordens jurídicas, por normas de Direito Internacional que prevalecem sobre as
disposições de Direito Interno (artigo 8º - CRP).

REGULAMENTO DE BRUXELAS I (REFORMULADO)

O regulamento (UE) nº1215/2012 de 12 de dezembro, do Parlamento Europeu e do


Conselho Europeu, relativo à competência judiciária, ao reconhecimento e à execução de
decisões em matéria civil e comercial, merece destaque uma vez que visa melhorar e simplificar
o reconhecimento e a execução das decisões em matéria civil e comercial assim como
promover a compatibilidade das normas aplicáveis aos Estados-Membros em matéria de
conflitos de jurisdições.

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De acordo com o artigo 288º do Tratado da União Europeia e do nº3, do artigo 8º da


Constituição, o regulamento prevalece sobre o Direito Interno relativo à competência internacional
dos tribunais portugueses. Este regulamento prevalece sobre as normas dos artigos 62º e 63º.
Se se aplica o regulamento não se aplicam as regras internas da competência
internacional. As regras internas de competência internacional apenas se aplicam naqueles
casos em que a fonte da competência internacional não existe; ou não há regulamento, ou não
tratado, ou não há convenção internacional.
O âmbito material/âmbito objetivo (matérias em que o regulamento se aplica) do
regulamento são as matérias civis, com exceção às questões relativas ao Estado e à capacidade das
pessoas singulares, aos regimes de bens do casamento ou das relações análogas, às obrigações de
alimentos, aos testamentos e às sucessões. Isto resulta do art. 1º, nº2, al. a), e) e f).
Relativamente à matéria comercial, são excluídos da sua aplicação as insolvências, as
concordatas e os processos análogos, nos termos da alínea b), do nº2, do art. 1º. Estão ainda
expressamente excluídas as questões relativas à segurança social (al. c), nº2, art. 1º) e à arbitragem
(al. d), nº2, art. 1º).
Quanto ao seu âmbito de aplicação material não releva a questão de saber qual a forma do
processo aplicável ou a competência em razão da matéria de acordo com o Direito Interno do
Estado-Membro (art.1º).

O âmbito pessoal/ âmbito subjetivo diz respeito a quem se aplica o regulamento, sendo
que este se aplica a todas aquelas pessoas que independentemente da nacionalidade, tenham
domicilio ou sede (se for pessoa coletiva) num Estado- Membro (art. 4º) e ainda quando estatui
competências exclusivas (art. 24º).
Exemplo: A, português, forneceu a B, iraniano, com domicílio em Roma, 150 pares de
sapatos por 15 mil euros. B não pagou, o fornecimento foi feito por via aérea. O regulamento
aplica-se - a matéria não é nenhuma das que está excluída nem na matéria comercial, nem na
matéria civil, assim como, a nacionalidade de B apesar de ser iraniana, este tem domicílio em
Roma, ou seja, num Estado-Membro.

Critérios Gerais de determinação da competência pelo regulamento:


• Se o réu tiver domicilio ou sede num Estado-Membro, os tribunais
internacionalmente competentes são os tribunais do Estado do seu domicilio ou

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sede (art. 4º). Esta regra mantém-se ainda que o réu não seja nacional do Estado em
que se encontra domiciliado, nem (nacional) de qualquer outro Estado-Membro.
• Se o réu não se encontrar domiciliado num Estado-Membro, a competência será
regulada, de acordo com o artigo 6º, em cada Estado-Membro pela lei processual
do Estado onde foi proposta a ação, sem prejuízo da aplicação do disposto nos
artigos 18º, nº1 (direitos do consumidor), art. 21º (direitos emergentes de contratos
individuais de trabalho), art. 24º (competências exclusivas) e art. 25º (extensão de
competência). Portanto, se o demandado não tiver domicilio ou sede num Estado-
Membro, a competência internacional será aferida em cada Estado-Membro pela
respetiva lei processual; por isso é que temos os artigos 62º e 63º, são regras de
competência internacional, mas de Direito Interno, cada Estado-Membro tem as suas
regras.

Critérios Especiais (alternativos):


• O regulamento permite que o réu domiciliado num Estado-Membro seja demandado
nos tribunais de um outro Estado sempre que se verifique um dos fatores de
conexão enunciados nos artigos 7º a 26º. Assim, o autor, nestes casos, pode optar por
qualquer dos tribunais determinados pela aplicação dos critérios gerais ou especiais.
Exemplo: A, português, quer intentar uma ação contra B, francês residente em Paris.
Pela regra geral, a ação teria que ser intentada em Paris, mas o regulamento permite
que em determinadas situações, o réu possa ser demandado perante o tribunal de
outro Estado-Membro.

Exemplificando alguns dos critérios especiais elencados no artigo 7º:


• Em matéria contratual é competente o tribunal do lugar onde a obrigação foi ou
devia ser cumprida. Retomando o exemplo anterior: A e B celebraram um contrato
e convencionaram que a obrigação deveria ser cumprida em Faro - neste caso, A
pode optar por intentar a ação ou em Paris ou perante os tribunais do lugar onde a
obrigação deveria ser cumprida, ou seja, em Faro, logo, os tribunais portugueses têm
competência internacional por força do artigo 7º. Se se pretender a anulação do
contrato com fundamento em erro, ou declaração de nulidade do contrato com base
em simulação, aplica-se a regra geral, não há critério especial que aqui caiba;

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• Em matéria de obrigação de alimentos é competente o tribunal do lugar em que o


credor tem o seu domicilio ou a sua residência habitual;
• Em matéria de responsabilidade extracontratual é competente o tribunal do lugar
onde ocorreu ou poderá ocorrer o facto danoso. Sempre que o lugar onde o facto
ocorreu não coincida com o do dano, a ação pode ser intentada num ou noutro local.
Exemplo: A teve um acidente de viação em Espanha, e se assim foi, a ação teria de
ser intentada no tribunal onde ocorreu o facto; mas, se A teve o acidente em Espanha
e voltou para Portugal, e só em Portugal é que ocorreu o dano (só agora começou a
sentir dores, verificou que teve um traumatismo, por exemplo), o prejuízo decorrente
do facto que gerava a responsabilidade extra contratual ocorreu num lugar diferente
de onde ocorreu o facto originário da responsabilidade, por isso, nesse caso, pode-se
escolher entre intentar ação num outro local.

Competências Exclusivas

O artigo 24º determina os casos de competência exclusiva dos tribunais dos Estados-
Membros. Trata-se de situações onde, não obstante o demandado não ter domicílio ou sede num dos
Estados-Membros, a competência atribuída aos tribunais de um Estado prevalece sempre
sobre a competência determinada pelos critérios gerais ou especiais. Este artigo determina que
têm competência exclusiva os seguintes tribunais do Estado-Membro, independentemente do
domicílio das partes, portanto, independentemente do domicílio, os tribunais internacionalmente
competentes são aqueles que o artigo 24º diz, mesmo que não sejam do domicílio do demandado.

Principais situações de competência exclusiva:


• Em matéria de direitos reais sobre imóveis e de arrendamento, têm competência
exclusiva os tribunais do Estado-Membro onde esse encontre o imóvel. O mesmo
não sucede quanto ao arrendamento de imóveis por um período não superior a 6
meses (nº1, art. 24º);
• Em matéria de validade, nulidade ou de dissolução de sociedades ou de outras
pessoas coletivas que tenham a sua sede no território de um Estado-Membro, ou de
validade ou nulidade das decisões dos seus órgãos, os tribunais desse Estado-
membro (nº2, art. 24º);

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• Em matéria de execução de decisões judiciais, os tribunais do Estado-Membro do


lugar da execução (art. 24º, nº5)

Pactos Atributivos de Jurisdição


• As normas de competência, podem, por regra, ser afastadas pelas partes. A
competência internacional dos tribunais determinada pela aplicação do Regulamento
Bruxelas I (Reformulado) não é, por regra, imperativa.
• Se as partes, independentemente do seu domicilio, acordarem que um tribunal ou
os tribunais de um Estado-Membro têm competência para decidir quaisquer
litígios, os mesmos terão competência, exceto se o pacto seja, nos termos da lei
desse Estado-Membro, substantivamente nulo (art. 25º).
• A competência atribuída é exclusiva, salvo acordo das partes em contrário;
• Os pactos atributivos de jurisdição devem ser celebrados:
- Por escrito ou verbalmente com confirmação escrita;
- De acordo com os usos que as partes tenham estabelecido entre si;
- No comércio internacional, de acordo com os usos que as partes conheçam
ou devam conhecer e que, em tal comércio, sejam amplamente conhecidos e
regularmente observados pelas partes em contratos do mesmo tipo, no ramo
comercial concreto em questão.
• De acordo com o estatuído no art. 25º, nº4, os pactos atributivos de jurisdição são
ineficazes se contrários às regras de competência exclusiva (art. 24º) ou ao
disposto nos artigos 15º, 19º ou 23º;
• O art. 26º admite a existência de um pacto tácito sobre a competência
internacional. A menos que exista uma competência exclusiva, se a parte contra a
qual for proposta a ação comparecer em juízo e não arguir a incompetência do
tribunal este torna-se competente. Isto significa que, desde que não haja uma
situação de competência exclusiva quando se devia propor ação contra X no
Estado-Membro onde este é residente, propôs-se a ação no Estado-Membro de
quem pôs a ação. X veio e não levantou o problema da competência, tacitamente
aceitam que o tribunal fosse competente para decidir da questão.

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REGULAMENTO DE BRUXELAS II BIS ou NOVO BRUXELAS II

O Regulamento Comunitário (CE) nº 2201/2003 do Conselho, de 27.11.2003, relativo à


competência, ao reconhecimento e à execução de decisões em matéria matrimonial e em
matéria de responsabilidade parental (também designado “Novo Bruxelas II” ou “Bruxelas II
bis”, entrou em vigor a 01.08.2004.
Aplica-se às matérias civis relativas ao divórcio, à separação e à anulação do casamento,
assim como à atribuição, ao exercício, à delegação, à limitação ou à cessação da
responsabilidade parental (art.1º, nº1).
Estão expressamente excluídas do seu âmbito, as matérias relativas ao estabelecimento ou
impugnação da filiação e a adoção (art. 1º, nº3).

Critérios de Atribuição de Competência:

Nas matérias relativas ao divórcio, separação e anulação do casamento, releva:


• O território de residência dos cônjuges (art. 3º, nº1, al. a)); ou
• A sua nacionalidade (art. 3º, nº1, al. b))

Nas matérias relativas à responsabilidade parental, releva:


• Território da residência habitual da criança (art. 8º);
• Residência ou residências dos titulares da responsabilidade parental nas situações
referidas no artigo 12º;
• Território onde a criança se encontra em caso de impossibilidade de aplicação dos
critérios anteriores (art. 13º).

No que às matérias de responsabilidade parental diz respeito, os tribunais de um Estado-


Membro competentes para conhecer do mérito, podem (no interesse superior da criança),
excecionalmente, no todo ou em parte, suspender a instância e convidar as partes a apresentarem
um pedido ao tribunal de outro Estado-Membro em melhores condições para conhecer o processo,
ou pedir a este mesmo tribunal que se declare competente, nos termos do estatuído no art.º 15º do
Regulamento. Desde que isso seja no interesse superior da criança.

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Regras de Direito Interno

A competência dos tribunais portugueses é exclusiva nos casos elencados no artigo 63º:
• Ações relativas a direitos reais sobre imóveis e de arrendamento sobre bens
situados em território português. Em matéria de contratos de arrendamento de
imóveis celebrados para uso pessoal temporário por um período máximo de seis
meses consecutivos são ainda competentes os tribunais do Estado-Membro da União
Europeia onde o requerido tiver domicílio, desde que o arrendatário seja uma pessoa
singular e o proprietário e o arrendatário tenham domicílio no mesmo Estado-
Membro;
• Ações em que estejam em causa a apreciação da validade da constituição ou de
dissolução de sociedades ou de outras pessoas coletivas com sede em Portugal,
ou a validade das decisões dos seus órgãos.
• Ações relativas à validade de inscrições em registos públicos conservados em
Portugal;
• Ações executivas sobre bens imóveis situados em Portugal;
• Em matéria de insolvência ou de revitalização de pessoas domiciliadas em
Portugal ou de pessoas coletivas ou sociedades cuja sede esteja situada em
território português.

Em caso de violação da competência exclusiva, a decisão proferida pelo tribunal de um


Estado estrangeiro não pode ser reconhecida na ordem jurídica portuguesa (art. 980º, al. c)).

Critérios Atributivos de Competência Internacional

Importa observar as regras estatuídas no artigo 62º que acolhe três critérios de atribuição de
competência: coincidência, causalidade e necessidade. A aplicação destes critérios tem uma
ordem, portanto, nós só aplicamos o critério da causalidade se não for possível aplicarmos o critério
de coincidência, da mesma maneira que, só aplicamos o critério da necessidade se não for possível
nem aplicar o da coincidência nem o da causalidade.

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Coincidência

Coincidência entre a competência internacional dos tribunais portugueses e as


regras de competência em razão do território. Obviamente, estamos perante uma relação
plurilocalizada, ou seja, uma situação que está em contacto com mais do que uma ordem jurídica e
em que não se aplica o Regulamento. Temos de ver se de acordo com as regras da competência em
razão do território, se existe essa coincidência.
Sempre que a ação possa ser proposta em Portugal segundo as regras de
competência territorial estabelecidas pela lei portuguesa (arts. 70º a 81º), os tribunais
portugueses têm competência internacional. De acordo com este critério, aquelas disposições ao
fixarem a competência territorial dos tribunais portugueses determinam igualmente a sua
competência internacional.
É imposta uma coincidência entre a competência interna territorial e a competência
internacional. Exemplo: A, português, com residência em Paris, pretende anular o testamento que
institui como herdeiros B e C, residentes em Portugal (Lisboa); pode propor a ação nos tribunais
portugueses, à luz da coincidência com a regra de direito interno territorial (art.º 80º, nº 1).
Quando estamos aplicar e chegamos à conclusão que por força da coincidência os
tribunais portugueses têm competência internacional porque há coincidência entre a competência
internacional e as regras da competência em razão do território fica imediatamente determinado
qual o tribunal português concretamente competente para aquela ação, porque já estamos a aplicar
as regras da competência em razão do território. No exemplo anterior, os réus como residem em
Lisboa, ficamos a saber que o tribunal concretamente competente terá de ser em Lisboa.
Nota: esta “coincidência” não é absoluta. Se, por exemplo, o autor e o réu não
tiverem residência em Portugal, não é possível chegar à competência internacional dos tribunais
portugueses via nº 3, art.º 80º. Este nº3, não pode ser utilizado com a regra da coincidência.
Porque com o princípio da coincidência fica imediatamente determinado qual o tribunal
concretamente competente em razão do território e, portanto, se fica imediatamente não podemos
recorrer a outras regras para saber qual é que é o tribunal competente em razão do território.

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Causalidade

A ação pode ser proposta em Portugal se os factos que constituem, que integram a
causa de pedir tiverem ocorrido em Portugal. A causa de pedir é o facto ou o conjunto de factos que
sustentam o pedido (factos constitutivos do direito do autor).
Sempre que o facto ou alguns dos factos que integram a causa de pedir tenham
tido lugar em território nacional, os tribunais portugueses têm competência internacional
(art.º 62º al. b)). Ao contrário do que acontece com o critério da coincidência, aqui não se fica
imediatamente a saber qual o tribunal concretamente competente, tem que posteriormente ser
determinado.
Exemplos: A, português, com residência em Lisboa, pretende demandar B (com
residência em Luanda), tendo em vista a anulação de um contrato celebrado em Portugal, com
fundamento em erro.
C, angolano, com residência em Lisboa, pretende demandar D, português, com
residência em Luanda por danos sofridos em Portugal, decorrente de um acidente de viação
ocorrido em Angola.

O artigo 80º, nº3, aplica-se quer estejamos a determinar a competência em concreto


do tribunal por força do princípio da causalidade (artigo 62º, al. b)), quer estejamos a aplicar o
Regulamento. Pelo Regulamento sabemos que os tribunais portugueses têm competência
internacional, mas tínhamos de ir depois, em concreto, determinar qual o tribunal e se chegarmos à
conclusão que será intentada no domicilio do réu, mas o réu não tem domicilio em Portugal, temos
de ir ao artigo 80º, nº3.
Exemplo: vamos supor que chegamos à conclusão que os tribunais portugueses são
internacionalmente competentes por força do artigo 7º, do Regulamento, que permite que o
demandando seja demandado para tribunais que não são os tribunais do Estado-Membro onde tem o
seu domicílio, pode ser intentada em Portugal. E chegamos à conclusão que se aplicássemos as
regras, e temos que as aplicar agora para saber qual é o tribunal concretamente competente, fazendo
aquele raciocínio todo havemos de chegar ao território, e chegamos à conclusão que em razão do
território a ação teria que ser intentada no domicilio do réu. Mas o réu não tem domicilio em
Portugal, tem em Roma, então temos de aplicar o artigo 80º, nº3. Sempre que o réu não tenha
domicilio em Portugal, nem se encontre em Portugal.

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Necessidade

Existindo entre o objeto do litígio (aquilo que constitui o litígio) e a ordem jurídica
um elemento ponderoso (relevante) de conexão, os tribunais portugueses têm competência
internacional (art.º 62º al. c)), quando:
• O direito invocado não possa efetivar-se sem ser através de ação proposta em
Portugal;
• Não seja exigível ao autor a propositura da ação no estrangeiro.

O critério da necessidade é de aplicação subsidiária, pretendendo-se evitar


situações de conflitos negativos de jurisdição assim como outras situações que podem conduzir à
denegação de justiça por falta de uma garantia judiciária efetiva.
São elementos de conexão relevantes, por exemplo: a nacionalidade de uma ou de
ambas as partes ou a situação dos bens em causa na ação.

Pactos Atributivos e Privativos de Jurisdição

A vontade das partes é outro fator relevante para atribuição de competência dos tribunais. Os
Pactos Atributivos de Jurisdição conferem jurisdição aos tribunais portugueses no seu conjunto;
os Pactos Privativos de Jurisdição retiram jurisdição aos tribunais portugueses.
A jurisdição atribuída por ser exclusiva ou meramente alternativa presumindo-se que seja
exclusiva em caso de dúvida (art. 94º, nº2).

Requisitos dos Pactos Atributivos e Privativos de Jurisdição (para serem válidos):


• No artigo 94º, nº4, deve ser reduzido a escrito;
• No artigo 94º, nº3, deve:
- Dizer respeito a direitos disponíveis, ou seja, direitos que as partes podem
dispor porque há direitos que as partes não podem dispor que são os direitos de
personalidade (direitos indisponíveis). Se estiver em causa, por exemplo, um
litígio sobre direitos indisponíveis não pode haver qualquer Pacto;
- Ser aceite pela lei do tribunal designado, portanto, se dois estrangeiros ou um
estrangeiro e um português celebrarem um destes tipos de Pacto, atribuindo
competência aos tribunais portugueses, os tribunais portugueses têm
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competência por força deste requisito, porque a lei portuguesa admite a


existência; se Portugal não admitisse a existência desses Pactos, em Portugal
não teriam validade;
- Corresponder a uma interesse sério de ambas as partes, ou apenas a uma
delas desde que não envolva um inconveniente grave para a outra parte,
isto serve para evitar abusos;
- Não recair sobre a matéria de exclusiva competência dos tribunais
portugueses (artigo 63º).

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IV - EXTENSÃO E MODIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA

Vamos supor que temos uma determinada ação que tem uma determinada causa de pedir e
um determinado pedido, e o tribunal competente é o tribunal A. Acontece que a meio do processo
surge uma outra questão (questão X) para a qual o tribunal A não seria competente. Mas como entre
o objeto inicial desta ação e a questão que surgiu há um estreito contacto, o tribunal A passa a ser
competente também para apreciar a questão X. Estende-se a competência deste tribunal para
apreciar esta questão. Se não fosse esta estreita ligação este tribunal seria incompetente para
conhecer da questão.
Causas em que se pode verificar a extensão e que se justifica a extensão da competência:
• Questões incidentais: são incidentes que podem acontecer durante o processo. Logo
a palavra “incidente” demonstra-nos que são questões que não integram a normal
marcha do processo, mas que quando acontecem o tribunal tem que as resolver (art.
91º - CPC).
- Incidentes da instância: verificação do valor da causa, por exemplo, todas as
ações têm que ter um valor, mas pode acontecer que as partes não estejam de
acordo com o valor ou que o tribunal vá ter que decidir esta discussão quanto
ao valor da causa; isto é uma questão incidental porque não se propõem ações
em tribunal para discutir valores das causas, isto é uma questão que surge no
decorrer do processo.
- Intervenção de terceiros: geralmente, regra geral, a ação passa-se entre o autor
e o réu ou entre os autores e os réus, mas a meio do processo pode ser
necessário chamar a intervir no processo alguém que não seja parte (é um
terceiro) e o tribunal tem de decidir se ele é ouvido ou não.
- Habilitação: os nosso processos duram tanto tempo que não é raro que o autor
ou o réu morra durante o processo e tenha de se habilitar os seus sucessores.
Por exemplo, a ação começou com A e com B, mas pode acabar com B e com
C, ora bem, se o autor falecer no decurso da ação, o tribunal que é o competente
para conhecer do litígio que levou o autor a intentar a ação contra o réu, vai
também ser o tribunal competente para julgar o incidente de habilitação dos
seus sucessores ainda que se intentássemos uma ação com esse objeto o

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tribunal, onde foi proposta aquela ação, não tinha inicialmente competência
para julgar autonomamente a habilitação de herdeiros, mas como tem uma
estreita conexão com a causa que foi originalmente intentada então essa
competência é estendida também para julgar o incidente de habilitação.
- Liquidação: por exemplo, quando é pedida a condenação de alguém a entregar
uma biblioteca (a biblioteca tem muitos livros), torna-se necessário determinar
a quantidade de livros que têm de ser entregues, mas não era esse o objeto
inicial do processo, isso só surge no decurso do processo, então havendo essa
necessidade, o tribunal que é competente para julgar a ação vê a sua
competência estendida também para esse incidente de liquidação.
• Meios de defesa do réu: nós vamos estudar um princípio essencial em processo
civil que é o princípio do contraditório, quando eu intento uma ação contra alguém,
esse alguém tem que ter conhecimento que a ação foi intentada contra ela e tem que
ser chamada em juízo para poder contrariar aquilo que está a ser invocado contra ela.
Pode acontecer que essa parte invoque certos meios de defesa que se fossem
apreciados originariamente, o tribunal onde foi proposta a ação não teria
competência, mas como existe esta estreita ligação entre esses meios de defesa e a
ação que foi intentada, o tribunal competente para a ação também é competente para
julgar todas as questões que o réu invoque como meio de defesa.
• Questões pré-judiciais: para se conhecer de uma determinada ação tem que se
conhecer uma anterior (artigo 92º - CPC).
• Questões reconvencionais: o que é que é a reconvenção? Regra geral, quem é que
deduz pedidos? Qual das partes? O autor. Mas nessa mesma ação por uma questão
de economia processual, o réu pode aproveitar a ação que o autor intentou contra ele
para vir ele, réu, fazer um pedido de condenação do autor. Então passamos a ter duas
ações a correr simultaneamente no mesmo processo e o tribunal que é competente
para conhecer a ação que o autor intentou contra o réu passa também a ser
competente para conhecer a ação que o réu, nesse mesmo processo, intenta contra o
autor. Mas é necessário que o tribunal que é competente para a ação seja
competente em razão da matéria, da hierarquia, e em razão da nacionalidade
para conhecer do pedido reconvencional, mas não tem que se competente em
razão do território. E reparem, a ação quando entrou tinha um valor de 30 mil
euros, o autor pediu a condenação do réu a pagar-lhe 30 mil euros e agora o réu em
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reconvenção pede que o autor seja condenado a pagar-lhe 40 mil euros, sabem que o
Estado aqui não brinca, começa a ver os símbolos dos euros nos olhinhos, ora, era 30
mil euros quando começou, o outro agora está a pedir 40 mil euros o que dá um total
de 70 mil euros o que faz com que aumente a taxa de justiça, mas se aumenta a taxa
de justiça foi porque aumentou o valor, e o se o tribunal que começou por ser
competente era o juízo local civil, agora passa a ser o juízo central cível (artigo 93º -
CPC). Portanto, se eu vos pedir para comentar a seguinte frase: um tribunal pode ser
territorialmente incompetente para conhecer da reconvenção. Vocês concordam ou
discordam? Têm que concordar porque isto é verdade. Só não pode ser incompetente
em razão da matéria, da hierarquia e da nacionalidade, mas pode ser incompetente
em razão do território e do valor, só que o que é que acontece relativamente ao
valor? O juiz deve remeter oficiosamente o processo para o tribunal competente.

Na modificação da competência o princípio que releva é o principio dispositivo porque


são as partes, por sua vontade, que modificam a competência. Reparem, nós na competência
internacional chamamos a estes Pactos, conforme atribuam ao retirem competência, Pactos
Privativos ou Atributivos de jurisdição (art. 94º - CPC), mas aqui estamos apenas a falar
internamente, estamos a referir-nos às situações previstas no artigo 95º do CPC.
Na competência convencional são as partes que através da sua vontade modificam a
competência que está prevista no código de processo civil, mas tudo poder modificado? A lei dá-nos
a resposta: as regras de competência em razão da matéria, da hierarquia e do valor da causa
não podem ser afastadas. Não se pode acordar que qualquer que seja o valor do litígio vai ser
julgado por um juízo local cível, mas é permitido às partes afastar por convenção expressa a
aplicação de regras de competência em razão do território, portanto, as partes podem por acordo
expresso, modificar a competência em razão do território. Mas todas as regras? Não, quais são
aquelas que não podem ser afastadas? São aquelas que estão previstas no artigo 104º do CPC

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V - REGIME DA INCOMPETÊNCIA E AS SUAS CONSEQUÊNCIAS

Existem dois grandes regimes da incompetência: a incompetência absoluta e a


incompetência relativa.

Incompetência Absoluta

Estamos perante a incompetência absoluta quando se viola regras de competência em


razão da matéria, da hierarquia, competência internacional e se viole a possibilidade de
resolução do litígio para um tribunal arbitral, portanto, as partes afastaram a jurisdição dos
tribunais judiciais prevendo que o litígio seria resolvido por um tribunal arbitral e depois violam
esse acordo. É a forma mais grave de incompetência porque os critérios que estão na base dessas
regras assentam em razões de interesse e de natureza pública, ou seja, a boa administração da
justiça.
Quem é que pode arguir, quem é que pode invocar a incompetência absoluta? Pode ser
arguida por qualquer das partes e deve ser conhecida oficiosamente pelo tribunal (pode ser
conhecida sem que as partes a invoquem). Em todas as situações? Não, há situações de
incompetência absoluta que o tribunal não pode conhecer oficiosamente. Quais são elas? Se a
incompetência absoluta decorrer da violação de um Pacto Privativo de jurisdição ou da
preterição do tribunal arbitral voluntário nos termos do artigo 97º do CPC.
A primeira consequência da incompetência absoluta é o de indeferimento liminar da
petição inicial e consequente extinção da instância, nos casos em que o processo admita
indeferimento liminar.
No processo civil declarativo atual, a regra é a de que não há lugar a despacho liminar, ou
seja, o juiz só tem contacto com as peças processuais a meio do processo e essa fase acontece
quando termina a fase dos articulados.
(O processo inicia-se com a petição inicial, o autor dá entrada da petição inicial no tribunal,
depois segue-se, se a secretaria não recusar a petição, um sorteio (distribuição) para saber qual o
juiz. Depois de distribuído tem de ser dado conhecimento ao réu que contra ele foi proposta uma
ação - citação. O réu tem de ser citado para saber que contra ele foi proposta uma ação e se ele
quiser defender-se. Se o articulado do autor se chama petição inicial, o articulado do réu chama-
se contestação. A seguir à contestação, conforme for esta contestação, pode haver lugar a um outro
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articulado do autor, que se chama réplica. E só depois é que termina a fase dos articulados. E só
após a fase dos articulados é que o processo é concluso ao juiz para que ele possa fazer a primeira
apreciação do processo.)
Quando há lugar a despacho liminar esse despacho tem lugar antes mesmo do réu ser
citado. Há lugar a despacho liminar em duas situações: nos casos previstos na lei (artigo 226º,
nº4 - CPC) ou quando o juiz assim o determinar - artigo 590º do CPC. Se neste despacho, antes
da citação, o juiz verificar que o tribunal é absolutamente incompetente, em vez de citar,
indefere liminarmente a petição inicial com a consequente extinção da instância, como resulta
do artigo 99º do CPC.
Nos casos em que não há despacho liminar, que é a regra, o juiz conhece da incompetência
absoluta no despacho saneador. E, nesse caso, como o réu já foi citado, já estamos a meio do
processo, não há indeferimento liminar da petição, nesse caso o réu é absolvido da instância. Tal
como nos diz o artigo 99º do CPC. Se por acaso não houver lugar a despacho saneador, ou se no
despacho saneador o juiz não detetou a incompetência absoluta, ainda pode fazê-lo na própria
sentença, absolvendo o réu da instância. No meio disto tudo há uma exceção, há um caso em que
não obstante estarmos perante uma situação de incompetência absoluta, em vez de haver absolvição
do réu da instância, se se aproveitar alguma coisa daquele processo e remeter-se o processo para o
tribunal competente, mas isto só é possível desde que se encontrem preenchidos os requisitos do
artigo 99º, nº2 - mesmo que o autor requeira, cumprindo o prazo, se o réu se opuser e se essa
oposição for justificada, não se aplica o nº2 do artigo 99º e como tal o réu é absolvido da
instância.
A regra geral é que a decisão proferida sobre a competência absoluta, mesmo depois de
transitada em julgado, não produz efeitos fora do processo (caso julgado formal), exceto se se
verificarem os requisitos previstos no artigo 101º do CPC.

Incompetência Relativa

Se a incompetência absoluta resulta da violação das regras em razão da matéria, da


hierarquia, da competência internacional e da preterição do tribunal arbitral, a incompetência
relativa aplica-se aos casos restantes e, por isso, a incompetência relativa resulta da infração da
violação das regras fundadas no valor da causa, na divisão do território ou na vontade das
partes. Nos termos do artigo 102º do CPC, estes são os casos normais que originam a
incompetência relativa, embora, depois no artigo 107º do CPC, haja um caso especial de
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incompetência relativa, quando alguém demanda outra pessoa com o único fim de se desviar o
verdadeiro réu do tribunal territorialmente competente.
De facto, quando dissemos que a incompetência absoluta é mais grave devido à natureza dos
interesses que estão na base dessa incompetência absoluta, obviamente, que para a incompetência
relativa temos que dizer o contrário - ela é menos grave porque os interesses que estão na sua
base são fundamentalmente interesses de natureza particular.
Ao contrário da incompetência absoluta, a incompetência relativa só pode ser arguida pelo
réu, no prazo fixado, que é de 30 dias (art. 103º). Em razão do valor é sempre de conhecimento
oficioso, ao contrário do que sucede quanto à incompetência em razão do território que só
excecionalmente deve ser conhecida (art. 104º).
A exceção da incompetência (pelo artigo 576º do CPC) é um meio de defesa do réu. O réu
pode defender-se por impugnação, por exceção dilatória ou por exceção perentória. Se a exceção da
incompetência for julgada procedente, o processo deve ser remetido para o tribunal competente, o
que quer dizer que a incompetência relativa é uma exceção dilatória (artigo 577º - CPC).
Quando o réu na contestação argui a incompetência relativa como meio de defesa como é
que ele se está a defender? Está-se a defender por exceção dilatória porque as exceções dilatórias
são aqueles que obstam que o tribunal conheça do mérito da causa e têm como consequência a
absolvição do réu da instância ou a remessa do processo para o tribunal competente. Isto
também resulta do disposto do artigo 105º, nº3 do CPC.
Nestas situações, a lei prevê ainda que a decisão, quando o tribunal é chamado a resolver
esta questão da incompetência relativa, proferida pelo tribunal é admissível reclamação para o
presidente da relação que decide de forma definitiva a questão nos termos do artigo 105º, nº4 do
CPC .
A decisão relativa à competência, uma vez transitada, resolve definitivamente a questão (art.
105º, nº2), pelo que, no tribunal para onde o processo foi remetido, não poderá discutir-se a mesma
matéria.

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PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS

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I - PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS

Os pressupostos processuais são os requisitos necessários para que um juiz possa


apreciar o mérito da causa (conhecer do pedido do autor seja julgando procedente ou
improcedente).
Os pressupostos processuais distinguem-se das condições da ação. As condições da ação
são os requisitos necessários para que o juiz possa julgar a ação de forma procedente. Para que
se possa condenar o réu num pedido de indemnização com fundamento em responsabilidade civil,
há um artigo que diz quais são as condições da ação, que consubstanciam uma série de requisitos
que têm de estar todos preenchidos para que o juiz possa acolher favoravelmente o pedido. Tem que
haver um facto, esse facto tem de ser ilícito, tem de haver culpa, tem que haver dano e tem que
haver nexo de causalidade entre o facto e o dano - esses requisitos para além de terem de ser
alegados, têm que ser provados (requisitos previstos no artigo 483º do CC). São requisitos
completamente diferentes do que são pressupostos processuais, porque os pressupostos
processuais verificam-se antes do momento em que o juiz vai julgar a ação, porque no
momento em que o juiz vai julgar a ação, nós já temos que dizer que o tribunal é competente, que as
partes têm personalidade judiciária, que têm capacidade judiciária, que têm legitimidade, que estão
devidamente patrocinadas e que têm interesse em agir. No momento do julgamento os pressupostos
processuais têm de estar todos reunidos; se não estiverem o juiz não aprecia o mérito da causa; e
quando um juiz não aprecia o mérito da causa, regra geral, a consequência é a absolvição do
réu da instância.
Podemos dividir os pressupostos processuais em duas grandes modalidades: os
pressupostos positivos, que são aqueles que têm que se verificar para que o juiz possa apreciar o
mérito da causa; e os pressupostos negativos são aqueles que se se verificarem (portanto, não se
podem verificar) impede o juiz de apreciar o mérito da causa.
Pressupostos negativos: a exceção do caso julgado e a litispendência. Ambas pressupõem
a repetição de ações, só que enquanto no caso julgado a segunda ação entra depois da primeira ter já
constituído caso julgado, a litispendência pressupõe a repetição das ações, mas a correrem ambas
simultaneamente. Pretende-se evitar que os tribunais sejam colocados numa posição de estarem a
contrariar decisões uns dos outros.
Pressupostos positivos: a competência, a personalidade judiciária, a capacidade
judiciária, a legitimidade processual, o interesse em agir e o patrocínio judiciário obrigatório.
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PERSONALIDADE JUDICIÁRIA

O primeiro requisito que o juiz tem de apreciar para que possa apreciar o mérito da causa é
verificar se as partes têm personalidade judiciária.
A personalidade judiciária consiste na suscetibilidade de ser parte, ou seja, na
suscetibilidade de demandar ou de ser demandado - artigo 11º do CPC. O conceito de parte que está
previsto no artigo 11º é um conceito formal, portanto, parte é quem demanda ou é demandado e
não quem pode demandar ou ser demandado.
Para haver personalidade judiciária tem que haver personalidade jurídica, ou seja, o CPC
equipara a personalidade judiciária à personalidade jurídica. Portanto, quem tiver
personalidade jurídica tem personalidade judiciária, então, neste sentido é parte em sentido material
e em sentido formal.
O que acontece é que o conceito de personalidade judiciária é mais amplo do que o conceito
de personalidade jurídica, ou seja, tem personalidade judiciária quem tem personalidade
jurídica, mas a lei processual estende a personalidade judiciária a quem não tem personalidade
jurídica. Essas situações são as que estão previstas no artigo 12º do CPC.
O artigo 13º prevê, no entanto, uma situação especial. As entidades enumeradas no artigo
13º, regra geral, não têm personalidade judiciária, quem tem é a pessoa coletiva. Por isso, se eu
quiser intentar uma ação contra a Caixa Geral de Depósitos, tenho que intentar a ação contra a
Caixa Geral de Depósitos e não contra a agência da Caixa Geral de Depósitos de Belém. Estas só
podem demandar ou ser demandadas quando a ação proceda de facto por elas praticada, por isso,
regra geral, quem tem a personalidade judiciária é a pessoa coletiva, mas se estivermos perante
ações que digam respeito a factos praticados pela própria sucursal, agência, filiação, etc, elas aí
podem demandar ou serem demandadas. Se a ação resultar de um facto por elas praticado, neste
caso, têm personalidade judiciária.

Por regra, a falta de personalidade judiciária é insanável, e se acontecer a possibilidade


de existir um despacho liminar, então a petição inicial deve ser liminarmente indeferida, ou, se não
houver despacho liminar, dá-se a absolvição do réu da instância no despacho saneador, porque a
falta de personalidade é uma exceção dilatória - art. 577º, al. c) do CPC.
Devemos impedir ao máximo que o processo termine na secretária. O que o legislador quer
é que o juiz aprecie o mérito da causa, que descubra a verdade material acerca daquele litígio e,
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portanto, sempre que possível deve-se tentar sanar a falta de pressupostos processuais. Claro que
alguns são insanáveis e a falta de personalidade judiciária, regra geral, é insanável, mas mesmo que
falte esse pressuposto, o legislador consagra situações em que é possível sanar a falta de
personalidade judiciária.
É a situação das sucursais, das agências, das filiais, das delegações e das representações
demandarem ou serem demandadas fora dos casos previstos no artigo 13º. Mas se as ações forem
intentadas contra elas é possível sanar a falta desse pressuposto processual, pelo artigo 14º.
E mesmo nos casos em que o demandado morre antes de proposta ação, ou nos casos de ser
o autor a morrer antes de propor a ação, mas já depois de ter constituído advogado para esse efeito,
é possível salvar isto pelo do artigo 351º do CPC, através de um incidente chamado incidente de
habilitação. Descobre-se a morte do réu em consequência das diligências para a sua citação. O que
é que o autor pode fazer perante isto? Pode requerer a habilitação dos sucessores do morto, ainda
que o óbito tivesse acontecido antes de proposta a ação.
Fora destas situações a falta de personalidade judiciária é insanável.

Não sendo sanada:


• Indeferimento liminar da Petição Inicial (art. 590º - CPC);
• Absolvição do réu (parte em sentido formal) da instância (arts. 577º, al. c); 576º, nº2;
278º, nº1, al. c) - CPC).

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CAPACIDADE JUDICIÁRIA

É muito normal eu fazer um caso prático assim: Abel intentou contra Bento, menor, uma
ação, e na contestação o réu vem dizer que a ação não podia ser proposta contra ele. Concorda com
a contestação? A ação pode ser proposta contra Bento, ele pode ser demandado porque tem
personalidade jurídica, e se tem personalidade jurídica tem personalidade judiciária, pode ser parte,
mas sendo menor sofre de uma incapacidade de exercício, não pode atuar livre e pessoalmente, ora,
transpondo isso para o CPC, é exatamente a mesma coisa. Ele pode ser parte, ele poder demandado,
tem personalidade jurídica, logo, tem personalidade judiciária, o que acontece é que não tem a
suscetibilidade de estar por si mesmo de forma pessoal e livre em juízo.
Pelo artigo 15º, só quem pode estar por si mesmo, sem necessidade de representação em
juízo é que tem capacidade judiciária.
Se no artigo 11º, nº2 está o principio da equiparação entre a personalidade judiciária e a
personalidade jurídica, também quanto à capacidade o legislador remete para o direito substantivo.
Diz o seguinte: a capacidade judiciária tem por base e por medida a capacidade do exercício do
direito. Por base, significa que só tem capacidade judiciária quem tiver capacidade de exercício;
por medida significa que a capacidade judiciária acompanha os limites da capacidade de exercício.
Exemplo: menor, de 17 anos, vendeu um bem com o produto do seu trabalho. Ele é menor,
logo é incapaz de exercício, mas neste caso não é uma exceção de incapacidade prevista no artigo
127º do Código Civil? É. Então a capacidade judiciária acompanha as limitações da capacidade de
exercício. E, se estivermos perante uma situação destas, o menor tem suscetibilidade de estar por si
mesmo em juízo. Às limitações de capacidade de exercício corresponderão idênticas limitações
à capacidade judiciária.

É preciso ver também quem é que representa as entidades dotadas de personalidade


jurídica coletiva e judiciária. Nestas situações, não está em causa a incapacidade judiciária,
porque uma pessoa coletiva não tem incapacidade de exercício, estamos a falar num tipo especifico
de representação que é a representação orgânica. Os órgãos incorporam a pessoa coletiva, os
órgãos são o instrumento de atuação da pessoa coletiva.
• Sociedades e (outras) pessoas coletivas: art. 25º - CPC.
- Sociedades comerciais: regem-se pela disciplina jurídica de cada tipo de
sociedade, estatuída no CSC.
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- Associações, fundações e sociedades civis: arts. 163º e 996º - CC.


- Estado: cabe, em regra, ao Ministério Público (art. 24º - CPC).

A representação de entidades que carecem de personalidade jurídica (mas que têm


personalidade judiciária) é feita:
• Patrimónios autónomos: pelos seus administradores (art. 26º - CPC);
• Sociedades e associações, sucursais, agências, filiais ou delegações: pelas pessoas
que agem como diretores, gerentes ou administradores (art. 26º - CPC);
• Herança jacente: por um administrador ou um curador (art. 2048º - CC);
• Condomínio: pelo administrador (art. 1437º, nº2 - CC);
• Bens doados ou legados a nascituros: por quem os administra (art. 2237º a 2239º; ex.
Ver art. 2240º - CC) que pode ser o próprio doador (art. 952º, nº2 - CC).

Meios de Suprimento da Incapacidade

As partes só podem estar/agir em juízo por intermédio dos seus representantes ou


autorizados pelo seu curador (art. 16º - CPC).

Os menores são representados:


• Pelos progenitores que exerçam o poder paternal: (art. 16º, nº2 e nº3; art. 1877º,
1878º e 1881º - CC). Se houver desacordo entre os progenitores na representação do
menor: (art. 18º - CPC);
• Subsidiariamente: pelo tutor (arts. 1921º e seguintes - CC).

Quanto aos maiores acompanhados, as medidas que impliquem representação significam


que, nesse caso, o maior acompanhado necessita de ser representado pelo acompanhante, é uma
maneira de suprir a incapacidade do maior acompanhado. Nas medidas que não impliquem que os
maiores acompanhados não estejam sujeitos a representação, podem intervir na ação, e devem ser,
obviamente, citados quando estiverem na posição de réus.

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Incapazes (sem representantes ou em caso de conflito de interesses):


• Não tendo representantes legais ou sendo necessária a nomeação de um curador
especial, deve ser requerida a sua nomeação ao tribunal competente (art. 17º - CPC;
arts. 1921º e seguintes - CC);
• Havendo urgência na nomeação de um representante (ou curador para o habilitado)
deve requerer-se um curador provisório no tribunal competente para a ação;
• Este tribunal será igualmente competente para a nomeação de um curador especial
quando:
- Existirem conflitos de interesses (art. 1881º, nº2 - CC);
- Existir norma que especialmente o determine (arts. 1846º, nº3; 1870º; 1891º -
CC);
- Ocorra uma impossibilidade de facto de se proceder à citação (art. 20º - CPC).

A quem cabe requerer se a incapacidade judiciária disser respeito. Por exemplo, eu


quero intentar uma ação contra alguém incapaz, por exemplo, se for menor e os pais faleceram e
ainda não existe tutor designado. Temos que distinguir se a incapacidade diz respeito ao autor ou ao
réu.
• Quando a incapacidade diz respeito ao autor: a nomeação de um curador deve ser
promovida pelo Ministério Público ou por qualquer parente sucessível (art. 17º, nº4 -
CPC).
• Quando a incapacidade diz respeito ao réu: é ao autor que recai o ónus de requerer a
nomeação de curador (art. 17º, nº4 - CPC). Nas situações de incapacidade de facto
(ex. Anomalia psíquica) de receber citação, os réus são representados por curador
especial (art. 20º - CPC).

Note-se que:
• Quanto aos incertos: Ministério Público (art. 22º - CPC);
• Incapazes e Ausentes: sempre que se mostre necessário - Ministério Público (art.
21º e art. 23º - CPC).

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Modos de Suprimento da Incapacidade

Por exemplo, vou intentar uma ação contra o vosso colega, de 17 anos (não estamos perante
nenhuma das situações excecionais do artigo 127º do CC), sem ter pedido o suprimento da
incapacidade. Devia ter intentando a ação contra o André, sendo este representando pelos seus
progenitores, mas não, meti a ação contra o André. Tal como vimos naquelas situações de falta de
personalidade em que algumas situações podem ser sanadas, então agora também temos de ver
quando e como é que se faz esse suprimento.

A regra é que a incapacidade judiciária e a irregularidade de representação são


sanáveis (art. 27º, nº1 - CPC).
Modos de suprimento:
• Incapacidade do autor: intervenção e ratificação (cumulativo) do processado pelo
seu representante ou curador (art. 27º, nº2 - CPC);
• Incapacidade do réu: intervenção (espontânea) ou citação do seu representante ou
curador (art. 28º, nº2 - CPC).

Verificada uma situação de incapacidade judiciária não suprida (seja ativa ou passiva,
quer seja a respeito do autor ou do réu) o juiz da causa deve providenciar pelo seu suprimento
(art. 28º - CPC).

Consequências do Não Suprimento

Regra Geral:
• Absolvição do réu da instância, quando a incapacidade disser respeito ao autor;
• Absolvição do réu da instância, quando o incapaz é o réu, e o não suprimento da
incapacidade é imputável ao autor.

Se o não suprimento disser respeito ao:


• Autor: absolvição do réu da instância (art. 278º, nº1, al. c) - CPC);
• Réu: sendo a ausência de intervenção ou citação imputável ao autor (art. 17º, nº4 -
CPC): o réu deve ser absolvido da instância (art. 278º, nº1 , al. c) - CPC). Não sendo
imputável ao autor, incumbe ao Ministério Público a representação (artigo. 21º -
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CPC) e caso este não conteste, o processo seguirá à sua revelia, ou seja, o processo
segue normalmente como se o réu não tivesse contestado.

Igual regime se aplica nos casos de citação ou intervenção do representante em que estes
não ratifiquem nem renovem os atos praticados. Incube ao Ministério Público a representação (art.
21º) e, caso este não conteste, o processo seguirá à revelia.

Estando a parte devidamente representada, mas faltando alguma autorização ou


deliberação é dado um prazo para obter, suspendendo-se os termos da causa. Não sendo a falta
sanada dentro do prazo, o réu é absolvido da instância, quando a mesma devesse ter sido obtida pelo
autor (art. 29º, nº1 - CPC).
Se ao contrário, era ao representante do réu que incumbia sanar a falta, e a mesma não tiver
sido sanada, o processo segue como se este não deduzisse oposição (art. 29º, nº2 - CPC).
Em qualquer caso (de incapacidade não suprida ou de irregularidade de representação), é
afastada a consequência da absolvição do réu da instância sempre que nenhum outro motivo
obste a que se conheça do mérito da causa e a decisão deva ser inteiramente favorável ao incapaz
(art. 278º, nº3).
Exemplo: Eu sou um maior acompanhado, e o André intentou uma ação contra mim sem
pedir que eu esteja devidamente representado. E cumpria-lhe, ele tinha ónus como autor, vamos
supor, de me nomear um representante, não o fez. A consequência é que eu vou ser absolvido da
instância. Quando o legislador diz que eu vou ser absolvido da instância, porque eu sou incapaz,
obviamente quer-me proteger, eu não posso estar por mim mesmo em juízo, tenho que estar
devidamente representado. Mas, suponham que o juiz, ao ir proferir o despacho que me vai absolver
da instância, olha para a ação, para a petição inicial e vê: o autor aqui não tinha razão nenhuma, se
não fosse o facto do réu ser incapaz, eu até podia conhecer já do pedido; eu sei que a lei diz que eu
estou impedido de o fazer porque isto é uma exceção dilatória (falta de capacidade judiciária) e
quando há uma exceção dilatória o juiz está impedido de conhecer do mérito da causa, mas se eu
conhecesse do mérito ia decidir integralmente favorável ao réu. O que é que é mais benéfico? O réu
ser absolvido da instância ou ser absolvido do pedido? Do pedido. Se houver absolvição do pedido,
quando a decisão se tornar definitiva forma-se caso julgado material, ao passo se o réu for absolvido
da instância, tornando-se a decisão definitiva, forma-se o chamado caso julgado formal que não
impede que o autor venha a propor nova ação.

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Quem queremos proteger é a parte que padece da incapacidade, ora, se ele fica mais
protegido se o juiz puder conhecer do pedido, e desde que esse conhecimento seja integralmente
favorável a essa parte, ou seja, à parte que está a ser protegida pela incapacidade, o juiz deve
conhecer do pedido e em vez de o absolver da instância, absolve-o do pedido.

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LEGITIMIDADE PROCESSUAL

A legitimidade está prevista nos artigos 30º e seguintes do CPC.


O artigo 30º diz-nos que “o autor é parte legítima quando tem interesse direto em demandar;
o réu é parte legitima quando tem interesse direto em contradizer”, obviamente quando é proposta
uma ação contra mim é porque quem intentou tinha interesse direto em me demandar, e eu como
sou demandado tenho interesse direto em contradizer.
O número dois ainda vem dizer assim: “o interesse em demandar exprime-se pela utilidade
derivada da procedência da ação e o interesse em contradizer pelo prejuízo que dessa procedência
advenha” - ou seja, o interesse da legitimidade deriva do interesse direto em demandar ou do
interesse direto em contradizer. Eu tenho um interesse direto em demandar porque se ganhar a
ação, daí retiro uma utilidade; o réu tem interesse em contradizer porque se perder a ação, daí vai ter
um prejuízo.
É utilizada a expressão “interesse direto” para afastar situações em que o interesse não é
direto, em que o interesse é meramente reflexo. Exemplo: Eu sou credor de uma pessoa porque lhe
vendi um automóvel por 20.000 euros. Essa pessoa não pagou, mas eu também não me importei
com isso porque não é por 20.000 euros que vou ficar mais rico e por isso não quero intentar
nenhuma ação contra essa pessoa. No entanto, os filhos têm interesse em que o património dos pais
seja o maior possível, e, por isso, o meu filho quer intentar uma ação contra a pessoa em causa
porque quer herdar aquele dinheiro. Mas não o pode fazer porque não é interesse direto, é um
interesse meramente reflexo.
Há um caso em que os herdeiros podem requerer a nulidade do negócio jurídico celebrado
pelos seus pais (simulação fraudulenta), mas aqui é a lei que lhes dá esse interesse direto. Mas regra
geral não têm.
Desde 1931 até 1995 discutiu-se esta questão da legitimidade. Existiram dois professores
que andaram a discutir esta questão, mesmo com o conceito que está no artigo 30º, nº1 e 2: o
professor Barbosa de Magalhães (Lisboa) e o professor Alberto dos Reis (Coimbra).
O professor Antunes Varela define a legitimidade como o poder de condução do
processo. Portanto, as partes são legitimas quer como autor quer como réu, quando sejam essas
partes que podem expor do objeto do processo, ou seja, quando têm o poder como autores de fazer o
pedido, ou quando têm o poder como réus de deduzir a defesa oponível a esse pedido.

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Não podemos confundir o poder de deduzir uma determinada e concreta pretensão


com o poder de a obter, ou seja, porque isso todos nós temos, faz parte da chamada tutela
jurisdicional efetiva, de exigir ao tribunal quando intentamos uma ação de obter uma decisão,
conforme ou não aos nossos interesses. Estamos a tratar de saber quem é que pode deduzir em juízo
uma determinada e concreta pretensão.
Aqui queremos saber se as partes podem assumir as respetivas posições no processo em
face do pedido deduzido ou em face da contestação do pedido. Para haver processo em tribunal
tem de haver uma situação jurídica da vida que produza um litígio.
Como é que regra geral se deve ver isto? Temos que olhar para os interesses em causa e
depois ver se estão em juízo os titulares desses interesses - é assim que se afere a legitimidade.
Olha-se para a relação controvertida, para a relação litigiosa, e depois intentada a ação em tribunal
temos de ver se as pessoas que estão em litígio correspondem às pessoas que eram os titulares dos
interesses em causa na tal relação controvertida. Exemplo: se o acidente foi entre o A e o B e se
agora temos uma ação entre o B e o A em que o B vem pedir uma indemnização, obviamente temos
que aferir se a relação, a situação da vida que deu lugar ao litígio, tem como titulares aqueles que
estão no processo. Tem que haver uma coincidência entre as pessoas que estão em litígio com
aquelas em que estão em tribunal.
Esta questão da legitimidade começou assim: uma empresa A vendeu não sei quantas mil
toneladas de ferro ou metal à empresa B. E a empresa B não pagou. E então a empresa A intentou a
ação contra a empresa B, e a empresa B, na contestação, vem dizer que não tem nada haver com o
pagamento do preço, que foi apenas um intermediário no negócio porque quem comprou e não
pagou foi a empresa C e, sendo assim, não é titular do interesse em causa e por isso é parte
iletigima.
O professor Alberto dos Reis vinha dizer que as partes são legitimas quando depois de
ouvidas se concluir que estão em juízo os titulares da relação controvertida. (Mas isto tem um
problema porque vai obrigar o juiz a apreciar o mérito da causa quando ainda estamos numa fase
em que precisamos de saber se ele pode entrar na apreciação do mérito da causa porque ainda
estamos a aferir sobre um pressuposto processual).
O professor Barbosa de Magalhães vinha dizer que não pode ser assim porque estamos na
análise dos pressupostos processuais, e, portanto, não estamos numa fase em que vamos analisar a
relação controvertida; temos que partir do princípio que tudo se passa como o autor diz só para
efeitos de legitimidade.

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E perguntava o professor Alberto dos Reis o seguinte: então e se depois no final, na


sentença, no julgamento, se vier a provar que afinal a empresa B em razão? Ao que o professor
Barbosa de Magalhães respondia: não tem problema nenhum, nesse caso já não estamos no âmbito
do pressuposto processual, aí já estamos a analisar o mérito da causa, e se a empresa B provar que
não foi ela que comprou, então não é absolvida da instância, é absolvida do pedido.
Aquando da reforma do processo civil em 1995, o legislador optou pela tese do professor
Barbosa de Magalhães. Isto é comprovado pelo nº3 do artigo 30º: “ na falta de indicação da lei em
contrário, são considerados titulares do interesse relevante para o efeito da legitimidade os sujeitos
da relação controvertida, tal como é configurada pelo autor”.
Isto é assim para a legitimidade singular.

Legitimidade singular - a legitimidade consiste numa posição da parte em relação a certo


objeto do processo em concreto, ou seja, à questão de que esse processo se ocupa. Sempre que a lei
não disponha em contrário considerar-se-ão como titulares do interesse relevante para o efeito da
legitimidade (como poder de dirigir o processo através da titularidade dos interesses em litígio) os
sujeitos da relação material controvertida. É aferida a legitimidade comparando os sujeitos da
relação jurídica subjacente (relação material controvertida - relação da vida que se passou que
originou o litígio) com os sujeitos da relação jurídica processual.
Quanto à questão de saber qual é a relação jurídica controvertida que serve de base à
legitimidade das partes (no que respeita à legitimidade singular) é aquela que é unilateralmente
configurada pelo autor.
É por isso de concluir que a legitimidade tem de ser apreciada e determinada pela utilidade
ou por juízo que da procedência ou improcedência da ação possa advir para as partes face aos
termos em que o autor configura o direito invocado e a posição que as partes, perante o pedido
formulado e a causa de pedir invocada, têm na relação jurídica material controvertida tal como a
representa o autor.

Em processo civil a legitimidade pode ser singular ou plural, consoante a relação


material controvertida se apresente com um único sujeito quer do lado ativo quer do lado passivo,
ou com vários sujeitos quer do lado ativo quer do lado passivo.
Se falta a legitimidade falta um pressuposto processual, e, nesse sentido, a sua consequência
consiste no impedimento do juiz de apreciar o mérito da causa.

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A ilegitimidade singular é insanável; a ilegitimidade plural é sanável quando consista na


pretensão de um litisconsórcio necessário - quando é necessário que estejam em juízo todos os
interessados. Se for necessário por lei, por convenção ou pela própria natureza da relação jurídica
que para além do X também tenha de lá estar o Y, e se lá devesse estar Y e não está, o X sozinho é
parte ilegítima, mas essa legitimidade é sanável nos termos do disposto no artigo 261º e no disposto
dos artigos 316º e seguintes em que a lei consagra o incidente de intervenção de terceiros
precisamente para que esses terceiros possam vir a ser chamados ao processo e assim estarem lá
todos os interessados.

A lei para além dos critérios gerais que estão no artigo 30º também prevê situações
especiais e uma delas é a relativa aos interesses difusos (art. 31º - CPC) - são aqueles que têm uma
dimensão quer individual quer supra-individual (todos nós somos titulares destes interesses), pela
sua titularidade caber a todos e a cada um dos membros de uma classe ou de um grupo
(independentemente da sua vontade) e por recaírem sobre bens que podem ser gozados de forma
corrente e não exclusiva.
Têm legitimidade para propor e intervir nas ações e procedimentos cautelares destinados à
sua tutela: qual cidadão no gozo dos seus direitos civis e políticos; as associações e fundações
defensoras dos interesses em causa; as autarquias locais; e o Ministério Público.
Exemplo: eu não fui prejudicado com isso, mas acho que a EDP anda a cobrar a outras
pessoas coisas indevidas - posso intentar essa ação, não tenho que ser a DECO como associação de
defesa do consumidor.

Outro critério especial é o que se passa com a substituição processual, ou seja, em que a
lei atribui legitimidade a quem não é titular do objeto do processo ou naquelas situações em que
há uma contitularidade (a quem não é o único titular dos interesses em causa).
Exemplo: artigos 263º (na transmissão da coisa ou direito litigioso) e 1405º, nº2 (na
compropriedade, em situações de reivindicação) do código civil.

Na legitimidade plural temos mais do que um sujeito no lado ativo ou no lado passivo da
relação substantiva ou processual. A questão que se coloca é se para além do X também deveria
estar o Y, o Z ou o W; ou se em vez de ser só o A como autor não devesse estar acompanhado com o
B, com o C ou com o D. Ou seja, para além das partes deviam estar em juízo outros sujeitos?
A legitimidade plural tem duas familias: o litisconsórcio e a coligação.
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No litisconsórcio à pluralidade de partes corresponde a unicidade de pedido, ou seja,


pluralidade de partes e um único pedido (art. 32º a 35º - CPC). Exemplo: A pede a condenação
de B e C a entregarem ou pagarem X.
Na coligação existe pluralidade de partes e pluralidade de pedidos deduzidos de forma
diferenciada relativamente às várias partes (art. 36º a 38º - CPC). Exemplo: A pede a condenação de
B a entregar X e a condenação de C a entregar Y.

O litisconsórcio tem duas grandes modalidades: o litisconsórcio voluntário e o


litisconsórcio necessário.

O litisconsórcio voluntário é a regra geral e está previsto no artigo 32º do CPC. Temos
uma relação substantiva ou processual em que existem vários interessados, mas no litisconsórcio
voluntário não é necessário que lá estejam todos para se assegurar a legitimidade daqueles que lá
estão - a intervenção dos vários sujeitos da relação material controvertida não é exigida para
assegurar a legitimidade das partes, ou seja, daqueles que estão em juízo. Exemplo: eu pedi-vos
emprestado 1 milhão de euros e fiquei de vos restituir esse dinheiro até ao dia 31 de Dezembro;,
mas passa o tempo e eu não vos paguei; têm de vir todos intentar uma ação contra mim? Não, basta
um.
Mas no litisconsórcio voluntário temos que distinguir duas situações: situações em que a lei
ou o negócio jurídico expressamente admitem que o direito seja exercido na sua globalidade
por um único interessado (como sucede nos artigos 538º, 512º e 1405º, nº2 - CC); e situações em
que a lei ou o negócio são omissos, caso em que o tribunal deve conhecer apenas da respetiva
quota parte do interesse ou responsabilidade, ainda que o pedido abranja a totalidade -
exemplo: eu pedi-vos emprestado 1 milhão de euros e agora vem o vosso colega intentar uma ação
contra mim pedindo tudo, mas a lei e o negócio são omissos quanto à possibilidade de ele exigir
tudo de mim; neste caso, o juiz vai querer saber quanto dinheiro é que ele emprestou e só condena o
réu a pagar-lhe esse valor.

O litisconsórcio é necessário quando a intervenção de todos os interessados na relação


material controvertida é imposta, sob pena de ilegitimidade, por lei, convenção das partes ou pela
própria natureza da relação material controvertida. O litisconsórcio necessário pode ser:
• Legal - é imposto por lei (art. 33º, nº1 - CPC);
• Convencional - é imposto por negócio jurídico, por acordo (art. 33º, nº1 - CPC);
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• Natural - é imposto pela própria natureza da relação material controvertida (art. 33º,
nº 2 e 3 - CPC).

(Se o litisconsórcio voluntário é regra geral, o litisconsórcio necessário é excecional.)


Nestas matérias não podemos desconsiderar nunca o direito substantivo porque não é o CPC
que nos vai dizer quais são aquelas relações jurídicas em que é necessário a intervenção de todos. O
CPC o que está a fazer é tratar de um pressuposto processual que é a legitimidade. As substâncias
das relações não são definidas pelo CPC, são definidas pelo CC e pela legislação substantiva.

Litisconsórcio Necessário Legal

Exemplo em que a lei (art. 535º - CC) impõe a intervenção dos vários interessados na
relação material controvertida em juízo.
Se a prestação for indivisível (não se pode dividir) e vários os devedores, só de todos os
obrigados pode o credor exigir o cumprimento da prestação, salvo se tiver sido estipulada a
solidariedade ou esta resultar da lei. Portanto, nas situações indivisíveis com pluralidade de
devedores, sabemos que a lei impõe um litisconsórcio necessário passivo (porque é do lado dos
devedores); se tiver sido estipulada a solidariedade ou esta resultar da lei deixamos de ter
litisconsórcio necessário e passamos a ter litisconsórcio voluntário porque a solidariedade permite
que a prestação seja exigida apenas de um.
Se o A pedir contra B a condenação do B a entregar um automóvel que tinha sido adquirido
a B e C, o A tem que intentar a ação contra B e C porque a obrigação de entrega do automóvel é
indivisível, não pode o B entregar uma parte do automóvel e o C entregar a outra; têm que ambos
entregar o automóvel. Só não seria assim se estivesse estipulado que o A pudesse exigir a um deles.

Outra situação de litisconsórcio necessário legal é o chamado litisconsórcio conjugal que


está previsto no artigo 34º do CPC. São ações que devem ser propostas por ambos ou contra
ambos os cônjuges.
O regime destas situações depende do regime de casamento. Os regimes de casamento são a
comunhão (comunhão de bens adquiridos ou a comunhão geral) e a separação.
Se o nº1 do artigo 34º se refere à legitimidade ativa (marido e mulher devem ser os autores
juntos, ou apenas por um deles, mas com o consentimento do outro), o nº3 refere-se à legitimidade
passiva, ou seja, ações que têm de ser propostas contra ambos os cônjuges.
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No Direito da Familia a propósito do casamento podemos distinguir três dívidas: dívidas


comuns (nascem de facto praticado por ambos os cônjuges), dívidas comunicáveis (são aquelas
que emergem de facto praticado por um, mas que responsabilizam ambos), e dívidas da exclusiva
responsabilidade da pessoa que as praticou.
Se eu praticar um crime só eu é que sou responsabilizado por isso, mas se, por exemplo, eu
for a uma loja de eletrodomésticos e comprar várias coisas para meter em casa, essa dívida embora
só contraída por mim vai responsabilizar o outro.
Mas se o legislador consagra os vários tipos de dívidas também tem que consagrar os vários
regimes de responsabilidade. Então pelas dívidas comuns (relativamente aos regimes de comunhão)
respondem, em primeiro lugar, os bens comuns, mas se não houver bens comuns ou se forem
insuficientes respondem os bens próprios de cada um. Pelas dívidas comunicáveis acontece o
mesmo.
Mas na dívida comunicável, o facto só foi praticado por um. Ora, se o credor quer no futuro
responsabilizar também os bens próprios da outra, porque é uma dívida comum, embora tenha sido
praticada apenas pelo outro, ele tem de intentar ação também contra ela, sob pena de no futuro não
poder exercer o seu direito sob os bens próprios dela. Quando a lei nos diz na segunda parte do nº3
do artigo 34º, “facto praticado por um deles, mas em que se pretenda obter-se decisão suscetível de
ser executada sobre os bens próprios do outro”, está-se a referir às dívidas praticadas por um, mas
que responsabilizam os dois, porque se o credor não fizer isso, se o credor não intentar ação
também contra a outra, no futuro, a sentença que condenar só o outro apenas pode ser executada sob
os seus bens próprios ou sobre a sua meação (é a minha metade) nos bens comuns.
Terceira parte do nº3 do artigo 34º - “e ainda as ações compreendidas no nº1”. Neste caso
temos de ver as ações propostas contra ambos os cônjuges, mas que tenham por objeto bens que só
possam ser alienados ou onerados, ou direitos exercidos por ambos os cônjuges (lado passivo).
Nestas situações estamos perante um litisconsórcio necessário legal em que a falta de um dos
cônjuges gera a ilegitimidade do outro.

Litisconsórcio Necessário Convencional

A presença dos vários interessados é imposta pelo próprio negócio seja ele expresso ou
tácito (art. 33º, nº1 - CPC).
Exemplo: contrato de depósito em que o depositário se obriga a entregar a coisa depositada
a mais do que um dos depositantes (art. 1185º - CC).
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Eu, o meu irmão e a minha irmã temos uma jóia herdada e vamos depositá-la ao banco e
convencionamos no contrato que fizemos que só pelos três é que a jóia podia ser entregue. Mas
agora há um determinado litígio sobre esse contrato de depósito, então nessa situação a ação tem de
ser proposta por todos ou proposta contra todos.

Litisconsórcio Necessário Natural

A presença de todos os interessados se impõe pela própria natureza da relação material


controvertida.
Artigo 33º, nº2 do CPC- Quando por força da natureza da relação controvertida, a
decisão só pode produzir o seu efeito útil normal, com a intervenção de todos os interessados.
Naquelas situações em que são vários os interessados na relação material controvertida, não estão
todos em tribunal, mas se a decisão que vier a ser proferida não regular definitivamente a situação
concreta relativamente aqueles que estão no tribunal, então aí a decisão não produz o efeito útil
normal, então se não produz o efeito útil normal significa que os outros também lá tinham que estar.
Estão? Não; então estes que lá estão são parte ilegítima.
“não vinculando os restantes interessados“ - está em causa o princípio da relatividade do
caso julgado porque ele só vincula as partes.

Efeito útil normal: Regular definitivamente a situação concreta das partes face ao pedido
formulado = a eficácia da sentença perante as partes não pode vir a ser colocada em causa por outra
decisão (alcançável por terceiros interessados) - artigo 33º, nº3 do CPC. O que se pretende é evitar
situações inconciliáveis.
E porque é que pode vir a ser posta em causa por uma outra ação? Porque aqueles
interessados que não estiveram em juízo como não estão vinculados pela eficácia do caso julgado
podem propor outra ação. Visa-se que uma decisão proferida numa determinada ação não possa vir
a ser posta em causa por uma outra decisão.
Exemplo: A, B, C e D são proprietários de um terreno, e o A está farto de se manter em
compropriedade com os restantes e por isso quer pôr termos à compropriedade. Põe-se termo à
compropriedade com uma ação de divisão de coisa comum. E então o A quando intenta a ação diz
que é co-proprietário com B, C e D e intenta a ação apenas contra B e C. Vamos supor que não
havia ilegitimidade, a finalidade da ação é dividir. Vamos supor que o tribunal dividia o terreno pelo
A, B, C e D. Esta sentença vinculava D? Não, porque ele não é parte, e se não é parte, o caso
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julgado que recai sobre esta sentença não o abrange. Só que o D não quer ficar com a parte de cima,
então o que é que ele faz? Intenta uma ação a querer nova divisão. E a sentença que viesse agora a
ser proferida dividia de outra forma. As duas sentenças não são conciliáveis. Então nesta ação para
que isto ficasse definitivamente resolvido o D tinha de lá estar, mas como não estava, os restantes
são parte ilegítima.
Exemplo: anulação de contrato de compra e venda referente a uma coisa indivisível
(exemplo, um automóvel). Se A pedir contra B, a anulação do contrato de compra e venda de um
automóvel celebrado com B e C. Para que ficasse definitivamente resolvida a situação tinham que
estar todos em juízo.

Importa agora saber concretizações práticas da distinção entre litisconsórcio necessário e


voluntário.
Obviamente há uma que é fundamental - se existir litisconsórcio voluntário a falta dos
restantes interessados não produz ilegitimidade; se o litisconsórcio for necessário a falta dos
restantes interessados produz ilegitimidade.

Mas há outras que precisamos de saber. Primeira delas: quando existam vários interessados
(litisconsórcio necessário), estão lá todos, mas um dos réus não foi citado, portanto, o autor
intentou a ação contra todos, mas um dos réus não foi citado (art. 190º - CPC). A falta dessa citação
em caso de litisconsórcio necessário causa a invalidade de todos os atos praticados depois das
citações.
No litisconsórcio voluntário nada se anula.

Outra concretização prática: confissão, desistência e transação (quando as partes chegam a


acordo) (art. 288º - CPC).
O litisconsórcio necessário só produz efeitos relativamente às custas do processo. O
litisconsórcio voluntário produz efeitos relativamente ao respetivo sujeito.

Outra diferença é quanto aos recursos (art. 634º - CPC). A ação foi proposta pelo A contra
B, C, D e E e estes perderam a ação. Agora coloca-se a questão de eles quererem recorrer, mas só
um recorre, o recurso desse aproveita aos restantes que não tiverem recorrido (no litisconsórcio
necessário). Ao passo que no litisconsórcio voluntário isso não é assim.

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(Outras) classificações de litisconsórcio:


• Litisconsórcio inicial e litisconsórcio sucessivo - há litisconsórcio inicial quando o
autor intenta logo a ação ou juntamente com outros autores ou logo contra todos os
réus; será litisconsórcio sucessivo quando a pluralidade de partes surge na
pendência da ação como consequência de um incidente de intervenção de terceiros
(arts. 311º e seguintes - CPC);
• Litisconsórcio simples e litisconsórcio recíproco - no litisconsórcio simples uma
pluralidade de partes, seja do lado passivo, seja do lado ativo, opõe-se à outra. A esta
oposição pode surgir uma outra, que se opõe a uma destas duas ou então quanto às
duas. Quando assim é estamos a falar no litisconsórcio recíproco - para além da
oposição entre o lado passivo e o lado ativo da relação processual, existe uma outra
oposição em qualquer dos lados (art. 333º - CPC);
• Litisconsórcio subsidiário - quando a apreciação da situação jurídica de um sujeito
processual apenas tem lugar no caso de ser julgado improcedente o (mesmo) pedido
contra outro sujeito (art. 39º - CPC). Aplica-se quando o autor tem dúvidas quanto
ao verdadeiro titular da relação material controvertida. Exemplo: aquele da
Nestlé - para evitar situações de ilegitimidade o que é se pode fazer? Dizer ao juiz
que vai intentar ação contra a agência, mas para o caso de vossa excelência entender
que não é a agência a verdadeira titular do interesse em causa, então intente também
a ação contra a Nestlé e o pedido é o mesmo. Um pedido - pluralidade partes. Só que
a Nestlé só vai ser condenada, se for condenada, se o juiz entender que a agência é
parte ilegítima.

Podemos definir a coligação como uma situação em que à pluralidade de partes


corresponde uma pluralidade de pedidos, formulados diferenciadamente por cada um dos autores
ou contra cada um dos réus.
Se o litisconsórcio necessário é excecional, a coligação, necessária ou obrigatória, ainda é
muito mais excecional.
Exemplo: Responsabilidade civil decorrente de acidente de viação em que o pedido
indemnizatório é superior ao capital mínimo obrigatório (do seguro obrigatório). A ação deverá ser
intentada contra a seguradora e o civilmente responsável (art.º 64.º, nº 1 al. b) do Dec-Lei nº
291/2007 de 21 de agosto. Há coligação porque há dois pedidos diferentes deduzidos contra o autor
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contra dois réus. O pedido da seguradora até X e o pedido contra o segurado em Y. Mas é a única
situação em que se pode falar em coligação obrigatória ou necessária.

Requisitos de admissibilidade (da coligação):


• Compatibilidade substantiva dos pedidos: os pedidos não podem ser
contraditórios (art. 555º - CPC). Eu não posso pedir simultaneamente contra o B o
cumprimento do contrato e a nulidade do mesmo. As normas legais que sustentam
aqueles pedidos têm que ser compatíveis;
• Uma conexão material entre os pedidos (art. 36º - CPC). nº1 - “… quando os
pedidos estejam entre si numa relação de prejudicialidade ou de dependência.” -
exemplo: A vende simuladamente uma coisa a B, e B vende a C. E agora o A quer
intentar ação contra B, pedindo que o tribunal declare a nulidade com fundamento na
simulação, e contra C, pedindo a sua condenação a entregar-lhe a coisa por força da
nulidade do contrato celebrado entre B e C (é nulo pela venda de bem alheio). A
causa de pedir é diferente e os pedidos estão numa relação de prejudicialidade ou de
dependência porque o tribunal só vai condenar o C a entregar a coisa ao A, se
considerar o contrato entre A e B nulo por simulação. nº2 - exemplo: vamos supor
que eu e os vossos colegas da frente queremos intentar uma ação contra a EDP
porque entendemos que aquela cláusula do contrato que cada um de nós
individualmente fez com a EDP é nula. Cada um tem o seu contrato, cada um tem a
sua causa de pedir, mas como está em causa a interpretação das mesmas clausulas
dos contratos que são perfeitamente análogas, podemo-nos coligar e intentar a ação
contra a EDP. nº3 - estamos no âmbito dos títulos de crédito. Pensem em cheques,
letras e livranças. Mas para que eu possa ser sujeito de uma relação cartular, que é a
relação que nasce da emissão do titulo de crédito, tem que haver uma relação
subjacente. Exemplo: eu forneci-vos uma tonelada de batatas (esta é a relação
subjacente), mas vocês não têm dinheiro para me pagar já o fornecimento, então o
que é que fazem? Eu saco-vos uma letra, dou-vos uma ordem de pagamento para
pagarem na data de vencimento aquela quantia a mim ou a quem eu indicar. Temos
duas relações: a relação de compra e venda das batatas e a relação que surge agora
do titulo de crédito, porque eu agora digo-vos assim “na data do vencimento vão
pagar ali aquele senhor, que eu sou o devedor dele, assim escuso de estar a pagar
como estou a receber de vocês, vocês pagam diretamente a ele”. Quando eu vos saco
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a letra dou-vos uma ordem de pagamento para pagarem aquele senhor e aquele
senhor agora, que tinha uma relação comigo, eu era devedor dele, como vocês não
pagaram vem intentar ação, e vem intentar ação contra mim com base na relação
subjacente, e contra vocês com base na relação cartular;
• Uma conexão processual dos pedidos (art. 37º - CPC).

Ilegalidade da coligação:
• Havendo incompatibilidade substantiva, ou seja, quando os pedidos são, nos
termos do artigo 555º, substantivamente incompatíveis, ou quando não exista a
conexão objetiva entre os pedidos que é exigida pelo artigo 36º. A consequência é a
notificação do autor para indicar o pedido que pretende ver apreciado, sob pena de
absolvição total do réu, caso não compareça (arts. 38º e 577º, al. d) - CPC);
• Falta de identidade de forma (art. 37º - CPC). Sendo sanável, incumbe ao juiz
adotar o processado à cumulação autorizada. Não sendo sanável dá-se a absolvição
do réu da instância;
• Falta de competência absoluta (art. 99º - CPC). Absolvição do réu da instância.

Intervenção de terceiros - isto é o modo de sanar a ilegitimidade plural (não vamos estudar
isto tudo):
• Intervenção principal:
- Espontânea (311º a 315º);
- Provocada (316º a 320º).
• Intervenção acessória:
- Provocada (321º a 324º);
- Do Ministério Público (325º);
- Assistência (326º a 332º).
• Oposição:
- Espontânea (333º a 337º);
- Provocada (338º a 341º);
- Mediante embargos de terceiro (342º a 350º).

Vamos supor que o A intentou uma ação sem estar devidamente acompanhado pela sua
esposa, e que era uma daquelas situações em que tinham de ser os dois a propor a ação
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(litisconsórcio necessário legal conjugal). O réu quando é citado vem logo dizer que o autor sozinho
sem a mulher é parte ilegítima. E o tribunal quando vai apreciar os pressupostos processuais (regra
geral, não havendo despacho liminar, o tribunal aprecia se os pressupostos estão preenchidos no
despacho saneador), e o juiz no despacho saneador diz que o autor sem a esposa é parte ilegítima.
Ora, até ao trânsito em julgado desta decisão, o autor pode sanar isto (art. 261º) - pode chamar a
esposa.

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INTERESSE PROCESSUAL

Traduz-se na necessidade de instaurar e fazer seguir a ação, ou seja, na carência de tutela


jurisdicional.
Aquela necessidade não tem de ser absoluta, o recurso ao Tribunal não tem de ser a única
via ou a última possibilidade para a realização do interesse em causa. Não têm de se mostrar
esgotados os meios extrajudiciais de resolução do litígio.
(Mas) o recurso à ação deve mostrar-se justificado atenta a relação material tal como
configurada pelo autor. É necessário que alguém esteja numa situação de carência, e essa carência
mostra-se justificada pelo modo como o autor configura a relação material controvertida.

Razões da exigibilidade do interesse em agir:


• Evitar que as pessoas sejam obrigadas a, em juízo, defender os seus interesses,
quando não existe qualquer interesse da contraparte que o justifique;
• Evitar que os tribunais se vejam ocupados com ações em que não se justifica a sua
intervenção com prejuízo dos interesses efetivamente merecedores da sua atividade
jurisdicional.

O interesse processual é diferente da legitimidade.


A legitimidade assenta no interesse direto em demandar ou contradizer. Trata-se do
interesse em alcançar a utilidade derivada da procedência da ação ou o de evitar a desvantagem
decorrente dessa mesma procedência.
O interesse em agir é o interesse do recurso ao processo para alcançar a utilidade derivada
da procedência da ação. Existe quando há necessidade do recurso ao processo para se alcançar
aquela utilidade (que permite aferir da legitimidade) ou para se evitar a desvantagem da procedência
da ação.
Exemplo de situação em que há legitimidade e não interesse em agir: Eu empresto-vos hoje
500 euros, ficando vocês com a obrigação de restituir esses 500 euros mais os juros daqui a um ano.
No dia 17 de Dezembro de 2020 vence-se a vossa obrigação de restituir. Eu sou vosso credor, se
vocês não pagarem eu tenho legitimidade, tenho interesse direto em demandar, porque se eu ganhar
a ação tenho uma utilidade. Mas se eu amanhã (eu emprestei hoje e vocês só tem de pagar daqui a

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uma ano) intentar ação contra vocês, eu não tenho interesse em agir, mas tenho legitimidade porque
eu sou titular do interesse relevante para efeitos de legitimidade. Mas não tenho interesse, não tenho
necessidade de recorrer já a tribunais.
Exemplo de situação em que há interesse em agir e não legitimidade: eu sou o senhorio e
arrendei uma casa ao João, e, por sua vez, o João sub-arrendou essa mesma casa à Inês. Eu não
celebrei nenhum contrato com a Inês. Entretanto a casa como estava em mau estado, começou a
chover no quarto onde a Inês dormia. O João não quer saber. A Inês vai intentar ação contra o
senhorio porque é ele que tem de fazer as obras. Como é que ela vai configurar a relação material
controvertida comigo? Não há nenhuma relação. Ela não tem legitimidade para me exigir nada. Mas
ela tem interesse processual, tem necessidade, está numa situação de carência para recorrer a
tribunal, mas isto não se confunde com legitimidade.

A utilidade é diferente da necessidade.


A “utilidade” do recurso aos tribunais (em função da afirmada titularidade de interesses)
distingue-se da “necessidade” do recurso aos tribunais. Pode existir utilidade decorrente do recurso
aos tribunais (logo legitimidade), mas aquela utilidade não justificar esse mesmo recurso.
Exemplo: A credor, munido de um título com indiscutível força executiva (admita-se uma
confissão de dívida em documento autenticado) intenta uma ação declarativa a pedir a condenação
de B, devedor.
A é parte legítima uma vez que a condenação que visa atingir não deixará de representar
para A uma utilidade ou vantagem (a sentença cria um maior grau de certeza quanto à situação
declarada) mas não há interesse processual, pois A não carece daquela tutela, aquela utilidade
(sentença condenatória) não justifica a demanda, a demanda não se revela necessária.

O interesse processual constitui um pressuposto processual inominado (arts. 278º, 577º, a


contrario), ou seja, não está previsto na lei.
O artigo 577º tem uma lista de exceções dilatórias meramente exemplificativa, não é
taxativa; o interesse processual é uma exceção dilatória.
Fundamento legal: art. 277º, al. e), por maioria de razão. “inutilidade superveniente” é
quando a lide (a ação) se torna supervenientemente inútil. Exemplo: se a meio do processo vocês
me pagarem o que me devem, a ação torna-se inútil. Por maioria de razão, quando a inutilidade é
originariamente inútil, então também nessas situações se justifica a extinção da instância.

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Espécies de ações - artigo 10º do CPC

Ações declarativas de simples apreciação: o autor pretende obter a declaração judicial da


existência (apreciação positiva) ou inexistência (apreciação negativa) de um direito ou de um facto.
Nestas ações o risco da falta de interesse é maior.
Exemplo de uma ação de simples apreciação negativa: aquela em que o autor pede a
declaração de nulidade de um contrato. O que distingue a nulidade da anulabilidade é que no ato
nulo essa nulidade existe desde o inicio. O tribunal limita-se a declarar a nulidade.
Exemplo de uma ação de simples apreciação positiva: quando eu intento uma ação pedindo
que o tribunal declare que aquele sujeito é o meu pai.

Existirá interesse processual quando o autor pretende reagir contra uma situação de
incerteza objetiva e grave.
A incerteza é:
• Objetiva: quando não traduz uma mera dúvida do autor e resulta de factos externos
aos mesmos (imputáveis à contraparte);
• Grave: quando é suscetível de causar prejuízos.

Ações declarativas de condenação: aquelas em que se pretende uma declaração judicial


que imponha a realização de uma determinada conduta pressupondo ou prevendo a violação de um
direito, em regra, nestas ações para demonstrar o interesse em agir bastará invocar a violação do
direito. Nestas situações, existe interesse processual bastando o autor invocar a violação de um
direito.
Se a condenação disser respeito a:
• Obrigações não exigíveis e não vencidas: haverá interesse processual (ainda assim)
quando a existência da obrigação tiver sido colocada em causa pelo devedor (art.
610º - CPC), ou seja, quando o réu conteste a existência da obrigação;
• Prestações ou obrigações periódicas (são aquelas que se vão vencendo ao longo do
tempo. exemplo: renda): haverá interesse desde que seja alegado que o devedor
deixou de cumprir alguma delas, pois face ao risco do incumprimento (das demais)
justifica-se o recurso aos tribunais.

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Ações declarativas constitutivas: pretende-se obter uma declaração judicial que autorize
uma mudança na ordem jurídica existente. Exemplo do divórcio.
Haverá interesse processual sempre que o efeito jurídico que se pretende alcançar não possa
ser obtido através de simples declaração extrajudicial do demandante; fora do tribunal.
Exemplo: quando se pretende resolver o contrato de arrendamento com fundamento que não
seja a falta de pagamento das rendas. Atualmente, a falta de pagamento das rendas de um contrato
de arrendamento dá origem à resolução pela via extrajudicial, mas todas as outras situações só pela
via judicial é que se pode obter a resolução.
Exemplo: A demanda B pedindo a prolação da sentença que declare a existência de uma
causa de revogação do mandato e extinga os seus efeitos. Haverá, em princípio, falta de interesse
em agir, porquanto o direito potestativo de revogação do mandato pode ser exercido
extrajudicialmente.

A falta de interesse processual constitui uma exceção dilatória, dando origem à


absolvição do réu da instância (arts. 576º, nº2 e 278º, nº1, al. e) - CPC).
Nas ações de condenação, caso o juiz conclua que a obrigação não se venceu (e que não
existe interesse processual) deve indeferir a petição em despacho liminar (nos casos em que este
seja possível - art. 590º) ou absolver o réu da instância em despacho saneador (art. 595º - CPC).
Se a falta deste pressuposto só for apurada na sentença final, o juiz deve conhecer do mérito
da causa, condenado, se for o caso disso, o réu a cumprir a obrigação em falta, mas também o
autor (ainda que vencedor da ação) nas custas do processo (art. 610º, nº3 - CPC).

Mesmo que se conclua pela falta do interesse em agir, considerando que este pressuposto se
destina a tutelar ou a proteger o réu, este último deve ser absolvido do pedido (não da instância),
caso o tribunal se convença da total improcedência da ação (art. 278º, nº3 - CPC).

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PATROCÍNIO JUDICIÁRIO

O patrocínio judiciário consiste no exercício de poderes de representação perante o


tribunal, por profissionais do foro na condução e orientação técnico-jurídica do processo.
A necessidade de patrocínio é justificada por duas razões essenciais. Razões de ordem:
• Técnica: a condução e orientação do processo exigem conhecimentos técnicos e
experiência profissional que não está, em regra, ao alcance das partes;
• Psicológica: a condução adequada do processo exige uma objetividade e serenidade
que as próprias partes, por serem os titulares dos interesses em causa, nem sempre
dispõem.

O patrocínio judiciário pode ser exercido por advogados, advogados estagiários e


solicitadores, nos termos estabelecidos na lei processual e nos respetivos estatutos profissionais:
• Estatuto da Ordem dos Advogados: Lei nº145/2015, de 9 de Setembro - ver artigo
195º e 196º;
• Estatuto da Ordem dos Solicitadores: Lei 154/2015, de 14 de Setembro.

Os advogados estagiários podem representar as partes, nas causas em que não é obrigatória
a constituição de advogado (artigo 42º - CPC).
Podem fazer requerimentos em que não se levantem questões de direito, mesmo nas causas
em que seja obrigatória a constituição de advogados (artigo 40º, nº2 - CPC).

Os solicitadores têm uma competência forense idêntica à dos advogados estagiários (arts.
40º, nº2 e 42º - CPC).
Os agentes de execução só têm competência para as ações executivas. São eles que tratam
de burocracia da ação executiva. São eles que penhoram os bens, que vão ter com os devedores…

A atribuição de poderes de representação em juízo pode ser conferida:


• Por instrumento público ou por documento particular;
• Por declaração verbal da parte no auto de qualquer diligência que se pratique no
processo, ou seja, por termo (art. 43º - CPC).

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O substabelecimento consiste na transferência que o mandatário faz para um terceiro dos


poderes que lhe foram conferidos pelo mandante.
Exemplo: se vocês me constituirem o vosso procurador forense, ou seja, vosso advogado
para vos representar perante o tribunal, pode acontecer que no dia em que esteja marcado o
julgamento eu não possa estar presente, ou porque tenho outro já previamente marcado. Então eu
posso estabelecer os poderes que vocês me deram noutro colega.

Espécies:
• Com reserva: quando o mandatário mantém conjuntamente com o novo mandatário
os poderes de representação (art. 44º, nº3, à contrario sensu - CPC); é apenas para
aquele ato, ou seja, ele pratica o ato e depois disso eu volto a assumir a plenitude do
meu mandato;
• Sem reserva: quando o mandatário inicial não mantém aqueles poderes (art. 4º, nº3 -
CPC); ele fica a ser o advogado até ao fim do processo.

Nota: o patrocínio judiciário pode ser exercido sem que seja a própria parte a constituir
mandatário, como sucede nos casos de nomeação oficiosa de patrono pela Ordem dos Advogados.
Naquelas situações em que a pessoa não tem possibilidade de pagar os onerários a um advogado,
vai solicitar à Segurança Social a atribuição de um advogado oficioso.

Revogação e Renúncia: a revogação do mandato forense (quando o cliente não está


satisfeito connosco, chega lá e revoga a representação) e a renúncia (quando perdemos a confiança
no cliente) devem ocorrer no próprio processo (art. 47º, nº1 - CPC).
Os efeitos da revogação e da renúncia só operam a partir da notificação, obrigatória, a
efetuar no processo tanto ao mandatário ou ao mandante (consoante se trate, respetivamente, de
revogação ou de renúncia), devendo ainda ser igualmente, notificada a parte contrária (art. 47º, nº2).
A minha renúncia só produz efeitos a partir do momento em que o meu cliente for notificado
da minha renúncia; da mesma maneira acontece com a revogação.

Eficácia da renúncia: nos casos em que é obrigatória a constituição de advogado (arts. 40º
e 58º - CPC), o prazo para constituir novo mandatário é de 20 dias (art. 47º, nº3 - CPC).

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Consequências da não constituição (obrigatória) de mandatário em caso de renúncia:


Se a parte notificada da renúncia não constitui advogado no prazo estatuído (art. 47º, nº3 -
CPC), se a falta disser respeito:
• Ao autor: suspende-se a instância (está suspensa no prazo de 6 meses, se exceder 6
meses o processo é considerado deserto (deserção) - 281º - CPC);
• Ao réu: o processo segue os seus termos; se não estaríamos a beneficiar o infrator.

Havendo reconvenção (pedido autónomo que o réu deduz contra o autor, vimos isso a
propósito da extinção da competência), se a falta de constituição de mandatário no prazo (20 dias)
disser respeito:
• Aos réus: fica sem efeito o seu pedido reconvencional;
• Ao autor: o processo prossegue para apreciação da reconvenção (decorridos 10 dias
após a suspensão da ação) (art. 47º, nº6 - CPC).

Entre a renúncia e a constituição (obrigatória) de novo mandatário ou o decurso de 20


dias o mandatário mantém (art. 47º, nº3 - CPC), os seus poderes de representação e os inerentes
deveres deontológicos de assegurar a prática de atos inadiáveis, adequados ou necessários, aos
interesses do mandante. (a renúncia não é automática; se durante o tempo ainda houverem prazos a
cumprir o mandatário tem de os cumprir).
Em casos de urgência o patrocínio judiciário pode ser exercido (sem que o advogado
apresente procuração) como gestão de negócios (art. 49º, nº1 - CPC). Para que os atos praticados
possam ser aceites depois o ato tem de ser ratificado.
Nesse caso o juiz manda notificar pessoalmente a parte cujo patrocínio o gestor assumiu
para, no prazo que for fixado, ratificar a gestão, sob pena de o gestor poder ser condenado nas
custas a que deu causa, e na indemnização do dano causado à parte contrária ou à parte cuja
gestão assumiu (art. 49º, nº2 - CPC).

A constituição de advogado é obrigatória nas situações expressamente estatuídas (para a


ação declarativa) no artigo 40º do CPC:
• Nas ações em que seja admissível recurso ordinário. A admissibilidade de recurso,
de acordo como disposto no artigo 629º, nº1, depende de dois requisitos:
- Que o valor da ação seja superior à alçada do tribunal de que se recorre
(art. 44º - LOSJ).
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- Que as decisões impugnadas sejam desfavoráveis para o recorrente em valor


superior a metade da alçada deste tribunal.
Para efeitos da obrigatoriedade de constituição de mandatário importa atender apenas
ao 1º requisito.
• Nas causas em que seja sempre admissível recurso independentemente do valor
da ação. Exemplo: ação de despejo (art. 629º, nº3, al. a) - CPC);
• Nos recursos e nas causas propostas nos tribunais superiores.

Nos recursos discute-se matéria de direito e, por isso, só os que têm conhecimentos técnicos
é que o podem fazer, daí ser obrigatória a constituição de advogado.

Se as partes não constituírem advogado, nos casos em que é obrigatório fazê-lo, o juiz,
oficiosamente, determinará a sua notificação para sanarem a falta de patrocínio (art. 41º - CPC).

Consequências da falta de constituição de patrocínio obrigatório: se a falta de sanação,


disser respeito:
• Ao autor: o réu é absolvido da instância (arts. 41º e 577º, al. h) - CPC);
• Ao réu: o processo segue à sua revelia (art. 41º- CPC). Isto permite-nos concluir que
o patrocínio obrigatório, relativamente ao réu, não é um verdadeiro pressuposto
processual, porque naquelas causas em que é obrigatória a constituição de
mandatário o réu não constituiu, o juiz dentro de um certo prazo deve notificá-lo
para sanar a falta de constituição de advogado, e se ele não fizer ele conhece na
mesma o mérito da causa.

Nota: tendo presente que a falta de constituição de mandatário por parte do réu não impede
a apreciação do mérito da causa, impõe-se concluir que neste caso não estamos perante um
pressuposto processual geral, mas perante um requisito para a prática de certos e determinados atos
no processo.

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