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Gustavo Badaró
Livre-docente, Doutor e Mestre em Direito Processual Penal pela USP. Professor
Associado do Departamento de Direito Processual da Faculdade de Direito da USP.
Advogado.
1. Introdução
A Constituição garante o direito ao juiz natural, seja pela previsão de que “ninguém será
processado nem sentenciado senão pela autoridade competente” (art. 5.º, LIII), seja ao
vedar a criação de tribunais de exceção (art. 5.º, XXXVII).
Essa garantia, em sua face positiva, que assegura o direito a um juiz competente
predeterminado por lei, sempre esteve ligada à definição do órgão jurisdicional
competente.
A imparcialidade do juiz é conditio sine qua non de qualquer juiz. A palavra juiz não se
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compreende sem o qualificativo de imparcial. Um juiz parcial é uma contradição em
termos.
3. A independência judicial
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Calamandrei proclamava: “Senza indipendenza dei giudici non è possibile giustizia”.
Assim, os juízes de primeiro grau devem ser livres e independentes para julgar somente
de acordo com o que determina a lei, segundo a interpretação dada pelo próprio
magistrado. Por óbvio, a sua decisão poderá ser revista e alterada, em caso de recurso,
por um tribunal “superior”. Mas o juiz continua independente para decidir, ainda que
contrariamente ao posicionamento do tribunal, pois “qualquer relação hierárquica no
plano da organização judicial não poderá ter incidência sobre o exercício da função
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jurisdicional”.
para julgar o processo segundo critérios legais, prévios e taxativos, fixados por lei em
vigor no momento da prática do delito.
O juiz natural é o órgão competente, definido segundo todos os critérios que operam ao
longo do processo de concretização de competência, quer fixados pela Constituição, quer
por leis federais ou mesmo por leis de organização judiciária. Ou seja, o juiz natural é o
juiz que seja territorial, objetiva e funcionalmente competente. Além disso, as normas
que definem o juiz competente devem estabelecer critérios gerais, abstratos e objetivos
de determinação de competência, não se admitindo qualquer possibilidade de alteração
de tais critérios por atos discricionários de quem quer que seja.
Num regime em que o juiz fosse um simples autômato, ou um robô que aplicasse a lei
segundo regras puras e lógicas, de maneira uniforme e padronizada, a garantia do juiz
natural perderia muito de sua importância. Pouco importaria que o julgamento fosse de
competência da comarca de São Paulo, ou de uma cidade ribeirinha do Amazonas, que o
juiz fosse José ou João. Ambos, assim como todos os demais juízes, seriam apenas e tão
somente a “bouche de la loi”, havendo, pois, uma absoluta “fungibilidade dos juízes”.
“Esse juiz não existe! Teria que ser um juiz marginalizado da sociedade, por alguns
chamados de ‘juiz asséptico’, que ‘quando se apresenta a julgar, deve atuar como um
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eunuco político, econômico e social, e se desinteressar do mundo fora do tribunal’”.
Ou seja, a garantia do juiz natural, se não é suficiente para assegurar um juiz imparcial,
ao menos impedirá que o juiz seja alguém que tenha sido escolhido, depois da
ocorrência do fato a ser julgado, e com o escopo de buscar um juiz parcial, isto é, mais
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A garantia do juiz natural: predeterminação legal do
órgão competente e da pessoa do julgador
alinhado ideologicamente, seja para beneficiar a quem se busca proteger, seja para
prejudicar quem se busca punir. A garantia do juiz natural, como define Romboli, é a
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certeza de um juiz não seguramente parcial. Em outras palavras, haverá uma
presunção absoluta de parcialidade de qualquer juiz que seja constituído sem respeitar o
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disposto no art. 5.º, LIII, da CF.
A resposta a tal questão exige uma análise do desenvolvimento histórico do juiz natural,
bem como da finalidade de tal garantia.
A “fórmula do juiz natural”, explica Nobili, “foi influenciada fortemente – na época de sua
afirmação – pelo postulado iluminista do juiz entendido como um simples ente
inanimado: o magistrado aparecia como uma simples máquina de decisões (como seria
dito mais tarde), ou seja, como um mecânico aparelho silogizante. As regras sobre
competência assumiam, então, uma simples função de economia e de organização do
trabalho judiciário. Bem se compreende que, nessa perspectiva, toda a lei sobre
organização judiciária de agosto de 1790 e o próprio conceito de juiz natural não podiam
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senão que se apoiar sobre o postulado da absoluta fungibilidade dos magistrados”.
É o juiz, e não o órgão jurisdicional, que interpreta a lei num ou outro sentido, e o
resultado de um mesmo processo poderá ser distinto conforme a sentença seja proferida
por um ou por outro julgador. Necessário, portanto, que também o juiz seja legalmente
determinado de forma prévia, abstrata e objetiva, evitando-se, assim, “qualquer
manipulação subjetiva do órgão, suscetível de encobrir uma designação ad hoc do juiz”.
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Por outro lado, como já exposto, se o juiz natural é uma garantia para assegurar o
julgamento por um juiz imparcial, é inegável que a imparcialidade deve ter por objeto a
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pessoa que irá julgar, e não apenas o órgão jurisdicional. Quem julga é uma pessoa
física e não um órgão competente. O órgão jurisdicional é um ente abstrato que integra
a organização judiciária. Assim sendo, a imparcialidade do juiz no exercício da função
jurisdicional somente tem sentido quando considerada com vistas à pessoa física do juiz.
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Afirmar que um determinado processo foi julgado, por exemplo, pela 2.ª ou pela 4.ª
Vara, é um erro, para não se dizer um artifício de linguagem para se tentar fazer crer
em uma neutralidade ideológica do julgador.
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A garantia do juiz natural: predeterminação legal do
órgão competente e da pessoa do julgador
Porém, como já destacamos em estudo específico sobre o tema: “sendo uma realidade
incontestável a diversidade social e a sua projeção no âmbito da atividade jurisdicional,
gerando um pluralismo judiciário, é necessário que a garantia do juiz natural assegure a
atuação das diversas correntes ideológicas. Ou, o que seria mais próprio, não permita
que um magistrado que tenha determinada postura ideológica, em especial, as
minoritárias, seja alijado de um determinado processo como forma de influenciar o
resultado do julgamento. É normal que, no âmbito do Poder Judiciário, se reproduza a
diversidade de orientações ideológicas e culturais da sociedade. E, se é obvio que o juiz,
na medida do possível, não deve se deixar influenciar pelas particularidades de sua
formação pessoal, por outro lado, também é indiscutível que se deve evitar que a
escolha do juiz que irá julgar um determinado processo possa ser condicionada pelas
qualificações de ordem ideológica ou cultural que eventualmente o distingam dos outros
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magistrados. Com isso, estar-se-á assegurando, também, a igualdade dos cidadãos
perante a lei, na medida em que, havendo uma distribuição automática e objetiva dos
processos entre os juízes individualmente considerados, o ‘risco’ de ser julgado, por
exemplo, por um juiz mais ‘conservador’ ou mais ‘progressista’, será distribuído
igualmente entre todos os cidadãos, sem que possa atuar qualquer fator de
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manipulação”.
Se cada juiz é único, com concepção de mundo distinta dos demais, com valores sociais
e políticos diversos, de uma forma ou de outra, sua história de vida irá refletir em sua
decisão. Assim, é de suma importância que critérios legais prévios definam quem será o
magistrado que atuará em um determinado órgão e como se dará a sua substituição,
caso necessário. O desenvolvimento histórico do conceito de juiz, desde o “ente
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inanimado” concebido pelos iluministas, até os “juízes engajados” dos nossos dias,
demonstra a necessidade de uma evolução do conteúdo da garantia do juiz natural. Se
na sociedade contemporânea os juízes individualmente considerados não representam
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uma “massa fungível”, não basta que a garantia do juiz natural diga respeito apenas
ao órgão competente, devendo também ter por objeto a pessoa física do juiz.
Numa frase que se tornou clássica na doutrina italiana, justificando porque o juiz natural
deve compreender também a composição do órgão judiciário, Foschini asseverou:
“impedir que um dado processo possa ser julgado pelo tribunal de Catania, ao invés
daquele de Ragusa, não vale nada, se não restar impedido também que se constitua o
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Tribunal de Ragusa, aplicando a este os juízes do tribunal de Catania”.
A própria origem histórica do princípio do juiz natural, enquanto reação aos julgamentos
pelas Commissions extraordinaires constituídas por comissários nomeados pelo Rei para
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julgar processos específicos, demonstra que a preocupação não era apenas com o
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órgão, mas com quem exercia as funções de julgador. Os comissários eram pessoas
diretamente escolhidas pelo monarca, normalmente inimigos políticos da pessoa que
seria julgada e que o rei tinha interesse em ver condenada. Parao Rei, pouco importava
se o julgamento seria conferido a um ou outro órgão, mas sim que os julgadores seriam
as pessoas por ele nomeadas como seus comissários, que condenariam e puniriam os
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acusados.
E, se é verdade que em seus primórdios o princípio do juiz natural tinha por principal
escopo evitar ingerências arbitrárias do monarca na administração da justiça,
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atualmente, a própria evolução do delicado equilíbrio entre os Poderes exige mais. É
necessária a mesma proteção em relação aos órgãos de administração da magistratura.
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O plano da organização judiciária – e não propriamente processual – também é
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fundamental para o respeito à garantia do juiz natural.
Por outro lado, é possível a determinação ou substituição mediante sorteio, por se tratar
de critério que, corretamente aplicado, permite uma determinação objetiva que impede
escolhas discricionárias. O núcleo da garantia do juiz natural não deve ser considerado
apenas como a “pré-constituição-previsibilidade” do juiz que será o competente, mas
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também na “pré-constituição-não manipulabilidade” a posteriori da competência. O
sorteio oferece o máximo de imprevisibilidade, mas também o mínimo de possibilidade
de intervenções sucessivas ao fato na determinação do juiz competente e, por tal
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motivo, é um meio idôneo e compatível com a garantia do juiz natural.
Mas, ainda que por opção legislativa se queira afastar o sorteio, é perfeitamente possível
e necessário que a determinação do juiz competente decorra de critérios legais
objetivos. Por exemplo, nas comarcas em que há mais de uma vara, estabelecer que o
juiz titular da 1.ª Vara é o substituto natural do juiz titular da 2.ª Vara, e assim
sucessivamente, complementando-se o critério prevendo que o juiz titular da última vara
será o substituto do juiz da primeira vara; em comarcas de vara única, poder-se-ia
adotar o sistema de substituição pelo juiz da 1.ª Vara da Comarca mais próxima etc.
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A garantia do juiz natural: predeterminação legal do
órgão competente e da pessoa do julgador
Sem critérios legais que devem ser respeitados também pelos órgãos de administração
do Poder Judiciário, haveria um “dúctil mecanismo de substituições”. É a lei – e somente
a lei – que poderá “evitare che l’esito dei procedimenti possa essere in qualche misura
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‘pilotato’ dai dirigenti degli uffici giudiziari per i fini più vari”. Nem se objete que a
exigência de critérios legais prévios e objetivos, fixados por lei, poderá comprometer a
continuidade e a rapidez da prestação jurisdicional, na medida em que haverá
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interrupção da prestação do exercício da atividade jurisdicional. É exatamente o
contrário! Havendo regras automáticas previamente determinadas, em caso de
necessidade de substituição do juiz que atua em um determinado órgão jurisdicional,
isso ocorrerá de forma mais rápida.
Mas, ainda que assim não fosse, em nome da eficiência não se pode sacrificar a garantia
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do juiz natural, a imparcialidade do julgador e sua independência.
Enfim, parece inegável que a garantia do juiz natural deve ter por objeto não apenas a
predeterminação legal do órgão jurisdicional competente, mas também da pessoa física
do juiz que irá atuar internamente no órgão, seja ele monocrático, seja colegiado. Deve
haver critérios legais objetivos determinando o “juiz pessoa” que atuará em cada órgão,
seja em relação à sua composição inicial, seja em relação às substituições, convocações
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ou qualquer outra forma de alteração da sua composição interna.
Para que haja determinação legal do juiz-pessoa, é necessário: “(i) que exista una
determinação legal do procedimento de designação; (ii) que esse procedimento seja
suficientemente objetivo, para garantir a independência e a imparcialidade dos juízes;
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(iii) que esse procedimento seja, de fato, respeitado”.
As regras de organização judiciária, é bom que se destaque, não dizem respeito somente
aos problemas internos da magistratura, mas também asseguram ao cidadão o direito a
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um juiz pré-constituído e imparcial, ou seja, não suscetível de constituição ad hoc. E
para isso, a garantia do juiz natural tem que ser entendida tanto em relação ao
“juiz-órgão”, quanto ao “juiz-pessoa”.
6. A garantia da inamovibilidade
Visando assegurar a independência do Poder Judiciário e, com isso, estabelecer uma das
condições para que os magistrados sejam imparciais, a Constituição de 1988
assegurou-lhes garantias de vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de
vencimentos.
Para a análise do juiz natural, enquanto predeterminação legal da pessoa física do juiz
que atua no órgão competente, importa diretamente inamovibilidade que, nas palavras
de Themístocles Brandão Cavalcanti, “é a garantia legal que proíbe a remoção ou
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transferência de lugar ou de cargo”. É, portanto, a impossibilidade de remoção do
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ocupante de um cargo, para outro cargo, exceto por vontade própria. O objeto da
inamovibilidade, porém, é amplo, como destaca Pontes de Miranda: “a inamovibilidade
compreende: a comarca, a seção, o cargo; quanto a juízes de tribunais, o tribunal, ou a
câmara. Diante da Constituição, também se considera ao arbítrio do juiz aceitar, ou não,
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a promoção”.
Historicamente, entre nós, a inamovibilidade aparece, pela primeira vez como garantia
constitucional, com a reforma Constitucional de 03.12.1926, que inclui entre os
princípios constitucionais, “a inamovibilidade e vitaliciedade dos magistrados e a
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irredutibilidade dos seus vencimentos” (art. 6.º, caput, II, i). Desde então, esteve
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asseguradas em todas as Constituições, embora nem sempre respeitada na realidade.
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Também é encontrada em diversas constituições estrangeiras.
Num primeiro momento, esse risco era considerado apenas em face dos outros poderes.
Era o ponto de vista de Pontes de Miranda: “A inamovibilidade prende-se à divisão dos
poderes e a independência do Poder Judiciário. Se um dos outros poderes pudesse
remover os juízes, não teriam esses a independência que se pretende necessária.
Inamovíveis e vitalícios, ficam os juízes cobertos de prejuízos materiais e morais, que
lhes infligiriam os dirigentes e os legisladores. O princípio constitucional tem por fito
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obstar assim os golpes do Poder Executivo como os golpes do Poder Legislativo”.
Nesse sentido, inamovibilidade e juiz natural se completam: o juiz natural garante que
haja critérios legais prévios de determinação do órgão competente e do juiz
individualmente considerado que nele irá atuar. Mas uma vez determinada, inclusive a
pessoa física do juiz que irá julgar um processo, esse juiz não poderá ser removido,
transferido, ou mesmo promovido, contra sua vontade. Se a transferência arbitrária do
juiz fosse possível, em termos práticos, cairia por terra a garantia da predeterminação
legal da competência do juiz, na medida em que, ex post factum, seria possível, com
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base em critérios discricionários, escolher um julgador para um determinado caso.
O que diria o moleiro de Sans-Soucies, cuja frase “ainda há juízes em Berlim” restou
imortalizada nos versos de Françóis Andriex, se soubesse que o rei da Prússia tinha o
poder de remover ou trocar, discricionariamente, todos os juízes de Berlim? O valente
moleiro não poderia resistir ao Kaiser Frederico II, que facilmente teria ampliado os
limites de seu castelo!
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A garantia do juiz natural: predeterminação legal do
órgão competente e da pessoa do julgador
7. Conclusões
A necessidade de que o juiz natural também tenha por objeto a pessoa do juiz que irá
julgar a causa se reforça na medida em que seja estritamente observada a garantia da
inamovibilidade, sem a qual não haverá independência do magistrado.
8. Bibliografia
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órgão competente e da pessoa do julgador
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1 Nesse sentido: Julio Bustos Juan Maier. Derecho Procesal Penal: fundamentos. 2. ed.
Buenos Aires: Editores Del Puerto, 1996. t. I, p. 739.
2 Cândido Rangel Dinamarco. Instituições de direito processual civil. 6. ed. São Paulo:
Malheiros, 2009, vol. 1, p. 409.
3 Além disso, como explica Juan Burgos Ladrón de Guevara (El Juez ordinario
predeterminado por la ley. Madrid: Civitas/Universidad de Córdoba, 1990, p. 70), a
inamovibilidade e o juiz natural garantem não só a independência externa, perante os
demais Poderes, como também a independência interna dos juízes, assegurando “el
principio de igualdad de todos los funcionarios judiciales frente a posibles injerencias de
su órgano de Gobierno – El Consejo General del Poder Judicial”.
interesse público, na forma do art. 93, VIII”. O referido inc. VIII, com a redação dada
pela EC 45/2004, prevê que: “o ato de remoção, disponibilidade e aposentadoria do
magistrado, por interesse público, fundar-se-á em decisão por voto da maioria absoluta
do respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, assegurada ampla defesa”.
6 Tão relevante que, a Emenda Constitucional 1 de 1969, no art. 182, nas Disposições
Transitórias, manteve em vigor o Ato Institucional 5, de 13.12.1968, que em seu art. 6.º
suspendia as garantias de vitaliciedade e inamovibilidade. Num regime em que não
assegurou o direito ao juiz competente, nada mais coerente que suprimir a garantia da
inamovibilidade e também da vitaliciedade. Assim, poderia o Presidente da República,
por decreto, “demitir, remover, aposentar ou pôr em disponibilidade quaisquer titulares
das garantias referidas neste artigo” (art. 6.º, § 1.º).
9 Art. 14.1.
10 Art. 8.1.
12 Eduardo Couture. Estudios de Derecho Procesal Civil. 2. ed. Buenos Aires: Depalma,
1978. t. I, p. 88.
13 José Frederico Marques. Manual de direito processual civil. 13. ed. São Paulo:
Saraiva, 1990. vol. 1, p. 108.
18 Alberto Binder. Introdução ao direito processual penal. Trad. Fernando Zani. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2003 . p. 111, que acrescenta: “qualquer sistema de governo que
consiga a independência externa sacrificando a independência interna dos juízes é tão
inconstitucional quanto o fato hipotético de que o Poder Judiciário depende do Poder
Executivo”.
20 Eugenio Raúl Zaffaroni. Estructuras Judiciales. Buenos Aires: Ediar, 1994. p. 105.
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órgão competente e da pessoa do julgador
21 Idem, p. 105-106.
22 Nesse sentido: Binder. Op. cit., p. 249. No mesmo sentido, posiciona-se Canotilho
(op. cit., p. 664), referindo-se à “independência funcional”.
23 Para Girolamo Bellavista (Lezione di diritto processuale penale. 2. ed. Napoli, 1960.
p. 96) “la indipendenza dei giudici è tonificata dal capoverso dell’art. 101 della
Costituzione che afferma che ‘i giudici sono soggetti soltanto alla legge’”.
25 Alfredo Molari, I Soggetti. In: PISANI, Mario et al. Manuale di Procedura Penale. 8.
ed. Bologna: Monduzzi, 2008. p. 35.
27 Jorge Figueiredo Dias. Direito processual penal. Coimbra: Coimbra Ed., 1974. vol. 1,
p. 329.
29 Roberto Romboli, Il giudice naturale. Studi sul significato e la portata del principio
nell’ordinamento costituzionale italiano. Giuffrè, Milão, 1981. p. 132.
30 Gustavo Badaró. Juiz natural no processo penal. São Paulo: Ed. RT, 2014. p. 38-39.
32 Nesse sentido: Romboli, Il giudice naturale… cit., p. 131. De forma semelhante, cf.:
Alessandro Pizzorusso, Presentazione, Il principio di precostituzione del giudice (Atti del
Convegno organizzato dal Consiglio Superiore della magistratura e dall’Associazione
“Vittorio Bachelet”, Roma, 14-15 febbraio 1992), Quaderni del Consiglio Superiore della
Magistratura, 1993, n. 66, p. 8; Maier, Derecho…, cit., t. I, p. 750.
33 Romboli, Il giudice naturale…, cit., p. 132; Id. Giudice naturale. Novissimo digesto
italiano – Appendice III. Torino: Utet, 1982. p. 973.
38 Nesse sentido: Romboli, Il giudice naturale… cit., p. 148; Id., Giudice naturale,
Enciclopedia… cit., p. 378; Molari, I Soggetti… cit., p. 49; Mário Fiorentino, La garanzia
del giudice naturale nel giusto processo e nell’ordinamento giudiziario e i suoi riflessi
sull’imparzialità del giudice. Diritto e Diritti – Rivista Giuridica on line. Disponível em:
[www.diritto.it/ articoli/penale/giudice_nat_29_04_2004.pdf]. Acesso em: 10.09.2009,
p. 16. Díez-Picazo Giménez, El derecho fundamental… cit., p. 83.
43 Foschini, Giudice in nome del popolo, non già commissari del capo della Corte. Foro
Italiano, 1963, II, p. 167, depois publicado In: Foschini, Gaetano. Tornare alla
Giurisdizione. Milano: Giuffrè, 1971, p. 96. O exemplo foi dado com vistas à organização
judiciária italiana, em que os tribunais são órgãos colegiados de primeiro grau. De forma
semelhante, na Espanha, em relação às garantias que integram o direito ao juiz natural,
afirma Andrés De La Oliva Santos (Los verdaderos tribunales en España: legalidad e
derecho al juez predeterminado por la lei. Madrid: Centro de Estudios Ramon Areces,
1991. p. 119) que, “en primer lugar, la determinación legal de la composición del órgano
jurisdiccional (sobre todo si es colegiado) y observancia del procedimiento legalmente
establecido para la designación de los miembros del aquél. El derecho fundamental que
estudiamos prohíbe, pues, mantener el órgano, pero alterar arbitrariamente a las
personas que lo componen” (destaquei).
45 Nesse sentido: cf. Moreno Catena, Prólogo… cit., p. 21. Na Itália, no mesmo sentido
posiciona-se Romboli (Il giudice naturale… cit., p. 148. Na Alemanha: Mathias Hartwig, Il
gesetzliche Richter di cui all’art. 101, 1.º comma, 2.ª proposizione, del Grundgesetz (1),
in Il principio di precostituzione del giudice (Atti del Convegno organizzato dal Consiglio
Superiore della magistratura e dall’Associazione “Vittorio Bachelet”, Roma, 14-15
febbraio 1992), Quaderni del Consiglio Superiore della Magistratura, n. 66, 1993, p. 94.
47 Nesse sentido: Foschini, Giudice in nome… cit., p. 96; Pizzorusso, Giudice naturale…
cit., p. 4.
48 Nesse sentido posiciona-se Mario Alfieri (Giudice Naturale, Digesto delle Discipline
Penalistiche. Torino: Utet, vol. 5, 1991, p. 459), considerando que, afastar a garantia do
juiz natural da determinação legal do juiz-pessoa seria “favorecer a ilusão”.
natural seria facilmente burlado “si bastase con mantener el órgano y pudiera alterarse
arbitrariamente sus componentes, que son quienes, en definitiva, van a ejercitar sus
facultades intelectuales y volitivas en las decisiones que hayan de adoptarse”. E a Corte
Constitucional Italiana, na sentença 419, de 23.12.1998, decidiu que: “L’individuazione
dell’organo giudicante deve, dunque, rispondere a regole e criteri che escludano la
possibilità di arbitrio anche nella specificazione dell’articolazione interna dell’ufficio cui sia
rimesso il giudizio, giacché pure nell’organizzazione della giurisdizione deve essere
manifesta la garanzia di imparzialità (v. sentenza n. 272 del 1998)”. Na França, Thierry
Renoux (Il principio del giudice naturale nel diritto costituzionale francese. Il principio di
precostituzione del giudice (Atti del Convegno organizzato dal Consiglio Superiore della
magistratura e dall’Associazione “Vittorio Bachelet”, Roma, 14-15 febbraio 1992),
Quaderni del Consiglio Superiore della Magistratura, n. 66, 1993, p. 195) lembra que,
em 1975 o Conselho Constitucional condenou ou caráter muito amplamente
discricionário do poder atribuído ao dirigente de escolher, a seu bel prazer e sem
critérios objetivos, não somente quais são os crimes, mas principalmente quais são os
processo que serão examinados por uma composição de julgador diversa daquela
estabelecida para a generalidade dos processos.
52 Como lembra Paolo Alvazzi Del Frate (Il giudice naturale. prassi e dottrina in Francia
dall’Ancien Régime alla Restaurazione. Roma: Viella, 1999, p. 42) na constituição das
Commissions extraordinaires “in numerose occasioni la scelta cadde su alcuni dei
peggiori nemici degli imputati: i giudici, secondo l’opinione pubblica del tempo, erano
scelti allo scopo di ottenere un preciso risultato, ossia la condanna degli imputati, e ciò
che ispirava il sovrano nell’istituzione della giurisdizione straordinaria non era il desiderio
di assicurare l’amministrazione della giustizia, quanto l’intento di voler condizionare,
attraverso la scelta dei giudici, l’esito del processo”.
54 A garantia do juiz natural, lembra Pizzorusso (Sul significato…, cit., p. 1069, nota 4)
pode ser violada, também, pelos próprios órgãos do Poder Judiciário.
57 No sentido de que a garantia do juiz natural exige que haja prévia definição legal dos
critérios e hipóteses de substituição dos juízes: Geraldo Prado, Duplo grau de jurisdição
no processo penal brasileiro: visão a partir da Convenção Americana de Direitos
Humanos em homenagem às ideias de Julio B. J. Maier. In: Bonato, Gilson (org.). Direito
penal e direito processual penal: uma visão garantista. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2001. p. 112; Adelino Marcon. O princípio do juiz natural no processo penal. Curitiba:
Juruá, 2004. p. 140-141; Leonardo José Carneiro da Cunha, Jurisdição e Competência.
São Paulo: RT, 2008 p. 85; Roberto Luiz Luchi Deno. Competência penal originária: uma
perspectiva jurisprudencial crítica. São Paulo: Malheiros, 2005. p. 110.
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A garantia do juiz natural: predeterminação legal do
órgão competente e da pessoa do julgador
popolari oppure con giudici popolari scelti in modo diverso da quello del sorteggio
preveduto dalla legge proprio per impedire ogni collegamento, sia pure solo eventuale ed
ipotetico, tra la scelta del giudice e una preesistente regiudicanda”.
68 Tratado de direito administrativo. 5. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, s/d. vol. 4, p.
370. O art. 30 da Lei Orgânica da Magistratura Nacional – Lei Complementar 35/1979 –
dispõe: “Art. 30 – O Juiz não poderá ser removido ou promovido senão com seu
assentimento, manifestado na forma da lei, ressalvado o disposto no art. 45, item I”.
(destaquei).
72 Em sua versão original, a Constituição Republicana de 1891 dispunha apenas que “os
juízes federais são vitalícios, e perderão o cargo unicamente por sentença judicial”. E o §
1.º previa que “Os seus vencimentos serão determinados por lei e não poderão ser
diminuídos”. Contudo, como lembra Mário Guimarães (O juiz e a função jurisdicional. Rio
de Janeiro: Forense, 1958. p. 141) que a jurisprudência do STF “completou a lei” ao
decidir “reiteradamente, que no conceito de vitaliciedade se incluía o de
inamovibilidade”. Aliás, modernamente, Manoel Gonçalves Ferreira Filho (Comentários à
Constituição Brasileira de 1988. São Paulo: Saraiva, 1992. p. 202) lembra que “de pouco
adiantaria a vitaliciedade para garantia o magistrado, se esse pudesse ser removido de
uma para outra comarca, ao sabor das conveniências, especialmente políticas”.
73 A Constituição de 1934, art. 64, caput, a, assegurava a inamovibilidade. Por sua vez,
a Constituição de 1937, art. 91, b, previa a inamovibilidade dos juízes. Era, porém, só
aparência, na medida em que o art. 177 do mesmo diploma ditatorial previa que o juiz
podia ser removido “no interesse público ou por conveniência do regime”. Com a
restauração da democracia, a inamovibilidade foi prevista na Constituição de 1946, art.
95, caput,
II. Novamente as garantias da magistratura seriam ceifadas, como Golpe de 1964. O Ato
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órgão competente e da pessoa do julgador
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