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Turma e Ano: Regular/2015

Matéria / Aula: Direito Processual Penal


Professora: Elisa Pitarro
Monitor: Raphael Santana

Aula 09

Princípios da jurisdição e competência:

Jurisdição:

Jurisdição é, ao mesmo tempo, um poder, uma função e uma atividade. É um poder


porque é uma manifestação da soberania estatal que decide imperativamente , impondo
suas decisões. É uma função porque representa um encargo do poder judiciário de pacificar
os conflitos de interesse aplicando a lei. É uma atividade através de um complexo de atos ao
longo de um processo.
Pergunta-se: Existe jurisdição voluntária no Processo Penal? Jurisdição voluntária é
aquela que ocorre quando não há lide, não há contraposição de interesses, por exemplo, no
direito processual civil, o caso de divórcio consensual. Sustenta Tourinho Filho que, uma das
únicas hipóteses seria a nomeação do curador especial. Pacelli defende que outra hipótese
seria a revisão criminal, porque nesse caso não há um pretensão que será resistida pela parte
contrária. O Ministério Público, nessas ações, tem natureza de “custus legis”. A professora
foi indagada se a ação penal privada onde o querelante pode ou não ofertar uma queixa
crime seria uma hipótese de jurisdição voluntária? Não, porque a parte ré não se encontra no
processo por livre e espontânea vontade, do contrário, ela possui interesse em resistir a
pretensão da acusação.

Princípios da jurisdição:

Princípio da Inércia: Toda a ação jurisdicional é inerte, ou seja, só há ação se houver


jurisdição. O juiz deve ser provocado para decidir. Por essa razão, quase todas as vezes em
que há ações “ex oficio” do juiz, questiona-se a violação ao princípio da inércia. Pergunta-se:

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A concessão de “Habeas Corpus” de ofício violaria o princípio da inércia? Para Ada
Pellegrini, a necessidade de proteção da liberdade individual justificaria o exercício
espontâneo da jurisdição.

Princípio da indelegabilidade: Não é possível delegar a outro órgão o exercício


jurisdicional. Pergunta-se: Quando há expedição de carta precatória, haveria uma exceção a
esse princípio? Há autores minoritários que sustentam essa tese, contudo, o entendimento
que prevalece é de que não seria uma exceção a esse princípio, na medida em que os juízes
não podem realizar atos fora da sua comarca e, por conta disso, realizam um pedido de
cooperação. Ademais, os atos exercidos pelo juízo deprecado são meramente instrutórios,
não possuindo, assim conteúdo decisório.

Princípio da inevitabilidade: Na medida em que as decisões judiciais se revelam como


manifestação da “soberania estatal”, elas colocam as partes em uma posição de sujeição
perante o Estado-Juiz.

Princípio da inafastabilidade da jurisdição (art. 5, XXXV da CFB): Nenhuma lesão ou


ameaça de lesão pode ser afastada da apreciação do poder judiciário.

Princípio da aderência: Os juízes só podem exercer atividade jurisdicional nos limites


previamente estabelecidos em lei, nas regras de competência.

Princípio da investidura: Apenas juízes podem exercer a atividade jurisdicional, isto é,


aqueles que foram regularmente investidos na carreira da Magistratura. A consequência da
inobservância desse princípio é a inexistência jurídica do ato realizado. Exemplo: Um juiz
que realiza um ato decisório em um processo antes de ser investido no cargo. A Constituição
Federal realiza algumas exceções a esse princípio, como a hipótese do julgamento do
Presidente da República, em crimes de responsabilidade ser realizada pelo Senado Federal.
Esse princípio só pode ser afastado em hipóteses excepcionais e sempre pela Constituição
Federal.

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Princípio do Juiz Natural: Este princípio teve origem no Direito Anglo-Saxão,
trazendo consigo três subprincípios que lhe são consectários: 1) Garante o processo e
julgamento perante o juiz competente. 2) Proíbe a criação de tribunais de exceção, isto é,
tribunais criados para a solução de um caso específico. 3) Proíbe a criação de justiça
especializada. No Brasil, esse princípio foi adotado de forma mitigada, haja vista que a regra
no nosso ordenamento é a adoção de justiças e varas especializadas.
Ada Pellegrini considera o princípio do Juiz Natural pressuposto processual de
existência. Os pressupostos de existência são: Partes, Pedido e Órgão Jurisdicional. Na
violação de um pressuposto processual de existência, ocorre a inexistência da relação jurídica
processual. Há também os pressupostos de validade, como a competência processual.
Exemplos de pressupostos processuais:

Pressupostos processuais de existência: Partes, Pedido, Órgão Jurisdicional e,


segundo Ada Pellegrini, Juiz Natural.
Pressupostos processuais de validade: Competência, imparcialidade do juiz,
capacidade postulatória, entre outros...

Princípio do Promotor Natural: Este princípio surgiu de forma implícita na


Constituição Federal, através das regras de inamovibilidade e independência funcional do
Ministério Público.. O princípio do Promotor natural foi reconhecido implicitamente na
ordem infraconstitucional quando ao Lei Orgânica do Ministério Público – LOMP proibiu a
distribuição de auxílios sem a anuência do promotor titular. Exemplo: Mesmo que haja um
número excessivo de inquéritos em determinada central de inquéritos do MPRJ, o
Procurador Geral de Justiça, só poderá nomear auxílio, nomear um outro promotor para
auxiliá-lo na função, se o titular dessa central de inquéritos assim autorizar.
Esse princípio informa que ninguém será processado, senão por um por um membro
do Ministério Público que tenha atribuição para tal. O STF enfrentou a questão e entendeu
que esse princípio não existe e, se existe, não foi adotado no ordenamento jurídico brasileiro.
Por conta do princípio da Unidade, que norteia o Ministério Público, os seus membros
podem substituir-se sem comprometer a atividade final do Parquet. É razoável sustentar a

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existência desse princípio em provas do Ministério Público, afinal, é uma regra garantia do
cidadão e não um preciosismo institucional.

Competência:

Conceito: Define-se competência como o âmbito legislativamente demarcado, dentro


do qual os juízes e tribunais exercem jurisdição. A natureza jurídica das regras de
competência é de pressuposto processual de validade.

Classificação da competência: (Critério mais usado, parte da doutrina adota outros).

“Ratione Materiae”

Material
“Ratione Personae”

Competência:
“Ratione Loci”

Funcional

Absoluta

Competência
Relativa

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A competência pode ser dividida em Material e Funcional, sendo a competência
material dividida ainda em competência “ratione materiae”, “ratione personae” e “ratione
loci”. A competência também pode ser dividida em competência absoluta e relativa.
A competência “ratione personae” é definida pela natureza da infração. Exemplo: A
competência do Júri popular, da justiça Militar, da Justiça Federal. A maior parte das regras
de competência “ratione personae” estão na constituição federal.
A competência “ratione personae” é qualificada pela pessoa do acusado. É o chamado
“foro privilegiado”. Exemplo: Juízes e Governadores.
A competência “ratione loci” é aquela que adota os critérios territoriais.
A competência funcional é aquela que estabelece atuação de dois ou mais juízes no
mesmo processo. Exemplo: A competência do Júri, a competência da execução penal e a
competência recursal.
A competência absoluta é aquela cuja a regra foi fixada considerando o interesse
público, e não o interesse da parte. A sua violação pode ser alegada a qualquer momento do
processo, pois não ocorre a prorrogação da competência.
A competência relativa é aquela fixada considerando o interesse da parte. Ela deve ser
alegada no momento oportuno, sob pena de prorrogação da competência.
Nesse sentido, sustenta Ada Pellegrini e a jurisprudência do STF que a única
competência relativa no processo penal é a territorial “ratione loci”. Para Polastri, além da
competência territorial, a competência em razão da matéria definida por norma
infraconstitucional também seria de competência relativa. Exemplo: Competência dos
juizados especiais de violência doméstica, definidos na Lei Maria da Penha.
Para Rangel, Auri, entre outros, o princípio do Juiz Natural garante processo e
julgamento perante juiz competente, não fazendo qualquer distinção entre competência
absoluta e competência relativa. Logo, não caberia ao legislador ou ao intérprete fazê-lo.
Desta forma, a violação de qualquer regra de competência é causa de nulidade absoluta, por
afronta ao princípio do Juiz Natural.
Antes da reforma do Código de Processo Penal – CPP de 2008, era muito comum que,
no final da instrução criminal, o juiz verificasse que era territorialmente incompetente e, após
aplicar o art. 109, remeter os autos ao juízo competente. Diferentemente do processo civil, no
processo penal o juiz pode reconhecer de ofício, a qualquer momento, sua incompetência,

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absoluta ou relativa. O juiz competente aplicava o art. 567 do CPP, ou seja, aproveitava os
atos instrutórios, renovava os atos decisórios e, em seguida, julgava.

Art. 109. Se em qualquer fase do processo o juiz reconhecer motivo que o torne
incompetente, declará-lo-á nos autos, haja ou não alegação da parte, prosseguindo-se na
forma do artigo anterior.

Art. 567. A incompetência do juízo anula somente os atos decisórios, devendo o processo,
quando for declarada a nulidade, ser remetido ao juiz competente.

Com a reforma, apenas dos art. 109 e art. 567 do CPP continuarem e vigor, eles devem
ser interpretados nos termos do princípio da Identidade Física do Juiz, conforme sustenta
Pacelli. Segundo o autor, a reforma trouxe o limite temporal da abertura da AIJ para que o
juiz reconhecer sua incompetência relativa. Contudo, há precedentes no STJ determinando a
aplicação da sua súmula 33 típica do processo civil, ao processo penal, de forma que o juiz
não poderá, em momento algum, reconhecer sua incompetência relativa.

Competência do Júri: Crimes dolosos contra a vida. Latrocínio não é incluído na


competência do júri, haja vista que o bem jurídico protegido é patrimonial. Pergunta-se: Qual
o órgão competente para julgar o crime de genocídio? O genocídio não é um crime doloso
contra a vida, mas um crime contra a humanidade e por isso a competência para julgá-lo é
da Justiça Federal. Quando genocídio é praticado através de homicídio é punido com a pena
de homicídio qualificado.

Lei 2889/56
Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial
ou religioso, como tal:
a) matar membros do grupo;

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b) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo;
c) submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de ocasionar-lhe a
destruição física total ou parcial;
d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo;
e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo;

Pergunta-se: A, com a intenção de eliminar um grupo, mata vinte pessoas, que crime
ou crimes ele cometeu e qual o órgão competente par ao julgamento? Nesse sentido há três
orientações doutrinarias: 1) Nucci: Cada morte corresponderia a um genocídio em concurso,
então A responderia por 20 genocídios em concurso e a competência seria da Justiça Federal.
2) As mortes foram meio necessário para a prática do genocídio, logo o agente responde por
um genocídio e os homicídios seriam absorvidos. Essa corrente fere o princípio da
proporcionalidade, em que a pena para o atentado a vida de uma coletividade passaria a ser
menor que um homicídio de duas pessoas. 3) Informativo 434 do STF: Entendeu-se que o
homicídio é crime contra a vida e o genocídio é crime contra a humanidade, ou seja, além
dos bens jurídicos tutelados serem diversos, um crime não é meio necessário para a prática
do outro. Desse modo o agente responderá por um genocídio em concurso formal com vinte
homicídios. Apesar do genocídio não ser crime doloso contra a vida, a competência
constitucional do Júri exercerá juízo de atração de forma que todos os crimes sejam julgados
pelo Júri da Justiça Federal.

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