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Direito Constitucional

Professor: Marcelo Tavares

Controle Difuso de Constitucionalidade- Parte 3- Aula 22

Resumo

Dando continuidade ao curso, iremos analisar a característica da não formação de coisa julgada sob
a questão do Controle de Constitucionalidade Difuso.

5. Não Formação de Coisa Julgada:

A questão incidental do controle de constitucionalidade não é abrangida pela coisa julgada.

Conforme o Código de Processo Civil, a coisa julgada é feita em cima da conclusão do dispositivo
da sentença ou das questões principais decididas na fundamentação, ou seja, o foco do limite objetivo da
coisa julgada é o dispositivo.

Pode haver uma integração no julgamento de questões principais, mas a questão incidental do
controle de constitucionalidade não é abrangida pela coisa julgada, pois o que faz coisa julgada é a entrega
do bem da vida, aquilo que se persegue no processo.

Exemplificando:

Diante de uma ação condenatória no âmbito civil, o pedido da condenação em uma indenização é o
bem da vida perseguido, esse é o objeto principal relacionado ao fato que será decidido na fundamentação
e será decidido no dispositivo. Sendo, portanto, abrangido pela coisa julgada.

No mesmo exemplo, se o juiz aprecia uma prejudicial de mérito no controle de constitucionalidade


e, posteriormente, analisa o fato relacionado à responsabilidade civil e entrega o bem da vida pertinente à
responsabilização civil, é a questão indenizatória que fará a coisa julgada e não a prejudicial de mérito
analisada, que será considerada mera questão incidental.

O controle de constitucionalidade analisado no julgamento do caso concreto NÃO fica abrangido


pelo fenômeno da coisa julgada.

6. Atuação do Ministério Público:

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O MP não tem atuação obrigatória no processo se houver uma questão de controle de
constitucionalidade, pois o fato de haver uma análise de constitucionalidade não enseja a abertura de vista
obrigatória ao membro do MP.

O MP poderá ser chamado a atuar por outras questões como quando da presença de incapaz no
processo ou quando presente discussão que envolva o interesse público, mas a existência exclusiva de
controle de constitucionalidade não é ensejadora da atuação obrigatória do MP.

7. Controle de Constitucionalidade Difuso na Ação Civil Pública:

A lei da ACP prevê que a decisão na referida ação faz coisa julgada no limite da competência
territorial do juízo.

Diante disso, é possível discutir o controle de constitucionalidade na ACP sem usurpar a


competência do STF?

Exemplificando:

Um juiz de Porto Alegre decide, no âmbito de uma ACP, que é proibido fumar em aeronaves que
circulem no território nacional.

Sua competência territorial abrangia Porto Alegre, mas diante da impossibilidade de fazer valer sua
decisão só quando o avião entra no espaço de sua competência, essa decisão terá aplicação para todo o
território nacional.

Dessa forma, apesar de a lei da ACP prever que a decisão produz efeito erga omnes somente no
limite da competência territorial do juiz, às vezes, em razão das peculiaridades do caso, como quando se
trata de uma questão ambiental, que envolve um rio interestadual ou questão de espaço aéreo, extrapola-se
a competência territorial da lei da ACP.

Diante disso, tem-se o seguinte questionamento:


Essa situação não tornaria inócua futura manifestação do STF?

Para melhor entendimento, no exemplo narrado, a decisão, diante das especificidades do caso,
passou a ser aplicada para todo o território nacional.

Nesse caso, qual o sentido de posterior decisão do STF se a decisão do juiz de Porto Alegre se
espraiou para todo o território nacional?

Diante desses questionamentos, o STF teve dois entendimentos para resolução da questão tratada:

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 Na década de 90, o STF proibia que se discutisse questão de constitucionalidade no âmbito
da ACP, pois entendia que comportamento diverso iria tornar sem efeito sua posterior
manifestação sobre igual caso.

 Em 2003/2004 esse entendimento foi modificado e o STF passou a entender que é possível
discutir controle de constitucionalidade em ACP, salvo se ficar evidenciada, no caso
analisado, a tentativa de usurpar a competência futura do STF.

Portanto, o entendimento atual é o de que é possível o controle de constitucionalidade difuso em


ACP, desde que não fique evidenciada a tentativa de usurpação da competência do STF para conhecer a
questão no futuro, em especial pelo controle abstrato de constitucionalidade.

8. Controle de Constitucionalidade Difuso Feito em Matéria de Processo Legislativo:

O processo legislativo pode passar por dois procedimentos de controle:

 O controle preventivo político


o Realizado pelos órgãos legislativos;
o Realizado pelo Poder Executivo (por meio do veto judicial)

 O controle preventivo judicial,


o Realizado pelo STF, no caso de projeto de lei federal.

Trata-se de competência difusa do STF, que julgará Mandado de Segurança impetrado por
parlamentar, que tem por bem da vida perseguido a busca pela regularização do processo
legislativo ou o arquivamento do projeto de lei.

É um controle difuso, realizado no caso concreto, com finalidade subjetiva e com


legitimado exclusivo, que é o parlamentar, detentor do direito subjetivo de participar de um
processo legislativo regular.

Esse controle é possível para projetos de lei e, também, para casos de projetos de emendas
constitucionais. Neste caso, busca-se o arquivamento da PEC que pode apresentar vício
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formal (no procedimento) ou vício material (ofensa à cláusula pétrea ).

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Art. 60, § 4º , da CRFB/88:
§4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
I - a forma federativa de Estado;
II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais.

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9. Controle por Órgãos Administrativos:

A corrente doutrinária majoritária entende que o órgão administrativo pode deixar de praticar o ato
administrativo por entender que determinada lei é inconstitucional.

Com entendimento diverso, José Afonso da Silva defende a impossibilidade desse controle,
alegando que o rol de legitimados no controle de constitucionalidade abarca os governadores. Sendo assim,
eles não poderiam afastar a aplicação de uma lei por entendê-la inconstitucional, uma vez que são
legitimados para propor ADI no STF.

Esse entendimento não é seguido pela maioria da doutrina nem pela jurisprudência do STF, por
apresentar certa incoerência e diferenciação entre governadores e prefeitos, que, na situação analisada,
teriam tratamentos distintos:
 O governador, por possuir legitimidade para propor ADI, não poderia fazer o controle
administrativo;
 O prefeito, por não possuir legitimidade para propor ADI, poderia fazer o controle
administrativo.

Diante disso, prevalece o entendimento que defende que os órgãos administrativos podem deixar
de praticar um ato administrativo, sob o fundamento de que a lei é inconstitucional.

10. Responsabilidade Civil do Estado por Editar um Ato Inconstitucional:

Pode haver responsabilização civil do Estado por editar um ato inconstitucional.


O ato inconstitucional pode ser considerado um ato ilícito para o efeito de responsabilidade civil,
ensejando a indenização para um dano material ou moral.

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