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Curso de Informativos e Questões

Questões Comentadas de Direito Processual Penal


29/10/2021 – Inf. 1026 do STF e Inf. 704 do STJ

Questão 1
Com base no entendimento do STF acerca do foro por prerrogativa de função, assinale a assertiva correta:

a) O foro por prerrogativa de função é norma de exceção que deve ser interpretada de forma restritiva,
razão pela qual os entes federativos somente podem conferir foro especial às autoridades estaduais e
municipais caso estabeleçam a prerrogativa expressamente na Constituição Estadual ou na Lei Orgânica
do Município, respectivamente.

b) Os princípios do juiz natural e da igualdade impedem a existência de foro privilegiado porque todos
devem ser processados e julgados pelos mesmos órgãos jurisdicionais.

c) É inconstitucional norma de constituição estadual que estende o foro por prerrogativa de função a
autoridades não contempladas pela Constituição Federal de forma expressa ou por simetria.

d) Segundo o mais recente entendimento do STF, o constituinte estadual possui margem de


discricionariedade para disciplinar o tema do foro por prerrogativa de função dentro dos seus limites
territoriais, prevendo foro diferenciado para autoridades além daquelas disciplinadas na Constituição
Federal.

e) A declaração de inconstitucionalidade do foro por prerrogativa de função de Defensores Públicos e


Procuradores produz efeitos ex tunc, razão por que é possível a anulação dos processos já julgados.

Resposta: Letra “C”.


Comentários:
a) Errada. O STF entende que é inconstitucional dispositivo de Constituição Estadual que
confere foro por prerrogativa de função para Defensores Públicos, Procuradores do Estado,
Procuradores da Assembleia Legislativa e Delegados de Polícia.
A Constituição Federal, apenas excepcionalmente, conferiu prerrogativa de foro para as
autoridades federais, estaduais e municipais. Assim, não se pode permitir que os Estados possam,
livremente, criar novas hipóteses de foro por prerrogativa de função.
Em atenção ao princípio republicano, ao princípio do juiz natural e ao princípio da igualdade, a regra
geral é que todos devem ser processados pelos mesmos órgãos jurisdicionais. Apenas a fim de
assegurar a independência e o livre exercício de alguns cargos, admite-se a fixação do foro
privilegiado.
As normas que estabelecem o foro por prerrogativa de função são excepcionais e devem ser
interpretadas restritivamente, não cabendo ao legislador constituinte estadual estabelecer foro por
prerrogativa de função a autoridades diversas daquelas listadas na Constituição Federal, a qual não
cita defensores públicos nem procuradores.

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(Informativo nº 1.026/STF – ADI 6.501/PA, ADI 6.508/RO, ADI 6.515/AM e ADI 6.516/AL)
b) Errada. A prerrogativa funcional é instituída em razão do interesse público no exercício
do cargo. É justamente a peculiar posição dos agentes políticos que justifica o tratamento
constitucional diferenciado em relação aos demais agentes públicos.
As prerrogativas têm por escopo garantir o livre exercício da função pública ou política. É pacífica a
jurisprudência do STF no sentido de que o foro por prerrogativa de função não viola os princípios
do juiz natural e da igualdade.
c) Correta. Esta é a literalidade da tese fixada pelo STF no julgamento conjunto das ADI
6501/PA, ADI 6508/RO, ADI 6515/AM, e ADI 6516/AL, que tratavam sobre o foro por prerrogativa
de função e membros da Defensoria Pública e de Procuradorias.
A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, no que diz respeito à possibilidade de concessão de
foro por prerrogativa de função pelo constituinte estadual, passou a declarar a
inconstitucionalidade de expressões de constituições estaduais que ampliam o foro por
prerrogativa de função a autoridades diversas das estabelecidas pela Constituição Federal.
(Informativo nº 1.026/STF – ADI 6.501/PA, ADI 6.508/RO, ADI 6.515/AM e ADI 6.516/AL)
d) Errada. O STF, de fato, posicionava-se no sentido de que o legislador constituinte estadual
possuía margem de discricionariedade para disciplinar o tema dentro dos seus limites territoriais.
Porém, o entendimento mais recente é de que é inconstitucional norma de constituição estadual
que estende o foro por prerrogativa de função a autoridades não contempladas pela Constituição
Federal de forma expressa ou por simetria.
Fora das hipóteses expressamente previstas na CF/88, somente se admite a concessão de foro
privilegiado nos casos em que a própria Constituição Federal estabelece regra de simetria para a
organização dos Estados-membros. Não se trata, propriamente, de discricionariedade conferida ao
constituinte estadual. De acordo com o entendimento que prevaleceu no julgamento da ADI 2.553-
MA, essa possibilidade decorre da própria Constituição Federal.
(Informativo nº 1.026/STF – ADI 6.501/PA, ADI 6.508/RO, ADI 6.515/AM e ADI 6.516/AL)
e) Errada. A declaração de inconstitucionalidade do foro por prerrogativa de função previsto
em Constituição Estadual para Defensores Públicos e Procuradores teve seus efeitos modulados,
em razão do princípio da segurança jurídica, produzindo efeitos ex nunc.
O Relator Min. Roberto Barroso observou que a modulação de efeitos se recomendava, também,
para uniformizar o tratamento conferido às diversas constituições estaduais do país. Existem várias
ações diretas de inconstitucionalidade em trâmite no Supremo Tribunal Federal que questionam a
validade de constituições estaduais que concedem foro por prerrogativa de função a autoridades
diversas daquelas previstas na Constituição Federal. Assim, até por uma questão de isonomia, o
ideal é que as decisões proferidas em todos esses casos sigam entendimento uniforme.
(Informativo nº 1.026/STF – ADI 6.501/PA, ADI 6.508/RO, ADI 6.515/AM e ADI 6.516/AL)

Questão 2
Com base no entendimento dos Tribunais Superiores sobre a suspeição nos inquéritos policiais e
ações penais, assinale a assertiva correta:

a) É possível a oposição de suspeição de delegado de polícia em inquérito policial.


b) Caso a autoridade policial não se declare suspeita para conduzir o inquérito policial, não há
nenhum meio de impugnação que viabilize a insurgência de interessado.

c) No curso da ação penal, somente é possível a arguição de suspeição do juiz e do membro do Ministério
Público.

d) A ausência de afirmação da autoridade policial de sua própria suspeição não eiva de nulidade o
processo judicial por si só, sendo necessária a demonstração do prejuízo suportado pelo réu.

e) A participação de membro do Ministério Público na fase investigatória criminal implica a sua suspeição
para o oferecimento da denúncia.

Resposta: Letra “D”.


Comentários:
a) Errada. Conforme o art. 107 do CPP, "não se poderá opor suspeição às autoridades
policiais nos atos do inquérito, mas deverão elas declarar-se suspeitas, quando ocorrer motivo
legal". Trata-se de previsão bastante criticada em sede doutrinária, especialmente pela contradição
que encerra: se a autoridade deverá pronunciar sua suspeição, soa paradoxal, em certa medida,
impedir que a parte investigada a aponte no inquérito.
De todo modo, tendo em vista a dicção legal - que permanece válida e vigente, inexistindo
declaração de sua não recepção pelo STF -, seu teor segue aplicável.
(Informativo nº 704/STJ - REsp 1.942.942-RO)
b) Errada. Tendo em vista a impossibilidade de se opor suspeição em inquérito policial, uma
solução possível para a parte que se julgue prejudicada é buscar, na esfera administrativa, o
afastamento da autoridade suspeita, como também entende Guilherme de Souza Nucci:
"Não é suficiente deixar-se ao critério da autoridade policial fazê-lo. Cremos, pois, que, havendo
motivação para a consideração da suspeição do delegado, não podendo o magistrado afastá-lo, por
falta de previsão legal, deve a parte interessada solicitar o afastamento da autoridade policial ao
Delegado Geral de Polícia ou, sendo o pleito recusado, ao Secretário da Segurança Pública. A
questão torna-se, então, administrativa, pois existe recomendação legal para que o afastamento
ocorra. Por ordem superior, tal pode ocorrer" (NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo
Penal comentado. 19. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 283).
(Informativo nº 704/STJ - REsp 1.942.942-RO)
c) Errada. No curso da ação penal, é possível a arguição de suspeição não só dos juízes e
membros do Ministério Público, mas dos jurados, peritos, intérpretes, serventuários ou
funcionários de justiça, conforme arts. 105 e 106, do CPP:
Art. 105. As partes poderão também argüir de suspeitos os peritos, os intérpretes e os serventuários
ou funcionários de justiça, decidindo o juiz de plano e sem recurso, à vista da matéria alegada e
prova imediata.
Art. 106. A suspeição dos jurados deverá ser argüida oralmente, decidindo de plano do presidente
do Tribunal do Júri, que a rejeitará se, negada pelo recusado, não for imediatamente comprovada,
o que tudo constará da ata.
d) Correta. Segundo o entendimento firmado pelo STJ, o descumprimento do art. 107 do CPP
- quando a autoridade policial deixa de afirmar sua própria suspeição - não eiva de nulidade o
processo judicial por si só, sendo necessária a demonstração do prejuízo suportado pela parte ré.
Segundo a tradicional compreensão doutrinária hoje predominante, o inquérito é uma peça de
informação, destinada a auxiliar a construção da opinio delicti do órgão acusador. Por conseguinte,
possíveis irregularidades nele ocorridas não afetam a ação penal.
Com efeito todos os elementos colhidos no inquérito, quando integram a acusação e são
considerados pela sentença, submetem-se ao contraditório no processo judicial, e é este o locus
adequado para rebatê-los.
Por isso, como resta preservada a ampla possibilidade de debate dos elementos de prova em juízo,
é correto manter incólume o processo mesmo diante de alguma irregularidade cometida na fase
inquisitorial (desde que, é claro, não tenham sido descumpridas regras de licitude da atividade
probatória).
(Informativo nº 704/STJ - REsp 1.942.942-RO)
e) Errada. O entendimento do STJ, consolidado na Súmula 234, é de que: “A participação de
membro do Ministério Público na fase investigatória criminal não acarreta o seu impedimento ou
suspeição para o oferecimento da denúncia.”

Questão 3
Sobre a competência investigativa do Ministério Público, julgue as assertivas a seguir e assinale a
sequência correta:

I) O Ministério Público possui a titularidade da ação penal além de competência investigativa, podendo
conduzir inquérito policial.

II) O Ministério Público dispõe de competência para promover, por autoridade própria, e por prazo
razoável, investigações de natureza penal, desde que respeitados os direitos e garantias que assistem a
qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado, observadas as hipóteses de reserva
constitucional de jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais dos advogados.

III) O inquérito policial é procedimento administrativo de caráter inquisitório, informativo e preparatório,


cuja finalidade é fornecer ao Ministério Público elementos de cognição para a eventual propositura de
ação penal, de modo que eventual irregularidade que nele se manifeste não contamina de nulidade a
ação penal.

a) As assertivas I, II e III estão corretas.


b) As assertivas II e III estão corretas.
c) As assertivas I e III estão corretas.
d) Apenas a assertiva II está correta.
e) Nenhuma assertiva está correta.

Resposta: Letra “B”.


Comentários:
I) Errada. A doutrina majoritária e a jurisprudência admitem a investigação criminal pelo Ministério
Público em Procedimento Investigatório Criminal (PIC), com base especialmente na Teoria dos
Poderes Implícitos, segundo a qual a Constituição, ao conceder uma atividade-fim a determinado
órgão ou instituição, culmina por, implicitamente e simultaneamente, a ele também conceder
todos os meios necessários para a consecução daquele objetivo.
No entanto, é vedado ao Ministério Público realizar e presidir o inquérito policial. (STJ, 5ª Turma,
HC 45.057/DF, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, j.19/08/2009, DJe 21/09/2009).
O Ministério Público possui legitimidade para proceder, diretamente, à colheita de elementos de
convicção para subsidiar a propositura de ação penal, só lhe sendo vedada a presidência do
inquérito, que compete à autoridade policial (STJ, 5ª Turma, RHC 24.472/RJ, Rel. Min. Jorge Mussi,
julgado em 15/9/2011).
(LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único – 4. ed. rev., ampl. e atual. –
Salvador: Ed. JusPodivm, 2016)
II) Correta. Esta foi a tese fixada pelo STF em repercussão geral, no julgamento do RE
593727/MG:
“O Ministério Público dispõe de competência para promover, por autoridade própria, e por prazo
razoável, investigações de natureza penal, desde que respeitados os direitos e garantias que
assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado, observadas,
sempre, por seus agentes, as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição e, também, as
prerrogativas profissionais de que se acham investidos, em nosso País, os advogados (Lei
8.906/1994, art. 7º, notadamente os incisos I, II, III, XI, XIII, XIV e XIX), sem prejuízo da possibilidade
— sempre presente no Estado democrático de Direito — do permanente controle jurisdicional dos
atos, necessariamente documentados (Enunciado 14 da Súmula Vinculante), praticados pelos
membros dessa Instituição.”
(Informativo nº 785/STF - RE 593727/MG)
III) Correta. Esta é a definição de inquérito aceita pela jurisprudência e doutrina.

Questão 4
Acerca da interceptação telefônica e da captação ambiental, assinale a assertiva correta com base no
entendimento dos Tribunais Superiores e na Lei nº 9.296/96, com as alterações promovidas pela Lei
nº 13.964/19 (Pacote Anticrime):

a) A instalação do dispositivo de captação ambiental somente será feita mediante autorização judicial e
não poderá, em nenhuma hipótese, ser realizada durante o período noturno, dada a vedação
constitucional.

b) Os dados extraídos na interceptação telefônica ficarão disponíveis às partes nos próprios autos em que
se determinou a diligência, atendendo ao princípio da ampla defesa.

c) O prazo de 15 dias das interceptações telefônicas deve ser contado a partir da publicação da decisão
que determinou a interceptação.

d) Prevalece na jurisprudência do STJ o entendimento de que a descoberta fortuita de provas de crimes


não relacionados com o crime que motivou a interceptação telefônica, a chamada serendipidade de
segundo grau, torna as provas descobertas inválidas, uma vez que foge ao escopo da diligência autorizada
judicialmente, tornando-se ilegal.

e) A interceptação telefônica possui caráter subsidiário e não será admitida quando o fato investigado
constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção.

Resposta: Letra “E”.


Comentários:
a) Errada. O art. 8º-A da Lei nº 9.296/96, acrescido pela Lei nº 13.964/19, prevê em seu § 2º
que “a instalação do dispositivo de captação ambiental poderá ser realizada, quando necessária,
por meio de operação policial disfarçada ou no período noturno, exceto na casa, nos termos do
inciso XI do caput do art. 5º da Constituição Federal”.
Portanto, é possível a instalação de dispositivo de captação ambiental durante o período noturno,
desde que não ocorra no âmbito residencial, em razão da proteção especial do domicílio conferida
pela Constituição Federal.
b) Errada. A Lei nº 9.296/96 prevê, em seu art. 8º, que “a interceptação de comunicação
telefônica, de qualquer natureza, ocorrerá em autos apartados, apensados aos autos do inquérito
policial ou do processo criminal, preservando-se o sigilo das diligências, gravações e transcrições
respectivas.”
c) Errada. A Lei de Interceptações prevê que a interceptação telefônica não poderá exceder
ao prazo de 15 dias, renovável por igual período mediante a comprovação da indispensabilidade do
meio de prova (art. 5º).
Pacificou-se nos Tribunais Superiores o entendimento de que o prazo de 15 (quinze) dias das
interceptações telefônicas deve ser contado a partir da efetiva implementação da medida, e não
da respectiva decisão.
(AgRg no RHC 114973/SC)
d) Errada. Segundo Renato Brasileiro, “a teoria do encontro fortuito ou casual de provas é
utilizada nos casos em que, no cumprimento de uma diligência relativa a um delito, a autoridade
policial casualmente encontra provas pertinentes à outra infração penal, que não estavam na linha
de desdobramento normal da investigação. Fala-se em encontro fortuito de provas ou
serendipidade quando a prova de determinada infração penal é obtida a partir de diligência
regularmente autorizada para a investigação de outro crime.” (LIMA, Renato Brasileiro de. Manual
de processo penal: volume único – 4. ed. rev., ampl. e atual. – Salvador: Ed. JusPodivm, 2016).
A doutrina convencionou chamar de serendipidade de primeiro grau o encontro fortuito de provas
de crimes quando houver conexão ou continência com o crime que motivou a diligência. A
serendipidade de segundo grau ocorre quando não há relação entre as provas encontradas
fortuitamente e o crime que se investiga.
O STJ entende que “se a autoridade policial, em decorrência de interceptações telefônicas
legalmente autorizadas, tem notícia do cometimento de novos ilícitos por parte daqueles cujas
conversas foram monitoradas ou mesmo de terceiros, é sua obrigação e dever funcional apurá-los,
ainda que não possuam liame algum com os delitos cuja suspeita originariamente ensejou a quebra
do sigilo telefônico.”
(AgRg no RHC 114973/SC)
e) Correta. O art. 2º, II da Lei nº 9.296/96 prevê o caráter subsidiário da interceptação telefônica,
dispondo que não será admitida a interceptação telefônica quando “a prova puder ser feita por
outros meios disponíveis”. Já o inciso III do mesmo artigo prevê que não será admitida a
interceptação telefônica quando “o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo,
com pena de detenção.”

Questão 5
Com base no entendimento dos Tribunais Superiores sobre nulidades no processo penal, assinale a
assertiva incorreta:

a) A ausência de declaração de suspeição por parte da autoridade policial na condução do inquérito não
é hipótese de nulidade absoluta.

b) Havendo duas sentenças condenatórias envolvendo fatos idênticos, deve prevalecer aquela que for
mais benéfica ao réu, dado o princípio do in dubio pro reo.

c) A nulidade processual pela não abertura da fase de diligências configura nulidade relativa, devendo ser
arguida no momento oportuno e com a demonstração de efetivo prejuízo.

d) Em ação penal envolvendo réus colaboradores e não colaboradores, o réu delatado tem o direito de
apresentar suas alegações finais somente após o réu que firmou acordo de colaboração premiada.

e) A ausência de comunicação ao interrogando sobre seu direito de permanecer em silêncio gera nulidade
relativa.

Resposta: Letra “B”.


Comentários:
a) Correta. O art. 107 do CPP prevê que "não se poderá opor suspeição às autoridades
policiais nos atos do inquérito, mas deverão elas declarar-se suspeitas, quando ocorrer motivo
legal".
O descumprimento do art. 107 do CPP - quando a autoridade policial deixa de afirmar sua própria
suspeição - não eiva de nulidade o processo judicial por si só, sendo necessária a demonstração do
prejuízo suportado pela parte ré.
Entendeu o STJ, portanto, que esta não é hipótese de nulidade absoluta (quando o prejuízo é
presumido), mas meramente relativa, sendo necessário que a parte comprove o prejuízo em tempo
oportuno para que se declare a nulidade.
(Informativo nº 704/STJ - REsp 1.942.942-RO)
b) Errada. Segundo a jurisprudência dos Tribunais Superiores, havendo duplo julgamento do
mesmo fato, prevalece a sentença que primeiro transitou em julgado.
No Recurso em Habeas Corpus nº 69.586/PA, ficou vencido o voto do Ministro Sebastião Reis
Júnior, que entendia que deveria prevalecer a decisão mais favorável ao réu.
Prevaleceu o entendimento de que a coisa julgada na primeira sentença tem caráter imutável, só
admitindo alteração mediante revisão criminal. Ademais, a prevalência da primeira decisão
imutável é reforçada pela quebra do dever de lealdade processual por parte da defesa, que deveria
ter mencionado a duplicidade de julgamento.
(RHC nº 69.586/PA)
c) Correta. O art. 402 do CPP prevê a possibilidade de requerimento de diligências pelas
partes após o encerramento da instrução:
Art. 402. Produzidas as provas, ao final da audiência, o Ministério Público, o querelante e o
assistente e, a seguir, o acusado poderão requerer diligências cuja necessidade se origine de
circunstâncias ou fatos apurados na instrução.
No HC 147584/RJ, o STF entendeu que a falta de abertura de prazo, após o encerramento da
instrução, para manifestação das partes acerca do interesse em requerer diligências
complementares constitui nulidade relativa, cujo reconhecimento pressupõe que o inconformismo
seja veiculado em momento oportuno, ou seja, quando da apresentação de alegações finais.
(Informativo nº 980 - HC 147584/RJ)
d) Correta. Segundo o STF, os memoriais escritos de réus colaboradores, com nítida carga
acusatória, deverão preceder aos dos réus delatados, sob pena de nulidade do julgamento. Exegese
imediata dos preceitos fundamentais do contraditório e da ampla defesa (art. 5º, LV, da CF/88) que
prescindem da previsão expressa de regras infraconstitucionais.
(AgRg. no HC nº 157.627/PR)
e) Correta. A ausência de informação acerca do direito de permanecer em silêncio é causa
de nulidade relativa, ou seja, sua configuração depende da alegação em tempo oportuno e da
comprovação do prejuízo.
Segundo o STJ, a garantia constitucional de não produzir provas contra si mesmo, ou privilégio
contra autoincriminação (nemo tenetur se detegere), não pode ser interpretada no sentido de se
vedar a produção de qualquer tipo de prova sem a concordância do acusado. Entendimento
contrário implicaria o reconhecimento da impossibilidade de se realizar, sem o consentimento do
réu, a revista pessoal, o reconhecimento de pessoas, a interceptação telefônica, etc.
(RHC 61.754/MS, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em
25/10/2016, DJe 07/11/2016)

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