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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) FEDERAL PRESIDENTE DA

1ª TURMA RECURSAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DOS ESTADOS DO PARÁ E DO


AMAPÁ.

LUCIVANE LOPES BENICIO, devidamente qualificado nos autos, por sua advogada
que esta subscreve, vem à presença de Vossa Excelência, inconformado com o r. Acórdão proferido
às fls., interpor RECURSO EXTRAORDINÁRIO com fulcro no artigo 102, inciso III, alínea a,
da Constituição Federal, c/c artigo 1.029 e seguintes do Código de Processo Civil, em face do
INSTITUTO NACIONAL DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, já qualificado nos autos.

Salienta-se que a Recorrente é beneficiária da justiça gratuita, portanto, deixa de efetuar


o recolhimento de custas e preparo recursal.

Requer seja recebido e processado o presente Recurso e, intimada a parte contrária para
que, querendo, ofereça dentro do prazo legal Contrarrazões e, posteriormente seja o recurso
admitido e encaminhado com as inclusas razões ao Egrégio Supremo Tribunal Federal.

Nestes termos, pede deferimento.

Santarém – PA, 24 de outubro de 2023.

ELMADAN ALVARENGA MESQUITA RODRIGUES


OAB/PA – 31.912
RAZÕES DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO

RECORRENTE(S): LUCIVANE LOPES BENICIO


RECORRIDO(S): INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS

ORIGEM: JUIZADO ESPECIAL CÍVEL E CRIMINAL ADJUNTO À 1ª VARA FEDERAL DA


SSJ DE SANTARÉM-PA

EGRÉGIO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL COLENDA TURMA


ÍNCLITOS JULGADORES

• PRELIMINARMENTE
1. DA TEMPESTIVIDADE
O presente Recurso Extraordinário é tempestivo, uma vez que o prazo para sua
interposição é de 15 dias, nos termos do art. 1003, parágrafo 5º do Código de Processo Civil de
2015 e do Artigo 32 do Regimento Interno da TNU.

2. DO PREPARO
A recorrente é beneficiária da justiça gratuita, deixando assim de efetuar o recolhimento
de custas e preparo.

3. DO PRE-QUESTIONAMENTO
Observa-se que o requisito básico do prequestionamento está presente, uma vez que a
matéria da prescrição, versada no presente feito, foi questionada com antecedência e de modo
expresso pela recorrente, nos termos da Súmula 282 do STF.

Com efeito, o STF, em sede de agravo, já firmou entendimento no sentido de que a


interposição do recurso extraordinário impõe que o dispositivo constitucional tido por violado,
como meio de se aferir a admissão da impugnação, tenha sido debatido no acórdão recorrido, sob
pena de padecer o recurso da imposição jurisprudencial do prequestionamento. (...) Oportuno
asseverar que a exigência do prequestionamento não é mero rigorismo formal que pode ser afastado
pelo julgador a qualquer pretexto. Ele consubstancia a necessidade de obediência aos limites
impostos ao julgamento das questões submetidas a este Supremo Tribunal Federal, cuja
competência fora outorgada pela Constituição Federal, em seu artigo 102. Nesse dispositivo não há
previsão de apreciação originária por este Pretório Excelso de questões como as que ora se
apresentam. A competência para a apreciação originária de pleitos no STF está exaustivamente
arrolada no supracitado dispositivo constitucional, não podendo sofrer ampliação na via do recurso
extraordinário. [ARE 1.073.395 AgR, rel. min. Luiz Fux, 1ª T, j. 7-12-2018, DJE 271 de 18-12-
2018].

O Juízo de origem analisou a questão constitucional veiculada, tendo sido esgotados


todos os mecanismos ordinários de discussão, EXISTINDO, portanto, o NECESSÁRIO
PREQUESTIONAMENTO EXPLÍCITO, que pressupõe o debate e a decisão prévios sobre o tema
jurígeno constitucional versado no recurso - consignando a inteligência do Supremo Tribunal
Federal, conforme podemos depreender do trecho transcrito abaixo extraído da sentença de 1º grau:

• DA SENTENÇA DE 1º GRAU
“(...)Também não cabe o reconhecimento da prejudicial de
prescrição, eis que o pagamento do benefício vindicado estava
suspenso, tendo retornado a partir do julgamento conjunto da
ADI 5.447 e da ADPF 389, pelo STF.”

Do mesmo modo, a matéria foi rediscutida em sede de acórdão. Vide abaixo:

• DO ACÓRDÃO
(...) “Por tais razões, e em vista dos debates vivenciados por este
Juiz Relator, tanto na 1P Turma, quanto na 2P Turma Recursal
da SJAP e da SJPA, reconsidero a posição anterior para
reconhecer a prescrição da matéria, consoante a fundamentação
acima.
18. Recurso provido. Sentença reformada para julgar
improcedente o pleito autoral.

Dessa maneira, resta amplamente preenchido o requisito do prequestionamento, não


cabendo dúvidas a este respeito.

4. DO CABIMENTO
A decisão ora recorrida foi objeto de discussão pela Turma Recursal, no âmbito do
Juizado Especial Federal, portanto, cabível Recurso Extraordinário, haja vista resta demonstrada a
repercussão geral com o esgotamento prévio das vias ordinárias, bem como a contrariedade a
dispositivos da Constituição da República Federativa do Brasil, nos termos do Art 102, III, vejamos:

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal,


precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas
em única ou última instância, quando a decisão recorrida:
a) contrariar dispositivo desta Constituição;
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face
desta Constituição .
d)julgar válida lei local contestada em face de lei federal.
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004).

Assim, com fulcro na alínea “a” do artigo supracitado, nossa Lex Fundamentalis foi
contrariada em vários momentos, como corretamente demonstramos abaixo:

Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união


indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,
constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos:
III - a dignidade da pessoa humana;
Art. 3 - Constituem objetivos fundamentais da República
Federativa do Brasil:
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
desigualdades sociais e regionais;
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma
coisa senão em virtude de lei;
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico
perfeito e a coisa julgada;

As idas e vindas das decisões que se sucederam durante a discussão que envolveu todo
o imbróglio do SDPA 15 - que teve início no ano de 2015 e perdura até hoje - só distribui mais
instabilidade, incredulidade, insegurança e, pior, descrença no Estado Democrático de Direito, que
deveria proteger e cuidar, e mais, garantir direitos fundamentais, bem como seu cumprimento.
Traz à tona conceitos de dignidade que deveriam ser pilares da CF, mas vê-se que no
caso em testilha acabam por ser seu algoz, com decisões e interpretações que distribuem mais
misérias, destruindo pontes e construindo fossos entre a justiça e os jurisdicionados.

A impressão que se tem é que os autores dessa história buscam de todas as formas não
entregar o direito ao Pescador Artesanal, punindo-os pela pouca informação e pela baixa instrução,
além de lançar sobre eles todo o peso da máquina Estatal para os condenarem mais uma vez e, de
novo, e, novamente, como num conto de “Uma estória sem fim”, ou no filme “O feitiço do tempo”,
onde todos ficam presos em um único dia de sua vida, revivendo as 24 (vinte e quatro) horas
repetidas vezes. Entretanto, no filme o protagonista consegue se livrar, e é o que se busca aqui neste
Recurso Extraordinário.

Já discutiu-se até no STF sobre o tema, e o próprio INSS RECONHECE O DIREITO E


GARANTIU O PAGAMENTO no TERMO DE CONCILIAÇÃO N.º 012/2022/CCAF/CGU/AGU-
JDS-JRP, e todo o momento histórico que culminou com o firmamento desse compromisso, frente a
premissa de que, SE O PRÓPRIO INSS, NA ESFERA ADMINISTRATIVA, NÃO CONSIDERA
DETERMINADA CIRCUNSTÂNCIA COMO IMPEDIMENTO À OUTORGA DA PROTEÇÃO
PREVIDENCIÁRIA, RECONHECENDO DIREITOS, É INADMISSÍVEL QUE ADOTE
COMPORTAMENTO DISTINTO E CONTRADITÓRIO NOS PROCESSOS JUDICIAIS.

Afinal, a troco de que todos os Autores envolvidos, Tribunais, Advogados da União,


INSS gastariam tempo e recursos públicos discutindo o direito e margeando sua aplicação, para que
no momento da entrega da obrigação burlarem o direito e não o deixarem ser efetivado de fato?

Qual o propósito de tamanhas movimentações, se, ao final, o que se buscava era não se
entregar o direito e a correta aplicação da justiça?

Então, o objetivo de todos os procedimentos que nos trouxeram até aqui, são frutos de
uma manobra propositiva, vil, indigna e imoral, que manipulou todo o cenário para culminar com o
não cumprimento da obrigação de entregar ao Pescador Artesanal o que lhe é de direito.

Ora, o TRF 1 ignorou por completo a regra da Dignidade constitucional, do Direito


Adquirido, da Segurança das Decisões, bem como o Princípio da Autonomia da Vontade. Isto
porque a Constituição Federal, diga-se, a Lei Maior em nosso país, garante que ninguém será
obrigado a fazer ou deixar de fazer algo senão em virtude de lei, e por força do Princípio da
Autonomia da Vontade, o contrato faz lei entre as partes. Logo, JAMAIS poderia o Estado
(re)legislar no sentido de não se fazer deixar cumprir um Acordo firmado entre os atores dessa
novela, pior, traz à tona novamente a discussão e põe em xeque a própria decisão do STF.
Ao se compulsar os autos verifica-se perfeitamente que o Recorrente faz jus ao SDPA
2015/2016 e seu efetivo pagamento. Porque tudo o que se tinha no ordenamento jurídico brasileiro
não garantia absolutamente nenhum direito, só com o julgamento definitivo proferido pelo Supremo
Tribunal Federal na ADI 5.447 e na ADPF nº 389, em sessão virtual de 15 a 21/05/2020,
consubstanciado a partir de 27/10/2022 com Termo de Conciliação nº 01/2022/CCAF/CGU/AGU-
JDS-JRP, que estabelece Proposta de Acordo para pagamento do SDPA, ciclo 2015/16, e, mais
razão resta ao Recorrente, a partir de 22/11/2022, quando passou a vigorar a Portaria PRES/INSS
Nº 1525, que disciplina o fluxo de pagamento dos requerimentos de Seguro Desemprego do
Pescador Artesanal suspensos pela Portaria nº 192, de 5 de outubro de 2015, - rasgar todos esses
procedimentos que se desenrolaram dentro de um devido processo, para por meio de uma nova
sentença que vem rediscutir a prescrição, que já se discutiu e esgotou as vias competentes lá atrás,
num ato egoísta de não aplicar as decisões dos Tribunais e nem a vontade entre as partes em pagar o
SDPA 2015/2016, violando a Constituição em seus preceitos mais fundamentais. Não se deve, ou no
mínimo não se pode, criar uma regra legal de exceção, “benéfica” às avessas, ou seja, “te dou o
direito, mas não te pago o direito” cria-se uma nova situação para rediscutir a matéria, ao passo que
viola a própria ideia de Justiça.

Quer dizer, a máquina pública foi utilizada, não para cumprir com a CF, a lei e os
princípios, mas apenas em prol de beneficiar o mais forte. Assim, podemos dizer que a população é
acostumada a obedecer a justiça determinada pelos mais fortes. Trasímaco, o irado sofista, dirá, em
resposta a Sócrates nos diálogos de Platão, o que é a justiça. Define: “Eu declaro que a força é um
direito, e que a justiça é o interesse do mais forte”. Urge por quebrar essa concepção. Trazer o
direito para a Justiça. Distribuir o que dita a Constituição quando trata dignidade não apenas como
palavra, não só como alimento de alma, mas como alimento do corpo, que cura uma fome, e mata
uma sede.

• NO MÉRITO
5- BREVE SÍNTESE DOS FATOS
Trata-se de ação em que a parte Autora requereu que o réu fosse condenado a conceder-
lhe o benefício de Seguro Defeso do Pescador Artesanal referente ao período de 15/11/2015 a
15/03/2016, e comprovou deter o direito à percepção requerida, por preencher os requisitos legais.

A sentença de 1º Grau julgou o pedido procedente, condenando o recorrido ao


pagamento do benefício.

A sentença foi submetida a recurso para apreciação da Turma Recursal dos juizados
especiais federais, sendo reformada nos termos do r. acórdão ora impugnado, no qual foi
reconhecida a prescrição do seguro-defeso biênio 2015/2016:
SEGURO DESEMPREGO. PESCADOR ARTESANAL.
PERÍODO DE DEFESO. BIÊNIO 2015/2016. SUSPENSÃO
DO PRAZO PRESCRICIONAL DA PRETENSÃO DO
SEGURO DEFESO PELAS ADI 5447 E ADPF 389.
INOCORRÊNCIA. PRESCRIÇÃO RECONHECIDA.
RECURSO PROVIDO. SENTENÇA REFORMADA. (...)
10. Logo, ainda que se considerasse a suspensão
do prazo prescricional, tal suspensão ocorreu
somente entre a data da publicação da portaria
interministerial n°. 192 de 05/10/2015 e a data
da decisão que revogou a decisão cautelar na ADI
acima citada, ou seja, 11/03/2016, data a partir
da qual começaria a contar a prescrição, o que,
mesmo assim, seria suficiente para a pretensão
ser fulminada pela prescrição.
11. Recurso do INSS provido para reconhecer a
prescrição da pretensão deduzida em juízo. (...)

Haja vista as diversas violações ao texto constitucional, a recorrente pleiteia, com o


presente Recurso, a reforma da decisão, que considera suspenso o prazo prescricional do SDPA
2015/2016, entre a data da publicação da portaria interministerial n°. 192 de 05/10/2015 e a data
que revogou a decisão cautelar na ADI 5447, ou seja, 11/03/2016, data a partir da qual começaria a
contar a prescrição.

Para modificá-la no sentido de afastar a prescrição do SDPA 2015/2016 a contar da data


de 11/03/2016, e a considerar a data da citação válida na ADI 5447 como marco temporal de
interrupção do prazo prescricional e que se declare que a partir do entendimento mantido no
julgamento definitivo proferido pelo Supremo Tribunal Federal na ADI 5.447 e na ADPF nº 389,
em sessão virtual de 15 a 21/05/2020 como termo inicial da prescrição.

Agora, caso entenda o Excelso Tribunal, pela impossibilidade da aplicação dos termos
alhures descritos, que nada mais são do que a narrativa processual percorrida pelos Pescadores
Artesanais, Via Crucis, que seja então considerado como marco prescricional do SDPA 2015/2016 a
data da assinatura do Termo de Conciliação nº 01/2022/CCAF/CGU/AGU-JDS-JRP, qual seja,
27/10/2022, no intuito de se declarar a interrupção do prazo prescricional.

Observando-se o TERMO DE CONCILIAÇÃO N.º 012/2022/CCAF/CGU/AGU-JDS-


JRP, e todo o momento histórico que culminou com o firmamento desse compromisso, frente a
premissa de que, SE O PRÓPRIO INSS, NA ESFERA ADMINISTRATIVA, NÃO CONSIDERA
DETERMINADA CIRCUNSTÂNCIA COMO IMPEDIMENTO A OUTORGA DA PROTEÇÃO
PREVIDENCIÁRIA, RECONHECENDO DIREITOS, É INADMISSÍVEL QUE ADOTE
COMPORTAMENTO DISTINTO E CONTRADITÓRIO NOS PROCESSOS JUDICIAIS.

Nesse viés, abriremos as cortinas conceituais para apresentar o espetáculo do SDPA


2015/2016, tendo em cena atores como a decadência, a preclusão e como protagonista, a prescrição,
exibindo o papel de cada um, dentro de cada cenário, seja ele, no âmbito do direito administrativo
e/ou no âmbito judicial, com o entrecho chamado Termo de Conciliação nº
01/2022/CCAF/CGU/AGU-JDS-JRP, nos surpreendemos quando em cada ato nos for apresentado,
por exemplo, a cena da perda do prazo para que a Administração reveja os próprios atos ou para que
aplique penalidades administrativas, bem como, em outra cena, vêr-se-à perda do prazo de que goza
o particular para recorrer de decisão administrativa.

6- DA PRESCRIÇÃO JUDICIAL: INTERRUPÇÃO x SUSPENSÃO


Muito se percorreu processualmente ao se discutir quanto a SDPA 2015/2016. De fato o
cenário histórico dentro do contexto político-econômico, foi fator relevante para definir os rumos
que decidiram pela suspensão do pagamento deste benefício, que culminou em mais de 50 ações
coletivas e mais de 80 mil ações individuais, o que impactou diretamente em aproximadamente 400
mil pescadores. Números expressivos, que atraíram e ainda atraem o interesse do ente Estatal pela
sua falta de disposição em cumprir a decisão judicial ou mesmo honrar seu próprio Termo de
Conciliação. De fato, aqui, o tempo é o Senhor do destino, toma assento e consome o direito.

O instituto da prescrição relaciona-se com as diferenças que podem ser exigidas no caso
de eventual acolhimento de um benefício previdenciário, por isso, o decurso do tempo pode
acarretar efeitos faraônicos à relação jurídica, atingindo o Segurado onde mais fere seu íntimo - a
dignidade, refletindo sobremaneira em seu bolso.

Sabe-se que o direito a um benefício previdenciário em si é imprescritível, isto é, o


fundo do direito a determinado benefício é imprescritível. Não ocorre a preclusão do direito à
proteção previdenciária. E a prescrição é, em regra, quinquenal - tudo até aqui, inteligência fria à
letra de lei e, de toda sorte, conhecimento e aplicação inquestionável.

Só que não!

Eis que, o acórdão que reformou a sentença, reconheceu a prescrição do seguro-defeso


biênio 2015/2016, fazendo uma interpretação diversa da decisão do próprio STF, a qual ainda que
guarde certa formalidade processual, abandona e ignora artigo, jurisprudência e doutrina
concernente aos institutos da SUSPENSÃO E DA INTERRUPÇÃO, que interferem na segurança
jurídica causando prejuízos incalculáveis ao Pescador Artesanal e extremamente vantajoso aos
cofres públicos, tudo às custas da ilegalidade, não alinhando nenhuma lógica quando se vê todo o
caminho jurídico percorrido e que nos trouxe até aqui, nesse momento crucial.

Aduz a Relatora no Voto-Ementa que:

“O marco prescricional inicial deve ser fixado na data do


requerimento administrativo formulado no ano de 2016, haja
vista que apenas a partir desse momento poderia ter havido o
deferimento dos valores requeridos pelo demandante.
Portanto, levando em consideração que transcorreu mais de
cinco anos entre o pedido administrativo no ano de 2016 e o
ajuizamento da presente ação no ano de 2022, deve, portanto,
ser pronunciada a prescrição da pretensão deduzida em juízo.”

Sustenta a Relatora como marco temporal a DER (Data Entrada Requerimento


Administrativo), fixando-a no ano 2016, mais precisamente entre a data da publicação da portaria
interministerial n°. 192 de 05/10/2015 e a data da decisão que revogou a decisão cautelar na ADI
5447, ou seja, 11/03/2016, data a partir da qual começaria a contar a prescrição.

De fato, tendo como parâmetro os princípios norteadores do direito previdenciário, resta


razão à Relatora ao considerar a DER (Data Entrada Requerimento Administrativo) como marco
inicial da resistência administrativa, mas não como cabal, muito menos aplicável na situação aqui
apresentada, pois este prazo se suspende no decurso do Processo Administrativo, e se interrompe
com a citação válida na ADPF 389 de Abril de 2016, fato deveras ignorado pela Relatora.
Há ainda de se colocar que existem períodos específicos para se requerer o SDPA, são
chamados de janelas administrativas, são assim conhecidas, pois essas vias “só ficam disponíveis”,
ou “só são liberadas por um certo período”, no caso do SDPA este compreende a uma janela aberta
no sistema entre as datas de 15/11/2015 a 15/03/2016 – NEM ANTES, MUITO MENOS DEPOIS
DESTE PERÍODO NÃO SE HÁ E NEM SE HAVIA COMO FAZER O REQUERIMENTO
ADMINISTRATIVO JUNTO A AUTARQUIA, e assim o é até hoje, pois como quase tudo no
INSS, o direito de requerer na esfera administrativa da autarquia é mitigado, sendo banalizados
princípios basilares da administração pública bem como praticamente toda a CF, fatos que apesar de
absurdos são de conhecimento extensivo de todos, inclusive do Judiciário.

A Turma Nacional de Uniformização (TNU) decidiu, por unanimidade, negar


provimento ao pedido de uniformização do INSS, no processo n. 0501296-37.2020.4.05.8402/RN
fixando a tese do tema 281, de relatoria da Juíza Federal Susana Sbrogio Galia: É devido o seguro-
desemprego no período de defeso para o pescador artesanal no biênio 2015/2016.

PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO NACIONAL. OBJETO DE


AFETAÇÃO EM REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA -
TEMA 281: “SABER SE É DEVIDO O SEGURO
DESEMPREGO NO PERÍODO DE DEFESO PARA O
PESCADOR ARTESANAL NO BIÊNIO 2015/2016”. EFEITO
DAS DECISÕES PROFERIDAS NO CONTROLE
CONCENTRADO DA CONSTITUCIONALIDADE.
EXEGESE QUE OBSERVA A RESERVA DE PLENÁRIO.
REALIZAÇÃO DO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL
ESTRUTURANTE DA PROTEÇÃO À CONFIANÇA E
SEGURANÇA JURÍDICA. TESE FIRMADA: "É DEVIDO O
SEGURO DESEMPREGO NO PERÍODO DE DEFESO PARA
O PESCADOR ARTESANAL NO BIÊNIO 2015/2016".
INCIDENTE DESPROVIDO.
[...] Assim, considerando que o Plenário do STF manteve a
eficácia do Decreto-Legislativo nº 293/2015, e suprimiu a
validade da Portaria Interministerial 192/2015, de modo que, a
partir de 09/10/2015, restabelece-se a proibição da pesca na
forma antes prevista, o seguro defeso passa a ser devido para o
biênio 2015/2016.
Ante o exposto, voto por negar provimento ao presente Pedido
de Uniformização de Interpretação de Lei, processado como
representativo de controvérsia - Tema 281 -, firmando a seguinte
tese: "É devido o seguro- desemprego no período de defeso para
o pescador artesanal no biênio 2015/2016".

Para melhor visualização dos marcos temporais importantes ao caso, tem-se:

De 09/10/2015 a 10/12/2015 - esteve em vigor a Portaria


Interministerial nº 192/2015, que suspendeu os períodos de
defeso, autorizando a atividade pesqueira;

De 11/12/2015 a 06/01/2016 - esteve em vigor o Decreto


Legislativo nº 293/2015, que suspendeu os efeitos da Portaria
Interministerial nº 192/2015, restabelecendo os períodos de
defeso e vedando a atividade pesqueira;

De 07/01/2016 a 10/03/2016 - esteve em vigor a decisão liminar


proferida na ADI nº 5.447, que suspendeu os efeitos do Decreto
Legislativo nº 293/2015, passando a ser novamente suspenso o
período de defeso e autorizada a pesca;

A partir de 11/03/2016 - passou a vigorar nova decisão proferida


na ADI nº 5.447, que revogou a decisão liminar anteriormente
proferida, restabelecendo os períodos de defeso e proibindo o
exercício da atividade pesqueira, entendimento mantido no
julgamento definitivo proferido pelo Supremo Tribunal Federal
na ADI 5.447 e na ADPF nº 389, em sessão virtual de 15 a
21/05/2020.

A partir de 27/10/2022 - com Termo de Conciliação nº


01/2022/CCAF/CGU/AGU-JDS-JRP, que estabelece Proposta
de Acordo para pagamento do SDPA, ciclo 2015/16.
A partir de 22/11/2022 - passou a vigorar a Portaria PRES/INSS
Nº 1525, que disciplina o fluxo de pagamento dos requerimentos
de Seguro Desemprego do Pescador Artesanal suspensos pela
Portaria nº 192, de 5 de outubro de 2015.

Em face da profusão de regras a disciplinar a matéria que envolve toda a Epopéia do


SDPA 2015/2016, o fenômeno prescricional não poderia ficar sem cadeira nesta locomotiva, afinal
temos aproximadamente 400 mil pescadores aguardando nos terminais no Brasil inteiro pela
chegada desse direito.

Como EXCLUDENTES DA PRESCRIÇÃO, tem-se o critério da Especialidade.


Inúmeros conceitos buscam conduzir o instituto da prescrição nessa matéria tanto para
se manter como para se afastar a prescrição. Um deles, pode-se citar, a título de mera
exemplificação, é o da orientação quanto ao critério da especialidade para uma melhor compreensão
dos institutos em matéria previdenciária. Apesar de ser considerado critério de menor potencial de
circunstância impeditiva e suspensiva de prazo, ainda assim, é um critério existente, não devendo
portanto ser desconsiderado, pois a matéria concernente ao Seguro Defeso é deveras específica e de
caráter intimamente regionalizado, conduzindo as peculiaridades culturais arestados as normas,
portarias e ditames legais de ordem intimamente específico.

Em tema de benefícios previdenciários do RGPS, as normas fundamentais que


disciplinam o instituto da prescrição constam no artigo 103, caput, e parágrafo único, da Lei
8.213/91.

Art. 103. O prazo de decadência do direito ou da ação do


segurado ou beneficiário para a revisão do ato de concessão,
indeferimento, cancelamento ou cessação de benefício e do ato
de deferimento, indeferimento ou não concessão de revisão de
benefício é de 10 (dez) anos, contado:
I - do dia primeiro do mês subsequente ao do
recebimento da primeira prestação ou da data em
que a prestação deveria ter sido paga com o valor
revisto; ou
II - do dia em que o segurado tomar conhecimento da
decisão de indeferimento, cancelamento ou cessação do seu
pedido de benefício ou da decisão de deferimento ou
indeferimento de revisão de benefício, no âmbito administrativo.
Parágrafo único. Prescreve em cinco anos, a contar da data em
que deveriam ter sido pagas, toda e qualquer ação para haver
prestações vencidas ou quaisquer restituições ou diferenças
devidas pela Previdência Social, salvo o direito dos menores,
incapazes e ausentes, na forma do Código Civil.

Latente o entendimento de que nas obrigações previdenciárias, por se traduzir em


obrigações de trato sucessivo, o direito aos valores devidos se renova de tempo em tempo, pois o
prazo prescricional renasce a cada vez que se torna exequível a prestação seguinte, por outra parte
das disposições do Dec. 20.910/32 devem ser aplicadas às autarquias, por força do art. 2º do Dec
Lei 4.597 de 19/08/1942. Surge daí a ideia de que o beneficiário pode requerer a proteção
previdenciária a qualquer tempo, tendo o direito de receber, em princípio, as diferenças relativas aos
últimos cinco anos.

Se tem também, excludente de prescrição, no curso do Processo Administrativo.

Contudo, no caso em testilha, estamos a sustentar que nas ações de prescrição de um


direito fundamental para concessão de benefício previdenciário com dimensão patrimonial, não se
pode ignorar a existência de casos de suspensão e interrupção do período dessa prescrição - regra
contida no artigo 4º do Decreto 20.910/32 – como é o caso do SDPA 2015/2016 -, principalmente
quando envolver medidas e definições por ato exclusivo do Estado. Qual seja:

Art. 4º - Não corre a prescrição durante a demora que, no


estudo, ao reconhecimento ou no pagamento da dívida,
considerada líquida, tiverem as repartições ou funcionários
encarregados de estudar e apurá-la.

Segundo a norma do dispositivo acima transcrito, não há o curso de prescrição durante a


tramitação do processo administrativo que objetiva especificamente a concessão ou a revisão
buscada posteriormente em juízo. Isso significa que não se suspende apenas o lapso prescricional
em relação à matéria que comporta a prescrição do fundo do direito, pois “a demora do
reconhecimento da dívida a suspende, conforme o art. 4º do Decreto 20.910/32 (STF, Pleno, ACO
381-4/RJ, Rel.Min.Marco Aurélio, DJ 09.08.1991).

No curso do pleito judicial, deve ser observado, ainda, as excludentes da prescrição,


previstas no art. 5º do Decreto 20.910/32, in verbis:
Art. 5º Não tem efeito de suspender a prescrição a demora do
titular do direito ou do crédito ou do seu representante em
prestar os esclarecimentos que lhe forem reclamados ou o fato
de não promover o andamento do feito judicial ou do processo
administrativo durante os prazos respectivamente estabelecidos
para extinção do seu direito à ação ou reclamação.

Em suma, o beneficiário não pode ser prejudicado pela ilegalidade da demora


administrativa na análise de seu direito. Cogitar em contrário significaria prestigiar o
enriquecimento ilícito e atribuir razão a quem pretende valer-se de sua torpeza para benefício
próprio.

A interrupção da prescrição se opera com a citação válida.

Continuando a abordagem pela seara judicial, aqui, tem-se outro marco de causa de
suspensão e interrupção de prescrição, quais sejam, a ADI 5442 e a ADPF 389. A interrupção da
prescrição se opera com a citação válida. Com efeito, o reinício da contagem prescricional se dá a
partir do trânsito em julgado:
7. Destarte, o prazo prescricional, interrompido pela citação
válida, somente reinicia o seu curso após o trânsito em julgado
do processo extinto sem julgamento do mérito.

(Precedentes: REsp 934.736/RS, PRIMEIRA TURMA, DJ


01/12/2008; REsp 865.266/MG, PRIMEIRA TURMA, DJ
05/11/2007; EDcl no REsp 511.121/MG, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 03/05/2005).

Nesse momento, nos é lembrado que além da suspensão tem-se também o fenômeno da
interrupção do prazo prescricional, que passa-se a pontuar com mais ênfase no intuito de sustentar o
corpo argumentativo – (posição jurisprudencial do TRF4 no sentido de reconhecer a citação válida
em ação civil pública movida pelo MPF, causa idônea de operar a interrupção da prescrição - TRF
4, Turma Suplementar, AC 2006.71.00.020585-6, Rel Ricardo Teixeira do Valle Pereira, DJ
23.11.2007).
Pois muito bem, vê-se que no Julgamento do Acórdão que o voto da Relatora não ecoou
em unanimidade, encontrou resistência. E, arrisca-se em argumentar que o que tenta a Nobre
Relatora em sede de prescrição é colocar suspensão e interrupção como institutos iguais, o que não
o são. No Direito do Trabalho, por exemplo, a Suspensão é a paralisação temporária dos serviços,
sendo que o empregado não recebe salários e não há contagem de tempo de serviço. Já a
Interrupção ocorre quando a empresa continua pagando salários ao empregado e o tempo inativo
conta como tempo de serviço. Logo, são coisas diferentes.

O prazo, quando há interrupção, volta à estaca zero, ou seja, a contagem recomeça.


Enquanto isso, a suspensão não “zera” a contagem, o prazo é retomado no próximo dia útil. E isso
faz toda a diferença no caso em testilha.

Da garantia pelo fundo do direito

Extrai-se da Portaria que suspendeu o direito ao recebimento ao SDPA 2015/2016, ao


ser considerada inconstitucional, garantiu o direito, isto é, garante expressamente o fundo de direito.
Assim, o Acordo firmado entre as partes basilado numa ADI, ADPF e ACP que reconhece a
fundamentalidade do fundo do direito, argumentam contra o ACÓRDÃO ora aqui impugnado, pois
vejam, o Pescador Artesanal, tem por violado não só o tempo não computado desse período como
contribuinte e segurado especial, mas também o direito a receber por esse período, que é a
satisfação integrante desse direito violado, que logicamente detém a mesma natureza e que por
evidente compõe o fundo de direito.

É necessário ir além na discussão quanto a matéria aqui debatida dentro da seara


previdenciária sobre a real natureza do marco inicial do prazo que se quer estabelecer no Acórdão
quanto à prescrição.

Não se pode coadunar com o Estado que já se valia da ineficiência do procedimento


administrativo do INSS para alcançar a ilegalidade - pagando benefício a menor e aplicando multas
irrisórias pelo não cumprimento da ordem judicial pelo INSS -, agora tenta emprestar ares de
irreversibilidade aos efeitos das ilegalidades já pronunciada em sede de ADI, ADPF e ACP como
inconstitucional, para mutar o direito quanto ao crédito correspondente ao fundo de direito,
retornando a matéria ao Supremo para que se rediscuta o que já foi massificamente questionado.
Para que não se reste nenhuma nuvem sombria sobre o assunto, insta repetir-se quanto ao início da
fluência do prazo prescricional da execução singular de sentença coletiva, a Primeira Seção do STJ,
ao julgar o REsp 1.388.000/PR, submetido à sistemática dos recursos repetitivos, firmou a tese de
que o prazo prescricional para a execução individual é contado do trânsito em julgado da sentença
coletiva, sendo desnecessária a providência de que trata o art. 94 da Lei nº 8.078/90.

RECURSO ESPECIAL Nº 1.388.000 – PR (2013/0179890-5)


RELATOR : MINISTRO NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO
RECORRENTE : ELSA PIPINO MACIEL ADVOGADOS :
PAULO CORTELLINI E OUTRO(S) MARIA REGINA
DISCINI E OUTRO(S) PAULA REGINA DISCINI
CORTELLINI E OUTRO(S)
RECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO
PARANÁ
RECORRIDO : ESTADO DO PARANÁ
PROCURADOR : ROSÂNGELA DO SOCORRO ALVES E
OUTRO(S)

DECISÃO PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL


REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA.
PROCESSAMENTO NOS TERMOS DO ART. 543-C DO CPC
E DA RESOLUÇÃO No. 08/STJ. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
INÍCIO DA FLUÊNCIA DA PRESCRIÇÃO QUINQUENAL
PARA O AJUIZAMENTO DA AÇÃO INDIVIDUAL
EXECUTIVA. ART. 94 DO CDC.
1. Trata-se de dois Recursos Especiais interpostos por
ELSA PIPINO MACIEL e pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO
ESTADO DO PARANÁ com fundamento no art. 105, III, a e c
da CF, objetivando a reforma do Acórdão do Tribunal de Justiça
do Paraná, assim ementado: AGRAVO. DECISÃO QUE NEGA
SEGUIMENTO A APELAÇÃO CÍVEL EM RAZÃO DE
CONFLITO COM JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE.
DECISUM QUE SE RESPALDA EM PRECEDENTES DESTE
COLEGIADO E DO STJ SOBRE A MATÉRIA VERSADA
NOS AUTOS. FUNDAMENTOS NÃO INFIRMADOS NESTE
RECURSO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. PRESCRIÇÃO. NECESSIDADE DE
PUBLICAÇÃO DE EDITAIS PELA IMPRENSA OFICIAL
PARA DIVULGAÇÃO
DA SENTENÇA DE CONDENAÇÃO. ARTIGO 94, DO
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR,
MOMENTO QUE MARCA O TERMO A QUO PARA A
CONTAGEM DO LAPSO PRESCRICIONAL.
RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO (fls.
867).
2. Os Embargos de Declaração opostos foram
rejeitados.
3. A recorrente ELSA PIPINO MACIEL alega a
inocorrência da prescrição do fundo de direito,
mas apenas das parcelas anteriores ao
ajuizamento da ação civil pública, por se tratar de
verba de caráter alimentar e de trato sucessivo.
Aduz que o termo inicial da prescrição quinquenal
deve ser contado a partir de 10.1.2009, data da
verdadeira ocorrência do trânsito em julgado (fls.
909).
4. Alega, ainda, violação aos arts. 126, 236, § 2o.,
461 e 467 do CPC; 49, 49, 50, V, 51, parágrafo
único e 54 da Lei Orgânica do Ministério Público
do Estado do Paraná; 7o. e 94 do CDC, sob os
seguintes fundamentos: (a) o promotor intimado
do acórdão da ação civil pública não foi o que
atuou na qualidade de autor, mas sim o atuante
no 2o. Grau de Jurisdição como parecerista, na
qualidade de custus legis, motivo pelo qual
somente deve ser reconhecido o trânsito em
julgado da decisão em 10.1.2009, após a
intimação deste último (10.11.2008) e (b) o
prazo prescricional da ação executiva somente
por ter início após a ampla divulgação da decisão
proferida na ação civil pública, o que somente
ocorreu em 13.4.2010.
5. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ,
por sua vez, alega violação do art. 94 da Lei
8.078/90, ao argumento de que o termo inicial da
prescrição nas execuções individuais pressupõe
ampla divulgação da sentença coletiva nos meios
de comunicação de massa. Além disso, aduz que
o acórdão recorrido diverge do entendimento
firmado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo nos
autos da Apelação Cível 990.10.232053-7/SP
segundo o qual a fluência da prescrição
quinquenal somente tem início após a ampla
divulgação da sentença proferida na ação
coletiva.
6. O recorrido apresentou contrarrazões às fls.
1.247/1.258.
7. O presente Recurso Especial foi admitido na
origem como representativo da controvérsia, a
teor do art. 543-C do CPC, em face da
multiplicidade de recursos especiais com
fundamento em questão idêntica de direito.
8. Assim, nos termos dos arts. 2o., caput da
Resolução 8/08 desta Corte e 543-C, § 2o. do
CPC, submeto o julgamento do recurso especial à
Primeira Seção e determino a suspensão, nos
Tribunais de segunda instância, dos recursos nos
quais a controvérsia esteja estabelecida.
9. Comunique-se, com o envio de cópia desta
decisão, aos eminentes Ministros do STJ e aos
ilustres Presidentes dos Tribunais de Justiça de
todos os Estados-membros da Federação e
Presidentes dos Tribunais Regionais Federais, a
teor do disposto no artigo 2o., § 2o., da
Resolução 08/2008 - STJ.
10. Após, abra-se vista dos autos ao douto Ministério
Público Federal, nos termos do art. 3o., II, da
Resolução 08/2008 - STJ.
11. Cumpra-se.
12. Publique-se.
Brasília/DF, 17 de junho de 2014. NAPOLEÃO NUNES MAIA
FILHO MINISTRO RELATOR.

Na medida em que a Súmula 150 do STF expressa que o prazo prescricional da


execução é o mesmo da ação de conhecimento, conclui-se que prescreve em 5 (cinco) anos a
execução individual da sentença coletiva, a contar do trânsito em julgado desta. Assim, não há como
se defender prazo prescricional a contar da DER, pois fere toda a lógica processual vigente no
ordenamento jurídico brasileiro.

Súmula 150 do STF: “prescreve a execução no mesmo prazo de


prescrição da ação”

Sabe-se que qualquer ato do devedor (no caso em testilha - a Fazenda Pública) que
implique reconhecimento de direito material constitui causa de interrupção da prescrição - latente
essa assertiva frente ao Termo de Conciliação n° 012/2022/CCAF/CGU/AGU-JDS-JRP firmado em
27/10/2022 - que estabelece proposta de Acordo para pagamento de Seguro-Desemprego do
Pescador Artesanal ciclo 2015/2016 - Vê-se, nesse Termo de Conciliação, que todas as Instituições
envolvidas acordam sobre o pagamento e que, nenhuma refuta o contrário (Instituto da Novação
inteligência do Código Civil, que significa transformar uma obrigação em outra). O que fica latente
A partir de 22/11/2022 quando passa a vigorar a Portaria PRES/INSS Nº 1525, que disciplina o
fluxo de pagamento dos requerimentos de Seguro Desemprego do Pescador Artesanal suspensos
pela Portaria Interministerial nº 192, de 5 de outubro de 2015.

Ora, se os Atores dessa relação, que representam as instituições estatais, que tem por
dever a garantia do cumprimento das leis e da proteção dos direitos, que firmaram suas vontades
nesse Termo de Conciliação que motivou a Portaria PRES/INSS Nº 1525, que disciplina o fluxo de
pagamento dos requerimentos de Seguro Desemprego do Pescador Artesanal suspensos pela
Portaria Interministerial nº 192 de 2015, usaram desses preciosos tempos para ludibriar, enganar,
burlar, lograr, mentir, para essa fatia de trabalhadores, para toda uma sociedade, é causa suficiente
de pânico motivadora do caos, instigadora de uma comoção tão aguda, que arriscaria até a cogitar
numa possível revolta, com algum tipo de externação extrema. Não falo aqui de violência contra
terceiros, mas de incredulidade em toda atuação estatal que se sustentou e sustenta todo o
ordenamento juridico brasileiro. Seria usar todo o poder da máquina estatal para garantir a
legitimidade de sua vontade mais egoísta, de se apropriar descaradamente dos valores que esses
pescadores tem por direito de receber o que lhe é devido.

Não. Não acredito que tenha sido essa a motivação das vontades firmadas acima. A
recusa a essa hipótese, por ser ela tão vil, leviana, e imoral, faz a causídica se virar e olhar para o
outro lado, onde o Poder Público tem compromisso com seus jurisdicionados, vinculação com a
Legalidade, prima pela Moralidade, busca sempre a Eficiência, associada a dirimir conflitos e a
entregar a Igualdade na medida das suas proporcionalidades.

Não há razão de ser os termos alhures firmados se não fosse para serem cumpridos,
honrados. Afinal, o tempo “deles” (longa manus do Estado - AGU/SGCT/DCC/CCAF/INSS) haja
contra o próprio Estado, quando viola regramentos basilares referentes a direitos e garantias
fundamentais.

O aspecto patrimonial das prestações previdenciárias, nesse sentido, é a verdadeira


essência da proteção previdenciária, jamais um dado lateral, destituído de fundamentalidade. Pensar
diferente implica a denegação de justiça.

A perda do direito de chamar à legalidade um ato administrativo de concessão - ou


melhor, a perda de chamar à correção a proteção social oferecida administrativamente - não se
confunde com a perda de se cobrar um título de crédito ou executar um contrato. Nestes institutos,
encontram-se em regra, desde logo bem definidas as obrigações do devedor e os direitos do credor.

A máxima de que quanto mais simples a pessoa, mais fé empresta as ações do Estado,
traz uma perspectiva constitucional ao caso que remete aos princípios administrativos de
moralidade, legalidade e eficiência - de relevância acentuada quando a relação da Administração se
dá com pessoas vulneráveis e desprovidas de informações necessárias para buscarem a satisfação de
direito que lhes assegure a subsistência digna.

O núcleo essencial do direito fundamental à previdência social é imprescritível,


irrenunciável e indisponível, motivo pelos qual, portanto, não se submete ao regime de preclusão
temporal.

Os direitos humanos e fundamentais são imprescritíveis, no sentido de que a qualquer


tempo é possível fazer cessar a violação desses direitos - tanto assim o é, que a Suprema Corte
reconheceu o direito a receber o SDPA 2015/2016 em sede de ADI 5.447.

Assim, resta ridicularizada qualquer supressão ao acesso ao direito de receber o SDPA


2015/2016 pela própria via argumentativa da denegação de justiça.

O Princípio da boa-fé objetiva, dá limites à atuação judicial da Administração Pública.


Todo esse comportamento que o Poder Público dispensou a esse caso, SDPA 2015/2016, todos os
artifícios que manejou para postergar e impedir o pagamento desse seguro desemprego, pode
caracterizar, em juízo, o exercício de comportamento contraditório à postura assumida publicamente
ou a ato administrativo em concreto, de modo a incorrer na máxima ne venire contra factum
proprium, que se encontra implícita nos arts. 187 e 422 do CC.

“Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que,


ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo
seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons
costumes.
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na
conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de
probidade e boa-fé.

A vedação ao comportamento contraditório deriva da boa-fé objetiva, genuíno


fundamento axiológico-normativo do direito substantivo civil e da processualística moderna (CPC,
art. 5º), pelo qual todos os sujeitos processuais devem agir com lealdade e orientados pelo dever de
cooperação.
Isso obriga o Órgão previdenciário à legalidade aos atos normativos e às práticas
administrativas que neles se fundamentam, isto é, É VINCULANTE, bem como aos atos praticados
em concreto a determinado sujeito.

No contexto que se proíbe o comportamento ímprobo, que busca incansavelmente


colocar e criar dificuldades para outra parte - o pescador artesanal - e assim prejudicá-la, não é dado
ao ente previdenciário vir contra um fato próprio, articulando em juízo razões que consubstanciam
óbice à concessão judicial do benefício, mas que não são por ele consideradas, nem aplicadas, no
processo.

QUER DIZER, SE O PRÓPRIO INSS, NA ESFERA ADMINISTRATIVA, NÃO


CONSIDERA DETERMINADA CIRCUNSTÂNCIA COMO IMPEDIMENTO A OUTORGA
DA PROTEÇÃO PREVIDENCIÁRIA, RECONHECENDO DIREITOS, É INADMISSÍVEL
QUE ADOTE COMPORTAMENTO DISTINTO E CONTRADITÓRIO NOS PROCESSOS
JUDICIAIS.

De modo, que toda a conduta, postura do INSS é ininteligível. Ou será, nós, outros,
meros mortais, que de tão ingênuos sejamos cegos e tolos.

Repita-se; o INSS, não pode exigir judicialmente aquilo que espontaneamente assegura
na via administrativa, porque esse comportamento implicaria violação à igualdade, como já teve a
oportunidade de expressar o STJ, por meio de relevantes precedentes:
Segundo firme orientação do Superior Tribunal de Justiça, o titular do direito
subjetivo que se desvia do sentido teleológico (finalidade ou função social) da norma que lhe
ampara (excedendo aos limites do razoável) e, após ter produzido em outrem uma
determinada expectativa, contradiz seu próprio comportamento, incorre em abuso de direito
encartado na máxima nemo potest venire contra factum proprium.

É inadmissível que, em determinada ação judicial, o Poder Público exija o que não
demanda administrativamente em geral, pois tal constituiria uma atitude incoerente e abusiva da
confiança de outrem, comportamento contraditório, vedado pelo Direito, e não admitido no âmbito
do processo judicial. Violação evidente da boa-fé-objetiva, o ente previdenciário está se voltando,
em juízo, contra fato próprio – e de modo a contrariar também o princípio da impessoalidade
administrativa (CF/88, art, 37). Senão vejamos:

[...] 2. O princípio da boa-fé objetiva ecoa por todo o


ordenamento jurídico, não se esgotando no campo do Direito
Privado, no qual, originariamente, deita raízes. Dentre os seus
subprincípios, registra-se o da vedação do venire contra factum
proprium (proibição de comportamento contraditórios).
[...] Com efeito, mostra-se desarrazoado por parte da
Administração Pública após a edição do ato conferindo aos
servidores o não comparecimento ao trabalho em razão do ponto
facultativo, a reposição dos dias 20, 23 e 26 de junho de 2014,
revelando-se em comportamento contraditório (venire contra
factum proprium), porquanto, a situação encontrava-se
consolidada no tempo.
[...] 3. A Administração Pública fere os Princípios da
Razoabilidade e de Boa-Fé quando exige a desistência de todas
as ações promovidas contra a União ao mesmo tempo em que
estabelece exigências não previstas expressamente no Despacho
Ministerial n.312/2003, regulamentado pela Portaria n.
2.369/2003-DG/DPF para a concessão do apostilamento. 4.
“Nemo potest venire contra factum proprium”.
[...] Em decorrência do principio da boa-fé, há a proibição do
venire contra factum proprium, vedando-se qualquer
comportamento contrário ao que era esperado por uma das
partes em virtude de atitude anteriormente por ela praticado.
PREVIDENCIÁRIO, REMESSA NECESSÁRIA, NÃO
CONHECIMENTO, PEDIDO RECONHECIMENTO PELA
AUTARQUIA PREVIDENCIÁRIA. 1. Tendo a autarquia
previdenciária reconhecido a procedência do pedido no curso do
feito , revela-se inviável a rediscussão dos fundamentos da
sentença em sede de reexame necessário, devendo ser
prestigiada a preclusão lógica ocorrida na espécie, regra que,
segundo a doutrina, tem como razão de ser o respeito ao
principio da confiança, que orienta a lealdade processual
(proibição do venire contra factum proprium). 2. Remessa
necessária não conhecida.

A atuação judicial da entidade previdenciária encontra-se vinculada, portanto, às suas


orientações gerais, assim consideradas “as interpretações e especificações contidas em atos públicos
de caráter geral ou em jurisprudência judicial ou administrativa majoritária, e ainda as adotadas por
prática administrativa reiterada e de amplo conhecimento público” (LINDB, art. 24, parágrafo
único).

Princípio da Confiança e da Lealdade Processual, vê-se também violado, quando se


avalia o caso em testilha, pois uma linha de argumentação que seja contrária à boa-fé, por
derivação, é incompatível com o exercício do direito de defesa.
Com o comportamento contraditório, a parte culmina por quebrar o dever processual imposto a
todos, segundo o qual “Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de
acordo com a boa-fé” (CPC, art, 5°).

A representação judicial do INSS, busca sobremaneira a restringir judicialmente, e de


maneira indevida, direitos fundamentais dotados de eficácia vinculante, afigura-se como
posicionamento contrário aos atos administrativos da própria entidade - em defesa de seus
segurados.

Fazendo um retorno na raiz do problema, ve-se que o Estado na figura do Poder


Executivo suspende o pagamento do SDPA 2015/2016, aí vem o Estado na figura do Poder
Judiciário e devolve o direito ao Pescador. Entra em cena por delegação as atribuições de
competência do Executivo, o INSS que não consegue promover o reconhecimento do direito ao
recebimento ao benefício assegurando eficiência e ampliando o controle social. Retorna o Estado
Juiz para declarar a legalidade do direito e ordenar o pagamento. Buscando a melhor composição os
atores dessa novela sentam e entabulam um Acordo Extrajudicial e nesse momento se tem o melhor
dos dois mundos, pois todos convergem num único objetivo, entregando o direito satisfazendo a
obrigação. Mas, torpemente, um dos atores não cumpre a palavra e nao honra o compromisso e
passa a ignorar tudo o que se propôs no acordo e numa tentativa inescrupulosa e indecente, passa a
prequestionar a prescrição todas as vezes que é chamado para se manifestar sobre a matéria em
Juízo, numa nova tentativa de se rejulgar a matéria o que já foi demasiadamente devastado ao logo
desse tempo, numa tentativa torpe de não pagar o seguro e se apropriar do direito do pescador
artesanal em receber seu seguro desemprego.

Não é favor, nem esmola, trata-se de direito.

Ora, o período para requerimento do seguro-defeso compreende o período de


15/11/2015 a 15/03/2016, portanto, não houve tempo hábil para que os pescadores tomassem
conhecimento da suspensão e posterior restabelecimento dos períodos de defeso, ocorridos mais de
uma vez, a incerteza quanto à suspensão ou não do defeso, a dificuldade de locomoção e de
recebimento de notícias em áreas rurais, e a não recepção dos requerimentos são situações que
explicam o fato de muitos pescadores não possuírem os requerimentos, portanto, não há que contar
a prescrição da data do requerimento administrativo – pela própria especialidade do objeto.

Em 15/04/2016, a Confederação Nacional dos Pescadores e Aquicultores (CNPA)


distribuiu a ADPF nº 389, objetivando o reconhecimento da ilegitimidade da Portaria
Interministerial N.º 192/2015, e solicitando que fosse considerada a data do Decreto Legislativo nº
293/2015 - publicado no diário oficial da união em 11/12/2015 - como marco inicial para fins de
concessão dos benefícios decorrentes do período do defeso.

Ocorre que o julgamento final da ADI nº 5.447 e da ADPF nº 389 se deu em sessão
virtual realizada de 15 a 21/05/2020, na qual o Supremo Tribunal Federal decidiu por julgar
improcedente a ADI nº 5.447, nos termos do voto do Relator Ministro Luís Roberto Barroso. Na
mesma sessão, foi proferido julgamento conjunto da ADPF nº 389, reconhecendo como procedente
o pedido para declarar a inconstitucionalidade da Portaria Interministerial nº 192/2015. Ora, se não
fosse para entregar aos pescadores artesanais o que lhe era devido, ou seja, o valor correspondente
ao Seguro Desemprego 2015/2016, então, de que serviu toda a discussão no Supremo Tribunal?

Esclarecidos os motivos que causaram a não recepção dos requerimentos referentes ao


defeso do ciclo 2015/2016 afetadas pelos efeitos da Portaria Interministerial nº 192, de 2015, não há
que se falar em prescrição, vez que o pagamento do benefício vindicado estava suspenso, tendo
retornado a partir do julgamento conjunto da ADI 5.447 e da ADPF 389, pelo STF.

No mesmo sentido decidiu a 1º Turma Recursal da SJPA e SJAP, processo nº 1019199-


85.2022.4.01.3902, nos termos do juiz relator Thiago Rangel Vinhas, em sessão realizada em
31/05/2023:

SEGURO-DESEMPREGO. PESCADOR ARTESANAL.


COMPETÊNCIA 2015/2016. REQUISITOS LEGAIS
PREENCHIDOS. RECURSO DESPROVIDO. SENTENÇA
MANTIDA.
1. Trata-se de recurso interposto pelo INSS contra
sentença que deferiu pedido de concessão de
seguro- defeso do ano de 2015/2016.
2. Segundo a moldura do art. 2º da Lei
n.10.779/2003, conforme nova redação atribuída
pela Lei n.13.134/2015, cabe ao INSS receber,
processar e habilitar os beneficiários de seguro-
defeso, de modo que a autarquia é a única
legitimada para compor o polo passivo da
demanda.
3. A prescrição deve ser afastada, visto que a
pretensão autoral apenas passou a ser exigível
após o julgamento definitivo da ADI 5.447 pelo
STF, que declarou a inconstitucionalidade da
Portaria Interministerial 192/2015 com efeitos
retroativos. (grifo meu)
4. No mérito, não assiste razão ao recorrente.
Conforme decidido pela TNU ao julgar o Tema 281
de recursos representativos de controvérsia: "é
devido o seguro- desemprego no período de
defeso para o pescador artesanal no biênio
2015/2016". [...]

De acordo com o ordenamento jurídico pátrio, o ajuizamento de ação abordando


interesse difuso acaba por interromper o prazo prescricional para a apresentação de ação judicial
que trate de interesse individual homogêneo. A propositura da ADPF, pela Confederação Nacional
dos Pescadores e Aquicultores (CNPA) estimulou na categoria a confiança na justiça e na
administração pública, a ponto de ser interrompido o ajuizamento de ações individuais, enquanto se
aguardava o desfecho da ação coletiva.

No mesmo sentido, o próprio sistema jurídico brasileiro, no que tange às tutelas


coletivas, estimula - direta e indiretamente - a não propositura de ações individuais enquanto não há
decisão quanto à ação coletiva, a fim de gerar economia processual, racionalização do sistema de
Justiça e segurança jurídica, ao se evitar a proliferação de decisões judiciais conflitantes diante de
casos idênticos. Portanto, a interpretação da prescrição do seguro-defeso biênio 2015/2016, é
certamente uma violação aos princípios da segurança jurídica, da proteção da confiança legítima e
da boa-fé, uma vez que o ajuizamento da ação coletiva interrompeu os prazos prescricionais.

A FORÇA DO ACORDO ENTRE AS PARTES E A NOVAÇÃO


Em decorrência da declaração de inconstitucionalidade da Portaria Interministerial nº
192, por parte do Supremo Tribunal Federal, foi firmado em 27 de Outubro de 2022, Acordo
Extrajudicial entre a União, o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS e a Confederação
Nacional Dos Pescadores e Aquicultores - CNPA, a partir do conflito subjacente à Ação Civil
Pública n.° 1044658-48.2019.4.01.3400, ajuizada perante a 16ª Vara Federal da Seção Judiciária do
Distrito Federal, com pedido de efeitos nacionais.

Como se vê, ainda que se considere a suposta prescrição suscitada pela Relatora, a
própria Autarquia percebera a ilegalidade do seu procedimento e o dano causado aos segurados,
uma vez que não se opôs ao pagamento do seguro-defeso biênio 2015/2016 e firmou acordo com a
União e a entidade nacional representante dos pescadores.

O acordo extrajudicial firmado entre as partes, implica na novação da obrigação:

A novação caracteriza-se pela constituição de uma nova obrigação, diferente da


primeira, que se opera entre credor e devedor, para a substituição e extinção da dívida anterior" (RT
792/349).

Para que se dê novação, exigem-se os seguintes requisitos:

a) existência de obrigação anterior, que se extingue com a constituição de


nova, que a substitui (obligatio novanda);
b) criação dessa nova obrigação, em substituição à anterior, que se extingue
(aliquid novi);
c) intenção de novar (animus novandi). [...]

Nesse sentido decidiu o Tribunal de Justiça do Distrito Federal, no Acórdão Nº


1244882, processo Nº 0712769- 63.2019.8.07.0001 de relatoria da Desembargadora Simone
Lucindo:

APELAÇÃO CÍVEL. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL.


COBRANÇA. INOVAÇÃO RECURSAL. VEDAÇÃO.
CONHECIMENTO PARCIAL. ENCARGOS LOCATÍCIOS.
COBRANÇA. ACORDO EXTRAJUDICIAL. NOVAÇÃO DA
DÍVIDA. REQUISITOS CONFIGURADOS.
[...]
2. Nos termos do disposto no art. 360 do Código
Civil, para a configuração da novação da dívida é
imprescindível: a) a existência de uma obrigação
anterior; b) a constituição de uma nova obrigação
em substituição à anterior; c) o inequívoco ânimo
de novar, o qual pode ser expresso ou tácito.
3. A realização de uma nova relação obrigacional
com a finalidade de extinguir uma relação
primitiva, consistente na formulação de acordo
extrajudicial, a fim de colocar termo aos débitos
oriundos de contrato de locação, configura a
presença do animus novandi apto a configurar a
ocorrência do instituto da novação. […]

O objeto da ACP consistia principalmente na reabertura de prazo não inferior a 60 (sessenta)


dias para o pagamento das 4 (quatro) parcelas do seguro defeso referentes ao período de 15/11/2015
a 15/03/2016. A partir do acordo firmado entre as partes, foi criada a obrigação efetiva de
pagamento das 4 parcelas do seguro defeso biênio 2015/2016 mediante Requisição de Pequeno
Valor (RPV).

Reconhecido o direito a partir da novação da obrigação, ocorre a renúncia à prescrição, nos


termos do art. 191 do Código Civil:
Art. 191. A renúncia da prescrição pode ser expressa ou tácita, e
só valerá, sendo feita, sem prejuízo de terceiro, depois que a
prescrição se consumar; tácita é a renúncia quando se presume
de fatos do interessado, incompatíveis com a prescrição.

No Tema 120 de representativos de controvérsia, o relator Gláucio Maciel concluiu:

"[...] na oportunidade, decidiu-se que (i) a publicação do


mencionado ato administrativo que reconheceu o direito dos
segurados à revisão pelo art. 29, II, da Lei 8.213/91 importou a
renúncia aos prazos prescricionais em curso, que voltaram a
correr integralmente a partir de sua publicação, não pela metade;
e (ii) para pedidos administrativos ou judiciais formulados
dentro do período de 5 (cinco) anos contados da publicação do
ato normativo referenciado, não incide a prescrição, retroagindo
os efeitos financeiros da revisão à data de concessão do
benefício revisando".

No tema 134 de representativos de controvérsia, o relator Guaracy Rebêlo propôs:

[...] Proponho que a TNU, na sistemática dos representativos de


controvérsia, fixe as seguintes teses: [...] a publicação do
Memorando 21/DIRBEN/PFEINSS, de 15-4-2010, ato
administrativo que reconheceu o direito dos segurados à revisão
pelo art. 29, II, da Lei 8.213/91, importou a renúncia tácita por
parte do INSS aos prazos prescricionais em curso, que voltaram
a correr integralmente a partir de sua publicação; (4) para
pedidos administrativos ou judiciais formulados dentro do
período de 5 (cinco) anos da publicação do ato normativo
referenciado não incide a prescrição, retroagindo os efeitos
financeiros da revisão à data de concessão do benefício
revisando"

Em sentido similar, o reconhecimento do direito por parte da Autarquia - ao firmar


acordo com a entidade nacional representante dos pescadores e aquicultores - implica no
reconhecimento do direito, de outra maneira, o acordo não teria razão de ser. Portanto, sob os
pedidos formulados dentro do período de 5 (cinco) anos contados da realização do acordo, não
incide a prescrição. O acordo firmado entre as partes tem força de lei, e o não cumprimento do
acordo por parte da Autarquia fere a boa-fé dos cidadãos, bem como evidencia - mais uma vez - a
violação da confiança legítima depositada pelos beneficiários na Administração Pública.

Dessa maneira, é esdrúxulo considerar prescrito um crédito cujo acordo para pagamento
foi firmado no ano de 2022. Aqui, se faz necessário trazer à tona a natureza jurídica da prescrição,
decadência e preclusão.

A Prescrição - extinção do direito de ação em razão da inércia do seu titular pelo


decurso de determinado lapso temporal.

A Decadência - extinção do próprio direito, pelo escoamento do prazo legal estabelecido


para seu devido exercício.
A Preclusão - deriva do fato de não haver a prática de um ato, no prazo em que ele
deveria ser realizado, não sendo alusivo à existência ou inexistência de um direito.

Nesse diapasão, vê-se que no relativo à autotutela administrativa, não se amolda nem o
instituto da prescrição, nem o da preclusão, mas sim o da decadência, já que à Administração
Pública é conferido, diferente do particular, o poder de rever seus próprios atos sem que necessite,
para isso, bater às portas do Judiciário. Diz Alexandre de Moraes:

A Administração Pública tem o dever de zelar pela legalidade, moralidade e eficiência


de seus atos condutas e decisões, bem como por sua adequação ao interesse público, e pode anulá-
los se considerá-los ilegais ou imorais e revogá-los caso entenda que os mesmos sejam inoportunos
e inconvenientes, independentemente da atuação do Poder Judiciário.

DA LITIGÂNCIA DE MÁ FÉ
Insiste o INSS em negar o direito e resistir ao cumprimento da obrigação alegando em
preliminar e em mérito a prescrição.

Sustentar a autarquia resistência fundada na prescrição que é matéria superada por ela
própria em assinatura de Termo de Acordo Extrajudicial, é abalar toda a estrutura principiológica
que sustenta o Direito Administrativo e toda a ordem jurídica.

Afastar a força da vontade voluntária entre as partes em prol da sua própria torpeza é no
mínimo insano, mas para a Administração Pública é ato CRIMINOSO.

Como se confiar que o ente público, seja ele qual for, que cumprirá com um
compromisso que voluntariamente se comprometeu a honrar?

RECORRER POR RECORRER – PROCRASTINAÇÃO crua e pura.

A condenação à litigância de má fé é um entendimento que se aplica mesmo às


hipóteses em que o recorrente é beneficiário da justiça gratuita, pois tal benesse não afasta a
responsabilidade por penalidades processuais legais por atos de procrastinação ou litigância de má-
fé ocorridos no curso da lide".

Além de que, Por conta do Acordo entabulado no Termo de Conciliação, assinado em


27/10/2022, solidifica O ATO PROCRASTINATÓRIO DA RECORRENTE, RECORRENDO POR
RECORRER, EM DESARMONIA A SUAS PRÓPRIAS ORIENTAÇÕES, SUSTENTANDO A
CONDENAÇÃO DA MULTA E SUA MAJORAÇÃO POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ.
7- DO PEDIDO
Diante do exposto, requer seja o presente recurso CONHECIDO e PROVIDO,
reformando a decisão do r. acórdão que violou a Constituição Federal para que:

1- Seja afastada a prescrição do SDPA 2015/2016 a contar da data de


11/03/2016;
2- Seja considerada a data da citação válida na ADI 5447 como marco
temporal de interrupção do prazo prescricional;
3- Que se declare que a partir do entendimento mantido no julgamento
definitivo proferido pelo Supremo Tribunal Federal na ADI 5.447 e na
ADPF nº 389, em sessão virtual de 15 a 21/05/2020 como termo inicial
da prescrição;

Agora, se porventura, entenda o Excelso Tribunal, pela impossibilidade da aplicação dos


termos alhures descritos, que nada mais são do que a narrativa processual percorrida pelos
Pescadores Artesanais, Via Crucis,

4- Que seja, então, considerado como marco prescricional do SDPA


2015/2016 a data da assinatura do Termo de Conciliação nº
01/2022/CCAF/CGU/AGU-JDS-JRP, qual seja, 27/10/2022, no intuito de
se declarar a interrupção do prazo prescricional.

Ao final;

5- A condenação da Recorrida a litigância de má-fé.

Santarém – PA, 24 de outubro de 2023.

ELMADAN ALVARENGA MESQUITA RODRIGUES


OAB/PA – 31.912

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