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LUCIVANE LOPES BENICIO, devidamente qualificado nos autos, por sua advogada
que esta subscreve, vem à presença de Vossa Excelência, inconformado com o r. Acórdão proferido
às fls., interpor RECURSO EXTRAORDINÁRIO com fulcro no artigo 102, inciso III, alínea a,
da Constituição Federal, c/c artigo 1.029 e seguintes do Código de Processo Civil, em face do
INSTITUTO NACIONAL DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, já qualificado nos autos.
Requer seja recebido e processado o presente Recurso e, intimada a parte contrária para
que, querendo, ofereça dentro do prazo legal Contrarrazões e, posteriormente seja o recurso
admitido e encaminhado com as inclusas razões ao Egrégio Supremo Tribunal Federal.
• PRELIMINARMENTE
1. DA TEMPESTIVIDADE
O presente Recurso Extraordinário é tempestivo, uma vez que o prazo para sua
interposição é de 15 dias, nos termos do art. 1003, parágrafo 5º do Código de Processo Civil de
2015 e do Artigo 32 do Regimento Interno da TNU.
2. DO PREPARO
A recorrente é beneficiária da justiça gratuita, deixando assim de efetuar o recolhimento
de custas e preparo.
3. DO PRE-QUESTIONAMENTO
Observa-se que o requisito básico do prequestionamento está presente, uma vez que a
matéria da prescrição, versada no presente feito, foi questionada com antecedência e de modo
expresso pela recorrente, nos termos da Súmula 282 do STF.
• DA SENTENÇA DE 1º GRAU
“(...)Também não cabe o reconhecimento da prejudicial de
prescrição, eis que o pagamento do benefício vindicado estava
suspenso, tendo retornado a partir do julgamento conjunto da
ADI 5.447 e da ADPF 389, pelo STF.”
• DO ACÓRDÃO
(...) “Por tais razões, e em vista dos debates vivenciados por este
Juiz Relator, tanto na 1P Turma, quanto na 2P Turma Recursal
da SJAP e da SJPA, reconsidero a posição anterior para
reconhecer a prescrição da matéria, consoante a fundamentação
acima.
18. Recurso provido. Sentença reformada para julgar
improcedente o pleito autoral.
4. DO CABIMENTO
A decisão ora recorrida foi objeto de discussão pela Turma Recursal, no âmbito do
Juizado Especial Federal, portanto, cabível Recurso Extraordinário, haja vista resta demonstrada a
repercussão geral com o esgotamento prévio das vias ordinárias, bem como a contrariedade a
dispositivos da Constituição da República Federativa do Brasil, nos termos do Art 102, III, vejamos:
Assim, com fulcro na alínea “a” do artigo supracitado, nossa Lex Fundamentalis foi
contrariada em vários momentos, como corretamente demonstramos abaixo:
As idas e vindas das decisões que se sucederam durante a discussão que envolveu todo
o imbróglio do SDPA 15 - que teve início no ano de 2015 e perdura até hoje - só distribui mais
instabilidade, incredulidade, insegurança e, pior, descrença no Estado Democrático de Direito, que
deveria proteger e cuidar, e mais, garantir direitos fundamentais, bem como seu cumprimento.
Traz à tona conceitos de dignidade que deveriam ser pilares da CF, mas vê-se que no
caso em testilha acabam por ser seu algoz, com decisões e interpretações que distribuem mais
misérias, destruindo pontes e construindo fossos entre a justiça e os jurisdicionados.
A impressão que se tem é que os autores dessa história buscam de todas as formas não
entregar o direito ao Pescador Artesanal, punindo-os pela pouca informação e pela baixa instrução,
além de lançar sobre eles todo o peso da máquina Estatal para os condenarem mais uma vez e, de
novo, e, novamente, como num conto de “Uma estória sem fim”, ou no filme “O feitiço do tempo”,
onde todos ficam presos em um único dia de sua vida, revivendo as 24 (vinte e quatro) horas
repetidas vezes. Entretanto, no filme o protagonista consegue se livrar, e é o que se busca aqui neste
Recurso Extraordinário.
Qual o propósito de tamanhas movimentações, se, ao final, o que se buscava era não se
entregar o direito e a correta aplicação da justiça?
Então, o objetivo de todos os procedimentos que nos trouxeram até aqui, são frutos de
uma manobra propositiva, vil, indigna e imoral, que manipulou todo o cenário para culminar com o
não cumprimento da obrigação de entregar ao Pescador Artesanal o que lhe é de direito.
Quer dizer, a máquina pública foi utilizada, não para cumprir com a CF, a lei e os
princípios, mas apenas em prol de beneficiar o mais forte. Assim, podemos dizer que a população é
acostumada a obedecer a justiça determinada pelos mais fortes. Trasímaco, o irado sofista, dirá, em
resposta a Sócrates nos diálogos de Platão, o que é a justiça. Define: “Eu declaro que a força é um
direito, e que a justiça é o interesse do mais forte”. Urge por quebrar essa concepção. Trazer o
direito para a Justiça. Distribuir o que dita a Constituição quando trata dignidade não apenas como
palavra, não só como alimento de alma, mas como alimento do corpo, que cura uma fome, e mata
uma sede.
• NO MÉRITO
5- BREVE SÍNTESE DOS FATOS
Trata-se de ação em que a parte Autora requereu que o réu fosse condenado a conceder-
lhe o benefício de Seguro Defeso do Pescador Artesanal referente ao período de 15/11/2015 a
15/03/2016, e comprovou deter o direito à percepção requerida, por preencher os requisitos legais.
A sentença foi submetida a recurso para apreciação da Turma Recursal dos juizados
especiais federais, sendo reformada nos termos do r. acórdão ora impugnado, no qual foi
reconhecida a prescrição do seguro-defeso biênio 2015/2016:
SEGURO DESEMPREGO. PESCADOR ARTESANAL.
PERÍODO DE DEFESO. BIÊNIO 2015/2016. SUSPENSÃO
DO PRAZO PRESCRICIONAL DA PRETENSÃO DO
SEGURO DEFESO PELAS ADI 5447 E ADPF 389.
INOCORRÊNCIA. PRESCRIÇÃO RECONHECIDA.
RECURSO PROVIDO. SENTENÇA REFORMADA. (...)
10. Logo, ainda que se considerasse a suspensão
do prazo prescricional, tal suspensão ocorreu
somente entre a data da publicação da portaria
interministerial n°. 192 de 05/10/2015 e a data
da decisão que revogou a decisão cautelar na ADI
acima citada, ou seja, 11/03/2016, data a partir
da qual começaria a contar a prescrição, o que,
mesmo assim, seria suficiente para a pretensão
ser fulminada pela prescrição.
11. Recurso do INSS provido para reconhecer a
prescrição da pretensão deduzida em juízo. (...)
Agora, caso entenda o Excelso Tribunal, pela impossibilidade da aplicação dos termos
alhures descritos, que nada mais são do que a narrativa processual percorrida pelos Pescadores
Artesanais, Via Crucis, que seja então considerado como marco prescricional do SDPA 2015/2016 a
data da assinatura do Termo de Conciliação nº 01/2022/CCAF/CGU/AGU-JDS-JRP, qual seja,
27/10/2022, no intuito de se declarar a interrupção do prazo prescricional.
O instituto da prescrição relaciona-se com as diferenças que podem ser exigidas no caso
de eventual acolhimento de um benefício previdenciário, por isso, o decurso do tempo pode
acarretar efeitos faraônicos à relação jurídica, atingindo o Segurado onde mais fere seu íntimo - a
dignidade, refletindo sobremaneira em seu bolso.
Só que não!
Continuando a abordagem pela seara judicial, aqui, tem-se outro marco de causa de
suspensão e interrupção de prescrição, quais sejam, a ADI 5442 e a ADPF 389. A interrupção da
prescrição se opera com a citação válida. Com efeito, o reinício da contagem prescricional se dá a
partir do trânsito em julgado:
7. Destarte, o prazo prescricional, interrompido pela citação
válida, somente reinicia o seu curso após o trânsito em julgado
do processo extinto sem julgamento do mérito.
Nesse momento, nos é lembrado que além da suspensão tem-se também o fenômeno da
interrupção do prazo prescricional, que passa-se a pontuar com mais ênfase no intuito de sustentar o
corpo argumentativo – (posição jurisprudencial do TRF4 no sentido de reconhecer a citação válida
em ação civil pública movida pelo MPF, causa idônea de operar a interrupção da prescrição - TRF
4, Turma Suplementar, AC 2006.71.00.020585-6, Rel Ricardo Teixeira do Valle Pereira, DJ
23.11.2007).
Pois muito bem, vê-se que no Julgamento do Acórdão que o voto da Relatora não ecoou
em unanimidade, encontrou resistência. E, arrisca-se em argumentar que o que tenta a Nobre
Relatora em sede de prescrição é colocar suspensão e interrupção como institutos iguais, o que não
o são. No Direito do Trabalho, por exemplo, a Suspensão é a paralisação temporária dos serviços,
sendo que o empregado não recebe salários e não há contagem de tempo de serviço. Já a
Interrupção ocorre quando a empresa continua pagando salários ao empregado e o tempo inativo
conta como tempo de serviço. Logo, são coisas diferentes.
Sabe-se que qualquer ato do devedor (no caso em testilha - a Fazenda Pública) que
implique reconhecimento de direito material constitui causa de interrupção da prescrição - latente
essa assertiva frente ao Termo de Conciliação n° 012/2022/CCAF/CGU/AGU-JDS-JRP firmado em
27/10/2022 - que estabelece proposta de Acordo para pagamento de Seguro-Desemprego do
Pescador Artesanal ciclo 2015/2016 - Vê-se, nesse Termo de Conciliação, que todas as Instituições
envolvidas acordam sobre o pagamento e que, nenhuma refuta o contrário (Instituto da Novação
inteligência do Código Civil, que significa transformar uma obrigação em outra). O que fica latente
A partir de 22/11/2022 quando passa a vigorar a Portaria PRES/INSS Nº 1525, que disciplina o
fluxo de pagamento dos requerimentos de Seguro Desemprego do Pescador Artesanal suspensos
pela Portaria Interministerial nº 192, de 5 de outubro de 2015.
Ora, se os Atores dessa relação, que representam as instituições estatais, que tem por
dever a garantia do cumprimento das leis e da proteção dos direitos, que firmaram suas vontades
nesse Termo de Conciliação que motivou a Portaria PRES/INSS Nº 1525, que disciplina o fluxo de
pagamento dos requerimentos de Seguro Desemprego do Pescador Artesanal suspensos pela
Portaria Interministerial nº 192 de 2015, usaram desses preciosos tempos para ludibriar, enganar,
burlar, lograr, mentir, para essa fatia de trabalhadores, para toda uma sociedade, é causa suficiente
de pânico motivadora do caos, instigadora de uma comoção tão aguda, que arriscaria até a cogitar
numa possível revolta, com algum tipo de externação extrema. Não falo aqui de violência contra
terceiros, mas de incredulidade em toda atuação estatal que se sustentou e sustenta todo o
ordenamento juridico brasileiro. Seria usar todo o poder da máquina estatal para garantir a
legitimidade de sua vontade mais egoísta, de se apropriar descaradamente dos valores que esses
pescadores tem por direito de receber o que lhe é devido.
Não. Não acredito que tenha sido essa a motivação das vontades firmadas acima. A
recusa a essa hipótese, por ser ela tão vil, leviana, e imoral, faz a causídica se virar e olhar para o
outro lado, onde o Poder Público tem compromisso com seus jurisdicionados, vinculação com a
Legalidade, prima pela Moralidade, busca sempre a Eficiência, associada a dirimir conflitos e a
entregar a Igualdade na medida das suas proporcionalidades.
Não há razão de ser os termos alhures firmados se não fosse para serem cumpridos,
honrados. Afinal, o tempo “deles” (longa manus do Estado - AGU/SGCT/DCC/CCAF/INSS) haja
contra o próprio Estado, quando viola regramentos basilares referentes a direitos e garantias
fundamentais.
A máxima de que quanto mais simples a pessoa, mais fé empresta as ações do Estado,
traz uma perspectiva constitucional ao caso que remete aos princípios administrativos de
moralidade, legalidade e eficiência - de relevância acentuada quando a relação da Administração se
dá com pessoas vulneráveis e desprovidas de informações necessárias para buscarem a satisfação de
direito que lhes assegure a subsistência digna.
De modo, que toda a conduta, postura do INSS é ininteligível. Ou será, nós, outros,
meros mortais, que de tão ingênuos sejamos cegos e tolos.
Repita-se; o INSS, não pode exigir judicialmente aquilo que espontaneamente assegura
na via administrativa, porque esse comportamento implicaria violação à igualdade, como já teve a
oportunidade de expressar o STJ, por meio de relevantes precedentes:
Segundo firme orientação do Superior Tribunal de Justiça, o titular do direito
subjetivo que se desvia do sentido teleológico (finalidade ou função social) da norma que lhe
ampara (excedendo aos limites do razoável) e, após ter produzido em outrem uma
determinada expectativa, contradiz seu próprio comportamento, incorre em abuso de direito
encartado na máxima nemo potest venire contra factum proprium.
É inadmissível que, em determinada ação judicial, o Poder Público exija o que não
demanda administrativamente em geral, pois tal constituiria uma atitude incoerente e abusiva da
confiança de outrem, comportamento contraditório, vedado pelo Direito, e não admitido no âmbito
do processo judicial. Violação evidente da boa-fé-objetiva, o ente previdenciário está se voltando,
em juízo, contra fato próprio – e de modo a contrariar também o princípio da impessoalidade
administrativa (CF/88, art, 37). Senão vejamos:
Ocorre que o julgamento final da ADI nº 5.447 e da ADPF nº 389 se deu em sessão
virtual realizada de 15 a 21/05/2020, na qual o Supremo Tribunal Federal decidiu por julgar
improcedente a ADI nº 5.447, nos termos do voto do Relator Ministro Luís Roberto Barroso. Na
mesma sessão, foi proferido julgamento conjunto da ADPF nº 389, reconhecendo como procedente
o pedido para declarar a inconstitucionalidade da Portaria Interministerial nº 192/2015. Ora, se não
fosse para entregar aos pescadores artesanais o que lhe era devido, ou seja, o valor correspondente
ao Seguro Desemprego 2015/2016, então, de que serviu toda a discussão no Supremo Tribunal?
Como se vê, ainda que se considere a suposta prescrição suscitada pela Relatora, a
própria Autarquia percebera a ilegalidade do seu procedimento e o dano causado aos segurados,
uma vez que não se opôs ao pagamento do seguro-defeso biênio 2015/2016 e firmou acordo com a
União e a entidade nacional representante dos pescadores.
Dessa maneira, é esdrúxulo considerar prescrito um crédito cujo acordo para pagamento
foi firmado no ano de 2022. Aqui, se faz necessário trazer à tona a natureza jurídica da prescrição,
decadência e preclusão.
Nesse diapasão, vê-se que no relativo à autotutela administrativa, não se amolda nem o
instituto da prescrição, nem o da preclusão, mas sim o da decadência, já que à Administração
Pública é conferido, diferente do particular, o poder de rever seus próprios atos sem que necessite,
para isso, bater às portas do Judiciário. Diz Alexandre de Moraes:
DA LITIGÂNCIA DE MÁ FÉ
Insiste o INSS em negar o direito e resistir ao cumprimento da obrigação alegando em
preliminar e em mérito a prescrição.
Sustentar a autarquia resistência fundada na prescrição que é matéria superada por ela
própria em assinatura de Termo de Acordo Extrajudicial, é abalar toda a estrutura principiológica
que sustenta o Direito Administrativo e toda a ordem jurídica.
Afastar a força da vontade voluntária entre as partes em prol da sua própria torpeza é no
mínimo insano, mas para a Administração Pública é ato CRIMINOSO.
Como se confiar que o ente público, seja ele qual for, que cumprirá com um
compromisso que voluntariamente se comprometeu a honrar?
Ao final;