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(e-STJ Fl.

329)

Superior Tribunal de Justiça


RECURSO ESPECIAL Nº 1.713.823 - SE (2015/0006305-0)

RELATOR : MINISTRO MARCO BUZZI


RECORRENTE : RIVEX HOTEIS TURISMO LTDA
ADVOGADOS : ANDRÉ SILVA VIEIRA - SE002663
MANUELA MOTTA MOURA DA FONTE E OUTRO(S) -
PE020397
LUCAS DE HOLANDA CAVALCANTI CARVALHO E
OUTRO(S) - PE033670
RECORRIDO : EXPEDITA FERREIRA NUNES
ADVOGADOS : CÂNDIDO DORTAS DE ARAÚJO - SE005929
ALEX DANIEL BARRETO FERREIRA - SE009049

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO MARCO BUZZI (Relator): Cuida-se de recurso


especial interposto por RIVEX HOTÉIS TURISMO LTDA., com fulcro no artigo 105,
inciso III, alínea "a", da Constituição Federal, contra acórdão proferido pelo Tribunal
de Justiça do Estado de Sergipe.
Na origem, EXPEDITA FERREIRA NUNES ajuizou ação de obrigação de
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não fazer c/c pedido de reparação por danos morais em face de RIVEX HOTÉIS
TURISMO LTDA., em decorrência do uso do nome e imagem de seus pais -
Virgulino Ferreira (Lampião) e Maria Bonita - na publicidade da rede hoteleira Lemon
Motel, sem a sua devida autorização. Sustentou a autora que a empresa ré possui
diversas filiais em cidades do Nordeste brasileiro com a frase "Maria Bonita, acenda
o Lampião" e difundiu inúmeros anúncios publicitários com alusão ao casal, de
quem a autora é filha e única herdeira. Pleiteou, por fim, a condenação da requerida
na retirada de todo e qualquer material publicitário com exposição dos nomes e
imagem de "Lampião" e/ou "Maria Bonita", bem assim que não fossem mais
utilizados sem a devida autorização, além da condenação em danos morais na
sugerida quantia de R$ 80.000,00 (oitenta mil reais) e ao pagamento dos honorários
advocatícios.
Em sentença (fls. 102-105, e-STJ), o magistrado singular julgou
procedente a ação para condenar a demandada a retirar a frase "Maria Bonita,
acenda o Lampião" de suas propagandas e pagar à autora a quantia de R$
15.000,00 (quinze mil reais), a título de danos morais.
Inconformada, a recorrente interpôs recurso de apelação (fls. 106-117,
e-STJ), o qual fora conhecido e parcialmente provido pelo Tribunal a quo, tão
somente para reduzir o quantum indenizatório, nos termos da seguinte ementa (fl.
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(e-STJ Fl.330)

Superior Tribunal de Justiça


134, e-STJ):
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CIVIL. USO INDEVIDO DO NOME DOS
PAIS DA AUTORA (LAMPIÃO E MARIA BONITA) EM PROPAGANDA E
DIVULGAÇÃO DA MARCA DE MOTEL. FINS NITIDAMENTE
COMERCIAIS. POSSE INDEVIDA DO PATRIMÔNIO IMATERIAL DAS
LENDÁRIAS FIGURAS SERTANEJAS. MENÇÃO AOS NOMES DE
"LAMPIÃO" E "MARIA BONITA" NÃO SE ENQUADRA COMO
SIMPLÓRIA PROPAGAÇÃO DOS COSTUMES E FOLCLORES DO
NORDESTE, EM ESPECIAL PORQUE, SENDO O NOME E IMAGENS
ATRIBUTOS DA PERSONALIDADE - E NÃO PRODUÇÕES
INTELECTUAIS - AFASTADO ESTÁ O CONCEITO DE DOMÍNIO
PÚBLICO SOBRE OS MESMOS. DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA
SOBRE O TEMA. DEVER DE INDENIZAR. PEDIDO IMPROCEDÊNCIA
DO PLEITO INDENIZATÓRIO. REDUÇÃO DO QUANTUM
INDENIZATÓRIO. POSSIBILIDADE. RECURSO CONHECIDO E
PARCIALMENTE PROVIDO. UNÂNIME. - Reforma da sentença tão
somente para reduzir o valor dos danos morais para R$ 8.000,00 (oito mil
reais).

Nas razões do especial (fls. 153-171, e-STJ), a empresa recorrente


apontou violação aos artigos 17, 18, 186 e 927, todos do Código Civil e ao artigo 333
do CPC/73.
Sustentou, em síntese: a) a inexistência de violação ao direito ao nome e
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imagem alegados, pois não há clara referência aos pseudônimos de Virgulino


Ferreira da Silva e Maria Gomes de Oliveira no anúncio "Maria Bonita, ascenda o
Lampião"; b) inadequada a interpretação de que a referência publicitária faça
menção aos genitores da autora; c) os citados nomes estão atrelados à cultura
nordestina, integrados ao domínio público, razão pela qual não merecem a proteção
dada ao nome pela legislação, até porque foram utilizados para fins lícitos; d) a
impossibilidade de arbitramento de indenização, ante a ausência de comprovação
dos danos.
Não foram apresentadas contrarrazões, conforme certificado à fl. 188,
e-STJ.
Em juízo de admissibilidade (fls. 189-191, e-STJ), o Tribunal de origem
negou seguimento ao reclamo, dando ensejo na interposição do competente agravo
(art. 544, CPC/73), o qual fora desprovido por decisão monocrática desta relatoria
(fls. 230-232, e-STJ), em razão da incidência da Súmula 7/STJ.
No agravo regimental de fls. 235-254, e-STJ, a parte pleiteou o
afastamento do referido óbice, ao argumento de que a apreciação do apelo extremo
não demanda o revolvimento de matéria fático probatória, mas apenas a
requalificação jurídica dos fatos.

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(e-STJ Fl.331)

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Em decisão singular (fls. 259-260, e-STJ), deu-se provimento ao reclamo
para conhecer do agravo e determinar sua conversão em recurso especial para
melhor exame da controvérsia.
É o relatório.
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(e-STJ Fl.332)

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RECURSO ESPECIAL Nº 1.713.823 - SE (2015/0006305-0)

EMENTA

RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE NÃO


FAZER C/C PEDIDO CONDENATÓRIO -
RESPONSABILIDADE CIVIL - PRETENSÃO DE
COMPENSAÇÃO DE DANOS MORAIS EXPERIMENTADOS
EM VIRTUDE DO USO INDEVIDO DO NOME DOS PAIS DA
AUTORA "LAMPIÃO E MARIA BONITA" EM MATERIAL
PUBLICITÁRIO DE REDE HOTELEIRA - FINALIDADE
COMERCIAL - AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO -
INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS QUE JULGARAM
PROCEDENTE O PEDIDO PARA CONDENAR A
REQUERIDA AO PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS.
RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO.
Hipótese: aferir a existência, ou não, de violação ao direito
ao nome dos pais da autora, por parte da rede hoteleira, em
decorrência do uso em material publicitário da expressão
"Maria Bonita, ascenda o Lampião", com fins comerciais, sem
autorização para tanto.
1. No caso sub judice, os fatos são incontroversos nos autos,
portanto proceder a sua análise e o seu devido enquadramento
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no sistema normativo, a fim de obter determinada


consequência jurídica (procedência ou improcedência do
pedido), é tarefa compatível com a natureza excepcional do
recurso especial, a qual não se confunde com o reexame de
provas, desta forma, superado o óbice da Súmula 7/STJ.
2. O nome integra o rol dos direitos da personalidade e
consiste em um mecanismo de identificação da pessoa. O art.
18 do Código Civil prevê o direito ao uso exclusivo do próprio
nome e estabelece que "Sem autorização, não se pode usar o
nome alheio em propaganda comercial".
2.1. Ao pseudônimo são garantidos os mesmos atributos
inerentes aos direitos da personalidade assegurados ao nome.
Portanto, uma vez violado o direito ao uso exclusivo do
pseudônimo alheio, haverá o dever de indenizar.
2.2. O nome, como direito da personalidade que é, via de
consequência, é dotado de características inerentes a sua
natureza personalíssima, entre as quais, o reconhecimento de
que o nome civil da pessoa física é inexpropriável, portanto,
insuscetível de desapropriação pelo Poder Público, logo, não
cai em domínio público.
2.3. A chamada publicitária utilizada pela recorrente, se
contivesse nomes aleatórios e diversos dos personagens do
folclore nordestino, não teria a mesma repercussão e sequer o
apelo comercial pretendido. O uso dos nomes “Lampião e
Maria Bonita” se revelou fundamental para o sucesso da
propaganda.
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(e-STJ Fl.333)

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2.4. A utilização do nome da pessoa, com fins econômicos,
sem a sua autorização ou do sucessor, constitui ofensa a
direito personalíssimo e caracteriza locupletamento indevido, a
ensejar a devida reparação por danos morais.
3. Recurso especial desprovido.
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(e-STJ Fl.334)

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VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO MARCO BUZZI (Relator): A insurgência


recursal veiculada no apelo extremo não merece acolhimento.
Cinge-se a controvérsia em aferir a existência, ou não, de violação a
direito ao nome dos pais da autora - as conhecidas figuras do folclore nordestino
"Lampião e Maria Bonita" -, apta a gerar o direito à indenização por danos morais,
em decorrência da utilização por parte da recorrente de material publicitário
contendo a expressão "Maria Bonita, ascenda o Lampião", sem autorização para
tanto.
1. Inicialmente, afasta-se o óbice constante da Súmula 7 desta Corte, pois
não está a insurgente pleiteando a modificação da interpretação dos fatos ou provas
dos autos, tanto que não refuta o conteúdo da publicidade, tampouco a sua
utilização, mas apenas pretende seja conferida a adequada valoração jurídica à
conduta considerada pelas instâncias ordinárias como violadora ao direito do nome
alheio.
Valorar juridicamente a prova é aferir se, diante da legislação pertinente,
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um determinado meio probatório é apto para evidenciar algum fato ou relação


jurídica. Considerando que, na hipótese sub judice, o teor da publicidade é fato
incontroverso nos autos, proceder a sua análise e o seu devido enquadramento
no sistema normativo, a fim de se apurar a ocorrência de uma dada consequência
jurídica (procedência ou improcedência do pedido), é tarefa compatível com a
natureza excepcional do recurso especial, a qual não se confunde com o reexame
de provas.
Nessa linha de entendimento, destacam-se julgados deste Tribunal
Superior, nos quais foi procedida a análise do mérito e restou deliberado sobre a
existência de responsabilidade civil: REsp 1322264/AL, Rel. Ministro MARCO
BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 20/09/2018, DJe 28/09/2018; REsp
1520995/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA
TURMA, julgado em 13/06/2017, DJe 22/06/2017.
Inclusive, na hipótese, consta do acórdão recorrido a emissão de juízo de
valor a respeito do conteúdo publicitário em questão, cujo órgão julgador concluiu
expressamente que "a empresa recorrente utilizou, sem autorização para tanto, o
nome dos pais da autora - Lampião e Maria Bonita, com fins nitidamente comerciais"
(fl. 135, e-STJ) e que tal conduta representa posse indevida do patrimônio imaterial
das lendárias figuras nordestinas. O Tribunal a quo afastou, ainda, o conceito de
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(e-STJ Fl.335)

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domínio público sobre os referidos nomes, consignando que o nome e a imagem são
atributos da personalidade e não produções intelectuais (fl. 136, e-STJ), concluindo
pela caracterização de ato ilícito ensejador do dever de indenizar pelo uso de nome
alheio em relações negociais, sem autorização.
Desta forma, o suporte fático dos autos, conforme delineado no acórdão,
é incontroverso no sentido da utilização do nome dos pais da recorrente com fins
comerciais e sem autorização, por meio da publicidade com a expressão "Maria
Bonita, ascenda o Lampião", portanto, o inconformismo da recorrente reside nas
consequências jurídicas a que chegou o Tribunal a quo, providência esta que
dispensa a reapreciação do conjunto fático-probatório, revelando-se descabida a
incidência do óbice da Súmula 7 do STJ.
2. Afastado o referido enunciado sumular, para a solução da controvérsia
é necessário averiguar se a utilização de material publicitário com os dizeres "Maria
Bonita, ascenda o Lampião" pela rede hoteleira, ora recorrente, representa o uso
indevido do nome alheio e ofensa aos direitos da personalidade, a ensejar no direito
a reparação civil.
De início, antes de adentrar na referida discussão e analisar as teses
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expostas no apelo extremo, necessário tecer considerações sobre os direitos da


personalidade e a proteção jurídica dada ao nome pela legislação civil.
O Código Civil de 2002 dedicou um capítulo da sua parte geral aos
direitos da personalidade, elencando em rol exemplificativo aqueles que produzem
efeitos nas relações civis de forma mais constante, entre os quais está o direito ao
nome. Cuida-se de prerrogativas inerentes à pessoa, que devem ser tuteladas pelo
direito e estão compreendidas no núcleo essencial da dignidade e concretizam o
princípio constitucional da dignidade da pessoa humana na esfera civil.
Em que pese a inserção constitucional dos direitos da personalidade, a
sua natureza não patrimonial levou a permanência na seara civilista do direito. Daí a
compreensão de que a violação desse grupo de direitos deve se enquadrar no
âmbito dos danos e, especificamente, dos danos extrapatrimoniais ou morais.
Ao tratar dos direitos da personalidade e dos danos morais como
institutos jurídicos, Paulo Lôbo destaca que "Ambos têm por objeto bens jurídicos
integrantes da interioridade da pessoa, ou seja, tudo aquilo que é inerente à pessoa
e deve ser tutelado pelo direito." (LÔBO, Paulo - Direito Civil: parte geral. Vol 1. 8.
ed. São Paulo: Saraiva, 2019. p. 148).
Trata-se de uma categoria de direitos em constante evolução, essenciais

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(e-STJ Fl.336)

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à pessoa humana, com vista a assegurar a sua própria dignidade.
A relação entre os direitos personalíssimos e o princípio constitucional da
dignidade humana, deu ensejo ao Enunciado n. 274 da IV Jornada de Direito Civil
do Conselho da Justiça Federal, a saber:

Os direitos da personalidade, regulados de maneira não-exaustiva pelo


Código Civil, são expressões da cláusula geral de tutela da pessoa humana,
contida no art. 1º, inciso III, da Constituição (princípio da dignidade da
pessoa humana). Em caso de colisão entre eles, como nenhum pode
sobrelevar os demais, deve-se aplicar a técnica da ponderação.

Os direitos da personalidade são absolutos, isto é, possuem eficácia erga


omnes, impondo-se à coletividade e aos particulares individualmente considerados
o dever de respeitá-los. Trata-se de um verdadeiro dever geral de abstenção dirigido
a todos, cuja utilização por terceiros exige a autorização expressa do seu titular, sob
pena de ensejar no dever de indenizar pelos danos causados.
O direito ao nome, objeto da presente controvérsia, integra o rol dos
direitos da personalidade e consiste em um mecanismo de identificação da pessoa.
Por essas razões, segundo lição de Nelson Nery Junior, é considerado direito
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fundamental, derivado diretamente do princípio constitucional da dignidade da


pessoa humana. (NERY JUNIOR; NERY, Rosa Maria de Andrade - Código Civil
Comentado. 13. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2019. p. 222).
A proteção jurídica do nome está consagrada nos artigos 17 e 18 do
Código Civil. O primeiro determina que "O nome da pessoa não pode ser empregado
por outrem em publicações ou representações que a exponham ao desprezo
público, ainda quando não haja intenção difamatória". O segundo, orientador da
controvérsia estabelecida nestes autos, preceitua que "Sem autorização, não se
pode usar o nome alheio em propaganda comercial".
Destaca-se, no ponto, que o caso ora em debate trata do nome civil, cujo
direito visa proteger a identidade da pessoa, com o atributo da não patrimonialidade,
diferente da tutela jurídica dada ao nome comercial (com conteúdo empresarial,
portanto, patrimonial).
O bem lançado acórdão recorrido, que manteve os termos da sentença
quanto à procedência do pedido inicial, assentou-se precisamente nos mencionados
dispositivos legais, em face do uso não autorizado do nome dos pais da ora
recorrida pela rede hoteleira, com fins comerciais.
Ao contrário do alegado nas razões do apelo extremo, in casu, não houve

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(e-STJ Fl.337)

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vulneração aos artigos 17 e 18 do Código Civil, mas sim a sua efetiva aplicabilidade
pelas instâncias ordinárias ao caso concreto.
O nome atribuído à pessoa, nas palavras de Sílvio de Salvo Venosa, "é
um dos principais direitos incluídos na categoria dos direitos personalíssimos ou da
personalidade", cuja importância situa-se no mesmo plano do seu estado, da
capacidade civil e dos demais direitos inerentes à personalidade. (VENOSA, Sílvio
de Salvo - Direito Civil: parte geral. Vol. 1. 20. ed. São Paulo: Atlas, 2020. p. 196).
A disciplina jurídica do nome assegura ao indivíduo, além do direito de ter
um nome e a faculdade de alterá-lo nas hipóteses admitidas pela lei, a prerrogativa
de impedir o seu uso indevido por terceiros.
O direito ao uso exclusivo do próprio nome visa proteger o seu uso sem
autorização do titular, em propaganda comercial. Trata-se da hipótese corriqueira em
que empresas, para fazer publicidade de seus produtos, se utilizam do nome de
pessoas famosas ou conhecidas, visando maior atenção do público e notoriedade
da marca. A prática não é vedada, desde que haja a autorização do detentor do
direito ao nome.
Nos termos da lei civil, "só é possível utilizar o nome de alguém na
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publicidade de determinado produto ou em determinada campanha se houver


autorização do seu titular" (OLIVEIRA, J. M. Leoni Lopes de - Direito Civil Parte
Geral. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018. p. 201).
Na mesma linha, preconiza o Enunciado n. 278 da IV Jornada de Direito
Civil do Conselho da Justiça Federal, a saber: “A publicidade que divulgar, sem
autorização, qualidades inerentes a determinada pessoa, ainda que sem mencionar
seu nome, mas sendo capaz de identificá-la, constitui violação a direito da
personalidade”.
Sobre o tema, a lição de Nelson Nery Junior, para quem o uso do nome
alheio em propaganda comercial depende de prévia e expressa autorização do seu
titular:
A publicidade comercial só pode veicular nome de pessoa física ou jurídica,
bem como marca, se houver expressa autorização do titular do direito. A
exploração econômica do nome alheio não pode ser feita sem que o
proveito possa reverter em favor do titular do nome ou da marca. (NERY
JUNIOR; NERY, Rosa Maria de Andrade - Código Civil Comentado. 13. ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2019. p. 222).

Tem-se, portanto, que o uso do nome alheio em propaganda comercial


depende de autorização do seu titular, sob pena de ofensa aos direitos da

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(e-STJ Fl.338)

Superior Tribunal de Justiça


personalidade.
A proteção jurídica do nome, como direito da personalidade que é, se
estende, também, para além da morte do indivíduo.
O Código Civil brasileiro (art. 12) prevê a legitimação dos parentes em
linha reta ou colaterais até o quarto grau para exigir que cesse a lesão ou ameaça ao
direito da personalidade do falecido e, também, os autoriza a pleitear indenização
decorrente da sua violação. O parágrafo único do art. 20 da lei civil acrescenta: "Em
se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa
proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes".
Admite-se, portanto, a proteção contra a ofensa aos direitos da
personalidade mesmo após a morte da pessoa. Nessa mesma linha, precedentes
desta Corte: REsp 1693718/RJ, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE,
TERCEIRA TURMA, julgado em 26/03/2019, DJe 04/04/2019; REsp 1209474/SP,
Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em
10/09/2013, DJe 23/09/2013.
A tutela post mortem consiste "na proteção concedida ao direito que os
familiares têm de exigir o respeito pelo descanso e pela memória de seus mortos"
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(VASCONCELOS, Pedro Pais de - Direito de Personalidade. Coimbra: Edições


Almedinas, 2019. p. 120), trata-se do direito subjetivo de personalidade que os
herdeiros têm a que seus familiares falecidos sejam respeitados.
É exatamente como ocorre no caso dos autos, cuja pretensão de
indenização pela violação ao uso do nome das conhecidas figuras Lampião e Maria
Bonita, se deu pela filha e herdeira do casal já falecido.
2.1. Não prospera, outrossim, a alegação da parte recorrente no sentido
da impossibilidade de atribuir aos pseudônimos a mesma proteção dada ao nome.
A lei civil estende a referida proteção (art. 19, CC) ao pseudônimo
adotado para atividades lícitas, aqui incluídos os apelidos, isto é, o nome pelo qual o
indivíduo passa a ser chamado ou conhecido perante a sociedade. No ponto, a
norma visa a proteção do pseudônimo de uma pessoa, permitindo o pedido de
indenização caso ocorra o uso indevido.
Nas lições de José Miguel Medina, "O pseudônimo representa legítima
expressão da personalidade do sujeito de direito e permite sua identificação no meio
social, em muitas situações, com maior expressão do que o próprio nome."
(MEDINA, José Miguel; ARAÚJO, Fábio Caldas de - Código Civil Comentado. 3. ed.
São Paulo, Revista dos Tribunais, 2020. p. 82).

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(e-STJ Fl.339)

Superior Tribunal de Justiça


O pseudônimo, não raras as vezes, está tão ligado à pessoa que adere a
sua personalidade, daí a justificativa para a proteção legal idêntica àquela conferida
ao nome.
Ao tratar da questão envolvendo a proteção jurídica ao pseudônimo, esta
eg. Quarta Turma, no julgamento do Recurso Especial n. 678.497/RJ, de relatoria do
eminente Ministro Raul Araújo, julgado em 20/02/2014, concluiu que "Para
pseudônimo, apelido notório e nome artístico singular ou coletivo são assegurados
atributos protetivos inerentes à personalidade".
Colhe-se do referido acórdão, lições extraídas da doutrina no sentido de
que o nome deve ser protegido como direito da personalidade e que "A mesma
proteção também deve ser atribuída aos pseudônimos ou apelidos notoriamente
conhecidos, bem como aos nomes artísticos, na medida em que essas expressões
passam a identificar a própria pessoa, gozando da mesma importância do nome
civil." (TOMAZETTE, Marlon - Curso de Direito Empresarial. Vol. 1. 2. ed. São Paulo:
Atlas, 2009).
A respeito da matéria, Flávio Tarturce enfatiza que "A repercussão
marcante que o pseudônimo pode assumir no meio social justifica lhe seja
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reservada proteção legal idêntica àquela do nome." (TARTUCE, Flávio - Código


Civil Comentado. Rio de Janeiro: Forense, 2019).
Ao contrário do sustentado pela recorrente, ao pseudônimo são
garantidos os mesmos atributos inerentes aos direitos da personalidade
assegurados ao nome. Portanto, "A utilização de pseudônimo notório sem
autorização do legítimo titular implica perdas e danos." (NERY JUNIOR; NERY,
Rosa Maria de Andrade - Código Civil Comentado. 13. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2019. p. 224).
Desta forma, havendo violação ao direito ao uso exclusivo do
pseudônimo alheio, daí decorre o dever de indenizar.
2.2. Relativamente à apontada tese de que os pseudônimos Lampião e
Maria bonita estariam integrados ao domínio público, igualmente não prospera a
irresignação.
Os direitos da personalidade são indisponíveis e intransmissíveis. E
justamente por conta de tais atributos é que esses direitos "não estão submetidos à
desapropriação do Poder Público", logo, não podem cair em domínio público ou
coletivo (CARNACCHIONI, Daniel Eduardo - Curso de Direito Civil, Parte Geral. 4.
ed. São Paulo, Revista dos Tribunais, 2014. p. 202-203).

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(e-STJ Fl.340)

Superior Tribunal de Justiça


A titularidade dos direitos da personalidade é única e exclusiva,
intransmissível a terceiros e em razão disso, nas lições de Paulo Lôbo, "O Poder
Público não pode desapropriar qualquer direito da personalidade, porque este não
pode ser de domínio público ou coletivo." (LÔBO, Paulo - Direito Civil: parte geral.
Vol 1. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2019).
O órgão julgador andou bem ao afastar as alegações da recorrente no
sentido de que a menção aos nomes Lampião e Maria Bonita no material publicitário
consistiria em "simplória propagação dos costumes e folclores do Nordeste". Isso
porque, sendo o nome e a imagem atributos dos direitos da personalidade - e não
produções intelectuais -, portanto indisponíveis e intransmissíveis, afastado está o
conceito de domínio público sobre os mesmos.
Ressalta-se a inviabilidade, no caso sub judice, de se aplicar as normas
que regulamentam os direitos autorais (Lei 9.610/98), estabelecidas para proteger
uma criação literária durante um período e que, portanto, cai em domínio público com
o decurso do tempo. Isso porque, ao contrário dos direitos da personalidade, os
direitos autorais são essencialmente patrimoniais.
Os direitos personalíssimos incidem sobre bens imateriais, logo, não
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possuem conteúdo econômico direto e imediato.


Sobre o tema, esclarece Sílvio de Salvo Venosa:
Diferem dos direitos patrimoniais porque o sentido econômico desses
direitos [da personalidade] é absolutamente secundário e somente aflorará
quando transgredidos: tratar-se-á, então, de pedido substitutivo, seja, uma
reparação pecuniária indenizatória pela violação do direito, que nunca se
colocará no mesmo patamar do direito violentado. Os danos que decorrem
da violação desses direitos possuem caráter moral. Os danos patrimoniais
que eventualmente podem decorrer são de nível secundário. (VENOSA,
Sílvio de Salvo - Direito Civil: parte geral. Vol. 1. 20. ed. São Paulo: Atlas,
2020. p. 176)

O caráter extrapatrimonial, portanto, impede a apreciação econômica dos


direitos da personalidade, ainda que a lesão possa produzir consequências
monetárias, como a indenização por dano moral, caso em que será secundária.
Nesse sentido, são as lições de Daniel Eduardo Carnacchioni, Nelson Rosenvald,
Cristiano Chaves e Sílvio de Salvo Venosa.
Desta forma, diante da natureza e caraterísticas diversas, os direitos
autorais e os direitos da personalidade possuem tratamento jurídico distinto, os
primeiros regulados por lei especial (Lei 9.610/98) e os segundos sujeitos à
legislação civil.

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(e-STJ Fl.341)

Superior Tribunal de Justiça


A presente demanda, por sua vez, não trata de proteção à obra intelectual
de direito de autor, mas se restringe à indenização pelo uso indevido do
nome/pseudômino alheio, o qual integra a esfera dos direitos da personalidade,
regulados pelo Código Civil e assegurados pela Constituição Federal, razão pela
qual não há falar em domínio público, notadamente por se tratar de direito inerente à
pessoa.
Segundo ensinamentos de Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves (Curso
de Direito Civil: Parte Geral e LINDB. 15. ed. Salvador: JusPodivm, 2017. p.
295-296), o nome está emoldurado como direito da personalidade e, via de
consequência, é dotado de características inerentes a sua natureza personalíssima,
entre as quais, o reconhecimento de que o nome civil da pessoa física é
inexpropriável, portanto, insuscetível de desapropriação pelo Poder Público.
Afasta-se, portanto, a tese recursal de que o uso do nome dos pais da
autora - Lampião e Maria Bonita - pela rede hoteleira seria legítimo por ter caído em
domínio público.
2.3. Acresça-se, ainda, a bem lançada fundamentação da sentença, no
ponto conclusivo de que "A criativa propaganda, se dissociada dos pseudônimos e
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personagens acima referidos, não teria a graça e repercussão desejada. E daí a


exata noção de que foi proveitosa e rendeu lucros e fama à requerida." (fl. 104,
e-STJ), circunstâncias estas que demonstram a presença dos requisitos ensejadores
do dever de indenizar.
É certo que, a chamada publicitária em questão, se contivesse nomes
aleatórios e diversos dos personagens do folclore nordestino, não teria a mesma
repercussão perante a clientela da recorrente e sequer o apelo comercial pretendido.
O que se pretende dizer é que, na hipótese, o uso dos nomes dos pais da recorrida,
sem dúvidas, foi imprescindível para o sucesso da propaganda.
Em situação análoga, envolvendo a proteção do "direito à imagem" dos
pais da autora - o casal Lampião e Maria Bonita -, esta Corte assim se pronunciou:
RESPONSABILIDADE CIVIL. USO INDEVIDO DA IMAGEM.
DIVULGAÇÃO, EM REVISTA DE EXPRESSIVA CIRCULAÇÃO, DE
PROPAGANDA COMERCIAL CONTENDO AS FOTOS DO
CONHECIDO CASAL "LAMPIÃO" E "MARIA BONITA". FALTA DE
AUTORIZAÇÃO FINALIDADE COMERCIAL. REPARAÇÃO DEVIDA.
- A utilização da imagem da pessoa, com fins econômicos, sem a sua
autorização ou do sucessor, constitui locupletamento indevido, a
ensejar a devida reparação. [...] Recurso especial não conhecido.
(REsp 86.109/SP, Rel. Ministro BARROS MONTEIRO, QUARTA TURMA,
julgado em 28/06/2001, DJ 01/10/2001, p. 219) [grifou-se]

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(e-STJ Fl.342)

Superior Tribunal de Justiça


Os direitos à imagem (art. 20, CC) e ao nome (art. 16, CC), embora não se
confundam, integram o rol dos direitos da personalidade estabelecido pela
legislação civil, portanto merecem o mesmo tratamento jurídico e igual proteção no
campo da responsabilidade pelos danos decorrentes da sua violação.
A propósito, está sedimentado na Súmula 403 do STJ que "Independe de
prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada de imagem de
pessoa com fins econômicos ou comerciais.".
Sobre o tema, a Terceira Turma desta Corte, aplicando por analogia o teor
da Súmula 403 do STJ, decidiu no sentido de que, em caso de uso indevido do
nome da pessoa com intuito comercial, o dano moral é in re ipsa. (AgInt no AREsp
880.008/SC, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA TURMA,
julgado em 16/08/2016, DJe 26/08/2016).
In casu, valeu-se a demandada do nome dos pais da autora sem colher a
necessária e prévia autorização e, sem dúvida, tirou proveito indevido à custa dos
direitos da personalidade de outrem.
Na linha de entendimento desta Corte, portanto, a utilização do nome da
pessoa sem a devida autorização, com fins econômicos, como fez a recorrente,
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constitui locupletamento indevido ensejador do dever de indenizar.


Conforme concluíram as instâncias ordinárias, prospera a indenização
pretendida, por se revelar inegável a utilização do uso do nome dos pais da autora -
Lampião e Maria Bonita - sem autorização, pela empresa ora recorrente, para fins
nitidamente comerciais.
Desta forma, mantém-se o acórdão quanto ao dever de indenizar pelos
danos morais perseguidos na presente demanda.
Por fim, tendo em vista que não houve insurgência nas razões do apelo
extremo quanto ao valor da indenização arbitrada pelo Tribunal a quo, tampouco
recurso da parte adversa, permanece inalterado o quantum indenizatório fixado no
acórdão (R$ 8.000,00 - oito mil reais).
3. Do exposto, nego provimento ao recurso especial.
É como voto.

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