Você está na página 1de 5

(e-STJ Fl.

92)

HABEAS CORPUS Nº 816973 - MG (2023/0128542-3)

RELATOR : MINISTRO ANTONIO SALDANHA PALHEIRO


IMPETRANTE : ANA BEATRIZ DA SILVA GOMES
ADVOGADO : ANA BEATRIZ DA SILVA GOMES - MG188826
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS
PACIENTE : GLAUBER ARAUJO NUNES (PRESO)
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

DECISÃO

Trata-se de habeas corpus com pedido liminar impetrado em favor de


GLAUBER ARAUJO NUNES no qual se aponta como autoridade coatora o TRIBUNAL
DE JUSTIÇA DE MINAS GERAIS (Apelação n. 1.0188.15.001150-3/001).

Os autos dão conta de que o paciente foi condenado, por infração ao art. 16,
IV, da Lei 10.826/2003, c/c o art. 65, III, "d", c/c o art. 61, I, do Código Penal, à pena de
Documento eletrônico juntado ao processo em 19/05/2023 às 20:00:16 pelo usuário: SISTEMA JUSTIÇA - SERVIÇOS AUTOMÁTICOS

3 (três) anos de reclusão e 10 (dez) dias-multa, em regime fechado (e-STJ fl. 16).

O Tribunal de origem negou provimento ao recurso de apelação da defesa,


nos termos da ementa de e-STJ fl. 10:
EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL - PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO
DE USO RESTRITO - MATERIALIDADE EAUTORIA DELITIVAS
INCONTROVERSAS - SEMI-IMPUTABILIDADE RECONHECIDA -
DISCUSSÃO SOBRE A FRAÇÃO UTILIZADA PARA A EFETIVAÇÃO DA
CONSEQUENTE REDUÇÃO DE PENA - RATIFICAÇÃO - REGIME
PRISIONAL IMPOSTO - MANUTENÇÃO DO FECHADO.
- Para a efetivação do que determina o art. 26, do Código Penal, deve-se
aferir o grau da perturbação mental do réu e, consequentemente, o quão
prejudicial isso seria à sua capacidade de entender o caráter ilícito do fato, e
de determinar-se conforme esse entendimento. Disso, portanto, decorre uma
análise de reprovabilidade da conduta, justificando, pois, a maior ou menor
diminuição da pena.
- Ratifica-se o regime prisional imposto, tendo em vista, sobretudo, os maus
antecedentes do réu que, inclusive, é reincidente.

Daí o presente writ, no qual a defesa pretendeu a revisão da fração de


redução da pena referente à minorante do art. 26 do CP.

Liminar indeferida (e-STJ fls. 33/34).

Informações prestadas.

Documento eletrônico VDA36835106 assinado eletronicamente nos termos do Art.1º §2º inciso III da Lei 11.419/2006
Signatário(a): ANTONIO SALDANHA PALHEIRO Assinado em: 19/05/2023 19:46:39
Publicação no DJe/STJ nº 3639 de 23/05/2023. Código de Controle do Documento: 3f46d478-fb8e-4603-b014-c42810031762
(e-STJ Fl.93)

O Ministério Público Federal manifestou-se pelo não conhecimento do


habeas corpus (e-STJ fls. 87/90).

É o relatório.

Decido.

O writ não merece conhecimento.

O Superior Tribunal de Justiça, de longa data, vem buscando fixar balizas


para a racionalização do uso do habeas corpus, visando a garantia não apenas do
curso natural das ações ou revisões criminais, mas da efetiva priorização do objeto
ínsito ao remédio heroico, qual seja, o de prevenir ou remediar lesão ou ameaça de
lesão ao direito de locomoção.

Nessa linha, esta Corte, em diversas ocasiões, já assentou a impossibilidade


de impetração de habeas corpus em substituição à revisão criminal, quando já
transitada em julgado a condenação do réu, posicionando-se no sentido de que "[n]ão
deve ser conhecido o writ que se volta contra acórdão condenatório já transitado em
julgado, manejado como substitutivo de revisão criminal, em hipótese na qual não
houve inauguração da competência desta Corte" (HC n. 730.555/SC, relator Ministro
Olindo Menezes, Desembargador Convocado do TRF 1ª Região, Sexta Turma, julgado
Documento eletrônico juntado ao processo em 19/05/2023 às 20:00:16 pelo usuário: SISTEMA JUSTIÇA - SERVIÇOS AUTOMÁTICOS

em 9/8/2022, DJe de 15/8/2022).

Nesse mesmo sentido, os seguintes precedentes:


AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. ROUBO DUPLAMENTE
MAJORADO TENTADO. INSURGÊNCIA CONTRA ACÓRDÃO
TRANSITADO EM JULGADO. MANEJO DO WRIT COMO REVISÃO
CRIMINAL. DESCABIMENTO. ILEGALIDADE FLAGRANTE NÃO
DEMONSTRADA. REPRIMENDA INFERIOR A QUATRO ANOS. PENA-
BASE FIXADA NO MÍNIMO LEGAL. REGIME MAIS GRAVOSO.
POSSIBILIDADE. GRAVIDADE CONCRETA DA CONDUTA EVIDENCIADA.
REFORMATIO IN PEJUS. NÃO OCORRÊNCIA. EFEITO DEVOLUTIVO
AMPLO DO RECURSO DE APELAÇÃO. BIS IN IDEM. SUPRESSÃO DE
INSTÂNCIA. PETIÇÃO INICIAL LIMINARMENTE INDEFERIDA. AGRAVO
REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. Não deve ser conhecido o writ que se volta contra acórdão já
transitada em julgado, manejado como substitutivo de revisão criminal,
em hipótese na qual não houve inauguração da competência desta
Corte. Precedentes da Quinta e Sexta Turmas do Superior Tribunal de
Justiça.
[...]
6. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no HC n. 751.156/SP, relatora Ministra Laurita Vaz, Sexta Turma,
julgado em 9/8/2022, DJe de 18/8/2022, grifei.)

AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS INDEFERIDO


LIMINARMENTE. TRÁFICO DE DROGAS. ACÓRDÃO TRANSITADO EM

Documento eletrônico VDA36835106 assinado eletronicamente nos termos do Art.1º §2º inciso III da Lei 11.419/2006
Signatário(a): ANTONIO SALDANHA PALHEIRO Assinado em: 19/05/2023 19:46:39
Publicação no DJe/STJ nº 3639 de 23/05/2023. Código de Controle do Documento: 3f46d478-fb8e-4603-b014-c42810031762
(e-STJ Fl.94)

JULGADO. DOSIMETRIA. SUBSTITUTIVO DE REVISÃO CRIMINAL. NÃO


INAUGURADA A COMPETÊNCIA DO STJ. INADMISSIBILIDADE.
AUMENTO DA PENA-BASE. ELEVADA QUANTIDADE DE DROGAS.
PROPORCIONALIDADE. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA DOS
FUNDAMENTOS DA DECISÃO AGRAVADA. SÚMULA 182/STJ.
Agravo regimental não conhecido.
(AgRg no HC n. 751.137/SP, relator Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta
Turma, julgado em 2/8/2022, DJe de 4/8/2022, grifei.)

No caso, a condenação do paciente transitou em julgado em 28/5/2021, de


maneira que não se deve conhecer do writ que pretende a desconstituição do acórdão
proferido pela Corte local, olvidando-se a parte de ajuizar a necessária revisão criminal
antes de inaugurar a competência desta Corte acerca da controvérsia.

Contudo, vislumbro ilegalidade flagrante apta a ser sanada na presente via,


ainda que mediante a eventual concessão de habeas corpus de ofício.

Acerca da controvérsia, assim consignou o Juízo de piso, no que foi


posteriormente confirmado pela Corte de origem (e-STJ fls. 15/16):
Em obediência aos artigos 59 e 68 do Código Penal passo à fixação
pena, fazendo-o com obediência ao critério trifásico.
Culpabilidade: inerente ao próprio tipo, não podendo ser considerada
desfavoravelmente a ré;
Documento eletrônico juntado ao processo em 19/05/2023 às 20:00:16 pelo usuário: SISTEMA JUSTIÇA - SERVIÇOS AUTOMÁTICOS

Antecedentes: o réu possui duas condenações penais transitadas em


julgado, pelo que uma será utilizada para configurar maus antecedentes
e a outra para efeitos de reincidência. Desta forma, essa circunstância
será desfavorável;
Conduta Social: o estudo da conduta social do acusado deve abranger a sua
situação nos diversos papéis desempenhados junto à comunidade, tais como
suas atividades relativas ao trabalho, à vida familiar, social, dentre outras. In
casu, poucos elementos foram coletados a respeitos da conduta social do
acusado, inexistindo qualqu indicação de que ela não seja boa filha, boa
trabalhadora ou não se insira na sociedade em que vive, não se podendo,
consequentemente, considerar como desfavorável a presente circunstância;
Personalidade: não poderá ser considerada em seu desfavor, já que as
informações existentes nos autos não são suficientes para uma análise
segura de mencionada circunstância;
Motivos do crime: são aqueles integrantes do tipo penal em questão;
Circunstâncias do crime: as circunstâncias do crime podem referir-se à
duração do delito, ao local do crime, à atitude durante ou após a conduta
criminosa, dentre outras. Na espécie, os fatos que circundaram o evento
delituoso não demonstram nada além do próprio crime;
Consequências do crime: inerentes ao próprio tipo;
Comportamento da vítima: não contribuiu para o evento delituoso.
Considerando a existência de uma circunstância judicial desfavorável, fixo a
pena base em 03 (três) anos e 03 (três) meses de reclusão e 11 (onze) dias-
multa.
Na segunda fase da dosimetria, compenso a atenuante da confissão
espontânea com a agravante da reincidência, pelo que mantenho a

Documento eletrônico VDA36835106 assinado eletronicamente nos termos do Art.1º §2º inciso III da Lei 11.419/2006
Signatário(a): ANTONIO SALDANHA PALHEIRO Assinado em: 19/05/2023 19:46:39
Publicação no DJe/STJ nº 3639 de 23/05/2023. Código de Controle do Documento: 3f46d478-fb8e-4603-b014-c42810031762
(e-STJ Fl.95)

reprimenda em 03 (três) anos e 03 (três) meses de reclusão e 11 (onze)


dias-multa.
Na terceira fase, aplico a causa de diminuição de pena prevista no
artigo 26, paragrafo único, reduzindo a pena para o mínimo legal, pelo
que CONCRETIZO a reprimenda em 03 (três) anos de reclusão e 10
(dez) dias-multa. Fica o dia multa estabelecido em 1/30 do salário-mínimo
vigente à época dos fatos, uma vez que não existem elementos nos autos
acerca da situação financeira e econômica do réu.
Considerando a reincidência, a pena ora aplicada deverá ser cumprida no
regime FECHADO. (Grifei.)

De fato, maiores incursões acerca da fração de diminuição de pena em vista


da minorante prevista no art. 26, parágrafo único, do Código Penal, demandaria amplo
revolvimento de material fático-probatório dos autos, desiderato incabível de ser
realizado nesta via diante de seus estreitos limites de cognição (v.g.: AgRg no HC n.
661.308/PR, relator Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, julgado em
11/5/2021, DJe de 14/5/2021).

Ocorre que a diminuição da pena em vista da presença da minorante contida


no art. 26, parágrafo único, do Código Penal possui o intervalo entre 1 a 2/3, senão
vejamos:
Inimputáveis
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou
Documento eletrônico juntado ao processo em 19/05/2023 às 20:00:16 pelo usuário: SISTEMA JUSTIÇA - SERVIÇOS AUTOMÁTICOS

desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou


da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento. (Redação dada pela Lei
n. 7.209, de 11.7.1984.)
Redução de pena
Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o
agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento
mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
(Redação dada pela Lei n. 7.209, de 11.7.1984, grifei.)

Dessarte, tendo sido aplicada na espécie a causa de redução, tem-se que a


reprimenda do paciente ficaria calculada, ainda que incidente o patamar mínimo de
redução e mantidos os demais termos do apenamento, em 2 anos, 2 meses e 7 dias
de reclusão, além de 7 dias-multa.

Assim sendo, é flagrante a ilegalidade aqui apontada, apta a ser sanada pela
concessão da ordem, ainda que de ofício.

Ante o exposto, não conheço do writ, mas concedo a ordem de ofício


para redimensionar a pena do paciente para 2 anos, 2 meses e 7 dias de reclusão,
além de 7 dias-multa, mantidos os demais termos da condenação.

Publique-se. Intimem-se.

Documento eletrônico VDA36835106 assinado eletronicamente nos termos do Art.1º §2º inciso III da Lei 11.419/2006
Signatário(a): ANTONIO SALDANHA PALHEIRO Assinado em: 19/05/2023 19:46:39
Publicação no DJe/STJ nº 3639 de 23/05/2023. Código de Controle do Documento: 3f46d478-fb8e-4603-b014-c42810031762
(e-STJ Fl.96)

Brasília, 19 de maio de 2023.

Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO


Relator
Documento eletrônico juntado ao processo em 19/05/2023 às 20:00:16 pelo usuário: SISTEMA JUSTIÇA - SERVIÇOS AUTOMÁTICOS

Documento eletrônico VDA36835106 assinado eletronicamente nos termos do Art.1º §2º inciso III da Lei 11.419/2006
Signatário(a): ANTONIO SALDANHA PALHEIRO Assinado em: 19/05/2023 19:46:39
Publicação no DJe/STJ nº 3639 de 23/05/2023. Código de Controle do Documento: 3f46d478-fb8e-4603-b014-c42810031762

Você também pode gostar