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(e-STJ Fl.

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HABEAS CORPUS Nº 783093 - MG (2022/0354962-5)

RELATOR : MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA


IMPETRANTE : ANA BEATRIZ DA SILVA GOMES
ADVOGADO : ANA BEATRIZ DA SILVA GOMES - MG188826
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS
PACIENTE : CELIO CARVALHO DE SOUZA (PRESO)
CORRÉU : JUAN CRISTIAN FRADE
CORRÉU : GENARO DOMINGOS DA COSTA NETO
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

DECISÃO

Trata-se de habeas corpus, sem pedido liminar, impetrado em favor de CELIO


CARVALHO DE SOUZA contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado
de Minas Gerais (Apelação n. 1.0231.17.010620-8/002).
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Consta dos autos que o paciente foi condenado, em primeiro grau de


jurisdição, à pena de 12 anos e 4 meses de reclusão, em regime inicial fechado, pela
prática do crime previsto no art. 121, § 2º, incisos II, III, e IV, c/c o 14, inciso II, ambos
do Código Penal (e-STJ fls. 28/31).

Irresignada, a defesa interpôs recurso de apelação, o qual foi desprovido (e-


STJ fls. 12/21), em acórdão assim ementado:
APELAÇÃO CRIMINAL — TRIBUNAL DO JÚRI — HOMICÍDIO
QUALIFICADO TENTADO — ALEGAÇÃO DE DECISÃO
MANIFESTAMENTE CONTRÁRIA À PROVA DOS AUTOS — NÃO
OCORRÊNCIA — CASSAÇÃO DO DECISUM POPULAR —
INVIABILIDADE — DOSIMETRIA — MITIGAÇÃO DA PENA-BASE E
AFASTAMENTO DA REINCIDÊNCIA — INVIABILIDADE — AUMENTO
DA FRAÇÃO REDUTORA DA TENTATIVA — DESCABIMENTO —
RECURSO DESPROVIDO. 1. Acolhendo os jurados uma das versões
possíveis para o caso, mais condizente com as provas que lhes foram
apresentadas (que demonstraram a presença de animus necandi e das
qualificadoras), impende manter o soberano juízo trazido pelo Júri Popular,
que não se revela arbitrário, escandaloso ou totalmente divorciado do
contexto probatório, sob pena de se negar vigência ao princípio
constitucional da soberania dos veredictos. 2. Considerando a relevância das
circunstâncias judiciais desfavoráveis ao réu impõe-se a manutenção da
reprimenda básica acima da menor prevista na cominação legal. 3. Tendo o
agente percorrido grande parte do iter criminis, aproximando-se da

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(e-STJ Fl.48)

consumação, a fração de diminuição relativa à tentativa deve ser mantida em


seu grau mínimo. 4. Recurso desprovido.

No presente mandamus (e-STJ fls. 2/21), a impetrante sustenta que o acórdão


impugnado impôs constrangimento ilegal ao paciente, pois manteve a exasperação
da pena-base, tal como fixada na sentença. Aduz que as três qualificadoras reconhecidas
pelo Conselho de Sentença foram utilizadas para exasperar a pena-base, incorrendo em
bis in idem. Além disso, afirma que as duas condenações definitivas do paciente foram
utilizadas para efeito de reincidência na segunda fase da dosimetria, não sendo possível
ponderá-las, concomitantemente, na primeira fase para efeito de maus antecedentes.

Ao final, pede a concessão da ordem para que a pena do paciente seja


reduzida.

É o relatório. Decido.

Inicialmente, o Superior Tribunal de Justiça, seguindo o entendimento firmado


pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, como forma de racionalizar o
emprego do habeas corpus e prestigiar o sistema recursal, não admite a sua impetração
em substituição ao recurso próprio.
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Cumpre analisar, contudo, em cada caso, a existência de ameaça ou coação à


liberdade de locomoção do paciente, em razão de manifesta ilegalidade, abuso de poder
ou teratologia na decisão impugnada, a ensejar a concessão da ordem de ofício. Nesse
sentido, a título de exemplo, confiram-se os seguintes precedentes: STF, HC n.
113.890/SP, Relatora Ministra ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 3/12/2013,
publicado em 28/2/2014; STJ, HC n. 287.417/MS, Relator Ministro SEBASTIÃO REIS
JÚNIOR, Quarta Turma, julgado em 20/3/2014, DJe 10/4/2014; e STJ, HC n.
283.802/SP, Relatora Ministra LAURITA VAZ, Quinta Turma, julgado em 26/8/2014,
DJe 4/9/2014.

Na espécie, embora a impetrante não tenha adotado a via processual adequada,


para que não haja prejuízo à defesa do paciente, passo à análise da pretensão formulada
na inicial, a fim de verificar a existência de eventual constrangimento ilegal.

Acerca do rito a ser adotado, as disposições previstas nos arts. 64, III, e 202 do
Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça não afastam do Relator a faculdade de
decidir liminarmente, em sede de habeas corpus e de recurso em habeas corpus, a
pretensão que se conforma com súmula ou a jurisprudência consolidada dos Tribunais
Superiores ou a contraria (AgRg no HC n. 513.993/RJ, Rel. Ministro JORGE MUSSI,

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(e-STJ Fl.49)

Quinta Turma, julgado em 25/6/2019, DJe 1º/7/2019; AgRg no HC n. 475.293/RS, Rel.


Ministro RIBEIRO DANTAS, Quinta Turma, julgado em 27/11/2018, DJe 3/12/2018;
AgRg no HC n. 499.838/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, Quinta Turma, julgado em
11/4/2019, DJe 22/4/2019; AgRg no HC n. 426.703/SP, Rel. Ministro RIBEIRO
DANTAS, Quinta Turma, julgado em 18/10/2018, DJe 23/10/2018; e AgRg no RHC n.
37.622/RN, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Sexta Turma,
julgado em 6/6/2013, DJe 14/6/2013).

Nesse diapasão, uma vez verificado que as matérias trazidas a debate por
meio do habeas corpus constituem objeto de jurisprudência consolidada neste Superior
Tribunal, não há nenhum óbice a que o Relator conceda a ordem liminarmente,
sobretudo ante a evidência de manifesto e grave constrangimento ilegal a que estava
sendo submetido o paciente, pois a concessão liminar da ordem de habeas corpus apenas
consagra a exigência de racionalização do processo decisório e de efetivação do próprio
princípio constitucional da razoável duração do processo, previsto no art. 5º, LXXVIII,
da Constituição Federal, o qual foi introduzido no ordenamento jurídico brasileiro pela
EC n.45/2004 com status de princípio fundamental (AgRg no HC n. 268.099/SP,
Relator Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Sexta Turma, julgado em 2/5/2013, DJe
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13/5/2013).

Na verdade, a ciência posterior do Parquet, longe de suplantar sua


prerrogativa institucional, homenageia o princípio da celeridade processual e inviabiliza
a tramitação de ações cujo desfecho, em princípio, já é conhecido (EDcl no AgRg no HC
n. 324.401/SP, Relator Ministro GURGEL DE FARIA, Quinta Turma, julgado em
2/2/2016, DJe 23/2/2016).

Em suma, para conferir maior celeridade aos habeas corpus e garantir a


efetividade das decisões judiciais que versam sobre o direito de locomoção, bem como
por se tratar de medida necessária para assegurar a viabilidade dos trabalhos das
Turmas que compõem a Terceira Seção, a jurisprudência desta Corte admite o
julgamento monocrático do writ antes da ouvida do Parquet em casos de jurisprudência
pacífica (AgRg no HC n. 514.048/RS, Relator Ministro RIBEIRO DANTAS, Quinta
Turma, julgado em 6/8/2019, DJe 13/8/2019).

Possível, assim, a análise do mérito da impetração, já nesta oportunidade.

Busca-se, em síntese, a redução das penas-base.

Como é cediço, a dosimetria da pena insere-se dentro de um juízo de

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(e-STJ Fl.50)

discricionariedade do julgador, atrelado às particularidades fáticas do caso concreto e


subjetivas do agente, somente passível de revisão por esta Corte no caso de inobservância
dos parâmetros legais ou de flagrante desproporcionalidade.

No caso, seguem os fundamentos apresentados pelo Juízo sentenciante para


dosar a pena do paciente (e-STJ fl. 29):
CELIO CARVALHO DE SOUZA
Na primeira fase da aplicação da pena, analisando as diretrizes fixadas
nos artigos 59 e 68 do Código Penal, tenho são que: o acusado é
plenamente culpável. Os antecedentes desfavoráveis. Quanto à sua
conduta motivos social e personalidade, não há informações. Os foi
fútil. Quanto às circunstâncias e consequências, o conselho de sentença
decidiu que o acusado por da meio cruel e mediante recurso que
dificultou a defesa vitima. A vitima não contribuiu para a prática
delitiva. Sendo assim, fixo-lhe a pena base em 16 (dezesseis) anos e 06
(seis) meses de reclusão.
Na segunda fase de aplicação da pena, não há atenuantes. Reconheço a
agravante da reincidência por duas vezes, elevando a pena em um ano
para cada reincidência. Fixo-lhe a pena intermediária em 18 (dezoito)
anos e 06 (seis) meses de reclusão.
Na terceira fase de aplicação da pena, não há causas diminuição ou
aumento de pena. Assim, fixo a pena definitiva reclusão. em 18
(dezoito) anos e 06 (seis) meses de reclusão.
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Considerando que o crime foi cometido na modalidade tentada e que o


acusado percorreu todo o iter criminis, não tendo o crime se
consumado em razão de má pontaria, reduzo a pena meses em 1/3. Fixo
a pena em 12 (doze) anos e 04 (quatro) de reclusão.

O Tribunal a quo manteve a pena fixada na sentença, conforme segue (e-STJ


fls. 19/20):
Adentrando a análise dosimétrica, verifico que a reprimenda não merece
qualquer reparo.
Na primeira fase, constato que a digna Sentenciante avaliou negativamente
algumas das circunstâncias do art. 59 do CP, quais sejam, os antecedentes, os
motivos, as circunstâncias e as consequências do delito, estabelecendo a
reprimenda básica em 16 (dezesseis) anos e 06 (seis) meses de reclusão.
E, de fato, a CAC de fls. 560/561 evidencia que Célio ostenta duas
condenações anteriores e definitivas, uma pelo crime de tráfico de drogas e a
outra pelo delito de porte ilegal de arma de fogo, sendo plenamente possível
reconhecer uma dessas condenações como maus antecedentes. Ademais, três
foram as qualificadoras reconhecidas pelos Jurados, sendo permitida a
consideração negativa de pelo menos duas para elevar a reprimenda na
primeira fase, além daquela usada para qualificar o crime. Outrossim, as
consequências, evidenciadas no laudo pericial já acima mencionado, denotam
a sua maior reprovabilidade.
Portanto, estando justa e bem dosada, mantenho a pena-base fixada na
origem.
Na segunda etapa, ausentes atenuantes, foi corretamente reconhecida a
agravante da reincidência, como já visto, elevando-se a pena intermediária
ao patamar de 18 (dezoito) anos e 06 (seis) meses de reclusão, o que não

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(e-STJ Fl.51)

merece reparo, especialmente porque a CAC de fls. 560/561 atesta,


inequivocamente, as condenações anteriores e definitivas do acusado.
Na terceira fase, não havendo causas de aumento, a redutora de pena da
tentativa incidiu em 1/3 (um terço), o que também não merece qualquer
ajuste.

Extrai-se das transcrições supra que parte dos fundamentos utilizados para
exasperar a pena-base são inidôneos.

Com efeito, na esteira dos argumentos constantes da petição inicial, o Juízo


sentenciante utilizou todas as três qualificadoras reconhecidas pelo Conselho de Sentença
para efeito de exasperar a pena-base, incorrendo em indevido bis in idem.

Afinal, a jurisprudência desta Corte é firme no sentido de ser possível a


utilização de circunstância qualificadora para exasperar a pena-base, desde que não seja
concomitantemente considerada para qualificar o crime.

A propósito:
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
HOMICÍDIO QUALIFICADO. DOSIMETRIA. PENA-BASE FIXADA ACIMA
DO MÍNIMO LEGAL. FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA.
QUALIFICADORAS UTILIZADAS, DE FORMA RESIDUAL, PARA
AGRAVAR A PENA. POSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE ERRO OU
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ILEGALIDADE. PENA APLICADA DIANTE DAS PECULIARIDADES DO


CASO CONCRETO. REVISÃO. IMPOSSIBILIDADE. ÓBICE DA SÚMULA
7 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, STJ. AGRAVO REGIMENTAL
DESPROVIDO.
[...]
3. A análise das circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal não
atribui pesos absolutos a cada um do vetores, a ponto de ensejar uma
operação aritmética dentro das penas máximas e mínimas cominadas ao
delito, de modo que não há impedimento a que o magistrado fixe a pena-base
no máximo legal, ainda que tenha valorado tão somente uma circunstância
judicial. Precedentes.
4. "Uma vez reconhecida mais de uma qualificadora, uma delas implica o tipo
qualificado, enquanto as demais podem ser utilizadas para agravar a pena na
segunda fase da dosimetria, caso previstas no art.
61 do Código Penal, ou ensejar, de forma residual, a exasperação da pena-
base" (REsp 1.549.571/MG, Relator Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ,
Sexta Turma, julgado em 18/4/2017, DJe 26/4/2017)" (AgRg no REsp
1.786.441/MG, Rel. Ministro JORGE MUSSI, Quinta Turma, DJe 4/6/2019).
[...]
6. Agravo regimental desprovido. (AgRg no AREsp 1.793.922/MA, Rel.
Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, Quinta Turma, julgado em 16/3/2021,
DJe 23/3/2021.)

DIREITO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO


PRÓPRIO. HOMICÍDIO QUALIFICADO CONSUMADO E HOMICÍDIO
QUALIFICADO TENTADO. DOSIMETRIA. MAIS DE UMA
QUALIFICADORA. UMA UTILIZADA COMO CIRCUNSTÂNCIA JUDICIAL
NEGATIVA E OUTRA PARA QUALIFICAR O DELITO. POSSIBILIDADE.
CULPABILIDADE NEGATIVADA DE FORMA

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(e-STJ Fl.52)

FUNDAMENTADA. PREMEDITAÇÃO. FRIEZA E A OUSADIA DO


AGENTE NA EXECUÇÃO DO DELITO. DISSIMULAÇÃO E DO ABUSO DE
CONFIANÇA. AUMENTO DA PENA-BASE DEVIDAMENTE
JUSTIFICADO. MANTIDO O REGIME INICIAL FECHADO. WRIT NÃO
CONHECIDO.
[...]
III - Com efeito, a pena-base foi elevada, tendo em vista o desvalor da
culpabilidade e das circunstâncias do crime. Em relação a essa última
vetorial, as instâncias ordinárias consideraram que o emprego de recurso que
impossibilitou as defesas das vítimas, embora configure qualificadora,
deveria ser valorado na primeira fase.
Registre-se que, "reconhecida a incidência de duas ou mais qualificadoras,
uma delas poderá ser utilizada para tipificar a conduta como delito
qualificado, promovendo a alteração do quantum de pena abstratamente
previsto, sendo que as demais poderão ser valoradas na segunda fase da
dosimetria, caso correspondam a uma das agravantes, ou como circunstância
judicial, na primeira fase da etapa do critério trifásico, se não for prevista
como agravante" (HC n. 308.331/RS, Quinta Turma, Rel. Ministro
REYNALDO SOARES DA FONSECA, DJe 27/3/2017, grifei).
[...]
Writ não conhecido. (HC 623.819/PE, Rel. Ministro FELIX FISCHER,
Quinta Turma, julgado em 2/2/2021, DJe 8/2/2021.)

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PENAL


E PROCESSUAL PENAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO. OFENSA A
DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS. IMPOSSIBILIDADE. DISSÍDIO
JURISPRUDENCIAL. AUSÊNCIA DE COTEJO ANALÍTICO.
JULGAMENTO CONTRÁRIO À PROVA DOS AUTOS. DECOTE DE
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QUALIFICADORAS. SÚMULA 7/STJ. DOSIMETRIA. PENA-BASE


FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
[...]
5. Havendo duas circunstâncias qualificadoras reconhecidas pelo jurados, é
possível que uma delas seja utilizada como agravante ou para avaliar
negativamente as circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal.
[...]
7. Agravo regimental desprovido. (AgRg no AREsp 1.480.030/BA, Rel.
Ministra LAURITA VAZ, Sexta Turma, julgado em 9/6/2020, DJe
23/6/2020.)

No que toca aos antecedentes, novamente incorreu em bis in idem o Juízo


sentenciante, pois não reservou nenhuma condenação definitiva anterior para efeito de
maus antecedentes, utilizando as duas que o paciente possuía, expressamente, para
agravar a pena, pela reincidência, na segunda fase da dosimetria.

Sobre o tema:
[...] DOSIMETRIA. PENA-BASE ELEVADA COM BASE NOS MAUS
ANTECEDENTES DO ACUSADO. REGISTROS DIVERSOS DO UTILIZADO
PARA A APLICAÇÃO DA AGRAVANTE DA REINCIDÊNCIA.
POSSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DE BIS IN IDEM.
A jurisprudência desta Corte Superior de Justiça pacificou-se no sentido de
que não há óbice em se considerar, na primeira fase da dosimetria, anotações
diversas daquelas sopesadas como reincidência, razão pela qual é descabida
a alegação de ocorrência de bis in idem ou de violação ao sistema trifásico,
uma vez que os fatos utilizados para a exasperação da pena-base não são os

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(e-STJ Fl.53)

mesmos que autorizaram a majoração na etapa seguinte, exatamente como na


espécie. Precedentes.
[...]
2. Agravo regimental desprovido. (AgRg no HC 603.977/SP, Rel. Ministro
JORGE MUSSI, Quinta Turma, DJe 9/9/2020.)

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. TENTATIVA DE


HOMICÍDIO QUALIFICADO. DOSIMETRIA. PENA-BASE. MAUS
ANTECEDENTES. PLEITO DE AFASTAMENTO. CONDENAÇÃO
ATINGIDA PELO DECURSO DO PERÍODO DEPURADOR PREVISTO NO
ART. 64, I, DO CÓDIGO PENAL. LIMITE TEMPORAL QUE SE APLICA
SOMENTE À ANÁLISE DA REINCIDÊNCIA. ANTECEDENTES. ADOÇÃO,
PELO CP, DO SISTEMA DA PERPETUIDADE. CONSTRANGIMENTO
ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. AGRAVO DESPROVIDO.
[...]
III - As condenações pretéritas, podem ser utilizadas tanto para valorar os
maus antecedentes na primeira fase, quanto para agravar a pena na segunda
fase, a título de reincidência, sem acarretar em bis in idem, desde que as
condenações sejam de fatos diversos.
[...]
Agravo regimental desprovido. (AgRg no HC 586.394/MG, Rel. Ministro
FELIX FISCHER , Quinta Turma, DJe 26/8/2020.)

Nesse contexto, decotado o desvalor de duas circunstâncias judiciais e


remanescentes outras duas, impõe-se a redução da pena-base do paciente em patamar
proporcional.
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Passo ao redimensionamento.

Na esteira da fundamentação supra, reduzo a pena-base do paciente em


patamar proporcional, fixando-a em 14 anos e 3 meses de reclusão. Na segunda fase,
mantenho o aumento de 2 anos pela reincidência, razão pela qual fixo a pena do paciente,
provisoriamente, em 16 anos e 3 meses de reclusão. Em razão da tentativa reconhecida na
origem, com redução da pena em 1/3, torno a pena do paciente definitiva em 10 anos e 10
meses de reclusão.

Ante o exposto, com base no art. 34, inciso XX, do Regimento Interno do STJ,
não conheço do habeas corpus, mas concedo a ordem, de ofício, para reduzir a pena do
paciente para 10 (dez) anos e 10 (dez) meses de reclusão, mantidos os demais termos da
condenação.

Intimem-se.

Brasília, 10 de novembro de 2022.

Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA


Relator

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