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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DESEMBARGADOR(A) 2.º VICE-


PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO
DIREITO PROCESSUAL PENAL. SUBSTITUIÇÃO DE
PRISÃO PREVENTIVA EM CÁRCERE PÚBLICO POR PRISÃO PREVENTIVA
DOMICILIAR. PACIENTE ACUSADA DE TRÁFICO DE DROGAS,
ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO E PORTE DE ARMA DE USO PERMITIDO.
DROGAS, ARMA E MUNIÇÕES APREENDIDAS NO INTERIOR DA
RESIDÊNCIA DA PACIENTE, ONDE TAMBÉM SE ENCONTRAVA O CORRÉU
WILIAN. CRIME DE ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO IMPUTADO À
PACIENTE PELO SIMPLES FATO DA RESIDÊNCIA SITUAR-SE EM

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COMUNIDADE DOMINADA PELO COMANDO VERMELHO. PACIENTE QUE É
MÃE DE CRIANÇAS QUE CONTAM CINCO E DOIS ANOS DE IDADE. JUÍZO
SINGULAR QUE INDEFERE A SUBSTITUIÇÃO, SOB O ARGUMENTO DE SE
TRATAR DE MERA FACULDADE DO ESTADO-JUIZ E NÃO TER SIDO
COMPROVADA A ESSENCIALIDADE DA PACIENTE PARA SEUS PRÓPRIOS
FILHOS, QUE AINDA NÃO SUPERARAM A PRIMEIRA INFÂNCIA.

DENIS DE OLIVEIRA PRAÇA, Defensor Público titular da 1.ª


DP do Interior de Defesa da Pessoa Presa do Núcleo do Sistema
Penitenciário da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, vem,
perante Vossa Excelência, impetrar

HABEAS CORPUS COM PEDIDO LIMINAR

Em favor de ARIANA SANTOS CARNEIRO DE MELLO, inscrita no Registro


Geral sob o n.º 32.587.317-2 e ré em processo penal que tramita perante a 1.ª
Vara Criminal da Comarca de Petrópolis (autos n.º 0803207-37.2023.8.19.0042),
por força de ilegalidade cometida pelo JUÍZO DE DIREITO DA 1.ª VARA
CRIMINAL DA COMARCA DE PETRÓPOLIS, com fulcro no inciso LXVIII do
artigo 5.º da Constituição da República e nos artigos 647 e 648 e incisos do Código
de Processo Penal, requerendo seja a presente ação distribuída a uma das
Colendas Câmaras Criminais deste Egrégio Tribunal de Justiça.

Volta Redonda, 12 de maio de 2023.


DENIS DE OLIVEIRA PRAÇA
Defensor Público
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EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA


COLENDA CÂMARA CRIMINAL
EXCELENTÍSSIMOS DESEMBARGADORES

Impetrante: Denis de Oliveira Praça


Paciente: Ariana Santos Carneiro de Mello
Impetrado: Juízo de Direito da 1.ª Vara Criminal da Comarca de Petrópolis

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DENIS DE OLIVEIRA PRAÇA, Defensor Público titular da 1.ª
DP do Interior de Defesa da Pessoa Presa do Núcleo do Sistema
Penitenciário da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, diante de
ilegalidade cometida pelo JUÍZO DE DIREITO DA 1.ª VARA CRIMINAL DA
COMARCA DE PETRÓPOLIS, que indeferiu o pedido de substituição da prisão
preventiva da paciente ARIANA SANTOS CARNEIRO DE MELLO por prisão
domiciliar, a despeito de a paciente ser mãe filhos que contam menos de 12 anos
de idade, impetrou habeas corpus que deflagrou processo distribuído a esta
Colenda Câmara Criminal.

I – DOS FATOS

A paciente foi presa em flagrante, no dia 3 de março de 2023


(auto de prisão em flagrante em anexo), valendo notar que a medida pré-cautelar
foi convertida em prisão preventiva, quando da realização da audiência de
custódia (assentada em anexo), nada obstante a folha de antecedentes
criminais não fazer menção a qualquer outro caso penal (folha de
antecedentes criminais em anexo).
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Posteriormente, o Ministério Público ofereceu denúncia em


face da paciente, imputando-lhe os crimes de tráfico de drogas, associação para
o tráfico e porte de arma de uso permitido, delitos que não têm dentre seus
elementos a violência ou a grave ameaça à pessoa (denúncia em anexo).
A descrição fática realizada pela petição inicial acusatória
permite perceber que o crime de associação para o tráfico foi imputado à
paciente tão-somente pelo local em que estava guardada a substância
entorpecente apreendida ser no Morro da Cocada.
Além disso, a substância supostamente entorpecente, a

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arma de fogo e as munições apreendidas estariam no interior da residência
da paciente e os policiais militares que efetuaram a prisão em flagrante,
logicamente, afirmaram que a paciente permitiu que entrassem em sua
residência.
A paciente possui filhos juridicamente definidos como
criança, haja vista que contam apenas cinco e dois anos de idade (certidões
de nascimento em anexo).
Diante desse cenário, a defesa técnica formulou pedido de
substituição da prisão preventiva da paciente por prisão domiciliar, a fim de
que pudesse prosseguir conferindo proteção ao filho em tão tenra idade (petição
em anexo).
Contudo, o juízo singular indeferiu o pedido, limitando-se a
dizer que o ordenamento jurídico confere apenas uma faculdade ao Estado-juiz
de substituir a prisão preventiva em cárcere público por prisão preventiva
domiciliar e aduzindo não haver comprovação de que a paciente seria a única
responsável pelas crianças (decisão em anexo).
Não restou à defesa técnica, então, outra alternativa que não
a submissão do caso concreto a esta Corte de Justiça.

II – DO DIREITO
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O ordenamento jurídico consagra uma série de medidas


cautelares passíveis de serem empregadas no curso do processo penal ou
mesmo antes de sua deflagração.
Por óbvio, tratando-se de cautelares, tais medidas têm como
escopo assegurar os meios e os fins do processo penal, garantindo, assim, sua
eficácia.
Ademais, todas têm como pressupostos o fumus boni iuris e
o periculum in mora, razão pela qual somente podemos lançar mão de medidas
cautelares diante da probabilidade de existência do direito alegado pela parte

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autora do processo penal (direito de punir do Estado, nos casos de processo de
conhecimento condenatório) e do risco de ineficácia do processo ante a demora
necessária ao alcance da prestação jurisdicional definitiva (art. 282, I do CPP).
Não bastasse, eventuais medidas cautelares empregadas
devem se mostrar proporcionais à luz da gravidade da infração penal, das
circunstâncias do fato, bem como das condições pessoais do indiciado ou
acusado (art. 282, II do CPP).
A necessidade de observância da proporcionalidade da
medida cautelar empregada permeou toda a construção da Lei n.° 12.403/2011,
conforme deixa clara a lição de Pierpaolo Bottini, Secretário de Reforma do
Judiciário, que comentava as alterações propostas quando tínhamos apenas um
projeto de lei:

“A ideia que permeia todo o Projeto é a


ampliação do número de medidas cautelares passíveis de
decretação durante o processo penal, com o escopo de
assegurar seu regular seguimento e o posterior cumprimento
da decisão, seja ela qual for. A redação atual do Código
oferece uma gama reduzida de opções ao magistrado nessa
seara. Em regra, para garantir a ordem processual ou a
aplicação da lei penal, a juiz tem uma única opção: a prisão
cautelar. Assim, ao perceber a ameaça, grande ou pequena,
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ao bom andamento da persecução, ou é decretada a privação


da liberdade do acusado, ou não se aplica medida alguma.
Não há um meio-termo. Não há medida de proporcionalidade
possível.” (In As Reformas no Processo Penal, São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2008, p. 454).

Some a isso que a prisão preventiva, uma das espécies de


medida cautelar consagrada pelo ordenamento jurídico, é tida como soldado de
reserva, somente podendo ser usada nas hipóteses em que todas as demais

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medidas cautelares mostram-se incapazes de assegurar os meios e os fins do
processo penal.
Em diversos dispositivos legais fica clara a condição da prisão
preventiva de medida cautelar subsidiária (art. 282, parágrafos 4.° e 6.° e art. 310,
II, ambos do CPP).
A lição do notável professor Eugênio Pacelli de Oliveira
corrobora o que afirmamos:

“Em nosso Direito, a partir da Lei n.º 12.403/11,


e tal como ocorre no Direito português e no Direito italiano,
são previstas várias outras medidas cautelares pessoais
distintas da prisão preventiva, somente se aplicando esta
última, como regra, quando não forem suficientes as demais.”
(In Atualização do Processo Penal – Lei n.º 12.403, de 5 de
maio de 2011, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, p. 32).

Sublinhe-se que, de certa forma, a subsidiariedade do


emprego da prisão preventiva assegura a proporcionalidade da medida cautelar
empregada, pois se medida cautelar diversa se mostra capaz de assegurar os
meios e os fins do processo penal, a decretação da prisão preventiva é
desproporcional, na medida em que configura verdadeiro excesso.
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Por conta do exposto, o brilhante professor Geraldo Prado, ao


debruçar-se sobre o caráter excepcional da prisão processual, dispõe sobre os
três ângulos desta excepcionalidade, ressaltando que o segundo desses ângulos
observa a possibilidade de se tutelar o processo por meios menos invasivos aos
direitos do cidadão.
Vale transcrever parte da lição do professor Geraldo Prado:

“O segundo aspecto da excepcionalidade


a ser considerado – e que está destacado do conjunto do

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Informe da Comissão Interamericana – diz com a
possibilidade de se alcançar a tutela do processo por meios
menos invasivos aos direitos do imputado que a prisão
preventiva.

(...)

“Nessa linha de raciocínio, a Lei


12.403/2011 modificou o artigo 319 do Código de Processo
Penal e estatuiu um rol de alternativas à prisão preventiva, rol
que é também fonte de impedimento à decretação desta
modalidade de prisão.

“Vale dizer que, embora impropriamente


designadas de substitutivas à prisão preventiva, pelo
parágrafo 6.º do artigo 282 do CPP, as medidas previstas no
artigo 319 caracterizam-se como alternativas à prisão
processual porque configuram obstáculo à sua decretação.
Por isso, se é possível tutelar o processo com as alternativas
processuais, a orientação dominante na Corte Interamericana
veda o recurso à prisão preventiva.” (In Medidas Cautelares
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no Processual Penal – Prisões e suas Alternativas, São Paulo:


Revista dos Tribunais, 2011, p. 122).

No caso em tela, ao decretar a prisão preventiva, considerou-


se que as demais medidas cautelares mostravam-se incapazes de resguardar a
efetividade do processo penal.
Todavia, mesmo nos casos de decretação de prisão
preventiva, é possível que tal medida cautelar seja substituída por prisão
domiciliar, na forma dos artigos 318 e 318-A do Código de Processo Penal,

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desde que preenchidos os requisitos previstos em um dos incisos do
primeiro dispositivo legal ou os requisitos dos dois incisos do segundo.
A doutrina debate sobre a natureza jurídica da espécie de
prisão domiciliar prevista no artigo 317 do Código de Processo Penal e daquela
consagrada nos artigos 318 e 318-A do mesmo diploma legal.
Apesar da unanimidade acerca da condição de ambas de
medida cautelar, alguns autores sustentam que a prisão domiciliar pode ser
considerada medida cautelar autônoma alternativa à prisão preventiva (art. 317
do CPP) – tal como aquelas consagradas no artigo 319 do Código de Processo
Penal, bem como medida cautelar que substitui a prisão preventiva por razões
humanitárias (arts. 318 e 318-A do CPP), enquanto outros somente admitem esta
última hipótese.
O competente professor André Nicolitt bem explicita a
divergência:

“Para parte da doutrina, o art. 317 prevê


a prisão domiciliar como medida (cautelar) autônoma, não
limitada pelas condições do art. 318 do CPP enquanto o
referido art. 318, seria uma medida substitutiva da prisão
preventiva, aí sim, limitada pelas circunstâncias da idade, do
cuidado com criança ou da condição de gestante.
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“De outro lado, há os que não fazem tal


distinção, vendo na prisão domiciliar apenas uma medida
substitutiva da prisão preventiva, reservada às hipóteses
excepcionais do art. 318 do CPP, com os quais
concordamos.” (In Manual de Processo Penal, Rio de Janeiro:
Campus Jurídico, 3.ª edição, 2012, p. 461).

Como se vê, adotada quaisquer das posições doutrinárias,


verificamos que estando preenchidos os requisitos de um dos incisos do artigo

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318 do Código de Processo Penal ou dos dois incisos do artigo 318-A do mesmo
diploma legal, torna-se possível a substituição da prisão preventiva por prisão
domiciliar, sem que se possa opor como óbice à substituição a pretensa
insuficiência da medida cautelar substitutiva para o resguardo do processo
penal.
Afinal, somente a insuficiência das medidas cautelares
autônomas alternativas à prisão enseja a decretação da prisão preventiva. Não
sendo a prisão domiciliar consagrada nos artigos 318 e 318-A do Código de
Processo Penal uma medida cautelar autônoma, mas sim substitutiva da prisão
preventiva, a substituição pode ocorrer mesmo nos casos em que a avaliação
judicial considerar a medida insuficiente.
O professor Silvio Maciel, em obra coordenada por Luiz Flávio
Gomes e Ivan Luís Marques, corrobora o que afirmamos, abordando a diferença
entre as medidas cautelares autônomas e a prisão domiciliar aqui invocada:

“Como medida cautelar autônoma: será


decretada quando a juiz verificar desnecessária a prisão
preventiva e suficiente a prisão domiciliar (art. 282, parágrafo
6.º e art. 310, II, do CPP). Nesse caso a prisão domiciliar pode
ser aplicada como medida cautelar a qualquer indiciado ou
acusado, mesmo que ele não esteja em nenhuma das
situações do art. 318 do CPP.
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“Como medida cautelar substitutiva da


prisão preventiva: será aplicada se o indiciado ou acusado
estiver em uma das situações do art. 318 do CPP. Neste caso
há a necessidade da prisão preventiva, mas tendo em vista a
situação peculiar do indiciado ou acusado, o juiz a substitui
pela prisão domiciliar.” (In Prisão e Medidas Cautelares, São
Paulo: Revista dos Tribunais, 3.ª edição, pp. 175-6).

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Fácil explicar a razão para o tratamento diferenciado dado
pelo ordenamento jurídico à prisão domiciliar substitutiva, quando comparada às
medidas cautelares autônomas, sobretudo na hipótese do inciso V do artigo 318
do Código de Processo Penal ou na hipótese do artigo 318-A do mesmo diploma
legal.
A Constituição da República é programática, razão pela qual
elege uma série de diretrizes a serem perseguidas pelos poderes constituídos.
Dentre essas diretrizes encontra-se efetivação do direito à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura,
à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária da
criança, do adolescente e do jovem.
Todavia, a Carta Política, diferentemente do que faz no que
tange a outras diretrizes, estabelece a diretriz acima exposta como absolutamente
prioritária (art. 227 da CRFB/1988).
Portanto, a efetivação de tais direitos titulados pela criança
deve ser buscada, mesmo que em detrimento da eficácia do processo penal.
Assim, preenchidos os requisitos previstos nos artigos 318 ou
318-A do Código de Processo Penal, surge o dever do Estado-juiz de substituir a
prisão preventiva por prisão domiciliar.
Novamente invocamos a lição do notável professor Geraldo
Prado:
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“A prisão domiciliar é medida humanitária.


Assim, seu fundamento está na tutela constitucional da
dignidade da pessoa humana, valor supremo albergado na
nossa Constituição, cuja realização é dever de todos,
especialmente dos agentes públicos.

“Como medida humanitária não se


discute seu cabimento sempre que se verificarem os seus
requisitos, que nos incisos I e IV são objetivos. Trata-se de

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direito subjetivo do preso, independentemente de o preceito
empregar o verbo ‘poder’, a indicar inexistente poder
discricionário do juiz.

(...)

“Assim, induvidoso que o idoso contando


com mais de 80 (oitenta) anos, o preso imprescindível aos
cuidados especiais de pessoa menor de 6 (seis) anos de
idade ou com deficiência e a presa gestante a partir do 7.º
(sétimo) mês de gravidez ou sendo esta de alto risco,
comprovados tais requisitos, terão direito à prisão domiciliar,
bem como o preso que esteja extremamente debilitado por
motivo de doença grave.” (In Ob. cit. p. 157).

Portanto, o verbo poder utilizado pelo caput do artigo 318,


trata-se de poder-dever, valendo notar que no caput do artigo 318-A a lei prevê
de forma expressa que a prisão preventiva será substituída por prisão domiciliar,
sem exigir que se prove nada além da condição de mãe.
No caso em tela, o preenchimento dos requisitos consagrados
no inciso V do artigo 318 do Código de Processo Penal mostra-se induvidoso, haja
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vista que não se pode negar ser a acusada mulher e tendo em vista os
documentos que comprovam possuir filhos juridicamente definidos como criança.
Não bastasse, os requisitos previstos nos dois incisos do
artigo 318-A do Código de Processo Penal também estão inegavelmente
preenchidos, haja vista que os crimes imputados à paciente não têm a violência
ou a grave ameaça à pessoa como elementos e não foram praticados contra os
filhos da paciente.
Deixar de substituir a prisão preventiva por prisão domiciliar é
manter a criança em situação de permanente risco, contrariando normas

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constitucionais e legais vigentes.
Por óbvio, a necessidade de se buscar a efetividade dos
direitos titulados pelas crianças consagrados no artigo 227 da Carta Magna,
mesmo que em detrimento dos meios e dos fins do processo penal, não impede
que sejam tomadas cautelas capazes de assegurar a efetividade do processo
quando da substituição da prisão preventiva por prisão domiciliar.
Portanto, mostra-se possível, no momento da substituição da
prisão, determinar o monitoramento eletrônico da paciente, conforme ressalta
André Nicolitt, ao tratar da prisão domiciliar substitutiva:

“(...) associando a medida com o


monitoramento eletrônico como forma de sua fiscalização, o
que é possível no sistema da Lei n.º 12.403/2011, teríamos
eficaz instrumento para evitar a aplicação de prisão
preventiva, alcançando-se, assim, as finalidades da reforma
trazida pela referida lei.” (In Ob. cit. p. 462).

Com efeito, deve ser concedida a ordem, substituindo-se a


prisão preventiva por prisão domiciliar, determinando-se, caso se entenda ser o
caso, o monitoramento eletrônico da paciente.

III – DO PEDIDO LIMINAR


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Outrossim, saliente-se que se encontram presentes os


requisitos para o deferimento do pedido liminar, quais sejam, fumus boni iuris e
periculum in mora.
O fumus boni iuris consiste no não apenas aparente, mas sim
evidente direito de da paciente de ter a prisão preventiva que lhe é imposta
substituída por prisão domiciliar, eis que é mulher, possui filho que conta apenas
dois anos de idade, é responsável por estas crianças, não está sendo acusada de
praticar crime que tenha dentre seus elementos a violência ou a grave ameaça à

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pessoa e não cometeu crime contra os próprios filhos.
O periculum in mora é ainda mais claro, posto que as crianças
encontram-se em permanente risco de ver não efetivados os direitos que a
Constituição da República lhes assegura, a cada dia em que se mantém em
cárcere público a mãe que lhes dispensava cuidado diuturnamente.

IV – DO PEDIDO

Ante todo o exposto, requer a Vossas Excelências:

a) O deferimento do pedido liminar, substituindo-se de


imediato a prisão preventiva imposta à paciente por prisão
domiciliar, expedindo-se a consequente ordem de liberação;
e
b) Por fim, seja concedida a ordem, mantendo-se a
paciente em prisão domiciliar até o eventual trânsito em
julgado de sentença condenatória que lhe imponha pena
privativa de liberdade ou a insubsistência do fumus boni iuris
e do periculum in mora.

Volta Redonda, 2 de maio de 2023.


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Defensor Público

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