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DIREITO PENAL

CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

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CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Prezados, nossa missão aqui é estudar os pontos com maior incidência no
concurso de Delegado de Polícia e de forma estratégica. Para tanto,
selecionamos os crimes que realmente caem e trazemos os pontos e
discussões principais, sempre balizados na estatística de incidência em nossos
certames policiais.

INTRODUÇÃO:
A administração pública é representada pelo conjunto de funções realizadas
pelos órgãos da administração pública para atender aos anseios da
sociedade. Tutela-se a normalidade funcional dos órgãos da administração
pública, a fim garantir os princípios: probidade, moralidade, patrimônio da
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administração pública, impessoalidade e legalidade.

Obs1: Não existe crime funcional hediondo ou equiparado. Para muitos, esse
é um grande erro da Lei 8.072/90.
Obs2: Em regra, são crimes dolosos. Só há 1 crime funcional culposo, que é
o peculato culposo.
Obs3: A Lei reconhece crime funcional de menor potencial ofensivo,
aplicando-se a Lei 9.099/95 nesses casos. Esse seria um outro erro, pois o
legislador teria permitido lesões menores ao bem jurídico Administração
pública. Ex. Prevaricação.
Obs4: O STF admite princípio da insignificância nos crimes funcionais. O STJ
não. Cuidado! Isso vale para os crimes funcionais, pois nos crimes praticados
por particulares contra a Adm. Púb, o STJ e o STF admitem a insignificância.
Obs5: Os crimes funcionais estão sujeitos a extraterritorialidade
incondicionada da lei penal brasileira (art. 7º, I, “c”, do CP) (ainda que
praticados no estrangeiro).

CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO


São crimes próprios, ou seja, EM REGRA, praticados por quem detém função
pública. Cumpre destacar que ser funcionário público é uma circunstância
elementar do tipo e, como tal, se comunica ao particular que comete o crime
em conjunto com o funcionário público. Porém, somente ocorrerá a

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comunicação das circunstancias elementares (art. 30,CP) se o particular tinha
o conhecimento que estava praticando crime com um funcionário público
(liame subjetivo).

Para o Direito Penal, funcionário público é aquele que exerce cargo, emprego
ou função pública, ainda que transitoriamente ou sem remuneração,
adotando-se um conceito ampliativo de funcionário público. A propósito, os
agentes políticos também se submetem ao conceito de funcionário público.
(STF, HC 72465/SP) Em síntese, incluem-se no conceito de funcionários públicos
todas as modalidades de agentes públicos.

Não se pode confundir função pública com múnus público, isto é, os encargos
públicos atribuídos por lei a algumas pessoas, como tutores, curadores,
administrador judicial, testamenteiro, depositário judicial, defensor dativo e
inventariantes judiciais, pois a condição de funcionário público não abarca
quem detém múnus público. (STF, RHC 8856/RS) Estes, ao cometerem delitos,
respondem por crimes de particulares, sem qualquer qualidade de funcionário
público.

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➔ ATENÇÃO: Estagiário de autarquia, agentes honoríficos (mesários) e
advogado dativo remunerado pelo poder público também são
funcionários públicos para fins penais (STJ - HC 52989 e REsp
656.740/GO)

O funcionário público por equiparação é aquele que exerce cargo, emprego


ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa
prestadora de serviço contratada ou conveniada para execução de atividade
típica da administração pública. Ex. médico do SUS. HC 88576/RS.

ATENÇÃO: Mesmo o agente nomeado e investido ilegal ou irregularmente será


considerado funcionário público para fins penais, enquanto sua nomeação
não for anulada. Irregularidades trabalhistas e administrativas não se
propagam à esfera penal.

➔ Crime Funcional próprio (prevaricação, concussão, corrupção


passiva): faltando a qualidade de servidor, o fato passa a ser um
insignificante penal (atipicidade absoluta). Ex.: dar dinheiro por
engano a quem não é funcionário público.
➔ Crime Funcional impróprio: faltando a qualidade de servidor, o fato
deixa de configurar crime funcional, mas permanece como crime
comum (atipicidade relativa). Ex: peculato (312, CP) vira apropriação
indébita.

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IMPORTANTE: Nem todo ato ímprobo corresponde a um crime funcional (atos
de improbidade estão nos arts.: 9º, enriquecimento ilícito; 10, dano ao erário;
e 11, violação aos princípios da LIA). Todavia, todo crime funcional
corresponde a um ato de improbidade. Logo, sempre que ocorrer um crime
funcional, uma cópia dos autos deverá ser encaminhada à promotoria do
patrimônio público para verificação de improbidade administrativa.

A pena é majorada diante de crimes funcionais quando: o cargo for


COMISSIONADO, DIREÇÃO, ASSESSORAMENTO (SEM, EP, FP e demais órgãos
públicos da Administração Pública direta e indireta. (Cuidado! A autarquia
está fora desse rol). Para o STF, os chefes do executivo exercem função de
direção de órgão público, logo, jamais escaparão da majorante. O
fundamento dessa causa de aumento é a maior reprovabilidade da quebra
na confiança da função exercida.

Qual é a principal característica moderna dos crimes contra a administração


pública? É a chamada vitimização difusa, pois não existe uma vítima
determinada. Toda a coletividade será vítima desses delitos. Lembre que há o
efeito bulmerang nos direitos difusos (origem européia). Ex.: crimes ambientais
(empresário que polui o meio ambiente). O mesmo criminoso será vítima do
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seu delito. Lembre que a progressão de regime nesses crimes está


condicionada à reparação do dano ao erário (art. 33, § 4º, CP), além dos
requisitos objetivos (1/6; 2/5 ou 3/5 para hediondos – não há nenhum crime
funcional hediondo) e subjetivos (mérito do agente).

ART. 312 – PECULATO PRÓPRIO: APROPRIAÇÃO E DESVIO.

Peculato Apropriação
Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem
móvel, publico ou particular, de que tem a posse em razão do cargo. Cumpre
destacar que o bem objeto do peculato pode ser público ou privado,
devendo estar em posse do funcionário público em razão de sua função. O
crime se consuma a partir da inversão do animus do agente ativo,
internamente. Destarte, no momento em que o funcionário exerce a posse
com “animus rem sibi habendi” restará configurado o crime.

Obs1: Lembrar das expressões: “intraneus” é o funcionário público; “extraneus”


é o particular.
Obs2: Cuidado! O particular, para responder em concurso por crime funcional
de peculato, deve conhecer a condição pessoal do servidor, caso contrário,
responderá por apropriação indébita.

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CUIDADO: A prestação de serviços não se submete ao conceito de bem
móvel e, como tal, não pode ser objeto material do crime de peculato. Nesse
sentido, não há crime quando há desvio de finalidade do serviço, mas sim
improbidade. Ex. utilização de mão de obra pública para interesse particular.
Se, entretanto, o beneficiário da ordem ao prestador de serviços públicos for
Prefeito, caracterizar-se-á crime de responsabilidade, previsto no art. 1,II do
Dec. Lei 201/1967.

Segundo doutrina majoritária, capitaneada por Nelson Hungria, o funcionário


público que tem crédito com a Administração Pública – pretensão lícita – e se
apropria, desvia ou subtrai bens em seu favor comete o crime de PECULATO e
não EXERCÍCIO ARBITRÁRIO DAS PRÓPRIAS RAZÕES, pois a administração
pública não pode ser privada de valores involuntariamente sem que haja
obrigação pactuada, lei ou ato administrativo que autorize  IMPORTANTE!

Peculato Desvio
Desviá-los, em proveito próprio ou alheio (bens fungíveis). Trata-se de uma
modalidade de apropriação onde há o desvio de finalidade do bem público
em proveito próprio ou alheio.

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DIVERGÊNCIA QUANTO AO MOMENTO CONSUMATIVO DO PECULATO-
DESVIO:
PECULATO-DESVIO MATERIAL - momento consumativo será do exato instante
em que ocorrer prejuízo para a administração pública. Posição adota por
Rogério Greco e Cleber Masson, e pelo STJ.

PECULATO-DESVIO FORMAL - confere ao bem destinação diversa daquela


que é determinada pela própria administração, pouco importando a
ocorrência do efetivo prejuízo patrimonial, posição adotada pelo STF.
(Posicionamento adotado pela CESPE no último concurso da AGU)

Quando há a destinação indevida das verbas públicas (afronta a lei


orçamentária), sendo ele o responsável pela destinação, o agente deverá
responder pelo art. 315, se empregou os valores em benefício para a própria
ADM. (Emprego irregular de verbas ou rendas públicas – crime material)

Peculato de uso é crime? Há duas correntes:


1ª CORRENTE: Independente da espécie de bem, fungível ou infungível, não
há peculato de uso, pois a intenção do agente era devolver o bem.
2ª CORRENTE: Depende da natureza da coisa apropriada! Tratando-se da
utilização de bens infungíveis ou mesmo serviços de forma diversa a sua

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finalidade pública, configura, em regra, FATO ATÍPICO. Porém, se diante de
bem fungível, haverá o crime de peculato. Ex.: caixa da repartição pública que,
após se apropriar de determinada soma em dinheiro, cobre o desfalque com outras
quantias, provenientes da Administração Pública ou de particulares.

ATENÇÃO: Somente o prefeito poderá ser punido pelo peculato de uso de


bens, rendas e serviços públicos, respondendo por crime de responsabilidade.
(94168 STJ)

Peculato Furto ou Impróprio – Art. 312,1º


Embora não tenha a posse do dinheiro, valor ou bem, o agente subtrai, ou
concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se
de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. (Ocorre
quando o bem não está em poder daquele funcionário e o agente deve
aproveitar de sua condição de funcionário para realizar o peculato furto.)

IMPORTANTE: Se o agente atuar como uma pessoa qualquer, sem se valer de


sua condição de funcionário, deverá responder pelo crime de furto. Ex.: O
funcionário público que ao visitar um colega de outro órgão e se aproveita
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para subtrair bem público, responde por furto. A amizade com funcionário
público não caracteriza a prevalência da condição de funcionário público!

CONSUMAÇÃO: Quanto à classificação das modalidades de peculato,


importante destacar que o peculato apropriação e furto são crimes materiais,
enquanto o peculato desvio é crime formal (STF) material (STJ).

PECULATO CULPOSO – ART. 312,2º


Trata-se de crime necessariamente plurissubjetivo, que ocorre quando o
funcionário concorre culposamente para que OUTREM pratique qualquer tipo
de crime em afronta ao bem público. A consumação se dá no momento em
que o crime praticado por outrem se consuma. Nesse caso, não há que se
falar em concurso de pessoas diante do agente que agiu culposamente e o
daquele que se beneficiou da culpa de outrem, visto que não há liame
subjetivo. (único crime funcional culposo)

Pergunta de Concurso: Mas, o que se entende por “criqme de outrem”? Esse


crime pode ser qualquer crime ou necessariamente tem que ser uma das
demais modalidades de peculato? Há duas correntes:
1ª Corrente - Numa interpretação topográfica, “crime de outrem” abrange somente
o peculato doloso do art. 312, caput e §1º, do CP. Para essa corrente, por exemplo,
se a negligência favoreceu um furto, não haveria o peculato culposo.

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2ª Corrente - “Crime de outrem” abrange qualquer delito que viola a Administração
Pública, direta ou indiretamente, como, por exemplo, um furto.

TEMA BASTANTE COBRADO EM PROVAS OBJETIVAS: No caso de peculato


culposo – art. 312,3º - se houver reparação do dano até a sentença irrecorrível
teremos extinção da punibilidade; Se posterior a sentença irrecorrível, reduz
de ½ a pena imposta. (comportamento pós-delito positivo).
- Lembrar que o arrependimento até a sentença de 1º ocorre no crime de
FALSO TESTEMUNHO/PERÍCIA.

ART. 313 – PECULATO MEDIANTE ERRO DE OUTREM


Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade, no exercício do cargo, que
recebeu por erro de outrem. Aquele que recebeu bem indevidamente deve
devolvê-lo, no entanto, se se apropria do bem restará configurado o peculato
por erro de outrem. Cumpre destacar que se trata de uma modalidade típica
em que o agente não colaborou em nada para o erro de outrem. Caso tenha
colaborado, a doutrina majoritária entende pela aplicação do art. 171,
estelionato. No entanto, R. Greco e G. Nucci, minoritários, mencionam que ao
agente deveria continuar sendo imputado o 313, mesmo que ele tenha

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induzido ou mantido a pessoa em erro, ou seja, quando atua ativamente para
o erro de outrem.

PECULATO E FALSIDADE DOCUMENTAL: Quando um funcionário público falsifica


um documento (público ou particular) para obter indevidamente dinheiro,
valor ou qualquer outro bem móvel pertencente à Administração Pública, a
ele devem ser imputados dois crimes em concurso material: falsidade
documental e peculato. Há duas condutas independentes e autônomas, e
não há que se falar em absorção daquele por este, uma vez que tais delitos
ofendem bens jurídicos diversos (fé pública e Administração Pública) e
consumam-se em momentos distintos. Vale destacar, porém, já ter o STF se
pronunciado pelo concurso formal de crimes.

ART. 313-A – INSERÇÃO DE DADOS FALSOS EM SISTEMA DE INFORMAÇÃO


Se caracteriza a partir da inserção ou facilitação realizada pelo funcionário
autorizado quando insere dados falsos, altera ou exclui indevidamente dados
corretos nos sistemas informatizados ou banco de dados da ADM. PÚB. com o
fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano.
Cumpre destacar que não é necessário que haja a obtenção de vantagem
indevida ou dano a outrem, bastando que seja realizada a inserção,
alteração ou exclusão de informação com essa finalidade para consumação
do delito, crime formal.

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ART. 313-B – MODIFICAÇÃO OU ALTERAÇÃO NÃO AUTORIZADA DE SISTEMA DE
INFORMAÇÕES
Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informações ou programa de
informática sem autorização ou solicitação da autoridade competente. Frise-
se que não é necessário que haja qualquer prejuízo à ADM., bastando que
seja realizada a alteração do sistema sem a devida anuência de quem
deverá concedê-la, por parte da Adm. Pública. Nesse crime altera-se o
sistema, já no crime previsto no art. 313-A alteram-se dados do sistema e não
o sistema em si. Ademais, quando diante de alteração de dados, o crime
exige que o agente ativo seja funcionário autorizado a manusear o sistema; já
quando diante de modificação do sistema, não se exige que o agente seja
funcionário autorizado.

P. único – Se causar dano à administração ou ao administrado, a pena será


aumentada de 1/3 a 1/2, de acordo com a extensão do dano.

ART. 314 – EXTRAVIO, SONEGAÇÃO OU INUTILIZAÇÃO DE LIVRO OU


DOCUMENTO:
A doutrina ensina que o sujeito ativo desse crime é o funcionário público em
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sentido amplo. A conduta pune o extravio de livros oficias ou qualquer


documento, de que tem a guarda em razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-
lo total ou parcialmente. Trata-se do de dever de guarda do funcionário
público perante os livros e documentos oficiais. A doutrina menciona que o
documento pode até mesmo ser particular, mas deve estar sob a guarda do
funcionário público.

Rogério Sanches adverte que se o sujeito ativo servidor em exercício junto à


repartição fiscal ou tributária, o extravio de livro oficial, processo fiscal ou
qualquer documento por ele causado configura crime especial, previsto no
art. 3º da Lei 8.137/90.

Atenção! Tratando-se de autos judiciais ou documentos de valor probatório,


cuja inutilização ou sonegação seja praticada por advogado ou procurador
que os receba nesta qualidade, o crime será o do art. 356, CP (Sonegação de
papel ou objeto de valor probatório). O crime tipificado no art. 314 é crime
funcional; enquanto o art. 305 (supressão de documento público) é crime
comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa.

ART. 315 – EMPREGO IRREGULAR DE VERBAS OU RENDAS PÚBLICAS:

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Ocorre quando há desvio da verba pública estabelecida em lei, mas que seja
em favor da administração pública. Nesse caso, existe uma dotação para a
saúde e o funcionário a aplica, por exemplo, para o lazer de uma certa
comunidade. Se o desvio for realizado em proveito próprio ou de outrem, que
não a administração pública, restará configurado o crime de peculato na
modalidade desvio.

Trata-se de crime exclusivamente doloso. No tocante aos Prefeitos, não incide


o delito tipificado no art. 315, visto que existe crime de responsabilidade
insculpido no D. 201/67. Ademais, trata-se de crime material, consumando-se
com a efetiva aplicação das verbas públicas em finalidade diversa da
prevista, sendo irrelevante a comprovação de prejuízo à Administração
Pública.

Sujeito Passivo: O Rogério Sanches escreve "....o sujeito passivo será o Estado,
bem como, EVENTUALMENTE, o particular atingido pela conduta criminosa."
Codigo Penal para Concursos - 5a edição - Pág. 566. Nesse sentido, a CESPE
extrai que o sujeito passivo é comum. (CESPE - 2012 - TCE-ES - Auditor de Controle Externo - Direito)

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Competência: O emprego irregular de verbas públicas é, em regra, de
competência da justiça estadual, salvo quando afrontar interesses e bens da
União.

ART. 316 – CONCUSSÃO


Exigir para si ou para outrem, ainda que fora de sua função ou antes de
assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida. Na concussão há uma
exigência atemorizando a vítima pela pratica do ato que deveria realizar de
oficio, ou seja, o funcionário deveria praticar um ato que prejudicaria o
particular. Assim, o funcionário utiliza o seu dever de oficio como meio a
“extorquir”implicitamente o administrado, que teme a prática do ato.

A VANTAGEM PRECISA SER ECONÔMICA? Prevalece que não precisa ser


necessariamente uma vantagem econômica, desde que indevida.

SUJEITO ATIVO: O sujeito ativo é o funcionário público; a pessoa fora da


função, mas agindo em razão dela (ex. agente de férias); ou o particular antes
de assumir a função pública, mas em razão dela. Atenção! Esse é um caso
excepcional de o particular poder praticar esse crime sem estar associado a
um funcionário público. Nessa hipótese, o particular está na iminência de
assumir a função pública, faltando apenas etapas burocráticas (ex. faltando a
data da posse, da diplomação, exames de rotina, etc).

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Trata-se de uma espécie de extorsão praticada pelo funcionário público,
porém não há no tipo penal a exigência de violência ou grave ameaça. Na
realidade, existe uma coação implícita no atuar do funcionário público em
virtude de seu poder funcional. Caracteriza-se como um crime formal,
consumando-se no momento da exigência. CUIDADO: Aquele que paga
não comete crime, pois está sendo, em tese, coagido implicitamente. Na
concussão a ameaça é o exercício da função. O crime admite a tentativa,
desde que a conduta seja plurissubsistente.

O TERMO .... “PARA SI OU PARA OUTREM” ... ABRANGE A PRÓPRIA


ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA? OU SEJA, ADMITE-SE CONCUSSÃO EXIGINDO
VANTAGEM EM PROVEITO DA PRÓPRIA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA?
1ª Corrente - Entende que há concussão quando a vantagem é exigida em
favor da Administração Pública. Exemplos da Jurisprudência nesse sentido: Um
delegado exigiu vantagem para reformar a Delegacia; Uma juíza exigiu
vantagem para informatizar o Juizado.
2ª Corrente- Não abrange vantagem revertida em favor da Administração
Pública.
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IMPORTANTE: Para configurar o crime de concussão, o agente tem que ter


competência, poder ou atribuição para concretizar o mal que ele prometeu.
Se a pessoa não tem essa competência, poder ou atribuição, isso não é
concussão, podendo caracterizar extorsão ou até mesmo usurpação
qualificada.

ATENÇÃO: se o funcionário empregar violência ou grave ameaça para exigir


a vantagem indevida, responde por extorsão (Não há crime funcional
cometido com violência ou grave ameaça). Exemplo. Funcionários públicos
agridem um comerciante e lhe apontam arma, ameaçando-o de morte, para
exigir propina – Resulta: extorsão.

Cuidado: O jurado do Tribunal do Júri é considerado funcionário público para


fins penais – art. 327, caput do CP c/c art. 445 do CC – e, como tal, pode ser
agente ativo do crime de concussão.

FLAGRANTE EM CONCUSSÃO: O momento consumativo do delito é o da


exigência, sendo este o marco para fins de caracterização do flagrante. A
apreensão do indivíduo no momento do recebimento da quantia caracteriza
flagrante ilegal, pois esvaziado o estado de flagrância. (STF HC 72168)

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STF → O fato de o juiz aumentar a pena em razão de o réu ser policial não
caracteriza bis in idem. A condição de servidor público é elementar do tipo
de concussão. No entanto, o fato de o réu ser policial pode ser considerado
negativamente no juízo de culpabilidade. Outrossim, a alegação de lucro fácil
não é motivo idôneo a justificar maior reprovabilidade da conduta. (RHC 117488
AgR/RJ – 1/10/2013)

➔ Na hipótese de conduta cometida por ocupante do cargo de agente


fiscal, estará caracterizado o crime definido no art. 3, II da L. 8137/90.

ATENÇÃO: A obtenção de lucro fácil e a cobiça constituem elementares dos


tipos de concussão e corrupção passiva (arts. 316 e 317 do CP), sendo
indevido utilizá-las para aumentar a penabase alegando que os “motivos do
crime” (circunstância judicial do art. 59 do CP) seriam desfavoráveis. STJ. 3ª
Seção. EDv nos EREsp 1.196.136-RO, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca,
julgado em 24/5/2017 (Info 608)

Pergunta de Concurso: (MP/RO) Médico, servidor do SUS, obtendo indevida


vantagem do paciente: que crime é esse? R: Aqui, devem ser diferenciadas
três situações:
(a) Se o médico exige a vantagem, ele praticou concussão; (b) Se o médico

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solicita a vantagem, praticou corrupção passiva; (c) Se o médico simula ser
devida a vantagem, esse médico responderá por estelionato.

PARÁGRAFO 1º - EXCESSO DE EXAÇÃO


Trata-se de crime formal, consumando-se quando o funcionário exige tributo
que sabe ou deveria saber ser indevido, ou, quando devido, emprega na
cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza. Neste crime o
agente NÃO irá tomar para si o valor cobrado, há tão somente uma cobrança
arbitrária, vexatória ou gravosa, não prevista na norma.

Na hipótese de conduta cometida por funcionário público ocupante do cargo


de agente fiscal, estará caracterizado o crime tributário definido no art. 3,II da
L. 8137/90.

STF → Custas e emolumentos correspondentes aos serviços notariais e registrais


são tributos, servindo, destarte, como objeto material do crime de excesso de
exação. (Inf. 461 STF)

EXCESSO DE EXAÇÃO QUALIFICADA:


PARÁGRAFO 2º Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o
que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos. Nesta
modalidade de concussão há uma modalidade de estelionato especializado,

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onde o funcionário age ativamente a fim de induzir ou manter o administrado
em erro.

ART. 317 – CORRUPÇÃO PASSIVA


Solicitar ou receber para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda
que fora da função ou antes mesmo de assumi-la, mas em razão dela,
vantagem indevida, ou aceitar a promessa de tal vantagem.

No que tange aos verbos núcleos do tipo:


Solicitar – Não se trata de coação, mas sim mera solicitação sem causar temor
direto à vítima; Crime formal;
Receber – Se contrapõe ao verbo oferecer da corrupção ativa e é um crime
material, exige o resultado naturalístico, ou seja, o recebimento do bem
indevido.
Aceitar – Se contrapõe ao verbo prometer da corrupção ativa e é um crime
formal, ou seja, não necessita que haja resultado naturalístico.
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IMPORTANTE: Cumpre destacar que a solicitação, recebimento ou aceitação


deve estar relacionada à função, atos da atribuição da função e, assim como
na concussão, NÃO PRECISA SER ECONÔMICA.

A corrupção ativa caminha com a corrupção passiva, no entanto, pode


haver a corrupção passiva sem a ativa. O ativo oferece (recebe, na corrup.
passiva) ou promete (aceita, na corrup. passiva) vantagem indevida e se não
houver aceitação ou recebimento por parte do funcionário público teremos
apenas consumado o crime de corrupção ativa. Além do mais, se o
funcionário público solicita e o particular paga a vantagem indevida, em
virtude da ausência de verbo correspondente no crime de corrupção ativa,
somente restará configurada a corrupção passiva, mas não a corrupção
ativa, posição da doutrina majoritária.

Essa é a única corrupção ativa que o núcleo “dar” não é punido. No, Código
Eleitoral, no Estatuto do Torcedor, na corrupção de testemunhas, a conduta
“dar” é crime.

ATENÇÃO: O fato de o crime de corrupção passiva ter sido praticado por


Promotor de Justiça no exercício de suas atribuições institucionais pode
configurar circunstância judicial desfavorável na dosimetria da pena. Isso

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porque esse fato revela maior grau de reprovabilidade da conduta, a
justificar o reconhecimento da acentuada culpabilidade, dadas as
específicas atribuições do promotor de justiça, as quais são distintas e
incomuns se equiparadas aos demais servidores públicos “latu sensu”. STJ. 5ª
Turma. REsp 1.251.621-AM, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 16/10/2014 (Info 552).

CORRUPÇÃO PASSIVA PRÓPRIA E IMPRÓPRIA:


Na corrupção própria o funcionário público negocia um ato indevido; já na
imprópria negocia um ato devido. Ex. Escrivão de Polícia solicita propina à
vítima de um crime para agilizar o IP. Não há previsão legal quanto à
corrupção imprópria, contudo, deve ser observada pelo juiz no momento de
aplicação da pena.

CAUSA DE AUMENTO DE PENA NA CORRUPÇÃO PASSIVA:


PARÁGRAFO 1º - A pena será aumentada de 1/3 se, em consequência da
vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer
ato de oficio ou o pratica infringindo dever funcional. Assim, verifica-se que
a causa de aumento é aplicável quando o funcionário público, em virtude da
vantagem indevida auferida, ainda afronta a dever funcional.

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O art. 317, §1º, do CP só aumenta a pena na corrupção passiva própria, pois
só nela há violação de dever funcional. Na corrupção passiva imprópria, a
pessoa pratica um ato observando o seu dever funcional, porém
comercializando esse ato.

A corrupção passiva tem dois momentos: (1º) comércio do ato; (2º) execução
do ato. O comércio do ato consuma o crime e a execução do ato majora a
pena. Mas, Atenção! Quando a execução do ato comercializado constitui,
por si só, crime autônomo, não incide a majorante, evitando-se bis in idem.
Ex. Servidor solicita dinheiro para facilitar fuga de preso. Ele solicitou dinheiro e
nesse momento, o delito do art. 317, do CP já está consumado. Depois, o
servidor efetivamente facilita a fuga: nesse caso, não se aumenta a pena do
art. 317, do CP, pois facilitar fuga configura o art. 351, do CP. Então, o agente
responderá pelo art. 317, do CP c/c art. 351, do CP, na forma do art. 69, do
CP. E não haverá a majoração do art. 317, do CP, para se evitar o bis in idem.

CORRUPÇÃO PRIVILEGIADA - PARÁGRAFO 2º - Apresenta-se sob a natureza


jurídica de causa de diminuição de pena. Ocorre quando o funcionário
público pratica, deixa de praticar ou retarda ato de oficio, em infração de
dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem. Cumpre
destacar que NÃO há qualquer vantagem auferida pelo funcionário nesse

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caso, mas sim mero pedido ou influência para a prática dos verbos núcleos
deste parágrafo. Este é o caso dos famigerados favores administrativos. Pune-
se o funcionário “quebra-galho”. Esse delito não se confunde com a
prevaricação, pois esta pune o ato do agente que objetiva a satisfazer
satisfação ou sentimento pessoal, mas sim a de outrem.

ATENÇÃO: Se quem solicita também é funcionário público e o faz valendo-se


de seu peso funcional com relação aos atos administrativos a serem
praticados por seus colegas, poderemos estar diante de advocacia
administrativa. Ex. Caso de um escrivão solicite a um Delegado para que
“amenize” o flagrante para com seu amigo pessoal que fora preso.
(DEPOL/RJ)

Na corrupção privilegiada, o funcionário público pratica, deixa de praticar ou


retarda ato de oficio em afronta a dever funcional, ou seja, regulamentos,
resoluções, mas nunca de lei. Na prevaricação há omissão ou prática de ato
em contra disposição expressa em lei. Ademais, na corrupção privilegiada o
funcionário atua para satisfazer o interesse de outrem, enquanto na
prevaricação a ilicitude é cometida objetivando satisfazer interesse ou
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sentimento pessoal. Em ambos os casos NÃO há vantagem indevida auferida


pelo agente criminoso.

Corrupção passiva antecedente? É aquela em que o sujeito solicita, recebe


ou aceita promessa para depois realizar o ato comercializado.
Corrupção passiva subsequente? É aquela em que o agente realiza o ato e
depois solicita ou recebe para depois aceitar a promessa.
→ Somente a corrupção passiva antecedente é crime, a subsequente é fato
atípico, porém pode caracterizar improbidade administrativa.

CASO PRÁTICO: O Senador solicitou e recebeu de uma construtora R$ 500 mil,


valor destinado à sua campanha política. A quantia foi repassada pela
construtora não diretamente ao Senador, mas sim ao partido político, como
se fossem doações eleitorais oficiais. Ao pedir o valor, o Senador teria se
comprometido com a construtora a manter João como Diretor da Petrobrás.
Isso era de interesse da construtora porque João, em nome da estatal,
celebrava contratos fraudulentos com a empresa. O Senador foi reeleito e,
com sua influência decorrente do cargo, conseguiu manter João na Diretoria.
Em um juízo preliminar, para fins de recebimento da denúncia, o STF entendeu
que a conduta do Senador, em tese, configura a prática dos seguintes crimes:
• Corrupção passiva (art. 317, caput e § 1º, do CP); • Lavagem de dinheiro

13
(art. 1º, caput, da Lei nº 9.613/98). STF. 2ª Turma. Inq 3982/DF, Rel. Min. Edson
Fachin, julgado em 7/3/2017 (Info 856).

ART. 319 - PREVARICAÇÃO


Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de oficio, ou praticá-lo
contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento
pessoal.

Trata-se de delito doloso em que há o retardamento ou omissão, indevida, de


ato de oficio contra disposição de lei com o objetivo de satisfazer interesse ou
sentimento pessoal, SEM QUALQUER INFLUÊNCIA DE OUTREM SOBRE O
FUNCIONÁRIO PÚBLICO.

CORRUPÇÃO PASSIVA PRIVILEGIADA PREVARICAÇÃO (art. 319)


O funcionário cede diante de um pedido ou influência O funcionário que age sem influência ou pedido de
de outrem. Há afronta a dever funcional. outrem. Há afronta a dever legal.
Não visa interesse ou satisfação pessoal (o funcionário Busca satisfazer interesse ou sentimento pessoal (o
não quer vantagem pessoal – favor administrativo) funcionário quer a vantagem). Fim específico

Trata-se de um crime formal, não sendo necessário que haja a satisfação de

DIREITO PENAL |
interesse ou sentimento pessoal. O agente poderá praticar o ato em virtude
de qualquer sentimento, seja para prejudicar ou ajudar outrem, porém sem
que haja qualquer pedido, solicitação ou exigência, sob pena de caracterizar
outros crimes. IMPORTANTE: HC 85180-STF: Quando diante de prevaricação, a
denúncia deve indicar qual foi o sentimento do funcionário público que
motivou a prática do ato, sob pena de inépcia da petição.

ENTEDIMENTO JURISPRUDENCIAL:
1.Na hipótese de haver discricionariedade na conduta escolhida, não há se falar em
crime de prevaricação. Assim, um Delegado de Polícia de plantão que baixa portaria
para apurar fato delituoso ao invés de autuar em flagrante delito os suspeitos do
crime, realiza opção justificável, que se insere no âmbito de suas atribuições.
2.Um delegado de polícia, por desleixo e mera indolência, omitiu-se na apuração de
diversas ocorrências policiais sob sua responsabilidade, não cumprindo, pelos
mesmos motivos, o prazo de conclusão de vários procedimentos policiais em curso.
Nessa situação, a conduta do policial NÃO constitui crime de prevaricação. A
jurisprudência é tranquila no sentido de que a negligência, desídia, preguiça, exclui
o dolo, havendo somente improbidade administrativa.

CONDESCENDÊNCIA CRIMINOSA – ART. 320


Deixar o funcionário público, por indulgência, de responsabilizar subordinado
que cometeu infração no exercício do cargo ou função (1), ou, quando lhe

14
falta competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade
competente (2).

CUIDADO: Para a caracterização do crime de condescendência criminosa,


NÃO é necessário haver relação de hierarquia entre o agente que cometa a
infração a autoridade competente para aplicar-lhe a sanção administrativa,
visto que qualquer agente possui o dever legal de levar o fato ao
conhecimento da autoridade competente para responsabilizar o agente (2).
(MS 14.159/DF, STJ)

Trata-se de um crime unissubsistente e omissivo, não admitindo a modalidade


tentada. A indulgência é o sentimento de piedade ou pena (clemência). Se
houver outro sentimento que não a indulgência (paixão, amor...), deverá ser
enquadrado no crime de prevaricação.

ADVOCACIA ADMINISTRATIVA- ART. 321


Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração
pública, valendo-se da qualidade de funcionário público. O interesse na
advocacia administrativa pode ser legitimo ou ilegítimo. O crime de
DIREITO PENAL |

advocacia administrativa é marcado pela utilização indevida das facilidades


do cargo ou das funções. O funcionário pretende fazer prevalecer, fazer influir
o seu peso funcional com relação aos atos administrativos a serem praticados
por seus colegas. É o chamado “pistolão”!

Natureza do interesse: “O crime de advocacia administrativa exige que o


interesse patrocinado seja particular e sempre em favor de terceiros.” (STJ: APn
567/GO)

O autor do fato pede algum favor para seu colega do próprio órgão público
ou de outro. Usa o seu poder funcional junto a um órgão público, sempre em
favor de terceiros, nunca em proveito próprio. Por exemplo, adiantar o dossiê
de aposentadoria de sua tia, facilitar o recadastramento eleitoral para seu
primo, pede para outro policial aliviar no flagrante contra amigo seu... Nesse
caso, o funcionário público que pratica o ato indevido, cedendo a influência
de outrem e violando dever funcional, responde por corrupção passiva
privilegiada, desde que não haja envolvimento de PAGAMENTO.

Esse crime visa resguardar o princípio da impessoalidade. Neste viés, se o


funcionário advoga, mesmo que contra a administração pública, mas não há
qualquer prevalência em virtude de sua função, não restará configurado o
crime de advocacia administrativa. A atuação indireta se afigura quando o

15
agente atua, por exemplo, através de escritório de outrem ou quando ele
atua como informante do advogado.

Se o interesse é ilegítimo teremos o crime de ADVOCACIA ADMINISTRATIVA


QUALIFICADA. (P. único do art. 321) Ex. Desembargador que solicita o
relaxamento da prisão ao juiz em virtude do envolvido ser parente seu.

Existe previsão especifica também na L. 8666 (art. 91) no que tange à


advocacia administrativa dentro do processo licitatório. Ademais, o art. I,II,III
L. 8137/90 traz o crime de advocacia administrativa quando o crime é
praticado por funcionário público de AUTORIDADE FAZENDÁRIA. (Fiscal da
Receita) – MUITO IMPORTANTE.

ART. 322 – VIOLÊNCIA ARBITRÁRIA


Praticar violência no exercício de função ou a pretexto de exercê-la. Trata-se
de crime funcional. Doutrina amplamente majoritária defende que este
dispositivo encontra-se revogado pelo art. 3,I da Lei de Abuso de Autoridade
(L. 4898 considera como crime qualquer ato contra a incolumidade física do
individuo o ato do funcionário praticado no exercício de função ou a pretexto

DIREITO PENAL |
de exercê-la). Não obstante o entendimento doutrinário, o STF e o STJ afastam
a revogação do art. 322.

No abuso de autoridade temos a figura clara do excesso, situação em que a


conduta começa com resquícios de legalidade, porém acaba por exceder o
que é permitido pela norma. Já a violência arbitrária é perpetrada
diretamente, sem qualquer resquício inicial de legalidade (STJ e STF). Na
violência arbitrária há ilegalidade no nascedouro da ação praticada pelo
funcionário público, não havendo um mínimo amparo legal.

A divergência sobre tema está ligada à proximidade de conceituação entre


a violência arbitraria e a violência abusiva (abuso de autoridade). Assim, em
virtude do principio da especialidade, segundo doutrina quase que uníssona,
deveria prevalecer o que dispõe a L. de Abuso de Autoridade. No entanto, o
STJ e STF fazem uma distinção em relação aos dois institutos, como já
observado acima.

A consumação se dá no momento da pratica do ato de violento e se houver


lesão corporal aplica-se a pena da violência arbitrária em CONCURSO
MATERIAL com o da lesão, visto que existe proteção a dois institutos jurídicos
distintos. (Não há forma qualificada pelo resultado lesão corporal ou morte no
caso de violência arbitrária, ATENÇÃO!)

16
ART. 323 – ABANDONO DE FUNÇÃO
Abandonar cargo público, fora dos casos permitidos em lei. Trata-se de um
crime formal e de mão própria. Parte da doutrina o classifica com crime
omissivo próprio, porém outra parte da doutrina o classifica como comissivo.
O crime em questão visa garantir o principio da continuidade do serviço
público.

Cumpre destacar que o abandono de função, por incrível que parece,


apesar do nomen iures, não caracteriza o crime de abandono de função, mas
sim do cargo. Ademais, o abandono deve ser por tempo relevante de modo
a incutir abalo funcional à administração pública.

ABANDONO DE FUNÇÃO QUALIFICADO: (2 qualificadoras)


(1) Se do fato resulta prejuízo público.
(2) O parágrafo segundo pune também o agente que abandona o cargo em
faixa de fronteira, punindo-o com pena de 1 a 3 anos. Art. 6634/79, art. 1 (Faixa
interna de 150Km que percorre toda a nossa fronteira.)
DIREITO PENAL |

Procedimentos dos crimes funcionais:


i) denúncia; ii) defesa preliminar; iii) recebimento; iv) procedimento ordinário.

O particular que concorre com o servidor terá direito à defesa preliminar? Não,
pois essa prerrogativa é privativa do funcionário público, não se estendendo
ao particular, partícipe ou coautor. Perceba que, se o funcionário público
deixar essa condição no oferecimento da denúncia, perderá o direito à
defesa preliminar. Ademais, vale lembrar que, se diante de parlamentar, o
processo for suspenso pela respectiva Casa, essa suspensão não irá beneficiar
o particular, ocorrendo cisão do processo para julgamento.

Caso o juiz omita a preliminar de defesa ao servidor, o que acontece? Há


concreta lesão à ampla defesa, gerando nulidade absoluta (Tourinho Filho e
STF);

EFEITOS DA CONDENAÇÃO: Art. 92 - São também efeitos da condenação: I -


a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior
a 1 (um) ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de
dever para com a Administração Pública;
b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4
(quatro) anos nos demais casos.”

17
São efeitos secundários, específicos e extrapenais. Porém, importante
destacar que esses efeitos não são automáticos, devendo ser motivadamente
declarados na sentença. Consequentemente, o magistrado precisa proceder
à apreciação da natureza e da extensão do dano, bem como às condições
pessoais do réu, para aferir seu cabimento no caso concretoO efeito da
condenação, por sua vez, é permanente, já que o condenado, ainda que
seja posteriormente reabilitado, jamais poderá ocupar o cargo, função ou
mandato objeto da perda, salvo se o recuperar por investidura legítima.
Anote-se, porém, que a possibilidade de perda do cargo público não precisa
vir prevista na denúncia, posto que decorre de previsão legal expressa, como
efeito da condenação, nos termos do art. 92 do Código Penal.

DOS CRIMES PRATICADOS POR


PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
Segundo a doutrina, se for funcionário público no exercício da função, deve-
se tentar amoldar a conduta ao crime de funcionário público contra
administração pública, no entanto, caso a conduta não esteja enquadrada
em nenhuma modalidade dos crimes funcionais, podemos aplicar aos
funcionários os crimes praticados por particulares contra a administração

DIREITO PENAL |
pública. (RESP 556814 STJ)

USURPAÇÃO DE FUNÇÃO PÚBLICA – ART. 328


Usurpar o exercício de função pública. Trata-se de um crime onde o particular
toma para si uma função pública, praticando ato de ofício que seria de um
funcionário público. É um crime que atenta contra a normalidade funcional.

Agente ativo: Em regra, qualquer particular. No entanto, é possível que um


funcionário público usurpe a função de outro e, como tal, seja sujeito ativo
deste crime.

Consumação: Trata-se de crime formal, em que a consumação se dá no


momento da prática de algum ato de ofício relativo à função. Já a
modalidade qualificada caracteriza-se como crime material, consumando-se
com a obtenção da vantagem indevida.

Usurpação Qualificada: Se da usurpação o agente aufere vantagem. Nesse


caso, temos uma proximidade muito grande com o crime de estelionato, no
entanto, pelo principio da especialidade devemos aplicar o crime de
usurpação qualificada.

18
ATENÇÃO: O mero ato de fingir ser funcionário público, intitulando-se como
tal, caracteriza contravenção penal, art. 45, LCP, se não houver especial fim
de agir. A partir do momento em que ele pratica algum ato de oficio, há a
caracterização do crime de usurpação de função pública. (art. 328). No
entanto, se ele pratica diversos atos de ofício usurpando a função, qual será
a consequência? Segundo STF, estamos diante de um crime de habitualidade
imprópria, ou seja, a multiplicidade da pratica de atos de que configurem o
crime de usurpação de função se afigura como um único crime.

Se o sujeito passou no concurso e empolgado começa a exercê-la, qual será


o crime? O crime continua sendo o de usurpação de função publica, art. 328,
visto que o art. 324 (exercício funcional ilegalmente antecipado ou
prolongado) exige que o indivíduo já tenha sido nomeado e investido.

ATENÇÃO: O fato de os agentes, utilizando-se de formulários falsos da


Receita Federal, terem se passado por Auditores desse órgão com intuito de
obter vantagem financeira ilícita de particulares não atrai, por si só, a
competência da Justiça Federal. Isso porque, em que pese tratar-se de uso
de documento público, observa-se que a falsidade foi empregada, tão
somente, em detrimento de particular. Assim sendo, se se pudesse cogitar
DIREITO PENAL |

de eventual prejuízo sofrido pela União, ele seria apenas reflexo, na medida
em que o prejuízo direto está nitidamente limitado à esfera individual da
vítima, uma vez que as condutas em análise não trazem prejuízo direto e
efetivo a bens, serviços ou interesses da União, de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas (art. 109, IV, da CF). STJ. 3ª Seção. CC
141.593-RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 26/8/2015
(Info 568).

RESISTÊNCIA – ART. 329


Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a
funcionário público competente para executá-la ou a quem lhe esteja
prestando auxilio. Trata-se de um crime formal, consumando-se pela mera
oposição com emprego de violência ou ameaça. Não exige GRAVE ameaça!

Sujeito Passivo: Somente o funcionário público COMPETENTE para a prática do


ato pode ser agente passivo do delito de resistência (Mirabete). O particular
que pratica o flagrante facultativo não caracteriza o crime de resistência.
Contudo, se o particular estiver auxiliando o funcionário público, poderá ser
sujeito passivo do crime.

FUGA À ORDEM DE PRISÃO: Um indivíduo é flagrado cometendo um crime e o


policial dá voz de prisão. Se, diante da ordem policial, o indivíduo fugir, isso

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não será crime de resistência, pois essa pessoa simplesmente está tentando se
livrar da prisão, devendo existir um comportamento ativo no sentido de
ameaça ou violência. Também não será desobediência, pois a fuga à voz de
prisão não tipifica, pois é instinto de liberdade e não vontade de desobedecer
(TJSP, mv — RJTJSP71/317; TACrSP, RT555/374).

Resistência Qualificada: Se o ato, em razão da resistência, não se executa.

A resistência admite concurso de crimes? Sim, trata-se de concurso material


obrigatório quando a resistência se perfaz através de ato de violência:
Resistência + lesão corporal ou morte. → A resistência absorve a
desobediência e também o delito de ameaça, mas não absorve os delitos
que emergem da violência perpetrada, por expressa determinação legal - art.
329, § 2º.

A diferença entre resistência e desobediência está na seara do emprego de


violência ou ameaça quando diante do primeiro e a segunda trata-se apenas
da desobediência de ordem legal de funcionário público, sem qualquer
violência ou ameaça. A resistência absorve a desobediência.

DIREITO PENAL |
ATENÇÃO: A resistência, diante de ato ilegal, não se configura como crime;
já quando diante de ato injusto e a pessoa resiste, poderemos enquadrar no
crime de resistência, pois a justiça do ato não deve ser aferida pelo agente.

A jurisprudência caracteriza que movimentos corpóreos de defesa e aqueles


derivados do reflexo do agente não caracterizam resistência. Assim, o crime
de resistência exige movimentos ativos do funcionário público ou a quem lhe
auxilia de modo a opor-se a execução de ato legal.

IMPORTANTE: Policial Militar que efetua prisão quando de folga. Necessidade


de que o funcionário esteja exercendo a função no momento da resistência.
Delito não caracterizado. É necessário para a caracterização do crime do art.
329 do CP que o funcionário esteja exercendo suas funções quando o agente
se opõe a execução de ato legal. (RJDTACRIM 2/144).

• Há crime de resistência previsto em lei especial quanto aos atos das


CPI’s e ECA.

DESOBEDIÊNCIA – ART. 320


Desobedecer à ordem de funcionário público. Esse crime exige que haja uma
ordem legal de um funcionário público com competência para emiti-la. A

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conduta pode ser tanto omissiva quanto comissiva. A ordem deve ter
chegado inequivocamente ao destinatário para fins de configuração do
delito. Esta deve ser transmitida para alguém que tenha a obrigação de
cumpri-la. Se o destinatário tem a possibilidade de não cumprir a ordem (Ex.
exame do bafômetro) não estaria caracterizada a ordem, visto que essa
ordem é uma obrigação. Ademais, não se configura o crime de
desobediência se o agente, apesar do dever de cumprir a ordem legal
emitida por funcionário público, não tiver possibilidade ou condições efetivas
de cumpri-la.

Segundo jurisprudência e doutrina majoritária, não se configura o crime de


desobediência quando lei já comina sanção administrativa, civil ou penal em
caso de descumprimento da ordem judicial.

STJ, 6ª Turma, HC 226512 (09/10/2012): Não se configura o crime de desobediência


na hipótese em que as notificações do responsável pelo cumprimento da ordem foram
encaminhadas por via postal, sendo os avisos de recebimento subscritos por terceiros.
Para caracterizar o delito de desobediência, exige-se a notificação pessoal do
responsável pelo cumprimento da ordem, demonstrando a ciência inequívoca da sua
existência e, após, a intenção deliberada de não cumpri-la.
DIREITO PENAL |

DESACATO – ART. 331


Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela. Esse
crime pune a conduta objetivamente capaz de menosprezar a função
pública exercida por determinada pessoa. Nesse delito, ofende-se o
funcionário público com a finalidade de humilhar a dignidade e o prestígio da
atividade administrativa. Para que ocorra o crime de desacato faz-se
necessária a presença do funcionário público, não se exigindo a presença
face a face, bastando que, de alguma forma, possa escutá-la. Destarte, não
é desacato a ofensa por carta, pela via telefônica ou pela imprensa, por
ausência do funcionário público no momento da prática do ato. Em tais
casos, poderão se configurar os crimes de injúria, difamação e calúnia. Frise-
se que não é preciso que o funcionário esteja no exercício da função para
configurar o desacato, bastando que a conduta ofensiva seja motivada pela
função exercida pela vítima, funcionário público. Ex. cuspir na cara, lançar
fezes ou urina no indivíduo, xingamentos em razão do exercício da função.

Ex.1: Juiz sendo insultado em um recurso, pelo advogado. É crime contra a honra,
pois o juiz toma conhecimento da ofensa lendo a petição.
Ex.2: Delegado Federal está fazendo um flagrante e, na sala do lado, ele escuta o
preso o ofendendo. Esse crime é de desacato, pois o delegado está na presença do
preso.

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Ex.3: Uma pessoa liga para o funcionário público e começa a insultá-lo pelo telefone.
Isso é crime contra a honra ou desacato? É crime contra a honra, pois a pessoa
ofendida não está no local. Segundo a jurisprudência, a ofensa por telefone é crime
contra a honra, e não desacato.

Sujeito passivo: É o Estado, titular do bem jurídico legalmente protegido.


Mediatamente, também pode ser vítima a pessoa física (funcionário público)
lesada pela conduta criminosa.

Se, em um mesmo contexto fático, uma pessoa ofende vários funcionários


públicos, cometerá um só crime de desacato, pois o bem jurídico terá sido
atingido uma única vez. Entretanto, a maior reprovabilidade da conduta deve
ser utilizada pelo magistrado na dosimetria da pena-base, como circunstância
judicial desfavorável (art. 59, caput, do CP). Entretanto, estará caracterizado
o concurso de crimes (concurso material ou crime continuado, dependendo
da situação concreta) se os funcionários públicos forem ofendidos em
contextos fáticos diversos.

Consumação: Trata-se de crime formal, de consumação antecipada ou de


resultado cortado, sendo indiferente se o agente público sentiu-se ou não

DIREITO PENAL |
ofendido, pois a lei tutela a dignidade da função pública, e não a honra de
quem a exerce. A publicidade da ofensa não é elementar do delito,
subsistindo o desacato mesmo na situação em que a conduta não seja
presenciada por outras pessoas, desde que presente o funcionário público. No
que tange à tentativa, a doutrina majoritária afirma ser incompatível com esse
delito, em razão do caráter unissubsistente do crime.

Desacato, críticas à conduta funcional, falta de educação e repulsa imediata:


Como o desacato pressupõe a intenção de humilhar a função pública
exercida pelo agente estatal, não há crime nos comportamentos que,
embora enérgicos, mas não ultrajantes, se esgotam em críticas ao
comportamento funcional, mesmo porque a todo cidadão é assegurado o
direito de fiscalizar a Administração Pública e a prestação dos serviços
públicos.

Apesar de não ter havido a abolição do tipo penal, há um entendimento


atual do STJ afirmando que o crime de desacato sofre de
INCONVENCIONALIDADE, pois estaria na contramão do humanismo
preconizado no Pacto San José da Costa Rica. Segundo o STJ, o crime de
desacato previsto no art. 331 do CP não mais subsiste em nosso ordenamento
jurídico por ser incompatível com o artigo 13 do Pacto de San José da Costa

22
Rica. A criminalização do desacato está na contramão do humanismo,
porque ressalta a preponderância do Estado - personificado em seus agentes
- sobre o indivíduo. A existência deste crime em nosso ordenamento jurídico é
anacrônica, pois traduz desigualdade entre funcionários e particulares, o que
é inaceitável no Estado Democrático de Direito preconizado pela CF/88 e
pela Convenção Americana de Direitos Humanos. STJ. 5ª Turma. REsp
1.640.084-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 15/12/2016 (Info 596). No
entanto, entenda que o fato de o desacato não mais ser punido não significa
que o indivíduo que ofendeu a honra de um servidor público não possa ser
responsabilizado. A depender da situação concreta e das palavras proferidas
ou gestos praticados, o ofensor poderá responder por calúnia, difamação ou
injúria. Neste caso, contudo, a vítima será a pessoa física, ou seja, o próprio
servidor ofendido (e não mais o Estado).

TRÁFICO DE INFLUÊNCIA – ART. 332


Solicitar, exigir, cobrar ou obter para si ou para outrem, vantagem ou
promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário
público no exercício da função. Hungria trata de um crime exercido por um
vendedor de fumaça, ou seja, o agente ativo vende aquilo que ele não tem.
DIREITO PENAL |

Cumpre destacar que restará caracterizado o crime somente quando aquele


que solicita não detém a possibilidade de influir no almejado. Se ele tem o
poder de influenciar e vier a corromper o funcionário público, caracterizará
corrupção ativa – art. 333. (Masson). Ademais, vale lembrar que é um crime
praticado por particular, em regra.

Causa de aumento de pena: A pena é aumentada de ½ se o agente alega


ou insinua que a vantagem é também destinada ao funcionário.

Obs.: Existe certo disparate entre as penas do tráfico de influência e


exploração de prestígio. A diferença entre os dois institutos está na pessoa
objeto da influência. A exploração de prestígio tutela a higidez processual e
da justiça.

EXPLORAÇÃO DE PRESTÍGIO – ART. 357


Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer outra utilidade, a pretexto de influir
em juiz, jurado, órgão do MP, funcionário de justiça, perito, tradutor, intérprete
ou testemunha. (Partes do processo)

23
Caso de aumento: As penas aumentam-se de 1/3, se o agente alega ou
insinua que o dinheiro ou utilidade também se destina a qualquer das pessoas
referidas neste artigo.

CORRUPÇÃO ATIVA – ART. 333


Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para
determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício.

Trata-se de um crime totalmente formal, de resultado normativo, em que não


há necessidade de efetivamente o ato ser praticado, omitido ou retardado,
bastando o oferecimento ou promessa de vantagem indevida. Magalhães
Noronha ensina que a corrupção ativa é dar para que se faça e não dar para
o que se fez. Os verbos oferecer ou prometer devem anteceder a prática do
ato, não caracterizando crime se realizados após a prática do ato. Assim,
aquele agente que oferece uma vantagem depois do ato praticado não
caracteriza o crime de corrupção ativa. Nesse sentido, o funcionário que
recebeu também não se enquadrará no crime de corrupção passiva, tão
somente podendo responder por ato de improbidade.

DIREITO PENAL |
ATENÇÃO: Carcereiro não responde por crime de corrupção passiva, quando
se tratar de visita íntima pelos familiares, pois é um direito do reeducando
proporcionado pelo Estado, e não tem o carcereiro a atribuição de definir o
momento desta visita. Logo, também não responde por corrupção ativa os
familiares que venham a oferecer alguma quantia ao carcereiro – STF / HC
106300/MG.

O particular que ofereceu ou prometeu vantagem indevida ao funcionário


público para que este deixasse de lançar ou de cobrar o tributo, responderá
pelo delito do art. 3º, II, da Lei n. 8.137/90? NÃO. Neste caso, o particular iria
responder pelo crime de corrupção ativa (art. 333 do CP). Trata-se de
exceção pluralista à teoria monista de que trata o art. 29 do CP. Isso porque
o corruptor responderá pelo art. 333 do CP e o corrupto pelo crime tributário.

CONTRABANDO E DESCAMINHO – ART. 334


Houve alteração legislativa recente que modificou os artigos referentes ao
crime de contrabando e descaminho. Importante conhecer – Lei 13.008:

Art. 334. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto


devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.

24
§ 1o Incorre na mesma pena quem:

I - pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei;


II - pratica fato assimilado, em lei especial, a descaminho;
III - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma,
utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
industrial, mercadoria de procedência estrangeira que introduziu
clandestinamente no País ou importou fraudulentamente ou que sabe ser
produto de introdução clandestina no território nacional ou de importação
fraudulenta por parte de outrem;
IV - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício
de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência
estrangeira, desacompanhada de documentação legal ou acompanhada
de documentos que sabe serem falsos.
§ 2o Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo,
qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias
estrangeiras, inclusive o exercido em residências.
§ 3o A pena aplica-se em dobro se o crime de descaminho é praticado em
transporte aéreo, marítimo ou fluvial.
Contrabando
Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria proibida:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 ( cinco) anos.
DIREITO PENAL |

§ 1o Incorre na mesma pena quem:


I - pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando;
II - importa ou exporta clandestinamente mercadoria que dependa de
registro, análise ou autorização de órgão público competente;
III - reinsere no território nacional mercadoria brasileira destinada à
exportação;
IV - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma,
utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira;
V - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício
de atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira.
2º - Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo,
qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias
estrangeiras, inclusive o exercido em residências.
§ 3o A pena aplica-se em dobro se o crime de contrabando é praticado em
transporte aéreo, marítimo ou fluvial.

Essa alteração na quantidade da pena produz consequências negativas para


o réu (e, portanto, sabemos que NÃO IRÁ RETROAGIR). Vejamos:
1. Não cabe mais suspensão condicional do processo (a pena mínima
ultrapassa 01 ano)
2. Passa a admitir prisão preventiva (antes só cabia em hipóteses
excepcionais)

25
3. O prazo prescricional passa de 08 para 12 anos (art. 109, III do CP)

Tanto no crime de descaminho quanto no crime de contrabando, a redação


anterior do CP considerava que a pena seria aplicada em dobro se o delito
fosse cometido mediante transporte AÉREO. Pois bem, a nova lei estendeu
esta previsão também para os transportes marítimos ou fluviais (mares ou rios).

Como se pode verificar, após esta mudança, o crime de Descaminho


permanece no Art. 334 e o de Contrabando vira tipo penal AUTÔNOMO no
Art. 334-A. Pra facilitar o entendimento, é o processo inverso ao que houve no
caso do estupro com atentado violento ao pudor.

Atualmente, portanto, se houver um acúmulo de condutas (importar e iludir


pagamento de imposto, por exemplo) o autor responderá, certamente, em
concurso de crimes. Não mais por crime único.

Importância da lei 13.008/14: aumento da pena base para o crime de


contrabando e impossibilidade de suspensão condicional do processo.

DIREITO PENAL |
CONTRABANDO:
No contrabando temos uma mercadoria que não pode entrar ou sair do
território brasileiro. (Cuidado com os tipos penais especiais do crime de
contrabando. Ex. drogas, armas de fogo, moeda falsa, crimes ambientais)

O caput deste dispositivo constitui-se em lei penal em branco homogênea,


devendo haver complementação por outra lei, destinada a indicar as
mercadorias absoluta ou relativamente proibidas no Brasil ou os impostos
devidos pela entrada ou saída de mercadorias do território.

Importante: As normas que vedam a importação ou exportação de


mercadoria são ultrativas, devendo aplicar a regra do art. 3, visto que embora
decorrido o período de duração ou cessadas as circunstancias que vedavam
a importação ou exportação tenham expirado e a norma não esteja mais em
vigor, aplica-se o crime de contrabando ao ato praticado na vigência da lei
que proibia a importação ou exportação.

A proteção da lei é dirigida à Administração Pública. Pelos conceitos


fornecidos e pelos termos do dispositivo em estudo, a proteção faz-se efetiva
também em relação ao controle do Poder Público sobre a entrada e saída
de mercadorias do País e os interesses em termos de tributação da Fazenda
Nacional e também a saúde e a segurança pública.

26
O elemento subjetivo do delito em estudo é o dolo, que corresponde à
vontade livre e consciente de realizar as condutas descritas nas modalidades
supracitadas. Trata-se de delito forma, portanto não exige resultado
naturalístico.

CONSUMAÇÃO: A consumação do crime de contrabando se dá no momento


em que o produto proibido entra ou sai do território brasileiro. Nesse sentido, o
STJ e Doutrina Majoritária: Quando houver barreira alfandegária, a
consumação se dá quando esta for ultrapassada, ainda que já tenha
ingressado no território ao qual a substancia é proibida. Ex. Pessoa porta
medicamento proibido ao chegar no aeroporto e em barreira o material é
apreendido. Nesse caso, segundo este posicionamento estaríamos diante de
contrabando na modalidade tentada. (HC 120586).

A Quinta Turma desta Corte firmou entendimento no sentido de que o


descaminho é crime formal, e não material, razão pela qual o resultado da
conduta delituosa relacionada ao quantum do imposto devido não integra o
tipo legal. 2. Nos termos do art. 334 do Código Penal, o crime de descaminho
DIREITO PENAL |

se perfaz com o ato de iludir o pagamento de imposto devido pela entrada


de mercadoria no país. Desnecessária, portanto, a apuração administrativo-
fiscal do montante que deixou de ser recolhido para a configuração do
delito. O mesmo raciocínio deve ser aplicado ao delito de
contrabando. Precedentes. 3. Decisão que se mantém por seus próprios
fundamentos. 4. Agravo regimental desprovido. (AgRg no Recurso Especial nº
1.419.119/PR (2013/0384727-4), 5ª Turma do STJ, Rel. Laurita Vaz. j. 18.03.2014,
unânime, DJe 28.03.2014).

A tentativa é possível em todas as modalidades. Há quem sustente que as


modalidades previstas nos incisos IV e V usa a expressão “no exercício de
atividade comercial ou industrial” está indicando claramente que para
caracterização do crime deve haver “habitualidade”.

DESCAMINHO:
A figura do descaminho consiste na introdução de mercadoria estrangeira no
território nacional, desacompanhada de documentação fiscal exigida” (STF:
HC 73.715/SP, rel. Min. Ilmar Galvão, 1ª Turma, j. 07.05.1996)

No descaminho, destaca-se o interesse patrimonial do Estado, em face do


prejuízo na arrecadação dos tributos devidos. O elemento subjetivo é o dolo,

27
independentemente de qualquer finalidade específica. Não se admite a
modalidade culposa.

O descaminho é crime tributário material? Para o ajuizamento da ação


penal é necessária a constituição definitiva do crédito tributário? Aplica-se
a Súmula Vinculante 24 ao descaminho?
NÃO. Tanto o STJ como o STF entendem que o descaminho é crime tributário
FORMAL. Logo, para que seja proposta ação penal por descaminho não é
necessária a prévia constituição definitiva do crédito tributário.
Não se aplica a Súmula Vinculante 24 do STF.
O crime se consuma com a simples conduta de iludir o Estado quanto ao
pagamento dos tributos devidos quando da importação ou exportação de
mercadorias.
Obs: a 6ª Turma do STJ resistia em adotar esse entendimento, mas agora
também passou a decidir no mesmo sentido.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.343.463-BA, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz,
julgado em 20/3/2014 (Info 548).
STF. 2ª Turma. HC 122325, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27⁄05⁄2014.
Fonte: Dizer o Direito.

Descaminho – falsidade ideológica – alteração do preço da mercadoria

DIREITO PENAL |
para iludir o pagamento do tributo devido – absorção (princípio da
consunção): “Responderá apenas pelo crime de descaminho, e não por
este em concurso com o de falsidade ideológica, o agente que, com o fim
exclusivo de iludir o pagamento de tributo devido pela entrada de
mercadoria no território nacional, alterar a verdade sobre o preço desta.
Isso porque, na situação em análise, a primeira conduta realizada pelo
agente, com adequação típica no art. 299 do CP, serve apenas como meio
para alcançar o fim pretendido, qual seja, a realização do fato previsto
como crime no art. 334 do CP. Trata-se, pois, de uma das hipóteses em que
se aplica o princípio da consunção, quando um crime é meio necessário ou
normal fase de preparação ou de execução de outro crime. Nesse
contexto, evidenciado o nexo entre as condutas e inexistindo dolo diverso
que enseje a punição do falso como crime autônomo, fica este absorvido
pelo descaminho” (STJ: RHC 31.321/PR, rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, 5ª
Turma.

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA: Atualmente, o STF e STJ, entendem que é


possível aplicar o Princípio da Bagatela diante do crime de descaminho, tendo
como base o valor do débito tributário em até R$ 20.000,00.

Porém, não é possível aplicação do princípio em comento diante do crime de


contrabando. (STF. HC 110.964) Nesse sentido, o STJ afirma não ser possível
aplicar o princípio da insignificância diante do crime de CONTRABANDO, pois,
ao contrário do que ocorre com o delito de descaminho, o bem juridicamente

28
tutelado, no crime de contrabando, vai além do mero valor pecuniário do
imposto elidido, pois também visa à proteção do interesse estatal de impedir
a entrada e a comercialização de produtos proibidos em território nacional.
(HC 258624 / RR)

PAGAMENTO DA DÍVIDA TRIBUTÁRIA: Se o denunciado pelo crime de


descaminho fizer o pagamento integral da dívida tributária, haverá extinção
da punibilidade? NÃO. Segundo a posição atual do STJ, o pagamento do
tributo devido NÃO extingue a punibilidade do crime de descaminho. STJ. 5ª
Turma. RHC 43.558-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 5/2/2015 (Info 555).

CONSUNÇÃO: Quando o falso se exaure no descaminho, sem mais


potencialidade lesiva, é por este absorvido, como crime-fim, condição que
não se altera por ser menor a pena a este cominada. STJ. 3ª Seção. REsp
1.378.053-PR, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 10/8/2016 (Info 587)

CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇAO DA JUSTIÇA


DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA - ART. 339
DIREITO PENAL |

Trata-se de um crime onde o agente tem o dolo direto de caluniar, ou seja,


ele sabe que a pessoa não cometeu o crime ou contravenção, mas dá
causa a instauração de investigação policial, processo judicial, investigação
administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra
alguém, imputando ao agente passivo crime de que sabe ser inocente. Não
há crime de denunciação caluniosa caso o agente tenha agido com dolo
eventual - STF. 2ª Turma. HC 106466/SP.

1. Investigação policial - Prevalece que é dispensável a efetiva formação de inquérito


policial, bastando a movimentação da autoridade policial no sentido de apurar os
fatos;
2. Processo Judicial Penal - Somente será objeto do crime o processo penal.
3. Investigação Administrativa - Atenção! O ilícito administrativo apurado deve
corresponder a uma infração penal. A denunciação caluniosa é praticada mediante
calúnia.
4. Inquérito Civil - Aqui, também o fato apurado deve corresponder a uma infração
penal.
5. Ação de Improbidade Administrativa - Também o fato apurado deve corresponder
a uma infração penal.

Segundo Masson, não há denunciação caluniosa quando o agente acredita


fielmente que o denunciado é o autor do delito, mesmo que posteriormente
ele venha a ser julgado como inocente. Ademais, quando o agente pratica

29
a denunciação, acreditando ser o denunciado inocente, mas posteriormente
constata-se seu envolvimento com o ilícito penal, NÃO caracteriza
denunciação caluniosa. Obs: Atenção! Não é punível denunciação caluniosa
contra os mortos, mas somente a calúnia (art. 138, §2º, do CP).

A autodefesa é um direito ilimitado? Não. A autodefesa não é um direito


absoluto. Exemplo disso, já consagrado há muito tempo, é o fato de que, se o
réu, em seu interrogatório, imputar falsamente o crime à pessoa inocente
responderá por denunciação caluniosa (art. 339, CP) – STJ e doutrina.

➔ ATENÇÃO: O fato prescrito pode gerar hipótese de crime impossível.

CAUSA DE AUMENTO 1: Se o agente se vale de anonimato ou nome suposto para


praticar o crime de denunciação caluniosa, a pena é aumentada de 1/6.
CAUSA DE DIMINUIÇÃO 2: Se o fato imputado pelo agente é contravenção penal
a pena é diminuída.

STF - MOMENTO PARA OFERECIMENTO DA DENÚNCIA: O momento oportuno


para o oferecimento da denúncia por denunciação caluniosa ocorre a partir

DIREITO PENAL |
do arquivamento do IP (quando faz coisa julgada material) ou da decisão
definitiva que reconheça a inocência do acusado. (HC 82941/RJ) Vale
destacar que esta é uma medida de prudência estatuída pela jurisprudência,
visto que não exige qualquer determinação legal nesse sentido no
ordenamento jurídico pátrio.

Denunciação caluniosa por Improbidade administrativa: art. 19 da lei de


improbidade: “Constitui crime a representação por ato de improbidade
contra agente público ou terceiro beneficiário, quando o autor da denúncia
o sabe inocente.” Essa modalidade de denunciação caluniosa somente se
aplica quando a imputação falsa está estritamente relacionada a uma
improbidade administrativa, sem que também seja considerada crime pelo
CP.

QUESTÕES TÍPICAS DE CONCURSO PÚBLICO:


Fulano provoca o ajuizamento de ação de improbidade contra o servidor
Beltrano, imputando-lhe falsamente peculato de uso de um veículo da
repartição em que trabalha. Há denunciação caluniosa? R: No caso da ação
de improbidade, deve-se diferenciar se o fato apurado corresponde a
infração penal ou não. Se o objeto da ação corresponder a uma infração
penal, há a denunciação caluniosa. Mas, o peculato de uso é fato atípico.
Então, o objeto da ação não corresponde a uma infração penal. O fato
configura o art. 19, da Lei de Improbidade Administrativa.

30
- É possível a extinção da punibilidade pela retratação do agente na
denunciação caluniosa? R: O legislador, ao contrário do que fez na calúnia,
não permite retratação extintiva da punibilidade na denunciação caluniosa,
podendo a retratação configurar, conforme o caso, atenuante de pena ou
arrependimento eficaz.

COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME – ART. 340


Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou
contravenção que sabe não se ter verificado. Ex. Disque denúncia em que se
noticia um crime que estaria acontecendo em local X, mas que, na realidade,
o agente sabe que não está.

Que autoridade pode ser provocada? A doutrina divide-se em relação de que


autoridade pode ser comunicada e provocada. Hungria defende a tese de
que somente autoridade policial admitiria esta provocação. No entanto, a
maioria da doutrina aduz que qualquer autoridade poderia ser comunicada
e, por conseguinte restaria caracterizado o crime de comunicação falsa de
crime.
DIREITO PENAL |

Este é um crime, muitas vezes, meio para a consumação do crime de fraude


contra segurado (modalidade de estelionato). A doutrina majoritária não
admite absorção, visto que são bens jurídicos diversos e, como tal, devem ser
imputados ao agente os dois crimes.

Na denunciação caluniosa o agente imputa a alguma outra pessoa um fato


criminoso certo e determinado, provocando a instauração de investigação
criminal, processo judicial, investigação administrativa, inquérito civil ou ação
de improbidade administrativa contra alguém; na comunicação falsa de
crime não há qualquer pessoa imputada, tão somente ocorre o movimento
do estado para a investigação de um crime ou contravenção, sem sujeitos
determinados, em que a pessoa sabe que não está ocorrendo.

➔ Tanto a denunciação caluniosa quanto a comunicação falsa de crime


abrangem as CONTRAVENÇÕES PENAIS.

ATENÇÃO: Se, em razão da comunicação falsa de crime, houve a instauração


de inquérito policial, sendo a falsidade descoberta durante os atos
investigatórios nele realizados, o delito cometido é o de denunciação
caluniosa, previsto no art. 339 do CP. O fato de o indivíduo apontado
falsamente como autor do delito inexistente não ter sido indiciado no curso

31
da investigação não é motivo suficiente para desclassificar a conduta para o
crime do art. 340. STJ. 6ª Turma. REsp 1.482.925-MG, Rel. Min. Sebastião Reis,
julgado em 6/10/2016 (Info 592).

AUTOACUSAÇÃO FALSA – ART. 341


Acusar-se, perante a autoridade, de crime inexistente ou praticado por
outrem. É a chamada autocalúnia. Não há a figura do partícipe neste crime.
Sendo assim, é atípica a conduta de acusar-se, perante a autoridade, de
contravenção penal inexistente.

FALSO TESTEMUNHO OU FALSA PERÍCIA - ART. 342 (PERJÚRIO)


Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade, como
testemunha, perito, contador, tradutor ou interprete em processo judicial, ou
administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral.

Segundo entendimento do STJ, a conduta do agente deve recair em fato


juridicamente relevante, compreendido como acontecimento idôneo a influir
na valoração da prova a ser utilizada em processo administrativo (incluindo o
IP), judicial ou arbitral.

DIREITO PENAL |
Trata-se de um delito que afeta a formação da verdade real e, segundo a
doutrina, configura-se como crime de mão própria, somente sendo imputável
àqueles previstos no tipo, não admitindo coautoria, mas admite participação
do advogado, por exemplo que induz e aconselha seu cliente a mentir sobre
fato (doutrina majoritária). Já segundo o STJ e STF, o advogado que instrui a
testemunha a mentir atua como coautor do delito, sob a teoria do domínio
do fato. (STF RHC 81327 e HC 75037 e STJ REsp 402.783/SP)

Consumação: no que diz respeito ao falso testemunho, o crime consuma-se


no momento em que a testemunha, tradutor ou intérprete termina seu
depoimento lavrando sua assinatura, crime formal. Já na hipótese da falsa
perícia, tradução, contagem ou interpretação por escrito, consuma-se no
instante da entrega do laudo, parecer ou documento à autoridade
competente. Atenção! Em todos esses casos, basta a potencialidade lesiva.
Não se admite culpa, pois o crime é doloso. Destaque-se que ulterior
declaração de incompetência do juízo não afasta o perjúrio realizado diante
do juízo incompetente.

Importante lembrar que o art. 159, §1º, do CPP diz que, na falta de perito
oficial, o exame será realizado por duas pessoas. A falsa perícia, apesar de

32
delito mão própria, é um caso excepcional em que se admite coautoria,
quando a lei exige dois profissionais assinando o laudo.

O informante (testemunha não compromissada) pratica falso testemunho?


1ª corrente - sim, pois o art. 342 não pressupõe prestação de compromisso.
Outro argumento é que o informante pode interferir na convicção do juiz; (STF)
2ª corrente - não, pois se a lei não as submete ao compromisso de dizer a
verdade, não podem cometer o delito de falso testemunho (doutrina
majoritária).

Destaque-se que este crime não alcança o ofendido, visto que ele pode
mentir com relação a fatos e está resguardado pelo principio da não
produção de provas contra si mesmo.

- ATENÇÃO: havendo o falso perante CPI, a conduta é tipificada em lei


específica, de acordo com o disposto no art. 4.º, II, da Lei 1.579/52, que a
regulamenta.

CAUSA DE AUMENTO: Aumenta-se a pena se o crime de falso testemunho é


DIREITO PENAL |

cometido mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova


destinada a produzir efeito em processo penal ou em processo civil em que
for parte a entidade da administração pública direta e indireta. Nesse caso,
aquele que dá, oferece ou promete o dinheiro àquelas pessoas responderá
pelo crime do art. 343, quebrando-se a teoria monista.

MUITO IMPORTANTE: A falsidade não se extrai da comparação do depoimento


da testemunha com a realidade dos fatos (Teoria Objetiva), mas sim do
contraste do depoimento com a ciência da testemunha (Teoria Subjetiva).
Então, é perfeitamente possível falso testemunho sobre fato verdadeiro. Ex. A
pessoa não sabia de nada, mas foi ensinada para falar aquilo (pediram para
aquela pessoa falar aquilo em juízo). Então, mesmo que ela esteja falando a
verdade, ela não sabia daquilo, praticando falso testemunho.

EXCLUDENTE DE PUNIBILIDADE: O fato deixa de ser punido se antes da


sentença de 1º grau, no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se
retrata ou declara a verdade. (A natureza jurídica deste instituto é causa de
extinção de punibilidade) (Comportamento pós-delito positivo). Contudo, o
agente tem que se retratar antes da sentença do processo em que ele mentiu.
Ex.: Fulano calou a verdade em processo cível que apura responsabilidade civil de
uma empresa. A retratação, para extinguir a punibilidade do crime de falso
testemunho, deve ocorrer antes da sentença de primeiro grau no processo cível em

33
que ocorreu o ilícito. Obs: Em processos da competência do Júri, é possível a
retratação extintiva da punibilidade mesmo após a decisão de pronúncia, desde
que anterior à sentença de mérito.

O partícipe também se beneficia da retratação que extingue a punibilidade:


1ª corrente - não, pois com base na teoria da acessoriedade limitada, a
punibilidade é fato que não extingue a punição ao partícipe, desde que o
fato seja típico e ilícito; Segundo entendimento do STF a retratação é ato
personalíssimo, situação em que não se estende aos demais envolvidos. HC
58483/SP.
2ª corrente - sim, pois o dispositivo afirma que o “fato deixa de ser punível” e
não o agente. Logo, depende do encerramento do depoimento para se
consumar. Contudo, trata-se de crime formal (consumação antecipada),
sendo irrelevante se o falso influiu no processo. (minoritário)

Ademais, o falso em carta precatória, a competência para o processo e


julgamento do crime do art. 342 do CP é do juízo deprecado. Sendo o falso
testemunho (ou falsa perícia) praticado em reclamação trabalhista, a
competência será da justiça federal, por ter atingido interesse da União.

DIREITO PENAL |
OBSERVAÇÃO: A prolação da sentença no processo em que ocorra
afirmação falsa NÃO é condição de procedibilidade da ação penal pelo
crime de falso testemunho. Prevalece o entendimento de que a ação penal
pelo crime de falso testemunho pode ser iniciada, mas não pode ser julgada
antes da sentença do outro processo em que ocorreu o falso, pois até tal
momento é cabível a retratação.

OBS. 1: Segundo jurisprudência majoritária, não é necessário para a


configuração do delito de falso testemunho, o compromisso de dizer a
verdade, visto que há exigência legal nesse sentido. (HC 20.924-SP, e REsp
198.426-MG) Nucci não concorda com essa tese.

OBS. 2: Se o agente depõe falsamente em fases sucessivas, inclusive a pré-


judicial, do mesmo processo (ex.: no inquérito policial, na instrução criminal e
em plenário), há unidade de crime e não concurso material ou crime
continuado"(Nelson Hungria, Comentários ao Código Penal, pág. 483).

ART. 343 - CORRUPÇÃO ATIVA DE TESTEMUNHAS E PERITOS:


Crime em que se pune aquele que suborna “partes” do processo: Dar,
oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra vantagem à testemunha,
perito, contador, tradutor ou interprete em processo judicial, ou administrativo,
inquérito policial, ou em juízo arbitral para fazer afirmação falsa, negar ou

34
calar a verdade em depoimento, perícia, cálculos, tradução ou
interpretação.

MUITA ATENÇÃO: Temos que ter cuidado para averiguar se estamos diante de
um perito funcionário público ou não. Se for funcionário público, estaremos
diante de corrupção ativa. Ademais, aquele que é subornado responde pelo
crime de falsa perícia ou testemunho com causa de aumento de pena em
virtude do suborno.

RESUMO: Responde pelo crime de falso testemunho com causa de aumento


de pena aquele que presta o falso testemunho mediante suborno e pelo art.
343 aquele que provoca o falso testemunho através do oferecimento,
promessa ou entrega de vantagem a fim de que seja realiza a afirmação
falsa, negar ou calar a verdade, desde que aquele que aceita o suborna não
seja funcionário público.

A corrupção ativa de testemunha ou perito é delito formal, que se consuma


no momento da corrupção, independentemente se houve ou não a falsidade
da testemunha ou da perícia.
DIREITO PENAL |

COAÇÃO NO CURSO DO PROCESSO – ART. 344


Usar de violência ou grave ameaça, com o fim de favorecer interesse próprio
ou alheio, contra autoridade, parte ou qualquer outra pessoa que é chamada
para intervir em processo judicial, policial, administrativo ou em juízo arbitral.

Trata-se de um crime formal, que deve ter fim específico de favorecer


interesse próprio ou alheio, alterando o curso normal do processo. CONCURSO
MATERIAL OBRIGATÓRIO: Se houver lesão ou morte em razão da coação deve
ser aplicada, obrigatoriamente, a pena do crime de coação e também
aquela em razão da violência. Não se aplica o concurso material se a conduta
resultar de vias de fato ou ameaça, restando absorvidas pela coação no curso
do processo.

TENTATIVA: É possível em alguns casos. Ex: o agente envia um e-mail para a


testemunha, ameaçando-lhe, mas este acaba indo para o lixo eletrônico e
ela não o lê.

- O crime em tela abrange o "Procedimento Investigatório Criminal" (PIC),


que é o procedimento investigatório aberto pelo Ministério Público? Se um
investigado ameaça uma testemunha que seria ouvida pelo MP no PIC, ele
pratica o delito do art. 344 do CP? SIM. O crime de coação no curso do
processo (art. 344 do CP) pode ser praticado no decorrer de Procedimento

35
Investigatório Criminal instaurado no âmbito do Ministério Público. Isso
porque o PIC serve para os mesmos fins e efeitos do inquérito policial. STJ. 6ª
Turma. HC 315.743-ES, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 6/8/2015 (Info 568).

EXERCICIO ARBITRÁRIO DAS PROPRIAS RAZOES – ART. 345


Neste crime o agente tem uma pretensão legítima, no entanto, ao invés de
recorrer ao Judiciário, exerce autotutela não permitida por lei e tipificada
como crime.** NÃO caracteriza exercício arbitrário das próprias razões
quando a lei permite a autotutela do direito, como ocorre na legítima defesa.

CONCURSO MATERIAL OBRIGATÓRIO: O agente ativo responde pelo crime em


comento, além da pena correspondente a VIOLÊNCIA EMPREGADA pelo
agente ativo, SALVO se diante de vias de fato, restando esta absorvida pelo
crime do art. 345.

Ex. Pessoa que empresta um dinheiro a outrem, esta pessoa não o devolve.
Por conseguinte, aquele que havia emprestado o valor, mediante violência
subtrai o valor daquele que se negou a devolver o empréstimo. Nesse caso,
há evidente exercício arbitrário das próprias razoes em concurso com o crime

DIREITO PENAL |
de lesão corporal, em razão da violência empregada.

IMPORTANTE: A jurisprudência não admite este delito diante de funcionário


público que detém crédito com a Administração Pública, caracterizando o
crime de PECULATO. (V. cap. específico)
Pretensão licita + Fato típico penal = Exercício arbitrário das próprias razões.

Consumação: Segundo Hungria, Mirabete e R. Greco, trata-se de crime


material, situação em que a consumação ocorre com a efetiva obtenção da
satisfação da pretensão do agente. Noutro plano, Damásio e Luiz Regis Prado,
entendem que se trata de crime formal, bastando que a pessoa de inicio aos
atos a satisfazer a pretensão do agente.

Ação Penal: Será de AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA, se presente


violência na execução do crime. Caso não haja emprego de violência, a
ação será PRIVADA.

IMPORTANTE: Não se admite exercício arbitrário das próprias razões diante de


dívida ilícita. Ex. dívida de drogas.

IMPORTANTE: A prostituta maior de idade e não vulnerável que, considerando


estar exercendo pretensão legítima, arranca cordão do pescoço de seu

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cliente pelo fato de ele não ter pago pelo serviço sexual combinado e
praticado consensualmente, pratica o crime de exercício arbitrário das
próprias razões (art. 354 do CP) e não roubo (art. 157 do CP). STJ. 6ª Turma. HC
211.888-TO, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 17/5/2016 (Info 584).
Porém, em prova discursiva ou oral, importante salientar que há quem
defenda que a dívida da prostituição seria ilícita e, como tal, estaríamos
diante do crime de roubo ou furto, a depender do modus operandi.

ART. 346 – SUPRESSÃO OU DANO DE COISA PRÓRPIA EM PODER DE


TERCEIRO:
Tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa própria que se ache em poder de
terceiro por determinação judicial ou convenção. Não confundir com o
exercício arbitrário das próprias razoes porque neste, apesar do bem ser do
próprio agente, ele é infungível e está na posse de outrem por determinação
judicial ou convenção, afastando a legitimidade da pretensão. Assim, se eu
empresto a outrem meu relógio até 31 de dezembro, brigo com meu amigo,
vou à casa dele e destruo o meu relógio antes do dia 31 de dezembro
estaremos diante do crime disposto no art. 346.
DIREITO PENAL |

Diferença entre o art. 345 e o 346: Neste – art. 346 -, o agente ativo não possui
razão e age arbitrariamente a fim de fazer valer a sua vontade. Já no art. 345,
o agente ativo possui razão com relação ao seu pleito, no entanto, o exerce
de maneira proibida pela norma, caracterizando, assim, o exercício arbitrário
das próprias razões.

FRAUDE PROCESSUAL – ART. 347


Inovar artificiosamente na pendência de processo civil ou administrativo, o
estado de lugar, coisa, ou pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o
perito. Ex.: fazer cirurgia plástica no criminoso; pintar o objeto do crime. Deve
haver o fim específico de induzir em erro o perito ou o juiz. ATENÇÃO: Se a
finalidade é induzir em erro o Delegado ou o MP não haverá o crime.

A conduta pode ser praticada tanto durante o IP ou mesmo durante o


processo, exigindo exclusivamente o elemento subjetivo dolo. Trata-se de
crime formal em que o agente altera de forma artificial o estado de lugar,
pessoa ou coisa a fim de induzir a erro juiz ou perito. Tais alterações devem ser
artificiais e com o especial fim de agir que é o de induzir o juiz ou perito a erro.

37
IMPORTANTE: Cumpre destacar que se houver fraude processual no local ou
objeto em que houve acidente de transito e em arma de fogo estaremos
diante de tipificações previstas em lei especial e não no Código Penal.

CAUSA DE AUMENTO: Se tal alteração artificial visa produzir efeito em processo


penal aplica-se a pena em dobro.

O perito pode responder por fraude processual? Não, pois quando


artificiosamente alterada a verdade dos fatos deve responder por crime com
elementos especializados: Falsa Perícia.

Fraude Processual e direito de não produzir provas contra si mesmo: O nemo


tenetur se detegere não autoriza alguém valer-se de inovação artificiosa para
enganar o juiz ou perito, visto que tal pratica ensejará em evidente ato
atentatório ao normal exercício da prestação jurisdicional. (STJ, HC 137206/SP)

FAVORECIMENTO PESSOAL – ART. 348


Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública a que se comine pena de
reclusão. Não abrange contravenção penal!

DIREITO PENAL |
Trata-se de um crime que pressupõe crime anterior (parasitário), onde o
agente passivo subtrai-se à ação da autoridade pública auxiliado pelo
agente ativo do crime de favorecimento pessoal. Ex. Aquele que presta
abrigo à foragido da policia a fim de ocultá-lo.

CONSUMAÇÃO: A consumação ocorre com o sucesso do auxilio – crime


material-, caso contrario, se o foragido vem a ser pego, por exemplo, na casa
do advogado, este responderá pelo crime na modalidade tentada, pois
estamos diante de crime material. O sujeito ativo não deve ter participado do
crime anterior. IMPORTANTE → Não há a caracterização de crime de
favorecimento pessoal por omissão, sendo necessária uma conduta comissiva
do agente. Assim, se o advogado sabe onde o réu está, mas não auxilia, não
há qualquer responsabilidade penal.

Favorecimento Pessoal Privilegiado → Ocorre quando o agente presta auxilio


aquele que furta-se da autoridade publica, no entanto, o crime ao qual está
sendo acionado é punido com detenção. Se o auxílio se dá a crime que se
comine pena de detenção, a sanção será de 15 dias a 3 meses de detenção.

Inexigibilidade de Conduta Diversa → Se quem presta o auxilio é o cônjuge,


ascendente, descendente ou irmão (CADI), o agente ficará isento de pena

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(Excludente de culpabilidade). Não se estende a tios e primos, somente até
colaterais de 2º grau. ATENÇÃO: NÃO HÁ ISENÇÃO DE PENA DIANTE DE
FAVORECIMENTO REAL!

FAVORECIMENTO PESSOAL E OS DEMAIS INSTITUTOS:


O crime de favorecimento pessoal se diferencia da participação e coautoria visto
que o autor do favorecimento somente atua depois de consumado o crime. Caso
participe antes, poderemos ter hipótese de participação no crime anterior ou mesmo
coautoria. Ademais, o favorecimento pessoal está intimamente relacionado ao
auxilio à fuga, já o favorecimento real está no asseguramento ao proveito do crime
em si a fim de tornar seguro o proveito do crime. Assim, podemos destacar que no
favorecimento pessoal, o objeto de auxilio é o próprio foragido que está sendo
procurado pela policia, já no favorecimento real, o auxilio está relacionado ao
próprio objeto do crime anterior, realizado por amizade com o criminoso ou em
obséquio ao criminoso, sem que haja qualquer vantagem, tanto no favorencimento
real quanto no pessoal.

FAVORECIMENTO REAL – ART. 349


Prestar ao criminoso, fora dos casos de coautoria ou de receptação, auxilio
destinado a tornar seguro o proveito do crime, sem que haja qualquer
DIREITO PENAL |

vantagem ao agente que favorece.

Para caracterizar o crime de favorecimento real o agente deve auxiliar o


criminoso pós-consumação de modo a ocultar o produto do crime ou
resultado deste, a fim de despistar e tornar seguro o proveito do crime. Aquele
que favorece não pode ter concorrido para o crime anterior, visto que se
assim o fizer, será afastado o crime de favorecimento, onde este será mero
exaurimento da conduta. Não se aplica o favorecimento real às
contravenções penais, pois exige o proveito do CRIME.

Aquele que cede a sua propriedade para que criminosos guardem dinheiro
objeto de crime se furto qualificado deverá responder por favorecimento real,
visto que a conduta destina-se a tornar seguro o proveito do crime.

CONSUMAÇÃO: Trata-se de crime formal. A consumação se dá no momento


em que o agente presta ao criminoso um local idôneo para assegurar o
proveito do crime, não sendo necessário que haja efetivo êxito. Admite
tentativa.

DIFERENÇA ENTRE FAVORECIMENTO E RECEPTAÇÃO


No favorecimento o agente busca garantir o êxito ou proveito do crime ao próprio
criminoso em si, ou seja, aquele que favorece não tem qualquer vantagem, fazendo

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tão somente em amizade ou qualquer outro sentimento que tenha para com o
criminoso. Já na receptação, aquele que sabe a origem ilícita do bem e auxilia o
criminoso o faz para proveito próprio ou de outrem que não tenha ligação direta com
o criminoso que praticou o crime anterior. Na receptação o agente receberá alguma
quantia ou depois venderá o bem a terceiro. Já no favorecimento o auxilio é
direcionado totalmente ao criminoso, onde aquele que auxilia não tem qualquer
benefício de ordem econômica pelo fato praticado. A diferença, em específico, está
no especial fim de agir.

FAVORECIMENTO PESSOAL - art. 348, CP FAVORECIMENTO REAL – art. 349, CP


O agente auxilia o criminoso a escapar da autoridade O agente auxilia o criminoso a tornar seguro o
policial, nos crimes punidos com reclusão. produto do crime, após a consumação deste.
Se o agente for parente (cônjuge, ascendente, Se o agente for parente (cônjuge, ascendente,
descendente, irmão) não responde pelo crime. descendente, irmão) responde pelo crime.
Crimes consumados ou tentados. Não abrange Crimes consumados ou tentados. Não abrange
contravenção penal. contravenção penal.
Consuma-se com o sucesso do auxílio, ainda que Crime formal, não precisa do sucesso do intento.
parcial.
Não se aplica ao agente que for coautor ou partícipe Não se aplica ao agente que for coautor ou partícipe,
(autofavorecimento). que responderão pelo 1º crime em concurso de
pessoas.
É delito de menor potencial ofensivo julgado pelo É delito de menor potencial ofensivo julgado pelo

DIREITO PENAL |
JECRIM JECRIM
A pena do favorecimento depende da pena cominada A pena do crime praticado pelo favorecedor não varia
ao crime cometido pelo favorecido: se a pena do conforme a pena do delito praticado.
favorecido for de reclusão, a pena do favorecedor é a
do art. 348 caput. Agora, se a pena do crime for de
detenção, a pena será a do § 1º do art. 348, CP.

ART. 349-A – FAVORECIMENTO REAL IMPRÓPRIO:


Ingressar, promover, intermediar auxiliar ou facilitar a entrada de aparelho
telefônico de comunicação móvel, de rádio ou similar, sem autorização legal,
em estabelecimento prisional.

Consumação: A consumação se perfaz quando estes instrumentos adentram


no estabelecimento prisional. Admite-se tentativa. Cumpre diferenciar o art.
349-A do art. 319-A, onde o primeiro é um crime praticado por particular
contra a administração pública e o segundo é crime funcional próprio –
praticado por aquele que tem vinculo com a administração pública -, que
somente pode ser realizado por diretor de penitenciaria ou agente público.

ART. 350 – EXERCICIO ARBITRARIO OU ABUSO DE PODER


O caput e o inciso II e III estão revogados, visto a L. 4898 e o Principio da
Especialidade. Existem alguns autores que defendem que o I e IV do referido

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artigo ainda está em vigor, no entanto, a doutrina majoritária entende que tal
dispositivo está revogado.

ART. 351 – FUGA DE PESSOA LEGALMENTE PRESA OU SUBMETIDA à


MEDIDA DE SEGURANÇA
Promover ou facilitar a fuga de pessoa legalmente presa ou submetida à
medida de segurança detentiva. Não se pune quem foge, mas sim que
promove ou facilita a fuga.

ATENÇÃO: Não cabe aplicar este artigo a facilitação de fuga de


adolescente.

Consumação: Trata-se de crime material, consumando-se o crime com a


efetiva fuga do legalmente preso ou submetido à medida de segurança.
Enquanto houver perseguição o crime estará na esfera da tentativa – crime
material. Este crime somente é punido à titulo de tentativa se, ao menos, o
instrumento chega ao poder do preso e ele inicia os atos de execução da
fuga.
DIREITO PENAL |

FUGA QUALIFICADA: Ocorre quando o crime é praticado à mão armada, por


mais de uma pessoa ou mediante arrombamento.

Parágrafo 2º - Se há emprego de violência contra a pessoa, aplica-se também


a pena correspondente à violência.

Parágrafo 3º - A pena é de reclusão de 1 a 4 anos, se o crime é praticado por


pessoa cuja custódia ou guarda está o preso ou o internado.

Parágrafo 4º - No caso de culpa do funcionário incumbido da custodia ou


guarda aplica-se a pena de detenção. Trata-se de uma figura culposa diante
da negligência na guarda do preso.

ART. 352 – EVASAO MEDIANTE VIOLÊNCIA CONTRA PESSOA


Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o individuo submetido à medida de
segurança detentiva, usando de violência contra pessoa.

OBSERVAÇÃO: Quando a evasão do preso não se faz com o uso de violência


estaremos diante de um fato não punido pelo direito (um indiferente penal),
mas, administrativamente, o preso será punido (falta grave). Não se pune a
evasão quando diante de grave ameaça, sendo elemento essencial a
violência.

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Trata-se de crime material, de atentado ou empreendimento, hipótese em
que a tentativa é punida da mesma forma que a consumação. A
consumação real do crime se configura com a efetiva evasão do criminoso.
Aplica-se a pena deste delito além da pena correspondente à violência.

ART. 353 – ARREBATAMENTO DE PRESO


Arrebatar preso, a fim de maltratá-lo, do poder de quem o tenha sob custódia
ou guarda. Ex. Aquele pai que retira o preso do poder dos agentes a fim de
matar o autor de estupro de sua filha; ou mesmo diante de linxamento.

O bem jurídico tutelado é a administração pública e, mediatamente, o preso


em si. Aplica-se a pena deste delito além da pena correspondente à violência.
Admite-se tentativa.

ART. 354 – MOTIM DE PERSOS


Amotinarem-se presos, perturbando a ordem ou a disciplina da prisão. Aplica-
se a pena do crime além do crime correspondente à lesão. A jurisprudência
exige o emprego de violência para caracterização deste crime, mas a lei, em

DIREITO PENAL |
sua literalidade não exige. Trata-se de um crime permanente que se potrai
até a cessação da violência e de concurso necessário. Pune-se este crime em
concorrência com o da violência praticada pelo grupo.

IMPORTANTE: O crime de dano, nestes casos, segundo doutrina majoritária,


deverá ser absorvido pois se trata de conduta meio para a consumação do
delito.

ART. 355 – CRIME DE PATROCINIO INFIEL


Trair, na qualidade de advogado ou procurador, o dever profissional,
prejudicando interesse, cujo patrocínio, em juízo, lhe é confiado.

Ocorre quando o advogado deixa dolosamente de recorrer, produzir prova


ou mesmo defende direito diverso da vontade de seu cliente. Trata-se de um
crime próprio, material, exigindo que haja efetivo dano ao cliente. Somente é
punida a atuação do advogado em juízo.

ATENÇÃO: O crime de patrocínio infiel pressupõe a presença do instrumento


do mandato (procuração) outorgado ao advogado – HC 110196/PA, julgado
em 2013 pelo STF (Info 706)

ART. 356 – PATROCINIO SIMULTÂNEO OU TERGIVERSAÇÃO

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Incorre o advogado ou procurador judicial que defende na mesma causa,
simultânea ou sucessivamente, partes contrárias.

A tergiversação ocorre quando o advogado atua para uma das partes em


determinado momento e, a posteriori, advoga para parte contrária, mesmo
que por interposta pessoa. Trata-se de um crime próprio e formal.

ART. 356 – SONEGAÇÃO DE PAPEL OU OBJETO DE VALOR


PROBATÓRIO
Inutilizar, total ou parcialmente, ou deixar de restituir autos, documento ou
objeto de valor probatório, que recebeu na qualidade de advogado ou
procurador.

Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio ou especial, pois somente pode ser
praticado pelo advogado, seja ele público ou particular, constituído ou
dativo, e também pelo estagiário de advocacia, regularmente inscrito nos
quadros da OAB (crime próprio ou especial).

Consumação: Trata-se de crime material, doloso, hipótese em que o crime se


DIREITO PENAL |

configura quando inutilizado o documento, seja parcial ou totalmente. Na


segunda parte temos um crime omissivo próprio, que se consuma quando o
advogado é intimado para devolver o processo e não o faz, pois estamos
diante de um crime doloso (NUCCI). Porém, Masson defende a
desnecessidade de intimação para fins de configuração do delito diante da
não devolução dos autos, afirmando que o operador do Direito tem
conhecimento do prazo legal, o que denota o dolo.

ART. 357 EXPLORAÇÃO DE PRESTÍGIO


Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer outra utilidade, a pretexto de influir
em juiz, jurado, órgão do MP, funcionário da justiça, perito, tradutor, interprete
ou testemunha.

É um crime que se aproxima do art. 332, tráfico de influência, sendo a


diferença apenas o sujeito objeto da pretensa influência. A figura também se
aproxima muito ao crime do estelionato, mas a pessoa que pratica o crime
não tem este poder de influência e, se diante desta conduta, tem-se uma
conduta específica, devendo ser afastado o estelionato. Cumpre destacar
que somente haverá este crime quando a pessoa não tem a possibilidade de
influir na decisão do juiz, mas diz que o tem e, como tal, solicita ou exige
dinheiro a fim de imiscuir-se nos atos das pessoas expostas no artigo.

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ART. 359 – DESOBEDIÊNCIA A DECISÃO JUDICIAL SOBRE PERDA OU
SUSPENSÃO DE DIREITO
Exercer função, atividade, direito, autoridade ou múnus, de que foi suspenso
ou privado por decisão judicial. Trata-se de uma modalidade especial de
desobediência onde o agente fora suspenso de suas atividades públicas, mas
a ignora e continua a exercer.

Para o STF, essa determinação judicial deve possuir conteúdo penal. Pois, caso
contrário, seria uma burla a vedação de prisão civil. Ademais, se houver
sanção prevista para o descumprimento da decisão, o crime não incidirá ao
caso concreto, assim como ocorre no crime de desobidiência.

Nesse delito, o agente não simplesmente desobedece a ordem judicial, mas


vai além, exercendo função, atividade, direito , autoridade, múnus de que
estava impedido. Trata-se de crime formal, bastando a prática de um único
ato ao qual estava suspenso, restando consumado ainda que não haja
produzido qualquer resultado naturalístico.

Desobediência à decisão de natureza administrativa: O crime em análise

DIREITO PENAL |
reclama a afronta a decisão judicial, não se caracterizando quando o sujeito
exerce atividade de que está impedido por decisão administrativa. Nesse
caso, será imputado ao agente o delito definido no art. 205 deste Código
(exercício de atividade com infração de decisão administrativa).

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