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ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA

Laíse Gabriela Alves Fernandes – OAB/MG 141.213

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR RELATOR DO EGRÉGIO


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

LAÍSE GABRIELA ALVES FERNANDES, brasileira, solteira,


advogada, inscrita na OAB/MG sob nº. 141.213, com escritório profissional
na Rua Dom Lúcio, nº. 56, Centro, Espinosa/MG, CEP 39.510-000, vem,
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento no art.
5º, inciso LXVIII, da Constituição Federal, e nos arts. 647 e seguintes, do
Código de Processo Penal, impetrar

HABEAS CORPUS com pedido de ordem liminar

em favor de EVANDRO WENCESLAU FERREIRA, brasileiro,


casado, pedreiro, filho de Mariuza Wenceslau Ferreira, nascido em
19/09/1975, inscrito no CPF/MF sob nº. 025.804.856-51 e RG MG
7.121.668, PC/MG, residente na Rua Tancredo Neves, nº. 95 B, Santa Rita
de Cássia, Belo Horizonte/MG, atualmente recolhido no Presídio Inspetor
José Martinho Drumond, contra ato do MM. Juízo de Direito da Ceflag da
Comarca de Belo Horizonte, pelas razões de fato e de direito a seguir
expostas:

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DOS FATOS

Conforme cópia do APFD em anexo, em 04/04/2021, o


paciente teve um desentendimento com o seu desafeto de longa data, Carlos
Aleixo Coelho de Mesquita, sendo que este, de posse de uma machadinha e
uma faca, desferiu vários golpes contra o paciente, atingindo-lhe a cabeça e
a perna esquerda, ocasião em que se defendeu com um revólver calibre 38
mediante um único disparo.
Todavia, a vítima Carlos Aleixo faleceu no local dos fatos e o
paciente foi preso em situação flagrancial após curto período de tempo da
consumação do delito.
Ressalte-se, no entanto, que o único policial militar que
acompanhou o flagrante relatou que “no momento em que a vítima foi
localizada, ela estava com uma machadinha em uma mão e uma faca
na outra mão”.
Consta, ainda, que o paciente foi localizado na Rua Via do
Bicão, cerca de 15 minutos depois que os policiais iniciaram o rastreamento,
que estava ensanguentado, com ferimento na cabeça e na perna, tendo sido
conduzido para o Hospital João XXVIII, onde permaneceu em observação
durante a noite e liberado pela manhã do dia seguinte.
Ao ser ouvido perante a autoridade policial, o paciente
confessou a prática delitiva, todavia argumentou que não tinha intenção de
ceifar a vida da vítima, mas apenas se defender das várias ameaças de morte
que a vítima fazia constantemente, inclusive de posse desse mesmo
machado que utilizou para desferir golpes contra o paciente.
Relatou, ainda, que a vítima Carlos já tinha ido na residência
do paciente para ameaçá-lo de morte e que os dois já tiveram inúmeras
discussões, inclusive com agressões físicas.
A autoridade policial, ao proferir despacho, ratificou o
flagrante e consignou “Com efeito, ainda que se considere que Evandro,
de fato, agiu visando repelir injusta e iminente agressão, conforme
alegou em seu interrogatório, verifica-se que, ao que tudo indica, sua

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reação foi manifestamente desproporcional ao suposto ataque da


vítima, afastando-se, dessa forma, o requisito da moderação do meio
empregado”.
Realizada audiência de custódia, o douto Juízo de Primeira
Instância converteu a prisão em flagrante do paciente em prisão
preventiva, sob o fundamento de que 1) o autuado é reincidente, ostentando
condenação penal transitada em julgado pelo crime de porte ilegal de arma
de fogo, estando, inclusive, em cumprimento de pena; 2) as circunstâncias
do crime são graves; 3) a conduta praticada é crime doloso punido com pena
privativa de liberdade máxima superior a 4 anos; 4) a gravidade concreta dos
fatos corrobora a necessidade da conversão da prisão em flagrante em prisão
preventiva para garantia da ordem pública e da instrução criminal.
Data máxima vênia, a justificativa utilizada pelo M.M. Juízo de
Direito da Ceflag da Comarca de Belo Horizonte para decretação da custódia
cautelar do paciente não merece prevalecer, conforme restará fartamente
demonstrado.

DO DIREITO

PRISÃO CAUTELAR DECRETADA COM BASE NA


GRAVIDADE ABSTRATA DO DELITO – AUSÊNCIA DE RAZÕES
CONCRETAS PARA EMBASAR MEDIDA EXTREMA – POSSIBILIDADE DE
APLICAÇÃO DE MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO

Conforme já ressaltado, a decisão que decretou a prisão


preventiva do paciente lastreou-se no fato de que 1) o autuado é reincidente,
ostentando condenação penal transitada em julgado pelo crime de porte
ilegal de arma de fogo, estando, inclusive, em cumprimento de pena; 2) as
circunstâncias do crime são graves; 3) a conduta praticada é crime doloso
punido com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 anos; 4) a
gravidade concreta dos fatos corrobora a necessidade da conversão da prisão

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em flagrante em prisão preventiva para garantia da ordem pública e da


instrução criminal.
A decisão, todavia, não pode prevalecer. Eis que, ao que se
pode vislumbrar, a prisão em flagrante foi convertida em preventiva com
base na gravidade abstratamente associada ao delito, considerado
hediondo.
Ora, o contexto fático processual não permite concluir que a
prisão preventiva é imprescindível e que as medidas cautelares diversas da
prisão são insuficientes.
Considerando que ao final do processo poderá ser reconhecida
a causa de exclusão da ilicitude em favor do paciente, caso não seja
produzida prova em sentido contrário, a manutenção da privação da
liberdade se mostra ilógica, devendo o status libertatis ser restituído, a fim
de se evitar que a atual constrição cautelar se torne medida mais gravosa
que o provimento final buscado na ação penal, sob pena de violação ao
princípio da dignidade da pessoa humana e de desempenhar função
exclusivamente punitiva, o que não se admite em sede de prisão preventiva.
Como se sabe, a prisão antecipada é uma medida de exceção,
sendo certo que a Constituição Federal, somente a admite em casos
excepcionais, o que torna imprescindível a EFETIVA demonstração da
existência, no caso concreto, das situações previstas no artigo 312 do Código
de Processo Penal.
Cumpre salientar que a liberdade no Estado Democrático de
Direito é a REGRA, não podendo o indivíduo ser dela afastado sem uma
justificativa plausível.
Norteando-se pela certeza de que não existem direitos
absolutos e de que é preciso que todos eles convivam harmonicamente na
ordem jurídica, não há, no caso dos autos, motivação idônea amparando a
constrição cautelar do paciente.
Isso porque, ainda que existam indícios suficientes de autoria
e materialidade, tal fato, por si só, não é suficiente para embasar a
segregação cautelar, devendo vir acompanhado dos pressupostos e

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requisitos fáticos e instrumentais previstos nos artigos 312 e 313 do


Código de Processo Penal, necessários à constrição cautelar.
No presente caso, inexiste lastro concreto a demonstrar que,
acaso em liberdade, o paciente poderá turbar a ordem pública, evadir-se ou
impossibilitar a aplicação da lei penal.
Apesar de possuir uma condenação anterior por porte ilegal de
arma, o paciente possui 45 anos de idade, é pessoa íntegra, casado, pai de
família, tem duas filhas, possui residência fixa e ocupação lícita com registro
na CTPS, tudo conforme documentos anexos.
Impende registrar, ainda, que o paciente não evadiu do seu
distrito de culpa, na medida em que foi localizado pela polícia nas
proximidades onde aconteceram os fatos.
Dessa forma, ainda que as condições pessoais favoráveis do
paciente não sejam garantidoras de eventual direito à liberdade, merecem
ser devidamente valoradas, quando demonstrada a possibilidade
substituição da prisão por cautelares diversas – proporcionais, adequadas
e suficientes para garantir a efetividade do processo!

Esse é o entendimento do E. TJMG:

HABEAS CORPUS - HOMICÍDIO TENTADO - REVOGAÇÃO DA PRISÃO


PREVENTIVA - SUBSTITUIÇÃO DA SEGREGAÇÃO POR MEDIDAS
CAUTELARES - POSSIBILIDADE - ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA.
1. A via estreita do Habeas Corpus, de cognição e instrução sumárias não
se presta à discussão sobre autoria delitiva ou à apreciação da tese de
legítima defesa, diante da impropriedade da via eleita para análise do
conjunto probatório. Todavia, após análise minuciosa dos elementos
contidos nos autos e, constatada a primariedade do autuado bem
como a existência de outros elementos que militam em seu favor,
desnecessária a manutenção da custódia do paciente, mostrando-se
suficiente a imposição de medidas cautelares. 2. O descumprimento
das imposições implicará em prisão preventiva, conforme disposto no
artigo 312, parágrafo único, do CPP. (TJMG - Habeas Corpus Criminal
1.0000.16.051702-5/000, Relator(a): Des.(a) Eduardo Machado , 5ª
CÂMARA CRIMINAL, julgamento em 09/08/2016, publicação da súmula
em 24/08/2016) (Grifou-se)

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HABEAS CORPUS - ART. 33, §1°, DA LEI N° 11.343/06 E ART. 16, DA LEI
N° 10.826/03 - TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL - AUSÊNCIA DE JUSTA
CAUSA - VALORAÇÃO PROBATÓRIA - IMPROPRIEDADE DA VIA ELEITA -
REVOGAÇÃO DA CUSTÓDIA PREVENTIVA - NECESSIDADE - DECISÃO
CARENTE DE FUNDAMENTAÇÃO - SUBSTITUIÇÃO POR OUTRAS
MEDIDAS CAUTELARES - POSSIBILIDADE - CONSTRANGIMENTO
ILEGAL CONFIGURADO - ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA. (...) A
sustentação de que o paciente teria agido aparado pela legítima defesa,
extrapola os limites de apreciação do habeas corpus, pela impropriedade
da via eleita, uma vez que a ação constitucional é julgada em cognição
sumaríssima, sendo inoportuna a profunda apreciação e valoração de
provas, que devem ser devidamente aferidas em sede de instrução
criminal. - A gravidade abstrata do delito não pode servir de
fundamentação idônea para manutenção da prisão cautelar. -
Ausentes os requisitos do art. 312, do CPP, a prisão antes do trânsito
em julgado da sentença condenatória constitui constrangimento
ilegal, e, sendo suficiente, no presente caso, a determinação de outras
medidas cautelares, desnecessária a manutenção da prisão preventiva
do paciente. (TJMG - Habeas Corpus Criminal 1.0000.16.022942-
3/000, Relator(a): Des.(a) Herbert Carneiro, 4ª CÂMARA CRIMINAL,
julgamento em 18/05/2016, publicação da súmula em 25/05/2016)
(Grifou-se)

Ante todo o exposto, ausentes os requisitos necessários à


manutenção da custódia, é imperiosa a revogação da prisão preventiva,
expedindo-se em favor do paciente o competente alvará de soltura, bem
como a aplicação, alternativamente, de medidas cautelares diversas da
prisão, nos termos do artigo 319, IV, e V, do Código de Processo Penal.

DA ORDEM LIMINAR

Objetivamente, é possível verificar dos autos do APFD,


notadamente o depoimento do único policial militar que acompanhou o
flagrante (ff. 13/14), “no momento em que a vítima foi localizada, ela
estava com uma machadinha em uma mão e uma faca na outra mão”.
Da mesma forma, a autoridade policial, ao proferir despacho,
ratificou o flagrante e consignou “Com efeito, ainda que se considere que
Evandro, de fato, agiu visando repelir injusta e iminente agressão,
conforme alegou em seu interrogatório, verifica-se que, ao que tudo
indica, sua reação foi manifestamente desproporcional ao suposto
ataque da vítima, afastando-se, dessa forma, o requisito da
moderação do meio empregado”.

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Sendo assim, em uma análise perfunctória, restou


evidenciado que o paciente agiu amparado em uma excludente de ilicitude.
Apesar de não ser possível analisar o mérito da demanda
nos autos da via estreita do Habeas Corpus, as condições pessoais
favoráveis do paciente merecem ser devidamente valoradas, quando
demonstrada a possibilidade substituição da prisão por cautelares diversas –
proporcionais, adequadas e suficientes para garantir a efetividade do
processo.
A propósito, conforme documentos anexos, o paciente possui
45 anos de idade, é pessoa íntegra, casado, pai de família, tem duas filhas
menores, possui residência fixa e ocupação lícita com registro na CTPS.
Impende registrar, ainda, que o paciente não evadiu do seu
distrito de culpa, na medida em que foi localizado pela polícia nas
proximidades onde aconteceram os fatos.
Assim, é possível concluir que a prisão em flagrante foi
convertida em preventiva com base na gravidade abstratamente
associada ao delito, considerado hediondo.
Dessa forma, apontada a ofensa à liberdade de locomoção do
paciente, encontra-se presente, in casu, o fumus boni iuris.
No mesmo sentido, verifica-se a ocorrência do periculum in
mora, pois a liberdade do paciente somente ao final importará em inaceitável
e temerária manutenção de violação ao seu status libertatis.
Presentes, portanto, os requisitos autorizadores da medida
liminar.
DOS PEDIDOS

Ante todo o exposto, REQUER, a concessão LIMINAR da


ordem, para REVOGAR a prisão preventiva do paciente, eis que foi
decretada, pelo juízo primevo, com base na gravidade abstrata associada ao
delito, não tendo demonstrado os pressupostos e requisitos fáticos e
instrumentais previstos nos artigos 312 e 313 do Código de Processo

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Penal, expedindo-se, via de consequência, o competente alvará de soltura


em favor do suplicante.

REQUER, outrossim, seja o presente pedido de habeas corpus


JULGADO PROCEDENTE AO FINAL, confirmando-se a decisão liminar.

Subsidiariamente, requer seja aplicada qualquer das


medidas cautelares previstas no artigo 319 do Código de Processo Penal, de
forma a privilegiar a ulima ratio da prisão processual.

Requer, ainda, sejam dispensadas as informações, com fulcro


no § 2º do artigo 654 do Código de Processo Penal por estar, o presente
pedido, devidamente instruído com cópia integral do feito de origem.

Termos em que pede e espera deferimento.


Belo Horizonte/MG, 26 de abril de 2021.

Laíse Gabriela Alves Fernandes


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