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Resumo feito por Rafael Rodrigues Nunes

Jugados do mês de Abril/2021


Relator: Des. Newton Neves

Julgado – (Espécie – Revisão Criminal – Julgado em 29/04/21) nº 0012393-59.2020.8.26.0000

Desembargador(a) Newton Neves

▪ REVISÃO CRIMINAL Tráfico de entorpecentes Nulidade processual pela ilicitude da


prova policial em razão da invasão de domicílio Tese única afastada Crime permanente
Ementa Existência de fundada suspeita da ocorrência de um delito Nulidade não verificada
Revisão indeferida (voto n. 44047).
▪ Requerimento da Defensoria Pública de nulidade processual, sob o fundamento
de que o julgamento se baseou em provas ilícitas por derivação, pois a localização das
drogas na posse do peticionário decorreu de busca ilegal, já que não havia mandado
judicial expedido para que os policiais adentrassem em sua residência.
▪ Segundo o Relator o pedido não deveria ser nem conhecido, porque não deve ser
conhecida a ação revisional que visa mero reexame de teses, sem qualquer fato novo e
cujos argumentos já foram apreciados, pois sua finalidade, como decorre da lei, é reparar
o erro judiciário.
▪ Porque foi conhecido? Em razão da observância ao princípio da ampla defesa, e
devido à conformidade com a jurisprudência da Corte que faz parte.
▪ A nulidade deve ser reconhecida? Não. Tendo em vista que tratando-se de crime
Pontos em permanente, como é o caso do tráfico ilícito de entorpecentes, afastada fica a
discussão inviolabilidade de domicílio, em atenção à própria norma constitucional, que faz ressalva
aos casos de flagrante.
▪ Inviolabilidade constitucional não se aplica ao caso, vez que a situação de flagrante
delito possibilita o ingresso de agentes policiais no domicílio mesmo sem autorização do
morador ou mandado judicial.
▪ A fundada suspeita é suficiente: Não se exige uma prova cabal, induvidosa, da
prática de um delito, bastando que haja uma fundada suspeita.
▪ O relator considera serem analisadas as justificativas presentes no caso
concreto para embasar a entrada no domicílio.
▪ Fez referência à jurisprudência do STJ: (STJ, HC 188.195/DF, 5ª Turma, Relator Min.
Jorge Mussi, j. 27.09.2011
Jurisprudência
citada
Julgado – (Espécie – HC) nº 2061273-14.2021.8.26.0000

Desembargador(a) Newton Neves

▪ HABEAS CORPUS Tráfico de drogas Conversão da prisão em flagrante em


preventiva Análise da prisão cautelar sob o enfoque das Leis n.º 12.403/11 e n.º
Ementa
13.964/19 Paciente que, embora reincidente, é preso em flagrante com 16
porções totalizando 276,3g de maconha - Prisão necessária e adequada para a
garantia da ordem pública Paciente que não se enquadra nas hipóteses da
Recomendação n.º 62, do CNJ Manutenção da prisão que visa proteger a
sociedade como um todo Ordem denegada - (Voto n.º 44289)
▪ Habeas corpus impetrado em favor de Leonardo de Sousa Alves. Alegações:
Sofrer o paciente constrangimento ilegal por ato do Juízo que manteve a
segregação cautelar, convertendo o flagrante formalmente lavrado em prisão
preventiva. Sustenta não estarem presentes os requisitos autorizadores da prisão
preventiva e a inexistência de evidências da participação do paciente no crime
investigado, bem como a ilegalidade da prisão diante da pandemia da COVID-19.
Invoca a Recomendação nº 62/2020 do CNJ, culminando por pedir a concessão da
ordem, com antecipação liminar, para que possa o paciente responder ao
processo em liberdade.
▪ A liminar foi indeferida.
Pontos em ▪ A ordem foi denegada. Razões da denegação: O paciente é reincidente pela
discussão prática de roubo circunstanciado e deliberou por persistir na prática delitiva,
circunstância esta, concreta e relativa à sua pessoa, que demonstra que ele, em
liberdade, tornaria a delinquir, a impor a excepcional prisão preventiva como
necessária e adequada para a garantia da ordem pública e insuficientes se
mostram, a garantia a ordem pública, a imposição de cautelares diversas da
prisão.
▪ Houve afronta à Recomendação nº 62 do CNJ? Não. Porque não há nos autos
comprovação suficiente de que o paciente se enquadre no grupo de risco, ou de
que o estabelecimento prisional em que ele se encontra está com ocupação
superior à capacidade, que possui instalações que favoreçam a propagação do
novo coronavírus ou que não disponha de equipe de saúde lotada no
estabelecimento (art. 4º, I, “a” e “b”), além de cuidar-se de imputação da prática
de delito equiparado a hediondo (art. 5º-A).
▪ (STF, RHC 144.995/SP, 1ª Turma, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 10/12/19). PRISÃO
PREVENTIVA REINCIDÊNCIA PERICULOSIDADE. Ante a constatação de tratar-se de
Jurisprudência
acusado reincidente, tem-se como viável a prisão preventiva, considerada a
citada
sinalização de periculosidade. Ainda: STF, HC 141.717/SP, 2ª Turma, Rel. Min.
Gilmar Mendes, j. 27/06/17; STJ, RHC 118.340/MS, 5ª Turma, Rel. Min. Jorge
Mussi, j. 26/11/2019; STJ, HC 538.161/SP, 6ª Turma, Rel. Min. Antonio Saldanha
Palheiro, j. 04/02/20.
Julgado – (Espécie – HC) nº 2077048-69.2021.8.26.0000

Desembargador(a) Newton Neves

▪ HABEAS CORPUS Embriaguez ao volante - Conversão da prisão em flagrante


em preventiva. Análise da prisão cautelar sob a ótica das Leis n.º 12403/11 e n.º
Ementa
13.964/19 - Decreto prisional afrontoso ao art. 315, §2º, III, e ao art. 313, I, ambos
do CPP - Suficiência da imposição de medidas cautelares diversas da prisão -
Liberdade provisória concedida Liminar deferida - Ordem concedida - (Voto n.º
44287).
▪ Impetração de HC. Alegações: 1. Sofrer o paciente constrangimento ilegal por
ato do Juízo que manteve a prisão processual, convertendo o flagrante
formalmente lavrado em prisão preventiva; 2. Carente de fundamentação idônea
a decisão alvejada por se embasar na gravidade do delito e a
desproporcionalidade da medida posto que o delito imputado ao paciente prevê
pena de detenção de modo que em eventual condenação jamais iniciará o
cumprimento da pena em regime fechado; 3. Preencher o paciente os
pressupostos para a concessão da liberdade provisória pois possui residência fixa
e ocupação lícita, além de ter dois filhos menores e o delito imputado é
desprovido de violência ou grave ameaça à pessoa.
Pontos em ▪ Ordem concedida.
discussão ▪ A prisão em flagrante foi convertida em preventiva porque “trata-se de fato
SÉRIO”, chamando-se atenção para o argumento de que o crime foi cometido
durante calamidade pública.
▪ O fato de ter sido o delito perpetrado durante a pandemia causada pelo
coronavírus, reconhecida pela Organização Mundial de Saúde, não implica na
imposição da prisão preventiva, sob pena de se impor, indistintamente, a prisão a
todo flagrado durante a pandemia (art. 315, §2º, III, do CPP).
▪ Outros elementos: O condenado possui condenação anterior, configurando-se
reincidência.
▪ Este fato foi impeditivo para conceder a ordem? Não. Destacou-se que
embora o paciente ostente anterior condenação, não é por delito da mesma
espécie e a suposta infração penal cometida é apenada com pena de detenção o
que, em caso de eventual condenação, implicará na imposição de cumprimento
de pena em regime penitenciário de menor rigor do que o ora experimentado a
título de segregação cautelar, a evidenciar a desproporcionalidade da medida
cautelar.
▪ Citação importante retirada de jurisprudência da jurisprudência do STJ sobre a
questão da reincidência no parágrafo acima: a reincidência, por si só,
notadamente diante do cenário de pandemia que estávamos vivendo, não
justifica a prisão preventiva (HC 618.229/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da
Fonseca, 5ª Turma, j. 20/10/20).
Julgado – (Espécie – APELAÇÃO) nº 1501115-43.2020.8.26.0628

Desembargador(a) Newton Neves

▪ TRÁFICO Quadro probatório que não traz a necessária certeza quanto à


finalidade mercantil do entorpecente Quantidade pequena de droga que exige
Ementa
prova concreta de atos de mercancia para comprovar o delito de tráfico Dúvida
remanescente que autoriza a desclassificação para o crime do art. 28 da Lei de
Drogas Recurso parcialmente provido, com determinação de expedição de alvará
de soltura - (voto nº 44263).
▪ O réu guardava e trazia consigo, para fins de tráfico, 25 porções de cocaína
(peso líquido 16,8g), sem autorização e em desacordo com determinação legal ou
regulamentar.
▪ O propósito mercantil, que é o elemento subjetivo caracterizador do crime de
tráfico.
▪ Sendo um crime de atividade essencialmente clandestina, a prova flagrancial
do comércio não se torna indispensável, desde que apontada sua ocorrência por
outros meios de prova.
▪ Não é apenas a quantidade da droga apreendida que define o tipo penal, a
qual, aliás, não é tão expressiva assim (16,8g de cocaína fls. 104/106), mas sim a
Pontos em conduta do agente em razão das circunstâncias apuradas.
discussão ▪ Não houve flagrante quanto a nenhum ato de venda ou indicativo nesse
sentido, sequer mencionam os agentes policiais terem presenciado qualquer
conduta do réu que pudesse ao menos trazer mínima evidência de que estivesse
ele, naquele momento, exercendo atos de mercancia. Houve tão somente
apreensão das drogas.
▪ Trata-se de exigir a correta formação de culpa em atenção ao princípio
constitucional da presunção de inocência, pois compete ao Estado, para impor
sanção, demonstrar de forma cabal a conduta penal do processado, o que não se
permite por dedução ou presunção.
▪ O fato de o apelante ter sido preso dias antes por suposta prática de delito da
mesma espécie e possuir apontamentos criminais pela prática de atos infracionais
por delito equiparado o tráfico de drogas, não desobriga a acusação de fazer
prova convincente e cabal da responsabilidade pelo fato concreto apurado nestes
autos, pois a condenação deve corresponder ao crime determinado, e não pela
vida pregressa do agente.
▪ Embora apontados indícios de que o apelado se dedique ao comércio ilegal de
drogas, certo é que a prova da finalidade mercantil do entorpecente é frágil e
meramente indiciária, não restando cabalmente demonstrado que o
entorpecente apreendido se destinava à traficância.
▪ Operada a desclassificação, afastada fica a hipótese de prisão

Julgado – (Espécie – APELAÇÃO) nº 1526350-48.2020.8.26.0228

Desembargador(a) Newton Neves


▪ TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS Quadro probatório que se mostra seguro e coeso
para evidenciar autoria e materialidade do delito Confissão judicial Apreensão de
Ementa
drogas na posse do réu e no imóvel onde ele ingressou - Depoimento de agentes
policiais Validade e suficiência desde que inexistente contradição ou confronto
com as demais provas Análise que se faz em cada caso concreto Condenação
mantida PENA Básica fixada no mínimo legal Réu confesso e menor Súmula 231
do C. STJ Impossibilidade de reconhecimento da forma privilegiada do crime em
razão da expressiva quantidade de drogas (27g de cocaína e 4.157,6g de
maconha) Óbice à benesse do art. 44, CP, diante do quantum final da pena
Possibilidade de alteração do regime prisional para o semiaberto, suficiente à
repreensão da conduta Recurso parcialmente provido (voto nº 44277).*
▪ O réu trazia consigo e mantinha em depósito, para fins de tráfico, 27g de
cocaína e 4.157,6g de maconha (90 porções de maconha e no imóvel havia mais
78 porções de cocaína e cerca de 1.100 porções de maconha, além de milhares de
embalagens e fita adesiva).
▪ Destaco possível justificativa retirada do julgado a ser usada em prova para os
casos que confrontem o depoimento dos policiais: “Nada há nos autos que possa
Pontos em afastar a credibilidade dos relatos dos agentes policiais, que prestaram
discussão depoimentos absolutamente seguros e coesos acerca dos fatos, não havendo
qualquer indício, ainda que mínimo, de que tenham tentado incriminar
gratuitamente o réu Cristiano (...) O depoimento de policiais, que no
cumprimento de sua missão atuam na repressão penal, é tão válido como
qualquer outro testemunho, como já assentado pacificamente pela doutrina e
jurisprudência. Merecem credibilidade e, se em acordo ou conformidade com
acervo probatório produzido nos autos, justificam uma condenação”.
▪ Utilização da quantidade de droga como fundamento para negativa de
aplicação do §4º do Art. 33, da Lei 11.343/06: “a expressiva quantidade de drogas
apreendidas (27g de cocaína e 4.157,6g de maconha) é suficiente a justificar a
negativa de concessão da benesse. É pacífico o entendimento de que a
quantidade de drogas apreendidas pode ser invocada para majorar a básica ou
para negar a redutora ou aplicá-la em fração diferenciada, cabendo ao juiz
escolher em qual momento da dosimetria vai ser levada em conta, seja na
primeira, seja na terceira, observando sempre a vedação ao bis in idem, conforme
entendimento firmado pelo C. STF (HCs 112.776 e 109.193, Relator do Min. Teori
Zavascki, j. 19/12/2013). Nesse sentido também a repercussão geral reconhecida
pelo E. STF no Recurso Extraordinário com Agravo nº 666.334, j. 01.04.2014,
adotando o entendimento que tais circunstâncias só podem ser consideradas em
uma das etapas do cálculo, sob pena de bis in idem.
▪ OBS (a título de acréscimo): Atentar que a 1ª Turma do STF e 6ª Turma do STJ
demonstraram o entendimento acima (HC 130981/MS, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgado em 18/10/2016). Porém a 2ª Turma entendeu que a quantidade de
drogas encontrada não constitui, isoladamente, fundamento idôneo para negar o
benefício da redução da pena previsto no Art. 33, §4º, da 11.343/06 (RHC
138715/MS, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 23/05/2017).
▪ OBS 2 (a título de acréscimo): O fato de o réu ter ocupação lícita não significa
que terá direito, necessariamente, à minorante do §4º do Art. 33 da LD (STJ. 6ª
Turma. Resp 1.380.741-MG, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, julgado em
12/04/2016).
▪ A defesa requereu a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva
de direitos. Pedido negado, em razão da quantidade da pena e não pela parte
final do Art. 44 da LD, declarada inconstitucional: a pretendida substituição da
corporal por restritiva de direitos, com fulcro na decisão proferida pelo Supremo
Tribunal Federal, no Habeas Corpus nº 97256/RS, que declarou, incidentalmente,
a inconstitucionalidade da expressão “vedada a conversão de suas penas em
restritivas de direitos”, contida no art. 44 da Lei nº 11.343/06, é de ser afastada,
eis que o quantum final da pena obsta, por si só, a concessão da benesse.
HC nº 74.608-0/SP, Rel. Min. Celso de Mello: A circunstância de a testemunha ser
policial não afeta, positiva ou negativamente, o valor probante de sua palavra.
Jurisprudência
citada

Julgado – (Espécie – APELAÇÃO) nº 1520928-92.2020.8.26.0228

Desembargador(a) Newton Neves

▪ TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS Quadro probatório que se mostra seguro e coeso


para evidenciar autoria e materialidade Depoimentos de agentes policiais
Ementa
Validade e suficiência desde que inexistente contradição ou confronto com as
demais provas. Ausência de dúvida que justifica o édito Condenação mantida
Impossibilidade de majoração da pena-base Quantidade de droga que não se
mostra suficiente a maior apenação (425,9g de maconha) Réu triplamente
reincidente Agravante do art. 61, II, “j”, do CP Necessidade de aplicação de fração
diferenciada para cada agravante Adequação da pena Causa de aumento do art.
40, III da Lei n. 11/343/06 não evidenciada nos autos - Reincidência que impede o
reconhecimento do redutor legal Regime fechado mantido Recurso ministerial
parcialmente provido e apelo defensivo improvido (voto nº 44262).
▪ Pena-base foi fixada no mínimo legal (05 anos e 500 dias-multa), majorada na
segunda fase na fração de 1/3, ante a tripla reincidência e o fato do crime ter sido
praticado em período de calamidade pública, resultando na pena final de 06 anos
e 8 meses de reclusão e pagamento de 666 dias-multa, posto que negada a
aplicação do redutor do §4º do art. 33 da Lei nº 11.343/06 por ser o réu
reincidente.
▪ Pedido do Ministério Público de aumento da pena-base negado: Não comporta
a pena-base qualquer alteração vez que a quantidade de maconha apreendida -
52 porções de maconha, com peso líquido de 425,9g -, apesar de considerável a
ponto de caracterizar o crime de tráfico, não enseja maior apenação.
▪ Foram reconhecidas as agravantes da reincidência e a presente no Art. 61, II,
Pontos em “j”, do CP. Contudo a pena tinha sido agravada em 1/3. Nesse aspecto, houve o
discussão acolhimento do pedido da acusação pois cada circunstância agravante deve ser
considerada isoladamente haja vista não estar presente qualquer circunstância
atenuante e não incidir o disposto no art. 68, parágrafo único, do Código Penal ao
presente caso. Assim, majorou-se a pena em 1/3 pela presença da agravante da
reincidência, principalmente por se tratar de réu multirreincidente, e em mais 1/6
pela presença da agravante do art. 61, II, “j”, do CP, resultando na pena de 07
anos, 09 meses e 10 dias de reclusão, mais o pagamento de 777 dias-multa, no
mínimo legal.
▪ Causa de aumento do Art. 40, III, da LD: O termo “imediações” estabelecido no
referido dispositivo refere-se ao acesso rápido e imediato, a ponto de o agente
aproveitar o fluxo de pessoas que transitam pelo local para vender para elas a
substância. A incidência desta causa de aumento, no caso concreto foi negada sob
a seguinte justificativa: A 103ª Junta do Serviço Militar e a Ama UBS Integrada Vila
Guilherme distam 650m do local em que abordado o acusado e sequer se
localizam na mesma rua, o que não se pode considerar nas “imediações” posto
que exige considerável caminhada para alcançar tais distâncias, além de estar
comprometido o contato visual do local.
▪ Afastamento da causa de diminuição prevista no §4º do art. 33 da Lei nº
11.343/06 eis que a reincidência obsta a aplicação do redutor legal.

Julgado – (Espécie – APELAÇÃO) nº 1500113-10.2020.8.26.0605

Desembargador(a) Newton Neves

▪ CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO Arts. 306 e 309, da Lei nº 9.503/97


Conformismo com o mérito da condenação Pretensão à substituição da pena
Ementa
corporal por restritivas de direito Possibilidade de afastamento da condenação
pelo crime autônomo do art. 309, CTB, com reconhecimento da agravante
prevista em seu art. 298, III Readequação da pena Réu reincidente por
condenação pelo crime de ameaça Pena já cumprida Possibilidade de substituição
da pena por pena de multa Regime prisional semiaberto mantido em razão da
reincidência Recurso provido (voto nº 44278)
▪ O réu denunciado por conduzir a motocicleta, na via pública, com capacidade
psicomotora alterada em razão da influência de álcool. Também porque, nas
mesmas condições de tempo e local, dirigia o motociclo sem a devida permissão
para dirigir ou habilitação, gerando perigo de dano.
▪ Foi condenado pelos crimes dos artigos 306 e 309 do Código de Trânsito
Brasileiro, na forma do art. 69 do Código Penal, ao cumprimento da pena de 01
ano de detenção e pagamento de 10 dias-multa, no piso, fixado o regime
semiaberto, e suspensão para dirigir veículo automotor por dois meses.
▪ O relator, contudo, entende que é caso de aplicar a agravante do artigo 298,
inciso III, do CTB, afastando-se a prática do delito do artigo 309 da mesma norma
Pontos em legal. É que o fato de o réu estar conduzindo o veículo sem habilitação no
discussão momento da prática de outro crime (embriaguez ao volante), melhor se enquadra
na condição de circunstância agravante, e não como crime autônomo.
▪ Assim, decretou-se a condenação do réu no Art. 306 combinado com o artigo
298, inciso III, ambos da Lei nº 9.503/97.
▪ Possível se mostra, ante a expressa concordância da d. Procuradoria Geral de
Justiça, a substituição da pena corporal, com fulcro no artigo 44, do Código Penal,
já que a reincidência do réu não é específica, não se observando das
circunstâncias do presente crime, como já visto, dolo anormal ao tipo.
▪ Impõe-se, assim, respeitada a regra do art. 46 do Código Penal que
expressamente veda a fixação de prestação de serviços à comunidade no
presente caso, a substituição da pena corporal por multa, conforme o art. 44, §2º,
primeira parte, do Código Penal que estipulo, à míngua de elementos
desabonadores do acusado, em novos 10 dias-multa, no piso legal.

Julgado – (Espécie – APELAÇÃO) nº 1500298-04.2020.8.26.0264

Desembargador(a) Newton Neves

▪ TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES Nulidade da sentença Inocorrência


Dosimetria da pena devidamente fundamentada. Ausência de prejuízo. Preliminar
Ementa
afastada. Conformismo quanto ao mérito da condenação Possibilidade de
redução da pena-base ao mínimo legal por não indicar a quantidade de droga
dolo acima do tipo. Descabimento de redução, agora, pela confissão espontânea.
Observância à Súmula 231, STJ Impossibilidade de reconhecimento da forma
privilegiada do crime porque evidenciada a dedicação do réu a atividades
criminosas Óbice à benesse do art. 44, CP, diante do quantum final da pena
Possibilidade de alteração do regime prisional para o semiaberto, suficiente à
repreensão da conduta Recurso parcialmente provido (voto nº 44281)
▪ A natureza mais nociva da substância não implica em aumento da pena-base:
Apesar da natureza sabidamente mais nociva das substâncias apreendidas nestes
autos, certo é que a quantidade não é expressiva (peso LÍQUIDO de 4,28g de
cocaína e 37,02g de crack fls. 89/91) não ensejando maior apenação por não
indicar dolo anormal ao tipo.
▪ Processo em andamento pode demonstrar habitualidade criminosa, conforme
segue: Apesar de o feito nº 1500292-94.2020.8.26.0264 não servir a ensejar
maior dosimetria da pena em razão do princípio in dubio pro reo, vez que ainda
em andamento, pode vir a reforçar, como no caso dos autos, a certeza quanto à
habitualidade na prática deste mesmo crime.
Pontos em ▪ Justificativa apresentada com base em jurisprudência do STJ para afastar a
discussão hipótese do Art. 33, §4º, da LD: “O Superior Tribunal de Justiça firmou o
entendimento de que existência de outros processos criminais, pendentes de
definitividade, embora não sirvam para a negativa valoração da reincidência e dos
antecedentes (Súmula 444 do STJ), podem afastar a incidência da minorante do
art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006, quando permitem concluir que o agente é
habitual na prática delitiva” (STJ - AgRg no HC 649.849/SP, Rel. Ministro RIBEIRO
DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 06/04/2021, DJe 09/04/2021).

Julgado – (Espécie – HC) nº 2065909-23.2021.8.26.0000

Desembargador(a) Newton Neves

▪ HABEAS CORPUS Associação criminosa e porte ilegal de arma de fogo Alegação


de nulidade por inobservância do art. 210, do CPP Decisão alvejada
Ementa
fundamentada não demonstração, de modo flagrante, de ilegalidade e prejuízo
em desfavor dos pacientes (art. 563, do CPP) Precedente do STJ - Iminente
prolação de r. sentença - Ordem denegada - (Voto n.º 44280).
▪ A defesa alega sofrerem os pacientes constrangimento ilegal pela nulidade na
oitiva das testemunhas policiais (Inobservância do Art. 210 do CPP).
▪ Trecho trazido pelo Relator para afastar a nulidade: Pela r. decisão alvejada, a
alegação foi refutada, sob o fundamento de que, cumpre destacar, “ao ser
levantada pela defesa tal questão de ordem, esta Magistrada indagou aos
policiais se eles estavam sozinhos na sala em que se encontravam, um de cada
vez, sendo que a resposta foi positiva. Ademais, a testemunha Leonardo filmou
toda a sala em questão, não havendo qualquer pessoa na sala no momento de
sua oitiva, o que pode ser observado na gravação da audiência realizada”.
▪ Sustenta o relator que ao menos em sede do estrito âmbito de cognição
Pontos em pertinente à via eleita, nota-se não ter a d. Defesa experimentado prejuízo em
discussão razão da suscitada inobservância da norma do art. 210, do CPP, cuja observância
foi apontada pela d. magistrada que presidiu a solenidade.
▪ Ementa do STJ citada: PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
ESPECIAL. ESTUPRO. INCOMUNICABILIDADE DAS TESTEMUNHAS. NULIDADE.
PREJUÍZO NÃO DEMONSTRADO. AGRAVO DESPROVIDO. 1. 'A inobservância da
incomunicabilidade das testemunhas, disposta no art. 210 do Código de Processo
Penal, requer demonstração da efetiva lesão à Defesa, no comprometimento da
cognição do magistrado.' (HC 166.719/SP, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA
TURMA, julgado em 12/4/2011, DJe 11/5/2011) 2. Na hipótese, o Tribunal de
origem justificou a condenação com base em outras provas que não a
supostamente inquinada pelo vício da incomunicabilidade. A não comprovação
de prejuízo à defesa obsta o reconhecimento da nulidade. 3. Agravo regimental
desprovido” (STJ, AgRg no REsp 1860776/MA, 5ª Turma, Rel. Min. Ribeiro Dantas,
j. 18/08/20).

Julgado – (Espécie – Agravo de Execução Penal) nº 0003032-90.2021.8.26.0482

Desembargador(a) Newton Neves

▪ FALTA GRAVE Detento destinatário de encomenda postal sedex contendo


substância entorpecente Objetos localizados em correspondência encaminhada
Ementa pelo genitor do sentenciado - Atipicidade da conduta, não passível de subsunção
ao previsto no art. 52 da LEP Absolvição Medida de rigor Agravo provido - (voto
44273).
▪ Decisão reconheceu como falta grave o fato de ter sido encontrada substância
entorpecente em correspondência encaminhada ao sentenciado e determinou a
perda de 1/3 dos dias remidos, além da interrupção da contagem do prazo para a
progressão no regime.
▪ O relator entendeu que a decisão mereceu ser cassada sob o fundamento de:
1. As situações caracterizadoras de falta grave estão previstas, de forma taxativa,
na Lei de Execuções Penais, e a qualidade de destinatário de bens remetidos não
está tipificada na Lei de Execução Penal. 2. Tal qual a norma penal incriminadora -
seja o Código Penal, seja a legislação extravagante federal veda, não pode a lei de
execução penal ser interpretada elasticamente em prejuízo do condenado, de
Pontos em sorte que a apuração de sua eventual participação no tráfico deve se dar
discussão mediante a instauração de inquérito policial. Portanto, atípica a conduta do
sentenciado

Julgado – (Espécie – Apelação) nº 1501164-06.2019.8.26.0536

Desembargador(a) Newton Neves

▪ TRÁFICO Quadro probatório que não traz a necessária certeza quanto a posse
ou propriedade das drogas apreendidas Depoimento de agentes policiais Validade
Ementa
e suficiência desde que inexistente contradição ou confronto com as demais
provas Análise que se faz em cada caso concreto Dúvida remanescente que
autoriza o decreto absolutório Recurso improvido (voto n. 44276).
▪ Fundamentos que levaram à absolvição do réu:
▪ 1. O policial militar Marcel disse que chegando ao local, conhecido por ser
ponto de tráfico, acompanhou o policial militar Tiago, mas as pessoas correram
ao notar a presença de policiais. A abordagem de David foi feita pelo policial
militar Marcelo, mas ele não estava na posse de drogas. David disse que
trabalhava como olheiro no local. As drogas foram encontradas numa caixa de luz
do outro lado da rua, exatamente no local também indicado pela denúncia.
▪ 2. Respeitado o entendimento do d. representante do Ministério Público, o
fato do réu possuir as características indicadas na denúncia anônima, não é
justificativa concreta e certa para a ele imputar o crime de tráfico.
Pontos em ▪ 3. A polícia contava apenas com as características físicas e vestimentas de um
discussão possível traficante e, chegando ao local, dois policiais militares se dirigiram a um
grupo de indivíduos que se dispersaram, ninguém sendo abordado e outro policial
se dirigiu ao outro lado e abordou David que, ao que consta, não tentou fuga. É
certo que David apresentava as características fornecidas pela denúncia, mas não
trazia ele nenhuma droga e não foi visto praticando nenhum ato que indicasse
que ali estava para colaborar com o tráfico. Além disso, as drogas foram
encontradas numa caixa de luz do outro lado da rua onde estava o réu e ele, a seu
turno, negou a propriedade das drogas, fato confirmado pela prova oral.
▪ 4. Não cabe ao julgador concluir, a partir de indícios e suposições, pela verdade
da prática criminosa.
▪ 5. Suspeitas servem para encetar atos de investigação com o escopo de se
confirmar, ou não, as suspeitas iniciais através de indícios que, concluídas e
esgotadas em suas legais dimensões as investigações, podem corroborar o
ajuizamento de denúncia, quando então, sob o contraditório, incumbirá à
acusação produzir provas concretas sobre os fatos descritos na petição inicial,
quando deve estar exaurida a instrução com a solidificação da materialidade,
autoria e responsabilização penal do agente, o que não se vê nestes autos.

Julgado – (Espécie – Habeas Corpus) nº 2070773-07.2021.8.26.0000

Desembargador(a) Newton Neves

▪ HABEAS CORPUS Roubo - Conversão da prisão em flagrante em preventiva


Análise da prisão cautelar sob a ótica das Leis n.º 12403/11 e n.º 13.964/19 -
Ementa
Decreto prisional afrontoso ao art. 315, §2º, I e III, do CPP Jurisprudência do STF e
STJ - Suficiência da imposição de medidas cautelares diversas da prisão -
Liberdade provisória concedida Ordem concedida, com expedição de alvará de
soltura - (Voto n.º 44226).
▪ Fundamento da conversão da prisão em flagrante em preventiva: O roubo se
trata de crime grave que expõe a sociedade a risco tanto patrimonial, ante a
subtração de bens, quanto físico e psicológico, haja vista a violência física e
psíquica que tal prática criminosa ocasiona.
▪ O relator entendeu que o decreto da prisão preventiva reveste-se de indícios
de ilegalidade, impondo-se a concessão da ordem. Afirmou que o magistrado ao
fundamentar a prisão preventiva apenas descreve a conduta caracterizadora do
tipo penal (roubo), o que torna forçoso reconhecer que está calcada na gravidade
abstrata do delito, não havendo referências outras à conduta ou personalidade
do paciente. Implica dizer, em outras palavras, que se acolhida fundamentação
Pontos em nesse sentido, caberia o decreto de prisão preventiva em todos os casos de
discussão roubo, pois nele contido está explícito a ameaça e violência contra a vítima, o que
o legislador assim não fixou. E os Tribunais Superiores, como sabido, de forma
pacificada refutam a prisão preventiva calcada na gravidade abstrata do delito.
▪ Para o decreto da prisão cautelar, deve o julgador invocar circunstâncias
concretas, relativas à pessoa do réu e extraídas da empreitada criminosa, que
demonstrem a necessidade e adequação da excepcional medida, estudo este
pautado pela sensibilidade do juiz à reação do meio ambiente à ação criminosa.
▪ Ilegal se revela o decreto prisional calcado no fato de que necessária é a prisão
para que o paciente não torne a delinquir, sob a conclusão de que faz das
atividades ilícitas seu meio de vida baseada na não comprovação de exercício de
atividade laboral remunerada.
▪ Suficiente se mostra a imposição de medidas cautelares diversas da prisão,
conforme constante do dispositivo desta decisão.
Agravo regimental em habeas corpus. 2. Direito Processual Penal. 3. Tráfico de
drogas (art. 33, caput, da Lei 11.343/2006). 4. habeas corpus impetrado contra
Jurisprudência
decisão que indeferiu liminar no STJ. Súmula 691. Superação do entendimento
citada
diante de manifesta ilegalidade. 5. Prisão Preventiva decretada com base em
fundamentos abstratos. Impossibilidade. Precedentes. 6. Conversão, de ofício, da
prisão em flagrante em preventiva. Violação ao sistema acusatório no processo
penal brasileiro. Sistemática de decretação de prisão preventiva e as alterações
aportadas pela Lei 13.964/2019. A recente Lei 13.964/2019 avançou em tal
consolidação da separação entre as funções de acusar, julgar e defender. Para
tanto, modificou-se a redação do art. 311 do CPP, que regula a prisão preventiva,
suprimindo do texto a possibilidade de decretação da medida de ofício pelo juiz.
7. Inexistência de argumentos capazes de infirmar a decisão agravada. 8. Agravo
regimental desprovido.” Destaquei. (STF, HC 192532 AgR, 2ª Turma, Rel. Min.
Gilmar Mendes, j. 24/02/21).
Exige-se, ainda, na linha inicialmente perfilhada pela jurisprudência dominante
deste Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal e agora
normatizada a partir da edição da Lei n. 13.964/2019, que a decisão esteja
pautada em motivação concreta de fatos novos ou contemporâneos, bem como
demonstrado o lastro probatório que se ajuste às hipóteses excepcionais da
norma em abstrato e revelem a imprescindibilidade da medida, vedadas
considerações genéricas e vazias sobre a gravidade do crime” (AgRg no RHC
138.555/SC, 5ª Turma, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 23/02/21).

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