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QUESTÕES DE PROVAS ORAIS

DIREITO PENAL/LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

1- Apresente os elementos da culpabilidade e comente um pouco sobre cada um deles.


Segundo a doutrina, os elementos da culpabilidade são a imputabilidade, a potencial consciência
da ilicitude e a exigibilidade de conduta diversa.
A imputabilidade, segundo Fernando Capez, é a capacidade de entender o caráter ilícito do fato
e de determinar-se de acordo com esse entendimento. Para o autor, além dessa capacidade plena
de entendimento, deve ter totais condições de controle sobre sua vontade. Isto é, não basta o
indivíduo entender o caráter ilícito de sua conduta, se não possui domínio sobre sua vontade.
Já a potencial consciência da ilicitude, consiste no fato de o indivíduo ter a possibilidade de saber
do caráter ilícito de sua ação ou omissão, no momento em que a praticou.
Por último, a exigibilidade de conduta diversa significa que só podem ser punidas as condutas
que poderiam ser evitadas. Ou seja, a contrario sensu, aquelas condutas que não poderiam ser
evitadas, consequentemente, não são censuradas, e a lei ao prever tais possibilidades, instituiu
duas hipóteses excludentes da exigibilidade de conduta diversa, quais são: coação moral
irresistível e obediência hierárquica.
Assim sendo, nos termos do art. 22 do Código Penal, “se o fato é cometido sob coação irresistível
ou em estrita obediência à ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é
punível o autor da coação ou da ordem.”

2- Qual a diferença entre os erros de proibição direto e indireto?


No erro de proibição direto o agente se equivoca quanto ao conteúdo de uma norma proibitiva,
ou porque ignora a existência do tipo incriminador, ou porque não conhece completamente o seu
conteúdo, ou porque não entende o seu âmbito de incidência (ex.: holandês, habituado a consumir
maconha no seu país de origem, acredita ser possível utilizar a mesma droga no Brasil,
equivocando-se quanto ao caráter proibido da sua conduta).
No erro de proibição indireto (descriminante putativa por erro de proibição) o agente sabe que a
conduta é típica, mas imagina presente uma norma permissiva, ora supondo existir uma causa
excludente da ilicitude, ora supondo estar agindo nos limites da descriminante (ex.: “A”, traído
por sua mulher, acredita estar autorizado a matá-la para defender sua honra ferida).

3- Explique as teorias sobre o concurso de pessoas.

“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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A tradicional teoria monista, unitária ou igualitária, prega que o crime, ainda que tenha sido
praticado em concurso de várias pessoas, permanece único e indivisível. Não se faz distinção
entre as várias categorias de pessoas (autor, partícipe, instigador, cúmplice etc.), sendo
todos autores (ou coautores) do crime. Esse é o posicionamento do Código Penal de 1940 ao
determinar no artigo 29 que “quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas
a este cominadas”. Dessa regra se deduz que “toda pessoa que concorre para a produção do crime
causa-o em sua totalidade e, por ele, se imputa integralmente o delito a cada um dos partícipes”.
Portanto, todos os que tomam parte na infração penal cometem idêntico crime.
A crítica a essa posição deriva não só da dificuldade de se estabelecer a realidade da “equivalência
das condições”, bastante discutível, como das próprias exceções da lei, que estabelece, apesar da
adoção do princípio unitário, algumas causas de agravação e atenuação da pena.
Para a teoria pluralista, à multiplicidade de agentes corresponde um real concurso de ações
diversas e, em consequência, uma pluralidade de delitos, praticando cada uma das pessoas um
crime próprio, autônomo. A falha apontada nessa teoria é a de que as participações de cada um
dos agentes não são formas autônomas, mas convergem para uma ação única, já que há um único
resultado que deriva de todas as causas diversas.
Acerca dessa teoria, Nucci indica que o Código Penal, adota-a, como exceção, ao disciplinar o
aborto, fazendo com que a gestante que consinta a prática do aborto em si mesma responda como
incursa no art. 124 do Código Penal, enquanto o agente provocador do aborto, em lugar de ser
coautor dessa infração, responda como incurso no art. 126 do referido Código, aplicando-se o
mesmo no contexto da corrupção ativa e passiva e da bigamia.
Para a teoria dualística, ou dualista, no concurso de pessoas há um crime para os autores e outro
para os partícipes. Neste caso, deve-se separar os coautores, que praticam um delito, e os
partícipes, que cometem outro.
No crime há uma ação principal, que é a ação do autor do crime, o que executa a ação típica, e
ações secundárias, acessórias, que são as realizadas por aqueles que instigaram ou auxiliaram o
autor a cometer o delito. Neste ponto, Mirabete aponta que, entretanto, é importante lembrar que
o crime é um só fato e que, por vezes, a ação do executor é menos importante que a do partícipe
(casos de mandato, de coação resistível etc.).

4- O que são crimes omissivos próprio e impróprio?


Crime omissivo próprio ocorre quando há somente a omissão de um dever de agir, imposto
normativamente, dispensando, via de regra, a investigação sobre a relação de causalidade
naturalística (são delitos de mera conduta).
Por outro lado, o crime omissivo impróprio é aquele em que o dever de agir é para evitar um
resultado concreto. Trata-se da análise que envolve um crime de resultado material, exigindo,
consequentemente, a presença de nexo causal entre conduta omitida (esperada) e o resultado. Esse
nexo, no entanto, para a maioria da doutrina, não é naturalístico (do nada não pode vir nada). Na

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verdade, o vínculo é jurídico, isto é, o sujeito não causou, mas como não o impediu é equiparado
ao verdadeiro causador do resultado (é o nexo de não impedimento).

5- O que é a teoria da imputação objetiva?


Esta teoria busca delimitar a imputação do resultado ao agente. O agente não responde
objetivamente pelo delito, mas a análise é objetiva para imputar o resultado ao agente. Esta teoria
considera, além do critério físico, os nexos normativos para o momento em que se atribui um
resultado a uma conduta.
Antes, valorava-se a ação do sujeito para verificar se a conduta do indivíduo se dirigiu para
determinado fim. A teoria da imputação objetiva vai além, criando uma faceta objetiva da
finalidade, ou seja, a teoria busca identificar se houve a criação de um risco proibido pelo agente,
risco juridicamente proibido.
Em suma, o desvalor do resultado está ligado à criação ou incremento de um risco juridicamente
proibido. Após, é necessário verificar se o resultado foi alcançado por meio da criação ou
incremento desse risco. E, por último, é indispensável que o resultado esteja dentro do alcance do
tipo penal.
Caso os três elementos estejam presentes, haverá o nexo normativo. Esta análise do nexo
normativo antecede a análise subjetiva da conduta do agente, não podendo falar em dolo ou culpa.
Portanto, a análise da teoria da imputação objetiva passa pelos seguintes critérios normativos:
criação ou incremento de um risco juridicamente proibido; realização do risco proibido no
resultado; resultado dentro do alcance do tipo.

6- Explique a diferença entre tipicidade formal, material e conglobante.


Sabe-se que um dos elementos necessários para configurar um crime é a tipicidade. Ocorre que
esta tipicidade está dividida em material e formal.
A tipicidade formal é simplesmente à adequação do fato à norma. Por exemplo, no crime de furto,
o agente que subtrai um produto de R$ 5,00 reais de uma rede multinacional de supermercados
tem sua conduta adequada ao artigo 155 do Código Penal, uma vez que subtraiu para si coisa
alheia móvel. Ou seja, a ação do agente encontra sua tipicidade formal já que os elementos do
tipo foram preenchidos.
Já a tipicidade material consiste numa efetiva lesão ou ameaça ao bem jurídico protegido. Quando
a lesão ou ameaça não se der de forma intolerável, não há crime, pelo fato de estar afastada a
tipicidade material. Esta tipicidade pode ser afastada quando se encontram presentes os princípios
da lesividade, insignificância, adequação social e alteridade, vejamos cada um deles.
A teoria da tipicidade conglobante, do jurista argentino Eugenio Raúl Zaffaroni, visa explicar a
tipicidade para o direito penal. Essa teoria basicamente entende que o Estado não pode considerar
como típica uma conduta que é fomentada ou tolerada pela Estado. Em outras palavras, o que é
permitido, fomentado ou determinado por uma norma não pode estar proibido por outra. O juízo

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de tipicidade deve ser concretizado de acordo com o sistema normativo considerado em sua
globalidade. Se uma norma permite, fomenta ou determina uma conduta não pode estar proibido
por outra.
Até então a tipicidade era compreendida como: tipicidade formal (descrição legal do fato típico)
e tipicidade material (adequação do fato a norma). Zaffaroni criou o conceito de tipicidade
conglobante, sendo entendida como a junção da tipicidade material com a antinormatividade.

7- O que se entende pela teoria do domínio do fato?


A teoria do domínio do fato foi efetivamente desenhada pela pena de Claus Roxin, que, no seio
de uma visão funcionalista (o que significa enxergar o direito penal a partir de sua função), trouxe
uma nova roupagem ao instituto. Roxin (2000, p. 151) enxergava que o elemento diferenciador
entre autor e partícipe estaria no domínio da ação, sendo, pois, autor aquele que assume o
protagonismo da realização típica – logo, autor é aquele que pratica os elementos do tipo
dependendo apenas de si e de seu atuar. Porém, além dessa hipótese, Roxin vislumbrou outras
duas possibilidades de se “dominar o fato”.
Uma delas está no domínio da vontade (ROXIN, 2000, p. 166-167), situação na qual o autor da
conduta não a pratica de mão própria, mas, sim, por meio da utilização de outro sujeito, que atua
em erro ou em estado de não culpabilidade, sendo o típico caso do “homem de trás”.
Enquanto a outra forma, também conhecida como domínio funcional do fato (ROXIN, 2000, p.
307-398), consiste em verdadeira divisão de tarefas entre os diversos protagonistas da ação típica.
Em suma, diversas pessoas possuem o mesmo objetivo em comum, a realização da ação típica,
mas, para alcançá-lo, dividem a execução da ação em tarefas, competindo a cada um uma fração
essencial do todo – tanto que a não execução de uma delas pode impossibilitar a consecução do
objetivo comum –, sendo os participantes da empreitada considerados coautores do delito.
Com essa construção, Claus Roxin apresentou um conceito restritivo de autor e, de certa forma,
limitou e muito o alcance do conceito unitário de autoria, pelo qual autor é todo mundo que tenha,
de alguma forma, contribuído ao delito dando causa ao mesmo (teoria causal).
Todavia, o conceito mais interessante apresentado por Roxin vai além da mera teoria do domínio
do fato, mas deriva dela, e hoje se mostra como o fundamento preferido do Judiciário e do
Ministério Público brasileiros na “cruzada” contra a corrupção, principalmente na tarefa de
justificar a responsabilidade penal de diretores de empresas, chefes de órgãos públicos e demais
detentores de funções de chefia por crimes ocorridos no interior das respectivas instituições. O
conceito consiste no conceito de domínio da organização.
Ao contrário do que o cotidiano forense brasileiro aponta, a teoria do domínio da organização não
se reveste como fundamento adequado na punição de chefes, diretores, secretários e demais
ocupantes de cargos ditos de “direção” pela mera posição que ocupa. A teoria exige o atendimento
a alguns pressupostos bem restritivos. Para que se tenha um domínio de organização o tal “homem
de trás” deve: i) dominar um aparato organizado de poder desvinculado da ordem jurídica (o que

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significa que seu nascedouro seja fora da ordem jurídica regular – a exemplo de grupos terroristas,
máfias e Estados de Exceção); ii) possuir poder de mando (ser chefe de algo); e iii) poder emitir
ordens que serão cumpridas por executores fungíveis – o que culmina na certeza de execução da
ordem, sem a necessidade de se ordenar algo diretamente ao executor, pois a execução da ordem
será decorrência lógica da própria hierarquia da organização (LEITE, 2014, p. 139).
A responsabilidade penal, conforme essa teoria do domínio da organização, veda sua extensão ao
âmbito empresarial e dos órgãos públicos. Com relação aos órgãos públicos, porque possuem
organização e divisão de tarefas taxativamente previstas em leis e regulamentos, cujos executores
são nomeados em portarias e demais atos administrativos – o que põe em cheque o primeiro
requisito (organismo apartado da ordem jurídica) e o terceiro (certeza na execução da ordem por
executor fungível). No que toca às empresas, nunca é demais lembrar que são constituídas por
pessoas jurídicas, ou seja, o seu nascedouro depende da lei e não pode ser apartado dela.
Outrossim, é de se ressaltar que a responsabilização, no caso empresarial, recairia fatalmente no
caráter funcional, ou seja, o gerente ou diretor de uma empresa estariam sendo responsáveis pela
simples posição que ocupam, sem refletir necessariamente na conduta que praticaram. O
problema é maior em empresas de estrutura complexa, pois o poder de decisão dificilmente tem
a força necessária para, por si, possibilitar a execução de ordem, vez que uma decisão deverá ser
“vista e revista” por diversos setores administrativos. Para resolver tal problema, talvez, já se
tenha passado da hora de discutirmos uma efetiva responsabilização penal da pessoa jurídica.
Destaque-se que o próprio Roxin, noutras oportunidades, asseverou que sua teoria não se aplica
a organismos amparados na ordem jurídica.
Por fim, Jorge de Figueiredo Dias (2007, p. 799) ainda entende pela existência de uma teoria do
domínio da decisão, por meio da qual permite-se a responsabilização penal daquele que produz
ou cria de forma efetiva e cabal no executor (terceiro) o animus de atentar contra determinado
bem jurídico, dominando, assim, a decisão do executor, vez que inculca a ideia e ainda acompanha
de perto a tomada da decisão. O que é diferente, por suposto, da mera instigação, na qual alguém
sugere ou aconselha a prática delitiva, mas não detém o domínio da decisão do executor, e, sim,
mera influência.
Com isso, podemos dizer que teoria do domínio do fato não se resume numa fórmula simples
(como quis o STF) e, mais, desdobra-se em diversos derivados que com ela não se confundem,
como é típico caso da teoria do domínio da organização.

8- Conceitue legítima defesa e indique os requisitos para sua configuração.


A legítima defesa é a segunda causa de exclusão da antijuridicidade prevista pelo artigo 23 do
Código Penal, e está regulada no artigo 25 do mesmo ordenamento: “Entende-se em legítima
defesa quem, usando moderadamente os meios necessários, repele injusta agressão, atual ou
iminente, a direito seu ou de outrem”.

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Segundo NUCCI, “é a defesa necessária empreendida contra agressão injusta, atual ou iminente,
contra direito próprio ou de terceiro, usando, para tanto, moderadamente, os meios
necessários.”
São os requisitos da legítima defesa:
● Agressão injusta:
Agressão é uma ação ou omissão humana, mas o ataque do cachorro pode gerar legítima defesa,
caso o dono do cachorro tenha o instigado para atacar a pessoa. Se não há essa
determinação do dono, que o utiliza como instrumento de ataque, o caso poderá configurar
estado de necessidade. A injustiça deve ser contrária ao direito e ao ordenamento jurídico.
Se houver a agressão injusta, o agredido poderá revidar a agressão, não se exigindo a fuga
do local (commodus discessus), diferentemente do estado de necessidade. A injustiça da
agressão justifica o rebate do agredido. A legítima defesa independe da consciência do
agressor, ou seja, o inimputável, por exemplo, pode ser agressor injusto, e haver uma
legítima defesa contra este indivíduo. O provocador da injusta agressão poderá agir em
legítima defesa, como no caso em que o indivíduo encontra a mulher e o amante na cama.
● Agressão atual ou iminente:
Não se admite a legítima defesa contra agressão passada (vingança) e nem contra agressão futura
(mera suposição).
● Uso moderado dos meios necessários:
É preciso que o indivíduo aja com proporcionalidade, isto é, deve ser utilizado o meio menos
lesivo à disposição do agredido. Meio necessário é aquele menos lesivo à disposição de
quem vai repelir a injusta agressão, mas que seja capaz de repelir o ataque. A atuação
moderada é uma utilização sem excessos e que demonstre que houve emprego suficiente
daquilo que exige para cessar a agressão. Nélson Hungria destaca que, na verdade, para
dizer se foi moderado ou não, não é possível utilizar de uma balança de farmácia, devendo
analisar de foi mais ou menos proporcional.
● Proteção de direito próprio ou de outrem:
Agindo para defender direito próprio, haverá a legítima defesa própria, sendo o direito de outrem,
haverá a legítima defesa de terceiro (ex persona). Não se impõe a observância da
proporcionalidade entre o bem jurídico injustamente atacado e aquele em que foi atingido
pelo exercício da legítima defesa. Por exemplo, sujeito está sendo furtado, e poderá
inclusive ceifar a vida do agente. Neste caso, há a relação de vida versus patrimônio,
podendo admitir a legítima defesa neste caso.
● Conhecimento da situação de fato justificante: é o requisito subjetivo.

9- Explique as teorias que relacionam o fato típico e a ilicitude, bem como indique qual
teoria foi adotada no Brasil.

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A ilicitude será verificada a partir de um juízo negativo, pois não havendo causa excludente de
ilicitude, o crime é considerado ilícito.
A partir daí, é possível verificar a existência de 4 teorias que tratam sobre essa relação:
Teoria da autonomia (absoluta independência): a tipicidade não tem relação com a ilicitude.
O fato pode ser típico e não ser ilícito. Não há qualquer relação entre os substratos.
Teoria da indiciariedade (ratio cognoscendi): a existência de um fato típico gera a presunção
relativa de que o fato é também ilícito. Há um caráter indiciário da ilicitude. Ou seja, há uma certa
relação de dependência da ilicitude em relação ao fato típico. É a teoria adotada pelo Direito
Penal. O fato típico desperta indícios de ilicitude.
Teoria da absoluta dependência (ratio essendi): esta teoria diz que há o tipo total do injusto,
ou seja, a ilicitude faz parte da própria tipicidade, é a essência da tipicidade. Se o fato não é ilícito,
não será considerado típico.
Teoria dos elementos negativos do tipo: para esta teoria, o tipo penal é composto por elementos
positivos e elementos negativos. Os positivos são explícitos, enquanto os elementos negativos
estão implícitos. Ex.: tipo penal diz que “matar alguém”, sendo este o elemento positivo. No
entanto, também contém os elementos negativos implícitos, que significa que o tipo penal deve
ser lido da seguinte forma “matar alguém é crime, salvo se praticado por uma excludente da
ilicitude”. Para que o comportamento do agente seja típico, não podem estar configurados os
elementos negativos. Há aqui uma absoluta relação de dependência entre o fato típico e a ilicitude.
Como dito, o Brasil adotou a teoria da indiciariedade (ratio cognoscendi). A importância disso é
que, uma vez demonstrado que o sujeito praticou o fato típico, caberá à defesa demonstrar que o
réu praticou uma conduta amparado por uma causa excludente da ilicitude, pois há presunção de
ilicitude da sua conduta.

10- Conceitue a teoria diferenciadora relativo ao estado de necessidade.


Segundo essa teoria, se o bem jurídico sacrificado tiver valor menor ou igual ao do bem jurídico
salvaguardado, haverá estado de necessidade justificante (excludente de ilicitude). Por outro lado,
se o bem sacrificado tiver valor maior que o bem protegido, haverá estado de necessidade
exculpante (excludente da culpabilidade).

11- Todo crime tem resultado? Diferencie resultado normativo de resultado naturalístico.
Nem todo crime tem resultado naturalístico, mas todos possuem resultado normativo.
O resultado naturalístico é a modificação sensível do mundo exterior. O evento está situado no
mundo físico, de modo que somente se pode falar em resultado quando existe alguma modificação
passível de captação pelos sentidos. Exemplo: a morte de uma pessoa é um resultado
naturalisticamente comprovável.
Já o resultado jurídico ou normativo é a modificação gerada no mundo jurídico, seja na forma de
dano efetivo ou na de dano potencial, ferindo interesse protegido pela norma penal. Sob esse

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ponto de vista, toda conduta que fere um interesse juridicamente protegido causa um resultado.
Ex.: a invasão de um domicílio, embora possa nada causar sob o ponto de vista naturalístico,
certamente provoca um resultado jurídico, que é ferir o direito à inviolabilidade de domicílio do
dono da casa. O critério jurídico foi o adotado pelo legislador, bastando analisar o disposto na
Exposição de Motivos do Código Penal de 1940, que a Reforma Penal de 1984 manteve,
mencionando que “não há crime sem resultado”.
Prevalece, na doutrina pátria, no entanto, o conceito naturalístico de resultado. Justamente por
isso, faz-se diferença entre crimes de atividade (formais e de mera conduta) e de resultado
(materiais). Em verdade, a relação de causalidade somente tem real importância no cenário dos
crimes materiais, isto é, aqueles que necessariamente relacionam a conduta a um resultado
concreto, previsto no tipo. Não ocorrendo o resultado, não há consumação do crime. Os delitos
de atividade (formais ou de mera conduta), que se configuram na mera realização da conduta,
pouco importando se há ou não resultado naturalístico, pouco se valem da teoria do nexo causal.

12- Apresente a teoria social da ação, no que se refere à conduta.


De acordo com a teoria social da ação, conforme preleciona Daniela de Freitas Marques, “o
conceito jurídico de comportamento humano é toda atividade humana social e juridicamente
relevante, segundo os padrões axiológicos de uma determinada época, dominada ou dominável
pela vontade”. Ou, ainda, segundo as palavras de Johannes Wessels, um dos maiores defensores
dessa teoria, “o conceito de ação, comum a todas as formas de conduta, reside na relevância social
da ação ou da omissão. Interpreta a ação como fator estruturante conforme o sentido da realidade
social, com todos os seus aspectos pessoais, finalistas, causais e normativos”.

13- O que são crimes unissubsistentes (ou monossubsistentes) e crimes plurissubsistentes?


Os primeiros são aqueles em que há uma concentração de atos, não sendo possível o raciocínio
em termos do fracionamento do iter criminis, a exemplo do que ocorre com a injúria ou mesmo a
ameaça verbal. Ao contrário, nos chamados crimes plurissubsistentes, existe possibilidade real de
se percorrer, “passo a passo”, o caminho do crime. O agente cogita, prepara-se e executa a
infração penal em momentos distintos e visualizáveis, tal como ocorre com os chamados crimes
materiais, como é o caso do furto, das lesões corporais etc.

14- Diferencie crimes omissivos próprios de crimes omissivos impróprios. Quando a


omissão é penalmente relevante?
Crimes omissivos próprios, puros ou simples, segundo Mirabete, “são os que objetivamente são
descritos com uma conduta negativa, de não fazer o que a lei determina, consistindo a omissão
na transgressão da norma jurídica e não sendo necessário qualquer resultado naturalístico. Para a
existência do crime basta que o autor se omita quando deve agir”.

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Crimes omissivos impróprios, comissivos por omissão ou omissivos qualificados são aqueles em
que, para sua configuração, é preciso que o agente possua um dever de agir para evitar o
resultado.49 Esse dever de agir não é atribuído a qualquer pessoa, como acontece em alguns
crimes omissivos próprios, a exemplo do art. 135 do Código Penal, mas tão somente àquelas que
gozem do status de garantidoras da não ocorrência do resultado.
Nos termos do § 2º do art. 13 do Código Penal, a omissão é penalmente relevante quando o
omitente devia e podia agir para evitar o resultado.
Pela redação inicial do artigo, podemos observar que a lei penal exige a conjugação de duas
situações: o dever de agir (elencado nas alíneas a, b e c) com o poder agir.
O dever de agir, apontado nas alíneas do § 2º do art. 13 do código penal, é considerado, na
definição de Sheila de Albuquerque Bierrenbach, um dever especial de proteção: “Dever
específico, imposto apenas ao garante. Diverso daquele outro dever nascido, de forma imediata,
da norma preceptiva, contida na Parte Especial do Código, que obriga a todos indistintamente.
Deste modo, à luz do art. 135 do estatuto penal, que tipifica a ‘omissão de socorro’, cabe a todos
cumprir o mandamento legal, agindo para evitar ou tentar evitar que o perigo que ronda o bem
jurídico protegido pela norma efetive-se, transformando-se em dano.
Trata-se, pois, de dever genérico de proteção.

15- O dolo eventual admite a tentativa?


Questão extremamente complexa é a possibilidade de ser admitida a tentativa nas hipóteses de
dolo eventual. Ao contrário do que possa parecer, mesmo tratando-se de dolo (eventual), o
raciocínio não flui de forma tranquila como acontece quando estamos diante do dolo por
excelência, que é o dolo direto, seja ele de primeiro ou de segundo grau. A doutrina espanhola,
em sua maioria, entende, no caso em exame, ser perfeitamente admissível o conatus. Muñoz
Conde, com o brilhantismo que lhe é peculiar, mesmo admitindo a controvérsia sobre o tema,
assevera que, “na medida em que o tipo do respectivo delito admita a comissão dolosa eventual,
[...], caberá também a tentativa com esta forma de imputação subjetiva, ainda que o normal na
tentativa seja o dolo direto, pelo menos de segundo grau”.
No mesmo sentido, aduz Fernando Galvão que “os crimes que se realizam com dolo eventual
admitem tentativa. No plano objetivo, sendo possível fracionar a conduta, a tentativa é
perfeitamente compatível com o dolo eventual. Se o dolo eventual é caracterizado pela postura
subjetiva de assumir a ocorrência do resultado, o comportamento é tendencioso à realização de
tal objetivo e pode haver a interrupção que autoriza uma responsabilidade diminuída”.
Apesar da força do pensamento dos mencionados autores, Rogério Greco entende ser o dolo
eventual completamente incompatível com a tentativa. Bustos Ramirez e Hormazábal Malarée
não admitem essa hipótese, dizendo que “não é possível a tentativa com dolo eventual, pois [...]
o dolo eventual tem a estrutura de uma imprudência a que, por razões político-criminais, se

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aplica a pena do delito doloso”. Independentemente do paralelo que se tente traçar entre o dolo
eventual e a culpa consciente, o fato é que, nos casos concretos, o raciocínio da tentativa torna-se
inviável. A própria definição legal do conceito de tentativa nos impede de reconhecê -la nos casos
em que o agente atua com dolo eventual. Quando o Código Penal, em seu art. 14, II, diz ser o
crime tentado quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade
do agente, nos está a induzir, mediante a palavra vontade, que a tentativa somente será admissível
quando a conduta do agente for finalística e diretamente dirigida à produção de um resultado, e
não nas hipóteses em que somente assuma o risco de produzi-lo, nos termos propostos pela teoria
do assentimento. O art. 14, II, do Código Penal adotou, portanto, para fins de reconhecimento do
dolo, tão somente, a teoria da vontade.

16- Qual é o conceito e os elementos do crime culposo?


Tem-se conceituado o crime culposo como a conduta humana voluntária (ação ou omissão) que
produz resultado antijurídico não querido, mas previsível, e excepcionalmente previsto, que
podia, com a devida atenção, ser evitado.
Nota-se, portanto, que para a caracterização do delito culposo é preciso a conjugação de vários
elementos, a saber: a) conduta humana voluntária, comissiva ou omissiva; b) inobservância de
um dever objetivo de cuidado (negligência, imprudência ou imperícia); c) o resultado lesivo não
querido, tampouco assumido, pelo agente; d) nexo de causalidade entre a conduta do agente que
deixa de observar o seu dever de cuidado e o resultado lesivo dela advindo; e) previsibilidade
(objetiva e subjetiva); f) tipicidade.

17- Qual é a diferença entre culpa consciente e dolo eventual?


Na culpa consciente, o agente, embora prevendo o resultado, acredita sinceramente na sua não
ocorrência; o resultado previsto não é querido ou mesmo assumido pelo agente. Já no dolo
eventual, o agente, embora não queira diretamente o resultado, assume o risco de vir a produzi-
lo. Na culpa consciente, o agente, sinceramente, acredita que pode evitar o resultado; no dolo
eventual, o agente não quer diretamente produzir o resultado, mas, se este vier a acontecer, pouco
importa.
O dolo eventual está previsto na segunda parte do inciso I do art. 18 do Código Penal, que diz ser
o crime doloso quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo.

18- O que é delito putativo por erro de tipo?


Ocorre o delito putativo por erro de tipo, também conhecido como delito de alucinação, quando
o agente supõe praticar uma infração penal que, na verdade, por ausência de um elemento
constante do tipo, é um fato considerado como um indiferente penal, a exemplo daquele que, no
exemplo fornecido por Paulo Cesar Busato, traz consigo um invólucro contendo um pó branco,

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adquirido do traficante como se fosse cocaína, o qual, depois, constata-se ser apenas talco, não
está cometendo crime.

19- Apresente o conceito de coculpabilidade.


Partindo do pressuposto de que, em algumas infrações penais, o agente, excluído socialmente,
poderia ter sido premido à prática de crimes, a teoria da coculpabilidade propõe, basicamente,
duas alternativas, a saber: a) nas situações extremas, conduziria à absolvição, a exemplo do que
ocorre quando um casal de mendigos tem relação sexual embaixo de um viaduto, fato que, em
uma situação de normalidade, possibilitaria a sua condenação pela prática do delito tipificado no
art. 233 do Código Penal; b) poderá ser aplicada a circunstância atenuante genérica prevista pelo
art. 66 do Código Penal.
Cristiano Rodrigues, com o brilhantismo que lhe é peculiar, defende a possibilidade de ser arguida
a inexigibilidade de conduta diversa como causa supralegal a fim de possibilitar a absolvição do
agente, levando-se em consideração a teoria da coculpabilidade, dizendo que: “somente através
da ampliação do conceito de exigibilidade de conduta diversa em face da normalidade das
circunstâncias concretas, e de uma aceitação mais ampla da inexigibilidade como causa de
exculpação (mesmo sem expressa previsão legal), tornar-se-á possível instrumentalizar,
materializar e aplicar a Teoria da Coculpabilidade em nosso ordenamento jurídico, passo
fundamental na direção de um Direito Penal garantista, humano e mais isonômico”.

20- Relacione a exigibilidade de conduta diversa com a atuação do agente infiltrado.


Não somente o Código Penal prevê hipóteses legais de inexigibilidade de conduta diversa.
Encontramos essa situação, também, na legislação extravagante, a exemplo do que ocorre com o
parágrafo único do art. 13 da Lei nº 12.850, de 2 de agosto de 2013, que definiu organização
criminosa e, dentre outras providências, dispôs sobre a investigação criminal e os meios de
obtenção da prova, que, após cuidar do tema correspondente à infiltração de agentes, na seção II,
do seu capítulo II, diz, textualmente: Art. 13. O agente que não guardar, em sua atuação, a devida
proporcionalidade com a finalidade da investigação, responderá pelos excessos praticados:
Parágrafo único. Não é punível, no âmbito da infiltração, a prática de crime pelo agente infiltrado
no curso da investigação, quando inexigível conduta diversa.
Quer isso dizer que, por exemplo, se um agente infiltrado em uma organização criminosa, para
que ganhe a confiança do grupo, durante as investigações, for obrigado a torturar alguém a mando
dos seus chefes, se esse comportamento for necessário para que não seja descoberta sua
verdadeira identidade e coloque em risco sua própria segurança, poderá ser praticado, uma vez
que estará o agente acobertado pela excludente da culpabilidade da inexigibilidade de conduta
diversa. No entanto, somente os atos realmente necessários deverão estar amparados, pois se, no
caso concreto, verificar-se que a conduta do agente podia ser evitada, já que não era necessária
para a manutenção da sua atuação infiltrada, deverá o agente responder pelo delito praticado.

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21- Quais são os requisitos para o concurso de pessoas?


Para que se possa concluir pelo concurso de pessoas, será preciso verificar a presença dos
seguintes requisitos: a) pluralidade de agentes e de condutas; b) relevância causal de cada
conduta; c) liame subjetivo entre os agentes; d) identidade de infração penal.

22- É possível autoria mediata em crimes próprios?


Segundo Rogério Greco, é perfeitamente possível a autoria mediata em crimes próprios, desde
que o autor mediato possua as qualidades ou condições especiais exigidas pelo tipo penal.
Zaffaroni e Pierangeli, esclarecendo o tema, afirmam: “O autor mediato deve reunir todos os
caracteres que o tipo exige com relação ao autor, ou o intraneus (o funcionário, por exemplo),
que se vale do extraneus (não funcionário) para praticar uma corrupção, é autor do crime de
corrupção, mas o extraneus que se vale do intraneus não é autor mediato, por não possuir as
condições típicas.

23- Explique as teorias sobre a acessoriedade da participação.


São quatro as teorias que disputam o tratamento sobre a acessoriedade da participação, a saber:
a) teoria da acessoriedade mínima; b) teoria da acessoriedade limitada; c) teoria da acessoriedade
máxima; e d) teoria da hiperacessoriedade.
Para a teoria da acessoriedade mínima, haverá participação punível a partir do momento em que
o autor já tiver realizado uma conduta típica. Basta, para essa teoria, que o autor pratique um fato
típico, para que possa haver a responsabilização penal do partícipe.
A teoria da acessoriedade limitada pune a participação se o autor tiver levado a efeito uma conduta
típica e ilícita.
Para a teoria da acessoriedade máxima, somente haverá a punição do partícipe se o autor tiver
praticado uma conduta típica, ilícita e culpável.
A teoria da hiperacessoriedade vai mais além e diz que a participação somente será punida se o
autor tiver praticado um fato típico, ilícito, culpável e punível.

24- Para que o indivíduo seja responsável pelo crime de lavagem, é preciso a sua
participação na infração penal antecedente?
A participação na infração antecedente não é condição para que se possa ser sujeito ativo do crime
de lavagem de capitais. Desde que tenha conhecimento quanto à origem ilícita dos valores, é
perfeitamente possível que o agente responda pelo crime de lavagem de capitais, mesmo sem ter
concorrido para a prática da infração antecedente.
Aliás, o que hoje vem ocorrendo é exatamente uma crescente profissionalização na lavagem
do produto de atividade criminosa. Há, de fato, uma tendência, decorrente da natural divisão
de trabalho em uma sociedade complexa, de se terceirizar a atividade de lavagem, raramente

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coincidindo o agente do crime de lavagem com o autor do delito antecedente. Como observa
Giovanni Falcone, "o tráfico de droga obriga à reciclagem: é impossível que os lucros resultantes
da venda de entorpecente cheguem aos seus beneficiários pelos canais oficiais. Daí a escolha da
clandestinidade. Por três motivos: o caráter ilegal do negócio; as eventuais restrições à exportação
de capitais; a prudência de expedidores e destinatários. As manobras financeiras para repatriar
esse dinheiro sujo, não podendo ser integralmente efetuadas pelas próprias organizações (elas não
possuem conhecimentos técnicos), são os peritos da finança internacional que se encarregam
disso. Chamam-nos 'colarinhos brancos', esses homens que se colocam a serviço do crime
organizado, transferindo capitais de origem, ilícita para países mais hospitaleiros, igualmente
batizados de paraísos fiscais".

25- O que consiste a teoria da cegueira deliberada?


Segundo Renato Brasileiro, como o tipo penal de lavagens de capitais traz como elementar a
infração penal antecedente, depreende-se que na hipótese de o agente desconhecer a procedência
ilícita dos bens, faltar-lhe-á o dolo de lavagem, com a consequente atipicidade de sua conduta,
ainda que o erro de tipo seja evitável, porquanto não se admite a punição da lavagem à título
culposo.
Daí a importância da denominada teoria da cegueira deliberada (willful blindness), também
conhecida como teoria das instruções de avestruz ou da evitação da consciência, a ser aplicada
nas hipóteses em que o agente tem consciência da possível origem ilícita dos bens por ele
ocultados ou dissimulados, mas mesmo assim, deliberadamente cria mecanismos que o impedem
de aperfeiçoar sua representação acerca dos fatos.
Por força dessa teoria, aquele que renuncia a adquirir um conhecimento hábil a subsidiar a
imputação dolosa de um crime responde por ele como se tivesse tal conhecimento.
Basta pensar no exemplo do comerciante de joias, que suspeita que alguns clientes possam estar
lhe entregando dinheiro sujo para a compra de peças preciosas com o objetivo de ocultar a origem
espúria do numerário, optando, mesmo assim, por criar barreiras para não tomar ciência de
informações mais preciosas acerca dos usuários de seus serviços.

26- Quais são os sistemas de classificação das infrações penais como crimes hediondos?
Há diversas formas de classificação de determinado delito como crime hediondo, a saber:
a) sistema legal: por meio desse sistema, cabe ao legislador enunciar, de forma exaustiva
(numerus clausus), os crimes que devem ser considerados hediondos. Assim, por meio de um rol
taxativo de crimes, não se confere ao juiz qualquer discricionariedade para atestar a natureza
hedionda do delito.
b) sistema judicial: levando-se em consideração os elementos do caso concreto, confere-se ao
magistrado ampla liberdade para identificar a natureza hedionda de determinada conduta
delituosa. Logo, a depender das circunstâncias gravosas do caso concreto - por exemplo,

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gravidade objetiva da conduta, modo ou meio de execução, motivos e consequências do crime,


dimensão do bem jurídico lesado -, poder-se-ia considerar hediondo inclusive um crime contra a
administração pública. O pomo positivo desse critério é que o magistrado não fica adstrito a um
rol taxativo fixado em abstrato pelo legislador, o que acaba por permitir maior flexibilidade na
classificação (ou não) de determinada conduta delituosa como hedionda, tudo a depender das
circunstâncias fáticas do caso concreto.
c) sistema misto: ao invés de preestabelecer um rol taxativo de crimes hediondos, o legislador
apresenta apenas um conceito, fornecendo alguns traços peculiares dessas infrações penais. Com
essa definição prévia de crime hediondo, caberia ao juiz, então, enquadrar determinada conduta
delituosa como hedionda. Nos mesmos moldes que o critério anterior, este modelo também
confere certa liberdade ao juiz para aferir a natureza hedionda de determinada conduta delituosa
à luz das circunstâncias fáticas do caso concreto. Porém, este sistema também traz consigo certa
insegurança jurídica, já que, dificilmente, seria possível a elaboração, por parte do legislador, de
um conceito de crime hediondo imune a dúvidas e críticas.

27- Ocorrendo o tráfico de drogas nas imediações de presídio, incidirá a causa de aumento
mesmo que o comprador não seja um detento ou alguém que está visitando a unidade
prisional?
SIM. A aplicação da causa de aumento prevista no art. 40, III, da Lei nº 11.343/2006 se justifica
quando constatada a comercialização de drogas nas dependências ou imediações de
estabelecimentos prisionais, sendo irrelevante se o agente infrator visa ou não aos frequentadores
daquele local.
Assim, conforme o entendimento do STF, se o tráfico de drogas ocorrer nas imediações de um
estabelecimento prisional, incidirá a causa de aumento, não importando quem seja o comprador
do entorpecente.

28- Importação de colete à prova de balas configura qual delito?


De acordo com o STJ, configura crime de contrabando a importação de colete à prova de balas
sem prévia autorização do Comando do Exército.
A Portaria nº 18 do DLOG, publicada em 19/12/2006, regulamenta as normas de avaliação
técnica, fabricação, aquisição, importação e destruição de coletes balísticos e exige determinadas
condições aos compradores e importadores desse tipo de artefato, dentre elas, a autorização prévia
do Comando do Exército e a restrição de importação a determinados órgãos e pessoas.
Desse modo, a importação de colete à prova de balas está sujeita à proibição relativa e, por
conseguinte, configura crime de contrabando quando realizada fora dos moldes previstos nesse
regulamento.

29- Qual é a natureza do crime de corrupção de menores do ECA?

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Segundo o STJ, para a caracterização do delito de corrupção de menores, é suficiente a


comprovação da participação do inimputável em prática criminosa, na companhia de maior de 18
anos. A caracterização do crime independe de o menor ser primário ou já ter cumprido medida
socioeducativa.
Portanto, a simples participação do menor no ato delitivo é suficiente para a sua consumação,
sendo irrelevante seu grau prévio de corrupção, já que cada nova prática criminosa na qual é
inserido contribui para aumentar sua degradação.
Sendo assim, o entendimento prevalente é no sentido de que a configuração do crime previsto no
artigo 244-B do Estatuto da Criança e do Adolescente independe da prova da efetiva corrupção
do menor, por se tratar de delito formal.

30- É possível falar em coautoria em crimes omissivos (próprios e impróprios)?


Existe controvérsia doutrinária e jurisprudencial a respeito da possibilidade de coautoria em
crimes omissivos. Nilo Batista, com autoridade, afirma: “O dever de atuar a que está adstrito o
autor do delito omissivo é indecomponível. Por outro lado, a falta de ação priva de sentido o
pressuposto fundamental da coautoria, que é a divisão do trabalho.
Quando dois médicos omitem – ainda que de comum acordo – denunciar moléstia de notificação
compulsória de que tiveram ciência (art. 269 CP), temos dois autores diretos individualmente
consideráveis. A inexistência do acordo (que, de resto, não possui qualquer relevância típica)
deslocaria para uma autoria colateral, sem alteração substancial na hipótese.
No famoso exemplo de Kaufmann, dos cinquenta nadadores que assistem passivamente ao
afogamento do menino, temos cinquenta autores diretos da omissão de socorro. A solução não se
altera se se transferem os casos para a omissão imprópria: pai e mãe que deixam o pequeno filho
morrer à míngua de alimentação são autores diretos do homicídio; a omissão de um não
‘completa’ a omissão do outro; o dever de assistência não é violado em 50% por cada qual.”
Para essa corrente, não se cogita de coautoria nos delitos omissivos, uma vez que cada agente
possui o dever de agir de forma individualizada, indecomponível e intransferível. Se dois
garantidores, a exemplo do pai e da mãe, como citou o autor, deixam de fazer aquilo a que estavam
obrigados, a fim de tentar evitar a produção do resultado, como a teoria do domínio funcional do
fato não se aplica aos crimes omissivos, sejam eles próprios, sejam impróprios, embora tenham
agido com identidade de propósito, não será o caso de coautoria, sendo cada um, individualmente,
considerado autor.
Em sentido contrário é o entendimento de Cezar Bitencourt, quando afirma “ser perfeitamente
possível a coautoria em crime omissivo próprio. Se duas pessoas deixarem de prestar socorro a
uma pessoa gravemente ferida, podendo fazê-lo, sem risco pessoal, praticarão, individualmente,
o crime autônomo de omissão de socorro. Agora, se essas duas pessoas, de comum acordo,
deixarem de prestar socorro, nas mesmas circunstâncias, serão coautoras do crime de omissão de
socorro. O princípio é o mesmo dos crimes comissivos: houve consciência e vontade de realizar

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um empreendimento comum, ou melhor, no caso de 190 não realizá-lo conjuntamente”. Tal


raciocínio aplica-se, segundo o renomado autor, também aos crimes omissivos impróprios.

31- Em que consiste o princípio da personalidade ou intranscendência ou responsabilidade


pessoal?
Este princípio dispõe que a pena não pode ultrapassar a pessoa do condenado. É possível, porém,
que a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens sejam executadas contra
os sucessores, pois seriam efeitos da condenação diversos da pena.
Por fim, resta salientar que a multa, por outro lado, não pode ser cobrada dos sucessores, porque
é espécie de sanção penal.
O fundamento constitucional deste delito se encontra no art.5º, XLV, da CF, o qual dispõe que
nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a
decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles
executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido.

32- O que é sanção penal?


Em apertada síntese, podemos conceituar sanção penal como a resposta do Estado à conduta
criminosa praticada pelo agente. Neste caso, o Estado, valendo-se do seu exercício do ius
puniendi, aplica ao responsável pela prática de um crime ou de uma contravenção penal.
A sanção penal é gênero de duas espécies, quais sejam a pena e medida de segurança.

33- O que defende a teoria absoluta da pena?


As teorias absolutas da pena são todas aquelas em que entendem ser a pena um fim em si mesmo,
vislumbrando tão somente o aspecto retributivo da pena.
Os grandes nomes dessa teoria são Kant e Hegel.
Segundo Kant, pretender que o direito de castigar o delinquente encontre sua base em supostas
razões de utilidade social não seria eticamente permitido, tendo em vista que o homem é a
finalidade do próprio ser.
Já Hegel, entende que o Direito é a expressão da vontade racional (vontade geral), de maneira
que o delito é a manifestação da vontade irracional, que se contradiz com aquela. Diante dessa
dialética, a pena é a necessária síntese (negação da negação do direito). Logo, a imposição da
pena implica o restabelecimento da ordem jurídica quebrada.
Em síntese, para Hegel o crime é a negação do Direito e a pena a negação desta negação,
restabelecendo o direito.

34- O que defende a teoria relativa da pena?


Para esta teoria, a finalidade da pena seria a de prevenir delitos como meio de se tutelar os bens
jurídicos. Não apresentaria um caráter retributivo como dispõe a teoria absoluta da pena.

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A teoria relativa acredita na função de inibir, tanto quanto possível, a prática de novos fatos
delitivos.
Existiram dois tipos de prevenção: a prevenção especial e a prevenção geral.
A prevenção geral é dirigida à coletividade. O Estado pune para evitar a prática de crimes pelos
demais membros da sociedade.
Por outro lado, a prevenção especial seria dirigida ao agente.

35 – Fale sobre o sistema trifásico de aplicação da pena.


Segundo o art. 68, a pena-base será fixada atendendo-se ao critério do art. 59 deste Código; em
seguida serão consideradas as circunstâncias atenuantes e agravantes; por último, as causas de
diminuição e de aumento.
Este dispositivo consagra o sistema trifásico, também denominado de sistema Nélson Hungria:
● 1ª fase: circunstâncias judiciais do art. 59
● 2ª fase: agravantes e atenuantes
● 3ª fase: causas de diminuição e aumento
As qualificadoras não são consideradas, pois é a partir dela que se faz a dosimetria da pena.
Primeiro, o juiz calcula a pena privativa de liberdade. Em seguida, com base no art. 33, §2, juiz
fixa o regime inicial da pena. Verifica a possibilidade de substituição da pena pelo art. 44. Se não
for o caso, há possibilidade de suspensão da pena, com base no art. 77.

36- A pena base pode ser aumentada sob a justificativa de que o crime de concussão havia
sido praticado por policial?
O STF, ao analisar o assunto, decidiu que é possível o aumento da pena-base pelo fato de a
concussão ter sido praticada por policial.

A primeira turma da nossa Corte Constitucional disse que em caso de condenação do réu por
concussão, na dosimetria da pena o juiz pode (e deve) aumentar a pena-base pelo fato de o réu
ser policial.
É sabido que para cometer o crime, basta ser funcionário público, mas o grau de reprovabilidade
do réu é maior, tendo em vista que se trata de policial, agente público responsável pelo combate
à criminalidade. Assim, não é possível nivelar a concussão de um funcionário público comum
com a de um policial, de um parlamentar, de um juiz etc. Aquele que está investido de parcela de
autoridade pública — como é o caso de um juiz, um membro do Ministério Público ou uma
autoridade policial — deve ser avaliado, no desempenho da sua função, com maior rigor do que
as demais pessoas não ocupantes de tais cargos. STF. 2ª Turma. RHC 117488 AgR/RJ, Rel. Min.
Gilmar Mendes, julgado em 1º/10/2013 (Info 722).

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CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Aumento da pena-base pelo fato de a concussão ter sido
praticada por policial. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/e19347e1c3ca0c0b97de5fb
3b690855a>. Acesso em: 10/08/2018

37 – As condenações anteriores transitadas em julgado podem ser utilizadas como conduta


social desfavorável?

O STF já decidiu que as condenações anteriores transitadas em julgado não podem ser utilizadas
como conduta social desfavorável.
A circunstância judicial "conduta social", prevista no art. 59 do Código Penal, representa o
comportamento do agente no meio familiar, no ambiente de trabalho e no relacionamento com
outros indivíduos.
Os antecedentes sociais do réu não se confundem com os seus antecedentes criminais. São
circunstâncias distintas, com regramentos próprios.
Assim, não se mostra correto o magistrado utilizar as condenações anteriores transitadas em
julgado como "conduta social desfavorável".
STF. 2ª Turma. RHC 130132, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 10/5/2016 (Info 825).
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Condenações anteriores transitadas em julgado não
podem ser utilizadas como conduta social desfavorável. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/c6bff625bdb0393992c9d4d
b0c6bbe45>. Acesso em: 10/08/2018

38 – O que é reincidência?
O art. 63, do CP estabelece que se verifica a reincidência quando o agente comete novo crime,
depois de transitar em julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por
crime anterior.
Para ser reincidente, o indivíduo, após ter sofrido uma sentença condenatória transitada em
julgado, deverá ter cometido um novo crime.
Essa leitura deve ser analisada com base no art. 7 da LCP, que diz que há reincidência quando o
agente pratica uma contravenção depois de passar em julgado a sentença que o tenha condenado,
no Brasil ou no estrangeiro, por qualquer crime, ou, no Brasil, por motivo de contravenção.

39 - Se o indivíduo tiver uma sentença transitada em julgada por uma contravenção


cometida no Brasil, e ele comete um crime? Cite situações em que não está diante de
reincidência.

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Neste caso, ou seja, se o indivíduo tiver uma sentença transitada em julgada por uma contravenção
cometida no Brasil, e ele comete um crime, não será ele reincidente.
Também não será considerado reincidente nas seguintes situações:
1º) Se o indivíduo tiver uma sentença transitada em julgada por uma contravenção cometida no
exterior, e depois ele comete um crime, não será ele reincidente.
2º) Se o indivíduo tiver uma sentença transitada em julgada anterior for por crime político, ou por
crime militar próprio, e depois comete um crime comum ou um crime militar impróprio, também
não será considerado reincidente;
Atente-se que, no caso de crime militar próprio, ele só será considerado reincidente se ele cometer
outro crime militar próprio.

40 – É possível compensar a atenuante da confissão espontânea (art. 65, III, "d", do CP)
com a agravante da promessa de recompensa?
É possível compensar a atenuante da confissão espontânea (art. 65, III, "d", do CP) com a
agravante da promessa de recompensa (art. 62, IV).
STJ. 5ª Turma. HC 318.594-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 16/2/2016 (Info 577).
O STJ pacificou o entendimento no sentido de ser possível, na segunda fase da dosimetria da
pena, a compensação da atenuante da confissão espontânea com a agravante da reincidência
(REsp 1.341.370-MT, Terceira Seção, DJe 17/4/2013). Esse raciocínio, mutatis mutandis,
assemelha-se à presente hipótese, por se tratar da possibilidade de compensação entre
circunstâncias igualmente preponderantes, a saber, a agravante de crime cometido mediante paga
com a atenuante da confissão espontânea.
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Compensação da atenuante da confissão espontânea com
a agravante da promessa de recompensa. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/c3e0c62ee91db8dc7382bde
7419bb573>. Acesso em: 10/08/2018

41 – Fale sobre o regime aberto.


No caso do regime aberto, a ideia é começar a trabalhar com o sujeito, considerando a sua aptidão
ao retorno da vida social.
Cabe ressaltar que não há remição pelo trabalho no regime aberto, pois trabalhar é condição
necessária para que o apenado possa estar nesse regime.
O condenado vai sair do estabelecimento durante o dia, frequentando cursos ou exercer algum
trabalho. Durante a noite, o indivíduo volta para se recolher na casa de albergado.
Tanto no período noturno como nos dias de folga o indivíduo fica na casa de albergado. Essa casa
de albergado é um imóvel sem grades, não existindo obstáculos físicos à fuga.

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A casa de albergado normalmente não há vagas ou não há o próprio local. Nesses casos, a lei
permite que o sujeito cumpra pena em estabelecimento adequado, conforme as condições pessoais
do reeducando.
Também é possível que, na falta da casa de albergado, o sujeito cumpra pena em prisão domiciliar.

42 – É sabido que a prisão domiciliar é espécie de regime aberto. Quando a prisão domiciliar
será cabível segundo a LEP?
A prisão domiciliar é uma espécie do gênero de regime aberto.
A prisão domiciliar é cabível quando:
● não há estabelecimento adequado ou casa de albergado
● o reeducando é maior de 70 anos
● o reeducando é portador de doença grave
● o reeducando tem filho deficiente que precisa efetivamente de sua atenção
● a reeducanda ser gestante
Atenção! As hipóteses de prisão domiciliar segunda LEP são diferentes daquelas elencadas no
CPP, as quais estão previstas no arts. 317 e 318, do CPP:
O juiz poderá substituir a prisãopreventiva pela domiciliar quando o agente for:
I — maior de 80 anos;
II — extremamente debilitado por motivo de doença grave;
III — imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de 6 anos de idade ou com
deficiência;
IV — gestante;
V — mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos;
VI — homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do filho de até 12 (doze) anos de
idade incompletos.

43 – Quais são as espécies de penas privativas de liberdade?


Segundo o art. 33, do CP, as penas privativas de liberdade podem ser de duas espécies: reclusão
e detenção. Além destas, existe a pena de prisão simples prevista na lei de contravenções penais.
Basicamente, a pena de reclusão permite que ela seja cumprida em regime fechado, semiaberto
ou aberto.
Em relação a esta pena, o CP diz que:
● pena superior a 8 anos, o regime inicial será o fechado, independente se o sujeito
for primário ou reincidente.
● pena superior a 4 anos e não superior a 8 anos, o regime inicial será semiaberto,
desde que o sujeito seja primário.
● pena não é superior a 4 anos de reclusão, o regime inicial será aberto, desde que
seja primário.

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● sendo reincidente, se a pena for maior que 4 anos e até 8 anos, o regime inicial será
fechado.
● sendo reincidente, se a pena for de até 4 anos, não há previsão legal, e sim a Súmula
269!
Todavia, o STJ editou a súmula 269, estabelecendo que é admissível a adoção do regime
semiaberto para o condenado a pena igual ou inferior a 4 anos, desde que sejam favoráveis as
circunstâncias judiciais.
A pena de detenção é o regime semiaberto ou aberto. Não exige regime incialmente fechado,
ainda que o sujeito seja reincidente.
Mas é possível a aplicação de regime fechado ao condenado a pena de detenção, desde que haja
regressão de regime, por descumprimento das regras da execução
As penas de prisão simples são penas cominadas às contravenções penais. Pode ser em regime
aberto ou semiaberto, mas não se admite o regime fechado, ainda que se trate de regressão.

44 – Quais são as penas restritivas de direito previstas no Código Penal?


São espécies de penas restritivas de direito:
● prestação pecuniária
● perda de bens e valores;
● limitação de fim de semana;
● prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas;
● interdição temporária de direitos;
● limitação de fim de semana.

45– Quais as características das penas restritivas de direito?


O art. 44 do CP estabelece que as penas restritivas de direitos tem as seguintes
características:
● autonomia: não se pode cumular as penas privativas de liberdade com as restritivas
de direito.
● substitutividade: as penas restritivas substituem as penas privativas de liberdade
quando previstos os requisitos legais. Primeiro, fixa-se a pena privativa, depois
substitui.
As penas restritivas de direitos terão a mesma duração das penas privativas de liberdade, porém
há exceções:
● penas restritivas de caráter real: as penas restritivas de direito de caráter real, como
perda de bens e valores, prestação pecuniárias, a partir do momento em que os
bens são perdidos, ou em que há o pagamento, há a extinção da pena, em razão do
cumprimento da pena.

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● pena privativa superior a 1 ano: neste caso, é possível cumpri-la na metade do


tempo.
● estatuto do torcedor: admite-se a pena de impedimento de comparecimento às
proximidades do estádio. Esta pena restritiva de direito poderá ser superior à pena
abstratamente prevista no preceito secundário do tipo penal.

46 – Com relação aos concursos de crimes, o código penal prevê dois sistemas. Quais são
eles?
São os sistema do cúmulo material e da exasperação.
No sistema do cúmulo material, ocorre a soma das penas dos crimes. É adotado para o concurso
material, concurso formal impróprio (desígnios autônomos) e para as penas de multas.
A seu turno, no sistema da exasperação (agravação): quando há o concurso de crimes, devemos
olhar para a pena do crime mais grave e exasperar de acordo com o número de delitos que foi
praticado no contexto. É adotado para o concurso formal e para a continuidade delitiva.

47 – Fale a respeito do sistema do cúmulo material, indicando, dentre outros pontos, o seu
conceito e seus requisitos.
O cúmulo material ocorre quando ao gente, através de mais de uma ação ou mais de uma omissão,
pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não. Neste caso, as penas são somadas.
Em tese, todas as infrações admitem concurso de crimes (crime consumado ou tentado, comissivo
ou omissivo, doloso ou culposo; crime e contravenção, etc.). É possível que haja concurso entre
um crime doloso e um culposo. Exemplo: aberratio ictus em que o agente mata quem queria
(homicídio doloso) e acaba ferindo terceiro sem vontade (lesão culposa).
São requisitos do concurso material:

● pluralidade de condutas
● pluralidade de crimes.

48 – O que se entende por crime continuado específico?


O crime continuado específico está previsto no art. 71, parágrafo único, do CP, estabelecendo que
nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa,
poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade
do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se
idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do
art. 70 e do art. 75 deste Código.
Os requisitos do crime continuado específico são os mesmos do art. 71, caput, com alguns
requisitos especializantes:

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● pluralidade de condutas;
● pluralidade de crimes da mesma espécie;
● mesmas condições de tempo, de lugar e a mesma maneira de execução;
● crimes têm de ser dolosos;
● as vítimas devem ser diferentes;
● com violência ou grave ameaça à pessoa.
É possível inclusive nos crimes contra a vida.
Presentes essas três especializantes, incidirá o art. 71, parágrafo único.
No crime continuado específico, também se aplica o sistema da exasperação, porém a pena será
aumentada de 1/6 até o 3x (triplo) (é o mesmo sistema do caput, com aumento diverso).
Nesta espécie de crime continuado, deve ser observado o cúmulo material benéfico (art. 70,
parágrafo único, do CP), ou seja, se a soma das penas for mais benéfica que o aumento, é ela que
será utilizada.

49 - Réu que confessa a prática de outro tipo penal diverso daquele narrado na denúncia
incide atenuante?
O STJ decidiu que o réu que confessa a prática de outro tipo penal diverso daquele narrado na
denúncia não incide atenuante.
O fato de o denunciado por roubo ter confessado a subtração do bem, negando, porém, o emprego
de violência ou grave ameaça, é circunstância que não enseja a aplicação da atenuante da
confissão espontânea (art. 65, III, "d", do CP). Isso porque a atenuante da confissão espontânea
pressupõe que o réu reconheça a autoria do fato típico que lhe é imputado. Ocorre que, no caso,
o réu não admitiu a prática do roubo denunciado, pois negou o emprego de violência ou de grave
ameaça para subtrair o bem da vítima, numa clara tentativa de desclassificar a sua conduta para o
crime de furto.
Nesse caso, em que se nega a prática do tipo penal apontado na peça acusatória, não é possível o
reconhecimento da circunstância atenuante.
STJ. 5ª Turma. HC 301063-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 3/9/2015 (Info 569)
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Réu que confessa a prática de outro tipo penal diverso
daquele narrado na denúncia: não incide atenuante. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/fe709c654eac84d5239d1a1
2a4f71877>. Acesso em: 10/08/2018

50 – Candidato, analise a seguinte situação: o réu, quando praticou determinado crime,


estava ocupando o cargo público “X”. No entanto, anos mais tarde, no momento em que foi
prolatada a sentença condenatória, ele já estava em outro cargo público (“Z”). O juiz

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poderá condenar o réu à perda do atual cargo público (“Z”) mesmo sendo ele posterior à
prática do delito?
O STJ, ao se deparar com a presente situação, entendeu que em regra, a pena de perdimento deve
ser restrita ao cargo público ocupado ou função pública exercida no momento da prática do delito.
Entretanto, a referida diretriz comporta exceção. Neste caso, se o juiz, motivadamente, considerar
que o novo cargo guarda correlação com as atribuições do anterior, ou seja, daquele que o réu
ocupava no momento do crime, neste caso mostra-se devida a perda da nova função como uma
forma de anular (evitar) a possibilidade de que o agente pratique novamente delitos da mesma
natureza.
Assim, a pena de perdimento deve ser restrita ao cargo ocupado ou função pública exercida no
momento do delito, à exceção da hipótese em que o magistrado, motivadamente, entender que o
novo cargo ou função guarda correlação com as atribuições anteriores.
STJ. 5ª Turma. REsp 1452935/PE, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
14/03/2017 (Info 599).
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A pena de perdimento deve ser restrita ao cargo
ocupado no momento do delito, salvo se o novo cargo tiver relação com as atribuições
anteriores. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/2fe5a27cde066c0b65acb8f
2c1717464>. Acesso em: 10/08/2018

51 – O que é Reabilitação?
Reabilitação é uma medida de natureza criminal, mas a ideia é de que o sujeito passe a ter sigilo
sobre o processo e sobre a condenação.
A outra finalidade ou consequência da reabilitação é a suspensão de determinados efeitos
extrapenais (art. 92).
A finalidade é fazer com que o indivíduo retorne à sociedade, a fim de apagar o seu passado. No
entanto, a LEP traz medidas muito mais benéficas ao condenado.
Nos termos do dispositivo acima, a reabilitação tem a finalidade de:
● Assegurar o sigilo da condenação: de acordo com o art. 202 da LEP, cumprida ou
extinta a pena, não constarão da folha corrida, atestados ou certidões fornecidas
por autoridade policial ou por auxiliares da Justiça, qualquer notícia ou referência
à condenação, salvo para instruir processo pela prática de nova infração penal ou
outros casos expressos em lei.
Por conta disso, Rogério Greco diz que reabilitação não tem mais utilidade em relação a assegurar
o sigilo da condenação, eis que a própria LEP já o garante, sem precisar aguardar o prazo de 2
anos.
● Suspender efeitos extrapenais específicos da condenação (art. 92 do CP):
lembrando que os efeitos específicos são perda do cargo, incapacidade para o

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exercício do poder familiar e a inabilitação para dirigir veículo. O art. 93, parágrafo
único, anuncia que nas situações dos incisos I (perda de cargo, função público ou
mandato eletivo) e II (incapacidade para o exercício do poder familiar, tutela ou
curatela), a reabilitação é parcial, vedando-se a reintegração na situação anterior.
Ou seja, aquele que está incapacitado para o exercício do poder familiar poderá
voltar a exercer o poder familiar, mas não mais sobre aquela vítima, e sim sobre
os outros filhos, curatelados ou tutelados. Aquele que perde cargo, emprego ou
função pública pode prestar outro concurso e rezar para passar. Em outras palavras,
a reabilitação somente é total no caso do inciso III (reabilitação para dirigir
veículo).
Os requisitos da reabilitação estão previstos no art. 94 do CP:

● Transcurso do período de 2 anos desde o cumprimento ou a extinção da pena:


computando-se o período de prova do sursis e do livramento condicional, desde
que não tenham sido revogados.
● Domicílio do condenado no país pelo período de 2 anos.
● Bom comportamento público e privado do condenado.
● Ressarcimento do dano causado pelo crime ou comprovação da impossibilidade
de fazê-lo, assim como a renúncia do ressarcimento pela vítima ou a novação da
dívida.

52 – A reabilitação pode ser revogada?


A reabilitação pode ser revogada sim. Essa revogação pode-se dar de ofício ou a requerimento do
MP.
Ocorrerá essa revogação da reabilitação quando o condenado ou reabilitado for condenado, como
reincidente, por decisão definitiva, a pena que não seja de multa.
Ou seja, são requisitos para a revogação da reabilitação são:
à condenado reabilitado
à condenado reincidente
à pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos, desde que a pena que não seja
de multa.
É possível reabilitação no caso de medida de segurança, principalmente ao semi-imputável que é
condenado (ele é condenado e pode sofrer os efeitos específicos da condenação).

53 – Qual o sistema adotado pelo Código Penal em relação às Medidas de Segurança?

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No âmbito penal, existem basicamente dois sistemas para a aplicação das medidas de segurança,
quais sejam, o sistema vicariante e o sistema do duplo binário.
O sistema vicariante só permite a aplicação de uma espécie de sanção penal ao acusado, enquanto
o sistema do duplo binário permite a aplicação cumulativa de pena com a medida de segurança.
Até a reforma da Parte Geral de 1984, o sistema adotado era o duplo binário. Entretanto, após a
referida reforma, o sistema adotado passou a ser o vicariante, devendo o juiz aplicar pena ou
medida de segurança (e nunca as duas cumulativamente).
De acordo com o Código Penal Brasileiro, aos inimputáveis, será sempre aplicada medida de
segurança. Por outro lado, no que se refere aos semi -imputáveis, será aplicada pena ou medida
de segurança.
O juiz, ao se deparar com semi-imputáveis, deve aplicar a pena privativa de liberdade
necessariamente reduzida de 1/3 a 2/3 (art. 26, parágrafo único, do CP) para eles. Por derradeiro,
se estiver demonstrada a periculosidade em razão de perturbação mental, o juiz substituirá a pena
por medida de segurança (art. 98 do CP).
Por fim, resta consignar que inexistindo prova de tal periculosidade, o magistrado manterá a pena
privativa de liberdade.

54 – Como se dá a conversão da pena em medida de segurança?


Na hipótese de superveniência da doença mental durante a execução da pena, o agente é
condenado enquanto era imputável, surgindo a anomalia psíquica durante o cumprimento da pena.
Em razão disso, a pena será convertida em medida de segurança.
Quando isso ocorre, há duas consequências diversas:
● Anomalia passageira: o condenado a quem sobrevier doença mental será internado
em Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico. A medida de segurança
imposta é reversível. O tempo da internação é computado como cumprimento de
pena. Deve observar a pena imposta, eis que o tempo de internação não ultrapassa
a pena imposta na sentença.
● Anomalia irreversível: quando, no curso da execução da pena privativa de
liberdade, sobrevier doença mental ou perturbação da saúde mental, o juiz, de
ofício, a requerimento do ministério público, da defensoria pública ou da
autoridade administrativa, poderá determinar a substituição da pena por medida de
segurança. A medida de segurança imposta é irreversível. A internação não é
computada como pena, ou seja, a pena é substituída por medida de segurança.
Segundo o STJ, a medida de segurança não poderá ultrapassar o período da pena
imposta na sentença penal condenatória.
Se persistir a periculosidade do agente após essa medida de segurança já cumprida, deverá haver
a busca da interdição do indivíduo no juízo cível.

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Nesse caso, ainda que decorrido o prazo máximo da pena abstratamente fixada para o delito,
constatando-se a manutenção da periculosidade, deve-se buscar perante o juízo cível a interdição
do agente (figurando o MP como parte legítima), demonstrando-se a necessidade da internação
extrapenal, como forma de proteger o paciente e a sociedade (art. 1.767 do CC e art. 9º da Lei
10.216/06).

55 - Existe medida de segurança provisória ou preventiva?


Antes da Lei 12.403/2011, não existia medida de segurança preventiva. O magistrado, se
imprescindível, decretava a prisão preventiva. Após a lei, admite-se medida de segurança como
medida cautelar.
O art. 319 do CPP, estabelece como medida cautelar diversa da prisão a internação provisória do
acusado desde que preenchidos os seguintes requisitos:
● crimes praticados com violência ou grave ameaça;
● peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e;
● houver risco de reiteração.

56 – Os efeitos da condenação se dividem em efeitos penais e extrapenais. Com relação aos


efeitos penais, responda quais são os efeitos extrapenais genéricos.
Os efeitos extrapenais genéricos estão previstos no art. 91 e se aplica a todas as condenações:
● Tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime: a sentença penal
é um título executivo. A Lei 11.719 estabeleceu que o juiz pode fixar um mínimo
de indenização para a vítima. Esta lei mostrou-se mais gravosa ao réu, razão pela
qual a jurisprudência só se aplica após a sua entrada em vigor. Todavia, segundo
o STJ, esta indenização depende de pedido de vítima. Se o juiz fixar esta
indenização de ofício, haveria uma violação ao contraditório, ampla defesa e ao
princípio da congruência. Em provas, considerar que a obrigação de indenizar o
dano causado pelo crime é efeito automático da sentença penal condenatória.
● Confisco em favor da União dos instrumentos do crime: não é qualquer
instrumento que se perde, pois fica ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de
boa-fé, desde que esses instrumentos cujo alienação, uso, porte ou detenção
constitua fato ilícito. Ex.: João quer matar José e para tanto compra um revólver
na feira. Imediatamente depois João é preso. Ele responderá apenas por homicídio,
visto que o porte foi exclusivamente para cometer o homicídio. Nesse caso, João
vai perder a arma, pois o porte daquele instrumento por si só constitui fato ilícito.
Por outro lado, se João entrar na casa do seu chefe e furtar a arma para cometer o
crime contra José, não haverá a perda da arma do seu chefe em favor da União,
desde que a arma estivesse em condições legais.

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● Confisco em favor da União do produto do crime ou valor que constitua proveito


auferido pelo agente com a prática do fato criminoso: proveito é aquilo que o
sujeito angariou pela prática criminosa. O produto do crime é a coisa adquirida
diretamente com o crime, bem como a coisa adquirida.

57 – Quais as características do direito de ação?


O direito de ação possui as seguintes características:
● direito público: é um direito do Estado. Legitima a atuação do direito material, que
é o direito penal. Para aplicar o direito penal, é necessário que haja um processo,
porém o que dá início ao processo é a ação, a qual legitima a atuação do Estado,
no exercício do direito de punir.
● direito subjetivo: possui um titular específico, que é, via de regra, o MP. Sendo de
ação privada, será a vítima ou seu representante legal.
● direito abstrato: independe da existência do direito material.
● direito autônomo: independe da procedência do pedido ou da sua improcedência.

58 – Como funciona a ação penal privada personalíssima?


Na ação penal privada personalíssima, o direito de agir é atribuído única e exclusivamente à
vítima, de forma que se o ofendido morre, haverá extinção da punibilidade.
Sendo incapaz o ofendido, aguarda-se a cessação da sua incapacidade, a fim de que se possa
oferecer a queixa crime.
O direito de agir é atribuído à vítima com exclusividade.
O único crime que se admite esta ação penal é o crime do art. 236, que é o delito de induzimento
a erro essencial ou ocultação de impedimento.

59 – Em que consistem as causas suspensivas da prescrição e quais são elas?


No caso de causas suspensivas, a prescrição, durante a ocorrência daquela causa, ficará suspenso.
Após, a prescrição retomará o seu curso, considerando o período que já decorreu.
É diferente do que a causa interruptiva, a qual o prazo prescricional para, a qual recomeça a ser
contada do zero.
São causas de suspensão da prescrição, em que, antes de passar em julgado a sentença final, não
correrá:
● Enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o
reconhecimento da existência do crime: trata-se da questão prejudicial da qual
dependa para existência do crime no processo penal. Ex.: no crime de bigamia,
resta suspenso o delito de bigamia enquanto não for julgado o processo de anulação
do casamento no cível.
● Enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro;

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● Outras causas.
Existem outras causas de suspensão da prescrição não previstas no CP, como é o caso da
suspensão de processo contra parlamentar. Os congressistas, quando processados, têm a
prescrição suspensa caso o STF receba a denúncia e comunique a Casa respectiva. Nesse caso, o
congressista poderá ter o seu processo suspenso, caso haja requerimento de suspensão formulado
por partido político com representação no congresso nacional e haja a aprovação da maioria
absoluta da Casa. Esta suspensão do processo implica suspensão do prazo prescricional.

60 – Discorra sobre a prescrição da pretensão executória


A prescrição da pretensão executória é a prescrição da pena em concreto.
Houve uma pena fixada e o trânsito em julgado. Neste caso, deverá analisar os prazos do art. 109
do CP e descobrir quanto tempo há para o sujeito começar a ter sua pena executada.
Caso o condenado seja reincidente, os prazos do art. 109 deverão sofrer um aumento de 1/3.
Se houver o reconhecimento da prescrição da pretensão executória, a pena estará extinta, mas os
efeitos penais secundários continuam vigentes. Na verdade, ficarão mantidos os efeitos de
reincidência, por exemplo, e os efeitos extrapenais, como é o caso da reparação do dano.
Essa prescrição somente encerra os efeitos penais principais, ou seja, a execução da pena.
– termo inicial da prescrição da pretensão executória
Apesar de ser esta redação bastante criticada pela doutrina e jurisprudência, o termo inicial da
prescrição da pretensão executória está disposto no art. 112 do CP.
Segundo o dispositivo, no caso da prescrição da pretensão executória, a prescrição começa a
correr:
● do dia em que houver o trânsito em julgado da sentença penal condenatória para a
acusação;
● do dia em que houver a revogação da suspensão condicional da pena (sursis) ou o
livramento condicional;
● do dia em que houver a interrupção da execução, salvo quando o tempo da
interrupção deva computar-se na pena.
Do dia em que foi revogado o sursis ou do dia em que foi revogado o livramento condicional
começa a correr o prazo da prescricional da pretensão executória. Vale lembrar que, durante o
sursis ou o livramento condicional, não corre os prazos prescricionais.
Nos casos em que o sujeito se evade do cárcere, haverá o início da contagem do prazo
prescricional da pretensão executiva. Caso não haja a recaptura do condenado, e ultrapasse o
prazo prescricional, haverá a suspensão da pretensão executória.
Atente-se que, neste caso, o prazo para cumprimento que regule a prescrição da pretensão
executória deverá ter por base o quantum de pena que ainda resta cumprir, e não a pena da
condenação. Isto também serve para o livramento condicional, nos casos em que o sujeito se
evade tendo cumprido boa parte da pena em cárcere.

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Preste atenção, no caso da suspensão condicional da pena não haverá esta aplicação, visto que o
condenado não começou a cumprir a pena. Diante disso, deve-se levar em conta o quantum fixado
na sentença.

61 - Diferencie Direito Penal do Autor e Direito Penal do Fato.


Direito Penal do fato significa que as leis penais somente devem punir fatos causado pelo homem
e lesivos a bens jurídicos de terceiro. Não se pune o pensamento, mas sim as manifestações
exteriores do ser humano.
O Direito Penal do autor é marcado pela punição de pessoas que não tenham praticado nenhuma
conduta. Pune-se alguém pelo seu modo de ser ou pela sua característica ou condição pessoal e
não pelo fato praticado.

62 - Quais são as 4 velocidades do Direito Penal?


Jesús-María Silva Sánchez propõe um modelo dualista de sistema penal, denominado de Direito
Penal de duas velocidades, que varia de acordo com o seu nível de intensidade.
Primeira velocidade: assegura todos os critérios clássicos de imputação e os princípios penais e
processuais penais tradicionais, mas permite a aplicação da pena de prisão. Trata-se do Direito
Penal clássico, que protege bens jurídicos individuais e, eventualmente, supraindividuais, sempre
que efetivamente houver lesão ou perigo concreto de lesão (Direto Penal nuclear).
Segunda velocidade: dirigida à proteção dos novos e grandes riscos da sociedade, com a
possibilidade de flexibilização das garantias penais e processuais penais. Confere proteção aos
bens jurídicos supraindividuais, possibilitando a antecipação da tutela penal (tipificação de
condutas presumivelmente perigosas - crimes de perigo abstrato) e a criação de crimes de
acumulação. Porém, diante desta flexibilização, não se admite a pena de prisão.
Terceira velocidade: marcada pela relativização de garantias político-criminais, regras de
imputação e critérios processuais. Aqui se situa o direito penal do inimigo (Gunther Jakobs), o
qual tem como características: processo mais célere, visando a aplicação de pena; penas
desproporcionalmente altas; suprimento ou relativização de garantias processuais; o inimigo perde
sua qualidade de cidadão; o inimigo é identificado por sua periculosidade, de sorte que o Direito
Penal deve punir a pessoa pelo que ela representa (direito penal prospectivo).
Quarta velocidade (neopunitivismo): termo cunhado por Daniel Pastor. Seria o modelo de sistema
penal utilizado pelo Tribunal Penal Internacional, com restrição e supressão de garantias penais e
processuais penais de réus que no passado ostentaram a função de chefes de estado e, como tal,
violaram gravemente tratados internacionais que tutelam direitos humanos.

63- Diferencie Criminologia de Política Criminal.


Na ciência penal, podemos estudar as chamadas criminologia e política criminal.
A ciência penal, diferentemente do direito penal, estuda a delinquência como um fato natural

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da sociedade. Portanto, a partir desta constatação se desenvolve duas ideias: · Criminologia: que é
uma ciência empírica, a qual estuda o crime, a vítima, o criminoso e o controle social. As
constatações se dão a partir da observação daquilo que acontece na realidade social, na experiência.
· Política criminal: possui uma finalidade, trabalhando com estratégias e mecanismo de controle
social da criminalidade. É uma ciência que trabalha com fins a partir do momento em que se adota
uma lei. Possui a característica de vanguarda, pois orienta a forma de como o legislador deve atuar
e positivar certas matérias. Orienta a reforma das leis.

64 - Qual é a função do direito penal? Qual é a finalidade do direito penal?


Para responder a esta pergunta, é necessário vislumbrar o movimento do funcionalismo
penal. Este movimento busca a real função do direito penal, havendo duas correntes que se
destacam:
· Funcionalismo teleológico (moderado);
· Funcionalismo sistêmico (radical).
O funcionalismo teleológico (moderado) tem como expoente Claus Roxin, o qual preceitua
que a finalidade do direito penal é assegurar bens jurídicos, de modo que, não havendo bem
jurídico a ser protegido, não haverá por que falar em direito penal. É teleológico porque busca a
finalidade do direito penal.
O funcionalismo sistêmico, por sua vez, é de criação de Günther Jakobs. Ele vai dizer que a
função do direito penal é assegurar a vigência do sistema, protegendo o império da norma. Para
ele, quando o sujeito é punido por cometer um crime, o bem jurídico não está protegido, pois ele
já foi violado. O sujeito é punido apenas para demonstrar que o sistema continua em vigor e a
norma deve ser obedecida. A função do direito penal é, portanto, assegurar a aplicação da norma.
Para Günther Jakobs, se o sujeito deliberadamente se desvia da norma, quem faz isto não dá
qualquer garantia de que não mais fará isso, passando a se comportar como um cidadão. Diante
disso, o indivíduo que reiteradamente e deliberadamente se comporta como um violador contumaz
da lei penal, não deve ser tratado como um cidadão, devendo, sim, ser visto como um inimigo da
sociedade, devendo ser tratado como um inimigo. O Direito Penal do Inimigo nasce da ideia de
que o direito penal deve tratar de maneira diferenciada aquele que se mostra infiel ao sistema. E,
portanto, é preciso que haja uma repressão mais forte àqueles que perderam o status de cidadão,
eis que decidiram reiteradamente desobedecer a norma e o sistema imposto.

65- O que é Direito Penal de emergência?


Direito penal de emergência: é o direito penal criado a partir de uma situação atípica.
O legislador cria normas de repressão, pois a opinião pública naquele momento exige isso. A
criação de uma norma que recrudesce uma norma já existente é uma legislação de emergência. O
direito penal de emergência é um campo fértil para nascer um direito penal meramente simbólico.

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66 - O que é Direito Penal simbólico?


Direito penal simbólico: é o direito penal que vai de encontro aos anseios populares, pois o
legislador atua pensando na opinião pública para devolver à sociedade uma ilusória sensação de
tranquilidade. Não tem, em verdade, a pena cumprindo a sua função, razão pela qual o direito penal
será apenas simbólico.

67 - O que é Direito Penal de intervenção?


Windfried Hassemer trata sobre o direito de intervenção. O autor vai dizer que o direito penal não
deve ser alargado, devendo se preocupar apenas com os bens jurídicos individuais, tais como a
vida, patrimônio, propriedade, etc., bem como de infrações penais que causem perigo concreto.
E se a infração penal visa proteger bem jurídico difuso, coletivo ou que fosse de natureza abstrata,
ela não deveria ser considerada uma infração penal, razão pela qual deveria ser tutelada pela
administração pública, sem risco de privação da liberdade do infrator. Este seria o direito de
intervenção.
O direito de intervenção (ou interventivo) estaria acima do direito administrativo, do ponto de vista
de resposta estatal, mas abaixo do direito penal.
A crítica que se faz é que não se sabe como seria a legitimidade e como atuaria o direito de
intervenção.

68 - O que é Direito penal secularizado?


O direito penal secularizado, de acordo com Luigi Ferrajoli, é a ideia de que inexiste uma conexão
entre o direito e a moral. O direito penal não tem a missão de reproduzir os elementos da moral ou
de outro sistema metajurídico de valores éticos-políticos, como os dogmas religiosos. Essa
secularização (laicização) é a ruptura entre a cultura eclesiástica e as doutrinas filosóficas,
especialmente entre a moral do clero e a forma de produção da ciência. Por isso, o Estado não deve
se imiscuir coercitivamente na vida moral dos cidadãos e nem tampouco promover coativamente
sua moralidade, mas apenas tutelar sua segurança, impedindo que se lesem uns aos outros. Com o
princípio da secularização busca-se preservar a pessoa numa esfera em que é ilícito proibir, julgar
e punir a esfera do pensamento, das ideias. Ex.: Ordenações Afonsinas, fundada nos dogmas
religiosos.

69 - Diferencie Direito penal subterrâneo de direito penal paralelo.


Na verdade, essa classificação de Zaffaroni se refere aos sistemas penais paralelos e
subterrâneos.

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· Direito penal paralelo: o sistema penal formal do Estado não exerce grande parte do poder
punitivo, de forma que outras agências acabam se apropriando desse espaço e passam a exercer o
poder punitivo paralelamente ao Estado. Ex.: médicos aprisionando doentes mentais.
· Direito penal subterrâneo: ocorre quando as instituições oficiais atuam com poder punitivo ilegal,
acarretando abuso de poder. Ex.: desaparecimentos de indivíduos pela polícia; extradições
mediante sequestro, etc.

70 - O que é Direito penal quântico?


O direito penal quântico consiste no direito penal que não se contenta com a mera relação de
causalidade (relação física de causa e efeito), mas também com elementos indeterminados, como
o chamado nexo normativo e a chamada tipicidade material, a serem aferidos pelos operadores do
direito diante da análise do caso.
Dessa maneira, pode-se conceituar o Direito Penal Quântico na existência de uma imprecisão no
direito que se afasta da dogmática penal e se aproxima da política criminal. Com isso, há uma
nítida exigência da tipicidade material, afastando da esfera penal condutas socialmente aceitas e
que não tragam uma carga mínima de lesão ao bem jurídico (sendo que o direito penal quântico se
agarra também na teoria da imputação objetiva).

71 - Discorra sobre a espiritualização, dinamização ou desmaterialização do bem jurídico.


A tipificação de crimes sempre esteve relacionada à proteção de bens jurídicos inerentes ao
indivíduo, sejam estes bens lesionados (crimes de dano) ou expostos a efetivo perigo (crimes de
perigo concreto). Havia, portanto, uma materialização dos bens jurídicos.
Neste cerne, a espiritualização do bem jurídico foi uma expressão criada pela doutrina para criticar
a tipificação de condutas que visam tutelar bens jurídicos de interesse transindividual, com o fim
de combater condutas difusas e perigosas, que se não evitadas resultariam em danos às pessoas.
Exemplificando esta nova tendência, pune-se crimes ambientais porque a proteção do meio
ambiente traz benefícios às pessoas em geral, e um meio ambiente desequilibrado é prejudicial à
vida e à saúde dos seres humanos, ainda que reflexamente.
Parcela da doutrina critica a inadequada expansão da tutela penal na proteção de bens jurídicos de
caráter difuso ou coletivo. Argumenta-se que tais bens são formulados de modo vago e impreciso,
ensejando a denominada desmaterialização, espiritualização, ou liquefação do bem jurídico.

72 - O que é garantismo hiperbólico monocular?


Garantismo é a visão do direito constitucional aplicada no direito penal e direito processual penal.
Trata-se de expressão cunhada pelo jurista italiano Luigi Ferrajoli.
Para muitos, o garantismo serviria apenas para beneficiar o réu, forma de proteção de seus direitos
fundamentais e individuais. Desse modo, surge o chamado garantismo hiperbólico monocular.

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É hiperbólico porque é aplicado de uma forma ampliada, desproporcional e é monocular porque


só enxerga os direitos fundamentais do réu (só um lado do processo). Esse garantismo hiperbólico
monocular contrapõe-se ao garantismo penal integral, que visa resguardar os direitos fundamentais
não só dos réus, mas também das vítimas.
Um exemplo seria a lei de Lavagem de Capitais, com alteração dada pela lei 12.683/12. O rol de
crimes antecedentes que outrora era taxativo foi revogado. Permitiu-se, dessa forma, a aplicação
da lei supra acerca de qualquer infração penal (crime ou contravenção) antecedente. Nesse sentido,
caso fosse aplicado o garantismo hiperbólico monocular (tese adotada pelas defensorias públicas),
o crime ou contravenção antecedente que não constasse do rol taxativo da antiga lei 9.613/98 (lei
de lavagem de capitais), não poderia ser, agora, utilizado para punição pela lei de lavagem.

73 - O que é ecocídio?
O Tribunal Penal Internacional decidiu, no final de 2016, reconhecer o ecocídio como crime
contra a humanidade.
O termo designa a destruição em larga escala do meio ambiente. O novo delito, de âmbito mundial,
vem ganhando adeptos na seara do Direito Penal Internacional e entre advogados e especialistas
interessados em criminalizar as agressões contra o meio ambiente.
Com o novo dispositivo, em caso de ecocídio comprovado, as vítimas terão a possibilidade de
entrar com um recurso internacional para obrigar os autores do crime, sejam empresas ou chefes
de Estado e autoridades, a pagar por danos morais ou econômicos.
A responsabilidade direta e penas de prisão podem ser emitidas, no caso de países signatários do
TPI, mas a sentença que caracteriza o ecocídio deve ser votada por, no mínimo, um terço dos seus
membros.
O Brasil é signatário do Tratado de Roma, que aceita a jurisdição do TPI.

74 - Diferencie interpretação analógica de analogia.


Interpretação analógica
Na interpretação analógica, o legislador, propositadamente, traz uma série de situações que
pretende regular e, no fim, permite que aquilo que seja semelhante àquelas situações também seja
abrangido pela norma. Ex.: homicídio pode ser qualificado mediante paga, promessa ou
recompensa, ou por outro motivo torpe. É o juiz quem dirá o que é o motivo torpe. Há uma fórmula
casuística, seguida de uma fórmula genérica.
Analogia
Analogia não é forma de interpretar a norma, mas modo de integrar a lei penal. A integração
da lei penal se faz por meio da analogia. Parte-se do pressuposto de que não há lei para aplicar ao
caso concreto. Não havendo lei, aplica-se a norma que regule o caso semelhante: “onde há mesma
razão deve haver a mesma decisão”.

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Sabe-se que, por conta da reserva legal, está vedada a analogia in malam partem. A doutrina é
pacífica para que a analogia seja praticada em in bonam partem.
Ademais, para que a analogia seja aplicada, deverá haver uma lacuna legal, e não um silêncio
intencional do legislador, além de resultar em algo favorável ao réu.

75 - Diferencie o princípio da bagatela própria da imprópria.


· Princípio da bagatela própria: há insignificância da conduta perpetrada, sendo materialmente
atípica;
· Princípio da bagatela imprópria: há uma irrelevância da pena, ainda que o fato seja relevante. A
conduta é material e formalmente típico, ilícito e culpável, mas não haverá a aplicação da pena,
pois ela se torna desnecessária, não cumprindo a sua função. Ex.: homicídio culposo quando o
sujeito mata o filho, ou quando o sujeito que cometeu o crime fica tetraplégico.

76 - O que é princípio da exteriorização ou da materialização do fato?


Vem do axioma: Nulla injuria sine actione. Ou seja, não há ofensa ao bem jurídico sem ação.
Trata-se do direito penal do fato, pois não há como punir o pensamento do autor. É preciso que
haja a exteriorização ou materialização do fato.
Não se admite incriminações de sujeito pela sua personalidade. Isso porque o direito penal não é
do autor, e sim do fato, havendo materialização do fato.

77 - Quais são os princípios utilizados para resolver conflito aparente de normas penais?
Para que falemos no conflito aparente de normas, é necessário que haja duas leis penais em vigor
ao mesmo tempo.
Para resolver o conflito aparente de norma, é necessário se valer dos seguintes princípios:
• princípio da especialidade
• princípio da subsidiariedade
• princípio da consunção
• princípio da alternatividade

a) princípio da especialidade
O princípio da especialidade estabelece que a lei especial prevalece sobre a geral. No conflito de
lei penal geral e lei penal especial, aplica-se esta última. A lei é especial em razão de conter todos
os elementos da lei geral, além de conter elementos especializantes.
Quem comete um infanticídio mata alguém, mas há elementos como “logo após o parto” e o
“estado puerperal” que são elementos especializantes, distinguindo-se do homicídio.
Atente-se que, aqui, não há relevância se o crime é mais gravoso ou menos gravoso. O infanticídio
possui pena mais branda do que o homicídio.

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b) princípio da subsidiariedade
Na subsidiariedade, uma lei define o fato como criminoso e outra lei também define o fato como
criminoso. Porém, a abrangência da outra lei é maior. Em verdade, o que se percebe nesta relação
entre norma subsidiária e norma principal, é de que há uma relação de maior e de menor gravidade.
Não é relação de norma e espécie. Trata-se de uma relação de menor gravidade e maior gravidade.
A norma subsidiária só se aplica quando não houver subsunção do fato à norma mais grave, que é
a norma principal, devendo ser aplicada a norma subsidiária.
A subsidiariedade poderá ser: subsidiariedade expressa: ocorre quando o próprio tipo penal traz a
fórmula “se não houver crime mais grave”.
subsidiariedade tácita: ocorre quando o tipo penal não traz a fórmula, mas é possível perceber o
caráter de subsidiariedade da norma.

c) Princípio da consunção
Na consunção, há uma absorção de um delito por outro. A verdade é que o crime é previsto por
uma norma que será consumida por outra norma, pois há um outro crime que absorve um crime
menos grave.
Não há uma relação de espécie e gênero, tampouco um menos grave para o mais grave. No
princípio da consunção não necessariamente será aplicada a pena do crime mais grave. É o caso,
por exemplo, do agente que falsifica documento (com pena de reclusão de 2 a 6 anos) e
posteriormente utiliza-o para a prática de estelionato (com pena de reclusão de 1 a 5 anos). Neste
caso, haverá aplicação da Súmula 17 do STJ, a qual estabelece que, quando o falso se exaure no
estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido.
Recentemente (2016), o STJ entendeu que, se o agente criou farmácia de fachada para vender
produtos falsificados destinados a fins terapêuticos ou medicinais, ele deverá responder pelo delito
do art. 273 do CP (e não por este crime em concurso com tráfico de drogas), ainda que fique
demonstrado que ele também mantinha em depósito e vendia alguns medicamentos e substâncias
consideradas psicotrópicas no Brasil por estarem na Portaria SVS/MS no 344/1998.
Assim, mesmo tendo sido encontradas algumas substâncias que podem ser classificadas como
droga, o crime do art. 33 da Lei no 11.343/2006 ficará absorvido pelo delito do art. 273 do CP,
que possui maior abrangência. Aplica-se aqui o princípio da consunção. Segundo decidiu o STJ,
não se mostra plausível dizer que houve a prática de dois crimes distintos e em concurso material
quando, em um mesmo cenário fático, se observa que a intenção criminosa era dirigida para uma
única finalidade, perceptível, com clareza.
O que caracteriza o princípio da consunção é o fato de que uma lei atinge parte de um todo
de outro crime. E quando atinge o todo, mesmo que uma parte não seja crime, deverá aplicar a
parte do crime que é o todo.
Por exemplo, no crime progressivo, João quer matar José. João pega uma faca e dá uma facada em
José, tendo aqui uma lesão corporal. Após, dá uma segunda facada e, na terceira, José morre.

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Perceba que para alcançar o resultado de um crime, neste caso mais grave, o agente passa
necessariamente por um crime menos grave. Há aqui um crime progressivo.
Todavia, o agente, desde o início, tinha o dolo de matar. É isto que diferencia a progressão
criminosa do crime progressivo (lesão é uma parte do homicídio).
Na progressão criminosa, o sujeito substitui o dolo inicial, pois, primeiramente, o sujeito queria
lesionar. Após lesionar, quer matar, havendo uma mudança do dolo. Há uma substituição do dolo,
dando causa a um resultado mais grave. Por conta disso, considera-se que o indivíduo praticou
apenas um crime, qual seja, o crime mais grave.
É ainda caso de consunção os chamados ante factum impunível e post-factum impunível:
Ante factum impunível: é o que ocorre antes e não será punível. São fatos anteriores que estão na
linha de desdobramento na ofensa mais grave. Por exemplo, João quer furtar a televisão de José.
Para isso, viola o domicílio e leva a televisão. Neste caso, a violação de domicílio é uma etapa do
furto, mas não será de todo furto. Por essa razão, não há falar em progressão criminosa e crime
progressivo. Não há aqui substituição impunível.
Post factum impunível: consiste basicamente no exaurimento do crime principal. O sujeito já
cometeu a lesão, pegando o objeto que subtraiu e o destrói. Após ter cometido o crime, ele o
exaure. O sujeito que furtou um automóvel e o coloca fogo no automóvel não praticará um furto e
um dano, mas apenas um furto, pois a destruição posterior é post factum impunível.

d) Princípio da alternatividade.
Aplica-se aos tipos mistos alternativos, isto é, àqueles que descrevem crimes de ação múltipla.
Assim, mesmo havendo várias formas de conduta - mais de um verbo - no mesmo tipo, somente
haverá a consumação de um único delito, independente da quantidade de condutas realizadas no
mesmo contexto.

78 - Qual é o conceito de infração penal?


Rogério Sanches diz que o conceito de infração penal depende:
Enfoque formal: infração penal é aquilo que está rotulado em uma norma penal incriminadora com
ameaça de pena.
Enfoque material: infração penal é o comportamento humano, causador de uma lesão ou perigo de
lesão ao bem jurídico tutelado pelo Estado.
Enfoque analítico: infração penal é o fato típico, ilícito e culpável (teoria tripartite).

79 - O que são delitos de tendência interna transcendente?


Nos chamados delitos de intenção, o agente tem o intento. A doutrina vai chamar isso de
tendência interna transcendente, pois há um especial fim de agir, subdividindo-se em:
Crime de resultado cortado (ou de resultado separado): o sujeito pratica o ato, chega à consumação
do seu delito, mas quer que outro ato seja praticado. Ocorre que este segundo ato não é praticado

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por ele. Por isso, o resultado que ele deseja, que é dispensado da consumação, não depende do
agente, pois está fora de sua atuação. Ex.: extorsão mediante sequestro. O sujeito promove o
sequestro, e por meio da extorsão exige a vantagem indevida (1o ato). Todavia, quem paga o
resgate é um terceiro (2o ato), não cabendo ao agente a realização deste segundo ato, razão pela
qual o delito já se consuma com o 1o ato.
Crime mutilado de dois atos: o sujeito também consuma o crime no 1o ato, mas o 2o ato, que
também é dispensado para consumação do crime, depende de uma ação do agente, estando em sua
esfera de decisão. Ex.: crime de petrechos para falsificação de moedas.
O sujeito possui os petrechos para promover a falsificação, razão pela qual já está consumado o
delito. Se ele vai falsificar ou não moeda ou colocá-la em circulação, não interessa, pois o delito
já está consumado. Como se vê, este 2o ato depende somente do agente, havendo, em virtude disso,
dois atos. É mutilado em razão da consumação do delito com a prática do 1o ato, mas de 2 atos do
próprio agente.
O delito de tendência interna transcendente é o chamado delito de intenção. Neste crime, o sujeito
ativo quer alcançar o resultado: delito de resultado cortado, o segundo ato não depende do agente,
e no mutilado de dois atos, o segundo ato depende do agente. Mas em ambos os casos, o resultado
(2o ato), seja por um terceiro ou pelo próprio agente, é dispensado para haver a consumação do
crime.
Ou seja, o delito de intenção é composto:
• por um dolo;
• por um elemento subjetivo especial, que é a finalidade transcendente ou especial fim de agir.

80 - É possível homicídio simples ser crime hediondo?


Sim. Poderá ser hediondo quando for praticado em atividade típica de grupo de extermínio,
ainda que cometido por um só agente.

81 - O motivo fútil no homicídio é incompatível com o dolo eventual?


Segundo o STJ (2016), a qualificadora de motivo fútil é incompatível com o dolo eventual,
tendo em vista a ausência do elemento volitivo (Info 583).

82 - Qual crime comete a empregada doméstica que, mediante uso exagerado de açúcar nas
refeições de seu patrão - que é diabético - causa a morte dele?
Homicídio qualificado por meio de veneno. Magalhães Noronha diz que toda substância pode
ser veneno, como é o caso do diabético que ingere alto teor de açúcar, assim como a pessoa que
ingere substância que cause alergia.
Só haverá essa qualificadora por veneno (venefício) se a pessoa desconhecer que está
ingerindo veneno. Sanches ressalta que, do contrário, será a qualificadora por meio cruel, pois
traz um sofrimento desnecessário.
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83 - Diferencie feminicídio de femicídio.


Femicídio significa praticar homicídio contra mulher (matar mulher);
Feminicídio significa praticar homicídio contra mulher por “razões da condição de sexo feminino”
(por razões de gênero).
A nova Lei trata sobre FEMINICÍDIO, ou seja, pune mais gravemente aquele que mata mulher
por “razões da condição de sexo feminino” (por razões de gênero). Não basta a vítima ser mulher.

84 - Aborto de feto anencéfalo é crime?


Feto anencéfalo é um embrião, feto ou recém-nascido que não possui uma parte do seu sistema
nervoso central, não possuindo os hemisférios cerebrais. Veja, aqui não há possibilidade de vida
extrauterina.
Há uma certeza de morte do feto.
Segundo o STF, houve uma derrotabilidade da norma, fazendo uma interpretação conforme,
para que compreender que o aborto é crime, salvo nas hipóteses de aborto necessário,
humanitário e do feto anencéfalo. Ou seja, a norma do crime de aborto é constitucional, mas ela
é derrotada para o aborto de feto anencéfalo.
Houve uma homenagem ao princípio da dignidade da pessoa humana, da legalidade, liberdade de
decisão sobre o próprio corpo e autonomia da vontade.

85 - Aborto de feto no primeiro trimestre é crime?


O STF decidiu, por meio da 1a Turma, que o aborto cometido até o 3o mês não é crime, visto que
não
haveria sistema nervoso central.
Se a lei diz que a vida termina quando há o fim das atividades cerebrais, já que os órgãos podem
ser doados, é preciso fazer uma leitura a contrario sensu, de modo a entender que a vida não começa
quando não houver a formação desse sistema.
Portanto, como não há vida até o 3o mês de gravidez, é possível o aborto sem ser crime neste
caso.
Dos crimes contra a pessoa: Das lesões corporais. Periclitação da vida e da saúde.

86 - Subtração de “cocaína” pode caracterizar o crime de furto?


Sim. Não importa se o objeto é ilícito (cocaína), pois tem valor econômico; em razão disso,
considera-se que o bem jurídico patrimônio restou lesado (informativo 44 do STJ).

87 - Existe furto de natureza permanente?


Sim. O art. 155, §3º do Código Penal dispõe que “equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou
qualquer outra que tenha valor econômico”.

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Quando ocorre o furto de energia elétrica, chamado de “gato de energia elétrica” e a fraude ocorre
antes do medidor - pois se a fraude é no medidor ocorre o estelionato - tem-se que nestes casos se
dá o furto de natureza permanente, porquanto a consumação se prolonga no tempo.

88 - O que é estupro bilateral?


Ocorre o chamado estupro bilateral QUANDO DOIS MENORES DE 14 ANOS PRATICAM
ATOS LIBIDINOSOS OU CONJUNÇÃO CARNAL ENTRE SI. Isso ocorre porque a
legislação (art. 217-A, CP) presume ter havido violência nos casos em que haja sexo ou atos
libidinosos envolvendo menores de 14 anos.
Cumpre ressaltar, inclusive, que tem prevalecido no âmbitos dos tribunais superiores que essa
presunção de violência É ABSOLUTA (Resp 1.480.881/PI). Assim, pouco importa o
consentimento da vítima para fins de incidência do tipo do art. 217-A do CP.
Em que pese a preocupação do legislador em punir o cometimento de atos libidinosos ou a prática
de sexo com menores de 14 anos tenha sido elogiável, é certo que a aplicação literal da lei provoca
algumas situações absurdas, como é o caso do estupro bilateral.
Isso porque, no caso de sexo consensual entre menores de 14 anos, pela lei, AMBOS ESTARIAM
COMETENDO ESTUPRO UM CONTRA O OUTRO.
Nesse caso, por se tratarem de inimputáveis, obviamente, não há que se falar em crime, mas em
ato infracional.

89 - Discorra sobre a exceção de Romeu e Julieta.


A Lei 12.015/09 trouxe para o CPB o chamado “Estupro de Vulnerável”, ou seja, reprime-se no
artigo 217-A a conduta de “ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de
14 (catorze) anos ou com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o
necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode
oferecer resistência”.
A partir da dicção do mencionado dispositivo, percebe-se que não haveria margem de
flexibilização para admitir a relação sexual com menor de 14 anos.
Não obstante, há doutrinadores contrários ao tratamento rígido, razão pela qual se utilizam do
raciocínio da “exceção de Romeu e Julieta”.
Na clássica obra do inglês W. Shakespeare, Julieta tinha apenas 13 anos quando manteve relação
amorosa com Romeu, fato esse que a enquadraria – na legislação ora vigente no Brasil – no
conceito de vulnerável.
A ideia da teoria é de que havendo consentimento e uma diferença pequena da idade entre os
parceiros (há quem indique margem de até 5 anos), não seria razoável considerar o ato sexual
como um estupro (imaginemos um caso de namorados de 13 e 18 anos).
Nada obstante, o STJ NÃO ADMITE essa flexibilização.
Após apontar que “de um Estado ausente e de um Direito Penal indiferente à proteção da

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dignidade sexual de crianças e adolescentes, evoluímos, paulatinamente, para uma Política


Social e Criminal de redobrada preocupação com o saudável crescimento, físico, mental e
emocional do componente infanto-juvenil de nossa população, preocupação que passou a ser,
por comando do constituinte (art. 226 da C.R.), compartilhada entre o Estado, a sociedade e a
família, com inúmeros reflexos na dogmática penal. (…) No caso de crianças e adolescentes com
idade inferior a 14 anos, o reconhecimento de que são pessoas ainda imaturas – em menor ou maior
grau – legitima a proteção penal contra todo e qualquer tipo de iniciação sexual precoce a que
sejam submetidas por um adulto, dados os riscos imprevisíveis sobre o desenvolvimento futuro
de sua personalidade e a impossibilidade de dimensionar as cicatrizes físicas e psíquicas
decorrentes de uma decisão que um adolescente ou uma criança de tenra idade ainda não é capaz
de livremente tomar, o STJ fixou a seguinte tese na sistemática de REPETITIVOS:
“Para a caracterização do crime de estupro de vulnerável previsto no art. 217-A, caput, do Código
Penal, basta que o agente tenha conjunção carnal ou pratique qualquer ato libidinoso com pessoa
menor de 14 anos. O consentimento da vítima, sua eventual experiência sexual anterior ou a
existência de relacionamento amoroso entre o agente e a vítima não afastam a ocorrência do
crime” (REsp 1480881/PI, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO,
julgado em 26/08/2015, DJe 10/09/2015).
Não se admite, pois, a exceção de Romeu e Julieta.

90 - O que é peculato-malversação?
Para começar, imperioso se faz definir o que vem a ser o crime de peculato. Trata-se de uma
espécie de gênero Crimes Contra a Administração Pública, prevista no art. 312 do Código Penal,
do qual se extrai: "Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem
MÓVEL, público ou PARTICULAR, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo em
proveito próprio ou alheio".
Observe que destacamos as palavras MÓVEL e PARTICULAR. No presente caso (Peculato
Malversação) o que nos importa de fato é a palavra PARTICULAR.
Quando tal bem esteja sob guarda, vigilância ou custódia da Administração Pública. Nesse caso,
ao apropriar-se do bem o funcionário público, estaremos diante de um caso típico de PECULATO-
MALVERSAÇÃO.

91 - O princípio da insignificância pode ser aplicado aos crimes contra a Administração


Pública?
Referir que para o STJ, não. Vale dizer, não se aplica o princípio da insignificância aos crimes
contra a Administração Pública, ainda que o valor da lesão possa ser considerado ínfimo. Segundo
o STJ, os crimes contra a Administração Pública têm como objetivo resguardar não apenas o
aspecto patrimonial, mas, principalmente, a moral administrativa. Logo, mesmo que o valor do

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prejuízo seja insignificante, deverá haver a sanção penal considerando que houve uma afronta à
moralidade administrativa, que é insuscetível de valoração econômica.
Citar a Súmula 599-STJ: O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a
Administração Pública.
Fazer a ressalva atinente ao crime de descaminho, no sentido de que a jurisprudência é pacífica
pela aplicabilidade do referido princípio.
A jurisprudência é pacífica em admitir a aplicação do princípio da insignificância ao crime de
descaminho (art. 334 do CP), que, topograficamente, está inserido no Título XI do Código Penal,
que trata sobre os crimes contra a Administração Pública. De acordo com o STJ, “a insignificância
nos crimes de descaminho tem colorido próprio, diante das disposições trazidas na Lei n.
10.522/2002”, o que não ocorre com outros delitos, como o peculato etc. (AgRg no REsp
1346879/SC, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/11/2013).
Mencionar, por derradeiro, que no STF, há julgados admitindo a aplicação do princípio mesmo
em outras hipóteses além do descaminho, como foi o caso do HC 107370, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 26/04/2011 e do HC 112388, Rel. p/ Acórdão Min. Cezar Peluso, julgado em
21/08/2012. Segundo o entendimento que prevalece no STF, a prática de crime contra a
Administração Pública, por si só, não inviabiliza a aplicação do princípio da insignificância,
devendo haver uma análise do caso concreto para se examinar se incide ou não o referido
postulado.

DIREITO PROCESSUAL PENAL/LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

1- Diferencie medidas cautelares de natureza patrimonial, de natureza pessoal e das


relativas à prova.
Medidas cautelares de natureza patrimonial são aquelas relacionadas à reparação do dano e ao
perdimento de bens como efeito da condenação. Como exemplos, podemos citar as medidas
assecuratórias dispostas entre os artigos 125 e 144 do estatuto processual penal (sequestro, arresto
e hipoteca legal), e a restituição de coisas apreendidas, prevista nos arts. 118 a 124 do CPP,
quando requerida e deferida pelo juiz. Quanto a esta última, é bem verdade que a apreensão de
coisas~ prevista no art. 6°, I e li, do CPP, não tem a natureza estrita de medida cautelar, por se
tratar de mera medida assecuratória administrativa. Porém, a restituição de coisas apreendidas,
mormente quando pleiteada em juízo, funciona como medida cautelar (ou contracautela
patrimonial), pois é o instrumento de que se utiliza o interessado para reincorporar ao seu
patrimônio os bens apreendidos no processo.
As medidas cautelares relativas à prova, por sua vez, são aquelas que visam à obtenção de uma
prova para o processo, com a finalidade de assegurar a utilização no processo dos elementos

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probatórios por ela revelados ou evitar o seu perecimento. A título de exemplo, podemos citar a
busca domiciliar (e pessoal), prevista nos arts. 240 e seguintes do CPP, assim como a produção
antecipada de prova testemunhal, disposta no art. 225 do CPP, também conhecida como
depoimento ad perpetuam rei memoriam, que também está prevista no art. 366 do CPP. Outro
bom exemplo de medida cautelar probatória consta do art. 19-A, parágrafo único, da Lei no
9.807/99, com redação dada pela Lei no 12.483/11, que passou a prever que, qualquer que seja o
rito processual criminal, o juiz, após a citação, tomará antecipadamente o depoimento das pessoas
incluídas nos programas de proteção previstos na referida Lei.
Por fim, as medidas cautelares de natureza pessoal são aquelas medidas restritivas ou privativas
da liberdade de locomoção adotadas contra o imputado durante as investigações ou no curso do
processo, com o objetivo de assegurar a eficácia do processo, importando algum grau de sacrifício
da liberdade do sujeito passivo da cautela, ora em maior grau de intensidade (v.g., prisão
preventiva, temporária), ora com menor lesividade (v.g., medidas cautelares diversas da prisão
do art. 319 do CPP).

2- O que se entende por bipolaridade cautelar do sistema brasileiro?


De acordo com Renato Brasileiro, a bipolaridade do sistema cautelar reside na existência de duas
opções dadas ao juiz nas medidas cautelares: a prisão cautelar (o acusado permanece preso
durante o processo) ou o benefício da liberdade provisória, que pode ser concedido ao acusado
preso em flagrante (o acusado submete-se ao cumprimento de algumas condições).
Em outras palavras, é o sistema de acordo com o qual o acusado ou fica preso cautelarmente, ou
é solto mediante liberdade provisória.
Com o advento da Lei 12.403/11, o juiz conta com um rol de onze cautelares diversas da prisão,
mostrando-se esta como a “extrema ratio” da ultima ratio.
Portanto, atualmente, não se fala mais em bipolaridade cautelar do sistema brasileiro.

3- Quais são os pressupostos das medidas cautelares de natureza pessoal?


Como espécies de provimentos de natureza cautelar, as medidas cautelares de natureza pessoal
jamais poderão ser adotadas como efeito automático da prática de determinada infração penal.
Sua decretação está condicionada à presença do fumus comissi delicti e do periculum libertatis.
Não se pode pensar que as medidas diversas da prisão, por não implicarem a restrição absoluta
da liberdade, não estejam condicionadas à observância dos pressupostos e requisitos legais. Pelo
contrário. À luz da garantia da presunção de não culpabilidade e da própria redação do art. 282
do CPP, nenhuma dessas medidas pode ser aplicada sem que existam os pressupostos do fumus
comissi delicti e do periculum libertatis.
Apesar de o art. 282 do CPP não exigir expressamente a presença do fumus comissi delicti para a
adoção das medidas cautelares diversas da prisão, mas apenas que a medida seja necessária e
adequada (CPP, art. 282, I e II), e que à infração penal seja cominada pena privativa de liberdade,

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isolada, cumulativa ou alternativamente (CPP, art. 283, § 1º), não se pode perder de vista que
estamos diante de um provimento de natureza cautelar. Por isso, embora as exigências para a
decretação das medidas cautelares diversas da prisão possam ser menores ou menos intensas do
que as exigências feitas para a prisão preventiva, não pode a lei deixar de exigir a presença do
fumus comissi delicti, tal como fez para a prisão preventiva, sob pena de possível abuso na
aplicação dessas medidas cautelares. Daí por que nos parece que, apesar de não haver previsão
legal expressa, a aplicação das medidas cautelares alternativas à prisão deve observar, por
analogia com a disciplina da prisão preventiva, o pressuposto negativo do art. 314 do CPP, razão
pela qual não podem ser decretadas se o juiz visualizar que o fato fora praticado sob o abrigo de
alguma causa excludente da ilicitude. O periculum in mora, por sua vez, caracteriza-se pelo fato
de que a demora no curso do processo principal pode fazer com que a tutela jurídica que se
pleiteia, ao ser concedida, não tenha mais eficácia, pois o tempo fez com que a prestação
jurisdicional se tomasse inócua, ineficaz.

4- Qual é o conceito de prisão e quais são as suas espécies?


Prisão deve ser compreendida como a privação da liberdade de locomoção, com o recolhimento
da pessoa humana ao cárcere, seja em virtude de flagrante delito, ordem escrita e fundamentada
da autoridade judiciária competente, seja em face de transgressão militar ou por força de crime
propriamente militar, definidos em lei (CF, art. 5°, LXI).
De acordo com Renato Brasileiro, no ordenamento jurídico pátrio há, fundamentalmente, 3 (três)
espécies de prisão:
a) prisão extra penal: tem como subespécies a prisão civil e a prisão militar;
b) prisão penal, também conhecida como prisão pena ou pena: é aquela que decorre de sentença
condenatória com trânsito em julgado. De se notar, todavia, que os Tribunais Superiores passaram
a admitir a execução provisória da pena tão logo seja proferido um acórdão condenatório por
Tribunal de 2ª instância (STF, HC 126.292);
c) prisão cautelar, provisória, processual ou sem pena: tem como subespécies a prisão em
flagrante, a prisão preventiva e a prisão temporária.
Com a reforma de 2008 (Lei no 11.689/08 e Lei n° 11.719/08), foram expressamente extintas as
prisões decorrentes de pronúncia e de sentença condenatória recorrível, outrora previstas como
espécies autônomas de prisão cautelar.
A Lei n° 12.403/11, que alterou o título IX do Livro I do CPP, reitera esse entendimento. A nova
redação do art. 283, caput, do CPP passa a dispor que "ninguém poderá ser preso senão em
flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em
decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do
processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva". Corno se percebe, o dispositivo
indica as espécies de prisão admitidas no âmbito criminal: a prisão em flagrante, a prisão

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temporária, a prisão preventiva, espécies de prisão cautelar, e a prisão decorrente de sentença


penal condenatória com trânsito em julgado, chamada pela doutrina de prisão penal.

5- Advogados podem ser presos?


Por motivo ligado ao exercício da profissão, advogados somente poderão ser presos em flagrante
em caso de crime inafiançável, assegurada, nesse caso, a presença de representante da OAB para
lavratura do auto respectivo, sob pena de nulidade e, nos demais casos, a comunicação expressa
à seccional da OAB. Portanto, se o delito em virtude do qual o advogado foi preso em flagrante
estiver relacionado ao exercício da profissão, sua prisão somente será possível se o delito for
inafiançável, assegurada a presença de representante da OAB quando da lavratura do respectivo
auto.
Interpretando-se a contrario sensu o referido dispositivo, conclui-se que, por motivo ligado ao
exercício da profissão, advogados não poderão ser presos em flagrante pela prática de crimes
afiançáveis. Ademais, caso a prisão em flagrante ocorra por motivos estranhos ao exercício da
advocacia, a prisão poderá ser realizada normalmente, independentemente da natureza do delito
– afiançável ou inafiançável –, com a ressalva de que subsiste a obrigatoriedade de comunicação
expressa à seccional da OAB.
Apesar de não ser possível a prisão em flagrante de advogado pela prática do delito de desacato
ligado ao exercício da profissão, seja por se tratar de infração de menor potencial ofensivo, seja
por se tratar de crime afiançável, isso não significa dizer que o advogado não possa ser
responsabilizado criminalmente pelo referido delito. Como se sabe, é possível que o advogado
responda pelo crime de desacato, delito este que foi eliminado do âmbito de sua imunidade
material ou penal (vide ADI 1.127-8/DF).

6- A comunicação à família do preso ou à pessoa por ele indicada em relação à prisão em


flagrante deve ser imediata? Qual é a consequência da falta dessa comunicação?
Sim. A comunicação imediata da prisão de qualquer pessoa ao juiz competente e aos familiares
ou à pessoa indicada pelo preso, prevista no art. 5°, LXII, da Carta Magna, consiste em verdadeira
garantia de liberdade, pois dela dependem outras garantias expressamente previstas no texto
constitucional, como a análise da ocorrência ou não das hipóteses permissivas para a prisão (art.
5°, LXI), a possibilidade de relaxamento por sua ilegalidade (art. 5°, LXV), ou, nos casos de
legalidade, se possível for, a concessão de liberdade provisória com ou sem fiança (art. 5", LXVl).
Especificamente no tocante à obrigação de comunicação da prisão à família do preso ou à pessoa
por ele indicada, sua razão de ser está relacionada a dois objetivos: primeiro, certificar familiares
acerca da localização do preso; segundo, permitir que o preso obtenha de seus familiares a
assistência e o apoio de que necessita.

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Obviamente, caso o preso não indique a pessoa a quem deva ser comunicada sua prisão, não há
como a autoridade policial dar cumprimento ao preceito constitucional do art. 5°, LXII, sendo
inviável qualquer alegação de ilegalidade da prisão.
A observância de todas as formalidades no momento da prisão de alguém é de extrema relevância,
porque constituem meio de tutela da liberdade. Sua inobservância configura constrangimento
ilegal, sanável por meio de habeas corpus objetivando o relaxamento da prisão.
Por fim, resta esclarecer que, se do auto de prisão em flagrante constar menção à observância das
garantias constitucionais acima mencionadas, incumbe ao preso o ônus de demonstrar o
descumprimento dos preceitos constitucionais.

7- É possível flagrante em crimes habituais em crimes permanentes?


Crimes habituais são aqueles que não se consumam em apenas um ato, exigindo uma sequência
de ações para que se perfaça o tipo penal. Para alguns, tal espécie de delito não admite prisão em
flagrante. Tourinho Filho, por exemplo, considera que, quando a polícia prende o acusado em
flagrante, está surpreendendo-o em um único ato e que o crime considerado habitual não se
consuma com uma só ação, exigindo, ao contrário, pluralidade de atos, razão pela qual é
impossível o flagrante nesse caso. Outros, a exemplo de Mirabete, compreendem possível a prisão
em flagrante quando o agente for surpreendido na prática de um dos atos que compõem a conduta
delituosa, exigindo-se, porém, prova inequívoca de atos anteriores. Em termos de maioria,
prevalece a primeira orientação.
Crimes permanentes, por sua vez, são aqueles cuja consumação dá-se com uma única ação, mas
o resultado se prolonga no tempo. Neste caso, é plenamente viável a prisão em flagrante do sujeito
ativo do delito durante todo o período da permanência. Exemplo típico de crime permanente é o
cárcere privado (art. 148 do CP), que está em permanente consumação durante todo o período de
cativeiro da vítima. Do mesmo modo, os crimes de associação criminosa (art. 288 do CP, com a
alteração determinada pela Lei 12.850/2013) e de associação para o tráfico de drogas (art. 35 da
Lei 11.343/2006), cuja consumação protrai-se no tempo e, por isso mesmo, autoriza a atuação em
flagrante durante cada momento em que subsistir vínculo associativo entre os consortes.

8- O que se entende por flagrante próprio?


O flagrante próprio se caracteriza quando o agente está cometendo a infração penal ou acabou de
cometê-la. Na hipótese do inciso I do art. 302 do CPP, havendo a interferência de terceiros no
momento em que o agente está praticando o fato típico, é comum a figura da tentativa, o que não
ocorre no caso do inciso II, contemplando hipótese na qual o delito já foi consumado. Observe-
se que, neste último caso, a expressão “acaba de cometê-la” deve ser interpretada de forma
totalmente restritiva, contemplando a hipótese do indivíduo que, imediatamente após a
consumação da infração, vale dizer, sem o decurso de qualquer intervalo temporal, é surpreendido
no cenário da prática delituosa.

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9- A falta de representação, nos crimes de ação penal pública condicionada, impede a


lavratura do auto de prisão em flagrante?
Sim. Nada impede seja reconhecida situação de flagrância diante da prática de crimes de ação
penal pública condicionada, visto que inexiste ressalva na legislação a respeito. Não obstante,
considerando que o auto de prisão em flagrante constitui-se em uma das formas de início de
inquérito policial e tendo em vista que, nos crimes de ação penal pública condicionada, o inquérito
não pode ser iniciado sem a representação do ofendido ou seu representante, respectivamente (art.
5.º, §§ 4.º e 5.º, do CPP), é intuitivo que, para a validade do flagrante, será necessário que referidas
manifestações de vontade instruam o auto de prisão, devendo, pois, a ele ser acostadas como
condição para a homologação.

10- Qual é o sentido temporal da palavra “imediatamente” do texto constitucional para que
seja realizada a comunicação ao juiz e à família do preso?
Uma primeira corrente que esta comunicação deve ser feita, no máximo, concomitantemente à
lavratura do auto de prisão, sob pena de relaxamento do flagrante. Isto porque sua obrigatoriedade
decorre, sobretudo, da previsão incorporada ao referido art. 5.º, LXII, da CF, dispondo que “a
prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz
competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada”, sugerindo-se, subliminarmente,
comunicação de pronto, incontinenti.
A segunda corrente afirma que a comunicação da prisão à autoridade judicial deve ocorrer no
prazo de vinte e quatro horas, por interpretação extensiva do art. 306, § 1.º, do CPP, sendo que,
mesmo que assim não ocorra, o atraso ou mesmo a falta de comunicação, no prazo legal, à
autoridade judiciária não têm o condão de nulificar a custódia, pois se trata de ato extrínseco à
segregação.
O STJ, aderindo a esta segunda orientação, decidiu que “a alegada delonga para a comunicação
da prisão em flagrante à autoridade judiciária não é capaz, por si só, de invalidar o auto de prisão,
quando observados os demais requisitos legais e sobretudo em se considerando que o prazo que
se alega extrapolado ter sido de menos de 24 (vinte e quatro) horas, o que, por certo, está
absolutamente de acordo com o exigido pelo princípio da razoabilidade”.

11- Qual é a finalidade da audiência de custódia?


A audiência de custódia pode ser conceituada como a realização de uma audiência sem demora
após a prisão penal, em flagrante, preventiva ou temporária, permitindo o contato imediato do
preso com o juiz, com um defensor (público, dativo ou constituído) e com o Ministério Público.
A audiência de custódia tem 2 (dois) objetivos precípuos: 1) coibir eventuais excessos como
torturas e/ou maus tratos; 2) no caso específico da prisão em flagrante, conferir ao juiz uma
ferramenta mais eficaz para fins de convalidação judicial, é dizer, para ter mais subsídios quanto

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à medida a ser adotada – relaxamento da prisão ilegal, decretação da prisão preventiva (ou
temporária), ou imposição isolada ou cumulativa das medidas cautelares diversas da prisão, sem
prejuízo de possível substituição da prisão preventiva pela domiciliar, se acaso presentes os
pressupostos do art. 318 do CPP.
A realização desta audiência de custódia também visa à diminuição da superpopulação carcerária.
Afinal, em contraposição à simples leitura de um auto de prisão em flagrante, o contato mais
próximo com o preso proporcionado pela realização da audiência de custódia permite elevar o
nível de cientificidade da autoridade judiciária, que terá melhores condições para fazer a triagem
daqueles flagranteados que efetivamente devem ser mantidos presos.

12- Diante da apresentação espontânea do indivíduo, é possível proceder à prisão em


flagrante?
Em que pese haja algumas discussões, prevalece a posição no sentido de que à autoridade não é
lícito prender em flagrante a pessoa que se apresenta espontaneamente. Tal entendimento decorre,
sobretudo, da exegese do art. 304, caput, do CPP, que usa a expressão “apresentado o preso à
autoridade competente...”, pressupondo, portanto, que o sujeito ativo do delito já tenha recebido
voz de prisão por ocasião da sua apresentação, pelo condutor, ao Delegado para lavratura do auto.
Exige, enfim, a lei, com vistas à lavratura do auto de prisão em flagrante, que o sujeito seja
apresentado por alguém (no caso, o condutor) à autoridade competente, até porque, fosse
diferente, teria utilizado o art. 304 a expressão “apresentando-se alguém à autoridade
competente...”. Este é o entendimento do STF e do STJ há vários anos.

13- A autoridade policial pode representar pela decretação da prisão preventiva após a
instauração do processo criminal?
A prisão preventiva decretada pelo juiz em face de representação da autoridade policial é aquela
que tem por fim tutelar as investigações policiais. Ora, se não há uma investigação policial em
andamento, desaparece, também, o interesse do delegado de polícia na custódia, dada a
inexistência de uma investigação policial a ser tutelada. Portanto, prevalece o entendimento de
que a autoridade policial apenas pode representar pela decretação da prisão preventiva enquanto
houver uma investigação policial em curso.
14- Quais são as hipóteses em que é admissível a decretação da prisão preventiva?
Estabelece o art. 313 do CPP que a prisão preventiva, presentes os pressupostos e fundamentos
que a autorizam, será admitida nas seguintes hipóteses:
- Crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a quatro anos
(art. 313, I, do CPP);
- Indivíduo que comete um novo crime doloso nos cinco anos subsequentes ao
cumprimento ou extinção da pena imposta em razão da prática de outro crime doloso
anterior – o chamado reincidente em crime doloso (art. 313, II, do CPP);

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- Crimes que envolvam violência doméstica e familiar contra mulher, criança, adolescente,
idoso, enfermo ou pessoa portadora de deficiência, para garantir a execução das medidas
protetivas de urgência (art. 313, III, do CPP);
- Dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos
suficientes para esclarecê-la.

15- E no caso de descumprimento de medida cautelar diversa da prisão, não caberia a prisão
preventiva?
Relativamente à prisão preventiva que decorre do descumprimento das medidas cautelares
diversas da prisão (arts. 282, § 4.º, e 312, parágrafo único, do CPP), em que pese a existência de
corrente oposta, compreendemos que não se aplicam as limitações do art. 313. Se
injustificadamente o investigado/acusado descumprir referidos provimentos, não sendo cabível a
substituição ou cumulação com outro da mesma natureza, pensamos que poderá ser decretada sua
custódia, ainda que a vertente não se amolde aos casos listados no precitado art. 313. Tal
orientação fundamenta-se em duas premissas básicas: primeira, a de que a não admissão da prisão
preventiva em casos tais poderia tornar inócua a aplicação das medidas alternativas diversas da
prisão, já que, ocorrendo a transgressão pelo agente, não ficaria ele sujeito à prisão preventiva; e,
segunda, porque o art. 282, § 4.º, estabelece uma regra geral para o descumprimento das medidas
cautelares diversas da prisão, sendo esta disciplina localizada, topograficamente, em Capítulo
anterior ao que regulamenta a prisão preventiva, que é onde se encontra o art. 313, contemplando
as infrações que permitem esta forma de segregação.

16- É admitida a prisão preventiva nos crimes culposos?


Examinando-se o texto atual do art. 313, constata-se que, em relação às situações tratadas nos
seus incisos I e II, não há dúvida de que se referem a hipóteses de custódia cabíveis apenas nos
crimes dolosos, pois esses dispositivos são expressos a respeito desta circunstância.
Por outro lado, no que concerne ao inciso III, a natureza dolosa dos delitos a que se refere, embora
não esteja expressa, fica implícita em face da finalidade da custódia nele prevista, qual seja para
garantir a execução de medidas protetivas de urgência no caso de crimes que envolvam violência
doméstica ou familiar contra os sujeitos arrolados. Indiscutivelmente, a previsão da preventiva,
neste caso, parte da consideração da vontade potencial ou deliberada do agente em descumprir
aquelas medidas, comportamento este que é próprio dos crimes dolosos e não dos culposos.
Agora, no que tange à hipótese contemplada no art. 313, parágrafo único, do CPP, relativa à prisão
preventiva quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa, ou esta não fornecer
elementos suficientes para esclarecê-la, inexiste, hoje, óbice a que seja decretada nos crimes
culposos. Esta vedação ocorria na disciplina anterior, quando a menção a crimes dolosos como
os que admitiam a preventiva encontrava-se no caput do art. 313. Como tal situação não persiste
na atualidade e tendo em vista que o parágrafo único em análise não incorpora qualquer elemento

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que possa coibir a decretação da custódia nele prevista em relação aos crimes culposos, conclui-
se que a medida, em tese, não está vedada, até mesmo com vista a possibilitar o desencadeamento
da ação penal contra o agente (lembre-se que a individualização do acusado é um dos requisitos
da denúncia e da queixa-crime, ex vi do art. 41 do CPP).

17- Diferencie interceptação telefônica, escuta telefônica e gravação telefônica.


A interceptação telefônica consiste na captação da comunicação telefônica alheia por um terceiro,
sem o conhecimento de nenhum dos comunicadores. Essa é a interceptação em sentido escrito
(ou seja: um terceiro intervém na comunicação alheia, sem o conhecimento dos comunicadores);
Escuta telefônica, por sua vez, é a captação da comunicação telefônica por terceiro, com o
conhecimento de um dos comunicadores e desconhecimento do outro. Na escuta, como se vê, um
dos comunicadores têm ciência da intromissão alheia na comunicação. É o que ocorre, por
exemplo, na hipótese em que familiares da pessoa sequestrada, ou a vítima de estelionato, ou
ainda aquele que sofre intromissões ilícitas e anônimas, através do telefone, em sua vida privada,
autoriza que um terceiro leve adiante a interceptação telefônica;
Já a gravação telefônica ou gravação clandestina é a gravação da comunicação telefônica por um
dos comunicadores, ou seja, trata-se de uma autogravação (ou gravação da própria comunicação).
Normalmente é feita sem o conhecimento do outro comunicador, daí falar-se em gravação
clandestina;
Parte da doutrina considera que o art. 1° da Lei n° 9.296196 abrange tanto a interceptação
telefônica em sentido estrito quanto a escuta telefônica.13 Isso porque ambas consistem em
processos de captação da comunicação alheia. Não estão abrangidas pelo regime jurídico da Lei
n° 9.296/96, por consequência, a gravação telefônica, a interceptação ambiental, a escuta
ambiental e a gravação ambiental.
Em outras palavras, a Lei n° 9.296/96 não abarca, portanto, a gravação de conversa telefônica por
um interlocutor sem o conhecimento do outro. Fica esta hipótese fora do regime da lei, sendo
considerada válida a gravação como prova quando houve: justa causa, como ocorre em casos de
sequestro.
Nada impede que o juiz autorize a escuta, se houver requerimento nesse sentido. Mas não é
necessária a autorização judicial, pois se houver a gravação sem ela, mas estiver fundada em justa
causa, a prova pode ser utilizada. Prevalece, então, o entendimento de que as gravações
telefônicas não estão amparadas pelo art. 5°, XII, da Constituição Federal, devendo ser
consideradas meios lícitos de prova, mesmo que realizadas sem ordem judicial prévia, pelo menos
em regra.

18- Apresente a diferença entre organização criminosa e associação criminosa.


De acordo com o § 1º, do art. 1º, da Lei 12.850/2013, considera-se organização criminosa a
associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão
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de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de
qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores
a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.
Portanto, para se falar em organização criminosa, é imprescindível que haja
I. Associação de quatro ou mais pessoas;
II. Estrutura ordenada, pessoas organizadas sob um regime hierárquico;
III. Divisão de tarefas, ainda que informalmente;
IV. Finalidade de buscar vantagem indevida em razão de crimes cuja pena (máxima) seja superior
a 04 anos ou que tenham caráter transnacional;
Por outro lado, a associação criminosa, prevista no art. 288 do Código Penal, exige apenas a
associação de 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes

19- Delegado de Polícia pode celebrar acordo de colaboração premiada?


Sim. Recentemente, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a legitimidade das polícias
judiciárias para propositura de acordo de delação premiada.
De acordo com a decisão, embora não seja obrigatória a presença do Ministério Público em todas
as fases da elaboração dos acordos entre a autoridade policial e o colaborador, o MP deve
obrigatoriamente opinar. No entanto, cabe exclusivamente ao juiz a decisão homologar ou não o
acordo, depois de avaliar a proposta e efetuar o controle das cláusulas eventualmente
desproporcionais, abusivas ou ilegais.

20- Diferencie colaboração premiada de delação premiada.


acordo, depois de avaliar a proposta e efetuar o controle das cláusulas eventualmente
desproporcionais, abusivas ou ilegais.

21- Discorra sobre a “justiça negociada”, bem como indique as espécies desse instituto.
Com origem norte-americana, justiça negociada é espécie de direito premial e sinônimo de
colaboração premiada. Detalhada pelo art. 4º da Lei 12.850/13 (Lei de Organizações Criminosas),
a colaboração premiada é uma técnica especial de investigação por meio da qual o coautor, além
de confessar a prática do crime, entrega informações eficazes para a consecução de um dos
objetivos previstos em lei, recebendo em troca determinado prêmio legal.
Justiça negociada seria gênero, tendo como espécies as seguintes formas de colaboração, segundo
Vladimir Aras:

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a) Delação premiada (chamada de corréu): além de confessar se envolvimento no crime,


colaborador expõe outras pessoas implicadas na infração penal.
b) Colaboração para libertação: o colaborador indica o lugar onde está mantida a vítima
sequestrada, facilitando sua libertação.
c) Colaboração para localização e recuperação de ativos: o colaborador fornece dados para a
localização do produto do crime e de bens eventualmente submetidos a esquemas de lavagem de
capitais;
d) Colaboração preventiva: o colaborador presta informações relevantes aos órgãos estatais
responsáveis pela persecução penal de modo a evitar um crime, ou impedir a continuidade ou
permanência de uma conduta ilícita.

22- O que é emendatio libeli?


Trata-se da hipótese na qual o juiz, ao condenar ou pronunciar o réu, atribui nova definição
jurídica ao fato descrito, sem, porém, acrescentar a esse mesmo fato qualquer circunstância ou
elemento que já não estivesse descrito na inicial acusatória. Referindo-se à sentença condenatória,
dispõe, com efeito, o art. 383 do CPP que “o juiz, sem modificar a descrição do fato contida na
denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em consequência,
tenha de aplicar pena mais grave”. Por outro lado, tratando da decisão de pronúncia, estipula o
art. 418 do CPP que “o juiz poderá dar ao fato definição jurídica diversa da constante da acusação,
embora o acusado fique sujeito a pena mais grave”.
Eventualmente, a desclassificação provocada pela emendatio libelli pode importar em
modificação de competência do juízo. Constatando tal hipótese, caberá ao juiz,
fundamentadamente, realizar a desclassificação que caracteriza a emendatio libelli, sem, contudo,
proceder ao juízo de condenação ou de absolvição. Essa decisão deverá ter sua fundamentação
restrita à tipificação do crime, sem externar qualquer outro juízo de mérito tampouco pronunciar-
se acerca da condenação ou absolvição.
Não havendo juízo de condenação ou de absolvição, esse pronunciamento não pode, obviamente,
ser caracterizado como uma sentença stricto sensu, mas sim como uma decisão definitiva, sendo
apelável nos termos do art. 593, II, do CPP. Transitada em julgado essa manifestação, deverá o
juiz ordenar a remessa do processo ao juízo agora considerado competente, para que lá tenha
prosseguimento (art. 383, § 2.º, do CPP). É o caso, por exemplo, de constatar o Juiz, no Juízo
Comum, a possibilidade da desclassificação do crime de tráfico de drogas imputado ao réu (art.
33, caput, da Lei 11.343/2006) para a forma privilegiada de oferecimento eventual e gratuito (art.
33, § 3.º, da Lei 11.343/2006). Sendo este último de competência do Juizado Especial Criminal,

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após efetuar a desclassificação, caberá ao magistrado remeter o processo ao JECRIM, onde será
realizada proposta de transação penal ou, não sendo esta viável, prolatada a sentença.

23- Nas infrações de menor potencial ofensivo que exigem representação do ofendido
(delitos de ação penal pública condicionada), designando o juiz audiência preliminar para
data além de seis meses da ocorrência do fato, ocorre a decadência do direito de
representar?
Existem, basicamente, três posições distintas sobre essa questão:
Primeira: A simples lavratura do Termo Circunstanciado realizada a partir do comparecimento
da vítima na Delegacia de Polícia vale como representação, não sendo necessária uma
representação formal. Quanto ao disposto no art. 75 da Lei 9.099/1995, prevê, unicamente, a
ratificação judicial da representação. Logo, ainda que a audiência preliminar seja aprazada para
tempo superior a seis meses da ciência do fato e de sua autoria, não ocorre a decadência.
Segunda: É necessária representação formal, no prazo de seis meses a contar da ciência do fato e
de sua autoria. Contudo, tal representação pode ser oferecida por ocasião da lavratura do Termo
Circunstanciado. Também aqui se entende que o art. 75 da Lei 9.099/1995 contempla apenas a
ratificação judicial da representação.
Terceira: O art. 75 da Lei 9.099/1995 constitui exceção ao art. 38 do CPP (mesmo porque esse
dispositivo, ao prever o prazo de seis meses para representar, após a ciência da autoria, refere:
“salvo disposição em contrário...”). Portanto, na hipótese de infração de menor potencial ofensivo
exigente de representação, o marco inicial da fluência do prazo decadencial conta-se da data da
audiência preliminar. Concordamos com esta última orientação, mesmo porque o art.
75, parágrafo único, da Lei 9.099/1995 dispõe que “o não oferecimento da representação na
audiência preliminar não implica decadência do direito, que poderá ser exercido no prazo previsto
em lei”, sugerindo, portanto, que dies a quo do prazo decadencial, realmente, seja a data da
audiência preliminar.

24- O juiz pode decretar prisão temporária de ofício?


Não. Trata-se de uma prisão voltada às investigações policiais, conforme diz o artigo 1º, inciso I,
da mencionada lei. O mais natural é que esse pedido venha por meio de uma representação do
delegado de polícia. É essa autoridade que preside o inquérito policial e participa das
investigações. Mas a lei permite que membros do Ministério Público também requeiram a prisão
temporária. Por falta de previsão legal, esta espécie de prisão não pode ser decretada de ofício
pelo juiz, pois a mesma somente ocorre no curso das investigações do inquérito policial.

25- Na lei de drogas, o Delegado de Polícia é obrigado a fazer o relatório circunstanciado?


De acordo com o Código de Processo Penal (art. 10, § 1°), o inquérito policial deve ser concluído
com a elaboração, por parte da autoridade policial, de minucioso relatório do que tiver sido

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apurado, com posterior remessa dos autos do inquérito policial ao juiz competente. Apesar de a
elaboração do relatório ser um dever funcional da autoridade policial, não se trata de peça
obrigatória para o oferecimento da denúncia.
Em se tratando de crimes de drogas, a própria Lei n° 11.343/06 prevê expressamente que a
autoridade policial relatará sumariamente as circunstâncias do fato, justificando as razões que a
levaram à classificação do delito, indicando a quantidade e natureza da substância ou do produto
apreendido, o local e riS condições em que se desenvolveu a ação criminosa, as circunstâncias da
prisão, a conduta, a qualificação e os antecedentes do agente (art. 52, I).
Essa classificação provisória feita pela autoridade policial é de suma importância para se
distinguir eventual crime de porte ou cultivo de drogas para consumo pessoal das modalidades de
tráfico de drogas.

26- Qual é a finalidade do laudo de constatação da droga, nos crimes da Lei de Drogas?
Especificamente em relação aos crimes previstos na Lei n° 11.343/06, dispõe o art. 50, § 1°, que,
para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e estabelecimento da materialidade do
delito, é suficiente o laudo de constatação da natureza e quantidade da droga, firmado por perito
oficial ou, na falta deste, por pessoa idônea. A Lei de Drogas também prevê que o perito que
subscrever este laudo preliminar não ficará impedido de participar da elaboração do laudo
definitivo (art. 50, § 2°).
O objetivo desse laudo de constatação é apenas verificar, preliminarmente, a existência do
princípio ativo da droga, evitando-se que alguém seja mantido preso em virtude do porte de
substâncias absolutamente inócuas). Por mais improvável que possa parecer, a autoridade policial
deve ter sempre muita. cautela por ocasião da prisão em flagrante em crimes de drogas para se
certificar de que a substância apreendida com o agente é, de fato, entorpecente.
Nesse contexto, como se pronunciou o STJ, “a letra do art. 50,§ 1°, da Lei n° 11.343/06 evidencia
que o exame pericial erigido como condição para lavratura do auto de prisão em flagrante se
presta, tão somente, a comutar a natureza e quantidade da substância apreendida. No caso, não há
que se falar em ausência de prova de materialidade se o laudo provisório realizado por ocasião da
prisão em flagrante dos pacientes identificou a substância apreendida como sendo crack, na
quantidade de 29,8 gramas”.
Segundo o STF, é imprescindível, para a condenação pelo crime de tráfico de drogas, que seja
anexado o laudo toxicológico definitivo, concluindo que a falta desse laudo conduz à absolvição
do acusado por falta de materialidade delitiva.

27- O que é serendipidade objetiva e subjetiva?


A serendipidade consiste no encontro fortuito de provas durante a investigação de um crime. A
serendipidade objetiva ocorre quando há um encontro fortuito de provas/indícios de outro fato

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criminoso. Já a serendipidade subjetiva se dá no caso em que há um encontro fortuito de


provas/indícios do envolvimento de outra pessoa que não estava sendo objeto da investigação.

28- Aos crimes do Estatuto do Idoso aplicam-se os benefícios trazidos pela Lei 9.099/95?
Não. Consoante dispõe o art. 94 da Lei n° 10.741, de 1° de outubro de 2003 (Estatuto do Idoso),
aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima privativa de Liberdade não ultrapasse 4 anos,
aplica-se o procedimento previsto na Lei n° 9.099195. À primeira vista, pode-se pensar
(equivocadamente) que a Lei n° 10.741/03 teria determinado a incidência dos institutos
despenalizadores previstos na Lei n° 9.099/95 aos crimes previstos no Estatuto do Idoso cuja pena
máxima não fosse superior a 4 (quatro) anos, o que seria absolutamente contraditório, porquanto
uma lei criada para dar maior proteção ao idoso, estaria, na verdade, estabelecendo tratamento
mais benigno aos autores dos crimes ali previstos. Portanto, deve o dispositivo ser interpretado
no sentido de que, aos crimes previstos no Estarmo do Idoso, somente se aplica o procedimento
sumaríssimo previsto na Lei dos Juizados (Lei n° 9.099/95, arts. 77 a 83).

29- A autoridade policial pode arbitrar fiança ao preso em flagrante por crime envolvendo
violência doméstica?
Com a nova redação do art. 322 do CPP, os acusados de crimes de violência doméstica contra a
mulher de maior incidência (lesão corporal, crimes contra a honra e ameaça) continuavam, em
tese, sendo beneficiários da fiança a ser arbitrada pela autoridade policial por ocasião da prisão
em flagrante, pois a pena máxima de cada uma dessas infrações não excede quatro anos. Ressalte-
se que os crimes contra a honra são apurados mediante ação pena privada (art. 145 do CP) e,
mesmo cometidos no âmbito da Lei Maria da Penha e excluída a aplicação do Juizado Especial
Criminal, ainda é possível a audiência de reconciliação (artigos 521 e 522 do CPP).
Entretanto, abriram-se debates sobre a possibilidade de o delegado de polícia arbitrar fiança aos
autuados em flagrante por crimes abrangidos pela Lei Maria da Penha. Alguns defendem a
proibição, pois a previsão de prisão preventiva impede a fiança. Outros argumentam que a lei
expressamente a admite. Saliente-se que crimes de lesões corporais mais graves e homicídio, por
exemplo, têm sanção máxima superior a quatro anos, impedindo a fiança policial.
Apesar de o limite para o arbitramento da fiança policial ter sido ampliado para as infrações cuja
pena privativa de liberdade máxima não seja superior a quatro anos, alguns doutrinadores
sustentam que o art. 322 do CPP – com redação antiga ou atual – não se aplica aos crimes
abrangidos pela Lei Maria da Penha.
Argumenta-se, em síntese, que a Lei n. 11.340/2006 tinha possibilitado a decretação da prisão
preventiva aos agressores domésticos - autorização mantida pela Lei n. 12.403/2011 -, de modo
que, não tendo o delegado de polícia atribuição para decretá-la – assunto reservado à jurisdição -
, também não poderia fazer o exame do cabimento da fiança.

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Nesse entendimento, a previsão genérica de vedação de fiança para os crimes que admitem prisão
preventiva – como é a hipótese do inciso III do art. 313 do CPP - impede a aplicação do art. 322
do CPP, pois, nessa situação, somente o Juiz poderia examinar o cabimento da prisão preventiva
ou o arbitramento da fiança (parágrafo único do artigo 322).
A segunda corrente entende que, mesmo com a edição da Lei Maria da Penha, em 2006, e antes
da reformulação do processo penal em 2011, outros doutrinadores aceitavam a liberdade do preso
em flagrante mediante pagamento de fiança arbitrada pelo delegado de polícia. Referindo-se à
redação anterior do art. 322 do Código de Processo Penal, Dias (2008, p.128) não se opunha à
aplicação da fiança nos crimes de violência doméstica contra a mulher.
Os argumentos de que o artigo 20 da Lei Maria da Penha e artigo 313, inciso III, do Código de
Processo Penal possibilitam a prisão preventiva do agressor, e que o artigo 324, inciso IV, do
mesmo código, veda a fiança quando presentes os motivos que autorizam a decretação da prisão
preventiva não afastam a aplicação do art. 322 do CPP, pelo contrário, confirmam-no, pois, não
tendo a autoridade policial atribuição para decretar a prisão, não pode negar a fiança sob
argumento da necessidade dessa espécie de custódia.
Para se impedir a fiança com base na vedação do art. 324, IV, do CPP exige-se o preenchimento
concreto de algum motivo do art. 312 e também de alguma hipótese do art. 313, ambos do CPP,
não bastando a previsão em abstrato. Se for pela condição do inciso III, a prisão preventiva servirá
para garantir a execução das medidas protetivas de urgência, ou seja, pressupõe-se seu
deferimento anterior e o descumprimento injustificado. Ressalte-se que, em regra, antes de
decretar a prisão é necessária a prévia oitiva do investigado.

30- Quais são as medidas socioeducativas que implicam privação de liberdade?


Essas medidas são conhecidas como semiliberdade e internação.
Pelo regime da semiliberdade, o adolescente realiza atividades externas durante o dia, sob
supervisão de equipe multidisciplinar, e fica recolhido à noite. O regime de semiliberdade pode
ser determinado como medida inicial imposta pelo juiz ao adolescente infrator, ou como forma
de transição para o meio aberto (uma espécie de “progressão”).
Já no regime da internação o adolescente fica recolhido na unidade de internação. A internação
constitui medida privativa da liberdade e se sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade
e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. Pode ser permitida a realização de
atividades externas, a critério da equipe técnica da entidade, salvo expressa determinação judicial
em contrário. A medida não comporta prazo determinado, devendo sua manutenção ser
reavaliada, mediante decisão fundamentada, no máximo a cada seis meses. Em nenhuma hipótese
o período máximo de internação excederá a três anos. Se o interno completar 21 anos, deverá ser
obrigatoriamente liberado, encerrando o regime de internação.
O juiz somente pode aplicar a medida de internação ao adolescente infrator nas hipóteses
taxativamente previstas no art. 122 do ECA, pois a segregação do adolescente é medida de

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exceção, devendo ser aplicada e mantida somente quando evidenciada sua necessidade, em
observância ao espírito do Estatuto, que visa à reintegração do menor à sociedade (STJ HC
213778).
Atualmente, tanto o STF como o STJ entendem que, para se configurar a “reiteração na prática
de atos infracionais graves” (art. 122, II) não se exige a prática de, no mínimo, três infrações dessa
natureza. Não existe fundamento legal para essa exigência.
A exigência de no mínimo três infrações foi adotada durante muitos anos pela jurisprudência
como forma de “abrandar” a aplicação do ECA, mas esse entendimento está atualmente superado.

31- Quais as fontes do Direito Processual Penal?


A doutrina divide a classificação em:
● Fontes materiais
● Fontes formais
Nas fontes materiais, quer-se saber qual o sujeito ou a entidade que produziu a norma. A fonte,
neste caso, é a União, pois a CF prevê que compete privativamente à União legislar sobre direito
processual penal. Isto significa que, por meio de lei complementar, poderá delegar aos Estados
para tratar sobre questões específicas.
A fonte formal busca saber como foi feita a norma.
A fonte formal poderá ser:
● Imediata (direta): é a lei em sentido amplo, abrangendo a CF, legislação
infraconstitucional, tratados e regras de direitos internacional.
● Mediatas (indireta): segundo Avena, são os princípios gerais do direito, analogia,
costumes, doutrina, direito comparado e a jurisprudência. Ex.: ninguém é obrigado
a produzir prova contra si mesmo. A analogia é aplicada em situação que não tem
norma reguladora, devendo se utilizar de um caso similar para aplicar ao caso. O
direito comparado é o que os outros Estados regulamentam a matéria. A
jurisprudência é a posição que um tribunal adota, após reiteradamente ter
enfrentado a matéria.
Atualmente, há uma questão que ganha relevância, que é a denominada súmula vinculante. Esta
súmula vincula os demais órgãos do poder judiciário e a administração direta e indireta. Neste
caso, seria considerada fonte formal imediata.
Todavia, a doutrina prevalente entende que a súmula vinculante não possui força de lei, motivo
pelo qual seria ela uma fonte formal mediata (ou indireta) do direito processual penal.

32- Discorra sobre sistemas penais.


Existem 3 sistemas processuais penais:

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Sistema acusatório: no sistema acusatório há uma separação entre o órgão acusado, órgão
defensor e órgão julgador. Aqui, assegura-se ao réu o contraditório e a ampla defesa. Incumbe à
acusação o ônus da prova de que o acusado praticou o crime, bem como incumbirá à defesa a
tarefa de apresentar excludente de ilicitude. O juiz não é proibido de produzir provas, desde que
isso não implique quebra da imparcialidade. Perceba que a função de acusar e provar que o réu
praticou o crime deverá ser feita pelo MP. Caso não o faça, o sujeito será inocente, por conta do
princípio da presunção de inocência. O processo é público e há prevalência da oralidade.
Sistema inquisitivo: no sistema inquisitivo, o juiz poderá acusar, defender e julgar. O juiz
concentra essas funções. Não há contraditório e ampla defesa, pois quem acusa e defende é a
mesma pessoa. Como quem acusa e quem defende é quem julga, é forçoso compreender que é
em razão de que o sujeito acredita que o acusado cometeu o crime, pois, do contrário, não
acusaria. E como é o acusador que irá julgar, então significa dizer que a acusação é presumida. O
processo é secreto e há prevalência do processo escrito.
Sistema misto: no sistema misto, há uma divisão das funções, pois um órgão acusará, outro
defende e outro julgará. Todavia, é possível que o magistrado, em determinadas situações,
substitua as partes. É observado o princípio do contraditório e à ampla defesa.
No Brasil, prevalece o entendimento de que foi adotado o sistema acusatório.

33- O que defende o princípio do devido processo legal?


O devido processo legal encontra previsão no art. 5º, LIV, da CF, mas também há vários outros
dispositivos no mesmo sentido.
Por conta disso, ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal.
São corolários do devido processo legal o contraditório e a ampla defesa. No aspecto material, o
devido processo legal é defendido como sendo a proporcionalidade.

34- Fale sobre o princípio da presunção de inocência.


Trata-se de um desdobramento do devido processo legal, pois, segundo o art. 5º, LVII, da CF,
ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória.
Por isso, decorre do devido processo legal, visto que enquanto não transitar em julgado o sujeito
não poderá ser considerado culpado.
Trata-se de um princípio reitor do processo penal, impondo um dever de tratamento ao réu,
surgindo daí 3 regras:
● Regra de tratamento: a presunção de inocência impede qualquer antecipação de
juízo condenatório. Para a doutrina, antes do trânsito em julgado o acusado deve permanecer em
liberdade, sendo que eventuais medidas cautelares somente poderão ser adotadas se demonstrada
sua necessidade. Sabe-se, no entanto, que o STF já reconheceu a possibilidade de cumprimento

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antecipado da pena, desde que haja acórdão condenatório ou confirmatório da sentença


condenatória em segunda instância, ainda que se trate de processo de competência originária.
● Regra probatória: em razão da presunção de inocência, a parte acusadora tem o
ônus de comprovar a culpabilidade do acusado além de qualquer dúvida razoável, sendo
que, em caso de dúvida, o acusado deve ser absolvido. Tem-se, aqui, o chamado in dubio pro
reo. Na dúvida, prevalece a absolvição. O juiz precisa ter certeza para a condenação.
● Regra de julgamento: o princípio da presunção de inocência serve em benefício do
réu tanto na hipótese de dúvida, no ato judicial de prolação da sentença, quando caberá ao
magistrado aplicar a máxima do in dubio pro reo, absolvendo-o, bem como forma de aplicação
do ônus da prova. Isto é, o princípio da presunção de inocência não é utilizado tão somente quando
o magistrado, ao sentenciar, absolve o réu por haver dúvida que emerge do acervo probatório,
seja no que denota à autoria ou materialidade de eventual crime, mas também, incumbindo à
acusação, de todo o ônus probatório, devendo a mesma se desvincular dele a fim de almejar a
sentença condenatória.

35- O princípio do in dubio pro reo aplica-se à revisão criminal?


Não se aplica ao julgamento da revisão criminal, que pressupõe o trânsito em julgado de sentença
condenatória ou absolutória imprópria. O ônus da demonstração da procedência da revisão
criminal é do réu. Na dúvida, o tribunal manterá a sentença penal condenatória.

36- A motivação per relationem viola o princípio da obrigatoriedade das motivações


judiciais?
O art. 93, IX, da CF exige que as decisões judiciais sejam motivadas.
O juiz não é eleito pelo povo, razão pela qual não goza de legitimidade da sua decisão,
necessitando justificar seus atos, o que dará legitimidade à população.
Ademais, a motivação assegura o exercício da ampla defesa, pois se o juiz profere uma
condenação, poderá o réu alegar fatos contrários para o tribunal. Veja, o fundamento permite que
o indivíduo exerça a ampla defesa.
Não existe violação pela fundamentação per relationem (motivação aliunde), que é aquela em
que o juiz faz uma remissão a uma outra manifestação existente nos autos, como é o caso do
parecer do MP, a fim de justificar a decisão, desde que se dê de forma clara.
O princípio da obrigatoriedade das motivações não é absoluto, comportando temperamentos,
como é o caso do sistema da íntima convicção, adotado no procedimento do júri com relação aos
jurados.

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37- Qual a diferença entre ampla defesa e plenitude de defesa?


A ampla defesa não se confunde com a plenitude de defesa, a qual é estabelecida como garantia
própria do tribunal do júri. O exercício da ampla defesa está adstrito aos argumentos jurídicos,
enquanto que a plenitude de defesa autoriza a utilização não só de argumentos técnicos, mas
também de natureza sentimental, social e até mesmo de política criminal.

38- Por que se fala que o princípio da publicidade se trata de uma garantia de segundo
grau?
Segundo Luigi Ferrajoli, cuida-se de garantia de segundo grau, ou garantia de garantia. Isso
porque, segundo o autor, para que seja possível o controle da observância das garantias primárias
da contestação da acusação, do ônus da prova e do contraditório com a defesa, é indispensável
que o processo se desenvolva em público.

39- O que é publicidade específica e publicidade geral?


Deve-se distinguir a publicidade relativa às partes, ou seja, a chamada publicidade interna ou
específica, e a relativa ao público em geral, ou publicidade externa ou geral. Esta última é que
encontra mitigação pelas exceções postas no texto constitucional, ou seja, nos casos em que a
defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem, sem prejuízo do interesse público à
informação (artigos 5º, LX e 93, IX da CF/88) ou se dá publicidade do ato puder ocorrer
escândalo, inconveniente grave ou perturbação da ordem (artigo 792, §1º do CPP).

40- Quais os reflexos práticos do princípio da vedação à autoincriminação?


Em síntese, pode-se dizer que o direito de não produzir prova contra si mesmo, que tem lugar na
fase investigatória e no curso da instrução processual, abrange: [5 (CINCO) PRINCIPAIS
CONSEQUÊNCIAS]
a) O direito ao silêncio ou direito de ficar calado: corresponde ao direito de não responder às
perguntas formuladas pela autoridade, funcionando como espécie de manifestação passiva da
defesa. O exercício do direito ao silêncio não é sinônimo de confissão ficta ou de falta de defesa;
cuida-se de direito do acusado (CF, art. 5º, LXIII), no exercício da autodefesa, podendo ser usado
como estratégia defensiva;
b) Direito de não ser constrangido a confessar a prática de ilícito penal: de acordo com o Pacto
Internacional dos Direitos Civis e Políticos (art. 14, § 3º) e com a Convenção Americana sobre
Direitos Humanos (art. 8, § 2a, “g”, e § 3º), o acusado não é obrigado a confessar a prática do
delito.
c) Inexigibilidade de dizer a verdade: alguns doutrinadores entendem que o acusado possui o
direito de mentir, por não existir o crime de perjúrio no ordenamento pátrio.

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d) Direito de não praticar qualquer comportamento ativo que possa incriminá-lo: por força do
direito de não produzir prova contra si mesmo, doutrina e jurisprudência têm adotado o
entendimento de que não se pode exigir um comportamento ativo do acusado, caso desse “facere”
possa resultar a autoincriminação. Ex: exame grafotécnico; bafômetro.
e) Direito de não produzir nenhuma prova incriminadora invasiva: Cuidado: prova invasiva #
prova não invasiva. Prova que envolve o corpo humano e implica na utilização de alguma parte
dele ou na invasão física contra ele. (DNA, sangue, fio de cabelo, bafômetro). NECESSITA de
anuência. Já a prova não invasiva consiste em uma inspeção ou verificação corporal, ou seja, não
implica a extração de nenhuma parte do corpo humano (intervenções ou inspeções médicas,
exame clínico). NÃO NECESSITA de anuência.
Elementos apreendidos relativos ao corpo humano produzidos de forma VOLUNTÁRIA ou
INVOLUNTÁRIA podem ser utilizados como prova lícita. Exemplo: não se pode arrancar um
fio de cabelo da pessoa, porém como delegado pode pedir um mandado de busca e apreensão, ir
até a pessoa da casa e apreender uma escova de cabelo (parte do corpo humano já foi descartada),
olhar o lixo... no momento que o indivíduo descarta o objeto, ele se desfaz da propriedade deste,
como uma guimba de cigarro.
Exemplo: da Glória Treve – RCL 2.040 do STF, cantora mexicana, presa na carceragem da PF,
suspeita do pessoal da PF, STF permitiu a coleta mesmo contra a vontade da mexicana, para
preservar a dignidade das pessoas que eram suspeitas, e porque a placenta era algo do corpo dela
que estava sendo descartado.

41- Em que consiste o aviso de Miranda?


Aviso de Miranda, também conhecido como “Miranda Rights” ou “Miranda warnnings”, origina-
se do famoso caso Miranda V. Arizona, ocorrido em 1966, ocasião em que a Suprema Corte
Norte-Americana firmou o entendimento, por maioria (cinco votos contra quatro), de que as
declarações prestadas pelo acusado à polícia não teriam nenhuma validade, se ele não foi
informado:
I. que tem o direito de não responder;
II. que tudo o que disser pode vir a ser utilizado contra ele;
III. que tem o direito à assistência de defensor escolhido ou nomeado.
Embora não se exija essa formalidade no Brasil, cabe considerar que não se admite o chamado
INTERROGATÓRIO SUB-REPTÍCIO.
O interrogatório sub-reptício ocorre quando há gravação clandestina de conversa informal com o
preso, hipótese em que este não consente com a gravação ambiental e tampouco é advertido de
seu direito de permanecer em silêncio.

42- Qual a diferença do princípio da oficialidade para o princípio da oficiosidade?

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A oficialidade consiste no fato dos órgãos incumbidos da persecução penal são do Estado, sendo,
portanto, órgãos oficiais. Já o oficiosidade se trata do aspecto de que a atuação oficial na
persecução criminal ocorrer, em regra, de ofício, sem necessidade de autorização.
Excepcionalmente, o início da persecução pressupõe autorização do legítimo interessado, como
se dá na ação penal pública condicionada à representação da vítima ou à requisição do ministro
da justiça e na ação penal privada.

43- Fale sobre a audiência de custódia e sua relação com o Pacto de San José da Costa Rica.
A audiência consiste no direito de o preso em flagrante ter contato com o juiz imediatamente (o
ideal seria em até 24hs) para que o magistrado avalie os aspectos legais da prisão em flagrante, o
respeito à integridade física do preso e a (des)necessidade de se manter a prisão, convertendo-a,
por exemplo, em preventiva.
A Convenção Americana sobre Direitos Humanos, conhecida como Pacto de San José da Costa
Rica, prevê o direito de o preso ter contato com o juiz sem demora, de modo que haveria a
previsão da audiência de custódia.

44- Qual é a diferença entre atividade e extratividade da lei processual penal?


Atividade significa que a lei está em vigor, isto é, vigorará até o momento em que for retirada do
ordenamento, por meio de revogação.
A extratividade, por sua vez, poderá se subdividir em:
- Retroatividade: neste caso, a lei não havia nascido, quando da situação a ser disciplinada. A
retroatividade é a possibilidade de aplicar uma lei a uma situação ocorrida anteriormente à sua
edição.
- Ultratividade: ocorre quando a lei já havia perdido a eficácia quando o fato ocorreu, e mesmo
assim deverá ser aplicada àquela situação. A ultratividade é a possibilidade de aplicar a lei de
forma posterior à sua atividade, ou seja, após a revogação da norma.
Na seara processual, aplica-se o “tempus regit actum”, mas só se poderá falar em extratividade se
for tratar de normas híbridas.

45- O que são normas penais híbridas?


As normas processuais híbridas trazem dois conteúdos de natureza diversa, trazendo conteúdo de
direito material e processual, ao mesmo tempo.
Caso seja benéfica na parte material, haverá sua aplicação aos fatos anteriores à sua vigência.
Caso não o seja, não irá se aplicar a fatos anteriores.
Todavia, existe uma corrente que diz que a parte processual deverá retroagir, mas a parte material
não deveria retroagir, pois seria maléfica. Haveria uma cisão da norma, não retroagindo aquilo
que prejudicar o réu, mas aplicando aquilo que beneficiar.

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Apesar desse último entendimento, segundo o STJ, prevalece o entendimento de que não se
admite essa cisão da norma. Ou deverá aplicar a norma como um todo, ou não deverá aplicá-la.
Ex.: o art. 366 do CPP foi alterado pela Lei 9.271/96, estabelecendo que se o acusado, citado por
edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo (norma de direito
processual) e o curso do prazo prescricional (norma de direito material), podendo o juiz
determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar
prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312.
Nesta situação, ou suspenderá o processo e o curso do prazo prescricional, ou não suspende o
processo e nem o curso do prazo prescricional.

46- O MP tem direito a prazo em dobro no processo penal?


Segundo recente julgado no STF, em matéria penal, o Ministério Público não goza da prerrogativa
da contagem dos prazos recursais em dobro. Logo, o prazo para interposição de agravo pelo
Estado-acusador em processo criminal é de 5 dias. STF. 1ª Turma. HC 120275/PR, Rel. Min.
Marco Aurélio, julgado em 15/5/2018 (Info 902).
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. MP não tem direito a prazo em dobro no processo penal.
Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/46936add066bd6422b3ac7
4a0ccb7174>. Acesso em: 10/08/2018

47- O que se entende por prisão domiciliar humanitária?


O CPP, ao tratar da prisão domiciliar, está se referindo à possibilidade de o réu, em vez de ficar
em prisão preventiva, permanecer recolhido em sua residência. Trata-se de uma medida cautelar
que substitui a prisão preventiva pelo recolhimento da pessoa em sua residência.
O art. 318, II, do CPP é chamado de prisão domiciliar humanitária.
Em um caso concreto, o STF entendeu que deveria conceder prisão humanitária ao réu tendo em
vista o alto risco de saúde, a grande possibilidade de desenvolver infecções no cárcere e a
impossibilidade de tratamento médico adequado na unidade prisional ou em estabelecimento
hospitalar — tudo demostrado satisfatoriamente no laudo pericial. Considerou-se que a concessão
da medida era necessária para preservar a integridade física e moral do paciente, em respeito à
dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF).
STF. 2ª Turma.HC 153961/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 27/3/2018 (Info 895).
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Prisão domiciliar humanitária. Buscador Dizer o
Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/c2368d3d45705a56e51ec59
40e187f8d>. Acesso em: 10/08/2018

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48- A prisão em flagrante realizada por guardas municipais é legal? Ou melhor, é válida a
prisão em flagrante realizada por guarda municipal?
O STJ, em recentíssimo julgado, entendeu que é válida a prisão em flagrante efetuada por guarda
municipal. Conforme prevê o art. 301 do CPP, qualquer pessoa pode prender quem esteja em
flagrante delito. Desse modo, não existe óbice à prisão em flagrante realizada por guardas
municipais, não havendo, portanto, que se falar em prova ilícita.
STJ. 5ª Turma. HC 421.954/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 22/03/2018.
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Legalidade da prisão em flagrante efetuada por
guardas municipais. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/97785e0500ad16c18574c6
4189ccf4b4>. Acesso em: 10/08/2018

49- É permitido o ingresso na residência do indivíduo pelo simples fato de haver denúncias
anônimas e ele ter fugido da polícia?
O STJ decidiu que não é permitido o ingresso na residência do indivíduo pelo simples fato de
haver denúncias anônimas e ele ter fugido da polícia.
A existência de denúncias anônimas somada à fuga do acusado, por si sós, não configuram
fundadas razões a autorizar o ingresso policial no domicílio do acusado sem o seu consentimento
ou determinação judicial.
STJ. 6ª Turma. RHC 83501-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 06/03/2018 (Info 623).
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Não é permitido o ingresso na residência do indivíduo
pelo simples fato de haver denúncias anônimas e ele ter fugido da polícia. Buscador Dizer o
Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/e68a83370faacfab07ae1f8a
af5352bb >. Acesso em: 10/08/2018

50- É possível a impetração de habeas corpus coletivo?


O STF admitiu a possibilidade de habeas corpus coletivo.
O habeas corpus se presta a salvaguardar a liberdade. Assim, se o bem jurídico ofendido é o
direito de ir e vir, quer pessoal, quer de um grupo determinado de pessoas, o instrumento
processual para resgatá-lo é o habeas corpus, individual ou coletivo.
A ideia de admitir a existência de habeas corpus coletivo está de acordo com a tradição jurídica
nacional de conferir a maior amplitude possível ao remédio heroico (doutrina brasileira do habeas
corpus).
Apesar de não haver uma previsão expressa no ordenamento jurídico, existem dois dispositivos
legais que, indiretamente, revelam a possibilidade de habeas corpus coletivo. Trata-se do art. 654,
§ 2º e do art. 580, ambos do CPP.

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O art. 654, § 2º estabelece que compete aos juízes e tribunais expedir ordem de habeas corpus de
ofício. O art. 580 do CPP, por sua vez, permite que a ordem concedida em determinado habeas
corpus seja estendida para todos que se encontram na mesma situação.
Assim, conclui-se que os juízes ou Tribunais podem estender para todos que se encontrem na
mesma situação a ordem de habeas corpus concedida individualmente em favor de uma pessoa.
Existem mais de 100 milhões de processos no Poder Judiciário, a cargo de pouco mais de 16 mil
juízes, exigindo do STF que prestigie remédios processuais de natureza coletiva com o objetivo
de emprestar a máxima eficácia ao mandamento constitucional da razoável duração do processo
e ao princípio universal da efetividade da prestação jurisdicional.
Diante da inexistência de regramento legal, o STF entendeu que se deve aplicar, por analogia, o
art. 12 da Lei nº 13.300/2016, que trata sobre os legitimados para propor mandado de injunção
coletivo.
Assim, possuem legitimidade para impetrar habeas corpus coletivo:
1) o Ministério Público;
2) o partido político com representação no Congresso Nacional;
3) a organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em
funcionamento há pelo menos 1 (um) ano;
4) a Defensoria Pública.
STF. 2ª Turma.HC 143641/SP. Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 20/2/2018 (Info
891).
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É possível a impetração de habeas corpus coletivo.
Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/cffb6e2288a630c2a787a64
ccc67097c>. Acesso em: 10/08/2018

51- É cabível habeas corpus para questionar a imposição de medidas cautelares diversas da
prisão?
O habeas corpus pode ser empregado para impugnar medidas cautelares de natureza criminal
diversas da prisão.
O habeas corpus deve ser admitido para impugnar medidas criminais que, embora diversas da
prisão, afetem interesses não patrimoniais importantes da pessoa física.
Se, por um lado, essas medidas são menos gravosas do que a prisão, por outro, são também
onerosas ao investigado/réu. Além disso, se essas medidas forem descumpridas, podem ser
convertidas em prisão processual, de forma que existe o risco à liberdade de locomoção.
Caso fechada a porta do “habeas corpus”, restaria o mandado de segurança. Nos processos em
primeira instância, talvez fosse suficiente para conferir proteção judicial recursal efetiva ao alvo
da medida cautelar. No entanto, naqueles de competência originária de tribunal, confundem-se,

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na mesma instância, as competências para decretá-la e para analisar a respectiva ação de


impugnação. Isso, na prática, esvazia a possibilidade de impugná-la em tempo hábil.
STF. 2ª Turma.HC 147426/AP e HC 147303/AP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em
18/12/2017 (Info 888).
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É cabível habeas corpus para questionar a imposição de
medidas cautelares diversas da prisão. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/88fcf48a99a38a0ffb078d0d
5762dc1b>. Acesso em: 10/08/2018

52- Cabe habeas corpus para garantir direito à visita íntima?


O habeas corpus não é o meio adequado para se buscar o reconhecimento do direito a visitas
íntimas. Isso porque não está envolvido no caso o direito de ir e vir.
O STF entendeu que não há, neste caso, restrição ao direito de liberdade. A decisão atacada tem
natureza administrativa. Portanto, o habeas corpus não é o meio processual adequado para discutir
direito de visitas.
STF. 1ª Turma. HC 138286, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 5/12/2017 (Info 887).
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Não cabe HC para obter direito à visita íntima.
Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/7261925973c9bf0a74d85ae
968a57e5f>. Acesso em: 10/08/2018

53- O Estatuto da Pessoa com Deficiência prevê crimes próprios, sendo que todos eles são
apenas com pena de reclusão, à exceção de um. Qual?
De fato, todos os crimes previstos no Estatuto da Pessoa com Deficiência são apenados com
reclusão, à exceção do crime do art. 91 que é apenado com detenção. Este crime consiste em reter
ou utilizar cartão magnético, qualquer meio eletrônico ou documento de pessoa com deficiência
destinados ao recebimento de benefícios, proventos, pensões ou remuneração ou à realização de
operações financeiras, com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem.

54- É sabido que o art. 2º, I, do decreto lei 201/67, exige que antes de receber a denúncia, o
Juiz ordenará a notificação do acusado para apresentar defesa prévia, no prazo de cinco
dias. Essa previsão foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988?
Sim. O art. 2º, I, do DL 201/67 exige que, antes do recebimento da denúncia, seja garantido ao
denunciado oferecer defesa prévia. Esta disposição é válida e foi recepcionada pela ordem
vigente.
O decreto lei 201/67 trata de procedimento especial, cujas peculiaridades devem prevalecer sobre
o rito previsto no procedimento comum.

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55- Qual prazo máximo de conclusão do inquérito nos crimes que envolve economia
popular?
No caso dos crimes contra a econômica popular, estando o investigado preso ou solto haverá o
prazo máximo de 10 dias para conclusão do inquérito policial, não admitindo prorrogação.

56- Qual o conceito de organização criminosa prevista na lei 12.850/2013?


O art. 1º, §1º, da lei 12.850/2013 traz o conceito e indica os requisitos para se reconhecer uma
organização criminosa.
Segundo o referido dispositivo, considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou
mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que
informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza,
mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos,
ou que sejam de caráter transnacional.

57- A lei de crimes ambientais elenca, em seu bojo, agravantes próprias. Cite pelo menos 4
(quatro) agravantes previstas na lei 9.605/98.
O art. 15, da lei 9.605/98 traz o rol de circunstâncias agravantes na lei penal ambiental, sendo
elas:
I - reincidência nos crimes de natureza ambiental;
II - ter o agente cometido a infração:
a) para obter vantagem pecuniária;
b) coagindo outrem para a execução material da infração;
c) afetando ou expondo a perigo, de maneira grave, a saúde pública ou o meio ambiente;
d) concorrendo para danos à propriedade alheia;
e) atingindo áreas de unidades de conservação ou áreas sujeitas, por ato do Poder Público, a
regime especial de uso;
f) atingindo áreas urbanas ou quaisquer assentamentos humanos;
g) em período de defeso à fauna;
h) em domingos ou feriados;
i) à noite;
j) em épocas de seca ou inundações;
l) no interior do espaço territorial especialmente protegido;
m) com o emprego de métodos cruéis para abate ou captura de animais;
n) mediante fraude ou abuso de confiança;
o) mediante abuso do direito de licença, permissão ou autorização ambiental;
p) no interesse de pessoa jurídica mantida, total ou parcialmente, por verbas públicas ou
beneficiada por incentivos fiscais;
q) atingindo espécies ameaçadas, listadas em relatórios oficiais das autoridades competentes;

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r) facilitada por funcionário público no exercício de suas funções.

58- Para restar configurado o crime de invasão de dispositivo informático é desnecessário


que o referido dispositivo esteja conectado à rede de computadores. Correto? Como se
consuma tal crime?
Sim, pois o crime de invasão de dispositivo informático está configurado quando se invade
dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computadores, mediante violação
indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou
informações sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar
vulnerabilidades para obter vantagem ilícita.

59- Quais os requisitos para se conceder o livramento condicional no caso de crimes


hediondos?
O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena privativa de liberdade igual
ou superior a 2 (dois) anos, desde que seja cumprido mais de dois terços da pena, nos casos de
condenação por crime hediondo, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins,
e terrorismo, se o apenado não for reincidente específico em crimes dessa natureza.

60- O art. 16, da lei 7.716/1989 dispõe que constitui efeito da condenação a perda do cargo
ou função pública, para o servidor público. Este efeito é automático?
Segundo a corrente majoritária, este efeito não é automático. Desse modo, em não sendo
automático, devem ser declarados em sentença.

61- A sentença poderá se concentrar nos elementos produzidos no Inquérito Policial?


O art. 155 do CPP diz que o juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida
em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos
informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e
antecipadas.
O juiz poderá se valer dos elementos informativos, mas estes não poderão embasar a sentença de
modo exclusivo.
No entanto, há exceção, pois algumas provas podem ser utilizadas como prova principal, como
ocorre com a prova pericial.
Como se sabe, o exame de corpo de delito é obrigatório nos crimes que deixam vestígios. Esta
prova não pode ser realizada novamente, motivo pelo qual é denominada de prova não repetível.
Assegura-se, neste caso, o contraditório diferido, pois em sede processual a parte poderá se
manifestar sobre a prova pericial.

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Outra exceção é a prova cautelar. A lei fala nas provas cautelares, as que não são repetíveis e as
que deverão ser antecipadas:
• Provas cautelares: há um risco de desaparecimento do objeto da prova em razão do decurso do
tempo, dependendo de autorização judicial, devendo haver um contraditório diferido. São as
provas urgentes. Ex.: interceptação telefônica.
• Provas não repetíveis: não têm como ser novamente coletadas ou produzidas em virtude do
desaparecimento ou destruição da fonte probatória. Não dependem de autorização judicial, sendo
o contraditório diferido. Ex.: exame de corpo de delito, bafômetro, etc.
• Prova antecipada: são aquelas produzidas com a observância do contraditório real, perante a
autoridade judiciária, em momento processual distinto daquele legalmente previsto, ou até mesmo
antes do início do processo, em virtude de situação de urgência e relevância. Ex.: depoimento ad
perpetuam rei memorium (art. 225).

62 - Advogado tem direito de acompanhar, na Delegacia de Polícia, depoimento de


testemunha?
A Lei 13.245/2016, em seu art. 7º, XXI, passou a dizer que são direitos do advogado assistir a seus
clientes investigados durante a apuração de infrações, sob pena de nulidade absoluta do respectivo
interrogatório ou depoimento e, subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e
probatórios dele decorrentes ou derivados, direta ou indiretamente, podendo, inclusive, no curso
da respectiva apuração apresentar razões e quesitos.

63 - Mencione duas funções do inquérito policial.


• Função preparatória: fornece elementos de informação para que o titular da ação penal possa
ingressar em juízo, além de acautelar meios de prova que poderiam desaparecer com o decurso do
tempo.
• Função preservadora: a existência prévia de um inquérito inibe a instauração de um processo
penal infundado, temerário, resguardando a liberdade do inocente e evitando custos desnecessários
para o Estado.

64 - Discorra acerca do sigilo do Inquérito Policial e sua exceções.


O sigilo do IP não pode atingir o MP, Juiz e o Advogado.
Para tanto, devemos lembrar da Súmula Vinculante 14 do STF, que estabelece ser direito do
defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já
documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia
judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.
Quer dizer, apesar do sigilo, o STF flexibiliza.

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Como regra, não há necessidade de procuração, salvo quando houver informações sigilosas,
ligadas à intimidade ou vida privada do investigado naqueles autos. Ex.: num inquérito de furto há
quebra de sigilo bancário do investigado.
Em regra, não há necessidade de autorização judicial prévia para ter acesso ao inquérito. No
entanto, há uma ressalva na Lei das Organizações Criminosas (Lei 12.850/13).
Neste caso, sendo o sigilo decretado pelo juiz, a afim de garantir a celeridade e eficácia das
diligências, para o defensor ter acesso ao elementos de prova que interessem o representado, e
desde que digam respeito ao direito de defesa, deverá preceder de autorização do juiz.
Por conta do dispositivo acima, o STF inclusive concluiu que é válida a decisão do juiz que nega
ao réu o direito de acesso a elementos que não digam respeito aos fatos pelos quais ele está sendo
acusado, especialmente se tais declarações ainda estão sendo investigadas, situação na qual existe
previsão de sigilo, nos termos do art. 7o da Lei no 12.850/2013 (Inf. 814 – 2016).

65 - É possível a aplicação do princípio da insignificância pelo delegado de polícia?


Apesar de doutrina tradicional enfatizar que o Delegado de Polícia somente faz análise da
tipicidade formal, não restam dúvidas de que, hoje, é plenamente cabível que a Autoridade Policial
faça o juízo de tipicidade material sobre os fatos que chegam às delegacias.
Ao contrário do que muitos pensam, o Delegado de Polícia integra a carreira jurídica e, por essa
razão, não se pode dizer que a ele cabe apenas a aplicação cega da lei. O Delegado é operador do
Direito e realiza valoração interpretativa em seus atos, sempre levando em consideração a
Constituição Federal e os Tratados Internacionais de Direitos Humanos com força supralegal.
Como todos sabem, o Delegado deve analisar o crime em seu conceito analítico, considerando o
fato típico, ilícito e culpável. Nessa análise, a tipicidade, que é a ofensividade ao bem jurídico
tutelado, passa pelo crivo do Delegado, que deverá deixar de instaurar o procedimento, caso não
visualize esse elemento. Do contrário, estaria prendendo alguém pela prática de um fato atípico.
O Professor e Doutor Cleber Masson já se posicionou no sentido de que "O princípio da
insignificância afasta a tipicidade do fato. Logo, se o fato é atípico para a autoridade judiciária,
também apresenta igual natureza para a autoridade policial".
É claro que o Delegado de Polícia deve agir com zelo, sob pena de crime de prevaricação, a
depender do caso concreto.

66 - Em uma visão moderna, o que se entende por inquérito policial?


Aos olhos da Polícia Judiciária, e nas palavras do Delegado Henrique Hoffmann, podemos
conceituar inquérito policial como sendo um processo administrativo presidido pelo delegado de
polícia natural, de natureza apuratória, de cunho informativo e probatório, que se mostra
indispensável ao sistema processual penal, preparatório para a futura ação penal e preservador de
direitos e garantias fundamentais.
Vamos analisar essas características por partes:

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a) Processo administrativo: trata-se de um processo administrativo sui generis, seguindo a


tendência moderna de processualização dos procedimentos, trazida por Fredie Didier Jr. e Miguel
Calmon Dantas.
b) Presidido pelo delegado de polícia natural: o delegado responsável deve ser aquele definido em
regras preestabelecidas, vedando-se indicações ad hoc.
c) Apuratório: o inquérito busca apurar os fatos, com base no sistema acusatório e não inquisitório.
d) Informativo e probatório: o inquérito produz elementos informativos, mas também produz
provas, ainda que o contraditório seja diferido (provas cautelares e irrepetíveis).
e) Indispensável: por se tratar de instrumento que embasa mais de 95% das ações penais, chamá-
lo de dispensável seria um contrassenso. Até mesmo quando o MP possui elementos suficientes
para oferecer a denúncia, acaba por requisitar a instauração do inquérito policial, o que permite
dizer que se trata de processo indispensável.
f) Preservador e preparatório: o inquérito é destinado a esclarecer a verdade dos fatos, visando
fornecer elementos para convencimento do destinatário da ação penal, seja para acusar ou absolver
o investigado. Nesse sentido, a característica preservadora entre em cena, pois o próprio delegado
garante os direitos fundamentais do investigado, a fim de evitar acusações levianas e temerárias.

67 - Estabeleça a distinção entre condição de procedibilidade e condição objetiva de


punibilidade.
A condição de procedibilidade, afeta ao direito processual, condiciona o início do exercício da
ação penal (ex: representação nas ações penais públicas condicionadas à representação). Ela não
se confunde com as condições objetivas de punibilidade, relacionada ao direito material penal, as
quais podem ser conceituadas como circunstâncias exteriores ao crime, não integrantes do tipo
penal, haja vista consistirem em eventos futuros e incertos.
As condições objetivas da punibilidade, apesar de, como dito anteriormente, não integrarem o fato
típico condicionam a existência da pretensão punitiva.
Por exemplo, em 2011 (HC 102477), o STF disse que "a decisão definitiva do processo
administrativo consubstancia condição objetiva de punibilidade", afirmando que a constituição
definitiva do crédito tributário (ou seja, a constituição na seara administrativa) configura condição
objetiva de punibilidade.

68 - Em que consiste a busca exploratória na seara processual penal?


A busca exploratória consiste apenas em efetuar o registro dos elementos no ambiente ou promover
a instalação de equipamentos de captação ambiental, de forma discreta, para melhor avaliação
quanto à deflagração da operação. O delegado de polícia Márcio Adriano Anselmo, sobre busca
exploratória no processo penal, explica que: (...) A partir de fundamentação no artigo 2.o, IV, da

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Lei 9.034/1995, cujo texto dispunha que “em qualquer fase de persecução criminal são permitidos,
sem prejuízo dos já previstos em lei, os seguintes procedimentos de investigação e formação de
provas: (...) IV – a captação e a interceptação ambiental de sinais eletromagnéticos, óticos ou
acústicos, e o seu registro e análise, mediante circunstanciada autorização judicial”, foi autorizado
o ingresso sigiloso da autoridade policial, durante a noite, a fim que procedesse ao registro e análise
de sinais obtidos no escritório do investigado, mediante duas modalidades de diligências: primeiro,
a busca exploratória, em que se diligenciou a fim de identificar elementos de prova no local,
efetuando-se os devidos registros; segundo, para instalação de equipamentos de captação de sinais
acústicos.

69 - Por que se diz que no inquérito policial a defesa técnica é exógena?


De acordo com o art. 5o, inciso LV, da Constituição Federal, aos litigantes, em processo judicial
ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com
os meios e recursos a ela inerentes.
Pela leitura do dispositivo, percebe-se que a ampla defesa é garantida no processo judicial ou
administrativo. O inquérito policial , a seu turno, não se trata de processo, mas sim de procedimento
de caráter administrativo , de modo que o princípio da ampla defesa não é observado em sua
potência máxima, podendo ocorrer mitigações.
No inquérito policial, não há como permitir uma ampla defesa técnica sob pena de macular a
própria finalidade investigatório do mesmo.
Por isso, diz-se que a defesa técnica na fase pré-processual tem uma atuação essencialmente
exógena, OU SEJA, ocorre através do exercício do habeas corpus e do mandado de segurança ,
que, em última análise, corporificam o exercício do direito de defesa fora do inquérito policial.
Dentro do inquérito basicamente existe a possibilidade de solicitar diligências, nos estreitos limites
do art. 14 do CPP, as quais não serão, contudo, realizadas obrigatoriamente.

70 - A oitiva de testemunhas - que são policiais - é considerada prova urgente para fins do
art. 366 do CPP?
O STJ, no informativo 595, entendeu que sim. Para o Superior Tribunal de Justiça, a antecipação
da colheita da prova testemunhal, fundamentada no art. 366 do CPP, é plenamente justificável nos
casos em que as testemunhas são policiais, porquanto a atividade desses agentes expõe-os a um
sem número de casos delituosos, de modo que as especificidades de cada um “acabam se perdendo
em sua memória, seja pela frequência com que ocorrem, ou pela própria similitude dos fatos, sem
que isso configure violação à garantia da ampla defesa do acusado”. STJ. 3a Seção. RHC 64.086-
DF, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Rogério Schietti Cruz, julgado em 23/11/2016
(Info 595).

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Não obstante, destaca-se que o STF possui julgado em sentido contrário, ou seja, afirmando que
não serve como justificativa a alegação de que as testemunhas são policiais responsáveis pela
prisão. (STF. 2a Turma. HC 130038/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 3/11/2015. Info 806).

71 - É possível a produção incidental de provas de ofício pelo juiz?


SIM. É possível que o juiz, antes de proferir sentença, promova a realização de diligências para
dirimir dúvida sobre ponto relevante. Neste caso, a instrução já está correndo, caso em que o juiz
poderá produzir provas de ofício para esclarecer pontos, com base no princípio da verdade real.
Inclusive o STJ já decidiu que não gera nulidade do processo o fato de, em audiência de instrução,
o magistrado, após o registro da ausência do representante do MP (que, mesmo intimado, não
compareceu), complementar a inquirição das testemunhas realizada pela defesa, sem que o
defensor tenha se insurgido no momento oportuno nem demonstrado efetivo prejuízo.

72 - O que é teoria da limitação da destruição da mentira do imputado?


Segundo a teoria da limitação da destruição da mentira do imputado, a prova ilícita, conquanto não
seja idônea para comprovar a culpabilidade do acusado, pode ser valorada no sentido de
demonstrar que o autor do fato delituoso está mentindo. No leading case WALDER v. US, em
1954, o acusado Walder, ao ser perguntado se já tinha tido droga sob sua posse, respondeu
negativamente, o que não era verdade, na medida em que, anteriormente, em uma operação
considerada ilícita, a polícia havia apreendido em sua casa uma grande quantidade de heroína. No
Brasil, não se tem conhecimento de nenhum precedente do Supremo Tribunal Federal ou do
Superior Tribunal de Justiça a respeito da limitação em análise.

73 - O que é perempção?
A perempção também é uma causa de extinção da punibilidade, presumindo-se o desinteresse do
querelante na ação penal. é a perda do direito de prosseguir no exercício da ação penal privada em
virtude da negligência do querelante.
São hipóteses de perempção:
• Inércia do querelante: querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias
consecutivos. Se ele deve dar andamento, e não o faz por 30 dias seguidos, haverá extinção. Caso
a audiência seja transferida para 20 dias depois, aí haverá a perempção.
• Morte do querelante: falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer
em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 dias, qualquer das pessoas a quem
couber fazê-lo;
• Ausência injustificada do querelante: querelante não comparecer, sem motivo justificado, a
qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou Segundo o STF, o não comparecimento à
audiência de conciliação, não significa perempção, pois o ofendido não está obrigado a conciliar.
Ademais, o art. 520 do CPP é anterior ao recebimento da inicial acusatório.

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• Ausência de pedido de condenação nas alegações finais: ainda que haja as alegações finais, mas
não possa extrair um pedido de condenação, haverá a perempção.
• Querelante pessoa jurídica: haverá perempção caso se extinga sem deixar sucessor.

74 - O que é escuta especializada?


Segundo a Lei 13.431 de 2018, Art. 7o, escuta especializada é o procedimento de entrevista sobre
situação de violência com criança ou adolescente perante órgão da rede de proteção, limitado o
relato estritamente ao necessário para o cumprimento de sua finalidade.

75 - O que é depoimento especial?


Segundo a Lei 13.431 de 2018, depoimento especial é o procedimento de oitiva de criança ou
adolescente vítima ou testemunha de violência perante autoridade policial ou judiciária.
Ainda, dispõe o art. 12 da mesma Lei que O depoimento especial será colhido conforme o seguinte
procedimento:
I - os profissionais especializados esclarecerão a criança ou o adolescente sobre a tomada do
depoimento especial, informando-lhe os seus direitos e os procedimentos a serem adotados e
planejando sua participação, sendo vedada a leitura da denúncia ou de outras peças processuais;
II - é assegurada à criança ou ao adolescente a livre narrativa sobre a situação de violência, podendo
o profissional especializado intervir quando necessário, utilizando técnicas que permitam a
elucidação dos fatos;
III - no curso do processo judicial, o depoimento especial será transmitido em tempo real para a
sala de audiência, preservado o sigilo;
IV - findo o procedimento previsto no inciso II deste artigo, o juiz, após consultar o Ministério
Público, o defensor e os assistentes técnicos, avaliará a pertinência de perguntas complementares,
organizadas em bloco;
V - o profissional especializado poderá adaptar as perguntas à linguagem de melhor compreensão
da criança ou do adolescente;
VI - o depoimento especial será gravado em áudio e vídeo.

76 - O que é o sistema da prova tarifada (certeza moral do legislador ou verdade legal)?


Neste sistema é o legislador que estabelece o valor de cada prova. No âmbito do CPP, existem
algumas provas em que há esta tarifação, como é o caso da comprovação da morte do réu por meio
da certidão de óbito, com a consequência extinção da punibilidade, em que a lei exige que seja
apresentada a certidão de óbito.

77 - O que é teoria da fonte independente, no que se refere às provas?


É teoria limitadora da prova ilícita por derivação:

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• Teoria da fonte independente (Bynum vs. US, em 1960): se o órgão da persecução penal
demonstrar que obteve, legitimamente, novos elementos de informação a partir de uma fonte
autônoma de prova, que não guarde qualquer relação de dependência com a prova ilícita originária,
tais dados probatórios são plenamente admissíveis. Essa teoria da fonte independente já é adotada
pelo STF e pelo STJ há alguns anos (HC 83.921). Foi positivada no art. 157, § 1o, do CPP (“ou
quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras”).

78 - O que é teoria da descoberta inevitável?


Prevista no art. 157, § 2o, do CPP, a teoria da descoberta inevitável será aplicável quando se
demonstrar que a prova derivada da ilícita seria produzida de qualquer maneira,
independentemente da prova ilícita originária. Para a aplicação desta teoria, não é possível se valer
de dados meramente especulativos, sendo indispensável a existência de dados concretos
confirmando que a descoberta seria inevitável. Essa teoria foi adotada pelo STJ no HC 52.995,
proferido em 2011. Segundo a doutrina, a teoria foi positivada no art. 157, § 2o, do CPP:
“Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe,
próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova”.

79 - O que é a teoria do nexo causal atenuado, no que se refere às provas?


Teoria do nexo causal atenuado (limitação da mancha purgada, teoria dos vícios sanados ou teoria
da tinta diluída): de acordo com essa teoria, não se aplica a teoria da prova ilícita por derivação se
o nexo causal entre a prova primária e a secundária for atenuado em virtude do decurso do tempo,
de circunstâncias supervenientes na cadeia probatória ou por conta da vontade de um dos
envolvidos em colaborar com a persecução criminal. O “veneno” da ilicitude teria se dissipado.
Daí a teoria ser chamada de “tinta diluída”. Renato Brasileiro não tem conhecimento, hoje, da
aplicação dessa teoria pelos tribunais brasileiros. Não há nenhum precedente nesse sentido do STF
ou do STJ. Segundo alguns doutrinadores, essa teoria teria sido positivada pelo art. 157, § 1o, na
parte “salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras”. Isso porque a
teoria funcionaria como “apagadora” do nexo causal entre as provas ilícita e a contaminada.

80 - No que tange às provas, o que é a teoria da exceção da boa-fé?


Exceção da boa-fé: na medida em que a vedação às provas ilícitas visa inibir, dissuadir, e
desestimular violações aos direitos fundamentais, não seria possível dizer que a prova seria
ilícita quando, com base em um mandado de busca e apreensão ilegal expedido por um juiz
neutro e imparcial, mas posteriormente considerado como não fundado em indícios necessários
para sua expedição, o agente, desconhecendo tal ilicitude e havendo motivos razoáveis para
acreditar na sua validade, obtém provas decorrentes do cumprimento do mandado, tendo convicção
de que agia dentro da legalidade. Com base nessa teoria, deve ser considerada válida a prova obtida
com violação a princípios constitucionais, desde que sua obtenção não tenha decorrido da vontade

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de quem procedeu à investigação, mas sim de uma situação de erro ou ignorância. Os dois critérios
para sua aplicação seriam a boa-fé e a crença razoável na legalidade da conduta do agente. A
despeito de sua importância no direito norte-americano, não há registros de sua aplicação na
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça. Afinal, no
ordenamento pátrio, a vedação à admissibilidade das provas ilícitas também visa à proteção dos
direitos e garantias fundamentais. Por isso, é irrelevante verificar se o agente que a produziu agia
de boa ou má-fé.

81 - O que é a teoria do risco, no que tange às provas?


Teoria do risco: busca-se dar fundamento à validade da prova obtida mediante violação ao direito
à intimidade, com a utilização de escutas telefônicas, filmagens e fotografias clandestinas. Essa
doutrina pretende resolver a questão tendo como parâmetro o dever de sigilo que acompanha
algumas profissões, uma vez que quem faz a confissão ou revelações espontâneas de um delito a
outrem, que não tem o dever legal de não contar o segredo, assume o risco de que o assunto esteja
sendo registrado e que o trato seja descumprido, sendo irrelevante a circunstância de aquele não
ter conhecimento concreto de que, no momento, estão sendo tiradas fotografias, procedidas escutas
ou filmagens, etc. No Brasil, não se tem registros da aplicação expressa no STF ou no STJ. Não
obstante, em relação às gravações clandestinas, em que um dos interlocutores grava uma conversa
telefônica sem o conhecimento do outro, o Supremo tem concluído pela sua admissibilidade no
processo, desde que não haja causa legal de sigilo ou de reserva de conversação.

82 - O que é a teoria da limitação da destruição da mentira do imputado?


Teoria da limitação da destruição da mentira do imputado (WALDER v. US, em 1954): a prova
ilícita, conquanto não seja idônea para comprovar a culpabilidade do acusado, pode ser valorada
no sentido de demonstrar que o autor do fato delituoso está mentindo. No leading case citado, o
acusado Walder, ao ser perguntado se já tinha tido droga sob sua posse, respondeu negativamente,
o que não era verdade, na medida em que, anteriormente, em uma operação considerada ilícita, a
polícia havia apreendido em sua casa uma grande quantidade de heroína. No Brasil, não se tem
conhecimento de nenhum precedente do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de
Justiça a respeito da limitação em análise.

83 - O que é serendipidade de 1º e 2º grau?


Segundo Luiz Flávio Gomes, a serendipidade poderá ser de 1o e de 2o grau:
• Serendipidade de 1o grau: ocorre quando há conexão ou continência entre os elementos
encontrados na operação. A doutrina e jurisprudência majoritária entendem como prova
válida.
• Serendipidade de 2o grau: se os fatos descobertos não guardam relação de conexão ou
continência, os elementos de prova não poderiam ser utilizados como prova no processo,

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porém poderiam servir como notitia criminis.

84 - É possível a utilização da prova ilícita diante do princípio da proporcionalidade?


A ideia aqui é de não se admitir a utilização da prova ilícita, quer para beneficiar ou para prejudicar.
No entanto, a doutrina e jurisprudência têm admitido o uso da prova ilícita em benefício do réu,
quando esta é a única prova de absolvição do réu, ou para obtenção de uma causa de diminuição
de pena.
É preciso sopesar: de um lado o direito da liberdade e do outro o direito à intimidade, por
exemplo. Neste caso, prevalece o direito à liberdade do réu.
85 - Quais são os princípios que orientam a jurisdição e competência?
• Princípio do juiz natural: ninguém será processado e julgado senão pela autoridade competente
previamente fixada. A ideia é evitar o juízo de exceção.
• Princípio da inércia: o juízo deve ser provocado.
• Princípio da indeclinabilidade: nenhum magistrado poderá se subtrair do exercício da jurisdição.
• Princípio da unidade: a jurisdição é uma só.
• Princípio da correlação (relatividade ou congruência): é a correspondência entre a decisão do
magistrado e o pedido que foi feito.

86 - Discorra sobre a prerrogativa de função nos casos de exceção da verdade.


Segundo o art. 85 do CPP, nos processos por crime contra a honra, em que forem querelantes as
pessoas que a Constituição sujeita à jurisdição do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais de
Justiça ou STJ, e houver a oposição de exceção da verdade, caberá ao STF, STJ ou TJ julgar esta
exceção da verdade.
Supondo que um juiz promova uma ação penal contra um advogado, pois ele disse que o juiz
cometeu corrupção passiva no caso X. O juiz promove a ação por calúnia. O advogado opõe
exceção da verdade. Esta exceção será julgada pelo TJ, e não pelo juiz de 1a instância, eis que o
excepto tem foro por prerrogativa de função.

87 - Discorra acerca das três espécies de conexão intersubjetiva.


• Conexão intersubjetiva: é aquela que se dá entre sujeitos. Deverá ser subdividir em:
Intersubjetiva por simultaneidade (ocasional): são praticadas duas ou mais infrações ao mesmo
tempo, por diversas pessoas ocasionalmente reunidas (sem intenção de reunião), aproveitando-se
das mesmas circunstâncias de tempo e de local. Ex.: diversas pessoas, que nem se conhecem,
depredando um estádio de futebol ou saqueando um supermercado.
Intersubjetiva por concurso: são praticadas duas ou mais infrações, por várias pessoas em
concurso, ainda que em tempo e local diversos. Ex.: três indivíduos praticam quatro crimes de
roubo no intervalo de dois meses. Todos responderão em um único processo, salvo causa
impeditiva. Ex.: um dos roubos ser crime militar.

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Intersubjetiva por reciprocidade: é uma conexão entre sujeitos, um em face do outro. Duas ou
mais infrações praticadas umas contra as outras. Neste caso, é necessário identificar, pois caso
assim não faça. Por conta disso, não se pode aplicar o crime de rixa, visto que haverá várias pessoas
se agredindo, mas não se pode identificar quem agrediu quem. Aqui, na conexão intersubjetiva por
reciprocidade, é necessário verificar o autor de cada conduta.

88 - O que é a perpetuação da jurisdição?


→ Perpetuação da jurisdição
Segundo o art. 81 do CPP, verificada a reunião dos processos por conexão ou continência, ainda
que no processo da sua competência própria venha o juiz ou tribunal a proferir sentença absolutória
ou que desclassifique a infração para outra que não se inclua na sua competência, continuará
competente em relação aos demais processos. Haverá neste caso a perpetuação da jurisdição.
Ex.: sujeito cometeu 5 furtos em uma cidade e um roubo noutra cidade. Será competente o foro do
crime de roubo. Caso o juiz absolva o sujeito pelo roubo, não fará com que perca a jurisdição, visto
que ela se perpetuou.
No caso do Tribunal do Júri, há uma exceção, pois se esta decisão ocorre na 1a fase,
desclassificando o juiz a conduta de homicídio para lesão corporal grave, ou o juiz impronuncia o
acusado, ou então absolve sumariamente na 1a fase, ficará excluída a competência do júri, a fim
de remeter o processo ao juízo competente. Todavia, isto só poderá ocorrer na 1a fase.
Isso porque se na desclassificação, por exemplo, se dá no conselho de sentença, e haja a
desclassificação para outra de competência do juízo singular, quem irá julgar será o juiz presidente
do Tribunal do Júri. Neste caso, julgará o crime desclassificado e o crime conexo ao crime
desclassificado.
Outra exceção foi decidida pelo STJ, o qual entendeu que, na hipótese de conexão entre crime
federal e crime estadual, em que existiu atração do processamento/julgamento para a Justiça
Federal, sobrevindo a extinção da punibilidade do agente pela prática do delito federal, desaparece
o interesse da União, devendo haver o deslocamento da competência para a Justiça Estadual.
Segundo o Supremo Tribunal Federal, em 2004, três Auditores-Fiscais do Trabalho foram
assassinados na zona rural do Município de Unaí (MG) em virtude do trabalho de fiscalização que
vinham realizando no local. Na época dos fatos, não havia vara federal em Unaí, motivo pelo qual
a denúncia do MPF foi recebida pelo juízo da 9a Vara Federal de Belo Horizonte (MG).
Alguns anos depois, foi criada a Vara Federal de Unaí (MG) e, em razão disso, o juízo da 9a Vara
Federal de Belo Horizonte declinou a competência para julgar o processo para a recém criada Vara
Federal. Tanto o STF como o STJ discordaram da decisão declinatória e reafirmaram o
entendimento de que a criação superveniente de vara federal na localidade de ocorrência de crime
doloso contra a vida não enseja a incompetência do juízo em que já se tenha iniciado a ação penal.
Incide, no caso, o princípio da “perpetuatio jurisdictionis” que, apesar de só estar previsto no CPC

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(art. 43 do CPC 2015), é aplicável também ao processo penal por força do art. 3o do CPP. Assim,
o juízo da Vara de Belo Horizonte, que recebeu a denúncia (iniciando a ação penal), continua
sendo competente para julgar o processo mesmo tendo sido criada nova vara. (Inf. 783, STF).

89 - Para ocorrer associação criminosa, faz-se necessária a efetiva prática de crime por pelo
menos três indivíduos?
Não. A associação criminosa é delito autônomo, tanto que é dispensável a prática efetiva de algum
crime para fins de consumação da associação.

90 - É factível a tentativa de contravenção?


Sim, é possível que ocorra a tentativa de contravenção na ordem fática; contudo, segundo o art. 4º
da LCP, ela não será punível.

91 - Quais são as hipóteses que o Código de Trânsito Brasileiro não permite a aplicação dos
institutos despenalizadores da Lei 9.099/90?
Quando o agente:
• Cometer lesão corporal culposa por estar sob a influência de álcool ou qualquer outra
substância psicoativa que determine dependência;
• Cometer lesão corporal culposa por estar participando, em via pública, de corrida, disputa
ou competição automobilística, de exibição ou demonstração de perícia em manobra de
veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente;
• Cometer lesão corporal culposa por estar transitando em velocidade superior à máxima
permitida para a via em 50 km/h.

DIREITO CONSTITUCIONAL

1- No que diz respeito ao controle de constitucionalidade, apresente a diferença entre o


sistema austríaco e o sistema norte-americano.
O sistema austríaco, também denominado de sistema concentrado, foi arquitetado por Hans
Kelsen, jurista convidado para a confecção da do projeto que se transformaria na nova Carta
Política da Áustria. Nesse sistema, o controle de constitucionalidade está confiado,
exclusivamente, a um órgão jurisdicional especial. O sistema austríaco é marcado pelas seguintes
características: Controle concentrado de constitucionalidade, ou seja, a fiscalização da força
constitucional é atribuída a um único órgão, dotado de atribuições para este fim; o controle é
realizado independentemente da existência de uma causa vinculada, ou seja, é abstrato; o pedido
recai sobre a verificação de inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo; a decisão exarada

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neste sistema é erga omnes, imposta a todos; em regra, a decisão proferida tem efeito ex nunc
(prospectivos) e causam, apenas, anulabilidade da lei.
Imperioso deixar registrado que o modelo austríaco também serviu de matriz para o controle de
constitucionalidade feito no Brasil.
No tocante ao sistema norte-americano, há, como marco, o célebre precedente Marbury v.
Madison, julgado pela suprema corte americana em 1803, o qual é frequentemente citado como
marco inaugural do judicial review americano. O sistema americano é do tipo difuso, pois todos
os órgãos do poder judiciário têm competência para afastar a aplicação de uma lei que afronte a
constituição. O sistema americano opera por via de exceção. Isto é, inconstitucionalidade da
norma deve ser arguida incidentalmente, no curso de um litígio posto em juízo. No sistema norte-
americano, o que se declara é a nulidade da norma (provimento declaratório). A norma declarada
inconstitucional é inválida, ou seja, existe, mas não é válida. Esse sistema tem como
características: i) a decisão tem eficácia declaratória; ii) o vício de inconstitucionalidade é aferido
no plano da validade (por regra); e iii) a decisão retroage até a criação da lei (efeito ex tunc).
O Brasil, por regra, adota o sistema Norte-Americano, a previsão da possibilidade de modulação
dos efeitos constitui uma exceção.

2- É possível que uma lei ou ato normativo municipal seja impugnado por meio de ADI
proposta no Supremo Tribunal Federal?
NÃO. A CF/88 somente autoriza que seja proposta ADI no STF contra lei ou ato normativo
federal ou estadual.
Vale ressaltar que é cabível ADPF contra lei municipal, eis que a CF/88 autorizou essa
possibilidade, determinando que o tema seja tratado nas Constituições estaduais.
A CF/88 utilizou o termo “representação de inconstitucionalidade”, mas é plenamente possível
que a chamemos de “ação direta de inconstitucionalidade estadual” (ADI estadual).
Cabe ressaltar que tal regra comporta uma exceção. Os Tribunais de Justiça, ao julgarem a
representação de inconstitucionalidade proposta contra lei municipal, poderão declará-la
inconstitucional utilizando como parâmetro dispositivos da Constituição Federal, desde que eles
sejam normas de reprodução obrigatória pelos Estados.
Por fim, cabe ressaltar que, se a representação de inconstitucionalidade sustentar que a norma
apontada como violada (parâmetro) é uma norma de reprodução obrigatória, então, neste caso,
caberá recurso extraordinário para o STF contra a decisão do TJ.
Desse modo, Tribunais de Justiça podem exercer controle abstrato de constitucionalidade de leis
municipais utilizando como parâmetro normas da Constituição Federal, desde que se trate de
normas de reprodução obrigatória pelos Estados. Contra esta decisão, cabe recurso extraordinário.
Vale ressaltar que a decisão do STF neste recurso extraordinário terá eficácia erga omnes porque
foi proferida em um processo objetivo de controle de constitucionalidade.

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3- Apresente a diferença entre ação direta de inconstituciolidade e a ação direta de


constitucionalidade.
A ação direta de inconstitucionalidade serve para combater leis e atos normativos federais ou
estaduais que sejam, no geral, contrários à Constituição Federal. Logo, havendo uma lei federal
contrária ao que diz a Constituição, será possível que seja utilizada, contra essa lei, uma ADI,
sendo que o Supremo Tribunal Federal, ao julgar a ação, vai dizer que a lei não poderá ser mais
aplicada por desrespeitar a Constituição Federal.
Por outro lado, a ação declaratória de constitucionalidade tem a finalidade de confirmar a
constitucionalidade de uma lei ou ato normativo federal. Nesse caso, existindo controvérsia
judicial relevante sobre a aplicação de uma lei federal, cria-se um estado de insegurança jurídica,
já que alguns Juízes ou Tribunais a aplicam e outros não. Nestas hipóteses, é possível utilizar a
ADC para que o Supremo Tribunal Federal, de uma vez por todas, pacifique a controvérsia,
confirmando a constitucionalidade, em definitivo, da lei questionada, e tornando obrigatório
seguir o seu entendimento.

4- Seria exigível a cláusula de reserva de plenário nos casos de aplicação da interpretação


conforme a Constituição?
A resposta deve ser negativa. Com efeito, não é aplicável a reserva de plenário aos casos de
interpretação conforme a Constituição porque não se trata de juízo de inconstitucionalidade.
Resgatando a noção conceitual da interpretação conforme, deve-se lembrar que se trata de uma
técnica decisória que, com o intuito de evitar a proclamação de inconstitucionalidade, elege um
sentido plausível a partir do texto interpretado. Realiza-se, pois, um juízo de constitucionalidade
da lei ou ato normativo, conduzindo ao julgamento de improcedência do pedido de
inconstitucionalidade.
Cabe lembrar que a liberdade de emprego, pelos Órgãos Fracionários, da reserva de plenário
promove a supremacia da Constituição, na medida em que assegura que poderão continuar a
aplicar a legislação questionada, compatibilizada ante a Lei Maior a partir de cuidadosa
fundamentação.
O entendimento acima mencionado encontra significativa aceitação doutrinária, sendo exemplos
os posicionamentos de Bernardo Gonçalves Fernandes
Contudo, também existe pensamento no sentido de que a interpretação conforme e a declaração
parcial de nulidade estão reservadas ao Plenário ou ao Órgão Especial. Neste sentido, é o
entendimento de Ingo Sarlet e Luiz Guilherme Marinoni.

5- É possível falar em greve de policiais civis?


Não. Segundo o STF, o policial civil não tem direito de greve. Para o Supremo, é vedado aos
policiais civis o exercício do direito de greve – como também a todos os servidores públicos que
atuem diretamente na atividade-fim da segurança pública.
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De acordo com os ministros, tendo como função a garantia da ordem pública, a carreira policial
é o braço armado do Estado para a garantia da segurança pública, assim como as Forças Armadas
são o braço armado do Estado para garantia da segurança nacional.
Além disso, a carreira policial é diferenciada, ou seja, a atividade de segurança pública não tem
paralelo na atividade privada. Enquanto existem paralelismos entre as áreas públicas e privadas
nas áreas de saúde e educação, não existe a segurança pública privada, nos mesmos moldes da
segurança estatal, que dispõe de porte de arma por 24 horas, por exemplo.
Para o ministro, não há como se compatibilizar que o braço armado investigativo do Estado possa
exercer o direito de greve, sem colocar em risco a função precípua do Estado, exercida por esse
órgão, juntamente com outros, para garantia da segurança, da ordem pública e da paz social.
No confronto entre o direito de greve e o direito da sociedade à ordem pública e da paz social, no
entender do STF, deve prevalecer o interesse público e social em relação ao interesse individual
de determinada categoria. E essa prevalência do interesse público e social sobre o direito
individual de uma categoria de servidores públicos exclui a possibilidade do exercício do direito
de greve, que é plenamente incompatível com a interpretação do texto constitucional.

6- Quem são os legitimados para propor ADI?


Os legitimados para a propositura da Ação Direta de Inconstitucionalidade genérica visando o
questionamento da constitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual contestados
em face da própria Constituição Federal são aqueles definidos no artigo 103, incisos I a IX da
Constituição Federal,:
a) o Presidente da República;
b) a Mesa do Senado Federal;
c) a Mesa da Câmara dos Deputados;
d) a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal;
e) o Governador de Estado ou do Distrito Federal;
f) o Procurador-Geral da República;
g) o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;
h) partido político com representação no Congresso Nacional;
i) confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.

7- O Instituto Geral de Perícias é órgão de segurança pública?


Não. O Plenário do Supremo Tribunal Federal retirou a expressão “Instituto Geral de Perícias”
do texto da Constituição do Rio Grande do Sul, excluindo a entidade do rol de órgãos policiais,
mas manteve seu funcionamento no estado. Tal decisão foi tomada por maioria de votos, no
julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 2827.
Com o julgamento foi declarada a inconstitucionalidade da Emenda Constitucional nº 19/97 e da
expressão “do Instituto Geral de Perícias” da Emenda Constitucional nº 18/97, ambas da

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Constituição gaúcha, bem como para reconhecer a constitucionalidade da Lei Complementar


estadual 10.687/96, que regulamenta e organiza as atividades do Instituto.
De acordo com a ADI, a criação do Instituto Geral de Perícia entre os órgãos policiais estaduais
autônomos, portanto desvinculado da polícia civil, viola o artigo 144 da Constituição Federal.
Esse artigo prevê que a segurança pública deve ser exercida exclusivamente pelas polícias federal,
rodoviária federal, ferroviária federal, polícias civis, e militares e corpos de bombeiros militares.
Para o ministro Gilmar Mendes, a inclusão do Instituto no rol dos órgãos aos quais compete a
segurança pública não se compatibiliza com os preceitos da Constituição da República.

8- O que se entende por supremacia constitucional material e formal?


Supremacia material significa que a Constituição possui um conteúdo superior aos das demais
leis. Isto é, a Constituição estabelece os direitos e garantias fundamentais, a organização e
estrutura do Estado e dos poderes. Esse viés é característico de toda a Constituição.
Por outro lado, supremacia formal é um atributo exclusivo das Constituições rígidas. Constituição
rígida é caracterizada pelo processo solene para alteração de suas normas (não são as cláusulas
pétreas que caracterizam a rigidez constitucional).
Cabe ressaltar que, para fins de controle de constitucionalidade, a supremacia relevante é a formal.
Quando a Constituição é flexível significa dizer que o processo para alteração da Constituição
possui o mesmo processo de elaboração das leis, motivo pelo qual uma lei pode alterar a
Constituição. Dessa forma, não há razão para existir o controle de constitucionalidade, pois o
processo de alteração é o mesmo das leis.
No caso da CF/88, há um processo que é mais dificultoso para alterar a leis, pois são necessários
dois turnos de votação nas duas casas do Congresso Nacional, devendo haver votos de 3/5 do
total dos membros de cada casa.

9- O que é inconstitucionalidade originária e inconstitucionalidade superveniente?


De acordo com a doutrina, inconstitucionalidade originária é aquela que macula o ato no
momento da sua produção, em razão de desrespeito aos princípios e regras da Constituição então
vigente.
Ao contrário, fala-se em inconstitucionalidade superveniente quando a invalidade da norma
resulta da sua incompatibilidade com texto constitucional futuro, seja ele originário ou derivado
(emenda constitucional). Assim, uma lei editada em 1985 tornar-se-ia supervenientemente
inconstitucional em 05.10.1988, em virtude da promulgação de novo texto constitucional que
fosse com ela incompatível. Ou, ainda, uma lei hoje editada tornar-se-ia supervenientemente
inconstitucional com a promulgação de futura Constituição (ou emenda constitucional) em
sentido contrário.
É preciso compreender que a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal não admite a existência
da inconstitucionalidade superveniente. Para a Corte, a superveniência de texto constitucional

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opera a simples revogação do direito pretérito com ele materialmente incompatível, não havendo
razões para se falar em inconstitucionalidade superveniente. Ou seja, não se trata de juízo de
constitucionalidade, mas sim de mera aplicação de regra de direito intertemporal, segundo a qual
a norma posterior opera a simples revogação (e não a inconstitucionalidade) do direito anterior
com ela materialmente incompatível.

10- A ação direta de inconstitucionalidade prescreve? Ela se submete a algum limite


temporal para impugnação?
A propositura de ação direta de inconstitucionalidade não se sujeita a prazo de prescrição ou
decadência, haja vista que os atos inconstitucionais não se convalidam no tempo. Significa que o
legitimado poderá impugnar a lei ou ato normativo a qualquer tempo, sem preocupação com prazo
prescricional ou decadencial.
Há, porém, dois limites temporais implícitos para essa impugnação.
Em primeiro lugar, devemos lembrar que só se admite a impugnação de leis ou atos normativos
expedidos após 05.10.1988, uma vez que o direito pré-constitucional não pode ser objeto de ação
direta de inconstitucionalidade.
Assim, embora não exista prazo prescricional ou decadencial, é certo que atualmente uma lei de
1987 não poderá ser impugnada em ação direta de inconstitucionalidade, porquanto se trata de
norma editada na vigência de Constituição pretérita. Ademais, as leis e atos normativos só podem
ser impugnados em ação direta de inconstitucionalidade durante o seu período de vigência, pois,
como já analisado, a revogação da norma impugnada prejudica o controle de constitucionalidade
via ação direta.

11- O que se entende por transcendência dos motivos determinantes?


Teoria da Transcendência dos Motivos Determinantes encontra fundamento na doutrina alemã e
leciona que não só o dispositivo do acórdão, mas, também, os fundamentos determinantes da
decisão teriam efeitos vinculantes. Deste modo, a ratio decidendi, ou seja, a razão da decisão,
aquilo que serviu de fundamento para o julgado, passaria a vincular a Administração Pública e os
demais Órgãos do Poder Judiciário.
É muito importante ressaltar que a adoção da teoria da "transcendência dos fundamentos
determinantes" nas decisões proferidas, no controle abstrato, pelo Supremo Tribunal Federal não
se encontra pacificada no âmbito dessa Corte. Com efeito, essa teoria foi inicialmente perfilhada
pelo Tribunal no julgamento da Rei 1.987/DF, rel. Min. Maurício Corrêa, em 01.10.2003.
Posteriormente, tal orientação foi corroborada, na Rei 2.986, rei. Min. Celso de Mello, em
11.03.2005. Entretanto, a partir da Rei 4.219 QO/SP, rel. Min. Joaquim Barbosa, em 07.03.2007,
a questão voltou a ser debatida no STF, com quatro ministros tendo se posicionado em sentido
contrário à adoção da ''transcendência dos motivos determinantes". Em face dessa realidade - a

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utilização da "transcendência dos fundamentos determinantes" estar em debate no Tribunal Maior


-, a aplicação da teoria tem sido negada em julgados posteriores.

12- Conceitue preceito fundamental na ADP.


A Lei 9.882/1999 não enumerou as normas constitucionais que devem ser consideradas "preceitos
fundamentais" cuja lesão enseja a propositura de ADPF. A utilização da palavra "preceito" em
vez de "princípio" teve como objetivo evitar que o conceito a ser delineado pela doutrina e
jurisprudência acabasse restrito aos princípios fundamentais arrolados no Título I da Constituição
Federal. Além disso, a utilização de uma expressão mais genérica, "preceito", permite que sejam
abrangidos pelo conceito não só os princípios, mas também as regras, em suma, qualquer norma,
desde que possa ser qualificada como fundamental.
Outro ponto relevante assinalado pela doutrina em geral diz respeito ao fato de o texto
constitucional mencionar "preceito fundamental, decorrente desta Constituição", o que estaria a
denotar que não é necessário que se trate de uma norma expressa, estando protegidas pela ADPF
também as normas implícitas fundamentais que se possam inferir da Carta Política como um todo.
O Supremo Tribunal Federal deixou claro que compete a ele próprio identificar as normas que
devem ser consideradas preceitos fundamentais decorrentes da Constituição Federal para o fim
de conhecimento das arguições de descumprimento de preceito fundamental que perante a Corte
sejam ajuizadas.

13- Diferencie intervenção espontânea de intervenção provocada.


As hipóteses de intervenção classificam-se em intervenção espontânea e intervenção provocada.
Há intervenção espontânea (ou de oficio) nas hipóteses em que a Constituição autoriza a
efetivação da medida pelo Chefe do Poder Executivo, diretamente e por iniciativa própria. O
Chefe do Executivo, dentro de seu juízo de discricionariedade, decide pela intervenção e, de
oficio, a executa, independentemente de provocação de outros órgãos.
Há intervenção provocada quando a medida depende de iniciativa de algum órgão ao qual a
Constituição tenha conferido tal competência. Nessas hipóteses, não pode o Chefe do Executivo,
por sua iniciativa, decretar e executar a medida, dependendo dele a manifestação de vontade do
órgão que recebeu incumbência constitucional para deflagrar a intervenção.

14- O que é “habeas corpus” preventivo?


Esse tipo de habeas corpus é concedido apenas em uma situação de ameaça à liberdade de
locomoção de uma pessoa, por isso ele é chamado de preventivo. Neste caso, ainda não há um
fato consumado, é apenas para prevenir quando alguém está sendo coagido ou ameaçado, então,
o juiz expede um salvo-conduto.

15- O que é “habeas corpus” profilático?

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Essa espécie teria cabimento quando o risco à liberdade de locomoção é bastante remoto,
longínquo, periférico, mas ainda assim existente. Imagine a situação em que um defensor público
tenha seu acesso aos elementos (já documentados) de investigação policial preliminar (inquérito)
negado, em um delito de furto simples. Há violação a algum direito aqui, basta lembrarmos a
inteligência da Súmula Vinculante 14 do STF:
Súmula Vinculante 14 – É DIREITO DO DEFENSOR, NO INTERESSE DO
REPRESENTADO, TER ACESSO AMPLO AOS ELEMENTOS DE PROVA QUE, JÁ
DOCUMENTADOS EM PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO REALIZADO POR ÓRGÃO
COM COMPETÊNCIA DE POLÍCIA JUDICIÁRIA, DIGAM RESPEITO AO EXERCÍCIO DO
DIREITO DE DEFESA.
Agora, é de se perguntar: não obstante a violação indicada, esse ato atenta contra a liberdade de
locomoção do investigado? É interessante analisar a questão especialmente em face do delito
cometido, pois teoricamente a chance de haver prisão em razão de furto simples é mínima (vide
a teoria das penas).
Para esses casos, é que a doutrina entende pertinente o habeas corpus profilático ou trancativo, já
que o risco existente é meramente acidental, remoto, não manifesto, mas ainda assim presente.
Muitos não aceitam essa classificação, por compreender que essa é a mesma ideia do HC
preventivo.

16- Caso o pedido de certidão não é atendido, qual é o remédio adequado?


O remédio cabível é o mandado de segurança, e não o habeas data.
A injusta recusa estatal em fornecer certidões, não obstante os presentes os pressupostos
legitimadores dessa pretensão, autorizará a utilização de instrumentos processuais adequados,
como o mandado de segurança ou a própria ação civil pública.

17- Quais são as características do habeas data?


Interesse de agir: O STF entende que, para que exista interesse de agir para impetrar habeas data,
é necessário que o impetrante tenha feito o prévio requerimento administrativo e este tenha sido
negado, ou que tenha passado período superior ao razoável, para ser admitido o habeas data.
Inexistência de prazo prescricional: A ação de habeas data não está sujeito a um prazo decadencial
ou prescricional.
Gratuidade da ação: é gratuita o habeas data, não havendo inclusive honorários advocatícios, mas
é exigida a presença de advogado.

18- O que é direito líquido e certo?


Direito líquido e certo é aquele que é demonstrado de plano, de existência manifesta. É apto a ser
exercitado no momento da impetração do mandado de segurança.
Cabe atentar que o mandado de segurança não comporta dilação probatória.

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As provas devem ser pré-constituídas e, em regra, documentais.


Atenção, a exigência de liquidez e certeza recai sobre a matéria de fato. A matéria de direito, por
maior que ela seja, e por mais complexa que se apresente, pode ser apreciada em mandado de
segurança.

19- Quem pode impetrar mandado de segurança coletivo?


• Partido político com representação no Congresso Nacional, na defesa de interesses
legítimos, relativos aos seus integrantes ou relativos à finalidade partidária;
• Organização sindical;
• Entidade de classe;
• Associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos 1 ano.
Este MS coletivo é em defesa de direitos líquidos e certos da totalidade ou de parte de seus
membros ou associados, na forma do Estatuto e pertinentes à sua finalidade, sendo dispensado
autorização dos seus associados. Na verdade, neste caso, essas entidades atuam como substitutos
processuais, em nome próprio, defendendo direito alheio.

20- Qual seria o objetivo do mandado de injunção?


A CF consagra uma série de direitos, mas é possível que esses direitos, ou parte deles, não possa
ser exercida efetivamente pelo seu titular, em razão da falta de norma regulamentadora. Neste
caso, promove-se uma ação em que se pleiteia que o Judiciário reconheça a necessidade de edição
dessa norma, seja pelo Poder Executivo ou pelo Poder Legislativo, a fim de que o Judiciário supra
a falta dessa lei ou ato normativo, para que o titular desse direito possa exercê-lo de maneira
idônea.
A CF vai dizer no art. 5o, LXXI, que conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de
norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das
prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.
A Lei 13.300/16, em seu art. 2o, traz, basicamente, a mesma redação do inciso LXXI, mas com
um acréscimo: “Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta total ou parcial de norma
regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das
prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania”.
Observe que a lei faz um detalhamento do que justifica a impetração do mandado de injunção,
que é pela falta total ou parcial da norma regulamentadora:
- Falta total: inexistência da norma.
- Falta parcial: existência da norma, mas que é insuficiente para que o direito possa ser
integralmente gozado (p.ú. do art. 2º).
Conceitua-se mandado de injunção como sendo uma ação de cunho constitucional (remédio
constitucional) que pode ser proposta por qualquer interessado, com o objetivo de que torne viável
o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade,

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à soberania e à cidadania, e que não estão sendo possíveis ser exercidos em razão da falta total ou
parcial da norma regulamentadora (Dizer O Direito – Márcio André).

21- O que é a síndrome da inefetividade das normas constitucionais? Cite dois instrumentos
para combater esta síndrome.
A síndrome da inefetividade das normas constitucionais ocorre quando o legislador não edita a
norma regulamentadora necessária para que seja exercido um direito constitucional, situação na
qual o direito acaba por não ser exercido. Esta omissão é inconstitucional, pois viola a CF, fazendo
com que as normas constitucionais fiquem ineficazes.
A CF dispõe sobre dois instrumentos para o combate desta síndrome:
• ação direta de inconstitucionalidade por omissão;
• mandado de injunção.

22- O que é o direito de petição?


No inciso XXXIV, a CF estabelece o direito de petição.
A CF assegura a todos, independentemente do pagamento de taxas, o direito de petição.
Esta petição é dirigida aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso
de poder. Perceba que o direito de petição independe do pagamento de taxas. A legitimação é
universal, podendo qualquer pessoa, até mesmo aquele sem personalidade jurídica, peticionar ao
Poder Público. Não há sequer necessidade de assistência por meio de advogado.
Atenção, o direito de petição consagrado constitucionalmente não se confunde com o direito de
ação (direito de obter uma decisão judicial), pois este exige a capacidade postulatória que se dá
por meio de advogado.
São exemplos de inexigibilidade de capacidade postulatória para fins de obtenção de decisão
judicial:
• Habeas corpus;
• Revisão judicial;
• Lei dos Juizados Especiais com valor da causa de até 20 salários-mínimos.
Mas, como regra, para postular em juízo, é necessária a capacidade postulatória (advogado
regularmente inscrito na OAB).

23- O que é a teoria da reserva do possível, na perspectiva dos direitos sociais?


A doutrina estabelece que o Estado deve realizar prestações positivas, implementando direitos
que assegurem o bem-estar social do cidadão, por meio de direitos como a educação, saúde,
segurança, transporte, trabalho, etc. Em razão dos altos custos que tais direitos geram ao Estado,
o poder público alega que a impossibilidade financeira de arcar com tais ônus, levantando a teoria
da reserva do possível.

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Essa teoria diz que os direitos sociais, por exigirem uma disponibilidade financeira do Estado
para sua concretização, estariam sujeitos a uma cláusula, denominada de cláusula de reserva
financeiramente possível, ou simplesmente reserva do possível. É preciso analisar se há
possibilidade financeira ou se é impossível financeiramente.
O exemplo clássico dessa teoria é o chamado salário mínimo. A CF é ousada ao fixar o salário
mínimo, pois, segundo o art. 7o, IV, este deverá ser nacionalmente unificado, capaz de atender a
suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde,
lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe
preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim.
Apesar de todos saberem que tais benefícios não são efetivamente garantidos, sabemos que não
é possível simplesmente dobrar o salário mínimo. Essa impossibilidade de assim proceder se dá
pela aplicação da teoria da reserva do possível, pois daria mais prejuízos ao próprio trabalhador
do que benefícios.

24- Estabeleça um paralelo entre a teoria do mínimo existencial e a teoria da reserva do


possível.
A fim de contrapor a teoria da reserva do possível, a doutrina desenvolveu a teoria do mínimo
existencial. Trata-se de um postulado implícito da CF/88, funcionando como um limite da
cláusula da reserva do possível.
Em verdade, quando chegamos ao mínimo existencial, não pode o Estado negar a prestação do
direito, nem mesmo por alegação de insuficiência de recursos financeiros. Há um mínimo
existencial para existência digna que impede a alegação da reserva do possível.
Com base nisso, é possível entender como funciona a atuação do Poder Judiciário na
implementação dos direitos sociais.
Cabe ressaltar que o mínimo existencial não se confunde com o mínimo vital, também
denominado de mínimo de subsistência, podendo ser dividido em mínimo fisiológico e mínimo
sociocultural:
Mínimo fisiológico: compreende as condições materiais mínimas para uma vida condigna, no
sentido da proteção contra necessidades de caráter;
Mínimo existencial sociocultural: objetiva assegurar ao indivíduo um mínimo de inserção na vida
social e cultural da sociedade. Fundamenta-se no princípio do estado social e princípio da
igualdade, mais precisamente no que diz respeito ao seu conteúdo material.

25- É possível o Poder Judiciário promover políticas públicas?


Em regra, não é incumbência do Poder Judiciário promover a implementação de políticas
públicas. A função de implementar e formular políticas públicas é tipicamente do Legislativo e
do Executivo.

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Apesar de o Poder Judiciário não ter essa função tipicamente, há reiteradas decisões, em especial
do STF, no sentido de que o Judiciário não pode se omitir quando os órgãos com competência
para tanto se omitem. Nesse caso de omissão, em que há o comprometimento do direito, seja
individual ou coletivo, o Judiciário deve intervir.
Cabe lembrar que a judicialização das políticas públicas não é sinônimo de ativismo judicial.
existencial básico, o conteúdo essencial da garantia do mínimo existencial.
Fundamenta-se no direito à vida e na dignidade da pessoa humana (ex.: prestações básicas de
alimentação, vestimenta, abrigo, saúde ou os meios indispensáveis para a sua satisfação).
Judicialização: em síntese, a judicialização consiste em levar ao Judiciário problemas
relacionados a falta de concretização de direitos sociais pelo Legislativo e Executivo e, uma vez
provocado, o Judiciário decidir o conflito efetivando direitos.
Ativismo judicial: é uma postura de interpretar a constituição de modo ampliativo. Normalmente
ele se instala em situações de retração do Poder Legislativo, de um certo deslocamento entre a
classe política e a sociedade civil, impedindo que as demandas sociais sejam atendidas de maneira
efetiva.
Segundo Douglas Eros Pereira Rangel, os direitos sociais originários são aqueles que geram
posições jurídicas subjetivas que podem ser diretamente deduzidas das normas constitucionais
definidoras de direitos fundamentais sociais, independentemente de concretização legislativa. Já
os direitos sociais derivados correspondem às posições jurídicas subjetivas já concretizadas pelo
legislador e que somente podem ser sacadas, não diretamente das normas constitucionais
definidoras de direitos fundamentais sociais, mas da concretização destas pelo legislador
infraconstitucional. Segundo a doutrina, tanto os direitos sociais originários, quanto os derivados
podem ser concretizados, no âmbito judicial, por meio das judicializações das políticas públicas.
O STF já disse ser possível determinar que a administração pública realize obras ou reformas
emergenciais em presídios, a fim de garantir direitos fundamentais dos presos, em especial a
integridade física e mental.
Em verdade, o STF estabelece que é preciso dar efetividade aos direitos fundamentais, dando
relevância ao cumprimento dos direitos sociais, pois são os direitos sociais que dão efetividade à
Constituição. Por conta disso, o STF inclusive admite o bloqueio de verbas públicas em favor de
determinadas pessoas insuficientes para garantir o fornecimento de medicamentos, a fim de
respeitar o direito à saúde e ao direito à vida.
O Poder Judiciário reconhece que existem situações denominadas de Escolhas Trágicas, em que
o próprio Poder Público deve enfrentar dilemas de difícil solução, como é o caso do fornecimento
de um dispendioso tratamento médico a uma pessoa com poucas chances de sobreviver em
detrimento de milhares de pessoas em que poderiam ter suas complicações solucionadas por
aqueles recursos. Esta expressão de tragic choices é o embate entre atender e concretizar um
direito e a dificuldade do poder público alocar esses recursos sem prejudicar outras pessoas,
hipóteses em que

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há dificuldades de escolhas.

26- Discorra sobre o princípio da proibição do retrocesso (efeito cliquet), “jurisprudência


da crise” e princípio do limite do sacrifício.
Este princípio visa atingir o legislador, a fim de vedar a desconstrução daquilo que foi construído,
ou simplesmente destruir o que foi concretizado através da regulamentação de normas
constitucionais.
Este legislador, uma vez tendo regulamentado determinado dispositivo constitucional, não
poderia ser retrocedido, no tocante à matéria, e revogar ou prejudicar o direito já reconhecido ou
concretizado. A proibição do retrocesso significa que se já foi concretizado determinados direitos,
não é possível que tais direitos sejam retrocedidos.
Cabe atentar que, segundo a doutrina, o princípio da vedação do retrocesso social não teria como
destinatário apenas o legislador ordinário, mas também ao constituinte derivado. Por esta razão,
se uma emenda constitucional viesse a suprir certos direitos sociais, esta emenda seria
inconstitucional, por violar o princípio da proibição do retrocesso social.
Vale ressaltar ainda que Gilmar Mendes afirma que não seria possível extinguir direitos sociais
já implementados, evitando-se que atinja o núcleo essencial do direito.
Todavia, o ministro Gilmar Mendes ainda aduz que nos momentos de crise econômica e de
medidas de austeridade, como o corte de gastos por parte dos Estados, existe uma “jurisprudência
da crise”, atenta aos limites materiais do Estado para a concretização de direitos. É o que chamou
a atenção, mais recentemente, nas questões relacionadas a políticas de austeridade, as quais têm
sido submetida ao Tribunal Constitucional português.
Apesar da “jurisprudência da crise”, é forçoso observar o enfrentamento duro com a realidade,
fundado nos princípios do limite do sacrifício e da proibição do retrocesso. A ideia de “limites do
sacrifício” foi mencionada pelo Tribunal português e que se relaciona com os princípios da
proporcionalidade e da igualdade.

27- É possível que o sujeito tenha mais de uma nacionalidade?


SIM. Tendo o sujeito
mais de uma pátria, será ele denominado de polipátrida. Isto ocorre quando dois Estados
soberanos adotam critérios diferentes para determinação da nacionalidade:
• Ius sanguinis
• Ius solis
O Brasil adota o ius solis, ou seja, nasceu no Brasil, será considerado brasileiro.
Já a Itália adota o ius sanguinis, estabelecendo que sendo filho de italiano, também será italiano.
Portanto, tendo o sujeito nascido no Brasil e sendo filho de italiano, o sujeito será polipátrida.

28- O que são os “heimatlos”?

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O sujeito nasceu num lugar em que é adotado o critério do ius sanguinis, mas os seus pais são de
outra nacionalidade, que adota o critério ius solis. Neste caso, o sujeito não adota nenhum critério
por não se adequar a eles.
É o caso de filhos de brasileiros que estão vivendo fora do país (ius solis), mas que venham nascer
na Itália (ius sanguinis). Neste caso, o indivíduo seria apátrida.

29- Em que consiste a normativa da constituição?


Nessa concepção, a Constituição é vista como uma ordem jurídica fundamental, material e aberta
de determinada comunidade.
Ao afirmar que a Constituição é uma ordem jurídica fundamental, isso nos remete à concepção
positivista de que a Constituição é uma lei fundamental do Estado. Já a qualidade de aberta quer
dizer que a Constituição não está fechada em si mesma, como pretendia o positivismo, mas está
aberta a influências externas, sejam morais, ideológicas, políticas, etc..
Para Hans Kelsen, qualquer matéria pode ser tratada na Constituição. A única diferença da
Constituição para a lei seria a hierarquia. Na concepção normativa, a Constituição é também uma
norma jurídica e superior, mas ela não deve tratar de qualquer tema. Nessa concepção, a
Constituição deve tratar apenas de temas propriamente constitucionais, de alta carga política
constitucional, trazendo a ideia de Carl Schimitt acerca da Constituição material.

30- Qual a natureza jurídica o preâmbulo?


Existem duas principais correntes sobre a natureza jurídica do preâmbulo, quais sejam:
a) tese da irrelevância jurídica: o preâmbulo situa-se no domínio da política,
sem relevância jurídica;
b) tese da plena eficácia: tem a mesma eficácia jurídica das normas constitucionais, sendo, porém,
apresentado de forma não articulada;
Posição do STF: O preâmbulo não é norma constitucional. Ele é um protocolo de intenções ou
uma declaração política e não possui força normativa.
Por isso ele não pode ser usado como parâmetro para o exercício do controle de
constitucionalidade e tampouco constitui elemento de reprodução obrigatória pelas constituições
estaduais.

31- O que se entende por patriotismo constitucional?


O patriotismo constitucional é hoje concebido como modelo democrático para integração das
sociedades plurais contemporâneas, em substituição ao antigo nacionalismo e a outros vínculos
identitários particularistas.
No núcleo do patriotismo constitucional está também o reconhecimento das diferenças, a
formação de “acordos para discordar”, de contextos propícios para se “viver e deixar viver”. Em

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outras palavras, ele não envolve qualquer tendência à “homogeneização” cultural. Pelo contrário,
implica o respeito à diversidade e ao pluralismo, acolhidos nas constituições democráticas.
O patriotismo constitucional busca, portanto, o reconhecimento de um constitucionalismo
intercultural, que deve reconhecer a diversidade de culturas e promover a conciliação entre todas
as práticas culturais.

32- Discorra sobre o transconstitucionalismo.


O transconstitucionalismo não se confunde com o constitucionalismo transnacional. O estudo do
constitucionalismo contemporâneo engloba, além do neoconstitucionalismo, o
transconstitucionalismo.
Transconstitucionalismo é o fenômeno pelo qual diversas ordens jurídicas de um mesmo Estado,
ou de Estados diferentes, se entrelaçam para resolver problemas constitucionais.
O transconstitucionalismo decorre do caráter multicêntrico dos sistemas jurídicos mundiais, onde
a conversa e o diálogo desenvolvem-se em vários níveis que se integram, formando um bloco
compacto de comunicação entre os atores do cenário estatal. No lugar da vaidade, do
provincianismo, da rebeldia, da discórdia e da mediocridade, comuns no mundo, abre-se espaço
para o entendimento, a cooperação, a conversa e a criatividade.
Desse modo, podemos dizer que o transconstitucionalismo é um constitucionalismo de níveis
múltiplos ou, melhor dizendo, um constitucionalismo multiplex.
Para solucionar conflitos envolvendo direitos humanos, duas ou mais Cones de Justiça, de
Estados diferentes, rompem suas barreiras territoriais e abandonam o regionalismo em nome da
conversação e do diálogo constitucional.
Segundo Carl Baudenbacher, essa conversação pode ocorrer entre o Tribunal de Justiça das
Comunidades Europeias e os Tribunais dos Estados-membros, bem como entre o Tribunal
Europeu de Direitos Humanos e as Cortes Nacionais.

33- O que é constituição simbólica?


Segundo Marcelo Neves, a Constituição simbólica (também chamada de legislação simbólica) se
define como aquela cujo objetivo é eminentemente político.
Trata-se, portanto, de uma instrumento do Legislador para provocar determinados efeitos sociais.
Desta feita, a Constituição simbólica pode servir para:
 Fortalecer a confiança do cidadão no legislador, fazendo-lhe crer no compromisso deste
último com os interesses sociais – é o que se chama de Constituição-Álibi (Ex.: criação
de leis penais que geram o chamado direito penal simbólico).
 Confirmar determinados valores sociais;
 Solucionar um impasse político por meio daquilo o que doutrinariamente se denomina de
compromisso dilatório, isto é, a postergação de uma efetiva resolução do conflito por meio

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de expedientes normativos – é o que ocorre com algumas normas constitucionais de


eficácia limitada, cuja complementação depende de uma lei posterior.

34- As novas normas constitucionais retroagem?


O STF entendeu que, salvo disposição expressa em contrário pelo poder constituinte originário,
as normas constitucionais novas têm o que se chama de retroatividade mínima, ou seja, elas
alcançam os efeitos futuros de fatos passados. Em outras palavras, elas se aplicam desde já,
alcançando efeitos futuros de fatos ocorridos no passado.
 Retroatividade mínima: a nova norma alcança prestações futuras de negócios celebrados
no passado.
 Retroatividade média: a nova norma alcança prestações pendentes de negócios celebrados
no passado, além de prestações futuras.
 Retroatividade máxima: a nova norma alcança fatos já consumados no passado, inclusive
já alcançados pela coisa julgada.
 Irretroatividade: a lei não retroage para sequer alcançar fatos passados. Só alcança
negócios celebrados a partir de quando entrar em vigor.
As normas constitucionais, em regra, possuem retroatividade mínima, mas podem adotar
retroatividade média e máxima, se assim o constituinte regular.

35- Na hermenêutica constitucional, o que trata o princípio da justeza?


O princípio da justeza, também chamado de princípio da conformidade funcional, vai dizer que
o órgão encarregado de interpretar a Constituição (STF) não pode chegar ao resultado que
subverta ou o esquema organizatório funcional estabelecido pelo legislador constituinte.
Por isso, quando o STF afastou o presidente da Câmara, houve questionamento sobre a
legitimidade do ato jurisdicional. O Supremo pode fazer isso, pois se ele pode decretar a prisão
do parlamentar, o afastamento do cargo seria uma medida menos drástica ainda.

36- Aponte cinco características sobre poder constituinte originário.


As características do poder constituinte originário são:
 POLÍTICO: é um poder de fato, não sendo um poder jurídico, pois não se baseia numa
ordem jurídica. Pelo contrário, faz nascer a ordem jurídica.
 INICIAL: dá início ao Estado, não tendo ele como referência.
 INCONDICIONADO: não se condiciona à forma de manifestar a sua vontade.
 PERMANENTE: o poder constituinte originário não se esgota, podendo se manifestar a
qualquer tempo, quando manifestado pelo seu titular (o povo).
 ILIMITADO: aqui há uma divergência doutrinaria. Em provas objetivas marcar como
ilimitado. Essa característica deve ser visto com ressalvas, pois o direito internacional
limitaria o poder constituinte originário em face da possível afronta aos direitos humanos.
“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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Outros autores dizem que há limites pelo direito natural, em razão de aspectos éticos e
morais. Seja qual for o entendimento, o poder constituinte é ilimitado em seu aspecto
jurídico.

37- Fale sobre os 4 status de Jellinek.


Segundo Jellinek, há a teoria dos quatro status:
 Status passivo: o indivíduo está numa posição de subordinação dos poderes
públicos, tendo deveres perante o Estado.
 Status negativo: o indivíduo é titular de direitos de liberdade, sem ingerências
do Estado.
 Status positivo: o indivíduo é beneficiado pela atuação estatal, por meio de
prestações positivas.
 Status ativo: o indivíduo passa a influir na vontade estatal, participando
politicamente da opinião do Estado.

38- Em que consiste a eficácia horizontal dos direitos humanos?


Consiste na aplicação dos direitos fundamentais às relações entre particulares nas quais existe um
desequilíbrio fático, ou seja, quando se fala em eficácia diagonal, se relaciona também entre
particulares. Contudo, esta relação não é equilibrada, pois do ponto de vista fático existe uma
superioridade de um particular em relação ao outro. Por exemplo, numa relação trabalhista, o
patrão está numa posição superior ao empregado. Outro exemplo é a relação entre consumidor e
comerciante; cliente e um banco etc.

39- Fale sobre a coisa julgada no mandado de injunção


A Lei 13.000 traz uma regra específica sobre coisa julgada. No mandado de injunção, a sentença
faz coisa julgada, mas no mandado de injunção coletivo a sentença faz coisa julgada
limitadamente às partes integrantes da coletividade e do grupo, substituídas pelo impetrante.
O mandado de injunção coletivo não induz litispendência em relação aos individuais, então se o
sujeito impetrou mandado de injunção individual, e posteriormente outro veio impetrar mandado
de injunção coletivo, não haverá litispendência. Todavia, os efeitos da coisa julgada não irão
beneficiar o impetrante se ele não requereu a desistência da demanda individual no prazo de 30
(trinta) dias a contar da ciência comprovada da impetração coletiva (parágrafo único do art. 13).
Se houver uma norma posterior regulamentando a matéria, já tendo inclusive transitado em
julgado a decisão concessiva do MI, a nova norma vai produzir efeitos ex nunc, ou seja, não
retroage, devendo respeitar o ato jurídico perfeito, direito adquirido e a coisa julgada. Poderá
retroagir desde que seja mais favorável. O que a Constituição veda é que a lei prejudique o ato
jurídico perfeito, direito adquirido e a coisa julgada, razão pela qual se for para beneficiar poderá
retroagir.

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40- O que é ação popular?


A ação popular está previsto no art. 5º, LXXIII, da CF, dizendo que qualquer cidadão é parte
legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de
entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas
judiciais e do ônus da sucumbência.

41- Em que consiste a Retroatividade inautêntica (ou retrospectividade)?


A retrospectividade é instituto similar à retroatividade mínima, porém com ela não se confunde.
Para a retroatividade mínima, a nova lei que entra em vigor altera as consequências jurídicas de
fatos ocorridos antes da sua edição. Por outro lado, a retrospectividade dispõe que a nova lei deve
atribuir novos efeitos jurídicos, a partir de sua edição, a fatos ocorridos anteriormente.
Enquanto a retroatividade é vedada expressamente pela CF, a Constituição Cidadã nada dispõe
acerca da retrospectividade.
Nas palavras do Min. Fux:
“A aplicabilidade da Lei Complementar nº 135/10 a processo eleitoral posterior à respectiva data
de publicação é, à luz da distinção supra, uma hipótese clara e inequívoca de retroatividade
inautêntica, ao estabelecer limitação prospectiva ao ius honorum (o direito de concorrer a cargos
eletivos) com base em fatos já ocorridos. A situação jurídica do indivíduo – condenação por
colegiado ou perda de cargo público, por exemplo – estabeleceu-se em momento anterior, mas
seus efeitos perdurarão no tempo. Portanto, ainda que se considere haver atribuição de efeitos,
por lei, a fatos pretéritos, cuida-se de hipótese de retrospectividade (...)
Explica-se: trata-se, tão-somente, de imposição de um novo requisito negativo para a que o
cidadão possa candidatar-se a cargo eletivo, que não se confunde com agravamento de pena ou
com bis in idem.”
Segundo Márcio André, editor do blog “Dizer o Direito”1, o Min. Luiz Fux sustentou que, como
a inelegibilidade do art. 22, XIV, da LC 64/90 não se constitui em sanção, a ampliação do prazo
nele previsto (de 3 para 8 anos) pela Lei da Ficha Limpa não representa ofensa à retroatividade
máxima.
Para o STF, aplicar a Lei da Ficha Limpa para fatos ocorridos antes da sua vigência não configura
uma autêntica (uma verdadeira) retroatividade. Isso é aquilo que se pode chamar de retroatividade
inautêntica (ou retrospectividade)

1CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É aplicável a alínea “d” do inciso I do art. 1º da LC 64/90, com a redação dada
pela LC 135/2010, a fatos anteriores a sua publicação. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/3cc697419ea18cc98d525999665cb94a>.
Acesso em: 22/08/2018
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42- O que trata a jurisprudência dos interesses da doutrina alemã?


Desenvolvida pelo jurista Philipp Heck, a jurisprudência dos interesses representa a ideia de uma
interpretação teleológica. Para o jurista, o escopo da jurisprudência, e em particular, da decisão
judicial dos casos concretos, é a satisfação de necessidades da vida, de desejos e de aspirações,
tanto de ordem material como ideal, existentes na sociedade. São esses desejos e aspirações que
chamamos de interesse e a jurisprudência dos interesses caracteriza-se pela preocupação de nunca
perder de vista esse escopo nas várias operações a que tem de proceder e na elaboração dos
conceitos.

43- Em que consiste a jurisprudência dos valores?


Essa nova teoria denomina-se jurisprudência das valorações, porque os interesses sociais ficam
subsumidos aos critérios de valor mais profundos.
Jurisprudência das valorações vai considerar as dualidades valor/realidade, ser/dever-ser,
natureza/cultura como relações cognoscitivas presentes nas ações humanas. O legislador age
valorando os interesses individuais e gerais da comunidade, ordenando-os de acordo com as
circunstâncias históricas concretas.
O modo como ele valora esses diversos interesses e necessidades produz efeitos decisivos na
interpretação posterior das leis. Um jurista brasileiro, que muito contribuiu para o
desenvolvimento dessa teoria foi Miguel Reale.

DIREITO ADMINISTRATIVO

1- Apresente o conceito de Direito Administrativo.


Segundo a doutrina, Direito Administrativo é o ramo do direito público que trata de princípios e
regras que disciplinam a função administrativa e que abrange entes, órgãos, agentes e atividades
desempenhadas pela Administração Pública na consecução do interesse público.
Função administrativa é a atividade do Estado de dar cumprimento aos comandos normativos
para realização dos fins públicos, sob regime jurídico administrativo (em regra), e por atos
passíveis de controle.
A função administrativa é exercida tipicamente pelo Poder Executivo, mas pode ser
desempenhada também pelos demais Poderes, em caráter atípico. Por conseguinte, também o
Judiciário e o Legislativo, não obstante suas funções jurisdicional e legislativa (e fiscalizatória)
típicas, praticam atos administrativos, realizam suas nomeações de servidores, fazem suas
licitações e celebram contratos administrativos, ou seja, tomam medidas concretas de gestão de
seus quadros e atividades.

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Função administrativa relaciona-se com a aplicação do Direito, sendo consagrada a frase de


Seabra Fagundes no sentido de que “administrar é aplicar a lei de ofício”

2- O que é sistema administrativo e qual foi adotado no Brasil?


Sistema administrativo é o regime adotado pelo Estado para o controle dos atos administrativos
ilegais ou ilegítimos praticados pelo Poder Público em seus vários níveis de governo.
Há o sistema francês ou do contencioso administrativo, sendo o que analisa com exclusividade
os atos administrativos, excluindo-os da apreciação judicial. Nesse sistema, há uma jurisdição
especial do contencioso administrativo, formada por tribunais de índole administrativa, o que
determina a existência de uma dualidade de jurisdição, qual seja, a jurisdição administrativa,
formada pelos tribunais de natureza administrativa, e a jurisdição comum, formada pelos órgãos
do Poder Judiciário, com a competência de resolver os demais litígios.
Do outro lado, temos o sistema inglês, que também é chamado de sistema judiciário, da jurisdição
una ou do controle judicial, sendo o que todos os litígios, sejam administrativos ou de interesses
exclusivamente privados, podem ser resolvidos pelo Poder Judiciário, que é o único capaz de
produzir decisões definitivas, com força de coisa julgada.
Nosso ordenamento jurídico adotou o sistema inglês, de jurisdição una, de forma que os atos
administrativos sempre podem ser analisados pelo Poder Judiciário, que é o único que finalizará
os conflitos, estabilizando-os com a definitividade própria da coisa julgada.

3- O que é administração pública em sentido formal e em sentido material?


Administração pública em sentido formal subjetivo ou orgânico é o conjunto de órgãos, pessoas
jurídicas e agentes que o nosso ordenamento jurídico identifica como administração pública, não
importa a atividade que exerçam (como regra, evidentemente, esses órgãos, entidades e agentes
desempenham função administrativa).
Administração pública em sentido material, objetivo ou funcional representa o conjunto de
atividades que costumam ser consideradas próprias da função administrativa. O conceito adota
como referência a atividade (o que é realizado), não obrigatoriamente quem a exerce. São
usualmente apontadas como próprias da administração pública em sentido material as seguintes
atividades:
1) serviço público (prestações concretas que representem, em si mesmas, diretamente, utilidades
ou comodidades materiais para a população em geral, oferecidas pela administração pública
formal ou por particulares delegatários, sob regime jurídico de direito público);
2) polícia administrativa (restrições ou condicionamentos impostos ao exercício de atividades
privadas em benefício do interesse público; exemplo típico são as atividades de fiscalização);
3) fomento (incentivo à iniciativa privada de utilidade pública, por exemplo, mediante a
concessão de subvenções e benefícios fiscais);

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4) intervenção (abrangendo toda intervenção do Estado no setor privado, exceto a sua atuação
direta como agente econômico; estão incluídas a intervenção na propriedade privada, a exemplo
da desapropriação e do tombamento, e a intervenção no domínio econômico como agente
normativo e regulador, por exemplo, mediante a ah1ação das agências reguladoras, a adoção de
medidas de repressão a práticas tendentes à eliminação da concorrência, a formação de estoques
reguladores etc.).

4- Qual a diferença entre descentralização e desconcentração?


A atividade administrativa pode ser prestada de duas formas, uma é a centralizada, pela qual o
serviço é prestado pela Administração Direta, e a outra é a descentralizada, em que o a prestação
é deslocada para outras Pessoas Jurídicas.
Assim, descentralização consiste na Administração Direta deslocar, distribuir ou transferir a
prestação do serviço para a Administração a Indireta ou para o particular. Note-se que, a nova
Pessoa Jurídica não ficará subordinada à Administração Direta, pois não há relação de hierarquia,
mas esta manterá o controle e fiscalização sobre o serviço descentralizado.
Por outro lado, a desconcentração é a distribuição do serviço dentro da mesma Pessoa Jurídica,
no mesmo núcleo, razão pela qual será uma transferência com hierarquia.

5- O que são poderes administrativos?


Os poderes administrativos são ferramentas de regulação da atuação da Administração Pública.
Isso quer dizer que a definição das funções administrativas de cada parte da composição do poder
público possui uma série de deveres e poderes, e estes são regulamentados pelos poderes
administrativos que são atribuídos a estas instituições.
De forma geral, os poderes administrativos são responsáveis por definir quais são os limites e as
obrigações de cada instituição, cargo e procedimento existente na administração pública, de
acordo com os interesses do Estado e da sociedade.

6- Conceitue o princípio da continuidade do serviço público.


O princípio da continuidade, também chamado de Princípio da Permanência, consiste na
proibição da interrupção total do desempenho de atividades do serviço público prestadas a
população e seus usuários. Entende-se que, o serviço público consiste na forma pelo qual o Poder
Público executa suas atribuições essenciais ou necessárias aos administrados. Diante disso,
entende-se que o serviço público, como atividade de interesse coletivo, visando a sua aplicação
diretamente a população, não pode parar, deve ele ser sempre continuo, pois sua paralisação total,
ou até mesmo parcial, poderá acarretar prejuízos aos seus usuários, e não somente a eles, tendo
em vista que destes prejuízos poderão ser exigidos ressarcimentos e até mesmo indenizações,
recairá estes prejuízos aos próprios servidores públicos.

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Sabe-se que o serviço público é fundamental e indispensável para a população, tendo em vista
que várias áreas e atividades dos órgãos públicos, além de ligadas diretamente a população, hoje
em dia podemos considerá-las como obrigatória sua utilização pelos que dela dependem.

7- Conceitue poder de polícia e indique as suas respectivas fases.


Poder de polícia é a função administrativa que tem por objeto aplicar concreta, direta e
imediatamente as limitações e os condicionamentos legais ao exercício de direitos fundamentais,
compatibilizando-os com interesses públicos, também legalmente definidos, com a possibilidade
de possibilitar uma convivência ordeira e valiosa.
De acordo com a doutrina, há quatro modos de atuação da polícia administrativa, os quais
correspondem ao ciclo de polícia:
A) ordem de polícia: é o preceito legal básico que dá validade à limitação prevista, para que não
se pratique ato que lesionará o interesse público ou para que não deixe de fazer algo que evitará
a lesão ao interesse público;
b) consentimento de polícia: é o ato administrativo que confere anuência ao exercício de atividade
ou ao uso de propriedade e somente existe se for a segunda espécie de ordem de polícia ("preceito
negativo com reserva de consentimento");
c) fiscalização de polícia: é a verificação se as ordens de polícia estão sendo cumpridas (se não
está sendo exercida uma atividade vedada ou se uma atividade consentida está sendo executada
dentro dos limites estabelecidos);
D) sanção de polícia: é a fase em que, verificada afronta à ordem de polícia, é aplicada a pena de
polícia (ex. Demolição de edificações, apreensão de mercadoria, guinchamento de veículo).

8- Diferencie decretos autônomos de decretos regulamentares.


A EC nº 32/2001 permitiu em nosso ordenamento os chamados "decretos autônomos". Tais
decretos são de cunho não regulamentar, e seu fundamento de validade repousa diretamente na
Constituição. Em relação a essas matérias o regulamento pode sim ser autônomo, na medida em
que podem inovar na ordem jurídica.
Os decretos autônomos diferenciam-se dos chamados decretos regulamentares, que estão
dispostos no Art. 84, IV, da Constituição e servem apenas para minudenciar uma lei já existente.
Tais decretos não criam, modificam ou extinguem direitos, possuem cunho apenas regulamentar,
e encontram fundamento de validade na lei que regulamentam, e não na constituição.

9- O que é poder de polícia originário e delegado?


Salienta Hely L. Meirelles que o poder de polícia delegado é limitado aos termos da delegação e
se caracteriza por atos de execução. Daí, conclui o conceituado doutrinador, que no poder de
polícia delegado não se compreende a imposição de taxas, porque o poder de tributar é
intransferível da entidade estatal que o recebeu constitucionalmente. O poder de polícia originário

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é pleno no seu exercício e consectário, ao passo que o delegado é limitado aos termos da
delegação e se caracteriza por atos de execução.
A doutrina consagrou expressão "poder de polícia delegado'', muito embora o emprego do
vocábulo "delegado" possa causar alguma confusão. Com efeito, a hipótese aqui tratada é de
descentralização mediante outorga legal e não de descentralização por colaboração. Esta última
implica transferência a particulares - não mediante lei, e sim, em regra, por meio de contrato
administrativo - a execução de determinado serviço público. Nada tem a ver com exercício de
poder de polícia.

10- O que são atos de império?


Os atos de império, também chamados "atos de autoridade", são aqueles que a administração
impõe coercitivamente aos administrados, criando para eles obrigações ou restrições, de forma
unilateral e independentemente de sua anuência. Têm como fundamento o princípio da
supremacia do interesse público; sua prática configura manifestação do denominado "poder
extroverso" ou "poder de império".
Tais atos são praticados de oficio (ex officio) pela administração, isto é, sem que tenham sido
requeridos ou solicitados pelo administrado. A observância dos atos de império é obrigatória para
os seus destinatários, sem prejuízo, evidentemente, da possibilidade de serem questionados
judicialmente.
São exemplos de atos de império a desapropriação de um bem privado, a interdição de um
estabelecimento comercial, a apreensão de mercadorias, a imposição de multas administrativas
etc.

11- Descreva motivação do ato administrativo.


Motivação é a declaração escrita do motivo que determinou a prática do ato. É a demonstração,
por escrito, de que os pressupostos autorizadores da prática do ato realmente estão presentes, isto
é, de que determinado fato aconteceu e de que esse fato se enquadra em uma norma jurídica que
impõe ou autoriza a edição do ato administrativo que foi praticado.
Na demissão de um servidor, por exemplo, o elemento motivo é a infração por ele praticada,
determinante dessa modalidade de punição; já a motivação consiste na caracterização, por escrito,
da infração (pressuposto de fato) - mediante a descrição dos fatos ocorridos, o relato da conduta
adotada pelo servidor, a enumeração dos elementos que demonstram a existência de dolo ou culpa
etc. - e na indicação, por escrito, de que aquela infração está enquadrada em um dispositivo legal
que determina a demissão do servidor.
Em suma, a motivação é, simplesmente, a declaração escrita do motivo que levou à prática do
ato. É o agente público, ao editar o ato, escrever: "Fulano, servidor público deste órgão, teve um
filho (pressuposto fático); como a Lei X determina que deve ser concedida licença de cinco dias

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nesses casos (pressuposto de direito), concedo a Fulano, por cinco dias, a referida licença (objeto
do ato administrativo)".

12- Apresente o que se entende por teoria dos motivos determinantes.


A denominada teoria dos motivos determinantes consiste em, simplesmente, explicitar que a
administração pública está sujeita ao controle administrativo e judicial (portanto, controle de
legalidade ou legitimidade) relativo à existência e à pertinência ou adequação dos motivos - fático
e legal - que ela declarou como causa determinante da prática de um ato.
Caso seja comprovada a não ocorrência da situação declarada, ou a inadequação entre a situação
ocorrida (pressuposto de fato) e o motivo descrito na lei (pressuposto de direito), o ato será nulo.
A teoria dos motivos determinantes aplica-se tanto a atos vinculados quanto a atos discricionários,
mesmo aos atos discricionários em que, embora não fosse obrigatória, tenha havido a motivação.
É importante frisar que a teoria dos motivos determinantes tem aplicação mesmo que a motivação
do ato não fosse obrigatória, mas tenha sido efetivamente realizada pela administração.
Exemplificando, a nomeação e a exoneração do servidor ocupante de cargo em comissão
independem de motivação declarada. O administrador pode, portanto, dentro da sua esfera de
competências, nomear e exonerar livremente, sem estar obrigado a apresentar qualquer
motivação. Contudo, caso ele decida motivar o seu ato, ficará sujeito à verificação da existência
e da adequação do motivo exposto.

13- O que são atos negociais?


Os atos negociais são editados em situações nas quais o ordenamento jurídico exige que o
particular obtenha anuência prévia da administração para realizar determinada atividade de
interesse dele, ou exercer determinado direito. Quando há direito do particular, a administração
deve praticar o ato, sempre que o administrado demonstre que cumpre todos os requisitos
estabelecidos na lei como condição para exercício daquele direito.
Na hipótese de existir mero interesse do administrado (e não um direito subjetivo à prática do ato
negocial), a administração praticará, ou não, o ato negocial solicitado, conforme seus critérios de
conveniência e oportunidade administrativas.

14- Diferencie licença de autorização.


Licença é ato administrativo vinculado e definitivo, editado com fundamento no poder de polícia
administrativa, nas situações em que o ordenamento jurídico exige a obtenção de anuência prévia
da administração pública como condição para o exercício, pelo particular, de um direito subjetivo
de que ele seja titular. Por ser a licença um ato vinculado, uma vez atendidas as exigências legais
e regulamentares pelo interessado, deve a administração concedê-la, ou seja, existe direito
subjetivo do particular à sua obtenção.

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Autorização é um ato administrativo por meio do qual a administração pública possibilita ao


particular a realização de alguma atividade de predominante interesse deste, ou a utilização de
um bem público. Na maior parte dos casos, a autorização configura um ato de polícia
administrativa - quando constitui uma exigência imposta corno condição para a prática de uma
atividade privada ou para o uso de um bem público -, mas existem também autorizações que
representam uma modalidade de descentralização mediante delegação, visando à prestação
indireta de determinados serviços públicos.
Segundo o entendimento doutrinário há muito consagrado, a autorização, seja qual for o seu
objeto, é um ato discricionário- Assim, cabe exclusivamente à administração decidir sobre a
oportunidade e a conveniência do deferimento, ou não, da autorização requerida, significa dizer,
não se pode cogitar a existência de direito subjetivo do particular à obtenção do ato.
Ademais, mesmo depois de obtida a autorização, não tem o particular direito à sua manutenção,
podendo a administração revogá-la a qualquer tempo, ou seja, trata-se de um ato administrativo
precário.

15- O que é cassação do ato administrativo?


A cassação é a extinção do ato administrativo quando o seu beneficiário deixa de cumprir os
requisitos que deveria permanecer atendendo, como exigência para a manutenção do ato e de seus
efeitos. No mais das vezes, a cassação funciona como uma sanção para aquele particular que
deixou de cumprir as condições exigidas para a manutenção de um determinado ato.

16- Além dos casos previstos na Constituição Federal, Lei ordinária pode estabelecer outros
monopólios?
SIM, mas apenas para fins de serviços públicos, não podendo fazê-lo para fins de serviços
privados.
Ex.: serviço postal.

17- O que é administração dialógica?


A administração dialógica é a ideia de estabelecimento de diálogo. É a abertura de um diálogo
entre a administração e os administrados, permitindo que estes colaborem com a agilidade das
atividades administrativas.
A atividade administrativa será melhor e terá mais legitimidade, visto que se chegou a uma
decisão após ouvir a sociedade.
Essa administração dialógica pode ocorrer quando a administração pública se presta a fazer
audiências públicas para ouvir as pessoas da localidade quando promoverá grande
empreendimento no local, ou quando ouve a sociedade em relação ao orçamento participativo.

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18- Quais são as principais distinções entre a prestação de o serviço público propriamente
dito e as demais atividades executadas pelo Estado, vale dizer, obra pública, poder de polícia
e exploração de atividade econômica?
Inicialmente, a obra pública é uma atividade estanque, com projeto que determina início e fim
das atividades. O serviço difere da execução de obras porque é uma atuação constante,
configurando comodidade prestada de forma contínua.
O poder de polícia trata-se de atuação restritiva do poder público, diferente da prestação do
serviço, que é medida ampliativa.
No que se refere à atividade econômica, quando o ente estatal atua no mercado, explorando
atividade econômica, submete-se às normas de direito privado, não se beneficiando das
prerrogativas de poder público.

19- Quais são os princípios dos serviços públicos?


O serviço público está submetido ao regime de direito público, o que significa que deve
obediência aos princípios de Direito Administrativo definidos, no texto constitucional, de forma
expressa ou implícita. Sendo assim, o Estado deve respeitar, na prestação de serviços, os
princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
Alguns princípios são definidos pela Lei 8.987/95, que regulamenta a prestação dos serviços
públicos, bem como a concessão de permissão feita a particulares, e devem ser analisados de
forma cuidadosa em relação a estas atividades.
Estabelece que o poder público não poderá se escusar da prestação de serviços públicos,
configurando-se poder-dever do ente estatal, que tem a possibilidade de prestá-lo diretamente ou
mediante delegação a particulares, por contratos de concessão de permissão.
Cumpre referir, outrossim, os seguintes princípios: modicidade, atualidade, cortesia,
economicidade, generalidade, submissão a controle, continuidade e isonomia.

20- Diferencie serviços “uti singuli” e serviços “uti universi”.


Serviços Gerais ou “uti universi” - são aqueles que a Administração presta sem Ter usuários
determinados, para atender à coletividade no seu todo. Ex.: polícia, iluminação pública,
calçamento. Daí por que, normalmente, os serviços uti universi devem ser mantidos por imposto
(tributo geral), e não por taxa ou tarifa, que é remuneração mensurável e proporcional ao uso
individual do serviço.
Serviços Individuais ou “uti singuli” - são os que têm usuários determinados e utilização
particular e mensurável para cada destinatário. Ex.: o telefone, a água e a energia elétrica
domiciliares. São sempre serviços de utilização individual, facultativa e mensurável, pelo quê
devem ser remunerados por taxa (tributo) ou tarifa (preço público), e não por imposto.

21- Diferencie serviços industriais, serviços administrativos e serviços sociais.

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Serviços Industriais - são os que produzem renda mediante uma remuneração da utilidade usada
ou consumida. Ex.: ITA, CTA.
Serviços Administrativos - são os que a administração executa para atender as suas necessidades
internas. Ex.: Imprensa Oficial.
Serviços Sociais - são prestados diretamente pelo Estado, para satisfação dos interesses da
sociedade, em paralelo à execução pela iniciativa privada.

22- Diferencie serviços de utilidade pública, serviços próprios do Estado e serviços


impróprios do Estado.
Inicialmente, serviços públicos são os que a Administração presta diretamente à comunidade, por
reconhecer sua essencialidade e necessidade para a sobrevivência do grupo social e do próprio
Estado. Por isso mesmo, tais serviços são considerados privativos do Poder Público, no sentido
de que só a Administração deve prestá-los, sem delegação a terceiros. Ex.: defesa nacional, de
polícia, de preservação da saúde pública.
Serviços de Utilidade Pública - Serviços de utilidade pública são os que a Administração,
reconhecendo sua conveniência (não essencialidade, nem necessidade) para os membros da
coletividade, presta-os diretamente ou aquiesce em que sejam prestados por terceiros
(concessionários, permissionários ou autorizatários), nas condições regulamentadas e sob seu
controle, mas por conta e risco dos prestadores, mediante remuneração dos usuários. Ex.: os
serviços de transporte coletivo, energia elétrica, gás, telefone.
Serviços próprios do Estado - são aqueles que se relacionam intimamente com as atribuições
do Poder Público (Ex.: segurança, polícia, higiene e saúde públicas etc.) e para a execução dos
quais a Administração usa da sua supremacia sobre os administrados. Não podem ser delegados
a particulares. Tais serviços, por sua essencialidade, geralmente são gratuitos ou de baixa
remuneração.
Serviços impróprios do Estado - são os que não afetam substancialmente as necessidades da
comunidade, mas satisfazem interesses comuns de seus membros, e, por isso, a Administração os
presta remuneradamente, por seus órgãos ou entidades descentralizadas (Ex.: autarquias,
empresas públicas, sociedades de economia mista, fundações governamentais), ou delega sua
prestação.

23- Discorra acerca da classificação de agentes públicos.


Celso Antônio classifica os agentes públicos em:
• Agentes políticos
• Servidores públicos
• Militares
• Particulares em colaboração com o poder públicos
a) Agente político

“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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Agentes políticos são os responsáveis pela vontade política do Estado.


São agentes políticos:
• Presidente da República, governador de Estado e prefeitos.
• Ministro de estado, secretário estadual e secretário municipal.
• Deputados federais e senadores, deputados estaduais, distritais e vereadores.
• Membros do MP e membros do Poder Judiciário (STF entende assim).
Em relação aos membros de Tribunais de Contas, é encontrado precedentes do STF
que não se enquadram no conceito de agente político. O STF entende que a súmula que veda
nepotismos se aplica aos membros dos Tribunais de Contas, e ela só se aplica àqueles que não
são agentes políticos.
A doutrina se posiciona no sentido de que são agentes políticos os membros de Tribunais de
Contas e os membros de carreira diplomática.
Integrante da AGU, de procuradoria do Estado e de município não são considerados agentes
políticos, e sim servidores públicos.
b) Servidores públicos
Servidor público é o agente público que tem vínculo com a administração, podendo ser direta ou
indireta. É um agente público que recebe a remuneração do Estado.
Os servidores públicos podem ser classificados em:
• Servidores estatutários
• Empregados públicos
• Servidores temporários
i. Servidores estatutários
Servidor estatutário é aquele que está sujeito a um estatuto.
O regime estatutário é aquele estabelecido pela lei, estabelecendo direito e obrigações do servidor
público para com o Estado.
Estes servidores ocupam cargos públicos.
Havendo uma desavença pelo servidor contra o Estado, é solucionado pela Justiça Comum.
ii. Empregados públicos
O empregado público tem uma relação empregatícia, sendo submetido à legislação trabalhista. É
uma relação de trabalho regida pela CLT.
Havendo uma desavença com seu empregador, será julgado pela Justiça de Trabalho.
iii. Servidores temporários
O servidor temporário encontra suas previsões na CF, podendo ser contratados sem concurso por
um tempo determinado.
O que justifica a contratação de servidores temporários é a situação de necessidade temporária
de excepcional interesse público.
O servidor temporário vai exercer uma função, mas não está vinculado a um cargo e nem a um
emprego público.

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O STJ decidiu que é possível a contratação temporária de servidor temporário, ainda que
seja para o exercício de atividade permanente, desde que haja uma situação temporária de
excepcional interesse público.
Servidor temporário deverá ser julgado na Justiça Comum, pois a relação jurídica estabelecida
com o Estado é uma relação jurídica de direito público.
c) Militares
Os militares são agentes públicos, com previsão na CF, mas o regime será disciplinado em lei
própria.
O regime jurídico pelos militares é erigido sob dois pilares hierarquia e disciplina.
São direitos dos militares:
• Direito ao 13o salário.
• Direito ao salário-família.
• Gozo de férias remuneradas com um terço a mais.
• Direito a licença gestante e paternidade
Aos militares é vedada a sindicalização, a greve e a filiação partidária.
Quanto à vedação de greve por militares, o STF estende esta vedação aos policiais
civis, a despeito de a norma ser restritiva de direitos e da inexistência de óbice explícito ao
policial civil.
d) Particulares em colaboração com o Poder Público
Aqui há um particulare que colabora com o Poder Público. Há pessoas físicas que prestam
serviços ao Estado sem vínculo empregatício, com ou sem remuneração.
Os particulares em colaboração com o Poder Público podem ser classificados em:
• Particulares que receberam uma delegação do poder público: é o caso dos serviços notariais
(concurso de cartórios). O oficial de cartório recebe uma delegação do poder público, exercendo
uma função pública em seu próprio nome. Aqui há o oficial do cartório, registrador, notarial, etc.,
os quais são remunerados pelo particular.
• Particulares em colaboração por requisição, nomeação ou designação: esses são os jurados,
conscritos, mesários da justiça eleitoral, etc.
• Gestores de negócios: é uma pessoa que assume espontaneamente o desempenho de uma função
pública, pois está diante de uma situação de emergência. Não há nomeação e nem designação do
Estado. Ex.: terremoto, epidemia ou inundação, o particular colabora com o poder público.

24 - Diferencie cargo, emprego e função pública.


a) Cargo público
Cargo é um local criado por lei, dentro do serviço público, que possui uma
atribuição, nomenclatura e uma remuneração própria. Ex.: concurso para o cargo de
delegado de polícia civil.
O cargo se subdivide em:

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• Cargo efetivo: é o cargo cujo provimento deriva de um concurso público, ou seja, de prévia
aprovação em concurso público.
• Cargo em comissão: é um cargo de livre nomeação e livre exoneração, devendo ser criados por
lei, mas apenas para atribuições de direção, assessoramento ou de chefia. A CF diz que a lei vai
determinar um percentual mínimo para esses cargos em comissão que devem ser ocupados
por servidores de carreira.
b) Emprego público
Emprego público é um local no serviço público, também criado por lei, que também possui uma
atribuição, nomenclatura e uma remuneração própria. O emprego público se submete ao
regime trabalhista (CLT).
É o vínculo que liga a pessoa à administração que diferencia o emprego público do cargo público.
c) Função pública
Função é atribuição, é a atividade que o servidor faz.
Existe função sem cargo e sem emprego, como é o caso do particular em colaboração com a
administração. Todo cargo possui função, mas nem toda função tem um cargo.
A função pode ser conferida ao cargo, mas que pode ser conferida a alguém que desempenha uma
função pública em caráter excepcional.
Os cargos, empregos e as funções públicas só podem ser criados por lei. No entanto, a extinção
de cargos e funções públicas podem se dar por meio de decretos ou por meio de lei. São os
chamados decretos autônomos, expedidos pelo chefe do poder executivo.
i. Diferença entre cargo em comissão e função de confiança
Funções de confiança são atribuições baseadas na confiança, as quais só podem ser criadas por
lei, para o desempenho de chefia, assessoramento ou direção.
A diferença é que a função de confiança só pode ser desempenhada por servidor de carreira
(efetivo).
O cargo em comissão pode ser exercido por uma pessoa sem vínculo com a administração ou por
servidores de cargos efetivo.

25- Quais são as fases evolutivas atinentes à responsabilidade civil do Estado?


Historicamente, verifica-se que a responsabilização civil do Estado evoluiu por diversas fases,
seguindo variadas teorias.
Assim, sucederam-se no tempo as seguintes teorias:
1. Irresponsabilidade do Estado;
2. Responsabilidade subjetiva do Estado;
3. Responsabilidade objetiva do Estado;
4. Risco integral.
Irresponsabilidade do Estado

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Essa a primeira teoria, teve vigência durante os Estados absolutistas, que impunham a figura do
rei como o senhor maior das decisões estatais, aquele a quem competia dizer o que era certo ou
errado.
Qualquer ação, dele mesmo ou de seus representantes, era tida como legítima, não passível de
qualquer responsabilização, pois “o rei não pode errar” (do inglês: “the king can do no wrong”)
ou “o rei não pode fazer mal” (do francês: “le roi ne peut mal faire”), ou ainda, “aquilo que agrada
ao príncipe tem força de lei” (do latim: “quod principi placuit habet legis vigorem”).
Por sua patente injustiça, essa teoria deixou de existir no século XIX, dando lugar à
responsabilidade subjetiva do Estado.
Responsabilidade Subjetiva do Estado
Após o período de irresponsabilidade total do Estado quanto aos prejuízos por ele causados,
nasceu a responsabilidade subjetiva, ou teoria da culpa civil, uma vez que equiparava o Estado
ao indivíduo, obrigando a ambos da mesma forma, é dizer,sempre que houvesse culpa, haveria
o dever de indenizar.
A culpa aqui é vista de maneira ampla, incluindo o dolo (intenção de provocar o dano) e a culpa
propriamente dita (dano causado por imprudência, negligência ou imperícia).
Assim, caberia ao prejudicado a obrigação de demonstrar a culpa do agente público, e o nexo
causal entre o dano verificado e sua conduta.
Responsabilidade Objetiva Do Estado
De forma diversa da anterior, seguindo a teoria do risco administrativo, em havendo um dano
provocado pela Administração, ele deve ser reparado, independente de dolo ou culpa desta.
Diz-se teoria do risco em face da existência intrínseca de um risco vinculado à atividade estatal,
que deve ser suportado pelo próprio Estado.
Aqui o ônus da prova se inverte. Ao prejudicado, basta a prova do dano e do nexo causal deste
com a conduta do agente público. É a Administração Pública que terá que provar a culpa do
particular, situação em que se livrará da responsabilidade pelos danos, ou a culpa concorrente,
quando terá minimizada sua responsabilidade.
Então, aqui fica clara uma exceção à teoria do risco administrativo: caberá ao Estado o dever de
indenizar o dano ocorrido independente de seu dolo ou culpa, mas não no caso de culpa exclusiva
do prejudicado. Em face das exceções, chama-se também de teoria do risco administrativo
mitigado.
Outras duas importantes exceções devem ser destacadas: culpa de terceiro e força maior. Em
ambos os casos, vigora a responsabilidade subjetiva do Estado, pois esta deve ser comprovada.
Força maior é o evento imprevisível, inevitável e independente da vontade das partes. Assim, se
cai um raio sobre um carro, não se fala em responsabilidade objetiva do Estado, pois não
contribuiu de nenhum modo para o dano, inexistindo nexo de causalidade entre este e um
comportamento da Administração.

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No entanto, se havia de alguma forma um dever de ação do Estado, e este omitiu-se, pode
configurar sua responsabilidade, mas, repita-se, será subjetiva.
Dita omissão deve ser comprovada (imprudência, negligência ou imperícia). Vamos supor a
existência de uma árvore que já ameaça cair, em face de sua inclinação e alguns pedidos de
vizinhos para que a Prefeitura a retire.
Se, com um vendaval (força maior), essa árvore cai sobre um veículo, poderá ficar configurada a
responsabilidade da Administração em face de sua omissão.
De igual forma, enchente costumeira que inunda um bairro em face da não limpeza de um córrego
pelo órgão competente também pode gerar um dever de indenizar.
Note-se que é uma exceção dentro da exceção. Se há força maior, afasta-se a responsabilidade.
No entanto, se esse evento se une à omissão estatal para provocar o dano, há o dever de indenizar.
Mas não se diz que há responsabilidade objetiva, aplicando-se a teoria da culpa do serviço
público, mais precisamente, da falta desse serviço (do francês: “faute de service”).
Diz-se que há culpa anônima, pois não dependeu da ação de algum agente público, mas sim da
omissão estatal. Então, nesse caso, vige a responsabilidade subjetiva do Estado.
Dessa mesma espécie revela-se o mau funcionamento da segurança pública quando, por exemplo,
há prejuízos decorrentes de ação de terceiros, como o caso de ação de multidão.
A responsabilidade será imputada ao Estado. A outra exceção diz respeito à culpa do particular
ou de terceiro, com a exceção da exceção prevista acima.
Se o condutor de um carro da polícia choca-se, durante uma perseguição, com o carro de um
particular, caberá à Administração Pública ressarcir os prejuízos ao interessado, independente de
haver culpa ou não do motorista do carro oficial.
Por outro lado, se o particular avançou o sinal vermelho e veio a abalroar um carro público, haverá
culpa do particular, e este deverá indenizar a Administração.
Neste caso, caberá prova de culpa, pois a responsabilidade do administrado é sempre subjetiva.
Se ficar constatada que a culpa é parte do agente público, parte do particular, a responsabilidade
se dividirá entre este e o Estado, à medida da participação de cada um no evento danoso.
Chama-se de culpa concorrente. Com a adoção da teoria da responsabilidade objetiva do Estado,
busca-se a divisão dos prejuízos causados por algum ato seu com todos os cidadãos, e não apenas
penalizando aquele que sofreu o dano.
A coletividade se une para usufruir das benesses de uma vida em comum, mas também, assim
como divide as vantagens, deve dividir esse ônus: é a aplicação do princípio da isonomia ou da
igualdade.
Note-se que tal princípio justifica a divisão entre todos, é dizer, o Estado vai ressarcir o
prejudicado e toda a sociedade vai pagar por isso.
Mas não há igualdade entre o particular e a Administração Pública, pelo contrário. Reconhece-se
a superioridade estatal, por isso a responsabilidade é objetiva, cabendo ao Poder Público a prova

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de culpa do particular: não seria justo, além do prejuízo, ainda imputar ao particular a tarefa de
provar sua inocência.
Por fim, cite-se a responsabilidade por atos legislativos e jurisdicionais. Em ambos os casos, a
regra é a irresponsabilidade estatal por esses atos. A produção legislativa de um Estado é feita
com base em sua soberania, limitada apenas pelas normas constitucionais.
As leis produzidas, revogadas, alteradas, são abstratas, atingindo a todos indistintamente, e
poderão causar ônus à população que não fazem jus a qualquer reparação de eventuais danos.
No entanto, entende-se como possível a responsabilização do Estado no caso de edição de leis
inconstitucionais ou leis de efeitos concretos.
Este tipo de lei não tem as características de generalidade e impessoalidade, atingindo pessoa
certa, como no caso da lei que desapropria determinado bem: se há prejuízo decorrente da mesma,
cabe indenização.
No que pertence aos atos jurisdicionais, a regra, repita-se, é a irresponsabilidade. Quando profere
uma sentença, uma parte sempre perderá e outra ganhará, e, por óbvio que aquela não pode
pleitear ressarcimento dos danos pelo Estado.
Contudo, a própria Carta Maior prevê a responsabilização estatal, mas apenas na esfera penal:
“Art. 5º LXXV – o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar
preso além do tempo fixado na sentença; ”.
Outra regra de responsabilização, nesse caso pessoal do juiz, é encontrada no art.133 do Código
de Processo Civil, nos casos de atuação do magistrado com dolo ou fraude, ou se ele se recusar,
omitir ou retardar, sem justo motivo, providência que deva ordenar de ofício, ou a requerimento
da parte.
Nesses casos, responderá por perdas e danos. Não se confundam atos legislativos com atos
praticados pelo Legislativo; atos jurisdicionais com atos praticados pelo Judiciário.
Em cada caso, se o ato é praticado na função administrativa, haverá normalmente a incidência da
responsabilidade objetiva do Estado, porque são atos administrativos praticados pelo Legislativo
ou pelo Judiciário.
Assim, para que fique claro, o Legislativo pratica atos administrativos e atos legislativos. Aos
primeiros aplica-se a teoria objetiva, aos últimos, só por exceção, caso seja a lei inconstitucional
ou de efeitos concreto. Idêntico raciocínio cabe para o Judiciário.
Risco Integral
Segundo a teoria do risco integral, que aqui cita-se por questões meramente didáticas, a
Administração Pública sempre responderia pelos danos causados aos particulares, sem qualquer
exceção.
Como visto acima, a responsabilidade objetiva faz com que o Estado indenize os prejuízos
causados, independente de dolo ou culpa.
Vimos algumas exceções: culpa da vítima ou de terceiros e força maior. É a inexistência dessas
exceções que nos leva ao risco integral

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Assim, poderia o particular atirar seu carro contra um caminhão dos bombeiros e ao Estado
caberia suportar ambos os prejuízos.
Pela evidente injustiça, tal teoria nunca foi, tampouco será adotada.

26- Qual é o princípio justificador da responsabilidade objetiva do Estado?


Princípio da repartição dos encargos.
A ideia é: se todos seriam beneficiados pelos fins visados pela Administração, todos devem
igualmente suportar os riscos decorrentes dessa atividade, ainda que esta atividade tenha sido
praticada de forma irregular, porém em nome da Administração. É, em última análise, mais uma
face do princípio basilar da igualdade.

27- Discorra sobre a responsabilidade civil do Estado decorrente de atos legislativos.


Os atos legislativos, em regra, não acarretam responsabilidade extracontratual para o Estado.
Porém, a doutrina e a jurisprudência reconhecem a possibilidade de atos legislativos ensejarem
responsabilidade civil do Estado em duas situações:
1) edição de leis inconstitucionais: caso tenha efetivamente causado dano ao particular (neste
caso depende da declaração de inconstitucionalidade pelo Judiciário);
2) edição de leis de efeitos concretos: desde que sua aplicação acarrete danos ao particular.

28- É possível se falar em responsabilidade civil do Estado por atos jurisdicionais?


Tanto na jurisprudência quanto no ordenamento jurídico brasileiro, a regra é a inexistência de
responsabilidade civil do Estado por atos jurisdicionais, aqui entendido como aqueles praticados
pelo magistrado em sua função típica. Já nos atos não jurisdicionais, que são aqueles meramente
administrativos praticados pelo juiz e pelos auxiliares do Poder Judiciário, há incidência normal
da responsabilidade extracontratual.
Todavia, destacam-se algumas exceções a essa regra da inexistência de responsabilidade do
Estado por atos jurisdicionais. São três as hipóteses de responsabilidade objetiva que podem
ensejar na indenização do ofendido como consequência da prática de tais atos.
Primeiramente, no que diz respeito à área criminal, a própria Constituição Brasileira traz uma
dessas exceções no art. 5°, inciso LXXXV:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(…)
LXXV – o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além
do tempo fixado na sentença;

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Nessa hipótese, se a condenação de um indivíduo é proferida como consequência de erro


judiciário, independente de dolo ou culpa, haverá indenização por parte do Estado, após a
descoberta da ilegalidade. Importante ressaltar que essa hipótese não se estende à esfera cível.
Em segundo lugar, ainda no âmbito do direito penal, menciona-se a hipótese da revogação de
prisão preventiva. O Supremo Tribunal Federal entende que não haverá indenização, salvo se a
prisão for comprovadamente ilegal. Assim, parte-se do pressuposto que no momento da
decretação da prisão foram atendidos todos os requisitos legais, que estão presentes no Código
Penal.
Por derradeiro, registra-se que a terceira circunstância na qual haverá responsabilidade objetiva
do Estado está disciplinada no Código de Processo Civil, art. 143:
Art. 143. O juiz responderá, civil e regressivamente, por perdas e danos quando:
I – no exercício de suas funções, proceder com dolo ou fraude;
II – recusar, omitir ou retardar, sem justo motivo, providência que deva ordenar de ofício ou a
requerimento da parte.
Parágrafo único. As hipóteses previstas no inciso II somente serão verificadas depois que a parte
requerer ao juiz que determine a providência e o requerimento não for apreciado no prazo de 10
(dez) dias.
Dessa forma, a responsabilidade do magistrado será objetiva e regressiva em relação à do Estado.
Ou seja, primeiro a vítima propõe ação em face do Estado que a indenizará, se for provado o dano
e nexo causal. Após a condenação do requerido, este ajuizará ação regressiva contra o magistrado
que provavelmente causou o dano, porém o Estado terá que provar que houve dano ou culpa em
sua ação ou omissão.

29- Como se dá a responsabilidade civil do Estado em caso de omissão?


No tocante ao tema da responsabilidade do Estado decorrente da falta de realização por meio
deste de algum comando ou atividade que lhe é imposta, mostra-se controversa, tanto na doutrina,
quanto na jurisprudência, pois encontramos decisões do STJ e do STF que falam em
responsabilidade objetiva e outras que falam em responsabilidade subjetiva.
1. Primeira corrente: responsabilidade por omissão sempre objetiva
A primeira corrente sustenta que a responsabilidade do Estado pela omissão é sempre objetiva,
seja nos casos de omissão, seja nos de comissão. É a tese defendida pelo professor Hely Lopes
Meireles. Para ele, o art. 37, § 6° CF não faz distinção entre ação ou omissão. Logo, não cabe ao
intérprete fazê-lo. É o que se observa nesse julgado:
“EMENTA Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Responsabilidade civil do
Estado. Juiz de Paz. Remuneração. Ausência de regulamentação. Danos materiais. Elementos
da responsabilidade civil estatal não demonstrados na origem. Reexame de fatos e provas.
Impossibilidade. Precedentes. 1. A jurisprudência da Corte firmou-se no sentido de que as
pessoas jurídicas de direito público respondem objetivamente pelos danos que causarem a

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terceiros, com fundamento no art. 37, § 6º, da Constituição Federal, tanto por atos comissivos
quanto por atos omissivos, desde que demonstrado o nexo causal entre o dano e a omissão do
Poder Público. 2. Inadmissível, em recurso extraordinário, o reexame de fatos e provas dos
autos. Incidência da Súmula nº 279/STF. 3. O Plenário da Corte, no exame da ADI nº 1.051/SC,
Relator o Ministro Maurício Corrêa, entendeu que a remuneração dos Juízes de Paz somente
pode ser fixada em lei de iniciativa exclusiva do Tribunal de Justiça do Estado-membro. 4.
Agravo regimental não provido. (ARE 897890 AgR, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Segunda
Turma, julgado em 22/09/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-208 DIVULG 16-10-2015
PUBLIC 19-10-2015) Agravo regimental em recurso extraordinário. 2. Responsabilidade
objetiva prevista no art. 37, § 6º, da Constituição Federal abrange também os atos omissivos
do Poder Público. Precedentes. 3. Impossibilidade de reexame do conjunto fático-probatório.
Enunciado 279 da Súmula do STF. 4. Ausência de argumentos suficientes para infirmar a decisão
recorrida. 5. Agravo regimental a que se nega provimento (STF, RE 677283 AgR, SEGUNDA
TURMA, Relator(a) Ministro(a): GILMAR MENDES, Julgado em 17/04/2012, Publicado no DJe
em 08/05/2012)” (destaque nosso)
2. Segunda corrente: responsabilidade por omissão sempre subjetiva
Para segunda corrente, a responsabilidade do Estado pela omissão seria sempre subjetiva. Para
essa posição, defendida por Osvaldo Antônio Bandeira de Melo e Celso Antônio Bandeira de
Melo, o art. 37, § 6° da CF abrangeria apenas as ações estatais, não atingindo as omissões.
“Assim, em caso de danos causados por omissão, o particular, para ser indenizado, deveria
provar:
a) a omissão estatal;
b) o dano;
c) o nexo causal;
d) a culpa administrativa (o serviço público não funcionou, funcionou de forma tardia ou
ineficiente)”. [4]
Para eles, apenas a ação pode originar um dano, a omissão não possui essa capacidade, sob pena
de caracterização do Estado como garantidor universal. Esta é a posição encontrada na maioria
da doutrina.
O STJ ainda possui entendimento majoritário no sentido de que a responsabilidade seria subjetiva,
conforme o seguinte julgado:
“ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO
ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. OMISSÃO. RESPONSABILIDADE
SUBJETIVA. ALEGADA VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC. INEXISTÊNCIA. CULPA OU
NEGLIGÊNCIA. AUSÊNCIA DE PROVAS. REEXAME. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ.
AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO.I. Não há falar, na hipótese, em violação ao art. 535 do
CPC, porquanto a prestação jurisdicional foi dada na medida da pretensão deduzida, de vez que
o voto condutor do acórdão recorrido apreciou fundamentadamente, de modo coerente e

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completo, as questões necessárias à solução da controvérsia, dando-lhes, contudo, solução


jurídica diversa da pretendida. II. A jurisprudência do STJ firmou-se no sentido de que "a
responsabilidade civil do estado por condutas omissivas é subjetiva, sendo necessário, dessa
forma, comprovar a negligência na atuação estatal, o dano e o nexo causal entre ambos" (STJ,
AgRg no AREsp 501.507/RJ, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJe de
02/06/2014). Em igual sentido: STJ, REsp 1.230.155/PR, Rel. Ministra ELIANA CALMON,
SEGUNDA TURMA, DJe de 17/09/2013. III. Tendo o Tribunal de origem concluído que, no caso,
"analisando os documentos trazidos nos autos, estes não demonstram qualquer culpa ou
negligência por parte da UFRGS, muito pelo contrário, pois existem várias licenças médicas
para tratamento de saúde e procedimento de readaptação deferidos à servidora", entender de
forma contrária demandaria o reexame do conteúdo fático-probatório dos autos, o que é vedado,
em Recurso Especial, nos termos da Súmula 7/STJ. IV. Agravo Regimental improvido. (AgRg no
REsp 1345620/RS, SEGUNDA TURMA, Relator(a) Ministro(a): ASSUSETE MAGALHÃES,
Julgado em 24/11/2015, Publicado no DJe em 02/12/2015)” (grifo nosso)
3. Terceira corrente: responsabilidade objetiva se decorrer de omissão específica
A terceira corrente, por fim, fala em omissão genérica e omissão específica. Na omissão genérica
não haveria responsabilidade alguma, mas já na omissão específica teríamos responsabilidade
objetiva. É o que defende Guilherme Couto de Castro e Sérgio Cavalieri Filho.
Na omissão genérica, o Estado é omisso, pois não cumpriu um dever genérico que lhe é imposto.
É o que ocorre, por exemplo, com a segurança pública. Como o Estado não tem condições de
garantir a absoluta segurança em todos os lugares, não há como imputar eventual responsabilidade
ao Estado nesta situação. Logo, estará submetida ao princípio da reserva do possível, ou seja, o
serviço de segurança pública deve ser prestado dentro do que é possível ao Estado prestar.
“O nexo de causalidade entre essas omissões e os danos sofridos pelos particulares só restará
caracterizado quando o Poder Público tinha o dever legal específico de agir para impedir o evento
danoso e mesmo assim não cumpriu essa obrigação legal”[5]. Assim, foi o que o STF já se
pronunciou:
“Agravo regimental nos embargos de divergência do agravo regimental no recurso
extraordinário. 2. Direito Administrativo. 3. Responsabilidade civil do Estado por omissão.
Teoria do Risco Administrativo. Art. 37, § 6º, da Constituição. Pressupostos necessários à sua
configuração. Demonstração da conduta, do dano e do nexo causal entre eles. 4. Omissão
específica não demonstrada. Ausência de nexo de causalidade entre a suposta falta do serviço
e o dano sofrido. Necessidade do revolvimento do conjunto fático probatório dos autos.
Incidência da Súmula 279/STF. 5. Agravo regimental a que se nega provimento. (RE 677139
AgR-EDv-AgR, TRIBUNAL PLENO, Relator(a) Ministro(a): GILMAR MENDES, Julgado em
22/10/2015, Publicado no DJe em 09/12/2015)” (grifo nosso)
Dessa forma, o Estado responde de forma objetiva pelas suas omissões, desde que ele tivesse
obrigação legal específica de agir para impedir que o resultado danoso ocorresse. É o que ocorre,

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por exemplo, com o suicídio de detento ou a sua morte provocada por outros presos. É o que
prevê tanto o STF quanto o STJ:
“[...] Em caso de inobservância de seu dever específico de proteção previsto no art. 5º, inciso
XLIX, da CF/88, o Estado é responsável pela morte de detento[...] (STF, RE 841526/RS,
TRIBUNAL PLENO, Relator(a) Ministro(a): LUIZ FUX, Julgado em 30/03/2016, Publicado no
DJ em 30/03/2016 (grifamos)
[...] A responsabilidade civil estatal pela integridade dos presidiários é objetiva em face dos
riscos inerentes ao meio no qual foram inseridos pelo próprio Estado [...] (STJ, AgRg no
REsp 1.305.259-SC, SEGUNDA TURMA, Relator(a) Ministro(a): MAURO CAMPBELL
MARQUES, Julgado em Julgado em 02/4/2013, Publicado no DJ em 09/04/2013)”. (grifamos)
Dessa forma, conclui-se que a responsabilidade civil do Estado constitui-se em um indispensável
mecanismo de defesa do indivíduo face ao Poder Público. É perceptível também que, quanto à
responsabilidade civil do Estado por omissão, não há ainda uma unanimidade quanto aos tipos de
responsabilidade, se objetiva ou subjetiva.
Todavia, embora existam diversas correntes, vem se consolidando a ideia de que as pessoas
jurídicas de direito público respondem objetivamente pelos danos que causarem a terceiros, tanto
por atos comissivos quanto por atos omissivos, desde que, nestes últimos, fique demonstrado o
nexo causal entre o dano e a omissão específica do Poder Público, conforme delineado pela
terceira corrente.

30- Pode-se falar em coisa julgada administrativa? Quais as acepções possíveis ao termo
"coisa julgada administrativa"? O processo administrativo faz coisa julgada perante as
partes, impossibilitando a revisão judicial? Em caso positivo, quais os limites dessa "coisa
julgada administrativa"?
A expressão "coisa julgada administrativa" encontra severa crítica de diversos autores, vez que
entendem tratar-se de instituto tipicamente processual, que foi importado para o direito
administrativo por uma corrente doutrinária que não vislumbra diferenças marcantes entre a
atividade de administração ativa e a jurisdição, haja vista considerarem a existência de um fato
determinante em comum: aplicação da lei ao caso concreto.
Todavia, não há que se confundir a função administrativa com a função jurisdicional do Estado,
vez que, dentre outros motivos, a forma como atua e Estado é absolutamente diversa. Ora, quando
do exercício da função jurisdicional, o Estado não toma parte da relação, chamada tríplice (as
partes e o Estado-juiz representam cada um dos vértices do triângulo). Não sendo, o Estado-juiz,
parte da relação, o exercício da função tem que ocorrer de forma imparcial e definitiva,
produzindo coisa julgada.
Já no exercício da função administrativa, a Administração Pública figura como parte na relação,
de forma que a função é parcial, não podendo, por isso mesmo, ser definitiva, mas sempre com a
possibilidade de ser apreciada pelo Poder Judiciário, se causar lesão ou ameaça a direito subjetivo,

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haja vista que ninguém, nem mesmo a Administração Pública, pode ser parte e juiz ao mesmo
tempo.
Chega-se, portanto, à conclusão de que a expressão coisa julgada, no Direito Administrativo, não
tem o mesmo sentido que no Direito Judiciário. Ela significa apenas que a decisão se tornou
irretratável pela própria Administração.
A decisão do Tribunal de Contas que pelo decurso dos prazos recursais ou pelo esgotamento dos
recursos torna-se irretratável, operando a preclusão da possibilidade de reexame na via
administrativa, pode, portanto, ser considerada coisa julgada administrativa, em consonância com
assentada doutrina. O erro mais comum, no entanto, reside em considerar como absoluto o
ensinamento raso de que todas as decisões administrativas são amplamente revisíveis pelo Poder
Judiciário.
Trata-se, portanto, da irrevogabilidade dos atos administrativos, que não se resume apenas aos
casos em que tenha se exaurido a via administrativa, não cabendo aí mais qualquer recurso, uma
vez que existem outras possibilidades que englobam os casos de irrevogabilidade dos atos
administrativos, de forma que, não poucas vezes, a doutrina trata do tema de coisa julgada
administrativa quando se refere às limitações ao poder de revogar os atos da Administração.
Todavia, se houver ameaça ou lesão a direito subjetivo, esses atos podem ser objeto de análise
pelo Judiciário, por força do artigo 5º, inciso XXXV, da Carta Magna.
A disposição constitucional de que a lei não poderá excluir da apreciação do Poder Judiciário
qualquer lesão de direito individual não é obstáculo a esse entendimento - de que a competência
das Cortes de Contas torna prejudicial e definitivo o pronunciamento sobre o fato material -
porque, no caso, a redução de competência do Judiciário resulta da Constituição, e não da lei.
O exame feito pelos Tribunais de Contas representa uma poderosa e ampla ação de controle sobre
os atos da Administração que já estão jungidos ao controle interno dela própria. Permitir uma
ampla revisibilidade, pelo Poder Judiciário, no mínimo constituiria, em termos lógicos, conceder
um espaço tão intenso ao controle, que inviabilizaria a própria ação administrativa.
Tem-se, portanto, que o direito brasileiro adotou um sistema de jurisdição una, por meio do qual
apenas o Estado-juiz detém o monopólio da função jurisdicional, o poder de decidir as lides com
força de coisa julgada, seja o seu objeto a ameaça ou a lesão de direitos subjetivos coletivos ou
individuais.
Restou afastado o modelo europeu de dualidade de jurisdição, no qual, paralelamente ao
Judiciário, existem órgãos do chamado "Contencioso Administrativo", os quais exercem função
jurisdicional sobre lides em que a Administração Pública seja parte interessada. Do modelo
nacional, mesmo que o Estado, enquanto Administração Pública, esteja integrando a lide como
parte, o Estado-juiz é figura alheia ao processo, não se confundindo com as partes.
Tanto é assim que: "inexiste a obrigatoriedade de esgotamento da instância administrativa para
que a parte possa acessar o judiciário. A Constituição Federal de 1988, diferentemente da anterior,
afastou a necessidade da chamada jurisdição condicionada ou instância administrativa de curso

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forçado, pois já se decidiu pela inexigibilidade de exaurimento das vias administrativas para
obter-se o pronunciamento jurisdicional (RP 60/224), uma vez que excluiu a permissão, que a
Emenda Constitucional nº. 7 à Constituição anterior estabelecera, de que a lei condicionasse o
ingresso em juízo à exaustão das vias administrativas, verdadeiro obstáculo ao princípio do livre
acesso ao Poder Judiciário".
Tem-se, portanto, que, embora o dispositivo constitucional (art. 71, II) fale julgar, não se trata de
função jurisdicional, exclusiva do Poder Judiciário. Sendo, por tal razão, correto afirmar que o
julgamento das contas é uma questão prévia, preliminar, de competência do Tribunal de Contas,
e que antecede o julgamento do responsável pelo Poder Judiciário.
Não sendo, portanto, aplicável no ordenamento jurídico brasileiro, a coisa julgada administrativa
- onde se encaixa as decisões proferidas pelo TCU - uma vez que os atos por este proferidos no
âmbito da apreciação de prestações de contas podem ser revistos pelo Judiciário, vez que o Poder
Judiciário pode examinar os atos administrativos de qualquer natureza, sejam gerais ou
individuais, unilaterais ou bilatérias, vinculados ou discricionários, mas sempre sob o aspecto da
legalidade e, agora, pela Constituição, também sob o aspecto da moralidade (arts. 5º, inciso LXIII,
e 37).
Face ao princípio da autotutela administrativa, a Administração deve rever, de ofício, os atos
eivados de ilegalidade, fato que permitiria às Cortes de Contas, em restritíssimas hipóteses,
desfazer, por iniciativa própria, o manto da coisa julgada.
O princípio da unidade de jurisdição sofre temperamentos pela própria Constituição, que admite
a competência privativa das Cortes de Contas para julgar as contas dos administradores e demais
responsáveis por bens e valores públicos.
Essa competência privativa diz respeito ao mérito do julgamento, fato que deve admitir a
verificação do acatamento ao princípio constitucional do devido processo legal, que consiste no
exame extrínseco do ato decisório das Cortes de Contas, como, por exemplo, a competência para
julgamento, a forma definida em lei, a observância do princípio da ampla defesa e contraditório,
nos termos da lei específica do Tribunal de Contas.

31- É possível a utilização, em processo administrativo disciplinar, de prova emprestada


validamente produzida em processo criminal? Este "empréstimo" da prova é permitido
mesmo que o processo penal ainda não tenha transitado em julgado?
a) Sim, a jurisprudência do STJ e do STF são firmes no sentido de que é admitida a utilização no
processo administrativo de "prova emprestada" do inquérito policial ou processo penal, desde que
autorizada pelo juízo criminal e respeitados o contraditório e a ampla defesa.
b) Sim. É possível a utilização, em processo administrativo disciplinar, de prova emprestada
validamente produzida em processo criminal, independentemente do trânsito em julgado da
sentença penal condenatória. Isso porque, em regra, o resultado da sentença proferida no processo

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criminal não repercute na instância administrativa, tendo em vista a independência existente entre
as instâncias.

32- Candidato(a), sabemos que, ao final do processo administrativo disciplinar, é


apresentado um relatório, o qual conterá as conclusões sobre as provas produzidas e a
defesa apresentada pelo acusado. Assim, eu lhe indago, após o relatório ter sido produzido
pela comissão, ele deverá ser apresentado ao servidor processado para que este possa
impugná-lo? Existe previsão na lei 8.112/90 de alegações finais a serem oferecidas pelo
servidor após o relatório final ter sido concluído?
Não. Segundo entende o STJ, não é obrigatória a intimação do interessado para apresentar
alegações finais após o relatório final do processo administrativo disciplinar. Isso porque não
existe previsão neste sentido.
A lei determina apenas a remessa para a autoridade competente.

33- Qual a diferença entre processo administrativo disciplinar e a sindicância? onde estão
previstos?
Ambos estão previstos na lei 8112/90. São instrumentos que esta lei prevê para a apuração de
infrações administrativas praticadas pelos servidores públicos.
Segundo o STJ, a autoridade administrativa tem a faculdade de instaurar um ou outro
procedimento disciplinar.
A opção pela realização da sindicância justifica-se quando há necessidade de elucidação de fatos
que aparentemente constituem infração punível pela Administração Pública. Entretanto, quando
a existência de fato é plenamenente caracterizada e a respectiva autoria é conhecida, a
Administração Pública pode optar pela instauração direta do procedimento administrativo
disciplinar.

34- O que é a chamada verdade sabida? Ela é aceita pelo ordenamento jurídico brasileiro?
A verdade sabida era uma forma de punição do servidor público. Ela ocorria quando a autoridade
competente para punir o servidor infrator tomava conhecimento pessoal da infração, por exemplo,
quando o subordinado desautoriza o superior no ato de recebimento de uma ordem ou quando em
sua presença comete falta punível por ele próprio. Em tais casos, a autoridade competente, que
presenciou a infração, aplicava a pena pela verdade sabida, de imediato, sem procedimento
algum, consignando no ato punitivo as circunstâncias em que foi cometida e presenciada a falta.
A punição do servidor por meio da verdade sabida não pode mais ser realizada, considerando que
viola a garantia do devido processo legal, em especial do contraditório e a ampla defesa, sendo
portanto incompatível com a CF/88.

35- Quais são as formas de controle a que passa a Administração Pública?

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O controle da administração pública poderá ser classificado das seguintes formas.


a) Conforme o momento a ser exercido o controle
Esse controle poderá ser:
 Prévio: o controle é exercido antes da prática do ato. É o Senado Federal que autoriza a
União, Estado ou Município a contrair empréstimo externo.
 Concomitante: o controle acontece durante a prática do ato. É a fiscalização de um
contrato em andamento, enquanto a obra está sendo executada.
 Posterior (ou Corretivo): o controle tem por objetivo convalidar ou declarar a nulidade de
um ato administrativo. Ex.: homologação de uma licitação é um controle a posteriori.
b) Conforme a amplitude
 O controle poderá ser:
 Hierárquico: esse controle resulta do escalonamento vertical dos órgãos da administração
pública.
 Finalístico: esse controle é também chamado de tutela ou de supervisão ministerial. Não
decorre da hierarquia, sendo exercido pela administração direta sobre a indireta, e depende
de previsão legal.
c) Conforme a origem
O controle poderá ser:
 Interno: ocorre quando é realizado pela própria administração, dentro de um mesmo
poder. Os responsáveis pelo controle interno, ao tomarem conhecimento de qualquer
irregularidade, têm de dar ciência da irregularidade ao Tribunal de Contas, sob pena de
responder solidariamente pela irregularidade.
 Externo: é o controle que vem de fora, realizado por um órgão que pertence a um poder
distinto. Ex.: Congresso Nacional susta ato do poder executivo que exorbita o poder
regulamentar. Ex.: juiz anula ato administrativo.
O controle externo é um controle realizada por um poder em face do outro, típico do sistema de
freios e contrapesos.

36- Como se dá o controle exercido pela propria Administração Pública?


O controle exercido pela própria administração se dá, via de regra, através dos recursos
administrativos.
A Lei 9.784 trata do processo administrativo na esfera federal e limitar a 3 o número de instâncias,
salvo se houver disposição em sentido contrário.
O art. 58 da mesma lei diz que tem legitimidade para interpor recurso administrativo o titular que
for parte no processo, mas também as pessoas cujos direitos ou interesses sejam afetados ao
menos de forma indireta com a decisão.
Em se tratando de direitos coletivos, organizações e associações também têm legitimidade para
recorrer.
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Sendo difuso o interesse, as associações e os próprios cidadãos também são legitimados a


recorrer.
O prazo para recorrer, salvo disposição em sentido contrário, será de 10 dias.
Em relação aos efeitos do recurso administrativo, todos terão efeitos devolutivos, visto que isto é
inerente ao recurso. Se houver disposição legal neste sentido também poderá ter efeito
suspensivo.
No processo administrativo, o recurso é dirigido à própria autoridade que prolatou a decisão. Esta
autoridade poderá exercer juízo de retratação. Caso não exerça, a autoridade competente poderá
apreciar o pleito recursal.
Na análise dos recursos, a autoridade competente tem capacidade plena de rever aquela decisão
atacada, inclusive ressalte-se que poderá anular ou reformar o ato impugnado, melhorando a
situação do recorrente, mas também poderá reformar a decisão impugnada para piorar a situação
do recorrente. Trata-se da chamada reformatio in pejus. Portanto, o recurso administrativo
possibilita a reformatio in pejus.

37- Em casos de concurso de agentes, como se dará a contagem do prazo prescricional?


Segundo o STJ, em decisão exarada no REsp 1230550/PR, Rel. Min. Og Fernandes, em se
tratando de ação de improbidade administrativa que envolva dois ou mais réus, o prazo
prescricional de 5 anos previsto no art. 23 da Lei nº 8.429/92 deve ser contado de forma
individual.
Esta decisão se fundamentou no fato do art. 23 ser claro ao consignar que o início do prazo
prescricional ocorre com o término do exercício do mandato ou cargo em comissão, sendo tal
prazo computado individualmente, mesmo na hipótese de concurso de agentes. Isto porque a
própria natureza subjetiva da pretensão sancionatória e do instituto em tela impõem isso.

38- O reexame necessário previsto no art. 19, da lei de ação popular, é aplicável à lei de
improbidade administrativa?
O STJ entendeu que o reexame necessário previsto no art. 19, da lei de ação popular, é aplicável
sim à lei de improbidade administrativa no caso da sentença que concluir pela carência ou pela
improcedência de ação de improbidade administrativa.
O STJ utilizou como fundamento desta decisão o fato de ser aplicado subsidiariamente o CPC,
bem como ser o caso de aplicação analógica da primeira parte do art. 19 da Lei nº 4.717/65. STJ.
1ª Seção. EREsp 1.220.667-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 24/5/2017 (Info 607).

39- Pode ser decretada a indisponibilidade sobre bens que o acusado possuía antes da
suposta prática do ato de improbidade?

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Segundo o STJ, é possível a decretação de indisponibilidade sobre bens que o acusado possuía
antes da (suposta) prática do ato de improbidade. Para a Corte Cidadã, a indisponibilidade pode,
em regra, recair tanto sobre bens adquiridos antes quanto depois da prática do ato de improbidade.
O STJ entende que esta possibilidade de decretação de indisponibilidade de bens serve como
garantia de futura execução em caso de constatação do ato ímprobo.

40- Quais as teorias relativas à responsabilidade civil do Estado?


I. Teorias
A responsabilidade civil do Estado evoluiu ao longo dos anos.
1ª Teoria – Teoria da Irresponsabilidade Civil do Estado
A Teoria da Irresponsabilidade Civil do Estado advém do brocardo: “the king can do not wrong”
(o errei não erra).
Ou seja, qualquer prejuízo causado pelo Estado e suportado pelo particular não deve ser de
responsabilidade pelo Estado, devendo ser de responsabilidade do próprio particular. A ação
estatal não pode ser repreendida.
2ª Teoria – Teoria da Responsabilidade com Culpa
Essa teoria, saindo do absolutismo, começa a conviver com a culpa.
Segundo essa teoria, é preciso fazer uma diferenciação:
 Ato de império: o Estado atua com soberania, sendo irresponsável.
 Ato de gestão: o Estado atua como particular, podendo ser responsabilizado
subjetivamente, caso cause algum dano, por dolo ou culpa.
3ª Teoria: Teoria da Culpa Administrativa (Culpa do Serviço ou Culpa Anônima)
Esta teoria, apesar de não ser a correntemente adotada no ordenamento jurídico brasileiro, é
adotada quando se trata da responsabilidade civil do Estado por omissão.
Essa teoria não exige do lesado que identifique o agente público causador do dano, tampouco
exige que o ato seja de gestão ou de império.
O que é preciso demonstrar é que houve uma falta do serviço público. Por isso culpa anônima.
O Estado tinha o dever de agir e falhou. Falhou porque não prestou o serviço ou não prestou
adequadamente, ou ainda porque prestou o serviço a destempo.
4ª Teoria: Teoria do Risco Administrativo
Na teoria do risco administrativo, a doutrina chega a um consenso. Ainda que o Estado atue de
forma legítima, às vezes essa atuação gera prejuízo a alguém. Esse prejuízo deverá ser suportado
pelo Estado, pois é inerente à atividade pública.
Se o Estado está promovendo o bem com determinada obra, mas esta obra está causando um
prejuízo imenso para uma família. Isto é, se está havendo a socialização do ganho pela sociedade,
também deverá haver a socialização da perda.
A atuação do Estado é legítima, mas a responsabilidade é pelo dano causado. É suficiente a
demonstração do dano decorrente da atuação estatal.

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5ª Teoria: Teoria da Responsabilidade Integral


A responsabilidade integral não há excludente de responsabilidade. O Estado será sempre
responsável quando houver um evento lesivo.
Essa teoria não admite excludente de responsabilidade, como culpa exclusiva de terceiro, força
maior, caso fortuito, etc.
É a teoria adotada para dano nuclear, por exemplo.

41- Como se dá a responsabilidade civil do Estado por atos decorrentes de sua omissão?
No caso de responsabilidade do Estado por omissão, é adotada a teoria da culpa administrativa,
devendo demonstrar que o Estado tinha o dever de agir, mas foi negligente, imprudente ou
imperito, e portanto deve ser responsabilizado.
Deverá ser responsabilizado em razão de:
 não ter prestado o serviço que deveria ter prestado
 não prestou de forma adequada
 não prestou de forma tempestiva
Tanto o STF quanto o STJ entendem que há responsabilidade objetiva do Estado nos casos de
ação e não há responsabilidade objetiva nos casos de omissão, visto que a responsabilidade é
subjetiva.
O STJ e STF entendem que no caso de morte por suicídio no estabelecimento prisional, a
responsabilidade do Estado é objetiva, visto que estaria em custódia do Estado, sabendo dos riscos
inerentes àquele meio. Na verdade, em regra, o Estado é objetivamente responsável pela morte
de detento. Isso porque houve inobservância de seu dever específico de proteção previsto no art.
5º, inciso XLIX, da CF/88.
A regra é excepcionada nos casos em que o Estado conseguir provar que a morte do detento não
podia ser evitada. Neste caso, rompe-se o nexo de causalidade entre o resultado morte e a omissão
estatal.
Em 2015 houve um caso em que foi encontrado um cadáver humano em decomposição em um
dos reservatórios de água que abastece uma cidade. O STJ entendeu que a empresa pública
concessionária do serviço de água deveria ser condenada a reparar os danos morais sofridos pelo
cliente. Ficou configurada a responsabilidade subjetiva por omissão da concessionária decorrente
de falha do dever de efetiva vigilância do reservatório de água.
Além disso, restou caracterizada a falha na prestação do serviço, indenizável por dano moral,
quando a Companhia não garantiu a qualidade da água distribuída à população. O dano moral, no
caso, é in re ipsa, ou seja, o resultado danoso é presumido. (Inf. 553, STJ).

42- Existe responsabilidade civil do Estado em decorrência de atos legislativos?


A regra que prevalece em relação aos atos legislativos é a da irresponsabilidade do Estado.

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Por outro lado, se a lei for declarada inconstitucional, em sede de controle concentrado de
constitucionalidade, é possível que tenha responsabilidade civil do Estado por conta de o dano
ser causado por um ato permitido pelo Estado fora do exercício de suas competências
constitucionais.
Em relação às leis de efeito concreto, que atingem pessoas determinadas, aqui incide sim a
responsabilidade civil do Estado, visto que tais leis fogem das características de generalidade e
abstração, comuns como as leis gerais. Isso porque acarreta um ônus que não é suportado por
todos os membros da coletividade, e sim apenas por aquelas pessoas atingidas.
Existem divergência doutrinária de possibilidade ou não de responsabilização do Estado por atos
legislativos constitucionais. O entendimento prevalente é de que não é possível responsabilizar o
Estado se o ato legislativo foi constitucional.
Há uma doutrina francesa que tem adeptos no Brasil, apesar de não ser a majoritária, no sentido
de que é possível a responsabilização do estado por atos legislativos constitucionais, quando esses
atos tiverem uma abstração mitigada.
Fernando Baltar afirma que é exemplo disso a medida provisória que proibiu comercialização de
bebidas alcoólicas nas margens das rodovias federais. É uma norma constitucional, mas a
abstração é reduzida, pois impõe sacrifício a uma parcela reduzida da coletividade, que é a parcela
que vendia bebidas nas estradas. É constitucional, pois protege a sociedade, mas aquelas pessoas
que exerciam atividades lícitas foram prejudicadas por uma lei constitucional com abstração
reduzida. Então, defende-se que caberia indenização.
Mas lembre-se que se entende pela impossibilidade de se responsabilizar o estado por normas
abstratas constitucionais, mesmo que de abstração reduzida.

43- Disserte sobre a Responsabilidade do Estado por danos causados por atos terroristas.
Em regra, adota-se a teoria da culpa administrativa, de modo que só irá ressarcir quando ficar
demonstrado que houve um nexo causal entre o atentado terrorista, o dano causado pelo atentado
terroristas e a falha do Estado no dever de prestar o serviço de segurança pública.
O Estado atuou culposamente, razão pela qual houve o dano.
É a aplicação da teoria da falta do serviço.
A ressalva importante advém da Lei 10.744, fruto dos atentados terroristas de 2001, pois os
seguros das aeronaves passaram a ter um valor desproporcional, eis que as seguradoras não
queriam mais fazer.
Essa lei diz que a União poderá assumir despesas de responsabilidade civil perante terceiros na
hipótese de danos de bens e a pessoas, sejam passageiros ou não, quando decorrentes de atentados
terroristas, ou por outros atos de guerra ou eventos parecidos, desde que tenham ocorridos no
Brasil ou no exterior, contra aeronaves de matrícula brasileira e operados por empresas brasileira
de transporte aéreo público, e no montante de até 1 bilhão de dólares.
Ficariam excluídas as empresas de táxi-aéreo desse rol.

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A Lei veio para viabilizar o seguro das companhias aéreas.


Tirando essa exceção, por atentados terroristas, a União vai responder quando demonstrar a falha
do sistema de segurança pública.

DIREITOS HUMANOS

1- Apresente o conceito de Direitos Humanos, bem como a sua evolução histórica.


Os direitos humanos, como se extrai da própria expressão, são uma espécie de direitos, entretanto,
eram denominados de Direitos do Homem, sendo posteriormente denominados como Direitos
Humanos.
Para Flavia Piovesan, o conceito de direitos humanos é dotado de universalidade, pois possui
extensão universal, pois basta possuir condição de pessoa para ser titular de direitos. Portanto, o
ser humano é visto como um ser essencialmente moral com unicidade existencial e dignidade.
Com relação à evolução histórica, segundo Fábio Konder Comparato, é a partir do período axial
que, pela primeira vez na História, o ser humano passa a ser considerado, em sua igualdade
essencial, como ser dotado de liberdade e razão, não obstante as múltiplas diferenças de sexo,
raça, religião ou costumes sociais. Lançavam-se, assim, os fundamentos intelectuais para a
compreensão da pessoa humana e para afirmação da existência de direitos universais, porque a
ela inerentes.
Posteriormente, na Idade Média surgiram diversos documentos que contribuíram para a
efetivação dos direitos humanos, entretanto, esses documentos não eram cartas de liberdade e sim
contratos feudais, onde o rei se comprometia respeitar os direitos de seus súditos. Parte da
doutrina afirma que tais documentos não afirmavam direitos humanos, mas sim direitos de
testamentos.
Com a Idade Moderna e a nova ordem econômica mundial, os proprietários de terras já não tinha
mais poder, prevalecendo nesse período o oposto do feudalismo, sendo ele o capitalismo. Assim,
Dirceu Pereira Siqueira e Miguel Belinati Piccirillo, informam que a descentralização política, o
predomínio do magistério da Igreja Católica, o estilo de vida feudal, que caracterizaram a idade
média, deixam progressivamente de existir, dando azo para a criação de uma nova sociedade, a
moderna. Esse período foi de suma importância para a sociedade, oferecendo assim quatro
diretrizes primordiais para os Direitos Humanos, sendo elas: a) a Petition of Rights de 1628; b)
o Habeas Corpus Act de 1679; c) a Bill of Rights de 1689 e d) a Declaração de Virgínia de 1776.
O Petition of Rights de 1628, firmada por Carlos I, é uma das tantas declarações de direito do
século XVII. Tinha como referência a Magna Charta Libertatum, que previa a possibilidade de
requerer-se ao rei, dentre outras medidas, que nenhum homem livre fosse despojado de seu feudo,
detido ou aprisionado, senão em virtude de sentença. Preconizava no presente documento que
nenhum homem livre ficasse sob prisão ou detido ilegalmente, bem como seria obrigado a

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contribuir com qualquer favor, empréstimo e, muito menos, pagar taxa sem a aprovação de todos,
devidamente, manifestado por ato no parlamento, dentre outras coisas.
Já o Habeas Corpus Act de 1679, subscrito por Carlos II, como mandado judicial em caso de
prisão arbitrária ressurgiu com o parlamento inglês, que quase na sua totalidade era representado
por protestantes. Estes procuraram por todos os meios cabíveis limitar o poder real, esse poder
era de prender os opositores políticos sem submetê-los a um processo criminal legal.
O Bill of Rights de 1689 decorreu da abdicação do Rei Jaime II, sendo outorgado pelo príncipe
de Orange. Documento de suma importância, pois, impunha grandes restrições ao poder estatal,
além de fortalecer o princípio da legalidade, criou o direito de petição, instituiu a liberdade de
eleição, principalmente para os membros do parlamento, e conferiu a imunidade parlamentar,
violação a aplicação de penas cruéis e convocação frequente do parlamento.
A Declaração de Virgínia de 1776 continha catorze parágrafos, os quais abrangiam direitos natos
da pessoa, soberania popular e igualdade perante a lei, sem distinção de classe social, religião,
raça ou sexo, bem como igualdade de condição política, podendo assim assumir cargos de
governo, além do direito e proteção à liberdade de imprensa e instituição do tribunal do júri.
Com relação à Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, cumpre mencionar que esta
foi aprovada unanimemente pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de
1948, sendo a primeira organização internacional que abrangeu quase a totalidade dos povos da
Terra, ao afirmar que “todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos”.
No Brasil, a Declaração foi assinada em 10 de dezembro de 1948, sendo este o marco inicial do
sistema internacional de proteção dos direitos humanos, onde inaugurou a concepção
contemporânea reconhecendo a dignidade da pessoa humana, bem como efetivou sua
internacionalização.
Cumpre mencionar que a presente Declaração era composta por 30 artigos, continha a
formalidade no tocante aos direitos civis, políticos, sociais, econômicos e culturais, sendo
responsável pela elaboração de alguns pactos internacionais sobre os Direitos Humanos, sendo
eles: o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, o qual foi aprovado em 1966 e entrou em
vigor em 23 de março de 1976 e o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais, o qual foi aprovado em 1966 e entrou em vigor em 3 de janeiro de 1976.
Para Flávia Piovesan, a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 acaba por inovar o
conceito de direitos humanos, ao introduzir a chamada concepção contemporânea de direitos
humanos, a qual é marcada pela universalidade e indivisibilidade destes direitos. Conceitua ainda
que, a concepção contemporânea de direitos humanos é uma “unidade indivisível,
interdependente e inter-relacionada, na qual os valores da igualdade e liberdade se conjugam e se
completam”.

2. O que se entende por gerações dos direitos humanos?

“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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De acordo com as mutações históricas e as ideologias sociais, os direitos humanos passaram a ter
várias gerações aparecendo assim em diversas Constituições, vindo a consolidar-se no
ordenamento jurídico pátrio, como por exemplo, na Carta Magna de 1988.
Tal sistematização dos direitos humanos em gerações de direitos, não acompanha qualquer
hierarquização desses valores, mas tão só corresponde ao seu reconhecimento em dado momento
histórico e em determinados ordenamentos jurídicos.
Podemos esquematizar as gerações de direitos humanos da seguinte forma: a) 1ª Geração –
liberdades públicas e direitos políticos; b) 2ª geração – direitos sociais, econômicos e culturais;
c) 3ª geração – direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos; d) 4ª geração – direitos da
bioética e direito da informática.
A primeira geração dos Direitos Humanos remonta no artigo II da Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão, anunciada na França em 26 de agosto de 1789. Assim, estatui o artigo II
que: O fim de toda associação política é a conservação dos direitos naturais que são
imprescritíveis do homem. Esses direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e a
resistência à opressão.
Instituído ao longo do século XIX, pelos movimentos do proletariado, buscando a efetivação dos
direitos econômicos, sociais e culturais, os direitos de segunda geração são os de trabalho, saúde,
educação, dentre outros, informando que o sujeito passivo é o Estado, o qual tem o dever de
realizar prestações positivas aos seus titulares, os cidadãos, em oposição à posição passiva que se
reclamava quando da reivindicação dos direitos de primeira geração.
A Terceira Geração (Dimensão) dos Direitos Humanos possui característica de titularidade
difusa, sendo concebidos para proteção da coletividade. Visto às inúmeras dificuldades, bem
como das conquistas decorrentes da diuturna luta social pelo reconhecimento e eficácia dos
direitos de primeira e segunda geração e outros valores não prioritários na sociedade ocidental,
tais direitos estiveram em pauta de discussão ao final da Segunda Guerra Mundial, em 1945.
Entretanto, os direitos de terceira geração são chamados direitos difusos ou coletivos, os quais
tutelam a paz, o desenvolvimento, o meio ambiente, o patrimônio histórico e cultural. A Terceira
Geração (Dimensão) de Direitos Humanos elege os direitos de solidariedade e fraternidade, sendo
seus componentes o meio ambiente equilibrado, a vida saudável e pacífica, o progresso e o avanço
da tecnologia.
Por fim, a Quarta Geração (Dimensão) dos Direitos Humanos considera como novos os direitos
que se preocupam com a globalização e principalmente com as constantes mudanças do mundo
atual. Para que possamos compreender, Paulo Bonavides são direitos de quarta geração o direito
à democracia, o direito à informação e o direito ao pluralismo. Desses direitos depende a
concretização da sociedade aberta do futuro, em sua dimensão de máxima universalidade, para a
qual parece o mundo inclinar-se no plano de todas as relações de convivência.

3. Detalhe as características dos Direitos Humanos.

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A doutrina muito fala acerca das características dos direitos humanos. Em apertada síntese, estes
direitos possuem as seguintes características:
A característica da historicidade significa que os direitos humanos não surgiram todos ao mesmo
tempo, são frutos de conquistas históricas; são construídos gradualmente e vão se expandindo ao
longo da história, devido a luta de movimentos sociais para que se afirme a dignidade da pessoa
humana. Essa característica é a que fundamenta a ideia de gerações/dimensões dos direitos
humanos. Ao contrário do que se fala, os direitos humanos não são direitos naturais, que decorrem
da natureza das coisas, como já se chegou a afirmar no período das revoluções liberais e da
superação do antigo Estado Absolutista. Pois o que é natural é atemporal, ou seja, sempre esteve
lá, e não é isso o que ocorre com os direitos humanos, que foram conquistados ao longo de toda
história. Cabe registrar que a historicidade dos direitos humanos é expansiva, isto é, não há
supressão de direitos (proibição do retrocesso) já reconhecidos na ordem jurídica, mas sim uma
ampliação da proteção do indivíduo, reconhecendo novos direitos.
A universalidade, também característica, garante que os direitos humanos englobam todos os
indivíduos, pouco importando a nacionalidade, a cor, a opção religiosa, sexual, política, etc. Ou
seja, esses direitos se destinam a todas as pessoas (sem qualquer tipo de discriminação) e possuem
abrangência territorial universal (em todo mundo). O que se deve entender por universal é a ideia
de que o ser humano é titular de um conjunto de direitos, independentemente das leis e cultura de
cada Estado, e, não, a ideia de que o direito x, y ou z tem que ser reconhecido em todos os Estados.
A relatividade vem demonstrar que os direitos humanos não são absolutos, podendo sofrer
limitações no caso de confronto com outros direitos, ou ainda, em casos de grave crise
institucional, como ocorre, por exemplo, na decretação do Estado de Sítio. Em exemplo, o direito
à liberdade de expressão pode ser relativizado para se harmonizar com a proteção da vida privada,
não se admitindo que a expressão chegue ao ponto de ofender a imagem de alguém; o direito ao
desenvolvimento pode ser relativizado para compatibilizá-lo com o direito ao ambiente e assim
por diante.
Com relação à essencialidade, significa dizer que os direitos humanos são inerentes ao ser
humano, tendo dois aspectos, o aspecto material que representa os valores supremos do homem
e sua dignidade e o aspecto formal, isto é, assume posição normativa de destaque.
Os direitos humanos são irrenunciáveis, ou seja, não é possível a renúncia dos direitos humanos,
pois, como são direitos inerentes à condição humana, ninguém pode abrir mão de sua própria
natureza. Dessa característica decorre que eventual manifestação de vontade da pessoa em abdicar
de sua dignidade não terá valor jurídico, sendo reputada nula. Um exemplo é o famoso caso
francês do "arremesso de anões", espécie de "entretenimento" outrora adotado em bares franceses,
consistente em arremessarem anões em direção a uma "pista" de colchões, como se fossem dardos
humanos. No caso, as pessoas se reuniam nos bares para disputar torneios de "arremesso de
anões", ganhando a disputa aquele que conseguisse arremessar o anão mais longe na "pista de
colchões". Em uma cidade francesa, a Prefeitura proibiu a prática, interditando um bar que

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promovia as disputas, e o caso foi parar na justiça, chegando até o Conselho de Estado, instancia
máxima da justiça administrativa francesa, e o órgão entendeu adequada a postura do poder
público. O grande detalhe é que a interdição foi questionada por iniciativa de um anão, que
alegava que a prática representava, para ele, uma forma de trabalho, importante para a sua
sobrevivência, e que a ordem jurídica francesa tutelava o direito ao trabalho. O anão chegou a
levar o caso até o Comitê de Direitos Humanos da ONU, que concordou com a decisão da
jurisdição francesa, afirmando que a prática violaria a dignidade da pessoa humana.
Os direitos humanos também são imprescritíveis. Isto significa dizer que a pretensão de respeito
e concretização de direitos humanos não se esgota pelo passar dos anos, podendo ser exigida a
qualquer momento. Dito de outra forma, o decurso do tempo não atinge a pretensão de respeito
aos direitos que materializam a dignidade humana. A imprescritibilidade dos direitos humanos
não deve ser confundida com a prescritibilidade da reparação econômica decorrente da violação
de direitos humanos. Trata-se de situações distintas, pretensões diversas. Uma coisa é a pretensão
de respeito aos direitos humanos, de não violação ao direito; outra é a pretensão de reparação do
dano causado pela violação de um direito, essa sim submetida a prazo prescricional.
A característica da inviolabilidade promove a ideia de impossibilidade de desrespeito ou
descumprimentos por determinações infraconstitucionais ou por atos das autoridades públicas,
sob pena de responsabilização civil, administrativa e criminal.
Os direitos humanos também se caracterizam pela complementaridade, unidade e
indivisibilidade, ou seja, os direitos humanos não devem ser interpretados isoladamente, mas de
forma conjunta e interativa com os demais direitos. Essa característica afasta a ideia de que
haveria hierarquia entre os direitos, como se uns fossem superiores aos outros, e propõe que todos
os direitos são exigíveis, por serem todos importantes para a materialização da dignidade humana.
Há ainda a inalienabilidade, a qual significa que os direitos humanos não são objeto de comércio
e, portanto, não podem ser alienados, transferidos. A dignidade pessoa humana, por exemplo, não
pode ser vendida. A inalienabilidade não importa dizer, entretanto, que não se possa desempenhar
atividades econômicas utilizando-se de um direito humano.

4. Qual a natureza jurídica da Declaração universal dos Direitos Humanos? Caso ela fosse
incorporada, viraria tratado?
Inicialmente, a DUDH foi aprovada por meio de uma Resolução da Assembleia Geral da ONU.
Em geral, as Resoluções da Assembleia Geral não têm força vinculante (algumas resoluções têm
força vinculante: aprovar orçamento da ONU, aprovar admissão de membros, escolha de juízes,
escolha de Secretário-Geral da ONU).
Assim, em 1948, quando foi editada a Resolução da DUDH, ela era apenas uma recomendação,
possuindo natureza de soft law.
De acordo com Portela, a Declaração Universal dos Direitos Humanos é uma Resolução da
Assembleia Geral da ONU e, portanto, não é um tratado e, assim, não é formalmente vinculante.

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Entretanto, tem importância como documento básico do sistema de proteção internacional dos
direitos humanos, podendo-se afirmar que integra o chamado soft law.
André de Carvalho Ramos discorda, ele acredita que essa posição está ultrapassada. Para o
Professor André, este posicionamento não é mais adequado porque décadas após a Resolução que
criou a DUDH, os Tribunais Internacionais consideram que essa Resolução pode ser tida como
espelho do costume internacional de Proteção dos Direitos Humanos.
O problema é que os Tribunais Internacionais só mencionam alguns direitos. Então, apenas parte
da Declaração Universal dos Direitos Humanos é vinculante (é vinculante porque é espelho do
costume internacional – norma costumeira). Nesta toada, o direito de liberdade é, dentre outros
direitos, uma parte vinculante da DUDH.
Do ponto de vista acadêmico e prático (jurisprudência internacional) não tem sentido incorporar
um costume internacional, haja vista que eles manifestam seus efeitos de forma imediata e
automática (“law of the land”). Isso é o que a Jurisprudência Internacional entende
De todo modo, se incorporado, não “viraria tratado”, tendo em vista que a DUDH não cumpre
todos os requisitos para se considerar Tratado.

5. O que se entende por controle convencionalidade? É possível o controle difuso de


convencionalidade?
O controle de convencionalidade remete à possibilidade de as normas internacionais serem
utilizadas como parâmetro para a compatibilização do ordenamento interno.
De acordo com Valério de Oliveira Mazzuoli, o controle de convencionalidade consiste no
processo de compatibilização vertical (sobretudo material) as normas domésticas com os
comandos encontrados nas convenções internacionais de Direitos Humanos. À medida que os
tratados internacionais de direitos humanos ou são materialmente constitucionais (art. 5º, §2º) ou
material e formalmente constitucionais (art. 5º, §3º), é lícito entender que o clássico controle de
constitucionalidade deve agora dividir espaço com esse novo controle (“de convencionalidade”)
da produção e aplicação da normatividade interna.
No âmbito de processos interpartes o controle de convencionalidade pode se dar com parâmetros
nos tratados internacionais de direitos humanos internalizados, ainda que pelo rito ordinário.
Esse controle poderá ser iniciado a partir de provocação das partes ou até mesmo por atuação de
ofício pelo Juiz ou Tribunal. É importante registrar que esse controle pode dar em primeira
instância, perante tribunais e, inclusive, nos tribunais de superposição, com destaque para o STF,
que poderá compatibilizar, no caso concreto, um tratado internacional de direitos humanos com
a legislação infraconstitucional pátria.
Ademais, ao contrário do controle concentrado de convencionalidade, tanto as normas
internalizadas com fundamento no art. 5º, §3º, como os demais tratados internacionais, podem ser
considerados como parâmetro para o controle difuso de constitucionalidade.

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6. Qual a diferença entre direitos do homem, direitos fundamentais e direitos humanos?


Direitos dos homens são direitos de cunho jusnaturalistas, não positivados ou não escritos (seja
na Constituição, seja na legislação infraconstitucional). São direitos inatos que, de acordo com a
sociologia do Direito, existem porque são intrínsecos à natureza humana, bastando a condição de
ser humano para possuí-los, assim como o é o direito à vida.
Já os direitos fundamentais se dão quando os direitos naturais são positivados ou escritos no texto
constitucional, galgando conotação de direitos positivos constitucionais.
O termo direitos humanos é evolução dos direitos fundamentais, é ascensão ao plano internacional
dos direitos fundamentais. Podendo concluir-se assim que, direitos humanos são direitos
fundamentais, positivados, elevados ao plano internacional.

7. O que se entende por princípio do pro homine?


Por força do princípio interpretativo pro homine cabe enfatizar que, quando se tratar de normas
que asseguram um direito, vale a que mais amplia esse direito. Por outro lado, quando estamos
diante de restrições ao gozo de um direito, vale a norma que faz menos restrições (em outras
palavras: a que assegura de maneira mais eficaz e mais ampla o exercício de um direito).
Assim, materialmente, a norma que otimizar de melhor forma o exercício de determinado direito,
deverá prevalecer. Notem que o referido princípio relaciona-se com o conhecido princípio da
norma mais favorável do Direito do Trabalho. Este princípio impõe ao jurista a opção pela norma
mais favorável quando da elaboração da norma, no confronto entre regras concorrentes, bem
como na interpretação da norma. Registre-se, ainda, que na definição da norma mais favorável
prevalece a Teoria do Conglobamento por Institutos, pelo qual devemos optar pela norma mais
favorável dentro do conjunto de normas relativos a determinada matéria ou instituto jurídico, de
modo não desvirtuar o sistema jurídico.
Guardadas as devidas diferenças, o princípio “pro homine” impõe, seja no confronto entre
normas, seja na fixação da extensão interpretativa da norma, a observância da norma mais
favorável à dignidade da pessoa, objeto dos direitos humanos. Impõe a aplicação da norma que
amplie o exercício do direito ou que produza maiores garantias ao direito humano que tutela.
O referido princípio torna-se importante no contexto atual dos Direitos Humanos, em especial,
em razão da disciplina trazida pela Emenda Constitucional nº 45/2004, que conferiu especial
importância aos Direitos Humanos.
Caso o tratado internacional seja equivalente à emenda constitucional – conforme dispõe o art.
5º, §3º, da CF – poderá prevalecer no confronto com as demais normas constitucionais que
compreendem a CF, se for considerado “pro homine”, vale dizer, mais favorável à dignidade da
pessoa.
Registre-se, ainda, que a aplicação desse princípio não é unânime, e encontra resistência,
especialmente no que tange à hierarquia. A doutrina majoritária entende que não é possível, por
exemplo, que tratado internacional de Direitos Humanos com caráter supralegal nos termos da

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jurisprudência do STF tenha preferência, em eventual conflito, sobre a Constituição. Argumenta-


se, em síntese, que esse entendimento retira a supremacia do Texto Constitucional.

8. O que se entende por relativismo cultural? Qual é a sua relação com os direitos humanos?
O relativismo parte da constatação de que pessoas que vivem sob condições materiais e culturais
diversas acabam desenvolvendo valores e padrões morais diversos. Desse modo, não caberia a
uma dada sociedade julgar os membros de outras sociedades com base nos seus parâmetros, que
são diferentes dos daqueles que são julgados. Como consequência, chegaríamos à conclusão de
que não existe superioridade dos valores de nenhuma sociedade sobre os valores das demais, na
medida em que esses são produto de condições materiais e culturais únicas, não sendo legítima a
sua imposição àqueles que são diferentes. Assim, não existiria algo como humanidade, mas sim
diversos grupos profundamente distintos, como eslavos, árabes, aborígines, mamelucos, pigmeus,
etc.
Vê-se que até esse ponto o relativismo cultural parece ser inofensivo. Na verdade, a ideia da
impossibilidade de imposição de valores pode até ser considerada, num primeiro momento, um
argumento contrário ao imperialismo cultural.
Ocorre que o relativismo, ao negar a existência de qualquer parâmetro ético universal, deixa a
questão do respeito dos direitos humanos totalmente entregue às circunstâncias históricas, o que
em última instância permite a aceitação de todas e quaisquer atrocidades.
Não é só isso: a partir do momento em que isenta de crítica qualquer traço cultural-axiológico de
uma dada sociedade, o relativismo esvazia a crítica ao imperialismo cultural. De acordo com Peter
Singer: “Segundo essa concepção, é impossível abstrair a moralidade da nossa própria sociedade
e exprimir um juízo moral transcultural ou objetivo sobre qualquer coisa, inclusive sobre o
respeito à cultura dos diferentes povos. Assim, se por acaso vivemos numa sociedade que exalta
os que dominam outras sociedades e suprimem a cultura delas – e as mesmas pessoas que
defendem o relativismo moral dizem com frequência que essa é a tradição ocidental – essa é então
nossa moralidade, e o relativismo não pode oferecer nenhuma razão coerente para que não
devêssemos dar continuidade a ela.
Vê-se então que o relativismo, ao negar a existência de características humanas universais
(negando, por consequência, a existência de algo como a “natureza humana”) torna-se racional e
eticamente inconsistente.
Ora, se somos todos seres humanos e se os seres humanos possuem alguns direitos inerentes à
sua própria condição, então existe um núcleo de direitos humanos mínimo, cuja proteção deve
ser perseguida independentemente de condições materiais, culturais e históricas. É somente acima
desse mínimo que as diferenças culturais podem atuar (e atuam), de modo a produzir a diversidade
que enriquece o patrimônio da humanidade. Note-se que a assertiva acima não pode ser objetada
com a afirmação (historicamente correta) de que nem sempre esse núcleo mínimo de direitos

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humanos foi reconhecido e respeitado nas diversas sociedades. De fato, uma coisa é o ser, outra
coisa é o dever-ser.
É certo que a convicção na supremacia dos valores ocidentais e na universalidade de um
determinado conjunto de direitos fundamentais (hoje tidos por muitos como essencialmente
burgueses), no passado, animou uma série de iniquidades contra os povos ditos “não civilizados”.
Nessas oportunidades, não foram poucas as alusões à “missão civilizadora do homem branco”,
cuja lembrança ainda hoje causa mal-estar generalizado.
No entanto, a resposta à questão a respeito da consistência ética dos diferentes costumes dos
diferentes povos não pode ser dada de modo satisfatório pelo relativismo cultural.
Uma teoria racional e eticamente consistente a respeito dos direitos fundamentais não pode
prescindir do reconhecimento de um núcleo mínimo e universal, por mais árdua que seja a tarefa
definir quais são os direitos pertencentes a esse núcleo mínimo. Caso contrário, aquilo que foi
conquistado em séculos de lutas pode ser perdido sob o manto de uma tolerância ilusória.

9. Discorra sobre a teoria da margem a apreciação nos direitos humanos.


A teoria da margem de apreciação (“margin of appreciation”) é considerada pela doutrina
especializada como um importante meio utilizado pelo Direito Internacional dos Direitos
Humanos para solucionar conflitos existentes entre os sistemas jurídicos nacionais e o sistema
internacional dos direitos humanos.
Tal doutrina vem sendo agasalhada pelo sistema regional europeu, que a concebe como meio
para interpretação e solução de conflitos relacionados à efetividade dos Direitos Humanos. De
acordo com a teoria da margem da apreciação, determinadas questões controvertidas relacionadas
com as restrições estatais devem ser debatidas e solucionadas pelas comunidades nacionais, não
podendo o juiz internacional apreciá-las. Assim, ficaria a cargo do próprio Estado nacional
estabelecer os limites e as restrições ao gozo de direitos em face do interesse público. É imperioso
destacarmos que, apesar de bastante citada pela Corte Européia de Direitos Humanos, a teoria da
margem de apreciação não encontra o devido amparo na Corte Americana de Direitos Humanos,
Ao reconhecer tal teoria pela primeira vez, no “caso Handsyde” (em que houve o confisco de
determinados exemplares de um livro considerado obsceno pelo Reino Unido) a Corte Européia
de Direitos Humanos entendeu que “em virtude do contínuo e direto contato com as forças vitais
de seus países, as autoridades estatais estão, a princípio, em melhor posição de que o juiz
internacional, para avaliar as exigências morais de suas sociedades”.O mesmo entendimento
foi novamente adotado pela Corte Européia, no famigerado “caso James”, onde a Corte examinou
determinada lei britânica que permitia a expropriação de propriedade alugada em nome do
interesse público. Na ocasião, a referida Corte decidiu que “devido ao seu conhecimento direto
de sua sociedade e de suas necessidades, as autoridades nacionais estão, a princípio, e em melhor
posição, de que o juiz internacional, para apreciar o que seria o “interesse público” (...)
consequentemente, as autoridades nacionais gozam de uma certa margem de apreciação”. A

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análise deste trecho acaba sendo de fundamental importância na definição da teoria da margem
de apreciação, tendo em vista que dele podemos inferir a ideia fundamental dos defensores desta
doutrina.
É de se destacar que a aplicação da teoria da margem da apreciação pela Corte Européia de
Direitos Humanos não ficou restrita aos dois supracitados casos destacados acima, tendo a mesma
sido aplicada em outros importantes casos nesta referida Corte, como no “Caso Engel”, em que a
Corte mais uma vez autolimitou-se, afirmando que “cada Estado é competente para organizar
seu próprio sistema de disciplina militar e goza, na matéria, de certa margem de apreciação”,
bem como no “caso Cossey”, em que a Corte, ao tratar de questão relativa ao direito de os
transexuais de modificar a sua identidade e de ter direito ao casamento, decidiu que caberia a cada
Estado, de acordo com a sua margem de apreciação, decidir sobre o tema.
Todavia, em que pese a sua aplicação nos casos acima, é importante destacarmos que a teoria da
margem da apreciação não vem mais sendo aplicada de forma irrestrita pela Corte Européia de
Direitos Humanos. Com efeito, ao julgar o “caso Goldwin”, a Corte decidiu por não aplicar a
teoria da margem da apreciação, mudando assim o seu posicionamento, para, condenar o Reino
Unido por violação a determinados dispositivos da Convenção Americana de Direitos Humanos,
no caso, por violação ao direito à vida privada e ao direito do matrimônio. No deslinde deste caso,
a Corte Européia decidiu, ainda, que as suas decisões não são vinculantes e que o uso da teoria
da margem de apreciação deveria ser feito levando em consideração o princípio da
proporcionalidade.
Hodiernamente, vários são os juristas que criticam a teoria da margem de apreciação, por
entenderem que ela acaba conduzindo a uma relativização dos direitos humanos, o que acaba não
sendo interessante, tendo em vista a necessidade de se garantir uma aplicabilidade e eficácia cada
vez maior a estes direitos. Um destes mais eminentes críticos é o jurista brasileiro Antônio
Augusto CANÇADO DE TRINDADE, que, ao tratar do tema em sua obra Tratado de Direitos
Internacionais dos Direitos Humanos, destaca que: “É bom lembrar que o texto da Convenção
Européia de Direitos Humanos não contém nenhuma menção à margem de apreciação nacional:
pelo contrário, há a expressa obrigação dos Estados em garantir e respeitar os Direitos
Humanos, sem ressalvas ou titubeios”. Cançado de Trindade ainda comemora o fato de que tal
doutrina não encontrou um desenvolvimento paralelo explícito na jurisprudência sob a
Convenção Americana de Direitos Humanos.
Outro que não concorda com o uso da teoria da margem de apreciação é o professor inglês J. G.
Merrils, o qual destaca que “se uma Corte Internacional de Direitos Humanos utilizar em
demasia a “margem de apreciação”, ela será considerada conservadora e inapta para cumprir seu
papel de guardiã dos direitos humanos”. Para Merrils, a aplicação da teoria da margem de
apreciação acaba levando a um retrocesso na busca de uma maior efetividade dos direitos
humanos.

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Os críticos à teoria da margem de apreciação ainda rebatem o argumento dos defensores desta
doutrina, que afirmam que a aplicação da margem de apreciação possibilita que as Cortes
Internacionais de Direitos Humanos possam exercer sua função de forma subsidiária e moderada,
impossibilitando, assim, eventuais arbítrios do juiz internacional. Para estes críticos, a
subsidiariedade não deve implicar ou restringir a competência dos órgãos internacionais na
avaliação de eventuais violações de direitos humanos. Neste pórtico, cabe-nos registrar a seguinte
passagem do voto dissidente do Juiz Martens, no “caso Cossey” da Corte Européia de Direitos
Humanos (precedente já superado), o qual afirma que, “se uma coletividade oprime um indivíduo
porque não deseja receber mudanças sociais, a Corte deveria ter grande cuidado em não se
inclinar tão comodamente em favor de argumentos baseados nas particularidades históricas e
culturais de um país”.
Feitas estas considerações, podemos constatar que a teoria da margem de apreciação tem sua
aplicação realizada de forma mais restrita dentro do sistema europeu de direitos humanos, e
mesmo neste sistema vem sofrendo uma certa relativização em sua aplicabilidade, em decorrência
do princípio da proporcionalidade. Tal doutrina ainda não encontrou uma aplicação digna de nota
no nosso sistema americano de direitos humanos, o que para muitos deve ser festejado, tendo em
vista que isto acaba se traduzindo em uma aplicação mais efetiva dos Direitos Humanos no nosso
continente2.

10. O que se entende por teoria dos limites dos limites?


A premissa para que iniciemos o tratamento da matéria é saber que não existem direitos absolutos.
O exemplo mais corriqueiro para demonstração da veracidade de tal assertiva é que o Direito à
Vida, de forma ampla e genérica, pode sofrer restrições na Ordem jurídico-Constitucional
brasileira, mormente nos casos de Guerra declarada.
Se existem limites a todos os direitos, e aqui cuidamos dos direitos fundamentais em seu conceito
restrito, é necessário que saibamos até onde se pode limitá-los, a fim de que se evite seu completo
desvirtuamento ou mesmo sua anulação a pretexto de limitá-lo.
Assim, as restrições legais aos direitos fundamentais sujeitam-se aos princípios da razoabilidade
e da proporcionalidade e, em especial, àquilo que, em sede doutrinária, Gilmar Mendes e Paulo
Gonet denominam de limites dos limites (Schranken-Schranken), que dizem com a preservação
do núcleo essencial do direito.
Mas o que se considera como núcleo essencial? Como tornar tais parâmetros mais objetivos?
Segundo ensinam Gilmar Mendes e Paulo Gonet, existem 02 teorias sobre o tema:
1) Os adeptos da chamada teoria absoluta (absoluteTheorie) entendem o núcleo essencial dos
direitos fundamentais (Wesensgehalt) como unidade substancial autônoma
(substantieüerWesenskern) que, independentemente de qualquer situação concreta, estaria a salvo
de eventual decisão legislativa. Essa concepção adota uma interpretação material segundo a qual
2 http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,a-teoria-da-margem-de-apreciacao-nos-direitos-humanos,42667.html
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existe um espaço interior livre de qualquer intervenção estatal. Em outras palavras, haveria um
espaço que seria suscetível de limitação por parte do legislador; outro seria insuscetível de
limitação. Neste caso, além da exigência de justificação, imprescindível em qualquer hipótese,
ter-se-ia um "limite do limite" para a própria ação legislativa, consistente na identificação de um
espaço insuscetível de regulação.
2) Os sectários da chamada teoria relativa (relative Theorie) entendem que o núcleo essencial há
de ser definido para cada caso, tendo em vista o objetivo perseguido pela norma de caráter
restritivo. O núcleo essencial seria aferido mediante a utilização de um processo de ponderação
entre meios e fins (Zvueck-Mittel-Prüfung), com base no princípio da proporcionalidade. O
núcleo essencial seria aquele mínimo insuscetível de restrição ou redução com base nesse
processo de ponderação. Segundo essa concepção, a proteção do núcleo essencial teria significado
marcadamente declaratório.
No Brasil, não temos qualquer tratamento expresso na legislação a respeito do tema, não ao menos
de forma direta e específica. Contudo, não se deve olvidar que a CF/88 veda qualquer proposta
de emenda tendente a abolir os direitos e garantias individuais (CF/88, art. 60, § 4ª, IV), pelo que
se pode ver aí, ainda que timidamente, uma tentativa de se limitar os limites.

11. O que são os Sistemas Internacionais de Proteção dos Direitos Humanos?


Os sistemas internacionais de proteção dos direitos humanos são o conjunto de normas, órgãos e
mecanismos internacionais surgidos a partir de 1945 com o intuito de promover a proteção dos
direitos humanos em todo o mundo. Na atualidade, existem 3 sistemas regionais de proteção
(interamericano, europeu e africano) e um sistema universal (Nações Unidas).

12. Quais são as quatro dimensões do sistema internacional de proteção dos direitos
humanos?
O sistema internacional de proteção dos direitos humanos envolve quatro dimensões:
i) a celebração de um consenso internacional sobre a necessidade de adotar parâmetros mínimos
de proteção dos direitos humanos;
ii) a relação entre a gramática de direitos e a gramática de deveres; ou seja, os direitos
internacionais impõem deveres jurídicos aos Estados (prestações positivas ou negativas);
iii) a criação de órgãos de proteção (ex: Comitês, Comissões e Relatorias da ONU, destacando-
se, como exemplo, a atuação do Comitê contra a Tortura; do Comitê sobre a Eliminação da
Discriminação Racial, da Comissão de Direitos Humanos da ONU, das Relatorias especiais
temáticas – Relatoria especial da ONU para o tema da tortura; relatoria para o tema da execução
extrajudicial, sumária e arbitrária; relatoria para o tema da violência contra a mulher; relatoria
para o tema da moradia; da pobreza extrema,…) e Cortes internacionais (ex: Corte Interamericana
de Direitos Humanos, Tribunal Penal Internacional,…);

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iv) e a criação de mecanismos de monitoramento voltados à implementação dos direitos


internacionalmente assegurados (ex: a sistemática dos relatórios e das petições).

13. Qual é o impacto político e jurídico dos instrumentos internacionais de proteção dos
Direitos Humanos?
Para compreender o impacto jurídico destes tratados, a primeira regra a ser fixada é a de que os
tratados internacionais só se aplicam aos Estados-partes, ou seja, aos Estados que expressamente
consentiram com sua adoção. Como dispõe a Convenção de Viena: "Todo tratado em vigor é
obrigatório em relação às partes e deve ser observado por elas de boa fé.” Complementa o artigo
27 da Convenção: "Uma parte não pode invocar disposições de seu direito interno como
justificativa para o não cumprimento do tratado." Afirma-se assim a importância do princípio da
boa-fé na esfera internacional, pelo qual cabe ao Estado conferir cumprimento às disposições de
tratado com o qual livremente consentiu.Ora, se o Estado no livre e pleno exercício de sua
soberania ratifica um tratado, não pode posteriormente obstar seu cumprimento, sob pena de
responsabilização internacional.
Além do princípio da boa fé, outro princípio a merecer destaque é o princípio da prevalência da
norma mais benéfica.
A respeito, elucidativo é o artigo 29 da Convenção Americana de Direitos Humanos que, ao
estabelecer regras interpretativas, determina que “nenhuma disposição da Convenção pode ser
interpretada no sentido de limitar o gozo e exercício de qualquer direito ou liberdade que possam
ser reconhecidos em virtude de leis de qualquer dos Estados-partes ou em virtude de Convenções
em que seja parte um dos referidos Estados”. Consagra-se, assim, o princípio da norma mais
favorável, seja ela do Direito Internacional, seja ela do Direito Interno. Na lição lapidar de
Antonio Augusto Cançado Trindade: "(...) desvencilhamo-nos das amarras da velha e ociosa
polêmica entre monistas e dualistas; neste campo de proteção, não se trata de primazia do direito
internacional ou do direito interno, aqui em constante interação: a primazia é, no presente
domínio, da norma que melhor proteja, em cada caso, os direitos consagrados da pessoa humana,
seja ela uma norma de direito internacional ou de direito interno." Nesta ótica, os direitos
internacionais constantes dos tratados de direitos humanos apenas vêm a aprimorar e fortalecer,
nunca a restringir ou debilitar, o grau de proteção dos direitos consagrados no plano normativo
constitucional.
Considerando os princípios da boa fé e da prevalência da norma mais benéfica, há que se avaliar
o impacto dos tratados de direitos humanos no âmbito interno e no âmbito internacional.
No plano interno, constata-se que os tratados internacionais de direitos humanos inovam
significativamente o universo dos direitos nacionalmente consagrados - ora reforçando sua
imperatividade jurídica, ora adicionando novos direitos, ora suspendendo preceitos que sejam
menos favoráveis à proteção dos direitos humanos. Em todas estas três hipóteses, os direitos
internacionais constantes dos tratados de direitos humanos apenas vêm a aprimorar e fortalecer,

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nunca a restringir ou debilitar, o grau de proteção dos direitos consagrados no plano normativo
constitucional. Neste sentido, os instrumentos internacionais de direitos humanos invocam a
redefinição da cidadania, a partir da incorporação, ampliação e fortalecimento de direitos e
garantias voltadas à proteção dos direitos humanos, a serem tutelados perante as instâncias
nacionais e internacionais. É fundamental a interação entre o catálogo de direitos nacionalmente
previstos e o catálogo de direitos internacionais, com vistas a assegurar a mais efetiva proteção
aos direitos humanos. Impõe-se ainda ao Estado o dever de harmonizar a sua ordem jurídica
interna à luz dos parâmetros mínimos de proteção dos direitos humanos – parâmetros estes
livremente acolhidos pelos Estados.
No plano internacional, os tratados internacionais permitem o monitoramento internacional do
modo pelo qual o Estado está implementando o tratado. Ao ratificar os tratados de direitos
humanos, contraindo as obrigações internacionais dele decorrentes, o Estado passa a aceitar o
monitoramento internacional no que se refere ao modo pelo qual os direitos fundamentais são
respeitados em seu território. O Estado passa, assim, a consentir no controle e na fiscalização da
comunidade internacional quando, em casos de violação a direitos fundamentais, a resposta das
instituições nacionais mostra-se falha ou omissa. Enfatize-se que o Estado tem sempre a
responsabilidade primária relativamente à proteção dos direitos humanos, constituindo a ação
internacional uma ação suplementar, adicional e subsidiária, que pressupõe o esgotamento dos
recursos internos para o seu acionamento. É sob esta perspectiva que se destaca a atuação dos
Comitês e Comissões da ONU e do próprio Tribunal Penal Internacional (a ser ainda instalado).
A ação internacional tem também auxiliado a publicidade e a visibilidade das violações de direitos
humanos, o que oferece o risco do constrangimento político e moral ao Estado violador, o que
tem permitido avanços e progressos na proteção dos direitos humanos. Vale dizer, ao enfrentar a
publicidade das violações de direitos humanos, bem como as pressões internacionais, o Estado é
praticamente “compelido” a apresentar justificações a respeito de sua prática, o que tem
contribuído para transformar uma prática governamental específica, no que se refere aos direitos
humanos, conferindo suporte ou estímulo para reformas internas. Quando um Estado reconhece
a legitimidade das intervenções internacionais na questão dos direitos humanos e, em resposta a
pressões internacionais, altera sua prática com relação à matéria, fica reconstituída a relação entre
Estado, cidadãos e atores internacionais.
Estas dimensões são capazes de realçar a dupla dimensão dos instrumentos internacionais de
proteção dos direitos humanos, enquanto: a) parâmetros protetivos mínimos a serem observados
pelos Estados e b) instância de proteção dos direitos humanos, quando as instituições nacionais
se mostram falhas ou omissas. Objetiva-se, de um lado, a observância de parâmetros protetivos
mínimos e, ao mesmo tempo, busca-se impedir retrocessos e arbitrariedades e propiciar avanços
no regime de proteção dos direitos humanos no âmbito interno. Esta é a maior contribuição que
o uso do sistema internacional de proteção pode oferecer: propiciar progressos e avanços internos
na proteção dos direitos humanos em um determinado Estado.

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Enfim, pode-se concluir que, com o intenso envolvimento da sociedade civil, o sistema
internacional constitui poderoso mecanismo para reforçar a proteção dos direitos humanos em
nossas regiões, invocando uma cidadania revitalizada e ampliada, pautada na prevalência absoluta
da dignidade humana.

14. Conceitue tráfico de pessoas.


Nos termos do art. 3, “a”, do Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime
Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em
Especial Mulheres e Crianças, a expressão "tráfico de pessoas" significa o recrutamento, o
transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou
uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade
ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter
o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração. A
exploração incluirá, no mínimo, a exploração da prostituição de outrem ou outras formas de
exploração sexual, o trabalho ou serviços forçados, escravatura ou práticas similares à
escravatura, a servidão ou a remoção de órgãos

15. De acordo com o Código de Conduta dos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da
Lei, o sigilo das informações confidenciais é de natureza absoluta?

Conforme art. 4º do referido Código, as informações de natureza confidencial em poder dos


funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem ser mantidas em segredo, a não ser que o
cumprimento do dever ou as necessidades da justiça estritamente exijam outro comportamento.

Devido à natureza dos seus deveres, os funcionários responsáveis pela aplicação da lei obtêm
informações que podem relacionar-se com a vida particular de outras pessoas ou ser
potencialmente prejudiciais aos seus interesses e especialmente à sua reputação. Deve-se ter a
máxima cautela na salvaguarda e utilização dessas informações as quais só devem ser divulgadas
no desempenho do dever ou no interesse. Qualquer divulgação dessas informações para outros
fins é totalmente abusiva.

16. No que consistem as “Regras de Mandela”?


Ao longo de 55 anos, os Estados usaram as “Regras Mínimas para o Tratamento de Presos” como
um guia para estruturar sua Justiça e sistemas penais. Ocorre que essas regras nunca tinham
passado por revisão até o ano passado, quando, finalmente, em 22 de maio de 2015, as Nações
Unidas oficializaram novo quadro de normas, incorporando novas doutrinas de direitos humanos
para tomá-las como parâmetros na reestruturação do atual modelo de sistema penal e percepção
do papel do encarceramento para a sociedade. Editaram-se, pois, as chamadas Regras de Mandela.

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O novo Estatuto levou em consideração instrumentos internacionais vigentes no país, como o


Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, o Pacto Internacional de Direitos Econômicos,
Sociais e Culturais e a Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis,
Desumanos ou Degradantes e seu Protocolo Facultativo.
Além disso, observou quanto à necessidade de cuidado diferenciado, considerando a situação
específica de crianças, adolescentes e mulheres submetidos à administração da justiça, em
particular enquanto se encontram em situação de privação de liberdade, como está previsto nas
Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça, da Infância e da Juventude
(Regras de Beijing), Diretrizes das Nações Unidas para a Prevenção da Delinquência Juvenil
(Diretrizes de Riad), e Regras das Nações Unidas para a Proteção de Jovens Privados de
Liberdade e as Regras das Nações Unidas para o Tratamento de Mulheres Presas e Medidas Não
Privativas de Liberdade para as Mulheres Infratoras (Regras de Bangkok).
As Regras de Mandela podem e devem ser utilizadas como instrumentos a serviço da jurisdição
e têm aptidão para transformarem o paradigma de encarceramento praticado pela justiça
brasileira.

17. No que consistem as “Regras de Bangkok”?


Na grande discussão que permeia a problemática da política de criminal e encarceramento em
massa, um capítulo especial merece atenção: a condição das mulheres presas. Para tanto, observa-
se as Regras das Nações Unidas Para o Tratamento de Mulheres Presas e Medidas Não
Privativas de Liberdade Para Mulheres Infratoras [Regras de Bangkok].
Preliminarmente, é preciso destacar que as Regras de Bangkok vêm a dar mais corpo a uma série
de resoluções editadas pelos diferentes órgãos das Nações Unidas ao longo de mais de 30 anos
sobre justiça criminal e prevenção de crimes, como as Regras Mínimas para Tratamento de
Reclusos [Regras de Mandela], Conjunto de Princípios para a Proteção de Todas as Pessoas
Submetidas a Qualquer Forma de Detenção ou Prisão, Regras Mínimas das Nações Unidas
Sobre Medidas Não Privativas de Liberdade [Regras de Tóquio], Princípios Básicos Sobre a
Utilização de Programas de Justiça Restaurativa em Matéria Criminal etc.
O princípio básico das Regras de Bangkok é a necessidade de considerar as distintas necessidades
das mulheres presas. Com efeito, são estabelecidas regras de ingresso, registro, alocação, higiene
pessoal, cuidados à saúde, atendimento médico específico, cuidados com a saúde mental,
prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, revistas, instrumentos de contenções,
capacitação adequada de funcionários, priorização do contato com o mundo exterior,
individualização da pena, flexibilização do regime prisional, foco nas relações sociais e
assistência posterior ao encarceramento, cuidados especiais com gestantes e lactantes,
estrangeiras, minorias e povos indígenas e deficientes.
Aplicar as Regras de Bangkok é um compromisso internacional assumido por nosso País e que
não pode mais ser postergado. Aliás, o uso do Controle de Convencionalidade como forma de

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adequação das normas internas aos tratados e convenções internacionais de Direitos Humanos,
em especial pela via abstrata, é medida que já deveria estar sendo muito mais difundida.
Pouquíssimo se fala acerca desse controle e da necessidade de adequação do ordenamento
jurídico interno com os tratados e convenções de Direitos Humanos.

18. Qual foi a primeira decisão judicial a considerar as “Regras de Bangkok”?


A primeira decisão a considerar as Regras de Bangkok é de 31 de agosto de 2015, do ministro
Rogério Schietti Cruz, no HC 333.831/SP. O caso era de uma adolescente que fora submetida à
internação pela prática de atos infracionais análogos ao art. 121, § 2°, I, II e IV e 211 do CP e
iniciou o cumprimento da medida quando estava gestante de 05 meses. Após o nascimento da
criança e considerando as condições precárias do estabelecimento a Defensoria Pública de São
Paulo requereu a concessão de liberdade assistida à menor.
Tal pleito foi indeferido em primeira e segunda instância. Já no STJ, apesar das poéticas
considerações à dignidade humana da paciente, o Habeas Corpus foi indeferido liminarmente por
ausência de prova inequívoca de que as instalações da internação eram precárias, patente
ilegalidade, apta a afastar o óbice da Súmula n. 691 do STF.

19. Ao ingressar em um estabelecimento prisional, de acordo com as “Regras de Bangkok”,


qual o procedimento a ser adotado com uma mulher?
Ao ingressar no estabelecimento deve ser oferecido exame médico de ingresso, com uma
avaliação ampla para determinar a necessidade de cuidados básicos, bem como a presença de
doenças sexualmente transmissíveis, cuidados com saúde mental, histórico de saúde reprodutiva,
existência de dependência de drogas, abuso sexual ou outras formas de violência que possa ter
sofrido anteriormente ao ingresso.

20. Discorra acerca da atuação do Brasil perante o Sistema Interamericano de Direitos


Humanos.
Na década de 80, com o fim do governo militar e o arrefecimento da Guerra Fria, o Brasil
intensificou seu comprometimento com a proteção dos direitos humanos, abrindo-se à atuação de
mecanismos internacionais de supervisão, como o Sistema Interamericano de Direitos Humanos.
O pontapé inicial das discussões foi dado em 1985, mas o efeito concreto - a ratificação da
Convenção Americana - só ocorreu em 1992, após a consolidação do processo de
redemocratização e a promulgação da chamada Constituição cidadã, que elevava os direitos
humanos à condição de prevalência na política externa pátria (Art. 4º da CF).
Também foi na década de 80, que o Brasil aderiu a alguns dos principais tratados de proteção aos
direitos humanos: os dois Pactos das Nações Unidas sobre direitos humanos, a Convenção contra
a Tortura, a Convenção sobre os Direitos da Criança e a Convenção Interamericana para Prevenir
e Punir a Tortura. Em 10 de dezembro de 1998, data símbolo do cinquentenário da Declaração

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Universal dos Direitos Humanos, o Brasil passava a reconhecer a jurisdição obrigatória da Corte
Interamericana de Direitos Humanos.
Dentre os foros multilaterais dos quais o Brasil faz parte, certamente o Sistema Interamericano
de Direitos Humanos é dos que mais destaque tem tido nos anos mais recentes. A defesa estatal
perante a Comissão e a Corte Interamericana de Direitos Humanos teve que se profissionalizar
em decorrência do adensamento jurisdicional ocorrido em todo o sistema. O aumento
significativo do número de casos brasileiros perante a Comissão, aliado à estruturação das
organizações não-governamentais pátrias e ao início da admissão de casos brasileiros à fase de
mérito, assim como a elevação dos primeiros casos do Brasil à esfera da Corte Interamericana
foram decisivos na mudança da atuação do Estado.
Inexistem regras que disciplinem, no plano interno, de que forma deverá ser conduzida a defesa
do Estado brasileiro perante o Sistema Interamericano. O certo é que as matérias levadas a esse
foro serão sempre complexas e delicadas, envolvendo aspectos políticos, jurídicos e diplomáticos,
do interesse de diversos atores.
Por isso, fez-se necessário que os órgãos da Administração Pública, notadamente a Advocacia-
Geral da União, o Ministério das Relações Exteriores e a Secretaria Especial dos Direitos
Humanos, que seriam os mais diretamente envolvidos nas questões levadas ao Sistema
Interamericano, passassem a atuar conjuntamente, cada qual dentro de suas esferas de
competência, na condução da defesa do Estado brasileiro que será apresentada perante a
Comissão e a Corte Interamericana de Direitos Humanos. A unificação do discurso e a atuação
em coordenação no plano interno foram determinantes para que a defesa estatal se tornasse
uníssona e coerente na esfera internacional, além de garantir a adequação da política nacional aos
princípios norteadores dos direitos humanos.

21. Em que consiste o litígio estratégico dos direitos humanos?


O litígio estratégico dos direitos humanos busca, por meio do uso do judiciário e de certos casos
paradigmáticos, alcançar mudanças sociais.
Os casos são escolhidos como ferramentas para transformação da jurisprudência dos tribunais e
formação de precedentes, para provocar mudanças legislativas ou de políticas públicas.
No entanto, é importante destacar que essa forma de litigância não é “client oriented”, mas “policy
oriented”, isto é, não se volta unicamente à solução do caso concreto por meio da reparação da
vítima cujos direitos teve violados, mas, de maneira mais ampla, a avanços jurídicos nos tribunais
e mudança de paradigmas nos órgãos governamentais.
Desse modo, é lícito dizer que o “litígio estratégico dos direitos humanos” é uma espécie de
desdobramento do movimento do “direito de interesse público”, o qual é historicamente
relacionado ao acesso à justiça por minorias estigmatizadas, que se desenvolveu, na década de
1960, nos Estados Unidos da América.

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22. O que se entende por R2C?


“R2C” é uma abreviação do inglês “Right to comumnicate”, que pode ser traduzido como o
“direito de se comunicar”, ou ainda “direitos humanos comunicativos”, os quais são tidos como
direitos linguísticos, que consistem, basicamente, em compartilhar aprendizados e experiências
de vida. Nesta compreensão, o indivíduo é ao mesmo tempo um professor e um aprendiz, dado
que a troca de informações é uma vida de duas mãos.
O chamado right to communicate possui duas facetas correlacionadas (estrutura bifronte):
a) o direito do comunicante;
b) o direito do comunicado.
Desse modo, estão compreendidos no conceito de direitos comunicativos tanto a liberdade de
expressar opiniões, pontos de vista religiosos e conceitos em ciência e arte, quanto respeitar os
direitos de quem sofre o impacto dessa expressão. Convém relembrar que esses direitos
apresentam um caráter bivetoral, fato que concebe um papel humanista a estes direitos, pois, além
de sedimentarem a democracia em determinado governo, eles contribuem para uma maior
propagação e discussão de ideias no espaço público. Este aspecto, por sua vez, confere maior
densidade ao princípio da igualdade, protegendo os grupos de minorias de eventual asfixia pelo
rupo majoritário e concretizando o direito à diferença.

23. Em que consiste a teoria do impacto desproporcional?


Em apertada síntese, poder-se-ia dizer que a teoria do impacto desproporcional seria a vedação
de toda prática de discriminação indireta, ou seja, o dever de toda e qualquer prática empresarial,
política governamental ou semigovernamental, de cunho legislativo ou administrativo, ainda que
não provida de intenção discriminatória no momento de sua concepção, ser condenada por
violação do princípio constitucional de igualdade material se, em consequência de sua, resultarem
efeitos nocivos de incidência especialmente desproporcional sobre certas categorias.
O leading case desta teoria deu-se nos EUA. Foi o famoso caso Griggs vs. Duke Power Co. de
1970, em que, em seu bojo, foi questionada a prática da empresa que, como condição para
promoção dos empregados, submetia-os a sucessivos testes ditos de inteligência. Ocorre que os
autores da ação alegaram que tal conduta tinha impacto negativo desproporcional sobre os
trabalhadores negros, já que em sua maioria haviam frequentado escolas segregadas, em que o
ensino seia inferior, fato que os impedia de concorrer em igualdade de condições com os
empregados brancos. A corte entendeu que a prática não podia ser mantida por perpetuar o status
quo de práticas empregatícias discriminatórias do passado.
A teoria do impacto desproporcional também foi utilizada por fundamento na Corte Europeia no
caso Bilka-Kaufhaus vs. Van Hartz, a fim de evitar discriminações de gênero. Neste caso, foi
discutida a validade de um sistema privado de pensão mantido pela empresa alemã, que negava
o benefício a empregados que trabalhavam em regime parcial. Embora aparentemente neutra, a

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prática impactava de forma desproporcional as mulheres, já que elas, na maioria dos casos,
trabalhavam em regime parcial para conciliar com o cuidado dos filhos.

24. Em que consiste o refugiado sur place?


Excepcionando as regras gerais conferidas às condições para a concessão de refúgio, acha-se a
situação reconhecida como refugiados “sur place”. Essa hipótese ocorre quando uma pessoa, que
já se encontra há algum tempo residindo legalmente no exterior, decide solicitar refúgio, em face
de circunstâncias surgidas posteriormente à sua saída do país natal, ou decorrentes de seus
próprios atos.
Pode haver reconhecimento da condição de refugiado sur place, por exemplo, para: diplomatas e
outros funcionários que prestam serviços no exterior, estudantes, prisioneiros de guerra,
trabalhadores migrantes, ou quaisquer outras pessoas que solicitam esse reconhecimento. Outra
situação decorre do próprio indivíduo, quando, por exemplo, se associa com refugiados já
reconhecidos, ou quando expressa suas opiniões políticas no país onde reside.

25. Qual o objetivo das 100 regras de Brasília?


As chamadas “100 Regras de Brasília“, oriundas do trabalho das Cortes Superiores de Justiça
dos países Iberoamericanos, foram aprovadas pela XIV Cúpula Judicial Iberoamericana (2008) e
tiveram como norte as ondas de acesso à Justiça.
Os regras, ou ainda princípios, de Brasília revelam um olhar minucioso aos grupos de vulneráveis.
Melhor dizendo, traduzem uma intenção de se promover uma política judicial que atenda às
especificidades de grupos vulneráveis à luz das regras internacionais de direitos humanos.
O conceito de vulnerável não apresenta limites claramente definidos, mas, em geral, vulneráveis
são aquelas pessoas que, por razão da sua idade (v.g., crianças, adolescentes e idosos), gênero,
estado físico ou mental, ou por circunstâncias sociais (ex: vítimas de delito), econômicas, étnicas
e/ou culturais (ex: comunidades indígenas), encontram especiais dificuldades em exercitar com
plenitude perante o sistema de justiça os direitos reconhecidos pelo ordenamento jurídico.
Cumpre destacar que as 100 regras de Brasília apresentam natureza jurídica de soft law.
Em suma, as 100 Regras de Brasília apresentam como finalidade precípua garantir e viabilizar a
proteção e o acesso à justiça das pessoas consideradas vulneráveis, além de promover políticas,
medidas, facilidades e apoios que permitam que as referidas pessoas usufruam do pleno gozo dos
serviços do sistema judicial.

26. É possível ingresso como “amicus curiae” no Sistema Interamericano de Direitos


Humanos?
Sim. Inclusive, a Defensoria Pública da União, em parceria com entidades da sociedade civil,
protocolou ano passado (2017) petição de amici curiae junto à Corte Interamericana.

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A referida petição versava sobre as dificuldades de acesso das pessoas trans aos direitos humanos
no Brasil, em especial, no que diz respeito à retificação do nome e do sexo no registro civil.
O memorial foi elaborado em resposta a convocatória da Corte IDH para colher manifestações
sobre o tema, aberta após uma solicitação da Costa Rica ao tribunal. “No documento enviado à
Corte Interamericana de Direitos Humanos, a DPU defendeu que se adote 1o paradigma da
desbiologização da identidade, e ressaltou que o memorial ‘não se perfaz como um burocrático
parecer técnico, mas, sobretudo busca incorporar as reivindicações e representações que espelham
um histórico de lutas pelo reconhecimento de direitos de vários segmentos LGBTI.”
Cumpre salientar que pessoas físicas também estão possibilitadas de ocuparem tal posição
(amicus curiae). Inclusive, o ilustre penalista Zaffaroni atuou como Amicus Curie no caso Fermin
Ramirez versus Guatemala.

27. Qual a diferença de contrabando de migrantes e tráfico de migrantes?


O contrabando de migrantes significa tão só um meio de migração ilegal. Não há exploração da
pessoa pelo atravessador ou “traficante” no local de destino. Sua relação com o migrante
restringe-se à facilitação da travessia ilegal da fronteira. Não há coação ou fraude, nem qualquer
relação com o futuro trabalho do migrante. Ademais, não há violação de direitos humanos per se,
o ofendido aqui é o Estado, pela violação de suas normas de imigração, e o objeto jurídico
protegido é o direito de esse Estado defender e controlar suas fronteiras, decidindo quem pode
entrar em seu território. Por esses motivos, tanto o migrante quanto o contrabandista são
criminalmente responsáveis.
A exploração no tráfico é elementar do tipo, ou seja, se ela não existir, o crime também não
existirá, poderá haver outro delito, menos o tráfico de pessoas. Já para o contrabando de migrantes
não há exploração após a entrada no território do país de destino. A relação envolve apenas a
ajuda para ultrapassar a fronteira.
Da mesma forma se dá com o espaço geográfico dos dois delitos. Enquanto o tráfico pode
acontecer dentro do próprio país natal da vítima (tráfico interno) e também internacionalmente,
atravessando as fronteiras, para o contrabando de migrantes cruzar a fronteira é elemento
essencial do tipo.

28. Disserte sobre Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento dos Presos.
As Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento dos Presos, também conhecidas como
“Regras de Mandela”, apresentam como escopo salvaguardar, ainda que minimamente a
dignidade das pessoas encarceradas.
Dessa forma, nas notas introdutórias do referido tratado, fica clara a intenção de asseverar que as
pessoas privadas de liberdade devem manter seus direitos humanos irrevogáveis e todos os
demais direitos humanos e liberdades
fundamentais.

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São elencados vários direitos, dentre os quais destacam-se:


Trabalho
2.As horas serão fixadas de modo a deixar um dia de descanso semanal e tempo suficiente para a
educação e para outras atividades necessárias ao tratamento e reabilitação dos presos.
Separação de categorias
8. As diferentes categorias de presos deverão ser mantidas em estabelecimentos prisionais
separados ou em diferentes zonas de um mesmo estabelecimento prisional, levando-se em
consideração seu sexo e idade, seus antecedentes, as razões da detenção e o tratamento que lhes
deve ser aplicado
Exercícios físicos
21. 1.O preso que não trabalhar ao ar livre deverá ter, se o tempo permitir, pelo menos uma hora
por dia para fazer exercícios apropriados ao ar livre.
Informação e Direito de Queixa dos Presos
36. Todo preso terá, em cada dia de trabalho, a oportunidade de apresentar pedidos ou queixas ao
diretor do estabelecimento ou ao funcionário autorizado a representá-lo.

29. Fale sobre o Terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-III).


O Terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos, instituído pelo Decreto nº 7.037, de 21 de
dezembro de 2009, e atualizado pelo Decreto nº 7.177, de 12 de maio de 2010, é produto de uma
construção democrática e participativa, incorporando resoluções da 11ª Conferência Nacional
de Direitos Humanos, além de propostas aprovadas em mais de 50 conferências temáticas,
promovidas desde 2003, em áreas como segurança alimentar, educação, saúde, habitação,
igualdade racial, direitos da mulher, juventude, crianças e adolescentes, pessoas com deficiência,
idosos, meio ambiente etc.
O PNDH-3 concebe a efetivação dos direitos humanos como uma política de Estado, centrada
na dignidade da pessoa humana e na criação de oportunidades para que todos e todas possam
desenvolver seu potencial de forma livre, autônoma e plena. Parte, portanto, de princípios
essenciais à consolidação da democracia no Brasil: diálogo permanente entre Estado e sociedade
civil; transparência em todas as áreas e esferas de governo; primazia dos Direitos Humanos nas
políticas internas e nas relações internacionais; caráter laico do Estado; fortalecimento do pacto
federativo; universalidade, indivisibilidade e interdependência dos direitos civis, políticos,
econômicos, sociais, culturais e ambientais; opção clara pelo desenvolvimento sustentável;
respeito à diversidade; combate às desigualdades; erradicação da fome e da extrema pobreza.
O PNDH-3 estrutura-se em torno dos seguintes eixos orientadores:
I. Interação Democrática entre Estado e Sociedade Civil;
II. Desenvolvimento e Direitos Humanos;
III. Universalizar Direitos em um Contexto de Desigualdades;
IV. Segurança Pública, Acesso à Justiça e Combate à Violência;

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V. Educação e Cultura em Direitos Humanos; e


VI. Direito à Memória e à Verdade.
O Eixo I, Interação Democrática entre Estado e Sociedade Civil, reflete o pressuposto de que
o compromisso compartilhado e a participação social na construção e no monitoramento de
políticas públicas são essenciais para que a consolidação dos direitos humanos seja substantiva e
conte com forte legitimidade democrática. Nesse contexto, o PNDH-3 propõe a integração e ao
aprimoramento dos fóruns de participação existentes, bem como a criação de novos espaços e
mecanismos institucionais de interação e acompanhamento.
O Eixo II, Desenvolvimento e Direitos Humanos, enfoca a inclusão social e a garantia do
exercício amplo da cidadania, garantindo espaços consistentes com as estratégias de
desenvolvimento local e territorial e buscando um modelo de crescimento sustentável, capaz de
assegurar os direitos fundamentais das gerações presentes e futuras.
O Eixo III, Universalizar Direitos em um Contexto de Desigualdades, baseia-se na necessidade
de reconhecer as diversidades e diferenças para concretização do princípio da igualdade, visando
à superação de barreiras estruturais para o acesso aos direitos humanos. Envolve, portanto,
iniciativas relacionadas com a redução da pobreza, a erradicação da fome e da miséria, o combate
à discriminação e a implementação de ações afirmativas voltadas para grupos em situação de
vulnerabilidade.
O Eixo IV, Segurança Pública, Acesso à Justiça e Combate à Violência, envolve metas para a
diminuição e prevenção da violência e criminalidade, priorizando a transparência e a participação
popular. Inclui ainda, medidas de ampliação do acesso à Justiça, por meio da disponibilização de
informações à população, do fortalecimento dos modelos autocompositivos de solução de
conflitos e da modernização da gestão do sistema de Justiça.
O Eixo V, Educação e Cultura em Direitos Humanos, refere-se ao desenvolvimento de
processos educativos permanentes voltados à formação de uma consciência centrada no respeito
ao outro, na tolerância, na solidariedade e no compromisso contra todas as formas de
discriminação, opressão e violência, com base no respeito integral à dignidade humana.
O Eixo VI, Direito à Memória e à Verdade, afirma a importância da memória e da verdade
como princípios históricos de direitos humanos, e tem como finalidade assegurar o processamento
democrático e republicano dos acontecimentos ocorridos durante o regime militar, além das
reparações a violações que tenham se passado nesse contexto.
Cabe salientar, por fim, que, entre os principais avanços trazidos pelo Programa, destacam-se a
transversalidade de suas diretrizes, objetivos e ações programáticas e o envolvimento de
diversos Ministérios, partindo da perspectiva de indivisibilidade e interdependência dos direitos
humanos. Nesse sentido, as iniciativas de responsabilidade do Governo Federal previstas no
documento se distribuem por todas as áreas da administração, reforçando a importância da
coordenação entre as políticas públicas desenvolvidas pelos diversos Ministérios para o alcance
dos resultados esperados.

“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)
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* Informações retiradas de: https://www.pndh3.sdh.gov.br/portal/sistema/sobre-o-pndh3

30. Como ocorre a fixação de competência no TPI.


Segundo André de Carvalho Ramos, a jurisdição do TPI só pode ser exercida em quatro hipóteses,
ou seja, quando o crime de jus cogens sujeito à jurisdição do Tribunal for:
i) cometido no território de um Estado Parte;
ii) ou por um nacional do Estado Parte;
iii) ou por meio de declaração específica do Estado não contratante (caso o crime tiver ocorrido
em seu território ou for cometido por seu nacional);
iv) ou, na ausência de quaisquer hipóteses anteriores, ter o Conselho de Segurança adotado
resolução vinculante adjudicando o caso ao Tribunal Penal Internacional. Foi o Caso de Darfur
(Sudão), o primeiro no qual o Conselho de Segurança determinou o início das investigações,
mesmo sem a ratificação, pelo Sudão, do Estatuto do TPI. Em 2011, houve mais uma resolução
vinculante do CS, agora em relação aos crimes contra a humanidade realizados pelo Ditador
Kadafi para abafar revolta popular contra sua longeva tirania (1969-2011).
No âmbito temporal, a jurisdição do TPI só pode ser invocada para os crimes cometidos após a
entrada em vigor do Estatuto, ou seja, após 1º de julho de 2002.

“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles)

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