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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___VARA CRIMINAL

FORO DE ______ – ESTADO DE _________.

Processo nº xxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Autor, já qualificado nos autos da ação penal em epígrafe, por seu


advogado subscritor, nomeado pelo convenio Defensoria/OABSP, vem,
respeitosamente, perante Vossa Excelência, com fulcro artigos 396 e 396-
A do Código de Processo Penal, apresentar sua RESPOSTA À ACUSAÇÃO,
contestando a Denúncia em todos os seus termos e ao final provar sua inocência,
conforme Ditames da JUSTIÇA:

DA DENÚNCIA

Consta no autos da denúncia ofertada pelo Ministério Público do


Estado de São, na data de 19 de setembro de 2019, por volta de 3 horas e 34
minutos, na Avenida Presidente Getúlio Dorneles Vargas, em _______, o denunciado
previamente ajustado, com unidade de propósito, subtraiu em combinação com
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, 12 (doze) metros de fiação telefônica, avaliados em R$
350,00 (trezentos e cinquenta reais), pertencentes a empresa VIVO, utilizando arco
de serra (segueta) que estava em poder do denunciado.

O comportamento da dupla foi observado pelas câmeras de


segurança existentes no local, que acionou os policiais militares, abordando os
denunciados em poder dos bens subtraídos, razão disso foram denunciados como
incursos no art. 155, §4º, inciso II, do Código Penal.
Santos/SP
Avenida Siqueira Campos, nº 156, Macuco, CEP 11015-300, Santos/SP
Telefone (13) 99634-2035
e-mail: miltondotajunioradv@gmail.com 1
DA RESPOSTA À ACUSAÇÃO

Ab initio, sabemos que, quando se diz que houve furto de cabos e


fios nos postes de via pública, automaticamente ligamos com os usuários de drogas,
principalmente os dependentes do crack, apelidados de zumbis, que vive pelas ruas a
procura de qualquer coisa que valha algum dinheiro, com intuito de comprar crack, a
dependência é tão grande que vivem somente para isso.

Deste modo, acontece com o denunciado, dependente de drogas


(crack), vivendo como zumbi nas ruas, não tem residência, não come, não banha,
vive em busca do precioso (crack) e assim segue sua ruina, e se acaso não busque
tratamento contra a dependência, a morte é certeira.

A Lei de drogas trata o usuário como alguém que carece de


tratamento médico e não de repressão policial, mesmo nas hipóteses em que esse
usuário, sendo viciado na droga, pratica outros crimes em geral para sustentar o
próprio vício.

Semelhante às hipóteses de inimputabilidade previstas nos


artigos 26 e 28 do Código Penal, a lei de drogas traz alguns institutos que podem
ser aplicados equiparando o vício da droga ao doente mental, e o uso da droga às
mesmas hipóteses do uso do álcool ou substância de feitos análogos.

O artigo 45 da lei 11.343/06 institui que:

É isento de pena o agente que, em razão da


dependência, ou sob o efeito, proveniente de caso fortuito
ou força maior, de droga, era, ao tempo da ação ou da
omissão, qualquer que tenha sido a infração penal
praticada, inteiramente incapaz de entender o caráter
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento.

Ao analisarmos as disposições previstas, é portanto possível


identificar que a dependência da droga foi equiparada pelo legislador à doença

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mental com a mesma disposição prevista no caput do art. 26 do Código Penal,
trazendo assim uma isenção de pena com o reconhecimento da inimputabilidade.

Conforme consta no depoimento do denunciado, o mesmo é usuário


de crack, razão pela qual este juízo deva reconhecer a inimputabilidade prevista no
art. 45 da lei de drogas “isento de pena o agente que, em razão da dependência,
(...) de droga, era, ao tempo da ação ou da omissão, qualquer que tenha sido a
infração penal praticada, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do
fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento”.

Para que não paire qualquer dúvida quanto a dependência do


denunciado, requer seja feita exame toxicológico com profissional capacitados, que
ao final restara a aplicação da excludente de culpabilidade.

Neste sentido, segundo o Superior Tribunal de Justiça, no


julgamento do Habeas Corpus nº 118.320 – DF, configura nulidade processual que
pode ser sanada inclusive pela via mandamental, tendo a corte ementado sua
decisão nos seguintes termos: Diz o art. 45 da Lei nº 11.343/06 ser isento de pena
o agente que, em razão da dependência, ou sob o efeito, proveniente de caso
fortuito ou força maior, de droga, era, ao tempo da ação ou da omissão, qualquer
que tenha sido a infração penal praticada, inteiramente incapaz de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. É
certo que o pedido de diligências – no caso, realização de exame de dependência
toxicológica – pode ser indeferido pelo Magistrado, desde que o faça em decisão
devidamente motivada. Na hipótese, carece de efetiva fundamentação a decisão do
Juízo singular, principalmente diante dos elementos que evidenciam a necessidade
da perícia. Ordem concedida com o fim de anular o processo crime originário, com a
determinação de realização do exame de dependência toxicológica.

Observa-se, portanto, que no mundo das drogas, que além da


problemática causada pelo tráfico, ainda se tem crimes em que a droga, agindo no
sistema nervoso central do infrator, desvia a sua conduta normal e o leva à pratica
delituosa.

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São os delitos praticados pelo usuário/dependente de drogas para,
de certa forma, sustentar o vício. Assim, ou ele pratica o crime para conseguir meios
de adquirir o entorpecente, se tornando escravo do vício, ou ele pratica delitos porque
está sob os efeitos que as drogas causam no organismo.

Nesses casos, o usuário/dependente furta, rouba, se prostitui e até


mata no intuito de obter mais e mais entorpecente.

Posto isso, resta demonstrada que o denunciado é usuário de


droga, necessitando de tratamento para desdrogatização ao invés de trata-lo como
um criminoso, quando, talvez, o certo seria classificá-lo, como vítima ou usuário
dependente que carece de atenção e tratamento.”

Excelência, o denunciado para sustentar seu vício, sem alternativa,


em crise de abstinência, tentou praticar o furto, a fim de conseguir uns trocados
para saciar seu no toxico, de modo que requer a este juízo seja conhecida a
excludente absolvendo-o da prática do furto qualificado nos termos da denúncia.

Ademais, o uso das drogas não é maléfico apenas para quem usa,
seus reflexos atingem a sociedade diretamente e por isso a importância de o Estado
tomar medidas para reprimir o tráfico, esclarecer preventivamente a população
acerca dos malefícios das drogas e possibilitar o tratamento e a reabilitação dos
usuários ou dependentes químicos.

DA DESCLASSIFICAÇÃO DO CRIME DE FURTO CONSUMADO PARA O DE


FURTO TENTADO

Não entendendo esse Douto Julgador pela atipicidade da conduta


face o reconhecimento da excludente de culpabilidade (inimputabilidade), pede-se,
subsidiariamente, a desclassificação do crime de furto qualificado do art. 155, §4,
inciso II, do Código Penal, para o furto tentado, art. 155, caput c/c
art. 14, II do Código Penal.

Conforme a melhor doutrina, para a consumação do crime de furto


exige-se a posse tranquila e desvigiada da res.

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No caso em tela, o crime não se consumou haja vista que em
nenhum momento os causados tiveram a posse tranquila das coisas subtraídas,
sendo certo que foram presos em flagrante quando deixavam o local dos fatos.

O artigo 155, caput, diz:

“Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia


móvel:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa”.

O artigo 14, inciso II, por sua vez reza:

Art. 14 - Diz-se o crime:

Tentativa

II - Tentado, quando, iniciada a execução, não se


consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.

O acusado fora abordado por policias militares que o conduziu para


a delegacia de polícia, em situação de flagrante delito.

Para grande parte da doutrina, que compactua pela teoria da


inversão da posse, o crime de furto somente se consuma quando a coisa sai da
esfera de proteção e disponibilidade da vítima, adquirindo o agente a posse
tranquila da coisa, ainda que por breve tempo.

Não é o que ocorre com o caso em questão, o acusado não se


amolda inteiramente ao tipo penal previsto em lei, não há a consumação da prática
de furto, mas sim, da de tentado, pois em nenhum momento houve a retirada e a
posse da coisa alheia móvel para si ou para outrem.

Colaciona-se a seguinte ementa de julgado do STJ nesta esteira:

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Furto. Crime consumado (momento). Tentativa
(reconhecimento). 1. Diz-se consumado o furto quando o
agente, uma vez transformada a detenção em posse, tem
a posse tranquila da coisa subtraída. 2. Segundo o
acórdão recorrido, ‘em nenhum momento o réu deteve a
posse tranquila da res furtiva, porquanto foi imediatamente
perseguido e capturado pelos policiais militares que
efetuavam patrulhamento no local’. 3. Caso, portanto, de
crime tentado, e não de crime consumado. 4. Recurso
especial do qual se conheceu pelo dissídio, porém ao qual
se negou provimento. Decisão por maioria de votos. (STJ,
6ª turma, REsp 663.900/RS. Rel. Min. Hélio Quaglia
Barbosa, j. 16-12-2004, DJ, 26-6-2005, p.463).

Vejamos também o ensinamento de Professor Luiz Flávio Gomes:

“Enquanto o agente não tem a posse tranquila da coisa


subtraída não há que se falar em consumação, porque
ainda não se concretizou o desvalor do resultado (a
lesão).”

Neste sentido, pugna-se pela desclassificação do crime de furto


qualificado do art. art. 155, §4, inciso II, do Código Penal, para a tentativa de furto,
disposto no art. 155 c/c art. 14, II, do Código Penal.

DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer-se:

a) A absolvição sumária do denunciado face a atipicidade da


conduta decorrente da excludente de culpabilidade (totalmente incapaz), tendo em
vista que o denunciado necessita é de tratamento médico/psicológico, caso
contrário voltará a delinquir, como já delinquiu, estando ambos presos;

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b) Subsidiariamente, caso Vossa Excelência assim não entenda,
requer-se a desclassificação do delito de furto qualificado para o de furto tentado;

c) Requer seja feito no denunciado exame toxicológico com


profissional capacitados, quando ao final restará comprovado sua dependência
química com a aplicação da excludente de culpabilidade.

Requer-se ainda a produção de todos os meios de prova admitidos


em direito.

Nestes Termos,

Pede deferimento.

Cidade, estado, dia, mês, ano.

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Advogado OAB/SP

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