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LEGISLAÇÃO PENAL

ESPECIAL
LEI DE DROGAS –
Nº 11.343/2006
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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


LEI DE DROGAS – Nº 11.343/2006
CRIME – ART. 33, CAPUT: TRÁFICO DE DROGAS
Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à
venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar,
entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500
(mil e quinhentos) dias-multa.

CONDUTA
- Crime de ação múltipla, conteúdo variado ou tipo misto alternativo: como vimos, a principal
característica é: praticado mais de um verbo, no mesmo contexto fático, responderá por crime único.
- Sujeito ativo: em regra é qualquer pessoa (crime comum). Mas, quanto ao verbo “prescrever”,
temos crime próprio, porque apenas profissional da saúde pode praticar.
ͫ A diferença desta prescrição para a prescrição do art. 38, reside no elemento subjetivo,
sendo que o delito do art. 38 é culposo e este é doloso.
- Elemento subjetivo: dolo!
ͫ Muito embora seja algo característico de muitos dos verbos do tipo penal em questão,
aqui dispensa a finalidade de lucro. Pode até ter, mas não é exigível (ex: fornecer
gratuitamente).

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
- A consumação ocorre quando há prática de quaisquer dos verbos previstos no tipo. Veja-se
que, alguns verbos, configuram crime permanente, como por exemplo: ter em depósito e transportar.
Cleber Masson, Vinícius Marçal e Guilherme de Souza Nucci entendem que este delito é formal.
* alguns doutrinadores entendem que é crime de mera conduta.
- Sobre a tentativa: é cabível, embora de difícil visualização na prática.

COMPLEMENTO
A. Consumação do verbo “adquirir”: Ocorre com o acordo/avença quanto à aquisição da droga,
sendo desnecessária a efetiva tradição/entrega da substância. Isso já foi veiculado em julgado do STJ.
ͫ Na situação, um sujeito adquiriu droga de outra pessoa por telefone, com o objetivo de
traficar. Combinaram dia, hora e local, além de ceder veículo para transporte da droga.
ͫ No trajeto, o fornecedor foi parado pela polícia e preso em flagrante, antes de haver
efetivamente entregado a droga ao destinatário. Nesse caso houve a consumação do
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delito para ambos, a qual ocorreu no momento em que se acordou/avençou/combinou


a entrega da droga, mesmo que não tenha havido a efetiva tradição (entrega).

FIGURAS EQUIPARADAS: ART. 33, §1º DA LEI ‑> AQUI A CONDUTA NÃO
RECAI SOBRE A DROGA PROPRIAMENTE DITA, MAS SOBRE OS OBJETOS
RELACIONADOS A ELA.
- Além disso, se discute na doutrina sobre a possibilidade ou não de consunção quando prati-
cado o delito do art. 33 caput e, no mesmo contexto fático, alguns dos verbos previstos nos incisos
do §1º.
Há dois crimes? Ou crime único? Prevalece que há um único crime se praticados no mesmo
contexto fático (art. 33, caput), aplicando-se o princípio da consunção (há julgado do STJ nesse
sentido).
Primeira figura: O objeto material não é a droga em si, mas sim: matéria prima, insumo ou
produto químico destinado à preparação de droga.
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem:
I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, for-
nece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima,
insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas;
ͫ Exemplo 1: folha de coca, constituindo-se matéria prima que se destina à produção da
droga.
ͫ Exemplo 2: acetona destinada ao refino de cocaína, constituindo-se um insumo para a
preparação da droga.
ͫ Para que haja caracterização do delito não é necessário que essa matéria prima, insumo
ou produto químico tenham o princípio ativo da droga (substância psicotrópica). É o que
diz a doutrina.
Embora o entendimento acima seja majoritário, há polêmica a respeito de uma situação em
específico: tipificação da conduta de importar pequena quantidade de semente de maconha.
É crime?
De forma objetiva, saiba que conforme posicionamento mais recente tanto no STF quanto no
STJ, tal conduta é atípica, pois: a semente da maconha não possui a substância psicoativa/
princípio ativo da droga, tampouco serve de reagente para a sua produção (o que afasta o art.
33, §1°, I); a conduta de importar não se confunde com “semear, cultivar ou colher” (não inci-
dindo o art. 28, §1° ou o art. 33, §1°, II). Alguns julgados aplicam o princípio da insignificância à
conduta mencionada, mas fato é que, seja por um motivo ou outro, atualmente a importação
de pequena quantidade de semente de maconha não caracteriza crime.
Segunda figura: Aqui o objeto material são plantas que se constituam em matéria-prima para
a preparação de drogas.
ͫ - A diferença dessa figura equiparada para a do art. 28, §1º (que receberá a mesma pena
do art. 28, caput), é que lá é destinado à preparação de pequena quantidade de droga
e com finalidade de consumo pessoal.
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ͫ Se for grande quantidade e/ou para mercancia, teremos a figura equiparada ao tráfico
de drogas:
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem:
(...)
II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação
legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação
de drogas;

TERCEIRA FIGURA
Temos aqui a conduta daquele que utiliza ou consente que outra pessoa utilize local ou bem
de que tem a propriedade/posse/guarda (dono do imóvel, locatário, vigilante, etc), ainda que gra-
tuitamente, para o TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS.
Esse local pode ser imóvel (terreno, casa, apartamento) ou móvel (carro, avião).
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem:
(...)
III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administra-
ção, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente,
sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico
ilícito de drogas.
ͫ - Sujeito ativo: crime próprio, porque o agente terá que ter propriedade, posse, adminis-
tração, guarda ou vigilância (não é qualquer pessoa que poderá praticar o crime);
ͫ - Se as condutas não forem destinadas ao tráfico de drogas, mas sim ao consumo de dro-
gas, não teremos o delito do art. 33, §1°, III. Haverá, nesse caso, duas situações possíveis:
a. se o agente CEDE o local para que outrem use droga (e não para o “tráfico”), teremos o
crime do art. 33, §2° da Lei (pois estará auxiliando alguém para o consumo de droga).
b. se o próprio agente utiliza o local para usar droga (consumo pessoal), teremos o crime do
art. 28.

QUARTA FIGURA: ATENÇÃO ISSO É NOVIDADE DO PACOTE ANTICRIME!


§ 1º Nas mesmas penas incorre quem:
(...)
IV - vende ou entrega drogas ou matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à
preparação de drogas, sem autorização ou em desacordo com a determinação legal ou regu-
lamentar, a agente policial disfarçado, quando presentes elementos probatórios razoáveis
de conduta criminal preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
- É importante recordar da súmula 145 do STF – Flagrante preparado (polícia induz prática do
crime ao mesmo tempo que adota conduta para que o mesmo se consume):
SÚMULA 145 - NÃO HÁ CRIME, QUANDO A PREPARAÇÃO DO FLAGRANTE PELA POLÍCIA
TORNA IMPOSSÍVEL A SUA CONSUMAÇÃO.
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ͫ Ex: policial disfarçado que se faz passar por interessado na aquisição de droga, provocando
a venda da substância por parte do traficante. Este, diante da solicitação, vai ao lugar
onde tem armazenadas as substâncias (em depósito) e, ato contínuo, a vende. Nesse
momento o policial anuncia a prisão em flagrante do traficante.
ͫ Nesse exemplo, em relação ao verbo “vender” houve crime impossível, porquanto existiu
indução à venda, ao mesmo tempo em que precauções foram adotadas para que ela não
se consumasse (flagrante preparado). Contudo, em relação ao verbo “ter em depósito”
o crime existiu (flagrante lícito), pois quanto a ele o delito já estaria ocorrendo antes da
ação do policial.

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