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DIREITO PENAL

TEORIA DO CRIME
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1 INTRODUÇÃO

1.1 CONCEITO

O conceito de crime varia de acordo com o critério adotado para defini-lo. Não existe um único
conceito de crime. Critérios:
1.1.1 CRITÉRIO MATERIAL OU SUBSTANCIAL:

Crime é a ação ou omissão humana, isto é, a conduta humana, e também da pessoa jurídica nos
crimes ambientais, que lesa ou expõe a perigo de lesão a bens jurídicos penalmente protegidos.
Esse conceito material funciona como um reforço/complemento ao princípio da reserva legal, pois não
é porque o legislador tem a lei que ele pode incriminar qualquer conduta.
A conduta deve ser apta a lesar ou colocar em perigo bem jurídico. Esse critério, portanto,
desempenha um papel seletivo no direito penal.
Princípios da ofensividade, intervenção mínima .

 O STF na sua maioria admite a responsabilidade penal da pessoa jurídica, quando:


(1) houver previsão na CF e (2) regulamentação por lei ordinária.

Hoje a única hipótese é no caso de crimes ambientais – regulamentação na Lei 9605/98 em seu art.
3º:

Art. 225. §3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio


ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a
sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação
de reparar os danos causados.

Sistema paralelo da imputação ou sistema da dupla imputação


De acordo com essa teoria, apenas é possível punir criminalmente a pessoa jurídica caso seja,
necessariamente, punida a pessoa física, ou que apenas seja punida a pessoa física, sozinha. A
responsabilidade penal da pessoa jurídica não excluiria a responsabilidade penal da pessoa física que
concorreu para o ato. Essa era a teoria adotada pelo STJ, que afirmava ser descabido falar em bis in idem na
aplicação de tal sistema, uma vez que a punição não é dirigida à mesma pessoa, mas, ao contrário, são punidas
duas pessoas, a física e a jurídica distintamente.
O STF, no entanto, disse que é possível responsabilizar a pessoa jurídica sem responsabilizar a pessoa física.
Muitas vezes não se sabe identificar de quem foi a ordem ilegal.
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*#OBS.: INF STJ 566: Responsabilidade penal da pessoa


jurídica. É possível a responsabilização penal da pessoa
jurídica por delitos ambientais independentemente da
responsabilização concomitante da pessoa física que agia em
seu nome. A jurisprudência NÃO MAIS ADOTA a chamada
teoria da "DUPLA IMPUTAÇÃO"!

1.1.2 CRITÉRIO LEGAL OU FORMAL:

Crime é o que a lei classifica como tal.


É o conceito fornecido pela própria lei. O conceito legal de crime está no art. 1º da Lei de Introdução ao
Código Penal.

Art 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de


reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou
cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a
que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou
ambas, alternativa ou cumulativamente.

Fala da existência de um gênero (infração penal), que se divide em duas espécies, crime e contravenção
penal.
A diferença entre crime e contravenção é fornecida pela lei e leva em conta a pena cominada.

 CRIME
 Seria a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou detenção, cumulativa ou
alternativamente com pena de multa.
 Ação penal pública ou ação penal privada
 Pune-se tentativa
 Admite-se extraterritorialidade
 Compete à JE e JF
 Limite de 40 anos de pena
 Período de sursis varia de 02 a 04 anos (podendo variar excecionalmente de 04 a 06 nos sursis
etário ou humanitário)
 Cabe prisão preventiva, art. 313 e art. 1º, III, da Lei 7.960/89 (prisão temporária)
 Admite-se o confisco dos instrumentos do crime
 O desconhecimento da lei é inescusável, servindo (no máximo) como atenuante da pena
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 CONTRAVENÇÃO
 Também conhecida por crime anão, crime vagabundo ou crime liliputiano (As Aventuras de Gulliver. A
primeira ilha em que o personagem chega, chamada de Lilliput, tinha pessoas de até 15 cm ), é espécie de

infração penal a que a lei comina a prisão simples e/ou multa.


 Pena de prisão simples ou de multa (podem ou não ser cominadas)
 Prisão simples jamais é cumprida no fechado, nem mesmo por intermédio de regressão
 Ação penal pública incondicionada
o De acordo com parcela da doutrina, vias de fato deveria ser condicionada à representação. Para o
STF, vias de fato continua sendo perseguida pela APP incondicionada. Argumenta que o tipo de ação
penal não depende da gravidade do crime, mas do grau de lesão ao interesse da vítima frente ao da
sociedade
 Tentativa não é punível (não significa que não é admitida, mas apenas que não é punível)
 Não se admite extraterritorialidade
 Compete à JE (será da JF caso o agente tiver foro por prerrogativa de função)
 Limite de 05 anos de pena
 Período dos sursis varia de 01 a 03 anos (art. 11, da LCP)
 Não cabe preventiva e nem temporária
 Não se admite o confisco dos instrumentos da contravenção penal
 A lei pode deixar de ser aplicada quando a ignorância ou a errada compreensão for escusável

Pouco importa o nome dado pelo legislador. Se o legislador coloca na lei de contravenções um tipo a que
atribui pena de reclusão, será crime. Não há diferença ontológica/de essência entre crime e contravenção
penal. A diferença é meramente qualitativa (espécie de pena) e quantitativa (quantidade da pena. Os crimes
têm uma quantidade de pena maior).

CRIME E CONTRAVENÇÃO: SISTEMA DICOTÔMICO (ou dualista) E SISTEMA TRICOTÔMICO

E delito? Delito é sinônimo de crime.


O direito penal brasileiro adota um sistema chamado dicotômico ou dualista, pois divide o gênero
infração penal em duas espécies.
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Existem países que adotam o sistema tricotômico - crimes seriam as infrações mais graves, delitos as
intermediárias e contravenções as mais suaves, como a França e a Itália.

 Exceções: excepcionalmente a CF e o CP utilizam a palavra delito como sinônimo de infração penal


(gênero), apenas para manter uma tradição terminológica (flagrante delito). Exemplo:
Art. 5º, XI a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial.

Fala em flagrante delito. Não seria apenas no caso de crime, mas obviamente abarca também as
contravenções.
Art. 301, CPP. Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes
deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito.

ART. 28 DA LEI DE DROGAS – não tem reclusão, nem detenção, nem prisão simples, nem multa.
Houve o entendimento de que esse tipo não seria nem crime nem contravenção, e sim uma infração penal
sui generis.
Para o STF (pacífico), esse art. 28 é crime. Não houve descriminalização da conduta pela nova lei de drogas,
ocorrendo apenas a despenalização no tocante à pena privativa de liberdade.
Quem pratica esse crime não pode, em hipótese alguma, ser privado de liberdade em nenhuma das formas de
prisão. O art. 28 não criou um novo conceito, mas sim um conceito específico, aplicável exclusivamente à
conduta descrita em seu artigo. Para todos os crimes da lei aplica-se o conceito geral.

Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer


consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo
com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas:
I - Advertência sobre os efeitos das drogas;
II - Prestação de serviços à comunidade;
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

1.1.3 CRITÉRIO DOGMÁTICO OU ANALÍTICO

Leva em consideração a estrutura do crime, ou seja, elementos/seus componentes.

 TEORIA QUADRIPARTIDA
o Defendida por Basileu Garcia e Giulio Battaglin
o Para esta Teoria o crime é composto de quatro elementos:
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 Fato Típico
 Ilicitude
 Culpabilidade
 Punibilidade
o A grande crítica é feita à punibilidade, que não seria elemento do crime e sim consequência
do crime. A prática do crime autoriza o direito de punir do Estado.

 TEORIA TRIPARTIDA
o Entende que o crime é formado por três elementos:
 Fato Típico
 Ilicitude
 Culpabilidade - não seria do fato, mas sim do agente. O fato é típico e ilícito e o agente é
culpável
o Os defensores da Teoria Tripartida podem ser clássicos ou finalista
 Clássicos:
 Nelson Hungria, Magalhães Noronha, Aníbal Bruno – obrigatoriamente, é tripartido
 Finalistas:
 Hans Welzel, Luís Regis Prado, Rogério Grego – ou bipartido

 TEORIA BIPARTIDA
o Está ligada ao finalismo penal
o Sustenta que o crime é formado por:
 Fato Típico
 Ilicitude
o Já a culpabilidade não seria um elemento do crime, é um pressuposto para aplicação da pena
o Criação puramente brasileira, foi desenvolvida por Rene Ariel Dotti, sendo difundida por
Damásio de Jesus e Mirabete
o O CP, em razão da reforme da parte geral de 1984, É FINALISTA. Contudo, não é possível
afirmar se adota um finalismo tripartido ou bipartido. O STJ já adotou as duas.
 Sugestão: Não adotar nenhuma posição. Saber explicar as duas. Já Roxin adota uma teoria bipartida
diferente = injusto penal (fato típico + ilicitude) + responsabilidade penal (entra no lugar da
culpabilidade. É o grau de reprovabilidade + necessidade de pena).

Vamos ver os elementos do crime de acordo com o critério analítico:


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2 FATO TÍPICO

2.1 NATUREZA JURÍDICA/CONCEITO

A natureza jurídica é de elemento estrutural do crime.


É a conduta humana, e também da pessoa jurídica nos crimes ambientais, que encontra
correspondência em uma norma penal incriminadora.
2.2 REQUISITOS OU ELEMENTOS

a) Conduta

b) Resultado
o O resultado que funciona como elemento do fato típico é o chamado resultado naturalístico

c) Nexo causal/relação de causalidade

d) Tipicidade

Esses quatro elementos só estarão todos presentes simultaneamente nos crimes materiais ou causais
consumados. O STF os chama de crimes de resultado. São aqueles em que o tipo penal contém conduta e
resultado naturalístico, e exige a produção deste último para a consumação (ex.: homicídio que se consuma
com a morte encefálica. Art. 3º da Lei 9434/97.

 (Não falar em aborto do anencéfalo, pois esse termo pressupõe vida. Falar em antecipação do parto). Em todos
os demais crimes, isto é, formais, de mera conduta e tentados, o fato típico só tem dois elementos –conduta e
tipicidade.

E o que são crimes formais, de consumação antecipada ou de resultado cortado?


O tipo penal contém conduta e resultado naturalístico, mas dispensa esse último para fins de
consumação. Se o resultado ocorrer haverá o exaurimento, que Zaffaroni chama de consumação material –
crime exaurido – exemplo: extorsão mediante sequestro. O resultado é o pagamento do resgate, que está no
tipo, mas o crime é consumado no momento da privação da liberdade.

Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem,
como condição ou preço do resgate.
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Já o crime de mera conduta ou de simples atividade, o tipo penal se limita a prever uma conduta, não
havendo resultado naturalístico – exemplo: ato obsceno.

Art. 233 - Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público.

Qual o ponto em comum entre um crime formal e de mera conduta?


Ambos se consumam com a prática da conduta, por essa razão o STF os chama de crimes sem
resultado.

Qual a diferença?
Nos crimes formais o resultado naturalístico, embora desnecessário para a consumação, PODE ocorrer.
Nos crimes de mera conduta o resultado naturalístico JAMAIS ocorrerá, pois ele não existe; o tipo não o
prevê.

2.3 SISTEMAS PENAIS

Aqui, estuda-se a forma como o Direito Penal foi elaborado, a evolução histórica, como o crime foi
tratado ao longo da história.

 Os pilares dos sistemas penais, repousam na CONDUTA e na CULPABILIDADE.

Teoria da conduta Sistema penal Teoria da culpabilidade DOLO


Causalista; mecanicista; Psicológica – dolo ou culpa Dolo
Clássico
naturalística; causal normativo
Neokantista; Causal- Psicológico – normativa – Dolo
Neoclássico
Valorativa. exigibilidade de conduta diversa normativo
Normativa pura – potencial
Finalista Finalista. Finalismo penal Dolo natural
consciência da ilicitude

2.3.1 SISTEMA CLÁSSICO

Seus percursores foram Von Liszt, Beling e Radbruch (os três mosqueteiros do DP).
Os percursores nunca deram esse nome ao sistema, o nome sistema clássico foi dado pelo finalismo, como
uma forma de determinar que estava ultrapassado, superado.
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No Sistema Clássico o crime apresenta: Fato típico, Ilicitude e culpabilidade.


 Fato típico é composto pela: conduta, resultado, relação de causalidade e tipicidade
 Ilicitude
 Culpabilidade: imputabilidade e o dolo (normativo) ou a culpa.

 TEORIAS ADOTADAS

o Em relação à conduta, o sistema clássico adota a Teoria Causalista ou Mecanicista ou Causal


ou Naturalista, para quem a conduta é o comportamento humano voluntário que produz um
resultado no mundo exterior.
A conduta representa uma fotografia do crime. A conduta independe, é desvinculada do dolo e da
culpa, é regulada pelas leis naturais.

o Críticas:
 Não abrange os crimes omissivos; falta relação de causalidade omissão/resultado
 Dolo e culpa na culpabilidade (espécies). E os crimes culposos? E a tentativa? (Bitencourt: o
dolo pertence ao injusto na tentativa, não pode ser somente elemento da culpabilidade na
consumação)
 O tipo penal não pode ser constituído somente de elementos objetivos

o Em relação à culpabilidade, adota a Teoria Psicológica. Defende que a culpabilidade nada


mais é do que o vínculo psicológico, representado pelo dolo ou pela culpa, entre o agente
imputável e o fato típico e ilícito por ele praticado.

Dolo normativo é aquele que tem a consciência atual ou real da ilicitude. Não basta querer o
resultado, é preciso querer sabendo que aquilo é contrário ao direito.

Ex. atropelamento da criança.


Praticou conduta penalmente relevante? Sim.
Há relação de causalidade e tipicidade. O fato, portanto, é típico.
Não há nenhuma excludente de ilicitude. O fato é típico e ilícito.
Culpabilidade? Imputável.
E o dolo? Não.
E culpa? Não.
Nesse exemplo não há crime, por ausência de culpabilidade.
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Dessa forma, o fato é típico e ilícito, mas não é culpável, pois ausente a culpa.
Quem é clássico, obrigatoriamente, é tripartido, pois dolo e culpa estão na culpabilidade, ou seja, tem
que haver culpabilidade, para não haver a responsabilidade penal objetiva. Se fosse clássico e bipartido
consagraria a responsabilidade penal objetiva. Aqui o dolo abarca a ideia também de consciência da ilicitude
do fato, chamado de dolo normativo.

Fato típico Ilicitude Culpabilidade


Relação de contrariedade entre o
Conduta Imputabilidade
fato e o Direito
Dolo NORMATIVO ou culpa –
Resultado naturalístico
consciência atual da ilicitude.
Relação de causalidade
Tipicidade

2.3.2 SISTEMA NEOCLÁSSICO/NEOKANTISMO PENAL

É o segundo estágio do sistema clássico.


Surgiu na Alemanha em 1907 quando o alemão Reinhart Frank desenvolve a Teoria da normalidade das
circunstâncias concomitantes (Teoria da Evitabilidade), só é culpável quem pratica o fato típico e ilícito em
uma situação de normalidade, ou seja, quando lhe era exigível uma conduta diversa . Exemplo: ao invés de
roubar ele poderia trabalhar.

 TEORIAS ADOTADAS

o Em relação à conduta, o sistema neoclássico adota também a Teoria Causalista, naturalista,


causal.

o Em relação à culpabilidade, adota a Teoria Psicológico-Normativa, só é culpável quem


pratica o fato típico e ilícito em uma situação de normalidade quando lhe era exigido uma
conduta diversa. Ex.: pagamento de uma dívida, você pode escolher entre trabalhar ou
roubar.
Consegue explicar algumas situações que antes não eram explicadas como duas novas
excludentes da culpabilidade:
 Coação moral irresistível
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 Obediência hierárquica
 Nesse caso a Teoria Psicológico-Normativa consegue explica a coação moral e a
obediência hierárquica porque não tem como ser exigido da pessoa uma conduta
diversa. Não tem como exigir do agente uma conduta diferente. Inexigibilidade de
conduta diversa.

 Além disso, abre espaço para as causas supralegais de exclusão da culpabilidade.


o São situações diferentes da coação moral irresistível e da obediência hierárquica, não estão
previstas na lei (daí o nome causas supralegais), mas que revelam um contexto, um panorama
de inexigibilidade de conduta adversa

A culpabilidade deixa de ser meramente psicológica e passa a ter elemento normativo (exigibilidade
de conduta diversa).
Só é culpado quem praticou o fato quando lhe era exigida conduta diversa.
O dolo ainda é normativo, pois abarcava a consciência da ilicitude.

Fato típico Ilicitude Culpabilidade


Relação de contrariedade entre o
Conduta Imputabilidade
fato e o Direito
Resultado naturalístico Dolo normativo ou culpa
Relação de causalidade Exigibilidade de conduta diversa
Tipicidade

AULA 7 DO G7

SISTEMA FINALISTA

O finalismo surge na Alemanha em 1930, sendo inaugurado por Hans Wetzel, no livro “o novo sistema
jurídico penal”.
 Hans demonstrou, pelo conceito de conduta, que qualquer pessoa, ao agir, tem uma finalidade. Ninguém
age por agir. Daí se tem o nome finalista > finalidade > final.
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 Ele transfere o dolo e culpa que estavam na culpabilidade e leva para a conduta.
 Afora isso, a consciência da ilicitude ficou na culpabilidade e deixou de ser atual para se transformar
em potencial.

 Na conduta teremos a teoria finalista.


o Para o finalismo, conduta é a ação ou omissão humana, consciente e voluntária, dirigida a um
fim.

 O fato típico continua com os mesmos elementos. Estruturalmente não muda nada.
 Na culpabilidade teremos a teoria normativa pura.
o No exemplo anterior, não há conduta penalmente relevante, pois, o agente não agiu com
dolo ou culpa. O fato será atípico (acidente, atropelamento da criança).

Quem adota a teoria finalista pode ser bipartido ou tripartido porque no finalismo o dolo e a culpa estão
na conduta e não na culpabilidade. Então, a culpabilidade pode ser tanto elemento do crime, como
pressuposto de aplicação da pena. No finalismo, a culpabilidade é vazia, pois foi esvaziada em relação aos
elementos psicológicos.
 O dolo deixou de ser normativo, para ser natural (independe da consciência da ilicitude).
o Até então, os causalistas somente conheciam o denominado dolo mau, vale dizer, quem
agisse com dolo, automaticamente, estaria atuando com consciência da ilicitude, com o
conhecimento de fazer algo errado > dolo normativo.
o Welzel procurou demonstrar a existência do dolo natural > o agente tem a vontade de
preencher os elementos do tipo penal, mas não possui necessariamente a consciência de que
age ilicitamente.

DOLO NATURAL (era normativo) x TEORIA NORMATIVA PURA (era psicológica)

#SELIGANATABELA:
Fato típico Ilicitude Culpabilidade
Relação de contrariedade entre o
Conduta (dolo e culpa) NATURAL Imputabilidade
fato e o Direito
Resultado naturalístico Potencial consciência da ilicitude
Relação de causalidade Exigibilidade de conduta diversa
Tipicidade
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CONDUTA

CONCEITO FINALISTA: É a ação ou omissão humana, consciente e voluntária, dirigida a um fim.

 Crimes praticados por ação são chamados de crimes comissivos. E crimes praticados por omissão são
chamados de crimes omissivos.
 Nos crimes comissivos o agente viola uma norma proibitiva. Nos crimes omissivos (próprios) o agente
viola uma norma preceptiva.
o Norma penal preceptiva é aquela que impõe a realização de um comportamento (exemplo:
art. 135, CP). Essa é a denominada Teoria das Normas, desenvolvida por um alemão Karl
Binding.

Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco
pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida,
ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o
socorro da autoridade pública:
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta
lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.

O finalismo deslocou o dolo e a culpa da culpabilidade > para a conduta (consciente e voluntária).
A conduta objetiva um fim que é a prática do crime ou contravenção penal.

Não há crime sem conduta. Todo crime pressupõe uma conduta dolosa ou culposa.
O Direito Penal não tolera os crimes de mera suspeita, ao contrário do que acredita Vincenzo . Essa
expressão foi criada pelo italiano Vicenzo Manzini e sustenta que no crime de mera suspeita o agente não é
punido pela sua conduta, e sim pela mera suspeita despertada pelo seu estilo de vida. Um exemplo é o art. 25
da Lei de Contravenções Penais (DL nº 3.688/1941) – gazua é todo e qualquer instrumento com ou sem forma
de chave utilizado para abrir uma fechadura, sem destruí-la. Muitos alegam que esse artigo é inconstitucional
porque pune o ser humano, independente da prática de uma conduta penal.

TEORIA CIBERNÉTICA
Tentou apenas mudar o nome da finalista para adequar melhor o termo aos crimes culposos.
Buscava compatibilizar o finalismo penal com os crimes culposos.

Concepção finalista da conduta (ôntico-fenomenológica)


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Segundo a lição dos Professores Alexandre Salim e Marcelo André de Azevedo (Direito Penal Parte Geral,
Ed. Jus Podivm, 2017), “o pensamento fenomenológico afirma que toda consciência é intencional. Não há
consciência separada do mundo, pois toda consciência visa o mundo. Tal pensamento fenomenológico, aliado
a uma consideração ontológica (investigação teórica do ser), repercutiu no campo jurídico, tendo Hans Welzel
desenvolvido a teoria finalista da ação”.

Nesse liame, os Professores ensinam que, à luz de tal pensamento, é investigado a natureza da ação e
formula-se um conceito de natureza pré-jurídica e pode ser valorado negativamente pelo legislador para fins
penais. Com efeito, se toda consciência é intencional, a ação humana não pode ser fracionada em seu aspecto
objetivos e subjetivo, ´pois a ação voluntária é finalista, ou seja, “traz consigo o querer-interno”. Conclui-se,
portanto, que “processo causal é dirigido pela vontade finalista”.

FORMAS DE CONDUTA:

 Ação. Conduta é positiva. Crimes comissivos


 Omissão. Conduta negativa. CRIMES OMISSIVOS:

o Próprios ou puros – omissão é descrita no próprio tipo penal . ex. deixar de prestar
assistência. São crimes comuns ou gerais, pois o sujeito ativo é comum; pode ser
qualquer pessoa. Não admite tentativa, por serem unissubsistentes.
 Crime unissubsistente – a conduta é composta de um único ato, suficiente
para a consumação. Não há como fracionar a execução, não cabendo
tentativa. Ex. omissão de socorro. Ou deixo de prestar socorro e o crime está
consumado ou presto socorro e não há crime. Em regra, são crimes de mera
conduta. Exemplo: art. 168-A, CP, mas o STF diz que se trata de crime material,
excepcionalmente.
PRÓPRIO – OMISSÃO DE SOCORRO. O MAIS CONHECIDO.

o Impróprios, espúrios ou comissivos por omissão - são aqueles em que o tipo penal
descreve uma ação, mas a inércia do agente, que descumpre o seu dever de agir (art.
13, §2º, CP), leva à produção do resultado naturalístico.
Quanto ao sujeito ativo, os crimes são próprios ou especiais (são aqueles em que o
tipo penal reclama uma situação fática ou jurídica diferenciada no tocante ao sujeito
ativo). Só podem ser praticados por quem tem o dever de agir para evitar o resultado.
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A lei fala naquele que devia e PODIA evitar o resultado, de forma que mesmo se tinha
o dever, mas não houve a possibilidade não responde pelo crime.
Ex. de bombeiro que quebra as pernas indo salvar criança afogada. Esses crimes
admitem tentativa por serem plurissubsistente - é aquele em que a conduta é
composta por dois ou mais atos, que se somam para a produção do resultado.
Se é plurissubsistente é possível fracionar a execução. Os crimes omissivos impróprios
são, em regra, crimes materiais.

*#OUSESABER #NOMENCLATURAÉQUESTÃODESOBREVIVÊNCIA: Você sabia que os crimes de "olvido" (ou do


esquecimento) são os crimes omissivos impróprios culposos? Não? Anota aí! Os crimes omissivos podem ser próprios e
impróprios (impuros ou comissivos por omissão). No PRÓPRIO existe a omissão de um dever de agir imposto
normativamente a todos. São delitos de mera conduta. Ex: art. 135, CP: omissão de socorro. No IMPRÓPRIO ou
COMISSIVOS POR OMISSÃO somente haverá crime se da referida abstenção decorrer um resultado concreto que poderia
ter sido evitado por determinado grupo de pessoas, chamado de garantidores (art. 13, § 2º, CP). Nesses crimes o sujeito
não tem o dever apenas de agir, mas de agir para evitar o resultado. Há, na verdade, um crime material (de resultado
naturalístico). Assim, o crime de “olvido” ou de esquecimento se dará no caso em que a omissão do garantidor ocorrer
por culpa. Ex: Salva-vidas que deixa de prestar atenção nos banhistas porque estava conversando no whatsapp, vindo um
deles a morrer afogado.

Relevância da omissão
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia
e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a
quem
a) tenha por lei (em SENTIDO AMPLO) obrigação de cuidado,
proteção ou vigilância; (ex.: PAIS, POLICIAIS).
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o
resultado; (GARANTE).

#OBS.: independem de vínculo jurídico, como ocorre com o professor de natação. Ex. pode ser um amigo nadado
experiente que convidou o outro para nadar. A responsabilidade subsiste enquanto estiver no local, independentemente
do fim da obrigação. Ex. enfermeira socorrer idosos após a jornada de trabalho, ainda estando em sua residência.

o Com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.


(INGERÊNCIA OU SITUAÇÃO PRECEDENTE).

*#OLHAOGANCHO #IMPORTANTE: O representante legal de


sociedade empresária contratante de empreitada não responde
pelo delito de desabamento culposo (art. 256, parágrafo único, do
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CP) ocorrido na obra contratada, quando não demonstrado o nexo


causal, tampouco pode ser responsabilizado, na qualidade de
garante, se não havia o dever legal de agir, a assunção voluntária de
custódia ou mesmo a ingerência indevida sobre a consecução da
obra. STJ. 6ª Turma. RHC 80.142-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis
Moura, julgado em 28/3/2017 (Info 601).

#OBS.: Outro caso de dever de agir – lei de crimes ambientais.

Art. 2º Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes


previstos nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua
culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho
e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de
pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de
impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la.

TEORIAS SOBRE A OMISSÃO

(1) Teoria Naturalística


A omissão é um fenômeno causal que pode ser verificado no mundo prático. Todo aquele que se
omite, de algum modo, faz algo (não fazer também é fazer).

(2) Teoria Normativa – adotada pelo Brasil.


A omissão não é apenas um não fazer. A omissão é não fazer aquilo que a lei impõe que seja feito.
Não se pode punir se a lei não exige um comportamento contrário.
Há duas formas de exigir: no próprio tipo penal (omissão própria) ou violando-se o dever geral de agir
presente no art. 13, §2º (omissão imprópria).

Crimes de conduta mista


É o crime em que tem uma parte inicial praticada por ação e tem uma parte final praticada por omissão.
Exemplo: crime de apropriação de coisa achada, art. 169, parágrafo único, II, CP. Penalmente falando, uma coisa só se
considera perdida quando está em local público ou de uso público. Se for local vigiado é caso de furto.

Art. 169 - Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por erro,
caso fortuito ou força da natureza:
Apropriação de coisa achada
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II - Quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente,


deixando de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à
autoridade competente, dentro no prazo de quinze dias.

2.3.3 Características da conduta

 Apenas o ser humano pode praticar condutas penalmente relevantes, salvo pessoa jurídica nos
crimes ambientais.

 Apenas a conduta voluntária interessa ao direito penal.


A vontade é elemento da conduta – FINALISMO-, pois o direito penal se fundamenta no princípio da
evitabilidade (só interessa ao direito penal aqueles comportamentos que podem ser evitados pelo ser
humano).

 Apenas os atos projetados no mundo exterior ingressam no conceito de conduta .


O Direito Penal não pode punir as ideias ou pensamentos do ser humano. Só os atos projetados e
exteriorizados ingressam no conceito de conduta.
Nelson Hungria falava do claustro psíquico. Enquanto a vontade criminosa não se liberta do claustro
psíquico que existe na mente do agente, o Direito Penal não pode agir. É por isso que a cogitação jamais é
punível, até porque na cogitação não há sequer perigo ao bem jurídico.
2.3.4 EXCLUSÃO DA CONDUTA

 CASO FORTUITO (ação humana) e FORÇA MAIOR (natureza)


São acontecimentos imprevisíveis e inevitáveis, que escapam ao controle da vontade. Sem vontade
não há conduta.

 MOVIMENTOS REFLEXOS
São reações fisiológicas, decorrentes da provocação dos sentidos.
Falta vontade.
Não confundir com:
 Atos habituais que são aqueles que o agente pratica repetidamente, ainda que
contrários ao Direito Penal (falar no celular enquanto dirige), são realizados em razão
de um vício qualquer.
 Há diferença entre hábito e costume, pois o hábito - Dirigir postando no facebook - se
faz por repetição e o costume é aquilo que se faz repetidamente porque se acredita
na obrigatoriedade. Costume é aquilo que se faz repetidamente por se acreditar ser
obrigatório. Costume é muito mais que o hábito.
18

 Ações em curto-circuito são derivadas de uma explosão emocional repentina. Por


exemplo, durante uma partida de futebol, uma multidão invade o campo para
protestar contra injusta marcação de pênalti. Nas ações em curto circuito, portanto,
existe conduta e crime.

 COAÇÃO FÍSICA IRRESISTÍVEL ou VIS ABSOLUTA


Não há vontade. Exclui tipicidade.
Coagido é corporalmente (fisicamente) controlado pelo coator, a fim de praticar o delito.
Não há conduta penalmente relevante, por falta total de vontade, o fato é ATÍPICO. O coagido é
controlado pelo coator.

Obs.: na coação moral irresistível (vis relativa) o coagido é gravemente ameaçado pelo coator a cometer o
crime. A vontade é viciada pela coação, mas está presente na conduta no coagido. O fato será típico, ilícito, mas
será excluída a culpabilidade pela inexigibilidade de conduta diversa.

Coação moral irresistível (vis relativa) – Exclui a Culpabilidade

Coação física irresistível (vis absoluta) – Exclui a Tipicidade

 SONAMBULISMO e HIPNOSE
Os atos são praticados em estado de inconsciência. Portanto, ausente a conduta.

*#OUSESABER: Qual a diferença entre autoria incerta e autoria desconhecida? Tais nomenclaturas, por serem parecidas,
podem confundir o candidato na hora da prova. Mas, não esqueça a diferença: a autoria incerta (de interesse do Direito
Penal) é aquela em mais de uma pessoa é indicada como autora do crime, mas não se apura com precisão qual foi a
conduta que efetivamente produziu o resultado (conhecem-se os possíveis autores, mas não se conclui de quem foi o
comportamento que deu causa ao resultado). Já a autoria desconhecida é um instituto ligado ao processo penal, que
ocorre quando um crime foi cometido, mas não se sabe quem foi seu autor.

RESULTADO

2.3.5 Conceito

É consequência/efeito/reflexo, desdobramento da conduta.


19

2.3.6 Terminologia

Alguns doutrinadores utilizam a palavra “evento”. Existe uma crítica doutrinária – evento é muito
genérico, abrangendo até os fatos da natureza. Resultado é um termo mais técnico.

2.3.7 ESPÉCIES DE RESULTADO

 Resultado Jurídico ou Normativo


É a simples violação da norma penal como ofensa ao bem jurídico protegido.
Obs.: não existe crime sem resultado jurídico ou normativo, eis que todo crime irá violar uma norma penal,
atacando um bem jurídico.

 Resultado Material ou Naturalístico


É a modificação do mundo exterior, provocada pela conduta do agente. É algo que pode ser sentido e
constatado no mundo real.

Existe crime sem resultado? Depende de qual resultado estamos tratando. Todo e qualquer crime tem
resultado jurídico (princípio da reserva legal, ofensividade, lesividade). Agora somente os crimes
materiais consumados apresentam resultado material ou naturalístico. Porém, existe crime sem
resultado material ou naturalístico.

NEXO DE CAUSALIDADE ou RELAÇÃO DE CAUSALIDADE

O art. 13 do CP não utilizada a expressão nexo causal e sim relação de causalidade.

Relação de causalidade

Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime,


somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se
causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria
ocorrido.

Superveniência de causa independente

§ 1º - A superveniência de causa relativamente independente


exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os
fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.

Relevância da omissão
20

§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente


devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir
incumbe a quem:

a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;

b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o


resultado;

c) com seu comportamento anterior, criou o risco da


ocorrência do resultado.

#SELIGANAJUSRISPRUDÊNCIA #STJ – Inépcia da denúncia. Quando


se imputa crime comissivo por omissão (art. 13, §2º, “b”, do CP), é
necessário que se demonstre o nexo normativo entre a conduta
omissiva e o resultado normativo, porque só se tem por constituída a
relação de causalidade se, baseado em elementos empíricos, for
possível concluir, com alto grau de probabilidade, que o resultado
não ocorreria se ação devia fosse efetivamente realizada. Na
hipótese em foco, a denúncia não descreveu com a clareza necessária
qual foi a conduta omitida pela denunciada que teria impedido o
resultado morte, com probabilidade próxima da certeza. Info 538 –
maio/2014.

2.3.8 Conceito

É o terceiro elemento do fato típico.


É o vínculo entre a conduta e o resultado naturalístico. Relação de causalidade é o vínculo que se
estabelece entre a conduta e o resultado naturalístico, pelo qual se conclui se aquela deu causa a este.

2.3.9 Âmbito de aplicação

A relação de causalidade só interessa aos crimes materiais consumados.

CRIME DESCRIÇÃO DO TIPO IMPORTÂNCIA DO EXEMPLO


PENAL RESULTADO À
21

CONSUMAÇÃO
Crime Material O tipo penal descreve a O resultado é Homicídio
conduta E o resultado indispensável à
naturalístico consumação
Crime Formal ou de O tipo penal também O resultado naturalístico Extorsão mediante

Consumação descreve conduta E é dispensável, pois a sequestro (o crime se

Antecipada resultado naturalístico consumação ocorre com consuma com a privação


a conduta. da liberdade e não com a
Obs.: se, apenas de obtenção da vantagem
dispensável, ocorrer o indevida)
resultado naturalístico,
há exaurimento do crime
(que é considerado na
fixação da pena)
Crime de Mera O tipo penal descreve Não há resultado Omissão de socorro

Conduta ou Atividade apenas a conduta naturalístico

TEORIAS

 Teoria da equivalência dos antecedentes ou conditio sine qua non.


Os penalistas dizem que foi desenvolvida por um alemão chamado Glaser. Os responsáveis pela
sistematização foram Von Bue e Stuart Mill.
 Para essa teoria CAUSA é TODO e QUALQUER acontecimento provocado pelo agente, SEM O QUAL O
RESULTADO NÃO TERIA OCORRIDO COMO E QUANDO OCORREU.
É a teoria adotado pelo Brasil como regra geral (art. 13, do CP).
Não faz distinção entre causa, condição e ocasião, tudo que contribui de qualquer modo para o
resultado é causa deste.
Para identificar a causa, utiliza-se o método da eliminação hipotética, desenvolvido pelo sueco Thyrén,
em 1894. De acordo com este método, depois que o crime foi praticado volta-se , hipoteticamente, no
tempo e eliminam-se acontecimentos. Caso o crime desapareça após a eliminação de um
acontecimento, este será considerado sua causa.

 Teoria da causalidade adequada


Do alemão Von Kries.
22

 Causa é todo e qualquer comportamento humano eficaz para produzir o resultado.


Essa teoria é mais restrita que a primeira. Essa causa é entendida de acordo com um juízo estatístico – it
quod plerumqueaccidit – aquilo que normalmente acontece.
Deve ser identificado pelas máximas da experiência. Carro foi furtado. 5 min depois uma pessoa é
encontrada dirigindo o carro. Ela responderá por furto ou receptação? Furto.
Essa teoria é escolhida pelo CP no caso de concausa relativamente independente que por si só poderia
causar o resultado. É adotada como exceção (art. 13, §1º, CP).

 Imputação objetiva1
Claus Roxin trouxe essa teoria em 70.
 A imputação objetiva trabalha com a ideia de risco proibido. Assim, o resultado só poderá ser
imputado ao agente que criou um risco proibido ou aumentou um risco proibido já existente.

Apesar de não ter previsão legal, já foi adotada em alguns julgados pelo STJ, pois é mais favorável ao agente.

Insurgindo-se contra o regresso ao infinito da causalidade simples, a teoria da imputação objetiva


enriquece a causalidade acrescentando o nexo normativo. Assim, de acordo com a teoria, não basta a
relação de causalidade para imputação do resultado, devendo estar presentes:
 Criação ou incremento de risco proibitivo relevante:
A conduta deve ser valorada na dimensão da tipicidade.
A ação será perigosa, ou seja, criará um risco, quando aos olhos de um observador
objetivo dotado dos conhecimentos especiais do autor, situado no momento da
prática da ação, gere real possibilidade de dano para um determinado bem.
A conduta, mesmo que formalmente típica, se praticada em contexto de risco
permitido não é tipo penal.
Ex.: sujeito dirigindo obedecendo às leis em velocidade permitida. Está gerando risco permitido.
Se atropelar e matar alguém não responde por essa morte. Agora se está dirigindo a 200km/h
gera riscos proibidos, o é fato típico. Percebe-se aqui a valoração da conduta. Nas teorias
antigas seria fato típico.
Sobrinho compra passagens de avião para o tio, desejando sua morte. O avião cai e o tio morre.
O resultado jamais pode ser imputado ao sobrinho, a compra das passagens não gerou risco
juridicamente relevante.
Obs.: autocolocação da vítima em risco, também não analisa o dolo e a culpa do agente, eis
que a criação do risco não foi pelo agente. Autocolocação da vítima em perigo foi citada pela
teoria da imputação objetiva de Jakobs (“ações de próprio risco”).

1
Caiu na primeira fase dos últimos concursos da banca, inclusive do MPMG 2017.
23

 Realização do risco no resultado (resultado na linha de desdobramento normal da


conduta)
Nexo de imputação entre o risco criado e o resultado produzido. No âmbito objetivo
fala-se em nexo de causalidade. Aqui no âmbito normativo, fala-se em nexo de
imputação. Ou seja, deve ter nexo entro o risco criado e o resultado produzido.
Ex.: eu empurro B em uma piscina, não sabe nadar, C um terceiro chega, sem saber nadar, se
atira por livre vontade na piscina para salvar B e morre também. Eu respondo pela morte de B,
agora pela morte de C não. Visto que cada um responde pelo risco que criou (criei risco para B
apenas), e nos limites do risco criado. C = autocolocação da vítima em perigo em razão de
conduta própria.

 Resultado esteja no âmbito de proteção da norma


Somente haverá responsabilidade quando a conduta afrontar a finalidade protetiva da
norma. A conduta deve ser limitada à proteção da norma aos danos diretos.
Ex.: dois ciclistas andam no acostamento à noite, um na frente e um atrás, os dois sem farol, o
primeiro atropela uma pessoa e mata. Os dois foram condenados, o primeiro porque não tinha
farol e dirigiu imprudentemente, o segundo porque não tinha farol também e não iluminou o
caminho à frente. Porém está errado, visto que a norma diz que o ciclista deve ter farol na sua
bicicleta para proteger os riscos ligados a si mesmo, e não a terceiros.

Requisito Exclusão
Existência do risco Risco juridicamente irrelevante; diminuição do risco
Risco proibido Risco permitido (princípio da confiança);
Comportamento exclusivo da vítima;
Contribuições socialmente neutras;
Adequação social; e
Proibição do regresso.
Risco realizado no resultado Lesão ou curso causal sem relação com o risco
proibido;
Danos tardios;
Danos resultantes de choque;
Ações perigosas de salvamento; e
Comportamento indevido posterior de um terceiro
24

No caso da venda e aplicação de heroína, entre outros sem solução possível pelo sistema finalista (que
adotou a relação de causalidade), a teoria da imputação objetiva insere duas novas elementares no tipo
objetivo, que deixa de ser só causalidade.

TIPO OBJETIVO NO FINALISMO > Relação de causalidade


TIPO OBJETIVO NA IMPUTAÇÃO OBJETIVA > 1. Causalidade
2. Criação de um risco proibido:
- Existência do risco;
- Risco proibido.
3. Realização do risco no resultado.

 Assim, com a adoção da teoria da imputação objetiva, a relação de causalidade somente estaria
caracterizada quando ultrapassadas três etapas:
1. Etapa: teoria da equivalência dos antecedentes
2. Etapa: imputação objetiva
3. Etapa: dolo ou culpa (causalidade psíquica).

 Conclusões finais de Rogerio Greco sobre a Teoria da Imputação Objetiva


o A imputação objetiva é uma análise que antecede à imputação subjetiva, quer evitar ter que
analisar dolo e culpa
o Aplica-se a imputação objetiva no comportamento (conduta) e no resultado
o Criada para se contrapor aos dogmas da teoria da equivalência, erigindo uma relação de
causalidade jurídica ou normativa
o Uma vez concluída pela não imputação objetiva, afasta-se o fato típico

*#OUSESABER: Caso um dependente químico de longa data morra após abusar de substância entorpecente vendida por
um narcotraficante, este responderá por homicídio culposo, diante da previsibilidade do resultado morte essa
hipótese? A teoria da imputação objetiva auxilia-nos na solução desse problema. Ela estabelece que o agente somente
pode responder se criou ou incrementou risco proibido do resultado e se o risco se materializou no resultado jurídico, que
deve estar incluído no alcance do tipo penal. Assim, o narcotraficante ao vender a droga praticou o crime de tráfico, mas
não pode responder pelo delito de homicídio pois o resultado morte, em referido caso, não se encontra alcançado pelo
tipo penal. De acordo com Junqueira e Vanzolini (Manual de Direito Penal, p. 237).
Segundo exemplo: A entrega heroína a B para que este a consuma, sendo que a periculosidade ambos conhecem. B
injeta a droga em si e morre em decorrência dela. Evidentemente A gerou para B um risco não permitido. Mas o
resultado morte lhe é imputável? (Claus Roxin, Derecho penal, p. 389). [...] Do ponto de vista da teoria da imputação
25

objetiva do resultado, o entendimento é de que “autocolocações em perigo queridas e realizadas de modo


autorresponsável não estão abrangidas no tipo de um delito de lesões corporais ou homicídio, ainda que o risco a que a
vítima conscientemente se expôs se realize.” (Luiz Greco, Um panorama da teoria da imputação objetiva, p. 64).

#OBS.: STJ - exemplo de comissão de formatura que não foi


responsabilizada por morte de formando que ingeriu muita
bebida e se afogou na piscina. Entendeu o Tribunal que, pela
teoria da imputação objetiva, a conduta seria ATÍPICA, já que
pelo princípio da confiança a comissão esperava que todos se
comportassem dentro dos padrões sociais.

#OUSESABER: A Teoria da Imputação Objetiva do Resultado nasceu para combater o regresso infinito gerado pela teoria
da equivalência dos antecedentes causais adotada pelo caput do art. 13 do CP. Ela não substitui esta teoria, apenas a
complementa introduzindo o nexo normativo, evitando, assim, o regresso ao infinito.
Na Teoria da Equivalência dos Antecedentes Causais, para se imputar um fato a alguém, deve-se, primeiramente, saber
se sua conduta é causa do resultado , ou seja, se há nexo físico entre a conduta do agente e o resultado (imputação
objetiva do resultado), e, posteriormente, em se verificando este nexo físico, analisa-se os elementos subjetivos, quais
sejam, dolo e culpa (imputação subjetiva do resultado). Caso estejam presentes o nexo físico e o dolo ou culpa, o agente
deverá responder pelo fato. Não podemos nos esquecer de que para essa teoria, causa é ação ou omissão humana sem as
quais o resultado não teria ocorrido, como e quando ocorreu, podendo-se regressar ao infinito.
Em linha paralela, a Teoria da Imputação Objetiva do Resultado defende que a responsabilização do agente decorre
também da ocorrência das imputações objetivas e subjetivas do resultado. Entretanto, para esta teoria, a imputação
objetiva do resultado é composta, além do nexo físico (relação entre a conduta do agente e o resultado), pelo nexo
normativo. Assim, após a verificação da imputação objetiva (nexo físico + nexo normativo) é que se passa a analisar a
imputação subjetiva do resultado, ou seja, se há dolo ou culpa na conduta do agente.
Por sua vez, o nexo normativo é composto:
(i) da criação ou incremento de um risco não permitido (não tolerado pela sociedade) e;
(i) da ocorrência deste risco no resultado (resultado na linha de desdobramento causal normal da conduta).
Ao contrário do que o nome sugere, essa teoria busca a não imputação objetiva do resultado ao agente, mencionando
que somente aquele que criou ou incrementou um risco proibido relevante é que deve responder pelo resultado, não se
confundindo, assim, com a responsabilização objetiva do agente.

#OBS.: Qual ou quais dessas teorias o Brasil adota? A teoria da equivalência dos antecedentes é a regra geral. Art. 13,
caput. A Teoria da causalidade adequada é exceção prevista no art. 13, §1º. A Teoria da imputação objetiva é uma
proposta doutrinária, que já foi utilizada em alguns julgados do STJ, por ser muito mais favorável ao réu.
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2.3.10 Aplicação das teorias

 A Teoria da Equivalência dos antecedentes é a regra geral do CP – art. 13, caput.


 Não existe diferença entre causa, ocasião e condição. Concorreu para o resultado é causa deste.
 Para identificar as causas, utiliza-se o sistema da eliminação hipotética de Thyrén.
 O crime é uma história – depois que o crime é praticado, nós voltamos imaginariamente no tempo e
hipoteticamente vamos eliminar os acontecimentos. Se eliminamos o acontecimento e o crime
continua ali é porque não era causa dele.
 Crítica – essa teoria permitiria o regresso ad infinitum. Rebate- a relação de causalidade não se esgota
na causalidade física.
 Também se exige a causalidade psíquica, isto é, o dolo ou a culpa em relação ao acontecimento. O
rapaz que vende a arma sabe que ele comprou para matar a pessoa x. Se vende licitamente a arma
sem saber o uso a ser feito dela não responde.

 Existe proibição de regresso quando um conjunto de atitudes consideradas inofensivas resulte numa
conduta posterior ilícita, como por exemplo, a venda de uma arma de fogo a um homicida confesso.
Aquele que vendeu a arma, mesmo tendo conhecimento da prática do crime a ser realizado, não pode
ser co-autor ou partícipe do homicídio, certo que praticou uma conduta estereotipada e socialmente
adequada e permitida. Se o vendedor tivesse negado a venda da arma, o crime não ocorreria,
havendo, então, nexo de causalidade.

 Entretanto, não incumbe ao mesmo custodiar as ações de todos os compradores de armas vendidas
legalmente. A punição neste caso afetaria o mero conhecimento do vendedor, e não se deve punir o
saber.
2.3.11 CONCAUSA

A palavra concausa pode ser entendida como concorrência de causa ou concorrência causal, ou seja, há
mais de uma causa que contribui para a produção do resultado. Concausa é a convergência de uma causa
externa à conduta do agente, que influi na produção do resultado naturalístico por ele desejado.

Essas concausas se dividem em dependentes e independentes.

a) CONCAUSA DEPENDENTE é aquela que depende da conduta do agente para produzir o resultado. Nas
concausas dependentes, o agente responde pelo crime. Se insere no curso normal do
desenvolvimento causal.
27

b) CONCAUSA INDEPENDENTE é aquela idônea a produzir, por si só, o resultado. Essas concausas se
subdividem em absolutas e relativas. Foge da linha normal de desdobramento da conduta.

b.1) a concausa independente absoluta é aquela que é capaz de produzir por si só o resultado e não
se origina da conduta do agente. É também chamada de causalidade antecipadora. Elas podem ser:
preexistentes, simultâneas ou supervenientes.

i. Concausas preexistentes absolutamente independentes: são aquelas que ocorrem antes da


conduta do agente. Exemplo: o sujeito atira no seu desafeto para matá-lo. A vítima morre, mas não
em razão do tiro. Ela morre em razão do veneno que havia ingerido, anteriormente.
ii. Concausas simultâneas absolutamente independentes: são aquelas que ocorrem
concomitantemente à conduta do agente. Exemplo: o sujeito atira para matar o desafeto. No
mesmo instante que o projétil atinge o peito da vítima, ela é atingida por um raio, que ocasiona a sua
morte.
iii. Concausas supervenientes absolutamente independentes: são aquelas que ocorrem após
a conduta do agente. Exemplo: um sujeito, que está em um barco maior, atira em seu desafeto, que
está em um barco menor. Este morre. Todavia, sua morte não decorreu do tiro, mas de uma tempestade,
que afundou o barquinho, tsunami.

Nesses três casos, o agente responderá, tão somente, pela tentativa de homicídio, e não pelo homicídio
consumado. Isto porque as concausas absolutamente independentes rompem o nexo causal, de modo que o
agente não responde pelo resultado produzido, mas, somente, pelos atos praticados. As concausas
absolutamente independentes têm esse tratamento devido à aplicação da teoria da equivalência dos
antecedentes, consagrada no art. 13, caput, do CP.

b.2) noutro pórtico, têm-se as concausas independentes relativas, que são aquelas que são capazes
de produzir por si sós o resultado e têm origem na conduta do agente. Não existiriam sem a atuação
criminosa. Elas podem ser: preexistentes, simultâneas ou supervenientes.

i. Concausas preexistentes relativamente independentes: são aquelas que ocorrem antes da


conduta do agente. Exemplo: sujeito dá um tipo para atingir a cabeça de outro. Contudo, o tiro atinge
a perna, e, mesmo assim, o sujeito morre, já que era hemofílico. Importante ficar claro que, em
homenagem à responsabilidade subjetiva, o agente já tinha conhecimento prévio da hemofilia.
ii. Concausas simultâneas relativamente independentes: são aquelas que ocorrem
concomitantemente à conduta do agente. Exemplo: o sujeito, em um dia de forte frio, atira em
28

outro querendo mata-lo. A vítima, ferida no joelho, pelo disparo, morre, em razão do forte frio, ataque
cardíaco.

Nestes dois exemplos, o agente responderá pelo homicídio consumado. Isto porque, as concausas
preexistentes e simultâneas relativamente independentes não rompem o nexo causal, de maneira que o
agente responde pelo resultado produzido. Se retirar a ação do autor o crime não ocorreria. O acima afirmado
o observado devido à aplicação da teoria da equivalência dos antecedentes, prevista no art. 13, caput, do CP.

iii. Concausas supervenientes relativamente independentes: indiretamente, o Código Penal


leva ao entendimento de que existem as que não produzem, por si sós, o resultado (art. 13,
caput, do CP), e aquelas que produzem, por si sós, o resultado (art. 13, §1º, do CP).
29

Nos casos em que a concausa relativamente independentes superveniente não produz por si só o
resultado, o agente responde pelo crime consumado, porque a eles é aplicada a teoria da equivalência dos
antecedentes. As concausas supervenientes relativamente independentes que não produzem os resultados
por si sós não rompem com o nexo causal.

 Exemplo: “A”, com a intenção de matar, efetua disparos de arma de fogo contra “B”. Por má
pontaria, atinge-o em uma das pernas, não oferecendo risco de vida. Contudo, “B” é conduzido
a um hospital e, por imperícia médica, vem a morrer. Nesse caso, “B” não teria morrido, ainda
que por imperícia médica, sem a conduta inicial de “A”. De fato, somente pode falecer por falta
de qualidade do profissional da medicina aquele que foi submetido ao seu exame, no exemplo,
justamente pela conduta homicida que redundou no encaminhamento da vítima ao hospital. A
imperícia médica, por si só, não é capaz de matar qualquer pessoa, mas somente aquela que
necessita de cuidados médicos.

Na segunda hipótese, concausa relativamente independentes superveniente que produz por si só o


resultado, os grandes exemplos são os da ambulância e do incêndio no hospital. Nesses casos, o agente
responde pelo crime tentado, já que àqueles é aplicada a teoria da causalidade adequada (exceção). As
concausas supervenientes relativamente independentes que produzem os resultados por si sós rompem o
nexo causal.

 No exemplo do incêndio na ala da enfermaria, ou no acidente na ambulância a caminho do


hospital, conclui-se que qualquer pessoa que estivesse na área da enfermaria do hospital, ou
no interior da ambulância, poderia morrer em razão do acontecimento inesperado e
imprevisível, e não somente a ferida pela conduta praticada pelo agente. Portanto, a simples
concorrência (de qualquer modo) não é suficiente para a imputação do resultado material,
produzido, anote-se, por uma causa idônea e adequada, por si só, para fazê-lo.

Espécie Exemplo Responsabilização


Não há rompimento do nexo de
Vítima portadora de causalidade e o agente responde
Preexistente
hemofilia/diabetes. pelo resultado causado. Aplica-se
o art. 13, caput, do CP.
Concomitante Vítima, apesar de não ter sido Não há rompimento do nexo de
atingida, fica assustada e tem causalidade e o agente responde
30

um colapso cardíaco. Ou vítima pelo resultado causado. Aplica-se


se atira na rua e é atropelada. o art. 13, caput, do CP.
Não há rompimento do nexo de
Morte por infecção hospitalar,
Superveniente na modalidade “não causalidade e o agente responde
erro médico ou omissão de
por si só produz o resultado” pelo resultado causado. Aplica-se
socorro.
o art. 13, caput, do CP.
Há rompimento do nexo de
Morte por conta de um causalidade e o agente responde
Superveniente na modalidade “por
incêndio no hospital ou por pelo seu dolo (apenas os atos
si só produz o resultado”
acidente de ambulância. praticados) e não pelo resultado.
Aplica-se o art. 13, §1º, do CP.

TIPICIDADE

A tipicidade é o quarto elemento do fato típico e continua presente em todo e qualquer crime.
A tipicidade penal é formada pela tipicidade formal + tipicidade material.
A tipicidade formal é o juízo de subsunção, de adequação entre o fato e a norma. O fato praticado na
vida real se encaixa no modelo de crime previsto pela norma penal. A tipicidade formal não basta, é preciso a
tipicidade material, expressada na lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico penalmente protegido.
O princípio da insignificância exclui a tipicidade material.

2.3.12 Evolução histórica e teorias

No Direito Romano surgiu a ideia de corpus delicti, o crime era tão somente os vestígios materiais do
crime. Não se fazia distinção entre tipicidade, ilicitude ou culpabilidade.
No ano de 1906, Ernest Beling traz o termo “tatbestand”, desenvolvendo a ideia de tipo penal. Na
Itália surge a deia de “fattispecie”, no mesmo sentido. É a fase da independência do tipo.

Em 1915, Max Ernst Mayer desenvolve a teoria indiciária, colocando a tipicidade como
ratiocognoscendi, sendo vista, portanto, como indício da ilicitude. Todo fato típico, presumidamente, também
é ilícito, operando-se uma presunção relativa de ilicitude.
Qual é o efeito prático da teoria indiciária? Acarreta a inversão do ônus da prova no tocante as excludentes da
ilicitude. Então, para a acusação, basta provar que o fato é típico. Essa teoria continua majoritária até hoje –
Teoria dualista do ônus da prova – ver em Processo Penal.
31

Em 1931, Edmundo Mezger desenvolve a teoria encarando a tipicidade não mais como indício da
ilicitude, mas sim como essência da ilicitude. Essa é a chamada teoria da ratioessendi. É a ilicitude tipificada. O
injusto penal é o fato típico + ilícito, tudo é analisado em uma única ocasião.

TEORIA DOS ELEMENTOS NEGATIVOS DO TIPO criada por Hellmuthvon Weber cria o tipo total de
injusto, segundo o qual as excludentes de ilicitude funcionam como elementos negativos do tipo penal.
Por exemplo, o art. 121 do CP tipifica o homicídio como matar alguém. Caso a Teoria tivesse sido adotada, a
previsão do art. 121 do CP seria: matar alguém, salvo em legítima defesa, em estado de necessidade, no exercício regular
do direito e no estrito cumprimento do dever legal.

Perceba que as excludentes de ilicitude não podem estar presentes para que o tipo penal se
concretize. Não foi adotado no Brasil.
Todo fato típico necessariamente é ilícito.

TEORIA DA TIPICIDADE CONGLOBANTE desenvolvida pelo argentino Eugenio Raul Zaffaroni.


A tipicidade conglobante é a tipicidade legal + antinormatividade.
Para existir tipicidade não basta violar a norma, é preciso violar o ordenamento jurídico como um todo
(exemplo: um oficial de justiça que vai cumprir um mandado de busca e apreensão – o autor considera que a situação
corresponde ao fato típico do furto, mas o oficial não viola o ordenamento jurídico como um todo, não possui
antinormatividade).

O Zaffaroni antecipa a análise da ilicitude. Ele fala que não se pode tratar como fato típico conduta
permitida pelo ordenamento. Na análise ela pode até ter tipicidade penal (furto), mas não tem tipicidade
Conglobante (ordenamento autoriza), tornando o fato atípico.

Fernando Capez assim distingue:


"O ilícito consiste na contrariedade entre o fato e a lei. A ilicitude não
comporta escalonamentos, de modo que a lesão corporal culposa é tão
ilícita quanto o latrocínio, pois ambas as infrações se confrontam com a
norma jurídica. O ilícito, portanto, não tem grau. ”

O injusto é a contrariedade do fato em relação ao sentimento social de justiça, ou seja, aquilo que o
homem médio tem por certo, justo. (...) O injusto, ao contrário do ilícito, tem diferentes graus, dependendo da
intensidade da repulsa provocada pela conduta" (Curso de Direito Penal, pág. 295)

a) Teoria do tipo avalorado / tipo meramente descritivo– afirmar que o fato é típico não constitui emissão
de juízo de valor acerca da ilicitude. POSIÇÃO MINORITÁRIA.
32

b) Teoria indiciária do tipo / Ratiocognoscendi – o fato típico é presumivelmente ilícito. Essa presunção é
relativa, podendo demonstrar uma excludente de ilicitude. POSIÇÃO ABSOLUTAMENTE MAJORITÁRIA.

c) Teoria da ratioessendi– fato típico e ilícito seriam um elemento só.


d)
2.3.13 ADEQUAÇÃO TÍPICA

É a tipicidade formal colocada em prática.


Essa adequação pode ser de duas espécies: imediata ou mediata.
A adequação típica de subordinação imediata ocorre quando o fato se encaixa diretamente no tipo
penal. Não há necessidade de utilização de nenhuma outra norma (exemplo: homicídio consumado).

A adequação típica de subordinação mediata, também chamada de ampliada ou por extensão, ocorre
quando o fato praticado pelo agente não se encaixa diretamente no tipo penal. Há necessidade de outra
norma. São as normas de extensão ou complementares da tipicidade (exemplo: art. 14, II, CP; art. 29, caput, CP,
relativamente à participação; art. 13, §2º, CP).

Art. 14 - Diz-se o crime: EXTENSÃO TEMPORAL (permite a aplicação


da norma penal a um momento anterior à consumação)
II - Tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por
circunstâncias alheias à vontade do agente.

Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas


penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. EXTENSÃO
PESSOAL (permite a aplicação da lei penal a pessoas diversas dos
autores)

§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e


podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem;
EXTENSÃO DA CONDUTA (prevê que a conduta que, num primeiro
momento, só poderia ser praticada por uma ação, passa a ser
praticada por omissão)
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; b) de
outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; c)
com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do
resultado.
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O art. 14, II, CP é uma norma de extensão temporal da tipicidade, permitindo a aplicação da lei penal a
um momento anterior a consumação do crime.
O art. 29, caput, é uma norma de extensão pessoal porque permite a aplicação da lei penal a pessoas
diversas dos autores.
O art. 13, §2º é uma norma de extensão da conduta (a conduta que só podia ser praticada por ação
passa a ser praticada por omissão).

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