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• Cogitação: fase interna, surge a intenção da prática criminosa.

TEORIA DO CRIME Não é uma fase punível


• Preparação: atos preparatórios que possibilitem o início da
CONCEITO DE CRIME: Deve-se levar em considera- execução. Em regra, não puníveis, salvo se crime autônomo;
ção três aspectos: material, legal e formal ou analítico. • Execução: fase em que a execução se inicia de fato. É punível
a tentativa quando o agente não logra êxito na infração penal.
1. Material ou substancial: crime é toda ação ou omissão hu- • Consumação: fase em que se alcança o resultado do crime. O
mana que lesa ou expõe a perigo de lesão bens jurídicos pe- crime reuniu todos os elementos de sua definição legal (art. 14,
nalmente tutelados. I).
2. Aspecto Legal: o conceito de crime é o fornecido pelo legis-
lador. art. 1.º da Lei de Introdução ao Código Penal (Decreto-lei
3.914, de 9 de dezembro de 1941), assim redigiu: • Exaurimento: específico de algumas infrações penais, em que
Considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de o potencial lesivo se esgota por completo. Após a consumação,
reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ainda não sofreram o completo esgotamento de seu potencial le-
ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a in- sivo. Ex: Extorsão mediante sequestro. Art. 159. Sequestrar
fração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer van-
simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. tagem, como condição ou preço do resgate.
O Direito Penal brasileiro acolheu um sistema dicotômico, ao Para se consumar, basta que a vítima seja sequestrada. Inde-
fracionar o gênero infração penal em duas espécies: crime ou pendentemente de o sequestrador receber ou não a vantagem.
delito e contravenção penal. Logo, se receber a vantagem esperada é mero exaurimento.
crime contravenção
a lei penal brasileira é a lei brasileira so- SUJEITOS DO CRIME
Aplicação aplicável, via de re- mente incide no 1. Sujeito ativo é a pessoa que realiza direta ou indiretamente a
da gra, aos crimes come- tocante às contra- conduta criminosa, seja isoladamente, seja em concurso.
lei penal tidos no território na- venções penais Obs: Autor e coautor realizam o crime de forma direta, ao passo
cional (CP, art. 5º) praticadas no terri- que o partícipe e o autor mediato o fazem indiretamente.
tório nacio- A pessoa jurídica pode ser sujeito ativo de crimes?
nal(LCP, art. 2.º) Para a teoria da ficção jurídica, idealizada por Sa-
Tentativa Punível(CP, art. 14,II) não punível (LCP, vigny, a pessoa jurídica não tem existência real, não tem vonta-
art. 4.º) de própria, ou seja, é impossível a prática de crimes por pessoas
os crimes podem ser basta a ação ou jurídicas. Não há como imaginar uma infração penal cometida
Elemento dolosos, culposos ou omissão voluntá- por um ente fictício.
subjetivo preterdolosos (CP, ria (LCP, art. 3.º) De outro lado, a teoria da realidade, orgânica, orga-
arts. 18 e 19) nicista ou da personalidade real, de Otto Gierke, a pessoa ju-
rídica é um ente autônomo e distinto de seus membros, dotado
são compatíveis com admitem unica- de vontade própria. É, assim, sujeito de direitos e obrigações,
o erro de tipo (CP, art. mente a ignorân- tais como uma pessoa física. É a teoria mais aceita no Direito.
Culpabilidade 20) e com o erro de cia ou a errada Com a opção pela segunda corrente, pode-se dizer que a CF/88
proibição (CP, art. 21) compreensão da admitiu a responsabilidade penal da pessoa jurídica nos crimes
lei, se escusáveis contra a ordem econômica e financeira, contra a economia popu-
(LCP, art. 8.º) lar e contra o meio ambiente (art. 3º, PU da Lei 9.605/1998), au-
torizando o legislador ordinário a cominar penas compatíveis
Tempo de não pode ser superior não pode, superior
com sua natureza, independentemente da responsabilidade indi-
cumprimento a 30 anos (CP, art. 75) a 5 anos
vidual dos seus dirigentes (CF, arts. 173, § 5.º, e 225, § 3.º). Lo-
das penas
go, surge a teoria da dupla imputação (A responsabilidade da
Prazo mínimo de 1 a 3 anos (CP, é de 6 meses
PJ não exclui a responsabilidade da pessoa física).
das medidas art. 97, § 1.º) (LCP, art. 16)
de segurança
2. Sujeito passivo É o titular do bem jurídico protegido pela lei
pode ser pública, in- a ação penal é pú-
penal violada por meio da conduta criminosa. Pode ser denomi-
condicionada ou con- blica incondicio-
nado de vítima ou de ofendido, e divide-se em:
Ação penal dicionada, ou de inici- nada (LCP, art.17)
2.1. Sujeito passivo constante, mediato, formal, geral, genéri-
ativa privada (CP, art.
co ou indireto: é o Estado, pois a ele pertence o direito público
100)
subjetivo de exigir o cumprimento da legislação penal.
OBS: O art. 28 da Lei 11.343/2006 define o crime de posse de 2.2. Sujeito passivo eventual, imediato, material, particular,
droga para consumo pessoal, a ele cominando as penas de ad- acidental ou direto: é o titular do bem jurídico especificamente
vertência sobre os efeitos das drogas, prestação de serviços à co- tutelado pela lei penal. Ex: o proprietário do carro subtraído no
munidade e medida educativa de comparecimento a programa crime de furto.
ou curso educativo.
Com isso, surgiram algumas discussões. A primeira delas, ati- 2.3. sujeito passivo indeterminado. É o que ocorre nos crimes
nente à natureza jurídica do ato, no sentido de ser crime ou não. vagos (aqueles que têm como vítima um ente destituído de per-
O STF decidiu não ter havido descriminalização da conduta sonalidade jurídica).
(existe crime), e sim despenalização, em face da supressão da OBS: Não confundir o sujeito passivo com o prejudicado pelo
pena privativa de liberdade. crime. O 1º é o titular do bem jurídico protegido pela lei penal
violada. Prejudicado pelo crime é qualquer pessoa a quem o cri-
Fases de Realização do crime ou Delito (iter criminis ou ca- me traga danos, patrimoniais ou não. Ex: sujeito passivo do ho-
minho do crime micídio é o ser humano de quem foi tirada a vida, ao passo que
prejudicado pelo crime é a esposa da vítima.
porHans welzel na dec de 30). Daí o seu nome finalista, levando
3. Conceito analítico ou Formal ou Dogmático: teorias bipar- em conta a finalidade do agente. Não desprezou todos os postu-
tite e tripartite lados da teoria clássica.
• Teoria bipartite: crime é fato típico e antijurídico;
• Teoria tripartite: crime é fato típico, antijurídico e culpável;
obs: Para fins de prova: teoria tripartite.

3.1. Fato Típico: trata da adequação de um comportamento hu- Welzel sustentava que a causalidade exterior é cega, pois não
mano a elementos que estão previstos em uma norma penal. E analisa o querer interno do agente. Por seu turno, a finalidade,
tem os seguintes elementos: por ser guiada, é vidente.
No exemplo adotado em relação à teoria clássica, a resposta se-
ria diversa no tocante à teoria finalista. o comportamento de “A”
não poderia ser considerado penalmente relevante em face da
ausência de dolo ou culpa. Não haveria crime pela inexistência
do fato típico “matar alguém”.
Obs: Adota a teoria bipartite ou trpartite.

3.1.1.4. Teoria Cibernética ou Neofinalista: também conheci-


da como “ação biociberneticamente antecipada”, leva em con-
OBS: Em caso de tentativa, suprimem-se o resultado natura-
ta o controle da vontade, presente tanto nos crimes dolosos co-
lístico (não produzido por circunstâncias alheias à vontade do
mo nos crimes culposos. busca compatibilizar o finalismo penal
agente) e o nexo causal, limitando-se o fato típico aos elementos
com os crimes culposos.
conduta e tipicidade. Isso também ocorre nos crimes formais e
de mera conduta.
3.1.1.5. Teoria Social: os ideais clássico e finalista são insufici-
entes para disciplinar a conduta, porque desconsiderariam uma
3.1.1. Conduta: Várias teorias buscam definir a conduta.
nota essencial do comportamento humano: o seu aspecto social.
3.1.1.1. Teoria clássica, naturalista, mecanicista ou causal:
Nesse contexto, Johannes Wessels, na tentativa de equacio-
Conduta é o comportamento humano voluntário que produz mo-
nar esse problema, criou a teoria social da ação. Hans-Heinrich
dificação no mundo exterior ( ação e vontade). Essa teoria foi
Jescheck, partidário dessa teoria, define a conduta como o com-
idealizada no século XIX por Liszt, Beling e Radbruch, para a
portamento humano com transcendência social. Por corolá-
configuração da conduta basta apenas uma fotografia do resul-
rio, para que o agente pratique uma infração penal é necessário
tado. Ex: “A” trafega cautelosamente com seu carro em via pú-
que, além de realizar todos os elementos previstos no tipo penal,
blica, a 40 km/h. O limite da pista é de 60 km/h, e o veículo reú-
tenha também a intenção de produzir um resultado socialmente
ne perfeitas condições de uso. De repente, uma criança se solta
relevante.
dos braços da mãe, passa por trás de um ônibus que estava esta-
cionado em local permitido e impedia a visibilidade de “A”, e,
3.1.1.6. Teoria jurídico Penal: teoria sustentada por Francisco
inesperadamente, lança-se na direção do automóvel, chocando-
de Assis Toledo para superar os entraves travados entre as
se contra ele. A criança morre. O agente não tinha dolo nem cul-
vertentes clássica, finalista e social. Almeja conciliar os pontos
pa.
positivos extraídos de cada uma delas. Nesse sentido:
Qual é a fotografia do evento?
Ação (sinônimo de conduta) é o comportamento humano, domi-
Resposta: “A” na direção do seu veículo automotor, uma criança
nado ou dominável pela vontade, dirigido para a lesão ou para a
morta à sua frente e o para-choque do carro amassado.
exposição a perigo de um bem jurídico, ou, ainda, para a causa-
Para a teoria clássica, “A” teria praticado uma conduta penal-
ção de uma previsível lesão a um bem jurídico.
mente relevante (é uma mera relação de causa e efeito). Confi-
gurado, portanto, o fato típico do crime de homicídio. O crime é
3.1.1.7. Teoria funcionalista: O DP possui uma função (mis-
explicado sobre a ótica científica, afastando elementos psicoló-
são). doutrinadores modernos como Claus Roxin (funcionalismo
gicos.
teleológico) e Gunther Jakobs (funcionalismo radical).

OBS: O DP tem uma posição finalista, indiscutivelmente a mais


aceita em provas e concursos públicos. Assim, conduta é a ação
ou omissão humana, consciente e voluntária, dirigida a um fim,
consistente em produzir um resultado tipificado em lei como cri-
me ou contravenção penal.

Formas de Conduta: A conduta pode se exteriorizar por ação


3.1.1.2. Teoria Neokantianaou causalista Neoclássica: Ed- (uma postura positiva do ser humano, um fazer. Relaciona-se
mund Mezzer (inicio do sec XX). Essa teoria apresenta os mes- com a maioria dos delitos, por meio de uma norma proibitiva)
mo fundamentos da teoria clássica, mas a conduta passa ser um ou por omissão (a conduta de não fazer aquilo que podia e devia
comportamento (ação ou omissão). A culpabilidade apresenta a ser feito em termos jurídicos, e se refere às normas preceptivas)
teoria normativa (ou psicológico normativo) e a exigibilidade de
conduta diversa. O dolo (dolo normativo) e culpa integram inte- Teorias Acerca da Omissão
gram a culpabilidade 1) Teoria naturalística: A omissão é um fenômeno causal que
pode ser constatado no mundo fático, pois, em vez de ser consi-
3.1.1.3. Teoria Final ou Finalista: ação ou comportamento hu- derada uma inatividade, caracteriza-se como verdadeira espécie
mano consciente e voluntário, dirigido à um fim ilícito (criada de ação. Portanto, quem se omite efetivamente faz alguma coisa.
2) Teoria normativa: A omissão é um indiferente penal, pois o 3.1.3.1. TEORIAS:
nada não produz efeitos jurídicos. Essa teoria, contudo, aceita a 1) Teoria dos equivalentes causais ou canditio sine qua non
responsabilização do omitente pela produção do resultado, des- ou equivalência das condições ou condição simples ou gene-
de que seja a ele atribuído por uma norma(normativa = norma). ralizadora): causa é todo fato humano sem o qual o resultado
A omissão é, assim, não fazer o que a lei determinava que se não teria ocorrido, quando ocorreu e como ocorreu. (Adotada
fizesse. Foi a teoria acolhida pelo Código Penal. pelo CP. Essa é a regra do art 13, caput). Causa, pois, é todo o
comportamento humano, comissivo ou omissivo, que de qual-
Causas de exclusão da conduta: quer modo concorreu para a produção do resultado naturalístico.
1) caso fortuito ou força maior: são os acontecimentos impre- Pouco importa o grau de contribuição. Basta que tenha contribu-
visíveis e inevitáveis, que fogem do domínio da vontade do ser ído para o resultado material.
humano. Caso fortuito = provocado pelo homem. Ex.: greve de Para se constatar conceito de causa, emprega-se o “processo hi-
ônibus. força maior = decorrente da natureza (ex.: inundação potético de eliminação”de Thyrén (Suprime-se mentalmente
provocada por uma tempestade, matando uma criança). determinado fato que compõe o histórico do crime: se desapare-
cer o resultado naturalístico, é porque era também sua causa.
2) Atos ou Movimentos reflexos: consistem em reação motora Ex: a venda lícita de uma arma de fogo, por si só, não ingressa
ou secretora em consequência de um estimulo externo. O movi- no nexo causal de um homicídio com ela praticado. Entretanto,
mento corpóreo não se deve ao elemento volitivo, mas sim ao fi- se o vendedor sabia da intenção do comprador e, desejando a
siológico. Ausente a vontade, estará ausente também a conduta. morte do ofendido, facilitou de qualquer modo a alienação do
produto, sua conduta será considerada causa do crime posterior-
3) Coação física irresistível: (vis absoluta)ocorre quando o co- mente cometido. é a causalidade psíquica (imputatio delicti).
agido não tem liberdade para agir. Não lhe resta nenhuma outra
opção, a não ser praticar um ato em conformidade com a vonta- 2) Teoria da causalidade adequada ou condição qualificada
de do coator. Ex: um homem muito forte obriga fisicamente ou- ou individualizadora: Causa é o antecedente, não só necessá-
tra pessoa a apertar o gatilho de uma arma municiada na direção rio, mas adequado à produção do resultado. Considera-se a con-
de seu desafeto (pressiona o dedo do coagido contra o gatilho) duta adequada quando é idônea a gerar o efeito. Não basta con-
Obs: Na coação moral irresistível, ou vis compulsiva, o coagi- tribuir de qualquer modo para o resultado: a contribuição deve
do pode escolher o caminho a ser seguido: obedecer ou não a or- ser eficaz. Excepcionalmente, o Código Penal adota, no § 1.º
dem do coator. Como a sua vontade existe, porém de forma vici- do art. 13, o que nos remete o estudo das concausas (há mais de
ada, exclui-se a culpabilidade, em face da inexigibilidade de uma causa contribuindo para o resultado final):
conduta diversa.

4) Estado de inconsciência completo (Sonambulismo e hipno-


se): Também não há conduta, por falta de vontade.

3.1.2. Resultado: alteração do mundo exterior, causado pela


conduta do agente.
3.1.2.1. Espécies: pode ser:
-Resultado jurídico, ou normativo, é a lesão ou expo-
sição a perigo de lesão do bem jurídico protegido pela lei penal.
É, simplesmente, a violação da lei penal, mediante a agressão do
valor ou interesse por ela tutelado.

-Resultado naturalístico, ou material, é a modifica-


ção do mundo exterior provocada pela conduta do agente.
Causa dependente é a que precisa da conduta do agente para
Obs: Existe crime sem resultado? R = Depende. Não há crime provocar o resultado (não é capaz de produzi-lo por si só, razão
sem resultado jurídico, pois todo delito agride bens jurídicos pela qual não exclui a relação de causalidade. Ex: “A” tem a
protegidos pelo DP. No entanto, é possível um crime sem resul- intenção de matar “B”. Após espancá-lo, coloca uma corda em
tado naturalístico, pois este está presente somente nos crimes seu pescoço, amarra-a ao seu carro e arrasta a vítima, provocan-
materias consumados. do a sua morte.

3.1.3. Nexo causal ou Relação de causalidade: Ligação entre a Causa independente é aquela capaz de produzir por si só o re-
conduta e o resultado. Só tem relevância nos crimes materias. sultado. Rompe o nexo causal. Pode ser de natureza absoluta ou
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, so- relativa:
mente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a « Causas absolutamente independente São aquelas que não
ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido se originam da conduta do agente, isto é, são absolutamente
§ 1.º A superveniência de causa relativamente independente ex- desvinculadas da sua ação ou omissão ilícita.
clui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fa- Ex 1: “A” efetua disparos de arma de fogo contra “B”, atingin-
tos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou. do-o em regiões vitais. O exame necroscópico, todavia, conclui
§ 2.º A omissão é penalmente relevante quando o omitente de- ter sido a morte provocada pelo envenenamento anterior efetua-
via e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incum- do por “C”. (preexistente)
be a quem: Ex 2: “A” efetua disparos de arma de fogo contra “B” no mo-
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; mento em que o teto da casa deste último desaba sobre sua cabe-
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o re- ça. (concomitante)
sultado; Ex 3: “A” subministra dose letal de veneno a “B”, mas, antes
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência que se produzisse o efeito almejado, surge “C”, antigo desafeto
do resultado.
de “B”, que nele efetua inúmeros disparos de arma de fogo por permite ao magistrado, no caso concreto, decidir pela presença
todo o corpo, matando-o. (superveniente) ou não do dever de agir.

« Causas Relativamente independente: Originam-se da pró- -Poder de Agir: Poder de agir é a possibilidade real e
pria conduta efetuada pelo agente. Daí serem relativas, pois efetiva de alguém, na situação concreta e em conformidade
não existiriam sem a atuação criminosa. Entretanto, tais com o padrão do homem médio, evitar o resultado penalmente
causas são independentes. têm idoneidade para produzir, relevante. Ex: Um bombeiro tem o dever de impedir o afoga-
por si sós, o resultado. mento de uma criança em uma praia. Não pode agir, contudo, se
Ex 1: “A”, com ânimo homicida, efetua disparos de arma de fo- acidentalmente quebra suas duas pernas ao pisar em um buraco
go contra “B”, atingindo-a de raspão. Os ferimentos, contudo, cavado por crianças quando corria em direção à infante que
são agravados pela diabete da vítima, que vem a falecer. (relati- afundava.
vamente independente preexistente). =responde pelo resultado
Ex 2: “A” aponta uma arma de fogo contra “B”, o qual, assusta- Hipóteses de Dever de Agir:
do, corre em direção a movimentada via pública. No momento a) Tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância
em que é alvejado pelos disparos, é atropelado por um cami- Trata-se do dever legal, relativo às pessoas que, por lei, têm a
nhão, morrendo. (relativamente independente concomitante). = obrigação de impedir o resultado. É o que se dá com os pais em
responde pelo resultado relação aos filhos menores; os policiais no tocante aos indiví-
Ex 3: “A”, com a intenção de matar, efetua disparos de arma de duos em geral.
fogo contra “B”. Por má pontaria, atinge-o em uma das pernas,
não oferecendo risco de vida. Contudo, “B” é conduzido a um b) De outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o re-
hospital e, por imperícia médica, vem a morrer. (relativamente sultado
independente superveniente que NÃO produziu por si só o resul- A expressão “de outra forma” significa qualquer obrigação de
tado). = responde pelo resultado impedir o resultado que não seja decorrente da lei.
Ex 4: pessoa atingida por disparos de arma de fogo que, interna- É o que se convencionou chamar de “garante” ou “dever de
da em um hospital, falece não em razão dos ferimentos, e sim garantidor da não produção do resultado naturalístico”. Ex:
queimada por um incêndio que destrói toda a área dos enfermos; incumbe o dever de agir tanto ao professor de natação contrata-
Ferido que morre durante o trajeto para o hospital, em face de do para ensinar uma pessoa a nadar (negócio jurídico) como ao
acidente de tráfego que atinge a ambulância que o transportava. nadador experiente que convida um amigo iniciante a atravessar
(relativamente independente superveniente que produziu por si um canal de águas correntes e geladas (situação concreta da vi-
só o resultado). Responde pelos já praticados. da).

Omissão penalmente relevante: encontra-se disciplinada pelo c) Com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrên-
art. 13, § 2º. O dispositivo é aplicável somente aos crimes omis- cia do resultado
sivos impróprios, espúrios ou comissivos por omissão, isto é, Cuida-se da ingerência ou situação precedente. Ex: O mari-
aqueles em que o tipo penal descreve uma ação, mas a inércia nheiro que lança ao mar um tripulante do navio tem o dever de
do agente, que podia e devia agir para impedir o resultado natu- salvá-lo da morte. Se não o fizer, responde pelo homicídio.
ralístico, conduz à sua produção. são plurisubsistentes. Ex: mãe
que deixa de alimentar o filho para que este morra. 3) Teoria da imputação objetiva: A relação de causalidade so-
A expressão “penalmente relevante” significa que a omissão mente estaria caracterizada quando passadas 3 etapas:
não é típica, por não estar descrita pelo tipo penal, somente se
torna penalmente relevante quando presente o dever de agir.
Nos crimes omissivos impróprios, a omissão pode, com o dever
de agir, ser penalmente relevante. Por outro lado, nos crimes
omissivos próprios ou puros (são unisubsistentes), a omissão
sempre é penalmente relevante, pois se encontra descrita pelo ti-
tem por objetivo inicial conter os excessos da teoria do conditio
po penal, tal como nos arts. 135 e 269 do Código Penal.
sine qua non, de modo que o nexo de causalidade não pode ser
estabelecido, exclusivamente, por meio de uma relação de causa
e efeito.
o resultado não será imputado ao agente, quando:
a) Houver diminuição do risco: Ex: Suponhamos que A lance
uma flecha contra B, todavia C passa próximo de B e consegue
empurrálo, fazendo com que a flecha não o atinja. Decorre desta
conduta que B cai com o impacto do empurrão e se lesiona. Nes-
se caso C não responderá pelo resultado lesão, uma vez que ele
evitou um risco ainda maior. A conduta de C diminui o risco que
recai sobre B, pois, caso fosse atingido, poderia morrer.
Obs: O CP acolheu a teoria normativa. A omissão somente in-
teressa ao Direito Penal quando, diante da inércia do agente, o b) Criação de um risco juridicamente relevante: Ex: Supo-
ordenamento jurídico lhe impunha uma ação, um fazer (deve es- nhamos que A, desejando que seus pais morram, a fim de herdar
tar presente o dever de agir). todos os seus bens, compra duas passagens de avião na esperan-
ça que o avião caia e seus genitores morram. O avião cai, e os
-Dever de Agir: Há dois critérios acerca da fixação do pais de A morrem. Vejam que, mesmo querendo o resultado, A
dever de agir: legal e judicial. Para o critério legal, é a lei que não tem domínio sobre esse resultado (queda do avião), e sua
deve arrolar, taxativamente, as hipóteses do dever de agir (Por conduta não é capaz de criar um risco juridicamente relevante.
ele optou o legislador pátrio ao indicar nas alíneas “a”, “b” e
“c” do § 2.º do art. 13 do CP). Por sua vez, o critério judicial c) Aumento do risco permitido: Ex:Suponhamos que determi-
nado exportador de produtos explosivos, não seguindo a orienta-
ção do fabricante, exporte os produtos de maneira errada e o ca-
minhão exploda na rodovia matando quatro pessoas. Posterior- tude. Logo, a presunção é relativa, iuris tantum, pois um fato
mente se verifica que, mesmo transportando de maneira correta, típico pode ser lícito, desde que o seu autor demonstre ter agido
os produtos explodiriam, uma vez que não foram produzidos de acobertado por uma causa de exclusão da ilicitude.
modo correto. Percebam: mesmo que o exportador tivesse obser- • não há elementos e sim excludentes de ilicitude.
vado as instruções de manuseio, o resultado ainda assim poderia
ter ocorrido, razão pela qual ele não responderá pelo resultado,
pois sua conduta não incrementou o risco de sua ocorrência.

OBS: A teoria da imputação objetiva inclui novas elementares


no tipo objetivo, criando-se o conceito de causalidade normati-
va, em oposição à causalidade natural presente na teoria finalis-
ta.

3.1.4. Tipicidade: adequação da conduta ao tipo penal (subsun-


ção). Pode ser:
-formal: subsunção/adequação da conduta praticada pelo agente
à descrição do tipo penal; ou - Excludentes genéricas:
-material ou substancial: Deve haver lesão ou perigo de lesão Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:
ao bem jurídico. relaciona-se com o princípio da ofensividade I - em estado de necessidade;
(ou lesividade) e da insignificância. II - em legítima defesa;
Obs: -Tipo Simples: Só um verbo. Ex: art. 121, CP III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício re-
- Tipo Misto: Vários verbos. Ex: art. 33 da lei 11343/06 gular de direito.
(misto alternativo = 2 ou + condutas, 1 só crime); Ex: art. 198, Excesso Punível
CP (tipo misto cumulativo = 2 ou + condutas, 2 ou + crimes). Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste
artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo.
3.1.4.1. Teoria dos elementos negativos do tipo: OBS: No excesso culposo, o agente só responderá penalmente
Preconizada pelo alemão Hellmuth von Weber, propõe o tipo se houver previsão legal da modalidade culposa.
total de injusto. Crime ocorre em uma única análise. Opera-se
um sistema bipartido, com duas fases para aferição do crime: ti- Excludentes de ilicitude específica: O tipo penal aloja em seu
po total (tipicidade + ilicitude) e culpabilidade. (Não foi acolhi- interior elementos de caráter ilícito do comportamento humano.
da pelo nosso sistema penal). EX: art. 128, CP; 142, CP
OBS: o ônus da prova da excludente é da defesa
3.1.4.2. Teoria da tipicidade conglobante:
Criada por Eugenio Raúl Zaffaroni, essa teoria sustenta que to- Causas supralegais de exclusão da ilicitude:
do fato típico se reveste de antinormatividade. O nome “con- consentimento do ofendido: entendido como a anuência do ti-
globante” significa que não basta a violação da lei penal, exige- tular do bem jurídico ao fato típico praticado por alguém, é atu-
se a ofensa a todo o ordenamento jurídico (todos os ramos do di- almente aceito como supralegal de exclusão da ilicitude.
reito). Três teorias buscam fundamentar o consentimento do ofendido
Doutrinas trdicionais: tipicidade penal = tipicidade formal como causa supralegal de exclusão da ilicitude:
doutrinas modernas: tipicidade penal = tipicidade formal + material Ausência de interesse: não há interesse do Estado quando
doutrina conglobante: tipicidade penal = tipic. formal + T. conglobante. o próprio titular do bem jurídico não tem vontade na aplica-
ção do Direito Penal.
3.1.4.3. Adequação Típica: é o procedimento pelo qual se en- Renúncia à proteção do Direito Penal: em algumas situa-
quadra uma conduta individual e concreta na descrição genérica ções, excepcionais, o sujeito passivo de uma infração penal
e abstrata da lei penal. pode renunciar, em favor do sujeito ativo.
Há duas espécies: subordinação imediata e mediata. Ponderação de valores: trata-se da teoria mais aceita no di-
subordinação imediata, a conduta humana se enqua- reito comparado. O consentimento funciona como causa de
dra diretamente na lei penal incriminadora, sem necessidade de justificação quando o Direito concede prioridade ao valor
interposição de qualquer outro dispositivo legal. Ex: art.157,CP da liberdade de atuação da vontade frente ao desvalor da
adequação típica de subordinação mediata, amplia- conduta e do resultado causado pelo delito que atinge bem
da ou por extensão, a conduta humana não se enquadra pronta- jurídico disponível.
mente na lei penal incriminadora, reclamando-se, para comple-
mentar a tipicidade. Requisitos à hipotese do consentiemto do ofendido:
art.14,II, CP = tentativa ( ampliação temporal) a) Capacidade do ofendido em consentir: ser maior de 18 anos e
art. 29, CP = ampliação pessoal ( concurso de crimes = par- não ter nenhuma doença mental que o impeça de consentir.
ticipe). b) Que o bem no qual recaia a conduta do agente seja disponí-
art. 13, § 2 º,CP = ampliação da conduta criminosa, pois in- vel: bens disponíveis são aqueles de interesse particular,
globa a omissão imprópria. enquanto os bens indisponíveis são de interesse da coletividade.
Esses dispositivos legais – arts. 13, § 2.º, 14, II, e 29, caput, do c) o consentimento seja anterior à ofensa do bem jurídico.
Código Penal – são denominados de normas integrativas, de
extensão ou complementares da tipicidade. Vejamos as causas de exclusão de ilicitude genérica:
OBS: Várias são as denominações empregadas pela doutrina pa-
3.2. Antijuridicidade ou ilicitude: Relação de contrariedade ra se referir às causas de exclusão da ilicitude, destacando-se:
entre a conduta do agente e o ordenamento jurídico causas de justificação, justificativas, descriminantes, tipos pe-
• A ilicitude é, em regra, presumida relativamente (teoria da nais permissivos e eximentes.
indiciariedade = Ratio cognoscendi), ou seja, via de regra, o Cuidado: a palavra “dirimente” nada tem a ver com a área da
fato típico é antijurídico, e apenas excepcionalmente, como no ilicitude. Em sim com a causa de exclusão da culpabilidade.
caso de legítima defesa, ocorrerá a chamada excludente de ilici-
I - ESTADO DE NECESSIDADE (justificante): II - Legítima defesa:
Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando modera-
o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua damente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual
vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou ou iminente, a direito seu ou de outrem.
alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exi- PU: Observados os requisitos previstos no caput deste artigo,
gir-se. considera-se também em legítima defesa o agente de segurança
§ 1 º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o de- pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima manti-
ver legal de enfrentar o perigo. da refém durante a prática de crimes. (Incluído pela Lei nº
§ 2 º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito 13.964, de 2019)
ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços. (Cui- Obs: O agente deve ter conhecimento que está acobertado da le-
da-se de causa de diminuição da pena que ocorre quando o agen- gítima defesa. ( Requer o elemento subjetivo).
te, visando proteger bem jurídico próprio ou de terceiro, sacrifi-
ca outro bem jurídico de maior valor = estado de necessidade Requisitos para a ocorrência da legítima defesa:
exculpante; afasta a culpabilidade, em face da inexigibilidade de Agressão injusta: uma conduta humana / Atual ou iminente: está
conduta diversa). acontecendo ou prestes a ocorrer / Em defesa de direito próprio
OBS: Ponderação de valores: somente pode ser exigido o sa- ou de terceiro / meios necessários: são aqueles que o agente tem
crifício de bem jurídico de valor igual ou inferior ao bem jurídi- à sua disposição para repelir a agressão injusta e moderados e
co protegido (teoria unitária). propoorcional .
OBS: O agente só pode se beneficiar dessa excludente se tem Obs: O meio necessário, desde que seja o único disponível ao
conhecimento que está em estado de necessidade (elemento sub- agente para repelir a agressão, pode ser desproporcional em rela-
jetivo). ção a ela, se empregado moderadamente.
Ex: Suponhamos que em um naufrágio o número de botes não
seja suficiente para transportar todos os passageiros, e mediante
tal informação ocorre uma disputa pelos lugares. Decorre dessa
disputa a morte de alguns passageiros, que acabaram morrendo
afogados por terem sido empurrados por outros para fora do bo-
te. Percebam que, nesse caso, aqueles que empurraram os outros
passageiros para fora do bote estavam praticando tal fato para se
salvarem de perigo atual, de modo que o naufrágio não ocorreu
por vontade de nenhuma pessoa que praticava a conduta. Nessa Espécies de legítima defesa:
circunstância não era exigível evitar o sacrifício de tal bem (vi- Própria: O agente repele agressão injusta feita contra ele.
da). Terceiro: O agente repele agressão injusta feita contra outra
Obs: Estado de necessidade recíproco é possível. pessoa. Atenção: Temos que nos atentar se o bem defendido é
disponível (o agente só pode intervir a fim de repelir a agressão
Espécies de estado de necessidade: se o titular do bem assim o autorizar) ou indisponível(o agente
Real: É a situação de perigo real pode intervir, repelindo a agressão sem autorização do titular do
Putativo: só existe na cabeça do autor. Não exclui a ilicitude e bem)
sim a culpa ou o fato típico. Ex: no caso do pai que dispara contra o assaltante que atira em
Art. 20 § 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justi- sua filha, não há necessidade de autorização, pois a vida é um
ficado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se exis- bem indisponível.
tisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o Real: é a espécie de legítima defesa em que se encontram todos
erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo. os requisitos previstos no art. 25 do CP.
Defensivo: O agente atinge bem jurídico do próprio causador do Putativa ou imaginária: é aquela em que o agente, por erro,
perigo. Não há obrigação de reparar o dano. acredita existir uma agressão injusta, atual ou iminente, a direito
Agressivo: O agente atinge bem jurídico de terceiro inocente. seu ou de outrem. Ex: “A” foi jurado de morte por “B”. Em de-
Há dever de repara o dano, cabendo ação regressiva. terminada noite, em uma rua escura, encontram-se. “B” coloca a
mão no bolso, e “A”, acreditando que ele iria pegar uma arma,
Requisitos cumulativos do estado de necessiddade: mata-o. Descobre-se, posteriormente, que “B” tinha a intenção
de oferecer-lhe um charuto para selar a paz. Obs:Não se exclui a
ilicitude do fato, mas a culpabilidade do agente.
Agressiva ou ativa: A reação do agente configura fato típico.
Defensiva ou passiva: A reação do agente não causa fato típico.
OBS: não é possível legítima defesa recíproca. Mas é possível
sucessiva ou subjetiva (é a defesa contra o excesso da vítima).
Importante: O estado de necessidade é compatível com a aber- Legítima defesa subjetiva ou excessiva: Começa real, mas por
ratio ictus (CP, art. 73), na qual o agente, por acidente ou erro erro de tipo escusável, excede os limites da legítima defesa. É
na execução, atinge pessoa ou objeto diverso do desejado, com também denominada de excesso acidental. Ex: “A”, de porte
o propósito de afastar a situação de perigo próprio ou de tercei- físico avantajado, parte para cima de “B”, para agredi-lo. Este,
ro. Ex: configura-se o estado de necessidade no caso em que al- entretanto, consegue acertar um golpe violento, fazendo seu ini-
guém, no momento em que vai ser atacado por um cão bravio, migo desmaiar. Não percebe, contudo, que “A” estava inconsci-
efetua disparos de arma de fogo contra o animal, e, por erro na ente e, com medo de ser agredido, continua a desferir socos des-
execução, atinge pessoa que passava nas proximidades do local, necessários. Não responde pelo excesso, em face de sua nature-
ferindo-a. Não poderá ser responsabilizado pelas lesões corpo- za acidental. Porém, quem sofre o excesso pode se defender le-
rais produzidas, em face da exclusão da ilicitude. gitimamente.
OBS:
Não é possível legítima defesa contra quem está em estado
de necessidade, pois não é uma agressão injusta.
É cabível legítima defesa real x legítima defesa putativa jurídico protegido, seja patrimônio, domicílio ou qualquer outro
(ela é injusta). bem jurídico. São exemplos: a cerca elétrica instalada no muro;
Legítima defesa putativa x legítima defesa real: é cabível. os cacos de vidro ou ponta de lanças em portões etc.
Legítima defesa x legítima defesa: não se admite
Legítima defesa x quem pratica o fato acobertado por causa 3.3.Culpabilidade: Falta de justa causa
de exclusão de culpabilidade: admite-se a legítima defesa.
Legítima defesa x inimputáveis: a doutrina nesse caso
diverge. A corrente mais forte defende que nesse caso o agente
se encontra em legítima defesa, uma vez que o ordenamento ju- • Juízo de reprovabilidade da conduta do agente;
rídico não protege o comportamento do inimputável. • Aplica-se a teoria normativa pura ou psicolóogica normativa.
Legítima defesa e aberratio ictus: é possível um erro Por consequência temos a culpabilidade dividida em três ele-
na execução dos atos necessários de defesa. Ex: Suponhamos mentos. São eles:
que Tício, para defender-se da agressão de Mévio, dispara em 3.3.1. Imputabilidade: capacidade de entender o cará-
direção a este, todavia por erro atinge um terceiro inocente e o ter ilícito do fato praticado.
lesiona. Nesse caso a legítima defesa continua presente e as le- Causas que excluem a imputabilidade:
sões provocadas em terceiro não poderão ser imputadas a Tício. a) Menoridade: trata-se de um critério político criminal, de mo-
Legítima defesa real contra outra excludente real: é do que somente o sujeito maior de 18 anos será considerado im-
inadmissível a relação da legítima defesa real com o estado de putável. O menor de 18 anos pratica ato infracional e a ele é pli-
necessidade real, com o exercício regular de direito real, e, final- cada uma medida socioeducativa, em conformidade com o ECA
mente, com o estrito cumprimento de dever legal real. (Lei n. 8.069/90).
b) Doença mental: é a perturbação mental ou psíquica de qual-
III - Estrito cumprimento de dever legal quer ordem capaz de eliminar ou afetar a capacidade de enten-
Ação de determinação prevista em lei (CF, ordinária, comple- der o caráter criminoso do fato, bem como de comandar a vonta-
mentar, decretos, regulamentos e até decisão judicial), ou seja, é de de acordo com esse entendimento. Ex: epilepsia condutopáti-
obrigatória. Ex: o cumprimento de mandado de busca domici- ca, psicose, neurose, esquizofrenia, paranoias, psicopatia, epi-
liar em que o morador ou quem o represente desobedeça à or- lepsias em geral etc.
dem de ingresso na residência, autorizando o arrombamento da c) Desenvolvimento mental incompleto: O agente se encontra
porta e a entrada forçada (CPP, art. 245, § 2.º). Em decorrência em fase de desenvolvimento, não tendo atingido sua capacidade
do estrito cumprimento do dever legal, o funcionário público plena, pela falta de idade cronológica ou pela falta de convívio
responsável pelo cumprimento da ordem judicial não responde em sociedade. São os menores de 18 anos (art. 27 do CP) e os
pelo crime de dano, e sequer pela violação de domicílio. indígenas, por não conviverem em sociedade, sendo capazes de
chegar ao pleno desenvolvimento, caso sejam inseridos no coti-
OBS: O policial que troca tiros com bandido e vem a matá-lo, diano dessa.
não está acobertado pelo estrito cumprimento do dever legal e d) Desenvolvimento retardado: o agente possui uma capacidade
sim legítima defesa. Pois alei não impõe que o policial mate al- intelectual diferente do estágio de vida em que se encontra, não
guém, mas pode se defender de uma agressão injusta e atual. estando apto a alcançar o desenvolvimento pleno; Ex: os oligo-
frênicos, portadores de uma capacidade intelectual baixíssima.
Atenção:
Em regra, essa excludente de ilicitude se dirige aos funcionários Atenção: No caso de doença mental, desenvolvimento mental
ou agentes públicos que cumprem aquilo que a lei determina. incompleto ou retardado, o agente deve ser, ao tempo da ação ou
Todavia, não ficam excluídos os particulares que exercem fun- omissão, ou seja, quando praticou a conduta criminosa, inteira-
ção pública, como um jurado, perito, dentre outros. mente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de deter-
Conhecimento da situação justificante: assim como as outras ex- minar-se de acordo com esse entendimento. Se totalmente inca-
cludentes, o estrito cumprimento do dever legal também exige paz, ele será considerado inimputável e absolvido, aplicando-lhe
que o agente tenha conhecimento de que pratica um fato ampa- medida de segurança. Todavia, se ao tempo da prática da condu-
rado por lei, pois, caso falte tal conhecimento, estaremos diante ta ele era parcialmente incapaz, será considerado semi-imputá-
de um ilícito. vel, cuja consequência jurídica não é a absolvição, e sim a con-
O cumprimento de dever social, moral ou religioso, ainda que denação, de modo que o juiz reduzirá a pena de 1/3 a 2/3, porém
estrito, não autoriza a aplicação dessa excludente da ilicitude. pode reverter a pena privativa de liberdade pela internação ou
Exemplo: comete crime de violação de domicílio o padre ou tratamento laboratorial.
pastor que, a pretexto de espantar os maus espíritos que lá se en- -Outra causa positivada pelo CP como forma de se ter a
contram, ingressa sem permissão na residência de alguém. imputabilidade afastada é a embriaguez completa proveniente
de caso fortuito ou força maior, devendo no ato da conduta,
III –Exercício regular de direito omissiva ou comissiva, o agente ser inteiramente incapaz de en-
Corresponde a todos os direitos subjetivos, não se delimitando tender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo
apenas à esfera penal. A ação é permitida por lei, logo é faculta- com esse entendimento, conforme art. 28, § 1o, do Código Pe-
tivo. Ex: luta de MMA, prisão em flagrante por alguém do po- nal.
vo, esportes de contato, castigo imposto pelos pais, ofendículas Se a embriaguez for incompleta, ou seja, parcial, o agente é con-
(cerca elétrica, caco de vidro no muro,...) siderado semiimputável, e a consequência jurídica é a redução
Ofendículos de 1/3 a 2/3 da pena, conforme art. 28, § 2o, do Código Penal.
A doutrina divide-se em relação aos ofendículos.
Parte da doutrina defende e classifica os ofendículos como exer- Ex: Imaginemos que Caio esteja em uma festa universitária e
cício regular de direito, uma vez que são destinados à defesa da que João coloque álcool em sua bebida sem que ele saiba. De-
propriedade ou de qualquer outro bem. Outra parte da doutrina corre da ingestão do álcool por Caio uma embriaguez completa
os classifica como legítima defesa preordenada. O que temos que lhe retira toda a capacidade de entender e querer, assim, ca-
por certo é que os ofendículos, em regra, excluem a ilicitude da so Caio vá para sua casa dirigindo e no caminho atropele al-
conduta. Os ofendículos são dispositivos ou instrumentos que guém que morre, ele não responderá pelo homicídio culposo,
possuem por objetivo impedir ou dificultar a ofensa a um bem pois naquele momento era considerado como inimputável.
Obs: A embriaguez não acidental não exclui a imputabilidade do
agente.
Embriaguez preordenada: o agente se embriaga justamente com
a finalidade de encorajar-se para cometer uma infração penal. A
consequência jurídica dessa embriaguez é a não exclusão da im-
putabilidade, e ainda tal conduta é causa de agravante genérica
(art. 61, II, l, do CP).

3.3.2. Potencial consciência da ilicitude: o agente tem


que praticar o fato sabendo, ou ao menos tendo a possibilidade
de saber que a conduta era ilícita;
O CP prevê no art. 21 o erro de proibição (o agente acredita está
cometendo um ato lícito, mas é ilícito), positivando que o desco-
nhecimento da lei é inescusável, não podendo ninguém deixar
de cumpri-la alegando o desconhecimento. O erro de direito não
exclui a culpabilidade, mas é circunstância atenuante genérica
(art. 65, II, do CP).
ATENÇÃO: Somente o erro que não poderia ser evita-
do elimina a potencial consciência:
a) Erro de proibição inevitável/escusável: Ex: Imaginemos que
determinadas pessoas, que viviam em uma aldeia isolada no
Brasil, jamais saíram dela e tinham por costume se apropriarem
de todas as coisas que estavam aos seus arredores para se ali-
mentarem. Certo dia, saindo em busca de alimento, duas pessoas
dessa aldeia se distanciam e chegam a um local urbano, e aca-
bam avistando uma feira de alimentos orgânicos, e como de cos-
tume se apropriam dos alimentos que ali estão. Percebam que
nesse caso o erro é escusável: essas pessoas não tinham potenci-
al consciência da ilicitude, acreditavam que não estavam come-
tendo um ato ilícito, injusto, fato que exclui a culpabilidade da
conduta deles, portanto ficam isentos da pena de furto.

b) Erro de proibição evitável/ inescusável: a culpabilidade não é


excluída, pois o agente tinha potencial consciência para conh cer
da ilicitude. O agente não fica isento de pena, mas tem uma re-
dução de 1/6 a 1/3 da pena.

3.3.3. Exigibilidade de conduta diversa: Não era exi-


gível uma conduta diferente. duas são as causas legais:
a) Coação moral irresistível: É uma força da qual o coacto não
pode enfrentar. O agente possui a possibilidade de escolha, toda-
via sua vontade se reveste de vícios. Não há exigibilidade de
conduta diversa por parte do agente nesse caso, qualquer indiví-
duo nessa situação agiria do mesmo modo.
Ex: Imaginemos que Caio aponte uma arma de fogo na direção
da cabeça do filho de João, exigindo que se ele não atirasse con-
tra seu inimigo mataria seu filho. Percebam que, nesse caso, não
era exigível uma conduta diferente de João, qualquer pessoa agi-
ria do mesmo modo. Estamos diante de uma coação moral irre-
sistível, fato que afasta a ilicitude da conduta de João.

b) Obediência hierárquica: o agente nesta hipótese age cumprin-


do a ordem de um superior hierárquico seu. Se a ordem não for
manifestamente ilegal, o agente que comete o fato típico e ilícito
por força da ordem de um superior seu não comete crime.

OBS: Esses elementos constitutivos da culpabilidade estão orde-


nados hierarquicamente, de tal modo que se o indivíduo é
inimputável, não pode ter a potencial consciência da ilicitude. E,
se não tem a potencial consciência da ilicitude, não lhe pode ser
exigível conduta diversa.

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