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DIREITO PENAL I - Teoria do Crime

Prof. Jordan Tomazelli Lemos


Advogado. Mestre em Direito Processual pela UFES.

E-mail
jordanlemos@professor.multivix.edu.br
Unidade II:
Teoria Geral do Crime
Conceito Analítico de Crime
“Substancialmente, o crime é um fato humano que lesa ou
expõe a perigo bens jurídicos (jurídico-penais) protegidos. Essa
definição é, porém, insuficiente para a dogmática penal, que
necessita de outra mais analítica, apta a pôr à mostra os
aspectos essenciais ou os elementos estruturais do conceito de
crime. E dentre as várias definições analíticas que têm sido
propostas por importantes penalistas, parece-nos mais
aceitável a que considera as três notas fundamentais do fato-
crime, a saber: ação típica (tipicidade), ilícita ou antijurídica
(ilicitude) e culpável (culpabilidade). O crime, nessa concepção
que adotamos, é, pois, ação típica, ilícita e culpável.” TOLEDO,
Francisco de Assis. Princípios básicos de direito penal, p. 80.
Divisão Tripartida

GRECO, p. 227.
Divisão Tripartida
Para configuração do fato típico, devemos visualizar a
previsão legal e expressividade da lesão ao bem jurídico
tutelado, além da relação entre a conduta do agente e o
resultado oriundo da ação/omissão.

A ilicitude é visualizada por exclusão (vide art. 23 do CP, além


do chamado consentimento do ofendido).

Culpabilidade é o juízo de reprovação pessoal que se faz


sobre a conduta ilícita do agente.
Classificação doutrinária das
infrações penais
Crime consumado e crime tentado

Art. 14 do CP: Diz-se o crime:

I – consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de


sua definição legal;
II – tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por
circunstâncias alheias à vontade do agente.

Vedação à punição de atos preparatórios (regra), vide art. 31 do


CP.

4º da Lei das Contravenções Penais: Não é punível a tentativa de


contravenção.
Crimes dolosos e crimes culposos

Art. 18 do CP: Diz-se o crime:

I – doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco


de produzi-lo;

II – culposo, quando o agente deu causa ao resultado por


imprudência, negligência ou imperícia.
Crime impossível

Art. 17 do CP: Não se pune a tentativa quando, por ineficácia


absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é
impossível consumar-se o crime.

Arma descarregada ou de brinquedo: absoluta ineficácia do meio.

Efetuar disparos em cadáver: absoluta impropriedade do objeto.

Súmula 567 do STJ: “Sistema de vigilância realizado por


monitoramento eletrônico ou por existência de segurança no
interior de estabelecimento comercial, por si só, não torna
impossível a configuração do crime de furto.”
Crime material, crime formal e crime de mera conduta

Material: demanda resultado no plano fenomênico, com


alteração física no objeto (perceptível no mundo exterior).

Formal: prevê um resultado, porém não demanda sua efetiva


ocorrência para que seja considerado consumado (exemplo é a
corrupção ativa, art. 333 do CP).

Mera conduta: não prevê um resultado (exemplo é a posse de


arma de fogo sem autorização legal).
Crime comum, crime próprio e crime de mão própria

Comum: pode ser praticado por qualquer pessoa, não


demandando qualidade especial.

Próprio: exige qualidade ou condição/função específica do sujeito


ativo ou passivo, a exemplo do crime de feminicídio, cujo sujeito
passivo é do gênero feminino. Outro exemplo seria o infanticídio,
cujo sujeito ativo só pode ser a mãe (art. 123 do CP).

De mão própria: atos de execução são indelegável, são


personalíssimos e não admitem coautoria. O infanticídio não seria
de mão própria pois a mãe pode ser auxiliada por um médico.
Exemplo dessa espécie delitiva seria o falso testemunho, previsto
no art. 342 do CP.
Crime continuado

Art. 71 do CP:

Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão,


pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas
condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras
semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como
continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos
crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada,
em qualquer caso, de um sexto a dois terços.
Crime de dano e crime de perigo

Dano: demanda a efetiva lesão ao bem jurídico tutelado.

Perigo: visa evitar a lesão ao bem jurídico tutelado. Há uma


probabilidade em ser violado caso não haja punição, mas
independe de resultado. Subdivisão em abstrato (presunção
absoluta de risco à violação ao bem, a exemplo da posse
ilegal de arma de fogo) e concreto (quando a simples
conduta não é suficiente para colocar em risco e bem
jurídico tutelado, a exemplo dos arts. 308, 309 e 311 do CTB.
Fato Típico
Conduta
“A ação, ou conduta, compreende qualquer comportamento
humano comissivo (positivo) ou omissivo (negativo), podendo
ser ainda doloso (quando o agente quer ou assume o risco
de produzir o resultado) ou culposo (quando o agente
infringe o seu dever de cuidado, atuando com negligência,
imprudência ou imperícia)”. GRECO, p. 280.

Art. 18 do CP - Dolo: almeja o resultado ou assume o risco de


produzi-lo, ciente de sua provável ocorrência (dolo eventual).
Culpa: age com imprudência, imperícia ou negligência.
Conduta
Conduta comissiva (positiva): direcionada a uma finalidade,
demandando ação do agente.

Conduta omissiva (negativa): também direcionada a uma


finalidade, porém demanda a omissão do agente que era
obrigado a agir (vide art. 135, 244 e 317 do CP, sendo omissivo
próprio, já que os impróprios possuem previsão no art. 13, §2º).

Ausência de conduta: força física irresistível; movimentos


reflexos (imprevisíveis); estado de inconsciência
(sonambulismo, ataques epiléticos, etc).
Tipo Penal
“Tipicidade quer dizer, assim, a subsunção perfeita da
conduta praticada pelo agente ao modelo abstrato previsto
na lei penal, isto é, a um tipo penal incriminador.” GRECO, p.
288.

Necessária a presença de todos os elementos do tipo penal


(atipicidade do furto de uso).

Tipicidade conglobante (material): ausência de hipótese que


se amolda ao princípio da insignificância.
Tipo Doloso
(consciência + vontade)

“Dolo é a vontade e consciência dirigidas a realizar a conduta


prevista no tipo penal incriminador. [...] A consciência, ou seja, o
momento intelectual do dolo, basicamente, diz respeito à
situação fática em que se encontra o agente. O agente deve ter
consciência, isto é, deve saber exatamente aquilo que faz, para
que se lhe possa atribuir o resultado lesivo a título de dolo. [...] A
vontade é outro elemento sem o qual se desestrutura o crime
doloso. Aquele que é coagido fisicamente a acabar com a vida
de outra pessoa não atua com vontade de matá-la.” GRECO, p.
316 e 317.
Tipo Doloso

Dolo direto: quando efetivamente o agente quer praticar a


conduta (proibida) prevista no tipo penal. Visualiza a finalidade
(resultado) e age para alcançar.

Dolo indireto (eventual): “Fala-se em dolo eventual quando o


agente, embora não querendo diretamente praticar a infração
penal, não se abstém de agir e, com isso, assume o risco de
produzir o resultado que por ele já havia sido previsto e aceito.”
GRECO, p. 322.
Tipo Doloso
Erro de tipo (ausência de dolo)

Art. 20 do CP: O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de


crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se
previsto em lei.

A partir de uma falsa percepção da realidade (consciência), o agente,


com vontade, pratica certa conduta, achando que nesta situação
não estaria diante de uma outra conduta proibida.

Exemplo: caçador que atira no colega imaginando ser um animal /


relação sexual consentida com menor de 14 anos, imaginando ter
este 15 ou mais.
Tipo Culposo
Há vontade do agente na prática de uma conduta, porém não há
consciência quanto ao resultado. Este ocorre por imprudência,
negligência ou imperícia. Aqui, a finalidade (decorrente da
vontade) era LÍCITA, tendo havido mal escolha dos meios para tal
alcance (violação ao dever de cuidado).

Tem-se conceituado o crime culposo como “a conduta humana


voluntária (ação ou omissão) que produz resultado antijurídico
não querido, mas previsível, e excepcionalmente previsto, que
podia, com a devida atenção, ser evitado.” MIRABETE, Júlio
Fabbrini. Manual de direito penal – Parte geral, p. 138.
Tipo Culposo
GRECO, p. 330:
Tipo Culposo

A respeito da alínea “c”, o art. 18, II condiciona a punição ao


resultado, ou seja, agindo o agente de forma perigosa, mas não
havendo resultado, não há se falar em punição decorrente da
tentativa. Em regra, são crimes materiais, punidos apenas a título
de consumação.

Já em relação à alínea “e”, “diz-se que no crime culposo o agente


não prevê aquilo que lhe era previsível.” GRECO, p. 333.
Previsibilidade e Culpa Consciente
A culpa inconsciente é a culpa sem previsão do resultado. Já a culpa
consciente é a culpa com previsão, porém o agente acredita
sinceramente que o resultado não ocorrerá, haja vista confiar em suas
habilidades.

HUNGRIA. Comentários ao código penal, v. I, t. II, p. 188.


Imprudência, negligência e
imperícia (GRECO, p. 336 e 337):
Imprudência, negligência e
imperícia (GRECO, p. 336 e 337):

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