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Seção 2.

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Territorialidade e extraterritorialidade da lei penal brasileira,
eficácia de sentença estrangeira e lugar do crime
Princípios que regem a aplicação da lei penal no espaço.
Territorialidade: Aplica-se a lei penal do local em que ocorreu o crime.
É adotada no Brasil como regra.
Nacionalidade ativa: Aplica-se a lei penal da nacionalidade do
sujeito ativo.
Nacionalidade passiva: Aplica-se a lei penal da nacionalidade do
sujeito ativo, desde que tenha sido atingida vítima ou bem jurídico de
mesma nacionalidade.
Defesa (ou real): Leva-se em consideração a nacionalidade do bem
jurídico atingido.
Justiça penal universal: Sendo o crime um mal universal, aplica-se a
lei do local em que o agente for encontrado.
Representação (ou bandeira): Aplica-se a lei nacional quando o crime
for praticado em aeronaves e embarcações privadas.
1. Territorialidade Dispõe o art. 5° do Código Penal:

Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções,


tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no
território nacional.
O ordenamento penal brasileiro optou pela adoção do princípio da
territorialidade temperada, matizada ou mitigada, segundo o qual a lei
penal brasileira aplica-se, em regra, ao crime praticado no território
nacional. No entanto, de modo excepcional aplicar-se-á a lei penal
estrangeira aos crimes praticados no território nacional quando assim
previsto em tratados e convenções internacionais.
Hipóteses de não incidência da lei penal brasileira a fatos
cometidos no território nacional: Imunidade diplomática, parlamentar,
inviolabilidade do advogado.
2. Extraterritorialidade
Segundo o art. 7° do Código Penal, são exceções ao princípio geral da
territorialidade:
Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no
estrangeiro:
I - os crimes:
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de
Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade,
entre outros.
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil;
II - os crimes
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;
b) praticados por brasileiro;
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou
de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam
julgados.
§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei
brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro.
§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende
do concurso das seguintes condições:
a) entrar o agente no território nacional;
b)ser o fato punível também no país em que foi praticado;
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira
autoriza a extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido
a pena;
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro.

3. Lugar do crime

Para a adoção do princípio da territorialidade é preciso identificar o


lugar do crime, o que nem sempre é tarefa fácil diante do caso
concreto. Existem três teorias que tratam do lugar do crime:
1. Teoria da Atividade: considera-se lugar do crime aquele em que
ocorreu a ação ou omissão, ainda que em outro tenha se produzido o
resultado.
2. Teoria do Resultado: considera-se lugar do crime aquele em que
se produziu o resultado, ainda que outro seja o local da conduta.
3. Teoria da Ubiquidade ou Mista: considera-se lugar da infração
tanto aquele em que ocorreu a ação ou omissão quanto o do
resultado. O Brasil adota a Teoria da Ubiquidade.

Seção 2.3
Fato típico: conduta, resultado, nexo causal e tipicidade penal

• Conceito formal: Crime é toda ação/omissão proibida pela lei


penal. • Conceito material: Crime é toda ação/omissão que
viola um bem jurídico penalmente protegido.
Para a maioria dos doutrinadores, a função do Direito Penal é a
proteção de bem jurídico, que são aqueles valores relevantes e
imprescindíveis para o indivíduo e para a sociedade como um todo.
Exemplos: vida, liberdade, dignidade sexual, propriedade, etc.
• Conceito analítico de crime: Crime é toda ação/omissão típica,
ilícita e culpável.

Principais conceitos da classificação doutrinária dos crimes

• Crime comum: é aquele que pode ser praticado por qualquer


pessoa, pois não exige nenhuma qualidade especial (Ex: homicídio,
lesão corporal e furto).
• Crime próprio: é aquele que só pode ser praticado por uma
pessoa que detém uma qualidade ou condição especial (Ex: peculato
a condição especial é ser funcionário público).
• Crime de mão própria: é aquele que só pode ser praticado pelo
agente de forma pessoal, ou seja, não pode haver intermediação de
outrem (Ex: falso testemunho).
• Crime doloso: é a reunião dos elementos vontade e consciência
de produzir o resultado, isto é, o agente quer produzir o resultado ou
assume o risco de fazê-lo.
• Crime culposo: é a inobservância a um dever objetivo de cuidado,
uma vez que o sujeito ativo age com imprudência, negligência ou
imperícia.
• Crime preterdoloso: o sujeito almeja a prática de um crime, mas o
resultado é mais gravoso, pois ele age com dolo no antecedente e
culpa no consequente (Ex: lesão corporal seguida de morte).
• Crime unissubsistente: é aquele que se perfaz com um único fato
e não admite a tentativa (Ex: injúria).
• Crime plurissubsistente: é aquele em que a conduta pode ser
fracionada em atos, admitindo a tentativa (Ex: roubo).
• Crime unissubjetivo: é aquele que pode ser praticado pelo
sujeito de modo individual, admitindo, neste caso, o concurso
eventual de pessoas (Ex: homicídio).
• Crime plurissubjetivo: é exigida a presença de duas ou mais
pessoas, sendo necessária a hipótese de concurso necessário (Ex:
associação criminosa e rixa).
• Crime instantâneo: é aquele que se consuma no mesmo instante
em que a ação é praticada, uma vez que não se prolonga no tempo
(Ex: furto).
• Crime permanente: é aquele cuja consumação se prolonga no
tempo (cárcere privado e sequestro).
• Crime de dano: exige a efetiva lesão ao bem jurídico para que o
crime seja consumado (Ex: lesão corporal).
• Crime formal: a consumação do crime não depende do resultado,
pois este pode ou não ocorrer (Ex: desobediência).

1. CONDUTA
O conceito finalista, dispõe que a ação é um comportamento
humano voluntariamente e conscientemente dirigido a um fim.
Depreende-se desse conceito que a ação constitui-se de um
comportamento humano, de modo que os animais, por exemplo,
não podem ser sujeitos ativos de crimes.
A conduta deve ser exteriorizada, uma vez que o Direito Penal não
pune a vontade não realizada, a mera cogitação. A ação também
deve ser voluntária, pois, caso seja forçada por um agente externo,
haverá ausência de ação, como nos casos de coação física
irresistível, movimentos reflexos ou atos de inconsciência.
Por fim, o conceito de ação demonstra que se trata de um fazer ou
não fazer no mundo. Diante disso, é possível verificar que o
comportamento é realizado por comissão (fazer algo) ou por
omissão (deixar de fazer algo).
Os crimes omissivos subdividem-se próprios ou impróprios.
A omissão própria consiste, em “desobediência a uma norma
mandamental, norma esta que determina prática de uma conduta,
que não é realizada. Há, portanto, a omissão de um dever de agir
imposto normativamente, quando possível cumpri- lo, sem risco
pessoal”. São crimes de mera conduta, em que basta a abstenção do
dever de agir imposto a todos de forma genérica para que o crime se
consume. Um exemplo recorrente é a omissão de socorro, prevista
no art. 135 do CP.
Nos cimes omissivos impróprios o agente tem a obrigação de agir
para evitar a produção do resultado. Bitencourt (2011) destaca que
são pressupostos fundamentais do crime omissivo impróprio o
poder de agir – deve haver possibilidade física de agir -, a
evitabilidade do resultado – assim como no omissivo próprio, deve-se
verificar se o resultado subsistiria no caso de ter sido praticada a
conduta devida – e, por fim, o dever de impedir o resultado – a figura
do garantidor.
É garante aquele que, de outra forma, assumiu a responsabilidade
de impedir o resultado, como no caso de mães que deixam os filhos
sob cuidado de parentes ou vizinhos.
2. RESULTADO
• Natural: é a modificação no mundo exterior provocada pela ação.
O resultado natural, a morte, a perda, o ferimento, etc.
• Jurídico: é a lesão ou perigo de lesão a um bem jurídico
penalmente protegido.
3. NEXO DE CAUSALIDADE
Nexo causal é o liame entre a ação praticada pelo agente e o
resultado produzido. Segundo o art. 13 do CP, considera-se causa a
ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. Pode-se
afirmar que o Código adotou, para definição do nexo causal, a teoria
da equivalência das condições ou conditio sine qua non como
regra.
Conforme afirmado para verificar se o antecedente é causa do
resultado é necessário realizar o juízo hipotético de eliminação, no
qual se retira determinado comportamento para verificar se o
resultado teria surgido ainda assim ou se este desapareceria em
decorrência da supressão da referida ação. Se o resultado
ocorresse mesmo com a supressão da conduta, não haveria nexo
causal. No entanto, se o resultado desaparecesse com a eliminação
da conduta, haveria de se falar que esta foi condição indispensável
para a determinação do resultado.
4. TIPICIDADE
A tipicidade, conforme o conceito formal, é o juízo de adequação da
conduta a um tipo previsto em lei. Ainda, deve-se analisar, sob o
aspecto material, se aquele fato praticado lesionou um bem jurídico
penalmente tutelad. Zaffaroni ainda acrescenta a tipicidade
conglobante, pela qual se deve analisar a existência de uma
conduta antinormativa, ou seja, o fato praticado pelo agente deve
ser contrário ao ordenamento jurídico como um todo.

Seção 2.4
Fato típico: crime doloso
1. TEORIAS DO DOLO
a definição de dolo
• Teoria da vontade: Dolo é a vontade em praticar uma ação para
causar determinado resultado. Dessa forma, não basta ter o
resultado como provável ou possível, é necessário que ele tenha sido
desejado pelo agente.
• Teoria da representação: Para a configuração do dolo, basta a
previsão de um resultado como certo ou provável de ocorrer, isto
é, representa a simples probabilidade de ofensa a um bem jurídico
penalmente protegido.
• Teoria do consentimento: Configura-se o dolo quando há
consentimento na ocorrência do delito ou, ainda, assunção do risco
de produzir determinado resultado.
O artigo 18 do CP dispõe que: Art. 18 - Diz-se o crime: I - doloso,
quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo.
Conforme disposição legal, tem-se caracterizado o dolo quando o
agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo.
Isso significa que o Código Penal adotou a teoria da vontade em
relação ao dolo direto e a teoria do consentimento no tocante ao dolo
eventual.
2. ELEMENTOS DO DOLO
O dolo é a consciência e a vontade de realizar a infração
penal, ou seja, compõe-se de um elemento cognitivo, que é a
consciência, e de um elemento volitivo, caracterizado pelo desejo em
cometer o delito.
• Elemento cognitivo ou intelectual – consciência: para a
configuração do dolo, exige-se previsão ou representação daquilo
que se pretende praticar. Tal previsão/ representação significa o
conhecimento, pelo autor do delito, de todos os elementos que
integram o tipo penal, bem como a consciência em realizá-los.
• Elemento volitivo – vontade: a configuração do dolo exige a
vontade (o querer) em realizar a ação/omissão para atingir
determinado resultado. Essa vontade pressupõe a possibilidade de
influir no curso causal, uma vez que tudo o que estiver fora do
âmbito de atuação concreta do agente pode ser desejado ou
esperado, mas não significa querer realizá-lo.
Cumpre mencionar que ambos os elementos são cumulativos,
sendo imprescindíveis para a configuração do dolo. Assim, de
nada adianta a presença da vontade sem a consciência da ação,
ou a presença desta sem a vontade.
3. ESPÉCIES DE DOLO
Bitencourt (2011) afirma que a necessidade de diversas espécies de
dolo decorre da necessidade de a vontade consciente abranger o
objetivo do agente, o meio utilizado, o nexo de causalidade e o
resultado. Assim, o dolo pode ser direto de 1º e 2º graus ou indireto/
eventual.
• Dolo direto: compõe-se de três aspectos: (i) a representação do
resultado, dos meios necessários e das consequências secundárias,
(ii) o querer a ação, o resultado, bem como os meios escolhidos
para a sua consecução e (iii) o anuir na realização das
consequências previstas como certas, necessárias ou possíveis,
decorrentes do uso dos meios escolhidos para atingir o fim proposto
ou da forma de utilização desses meios.
Considera-se dolo direto de 1º grau quando o agente pratica um
ato dirigido tão somente àquele que pretende atingir, ou seja, pratica
atos tendentes a alcançar o fim perseguido, abrangendo, assim, os
meios propostos. Um exemplo é o sujeito que desfere uma
facada em outrem com o intuito de matá-lo.
O dolo direto de 2º grau, por sua vez, ocorre quando o agente
direciona sua ação àquele que pretende atingir, mas, ao escolher
os meios necessários para atingir o resultado, assume também
seus efeitos colaterais. Exemplo: Antônio, pretendendo matar Carlos,
coloca uma bomba em um avião, matando a todos que estavam no
transporte. Em relação à morte de Carlos, o agente agiu com dolo
direto de primeiro grau, mas no tocante aos demais passageiros,
agiu com dolo direto de segundo grau.
• Dolo eventual: Ocorre quando o agente, embora não queira
diretamente o resultado, aceita sua ocorrência como possível
ou provável, ou seja, assume o risco de produzi-lo. Para que seja
configurada essa modalidade dolosa, é indispensável a presença, no
caso concreto, da consciência e vontade em produzir o resultado.
É importante ressaltar que a intensificação do tráfego de veículos
aliada à imprudência dos motoristas tem desencadeado nas últimas
décadas um aumento considerável do número de acidentes nas
malhas rodoviárias, inclusive com vítimas fatais. Isso atrai,
inevitavelmente, o âmbito de aplicação do Direito Penal, que tem
enfrentado o seguinte questionamento: o sujeito que ingere bebida
alcoólica ou outras substâncias entorpecentes, ou que conduz seu
veículo acima da velocidade máxima permitida na via, assume o
risco da produção do resultado, agindo com dolo eventual, ou confia
na sua perícia a ponto de evitar o resultado, atuando com culpa
consciente? É tênue a linha que separa o dolo eventual e a culpa
consciente, cabendo à jurisprudência o enfrentamento de tais
questões.

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