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A regularização fundiária de favelas no Estado do Rio de Janeiro

A regularização fundiária de
favelas no Estado do Rio de Janeiro
Rose Compans *

Resumo – Neste artigo são apresentadas as dificuldades de naturezas legal e burocrática


para efetivar uma política de regularização fundiária de favelas. Primeiramente, são
analisadas as razões que teriam conduzido ao êxito ou ao fracasso de algumas experiên-
cias de regularização no Estado do Rio de Janeiro. Em seguida, discute-se a possibilidade
de que a aplicação do usucapião especial urbano coletivo, previsto pelo Estatuto da
Cidade, venha a superar os limites observados na utilização de instrumentos jurídicos
anteriormente vigentes.
Palavras-chave: regularização fundiária; favelas; usucapião especial urbano.

Introdução
A regularização fundiária das áreas ocu- mente. Apesar de mais de três décadas de ex-
padas por favelas é um importante instrumen- periências em urbanização de favelas no Bra-
to de cidadania e de inclusão social. A titulação sil, poucas foram aquelas em que o processo
do domínio destas áreas confere a seus mora- de regularização fundiária foi concluído. Com
dores maior segurança quanto à sua perma- a promulgação da Constituição Federal em
nência no local e garantia de prestação regu- 1988 e do Estatuto da Cidade em 2001 -, a
lar de serviços públicos. Representa, ainda, a instituição do usucapião especial urbano, in-
oportunidade de uma maior apropriação de dividual ou coletivo, ampliou sobremaneira a
valor econômico, seja no caso de alienação possibilidade de efetuar-se a regularização
do imóvel ocupado ou na obtenção de crédito, destas áreas. Em contrapartida, lançou um
uma vez que a propriedade pode ser utilizada enorme desafio a todos os níveis de governo,
como garantia real para contrair empréstimo. no sentido de estabelecerem procedimentos
Entretanto, são muitos os entraves legais e administrativos complementares que facilitem
burocráticos para a efetivação da titulação da e reduzam os prazos processuais para a aqui-
propriedade em áreas ocupadas irregular- sição de imóvel situado em favela.

*
Doutora em Planejamento Urbano e Regional pelo IPPUR/UFRJ e Assessora da Secretaria Municipal de Urbanismo do Rio de
Janeiro. E-mail: compans@unisys.com.br.

Revista Rio de Janeiro, n. 9, p. 41-53, jan./abr. 2003 41


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Evidenciar as dificuldades enfrentadas para deve-se considerar, além da disponibilidade de


a regularização fundiária de favelas a partir da recursos, o tempo de tramitação de processo
análise de algumas experiências ocorridas no judicial ou administrativo e a personalidade ju-
Estado do Rio de Janeiro ao longo das últimas rídica do agente promotor e do proprietário do
décadas é o objetivo do presente trabalho. terreno a que se pretenda adquirir.
Espera-se que tal análise possa contribuir para A aquisição de imóvel pertencente a parti-
o debate público atual acerca das formas de cular por entidade pública poderá ser realiza-
cooperação entre as distintas esferas de go- da por meio de todos os institutos descritos, à
verno e entidades da sociedade civil para a exceção do usucapião.1 A aquisição de imóvel
titulação destas áreas. pertencente a particular por outro particular
Para tanto, far-se-á na primeira parte uma poderá ser realizada pelos mesmos institutos,
breve recuperação de quatro experiências de à exceção da desapropriação. Esta última con-
regularização realizadas em diferentes perío- siste na expropriação de determinado bem
dos e utilizando formas de aquisição diversas, pelo Estado, em função de necessidade ou
que são as das favelas Brás de Pina e Morro utilidade pública ou de interesse social.2
dos Cabritos, e as dos programas Cada Embora a alienação de imóvel público seja,
Família,Um Lote e Favela-Bairro. À luz destas em geral, subordinada à prévia autorização
experiências, discutir-se-á na segunda parte legislativa, é admitida, assim como a permuta
em que medida a aplicação do instituto do e a doação. Todavia, os bens de uso comum
usucapião especial urbano poderá contornar do povo – tais como os mares, rios, estradas,
os limites das formas de aquisição utilizadas ruas e praças –, e os bens de uso especial –
anteriormente. edifícios administrativos ou destinados à pres-
tação de serviços –, para que possam ser alie-
nados devem antes ser desafetados da finalida-
1. A difícil travessia rumo à de pública a que estejam vinculados, por inter-
legalidade médio de lei específica. Isso porque somente
Diversas formas de aquisição são previstas os bens dominicais – ou seja, aqueles que cons-
no ordenamento jurídico brasileiro mediante tituem o patrimônio da União, dos Estados e
transcrição do título de transferência no re- dos Municípios, sem vinculação à função social
gistro do imóvel. Entre elas figuram a compra específica – podem ser alienados.3
e venda, a permuta, a doação, a desapropria- A Constituição do Estado do Rio de Janei-
ção e o usucapião. Na escolha da forma mais ro, por sua vez, determinou que todas as ter-
adequada à implementação de um determi- ras públicas estaduais não utilizadas,
nado programa de regularização fundiária, subutilizadas e as discriminadas devam ser

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prioritariamente destinadas a assentamentos precedem à transferência da propriedade ou


populacionais de baixa renda (art.230). à legalização da posse, em ambos, com a ou-
Na hipótese da destinação dos imóveis públi- torga de título de domínio. Estes procedimen-
cos servir para fins de reforma urbana ou agrá- tos ou etapas da regularização fundiária são:
ria, é permitida a utilização gratuita, a doação delimitação da área através de levantamento
ou a alienação sem necessidade de prévia au- aerofotogramétrico e topográfico; identifica-
torização legislativa (art.68). ção dos proprietários junto ao Registro Geral
Não obstante a Lei Orgânica do Município de Imóveis, ao Cadastro Imobiliário da Prefei-
do Rio de Janeiro ter previsto dispositivo se- tura Municipal ou do Estado, ou nos registros
melhante no tocante à destinação de imóvel do Serviço de Patrimônio da União (SPU); ação
público para fins de reforma urbana (art. 237, discriminatória pelo Estado ou pela União, no
§7º), estabeleceu que, mesmo nestes casos, a caso de não haver registro ou do registro en-
concessão do direito real de uso4 deverá ser contrado ser controvertido, para efeito de in-
utilizada preferencialmente à venda ou à doa- corporação do terreno ao patrimônio imobi-
ção (art.232). liário do Estado ou dos Municípios; aquisição
do imóvel pelo agente promotor ou pelos pró-
Já a desapropriação de imóvel público é
prios beneficiários; declaração, pelo Municí-
vedada ao particular, porém consentida quan-
pio, de Área de Especial Interesse Social;
do o expropriante pertence ao nível de gover-
cadastramento das unidades habitacionais e
no hierarquicamente superior. Assim, a União
de seus ocupantes; elaboração do Projeto
pode desapropriar imóveis dos Estados, Mu-
nicípios e do Distrito Federal. Os Estados po- Aprovado de Loteamento (PAL); aprovação do
dem desapropriar imóveis dos Municípios PAL; averbação do PAL junto ao Registro Geral
contidos em seu território. Ninguém pode de- de Imóveis (RGI); outorga de títulos de domí-
sapropriar a União. Em contrapartida, o De- nio, seja de posse ou de propriedade, aos
creto-lei nº 178, de 16 de fevereiro de 1967, beneficiários do programa de urbanização;
prevê a cessão gratuita para a transferência de registro dos títulos de propriedade no RGI.
imóvel da União, quando o interessado se tra- As dificuldades se iniciam na pesquisa so-
tar de Estados, Municípios ou entidades com bre a titularidade da área, pela lentidão e pelo
finalidades sociais. excesso de burocracia verificada nos cartóri-
A despeito da vigência destes diversos ins- os responsáveis pela lavratura e guarda dos
trumentos jurídicos que podem ser utilizados registros da propriedade imobiliária. Como os
na regularização fundiária de favelas, sua registros públicos são matéria de competên-
aplicabilidade é ainda dificultada pelos com- cia normativa exclusiva da União, resta ape-
plexos procedimentos administrativos que nas ao agente promotor, quando órgão públi-

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co municipal ou estadual, procurar estabele- 1.1. A urbanização incompleta da


cer algum tipo de convênio com vistas a agilizar Favela Brás de Pina
este procedimento.
Localizada num bairro da Zona Norte do
Na hipótese de a área ser considera-
Município do Rio de Janeiro, a Favela Brás de
da devoluta, surge um outro complicador:
Pina foi uma das três primeiras favelas
a necessidade de um processo
urbanizadas no Estado, juntamente com Mata
discriminatório por parte do Estado ou
Machado e Morro União, ao final dos anos
da União. Se o agente promotor da regu- 60. Tal urbanização se deu em razão de terem
larização não pertencer a estas duas es- sido escolhidas para integrar um programa
feras de governo, terá de igualmente fir- experimental promovido pela extinta Compa-
mar um convênio para sua efetivação. Tal nhia de Desenvolvimento das Comunidades
processo discriminatório pode ser admi- (Codesco).6
nistrativo, ou judicial, no caso de ser en-
As obras de urbanização se iniciaram no
contrado algum título de domínio junto
último trimestre de 1968 e foram concluídas
ao Registro de Imóveis. A discriminação em novembro de 1969, mas a regularização
administrativa consiste no levantamento do da situação fundiária só se efetivou em mea-
perímetro, das matrículas imobiliárias e dos dos anos 80, graças à inclusão da favela
das ocupações conhecidas, seguido da ex- no Programa Cada Família, Um Lote, promo-
pedição de um edital de convocação dos vido pelo governo estadual. A área inicialmen-
interessados em comprovar o domínio te ocupada pelos 4.416 moradores da favela
pelo prazo de 60 dias, da concessão de era de 108.359m2, à qual foi anexada uma
“licença de ocupação” e, finalmente, da outra área vizinha de 35.000 m2, de modo a
demarcação e registro da área discrimi- permitir a demarcação de 900 lotes de 120
nada no RGI em nome do Estado ou do m2. Na medida em que as famílias iam sendo
Município. 5 reassentadas no novo loteamento resultante
A morosidade característica dos pro- do projeto de urbanização, recebiam uma
cessos judiciais, aliada à intrincada tra- promessa de compra e venda do terreno. Após
ma de procedimentos administrativos e a quitação do valor acordado para a aquisi-
burocráticos tem levado programas de ção dos lotes, mediante prestações mensais
regularização fundiária de favelas invari- compatíveis com o rendimento das famílias, a
avelmente ao fracasso. É o que revela a escritura definitiva seria lavrada em cartório.
análise de algumas experiências que tive- Os obstáculos encontrados para regulari-
ram lugar no Estado do Rio de Janeiro, zar a propriedade foram de dois tipos. Em
como veremos a seguir. primeiro lugar, o fato de que apenas uma par-

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te da área ocupada pertencia à Companhia de rial de construção e as obras de urbanização,


Habitação Popular do Estado da Guanabara realizadas pelos próprios moradores em regi-
(Cohab), que logo no início a transferiu à me de mutirão, solucionando assim um con-
Codesco, obrigava que o restante fosse desa- flito fundiário que poderia ter se prolongado
propriado de particulares. A tramitação do durante décadas.
processo judicial de desapropriação, já nor- No entanto, esta solução só pôde ser
malmente moroso, teve ainda como agravante alcançada porque os moradores da Rua San-
a extinção da expropriante – a Codesco –, em ta Clara nº 450 e 454, contando com a asses-
1973, paralisando o curso da ação soria jurídica da Arquidiocese do Rio de Ja-
expropriatória. Em segundo lugar, o neiro, haviam entrado na Justiça com ações
loteamento projetado não se adequava à le- consignatórias e de usucapião, além da defe-
gislação urbanística vigente, o que impediu sua sa das ações de despejo. Quando a proprietá-
aprovação e a aceitação das obras, bem como ria do terreno – a construtora Pires e Santos –
o reconhecimento das estreitas vielas como percebeu que, com a ação consignatória, uma
logradouros públicos e a concessão de habi- perícia judicial garantiria a permanência dos
te-se das casas, sem o qual não é possível ob- moradores no local por mais cinco anos pelo
ter o registro do imóvel. menos, se dispôs a negociar, oferecendo in-
denização aos moradores e o financiamento
do restante de recursos para aquisição do
1.2. A experiência de êxito do Morro
imóvel da Rua Euclides da Rocha, números
dos Cabritos 450 e 460.
Noventa e oito famílias ameaçadas de re- Ao contrário da desapropriação, a regula-
moção pelo proprietário do terreno em que rização fundiária de favelas por meio da com-
se situa o Morro dos Cabritos, no bairro de pra dos imóveis em que se situam, quando o
Copacabana, resolveram, em 1979, adquirir proprietário é particular, oferece grande agili-
em condomínio outro terreno próximo ao lo- dade e segurança, posto que não envolve con-
cal, transferindo-se para lá. Com o auxílio da flitos judiciais nem negociações políticas en-
Cruzada São Sebastião, instituição ligada à Igre- tre diferentes esferas de poder. Todavia, esta
ja Católica que lhes serviu como fiadora, con- forma de aquisição parece mais adequada a
traíram um empréstimo junto à instituição fi- intervenções pontuais ou a projetos-piloto do
nanceira para a compra do novo terreno. A que a programas que visam a atender a um
Prefeitura elaborou o projeto arquitetônico e número substantivo de favelas em grandes
urbanístico, e a Companhia Estadual de Habi- centros urbanos, pelo elevado preço que a
tação (Cehab), financiou a compra do mate- terra adquire nestas cidades e, conseqüente-

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mente, o extraordinário volume de recursos particular, optava-se pela ação de desapropri-


que representa esta operação. O simples anún- ação por interesse social. Caso a propriedade
cio de implementação de um programa de re- fosse do Estado ou do Município, se procedia
gularização fundiária que implique na aquisi- a transferência para o Patrimônio do Estado,
ção de grandes extensões de terra certamente e deste para a Cehab. Já se o terreno perten-
já seria suficiente para o movimento especulativo cesse à União, solicitava-se ao órgão que deti-
de elevação dos preços imobiliários.7 vesse a propriedade a regularização da situa-
ção dos moradores.
Paralelamente à pesquisa da proprieda-
1.3. O Programa Cada Família, Um Lote
de, a Seth realizava o contato com a comuni-
Aquele que deveria ter sido o principal dade a ser beneficiada, o cadastramento das
programa da política habitacional do Gover- famílias e a medição dos respectivos lotes a
no Brizola (1983-1986) – o Programa Cada partir do levantamento aerofotogramétrico. A
Família, Um Lote – tinha como objetivo distri- transferência da propriedade da terra do Es-
buir um milhão de títulos de propriedade. tado para os moradores tinha como
Porém, fracassou enormemente, ao ter con- contrapartida o pagamento de uma quantia
seguido entregar apenas 32.817 mil títulos em simbólica, jamais ultrapassando o valor equi-
todo o Estado. Do total previsto, 400 mil títulos valente a 15% do salário mínimo.
deveriam corresponder à regularização de O maior equívoco do Programa foi, sem
lotes em favelas, que seriam urbanizadas por dúvida, o de estabelecer metas ambiciosas
etapas até se transformarem em bairros po- demais para que seu cumprimento estivesse
pulares. Ao final de 1986, somente 13.604 subordinado, ora a uma difícil articulação
destes títulos foram entregues nas 15 favelas intergovernamental, ora à tramitação de ações
beneficiadas pelo Programa, todas na capital. judiciais de desapropriação. Embora eficaz por
A gestão do Programa Cada Família, Um significar um modo coativo de aquisição da pro-
Lote ficou a cargo da então recém-criada Se- priedade, não podendo a ela se opor o expro-
cretaria do Estado de Trabalho e Habitação priado e tampouco o Judiciário – ao qual é
(Seth), ao passo que a Cehab era o órgão res- vedado decidir sobre a pertinência das razões
ponsável por sua implementação. Os procedi- que a justificam –, a desapropriação oferece
mentos adotados para a regularização de fa- muitas desvantagens relacionadas ao seu alto
velas eram diferenciados, dependendo da custo e ao tempo de tramitação do processo.
titularidade do imóvel em que se situava. Se o Isso porque o expropriado poderá sem-
levantamento junto ao Registro de Imóveis pre contestar o valor da indenização, recor-
constatasse que a propriedade pertencia a rendo até a última instância de apelação judi-

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cial, já que tanto no caso da desapropriação beneficiando uma população de aproximada-


por utilidade pública quanto na desapropria- mente 220.000 pessoas.8
ção por interesse social, a lei determina que a Isso explica o fato de que, das 158 favelas
indenização seja paga pelo “justo e prévio va- inseridas no Programa, somente três tiveram a
lor em dinheiro”, não se aplicando na regula- situação fundiária regularizada: Fernão Cardim,
rização de favelas a desapropriação com títu- no bairro do Méier, e Ladeira dos Funcionários e
los da dívida pública resgatáveis em dez anos, Parque São Sebastião, no Caju. No primeiro caso,
conforme previsto no artigo 182, § 4º da Cons- por se tratar de próprio municipal, o instrumen-
tituição Federal. to adotado foi a concessão de direito real de uso,
Para evitar que a ação se prolongue inde- não-onerosa, pelo período de 10 anos, findos
finidamente, na maioria das vezes o Poder os quais a propriedade será transferida aos mo-
Público negocia com o expropriado o paga- radores. Já no segundo, por ser o terreno
mento de importância superior ao real valor de propriedade da União, a regularização se deu
de mercado, onerando sobremaneira o custo através de Certidão de Inscrição de Ocupação,
desta operação imobiliária, além de contribuir emitida pela Delegacia do Patrimônio da União
para a elevação dos preços do mercado imo- do Rio de Janeiro. Embora tal instrumento não
biliário como um todo. possa ser registrado em cartório, garante ao
beneficiário o reconhecimento da posse, servin-
do para o requerimento de indenização por
1.4. O Programa Favela-Bairro benfeitorias, caso venha a ser obrigado a aban-
O Programa Favela-Bairro se originou de donar o imóvel.
um convênio assinado em 1995 entre o Muni- O procedimento para a regularização ini-
cípio do Rio de Janeiro e o Banco cia-se com um “protocolo de intenções” assi-
Interamericano de Desenvolvimento (BID), nado entre a Prefeitura e o morador
visando principalmente à urbanização, e, ape- beneficiário, no qual o segundo declara estar
nas complementarmente, à regularização ur- ciente da implantação do Programa na comu-
banística e fundiária e ao desenvolvimento de nidade e de seus benefícios, comprometen-
programas de geração de emprego e renda. do-se a “zelar pela preservação dos princípi-
Com efeito, as ações previstas no referido con- os que nortearão a execução do Projeto Ur-
vênio concernentes à regularização fundiária banístico” e a não executar obras de modifi-
são limitadas a “iniciativas preliminares” que cação ou acréscimo em sua unidade
incluem pesquisa fundiária, elaboração de habitacional.
projetos de alinhamento e reconhecimento de Além disso, o morador compromete-se a
logradouros públicos em cerca de 60 favelas, zelar pelo não crescimento do número de

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unidades na favela, juntamente com seus vizi- legislação brasileira. Consiste na outorga da
nhos e com a Associação de Moradores, de- nova propriedade pela posse prolongada e
vendo comunicar ao Município casos de inva- contínua do bem durante um certo lapso de
são ou ampliação sem prévia autorização, bem tempo, com automática prescrição da anteri-
como qualquer ato contrário à execução do or, transformando um mero estado de fato num
Programa. Em contrapartida, o Município estado de direito. Existem três tipos de
compromete-se a reconhecer a posse da área usucapião aplicáveis a áreas urbanas: o
ocupada, processando ações rumo a sua re- usucapião extraordinário, o usucapião ordi-
gularização fundiária. nário e o usucapião especial urbano, poden-
A utilização do instituto da desapropria- do este ser individual ou coletivo.9
ção foi descartada pela Prefeitura, por com- No caso do usucapião especial urbano, o
preender que estaria se dando um duplo be- período mínimo de tempo para sua reivindica-
nefício ao proprietário do imóvel, ao valorizar ção é de apenas 5 anos, enquanto que nos dois
sua propriedade com obras de urbanização e outros este prazo é de 20 anos – para o
depois indenizá-lo em dinheiro. Considera- extraordinário –, e de 10 ou 15 anos para o
se também que o direito do proprietário já ordinário. Em compensação, no usucapião es-
poderia há tempos ter sido prescrito, pois a pecial urbano, a área máxima admitida é de
maioria das favelas cariocas preenche os re- 250m2, utilizada exclusivamente para moradia
quisitos necessários ao usucapião. da família do requerente, que não pode ser pro-
Por esta razão, nas favelas que ocupam ter- prietário de outro imóvel, nem tampouco se
renos de particulares, a Secretaria Municipal beneficiar deste direito por mais de uma vez.
de Habitação se limita a realizar pesquisas para Tais exigências não se configuram nos demais
a identificação da propriedade, levantamentos tipos de usucapião previstos pela legislação.
aerofotogramétricos e planialtimétricos com a A regularização de favelas por intermédio
demarcação de lotes, ruas e praças, além do do usucapião especial urbano oferece inúme-
cadastramento dos moradores, de maneira a ras vantagens em relação à desapropriação, à
permitir a plotagem das plantas cadastrais e, compra e venda, à doação e à concessão de
assim, facilitar o processo de usucapião. direito real de uso. Em primeiro lugar, o
usucapião não envolve indenização ou dispên-
dio de grande volume de recursos financeiros
2. As vantagens do usucapião para a aquisição do imóvel, restringindo-se
especial urbano aos custos do levantamento aerofoto-
O usucapião é um dos modos de aquisi- gramétrico, do cadastramento e medição dos
ção da propriedade mais antigos previstos na lotes, e aqueles relativos ao processo judicial.

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Em segundo lugar, por não haver qual- numeração e as suas metragens e confronta-
quer possibilidade de contestação por parte ções com logradouro público reconhecido.
do proprietário do imóvel, o tempo de Como as ruas, vielas e becos da maior parte
tramitação do processo é bem menor do que das favelas não são reconhecidos como
na ação de desapropriação. Uma vez preen- logradouros públicos, não há como descre-
chidos todos os requisitos que a lei estabelece ver o lote, e, portanto, registrá-lo. Neste caso,
pelo requerente – posse ininterrupta e sem o requerimento de usucapião deveria ser pre-
oposição, por determinado período de tem- cedido pela aprovação e averbação de um Pro-
po –, a autoridade judiciária reconhece-lhe o jeto Aprovado de Loteamento (PAL) –, docu-
direito e declara a aquisição prescritiva por mento no qual se definem precisamente os
sentença, que servirá de título para transcri- lotes e suas confrontações, e se distinguem as
ção no registro de imóveis. áreas públicas das áreas privadas, cuja compe-
Em terceiro lugar, a aquisição por usucapião tência é exclusiva do poder público municipal.
não prevê nenhum tipo de tutela, como no Para que a Prefeitura pudesse fazê-lo, no
caso da concessão de uso. Neste último, pelo entanto, dependeria da anuência do legítimo
fato de constituir um contrato entre o Estado e proprietário ou, do contrário, de uma ação
o morador, o cumprimento das cláusulas deve judicial de desapropriação, na medida em que
ser permanentemente fiscalizado pelo primei- o direito de construir ou de parcelar é ineren-
ro – requerendo, para tanto, uma estrutura te e exclusivo do proprietário. Ora, se o pro-
administrativa de controle –, que poderá res- prietário concordasse com a aprovação do
cindir em qualquer tempo o contrato, se com- PAL sem que houvesse contrapartida em di-
provado o seu descumprimento. nheiro, para posterior ação de usucapião, esta
Todavia, até a aprovação do Estatuto da seria totalmente dispensável, e o instituto mais
Cidade – pela Lei nº 10.257, de 10/07/01 –, a adequado seria a doação. Se o proprietário
aplicação do usucapião era praticamente exigisse contrapartida em dinheiro, a ação de
inviável e regularização de favelas, por se tra- usucapião seria também desnecessária, ao se
tar de uma ação individual. Na maioria das consubstanciar uma operação de compra e
vezes, sobretudo em terrenos com grande venda. Se a Prefeitura oferecesse uma outra
declividade na encosta de morros, dada a ca- área de sua propriedade, isto seria de uma
racterística da ocupação desordenada, do permuta. E se a Prefeitura efetuasse a desa-
adensamento e da superposição de unidades, propriação, o imóvel seria incorporado ao
é impossível individualizar o lote. patrimônio público, não podendo ser objeto
de usucapião, apenas de concessão de direito
Por outro lado, na descrição do lote para
real de uso, alienação ou doação.
efeito de registro público deve constar a sua

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2.1. O usucapião coletivo extinção, salvo por deliberação de dois terços


dos condôminos, e apenas posteriormente à
O Estatuto da Cidade regulamentou os
realização de obras de urbanização da área
dispositivos previstos no artigo 182 da Consti-
ocupada.
tuição Federal, bem como instituiu um conjun-
to de novos instrumentos que poderá ser apli- O Estatuto da Cidade determinou ainda a
cado na implementação da política urbana, obrigatória intervenção do Ministério Público
sobretudo a nível municipal. Um destes instru- na ação de usucapião – cujo rito processual
mentos é o usucapião especial urbano, que, deverá ser sumário –, e a assistência judiciá-
embora já tivesse sido instituído pelo artigo 183 ria gratuita aos beneficiários, inclusive peran-
da Constituição Federal, teve sua aplicabilidade te o cartório de registro de imóveis. E n t r e -
bastante ampliada ao prever a possibilidade de tanto, a característica mais problemática do
que seja requerido coletivamente. usucapião permaneceu sem solução, que é a
sua proibição no caso de bens públicos. Con-
O artigo 10 do Estatuto da Cidade estabe-
siderando que uma parte significativa das fa-
leceu que áreas urbanas com mais de 250m2
velas localizadas nos grandes centros urba-
– limite de área que pode ser adquirida por
nos ocupa terrenos públicos, esta vedação
meio de usucapião especial nos termos do
constitui um obstáculo para o emprego inten-
art.183 da Constituição Federal –, desde que
sivo deste tão importante instrumento de re-
ocupadas por população de baixa renda, e
gularização fundiária.
quando não for possível identificar o terreno
ocupado por cada possuidor, poderão ser Um importante avanço neste sentido – ini-
usucapidas coletivamente. Uma grande inova- cialmente previsto no Estatuto, mas que, por
ção da lei foi também reconhecer a associa- conta do veto presidencial, foi regulamentado
ção de moradores com personalidade jurídi- pela Medida Provisória nº 2.220, de 04/09/01
ca regularmente constituída como parte legíti- –, é a instituição da concessão de uso especial
ma para a propositura da ação de usucapião para fins de moradia aplicável em áreas públi-
especial coletivo, assim como os próprios pos- cas urbanas ocupadas por assentamentos
suidores em estado de composse (art.12). habitacionais até 30 de junho de 2001. Esta
A sentença judicial conclusiva da ação de difere da concessão de direito real de uso pelo
usucapião coletivo resultará na constituição fato de poder ser requerida por iniciativa dos
de uma propriedade condominial indivisível, moradores, por meio de solicitação dirigida
e na atribuição de igual fração ideal de terre- ao órgão público proprietário do terreno ou
no a cada possuidor, independentemente da através de ação judicial, em caso de recusa
área individualmente ocupada. Além de deste último, após ter transcorrido um ano a
indivisível, o condomínio não será passível de partir da data da solicitação.10 O título conce-

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A regularização fundiária de favelas no Estado do Rio de Janeiro

dido pelo poder público ou por sentença ju- mada “expulsão branca” – e, em caso de
dicial, poderá ser registrado no Registro Ge- alienação, a apropriação de um maior valor
ral de Imóveis. econômico. A privação da liberdade de esco-
A despeito de a instituição do usucapião lha, é ainda agravada pela subordinação à
coletivo contribuir enormemente para a racionalidade política e econômica do Estado,
implementação de programas de regulariza- cuja motivação para desenvolver programas de
ção de favelas, ao reduzir o prazo de tramitação urbanização de favelas dependerá sempre da
do processo judicial e os procedimentos ad- combinação de uma série de fatores, que seus
ministrativos necessários a sua efetivação – moradores jamais poderão controlar...
como a aprovação prévia do PAL averbado no
Registro de Imóveis, necessário a descrição
de um lote individual –, a lei introduziu um
Conclusão
complicador quando condicionou a aquisi- Em que pese a diversidade de instrumen-
ção do imóvel ocupado à constituição de uma tos jurídicos vigentes para efetuar a regulari-
propriedade condominial indivisível. zação fundiária de favelas, sobretudo com a
Uma transformação cultural, tão profun- instituição do usucapião coletivo, algumas al-
da quanto imprevisível, precisará acontecer terações no ordenamento jurídico brasileiro
no interior destas comunidades para que este ainda se fazem necessárias para dar maior
condicionante seja absorvido. Certamente, agilidade aos muitos procedimentos legais e
serão necessárias alterações na legislação fe- burocráticos requeridos. A principal delas
deral concernente à constituição e ao funcio- relaciona-se à simplificação destes procedi-
namento de condomínios, para adequá-la à mentos, especialmente no que se refere aos
realidade social destas comunidades. registros públicos. A legislação federal que
A indivisibilidade do condomínio, signifi- regula a matéria precisa compatibilizar-se com
cando a vedação à alienação do imóvel é um a urgência da integração social das áreas ocu-
outro problema, pois poderá estimular a padas por favelas, para a qual a regularização
“informalização” das operações imobiliárias, da situação fundiária é elemento propulsor.
que a regularização fundiária visava justamen- Um outro tema que carece de ser urgente-
te a eliminar. mente aprofundado por juristas e cientistas
Finalmente, a subordinação da venda do sociais é o da formação de condomínios em
imóvel à realização de obras de urbanização é favelas. Da mesma maneira, serão necessários
uma medida claramente paternalista, cujo ajustes na legislação federal concernente aos
objetivo é o de impor ao morador a sua per- deveres e obrigações resultantes da proprie-
manência no local – evitando com isso a cha- dade condominial a fim de adaptá-la à reali-

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Dossiê Temático

dade social deste segmento social específico. BLANK, G. Brás de Pina - Experiência de urba-
Caberá às administrações municipais prestar nização de favela. In: VALLADARES, L.P.
esclarecimentos aos moradores para que Habitação em Questão. Rio de Janeiro:
compreendam as vantagens e desvantagens do Zahar, 1981, p. 93-124.
condomínio e, assim, possam livremente de- BLANK, G. Experiência em urbanização de
cidir pela ação de usucapião coletivo ou optar favela carioca: Brás de Pina. Dissertação
por outra forma de regularização fundiária. de Mestrado. Rio de Janeiro: IPPUR/
COPPE/UFRJ, 1977.
Também será de fundamental importân-
LEVENHAGEN, A. J. S. Posse, possessória e
cia uma reforma jurídica, que permita acele-
usucapião. São Paulo: Atlas, 1982.
rar a tramitação dos processos judiciais, em
particular, o rito processual de ações que di- PESSÔA, A. O uso do solo em conflito. In SIL-
VA, L. A. M. (Org.). Solo urbano: tópicos
gam respeito à regularização fundiária, seja
sobre o uso da terra. Debates Urbanos n.1.
de desapropriação, de usucapião ou de con-
Rio de Janeiro: Zahar, 1981, p.79-95.
cessão de uso especial para fins de moradia,
PREFEITURA da Cidade do Rio de Janeiro.
conforme previsto na Medida Provisória Nº
Política habitacional da cidade do Rio
2.220/01. Esta reforma é imprescindível para
de Janeiro. Rio de Janeiro: Secretaria Mu-
evitar a descontinuidade administrativa da qual
nicipal de Habitação, 1995.
padecem, por vezes, programas que exigem
PRESSBURGUER, M. Para conhecer desapro-
médio ou longo prazo de execução, como
priação. Rio de Janeiro: FASE, 1987.
aqueles destinados à urbanização e à regula-
SANTOS, M. C. S. e FALCÃO, R. L. A. De favela a
rização de favelas.
bairro: o direito à cidadania. (Avaliação
do Programa Cada Família Um Lote). In:
IPLANRIO. Morar na metrópole. Rio de
Referências Bibliográficas
Janeiro: PCRJ, 1988, p. 82-88.
ARAÚJO, M. S. M. de. As práticas de execu- VASCONCELOS, J. A. M. Regularização
ção do Programa Cada Família, Um fundiária e a urbanização de áreas
Lote. Dissertação de Mestrado. Rio de Ja- faveladas em programas financiados pelo
neiro: IPPUR/UFRJ, 1988. BNH. Rio de Janeiro: BNH, 1986.

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A regularização fundiária de favelas no Estado do Rio de Janeiro

Abstract – Difficulties of legal and bureaucratic nature to accomplish a land-


legalizing program in slums are presented on this text. First, the motives that
could have contributed to the success or to the failure of some experiences of
regularization occurred in the State of Rio de Janeiro are analyzed. Next, it is
discussed the possibility that the use of special collective urban “usucapião”,
provided by the City Code, would surpass the limits observed in the use of other
legal instruments formerly in effect.
Keywords
Keywords: land-legalizing program; slums; special urban “usucapião”.

Resumen - En este artículo se plantean las dificultades legales y burocráticas para


efectuarse una política de regularización de las tierras de favelas (villas-miseria).
De inicio, se analizan las razones que han conducido al éxito o el fracaso algunas
experiencias de regularización ocurridas en la provincia de Río de Janeiro. Luego,
se plantea la posibilidad de que la aplicación del usucapión especial urbano colectivo,
estatuido por el Estatuto de la Ciudad, supere los límites observados en la utilización
de los instrumentos jurídicos antes vigentes.
Palabras-clave: regularización de tierras; favelas; usucapión especial urbano.

Notas
1 O instituto do usucapião é previsto na legislação brasileira como forma de aquisição prescritiva, tendo como requisito que o
indivíduo detenha a posse do bem como se proprietário o fosse, não se aplicando tal requisito ao poder público no caso de
ocupação em favela. Ver Levenhagen, 1982, p.82-84.
2 A desapropriação por necessidade ou utilidade pública foi instituída pelo Decreto-lei nº3365 de 1941, observada em casos
de abertura de logradouros públicos, de saúde pública, de execução de planos de urbanização, etc. Já a desapropriação por
interesse social foi criada pela Lei Nº 4132, de 1962, em casos que visem a manutenção de posseiros em terrenos nos quais se
formaram núcleos habitacionais e a construção de casas populares, entre outros. Ver Pressburguer, 1987.
3 Ver Vasconcelos, 1986, p.25.
4 A concessão de direito real de uso foi instituída pelo Decreto-lei nº 271, de 28/02/67, e consiste num contrato pelo qual se transfere
a fruição temporária, por prazo certo ou indeterminado, de terreno público ou particular para utilização de interesse social.
5 A aquisição de terras devolutas é regida pela Lei Nº 6383, de 07/12/76.
6 Em maio de 1966, o Governador Negrão de Lima criou um grupo de trabalho através do Decreto 3.881, com o objetivo de realizar
estudos sócio-econômicos, com vistas a analisar a viabilidade de urbanização de favelas. O resultado deste trabalho apontou
para a execução do programa de urbanização em caráter experimental, para o qual foi criada a Codesco, em 26 de março de
1968. Ver Blank, 1977, p.96.
7 Tal como adverte o Prof. Álvaro Pessoa, o fenômeno teria ocorrido entre o final da década de 60 e o início dos anos 70, quando
o governo federal fez do incentivo à indústria da construção o eixo da política habitacional, sem que fossem editados instrumen-
tos de política urbana que coibissem a elevação dos preços dos terrenos urbanos. Ver Pessoa, 1981, p.90-91.
8 A regularização fundiária integra-se ao componente “Urbanização de Favelas”, para o qual foi prevista a destinação de recursos
da ordem de US$192.000.000. Regulamento Operacional do Programa de Urbanização de Assentamentos Populares do Rio de
Janeiro - PROAP-RIO, inciso III, item 3.3. Anexo do Decreto nº14.332, de 07 de novembro de 1995.

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Dossiê Temático

9 O usucapião extraordinário e o ordinário foram instituídos respectivamente pelos artigos 550 e 551 do antigo Código Civil. Já o
usucapião especial urbano foi criado, com caráter individual, pelo artigo 183 da Constituição Federal. A Lei Federal Nº 10.257, de 10/
07/01, que instituiu o Estatuto da Cidade, porém, previu a possibilidade do usucapião especial urbano ser requerido coletivamente.
10 Se a área ocupada for considerada área de risco ou de preservação ambiental, se consistir em bem de uso comum do povo, ou
ainda se for objeto de projetos de obras públicas ou de vias de comunicação, será garantida a concessão do uso especial em outro
local a ser designado pelo poder público.

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