Como sugere o nome da referida escritura, estremar é demarcar estremas,
delimitar, demarcar, separar, dividir, estremar uma coisa da outra. A Escritura de Estremação é realizada quando o proprietário de uma determinada gleba que está inserida em uma área maior de matrícula única e quer regularizar sua unidade, seja ela urbana ou rural, de modo que tenha sua própria matrícula junto ao cartório de registro e dessa maneira esteja independente da área restante. Para estremar é necessário, entre outros requisitos, que a área seja um condomínio ordinário pró-diviso, ou seja, que haja a possibilidade de se dividir á determinada área. Sendo assim, tal procedimento ser duplo: ao mesmo tempo que inicia-se uma matrícula nova ele também encerra parcialmente ou totalmente um condomínio. O que vem ser distinto do instrumento de Desmembramento de Extinção de Condomínio e Divisão Amigável. Já que estremar permite fracionar e maneira individual e o segundo instrumento exige que a seja unânime, que todos queiram fracionar suas respectivas glebas. O instituto de Estremação é recente e de acordo com a necessidade de cada estado brasileiro vai expandindo tal instrumento de regularização de gleba. O precursor foi o estado do Rio Grande do Sul que teve, através do Código de Normas, capítulos XV e XVI, provimento 07/2005 CGJ (Corregedoria Geral da Justiça), permitindo a demarcação por via extrajudicial; mais conhecido como projeto More Legal e Gleba Legal; e veio para sanar a necessidade de regularizar áreas rurais, posteriormente englobando áreas urbanas também. Anteriormente a esse provimento, era necessário seguir com o procedimento via judicial o que demorava anos para ser finalizado. Com o passar do tempo outros estados da federação foram se inspirando no Rio Grande do Sul e trazendo para suas delegações o mesmo instrumento extrajudicial para regularizar áreas urbanas e rurais. Entre os estado que logo se inspirou no estado do sul, foi Minas Gerais que tem a Estremação citada no capítulo III, artigo 999, para imóveis urbanos e no capítulo X, artigo 1.012, para imóveis rurais do código de normas provimento 260/CGJ/2013 que fala sobre a regularização de condomínio em frações ideais. Mesmo a Escritura de Estremação estar prevista no artigo 571 do CPC/2015 (código de processo civil) que, resumidamente, diz que as divisões territoriais podem ser feitas através de escritura pública, o estado de Santa Catarina regulamentou tal escritura no seu Código de Normas, pelo provimento 63 de 24 de novembro de 2020, capítulo IX-A, artigos 712A ao 712H. Entre os requisitos exigidos estão que o condômino tenha a posse do imóvel no mínimo 5 anos, em condomínio ordinário pró diviso, cuja comprovação se faz com a declaração do proprietário e com a concordância dos confrontantes; que seja através de escritura pública declaratória; que a identificação do imóvel atenda os requisitos do artigo 176 da lei 6015/73 e artigo 674 do código de normas; tanto a gleba a ser estremada e a área remanescente esteja adequada a fração mínima de parcelamento de solo urbano ou rural. Quando o imóvel a ser estremado for em uma área urbana será necessário ter a anuência do município; este por sua vez vai declarar que há estrutura essencial prestada pelo próprio município. Já os imóveis rurais, devem ser apresentados o CCIR (Certificado de Imóvel Rural), o NIRF (Número do Imóvel na Receita Federal e o CAR (Cadastro Ambiental Rural). Outra exigência é a anuência dos confrontantes reais (que de fato estremam com a gleba a ser individualizada), sendo que também considera-se necessário a concordância do ocupante do imóvel confrontante e os cônjuges dos respectivos. Caso o confrontante não compareça pode ser emitido uma notificação e ou publicação em edital público; se no prazo de 15 dias não houver manifestação da parte dos confrontantes, automaticamente, considera-se anuído o pedido de Estremação. Se a área confrontante estiver em inventário poderá o inventariante, através de uma escritura de nomeação, assinar o documento como anuente. Quando o órgão público for o confrontante, vai depender do estado se pede a anuência da referida instituição pública. Além da escritura publica declaratória e da anuência dos confrontantes é necessário apresentar, à serventia extrajudicial, memorial descritivo, mapa topográfico com todas as identificações geográficas e confrontantes e ART (Anotação de Normas Técnicas) do profissional responsável. Ainda sobre o levantamento topográfico, não é necessário o mapeamento da área remanescente; apenas da gleba a ser estremada. E quando o imóvel rural tiver mais de 100 hectares faz-se necessária a apresentação de georreferenciamento com certificação do INCRA (Instituto Nacional de Colonização de Reforma Agrária). Quanto aos emolumentos, impostos e taxas, não é cabível a cobrança do imposto municipal ITBI (Imposto de Transmissão de Bens Imóveis) e nem mesmo o imposto estadual ITCMD (Imposto de Transmissão de Causa Mortis e Doação), já que trata-se de regularização de imóvel que permanecerá na mesma titularidade e não de uma transferência de titularidade. Para o cartório de registro de imóveis a Escritura de Estremação é um procedimento duplo; já que é o fim de um condomínio e o início de uma nova matrícula. De acordo com o artigo 712-F do provimento 63/2020, no ato da extinção, parcial ou total, de um condomínio ordinário, o registrador deve declarar a nova fração ideal e qualifica-a (nos moldes do artigo 213, II, da Lei 6015/73), averba-se o desmembramento e abre-se a nova matrícula de registro na titularidade do seu requerente. Com isso os emolumentos são cobrados pela retificação de maior complexidade deve ser sobre o valor do imóvel; pela extinção do condomínio também com base de calculo sobre o valor do imóvel; pelo ato é averbação do desmembramento e o ultimo ato é a abertura da nova matrícula ou matrículas se for mais de uma área estremada. E no cartório de notas será feita a Escritura Declaratória e também deve-se recolher o FRJ (Fundo de Reaparelhamento do Judiciário). Sobre a existência de eventuais claúsulas, ônus ou gravames na matrícula mãe da área total, o registrador deverá estar atendo ao que diz respeito no artigo 712-G do provimento 63/2020 do código de normas:
I - no caso de hipoteca, dispensará a anuência do credor hipotecário,
todavia comunicará a ele a realização do registro da localização da parcela; II - no caso de penhora, praticará o ato independentemente de prévia autorização judicial, mas comunicará o fato ao juiz competente, por ofício; III - no caso de penhora fiscal em favor do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), exigirá, para a localização da gleba, a expressa anuência daquele ente público, uma vez que perdida a disponibilidade do bem na forma do parágrafo 1º do artigo 53 da Lei 8.212/1991; IV - no caso de anticrese, solicitará a anuência do credor anticrético; V - no caso de propriedade fiduciária, o oficial solicitará que a localização da parcela seja instrumentalizada em conjunto, pelo credor e pelo devedor VI - no caso de usufruto, reclamará que a localização seja declarada pelo nu proprietário e pelo usufrutuário; VII - no caso de indisponibilidade por determinação judicial ou ato da administração pública federal, negará curso ao requerimento, salvo autorização expressa do juiz ou autoridade competente; VIII - na hipótese de estar a parcela sob arrolamento, medida de cautela fiscal, levará a efeito o ato, porém comunicará o fato imediatamente ao agente fiscal; IX - no caso da incidência de outros ônus, cláusulas e gravames não expressamente previstos neste artigo, deverá qualificar o título com base nas regras inerentes aos exame das escrituras públicas de divisão.
As facilidades que tais provimentos e leis trazem ao ambiente cartorial vem
com o objetivo de não só de descarregar as demandas no setor judiciário, mas de desburocratizar atos daqueles que buscam uma solução, relativamente rápida, para seu problema imobiliário. E o interessante é que como todo advento novo, ele vai se adaptando e se esparramando por todo o cenário nacional, cada qual estado federativo com suas características culturais de moradia. Como por exemplo, sítios, áreas grandes que foram ocupadas por um casal, que tiveram muitos filhos e que, por sua vez, foram construindo suas casas no mesmo terreno a medida que cada um casava e ia tendo filhos, porém, alguns sentem a necessidade de comercializar a sua unidade e para isso precisa de regularizá-la. Entre outros instrumentos de desmembramento, a Escritura de Estremação é uma das opções já que pode ser feita independente da vontade dos demais familiares de fazerem o mesmo ato.
REFERÊNCIA
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